quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A CABALA MÍSTICA AS DEZ SEPHIROTH NOS QUATRO MUNDOS


1. Já fizemos referência à repartição das Sephiroth nos Quatro Mundos dos Cabalistas, pois esse é um dos métodos de classificação mais empregados no pensamento cabalístico, sendo de enorme valor para o estudo da evolução. Devemos lembrar, contudo, que o fato de um autor classifìcar uma coisa segundo um determinado sistema não implica que outro autor não possa classifica-lo adequadamente de acordo com outro sistema. 0 ressurgimento do mesmo símbolo numa Esfera diferente concede, amiúde, indícios muito valiosos.
2. Segundo outro método de classificação, as Dez Sephiroth Sagradas figuram em cada Mundo Cabalístico num outro arco ou nível de manifestação; assim como Ain Soph Aur, a Luz Ilimitada do Imanifesto, concentra um ponto, que é Kether, a as emanações operam em sentido descendente, através de graus progressivamente maiores de intensidade, até alcançar em Malkuth; assim Malkuth, em Atziluth, dá origem a Kether de Briah, a assim consecutivamente através dos planos, o Malkuth em Briah dando origem a Kether de Assiah, e o Malkuth de Assiah, em seu aspecto inferior, confinando com as Qliphoth.
3. É Atziluth, contudo, que passa por ser a esfera natural das Sephiroth como tais, e é por essa razão que recebe o nome de Mundo das Emanações. É aqui, a somente aqui, que Deus age diretamente a não por meio de Seus ministros. Em Briah, Ele opera através da mediação dos Arcanjos; em Yetzirah, através das Ordens Angélicas; a em Assiah, através desses centros -que chamei de Chakras Cósmicos - os planetas, elementos a signos do Zodíaco.
4. Temos, então, nesses quatro grupos de símbolos, um sistema completo de notação, com o qual podemos expressar o modo de funcionamento de qualquer poder em qualquer nível, a esse sistema de notação é a base da Magia Cerimonial com seus Nomes de Poder, e também da Magia Talismânica e do sistema divinatório do Tarô. É por essa razão que não se pode alterar uma única letra dos "bárbaros nomes de evocação", pois esses nomes são fórmulas baseadas no alfabeto hebraico, que é a língua sagrada do Ocidente, assim como o sânscrito é a língua sagrada do Oriente. No hebraico, além disso, cada letra é também um número, de modo que os Nomes são fórmulas numéricas; um intrincado sistema de matemática metafísica, chamado Gematria, baseia-se nesse princípio. Há aspectos da Gematria que eu, pelo menos no meu presente estágio de conhecimento, considero degradados ou inúteis, posto que se baseiam antes na superstição, mas a idéia básica do sistema de matemática cósmica encerra indubitavelmente grandes verdades e apresenta inúmeras possibilidades. Utilizando esse sistema, podemos desenredar as relações de todos os modos dos fatores cósmicos, mas para isso devemos conhecer a grafia hebraica correta dos Nomes de Poder, pois esses Nomes foram formulados de acordo com os princípios da Gematria e, por conseguinte, a Gematria lhes fornece a chave. Mas, por mais fascinante que seja esse aspecto de nosso tema, não podemos dele nos ocupar agora.
5. No Mundo Arquetípico de Atziluth, conferem-se dez formas do Nome divino às Dez Sephiroth. Todo aquele que tenha lido a Bíblia terá observado que Deus é referido sob diversos títulos, tais como Senhor Deus, Pai a diversos outros Nomes. Esses Nomes não são estratagemas literários para evitar repetições desnecessárias, mas termos metafísicos exatos, e, de acordo com o Nome utilizado, podemos conhecer o aspecto da força divina em questão e o plano em que está operando.
6. No Mundo de Briah, são os poderosos Arcanjos que executam os mandatos de Deus a lhes são expressão, a conferem-se às Esferas Sephiróticas da Árvore nesse Mundo os Nomes desses dez poderosos espíritos.
7. Em Yetzirah, acham-se os inumeráveis coros angélicos, que executam os mandamentos divinos; a esses coros são também atribuídos às Esferas Sephiróticas, permitindo-nos conhecer-lhes o modo e o nível de funcionamento.
8. Em Assiah, como já observamos, certos centros naturais de força têm correspondências similares. Consideraremos todas as associações quando estudarmos as Sephiroth em detalhes.
9. Na transposição simbólica das Dez Sephiroth Sagradas em Quatro Mundos, há outro importante conjunto de fatores a considerar. Trata-se das quatro escalas coloridas classificadas por Crowley como a escala do Rei, atribuída ao Mundo Atzilútico; a escala da Rainha, atribuída ao Mundo Briático; a escala do Imperador, atribuída ao Mundo Yetzirático; e a escala da Imperatriz, atribuída ao Mundo Assiático.
10. Essa classificação quádrupla é extremamente significativa, tanto para os assuntos cabalísticos como para a Magia ocidental, que se baseia largamente na Cabala. Afirma-se que ela está sob o governo das Quatro Letras do Tetragrammaton, o Nome Sagrado popularmente traduzido como Jeová.
Em hebraico, que não tem vogais em seu alfabeto, essa palavra é grafada JHVH, ou, de acordo com os nomes hebraicos dessas letras, Yod, Hé, Vau, Hé. As vogais são indicadas em hebraico por pontos inseridos dentro ou sob as letras quadradas da escrita, que se faz da direita para a esquerda. Esses pontos vocálicos foram introduzidos em data relativamente recente, a os manuscritos hebraicos mais antigos não apresentam os sinais das vogais, de modo que o leitor não pode determinar a pronúncia de nenhum nome por si mesmo, precisando recorrer a alguém que a conheça. A verdadeira pronúncia mística do Tetragrammaton constitui um dos arcanos dos Mistérios.
11. Todas as classificações místicas quádruplas referem-se às Quatro Letras do Nome e, por meio de suas correspondências, podemos traçar-lhes as possíveis vinculações, a estas são muito importantes para o ocultismo prático, como veremos mais adiante.
12. Quatro importantes divisões quádruplas são referidas ao Tetragrammaton, o que nos permite observar-lhes as relações mútuas. São elas os Quatro Mundos dos cabalistas; os quatro elementos dos alquimistas; a classificação quaternária dos signos do Zodíaco a dos planetas em triplicidade, empregadas pelos astrólogos; a os quatro naipes das lâminas do Tarô, empregadas na adivinhação. Essa classificação quádrupla assemelha-se à Pedra de Rosetta, que deu a chave dos hieróglifos egípcios. Essa pedra apresentava inscrições em egípcio a grego; como o grego era conhecido, foi possível estabelecer o sentido dos hieróglifos egípcios. É o método de dispor todos esses grupos de fatores na Árvore que dá a pista esotérica real a cada um desses sistemas de ocultismo prático. Sem essa chave, eles não têm nenhuma base filosófica a tomam-se assuntos de mistificação a superstição. É por essa razão que o iniciado ocultista nada terá a fazer com o "tirador de sorte" não iniciado, pois ele sabe que, na falta dessa chave, seu sistema não tem valor. Daí a vital importância da Árvore no ocultismo ocidental, Ela é nossa base, nosso sistema métrico a nosso manual de instruções.
13. Para compreender uma Sephirah, precisamos, portanto, conhecer, em primeiro-lugar, as suas correspondências primárias nos Quatro Mundos; em segundo lugar, as suas correspondências secundárias nos quatro sistemas de ocultismo prático acima mencionados; e, em terceiro lugar, todas as outras correspondências que possamos, por qualquer meio, reunir, para que o concurso de muitos testemunhos possa revelar a verdade. Essa reunião de correspondências poderá revelar-se uma tarefa infindável, pois o cosmo, em todos os seus planos, apresenta infinitas correspondências. Se formos bons estudantes da ciência oculta, aumentaremos continuamente nossos conhecimentos. Não poderíamos encontrar comparação melhor para essa tarefa do que o sistema de arquivos.
14. Mas devemos novamente recordar ao leitor que a Cabala é tanto um método de utilizar a mente quanto um sistema de conhecimento. Se temos o conhecimento sem ter adquirido a técnica cabalística de meditação, o conhecimento terá pouco valor para nós. Poderíamos até mesmo afirmar que não poderemos adquirir grande grau de conhecimento se não tivermos o domínio dessa técnica mental. Não é com a mente consciente que a Árvore trabalha, mas sim com a mente subconsciente, pois o método lógico da Cabala é o método lógico da associação de sonhos; mas, no caso da Cabala, quem sonha é a subconsciência racial, a alma coletiva das pessoas, o espírito da Terra. Ao se comunicar com essa alma da Terra, o adepto penetra, pela meditação, nos símbolos prescritos. Nisso reside a verdadeira importância da Árvore a de suas correspondências.
15. 0 mais elevado dos Quatro Mundos, Atziluth, o plano da Divindade Pura, recebe dos cabalistas o título de Mundo Arquetípico, e, na tradução algo canhestra de MacGregor Mathers, o de Mundo Intelectual, mas este último termo é equívoco. 0 Mundo de Atziluth só seria intelectual se tomássemos a palavra intelectual como referência à mente, ao intelecto racional, na medida em que se trata aqui do reino das idéias arquetípicas. Mas essas idéias são totalmente abstratas, concebidas por uma função de consciência que está absolutamente fora do âmbito da mente tal como a conhecemos. Portanto, chamar esse nível de Mundo Intelectual é trazer confusão ao leitor, a menos que deixemos bem claro que por intelecto compreendemos algo completamente diferente do sentido dicionarizado desse vocábulo, mas esse é um meio pobre de expressar nossas idéias. Seria preferível cunhar um novo termo com um sentido preciso a utilizar um termo antigo num sentido enganoso, especialmente quando, no caso de Atziluth, há um excelente termo já corrente, o termo Arquetípico, que o descreve com exatidão.
16. Dizem os cabalistas que o Mundo Atzilútico está sob o governo da letra Yod do Nome Sagrado do Tetragrammaton. Podemos, portanto, deduzir corretamente que qualquer outro sistema quádruplo governado por Yod referir-se-á ao Mundo Atzilútico, ou ao aspecto puramente espiritual dessa força ou tema. Entre outras associações dadas por diferentes autoridades, estão o naipe de paus das cartas do Tarô e o elemento Fogo. Quem quer que tenha algum con~e~un'ent dois assuntos ocultos poderá corroborar a afirmação de que o conhecimento do elemento ao qual um símbolo é atribuído subministra muitos outros conhecimentos paralelos. 0 símbolo abrenos em primeiro lugar todas as ramificações da Astrologia, a podemos traçar-lhe as afinidades astrológicas por meio das triplicidades do Zodíaco a dos planetas que lhes correspondem. Conhecendo as associações zodiacais a planetárias, podemos explorar o simbolismo correlato de qualquer panteão, pois todos os deuses a deusas de todos os sistemas que a mente humana inventou têm associações astrológicas. As histórias de suas aventuras são, na verdade, parábolas das operações das forças cósmicas. Jamais poderíamos descobrir nosso caminho nesse labirinto de símbolos se não dispuséssemos de um guia a para encontra-lo precisamos apenas amarrar a cadeia de relações na Sephirah que lhe corresponde.
17. Todos os sistemas de pensamento esotérico, assim como todas as teologias populares, atribuem a construção e o governo das diferentes partes do universo manifesto à mediação de seres inteligentes que trabalham sob a instrução das Divindades. O pensamento moderno tentou escapar das implicações desse conceito, reduzindo a manifestação a um assunto de mecânica; não o conseguiu, a parece não estar muito longe a ocasião em ,que ela própria chegará a perceber que é a mente que está na raiz da forma.
18. Os conceitos da Sabedoria Antiga podem ser rudes do ponto de vista da filosofia moderna, mas somos forçados a admitir que a força causativa atrás da manifestação é afim, em sua natureza, antes à mente do que à matéria. Dar um passo à frente a personificar os diferentes tipos de força é uma analogia legítima, desde que compreendamos que a entidade que é a alma da força pode diferir bastante em espécie a grau de nossas mentes, assim como nossos corpos diferem em tipo a escala dos corpos dos planetas. Estaremos mais perto de uma compreensão da natureza se contemplarmos a mente no plano de fundo do que se recusarmos a admitir que o universo visível tem uma estrutura invisível. 0 éter dos físicos tem muito mais afinidade com a mente do que com a matéria; tempo a espaço, tal como os entende o filósofo moderno, são antes modos de consciência do que medidas lineares.
19. Os iniciados da Sabedoria Antiga não fossilizaram sua filosofia; eles tomaram cada fator da Natureza e o personificaram, deram-lhe um nome a edificaram uma figura simbólica para representá-la, assim como os artistas ingleses produziram por seus esforços coletivos uma Grã-Bretanha padrão - a Brittania -, uma figura feminina com um brasão, com o pavilhão militar, um leão aos seus pés, um tridente na mão, um elmo na cabeça e o mar ao fundo. Analisando essa figura como o faríamos com um símbolo cabalístico, compreendemos que cada um desses símbolos individuais do complexo hieróglifo tem um significado. As várias cruzes que constituem o pavilhão militar referem-se às quatro raças do Reino Unido. O elmo é o de Minerva, o tridente é o de Netuno; a precisaríamos de um capítulo especial para elucidar o simbolismo do leão. Na verdade, um hieróglifo oculto apresenta muitas afinidades com um brasão de arenas, e a pessoa que constrói um Hieróglifo opera da mesma forma que um heraldista que desenha um brasão. Na heráldica, todo símbolo teen um sentido exato, combinando-se com outros no brasão de armas para representar a família a os parentescos do homem que o ostenta a para falar-nos de sua posição na vida. Uma figura mágica é o brasão de armas da força que representa.
20. Construímos essas figuras mágicas para representar os diferentes modos de manifestação da força cósmica, em seus diferentes tipos a em seus diferentes níveis. Por serem figuras exatas, o iniciado pensa nelas como pessoas, sem se preocupar com seus fundamentos metafísicos. Conseqüentemente, para os propósitos da prática, elas são pessoas, pois seja o que possam ser na verdade, elas sofreram um processo de personalização, a as formas mentais foram construídas no plano astral para representá-las. Essas formas, por estarem carregadas de força, têm a natureza dos elementais artificiais; mas, sendo cósmica a força com que foram carregadas, elas são algo totalmente diferente do que aquilo que entendemos comumente como elementais artificiais, a por isso as atribuímos ao reino angélico a as chamamos de anjos ou arcanjos, de acordo com o seu grau. Um ser angélico, portanto, pode ser definido como uma força cósmica cujo veículo aparente de manifestação à consciência psíquica é uma forma construída pela imaginação humana. No ocultismo prático, essas formas são construídas com grande cuidado, prestando-se absoluta atenção aos detalhes do simbolismo, pois elas visam evocar a força requerida; todo aquele que teve a oportunidade de utilizá-las concordará em que elas são peculiarmente eficazes para os propósitos para os quais foram planejadas. Mantendo a imagem mágica na mente e vibrando o Nome que se lhe atribui tradicionalmente, podemos obter fenômenos notáveis.
21. Como já observamos anteriormente, a utilização da técnica mental cabalística é necessária se desejamos obter resultados da Cabala; a formulação da imagem e a vibração do Nome têm por objetivo estabelecer um contato entre o estudante a as forças que correspondem às Esferas da Árvore. Ao entrar em contato com esse meio, a consciência do estudante se ilumina e a sua natureza obtém a energia fornecida pela força contatada, resultando desse processo as notáveis iluminações originadas da contemplação dos símbolos. Essas iluminações não são uma torrente generalizada de luz, como no caso da mística cristã, mas uma energização a uma iluminação específica de acordo com a Esfera aberta; Hod confere a compreensão das ciências; Yesod, a compreensão da força vital a de seu comportamento cíclico. Quando entramos em contato com Hod, enchemo-nos de entusiasmo a energia para a pesquisa; em contato com Yesod, penetramos mais profundamente na consciência psíquica a tocamos as forças vitais ocultas da Terra a de nossas próprias naturezas. Só a experiência pode corroborar o que dizemos; aqueles que utilizaram o método sabem muito bem o que este lhes proporcionou. Enquanto método empírico, o sistema produz resultados, quaisquer que sejam os seus fundamentos racionais.
22. Se desejamos estudar uma Sephirah - em outras palavras, se desejamos investigar o aspecto da natureza ao qual ela se refere -, não devemos estudá-la apenas intelectualmente a nela meditar, mas precisamos entrar em contato psíquico a intuitivo com sua influência a com sua Esfera. Para realizarmos essa tarefa, começamos sempre por cima a tentamos entrar em contato espiritual com o aspecto da Divindade que emanou essa Esfera a que vela se manifesta. Se isso não é feito, as forças que pertencem à Esfera nos níveis elementais podem escapar a provocar problemas. Começando sob a proteção do Nome divino, contudo, nenhum mal pode acontecer.
23. Tendo adorado o Criador e o Sustentador de Tudo sob o Seu Nome Sagrado na Esfera que estamos investigando, invocamos em seguida o Arcanjo da Esfera, o poderoso ser espiritual no qual personificamos as forças que edificaram esse nível de evolução a que continuam a operar no aspecto correspondente da Natureza. Solicitamos a bênção do Arcanjo, a suplicamos-lhe que ordene à Ordem de Anjos afeta a essa Esfera que nos auxilie amistosamente no reino da natureza que lhe está afeto. Assim que o fizermos, estaremos perfeitamente sintonizados com a nota da Esfera que estamos investigando, a estaremos prontos para seguir as ramificações das correspondências dessa Sephirah a de seus símbolos cognatos.
24. Se procedermos dessa maneira, descobriremos que as cadeias de associações são muito mais ricas em simbolismo do que poderíamos imaginar, pois a mente subconsciente foi despertada, abrindo uma de suas múltiplas câmaras de imagens, com a exclusão de todas as outras. As cadeias. de associações que surgem na consciência devem, pois, estar livres de qualquer mistura de idéias estranhas.
25. Em primeiro lugar, revemos em nossas mentes todos os símbolos possíveis que podemos recordar e, quando estes se apresentam à consciência, tentamos determinar-lhes a importância e o papel nos segredos da Esfera investigada. Mas não devemos fazer um esforço excessivo, pois, se nos concentramos num símbolo e o forçamos, por assim dizer, fechamos as machas do tênue véu que cobre a mente subconsciente. Nessas investigações - metade meditação, metade sonho -, procuramos trabalhar nas fronteiras da consciência a da subconsciência, no intuito de induzir aquilo que é subconsciente a cruzar o umbral e a se pôr ao nosso alcance.
26. Se assim procedermos, seguindo as ramificações das cadeias de associação, descobriremos que um fluxo intuitivo acompanha o processo, e, após a experiência ter sido repetida duas ou três vezes, sentiremos que conhecemos essa Sephirah de uma maneira peculiarmente familiar, que nela nos sentimos em casa a que essa sensação é completamente diferente da de outras Sephiroth com que ainda não trabalhamos. Descobriremos também que algumas Sephiroth são mais afins a nós do que outras, a que obtemos melhores resultados quando trabalhamos com elas do que quando o fazemos com outras não-afros, onde as cadeias de associações se quebram a as portas da subconsciência se recusam resolutamente a abrir-se à nossa batida. Um de meus discípulos podia realizar excelentes meditações com Binah-Saturno a Tiphareth, o Redentor, mas não obtinha tão bons resultados com Geburah-Severidade-Marte.
27. Jamais esquecerei minha própria experiência com a primeira tentativa que fiz utilizando esse método. Trabalhava eu no Trigésimo Segundo Caminho, o Caminho de Saturno, unindo Malkuth a Yesod, um Caminho muito difícil a traiçoeiro. Em meu horóscopo, Saturno não está em bom aspecto, a experimento amiúde a sua influência adversa em minha vida. Mas, após ter conseguido trilhar o caminho de Saturno nas trevas de cor índigo do Invisível a alcançar a Lua da Yesod brilhando púrpura a prateada sobre o horizonte, senti que havia recebido a iniciação de Saturno, que já não era mais meu inimigo, mas um amigo que, embora cândido a austero, tentava proteger-me dos erros a dos julgamentos precipitados. Compreendi sua função como experimentador, a não como antagonista ou vingador. Compreendi que ele é o tempo com sua ceifadeira, mas soube também por que ele era chamado em hebraico de Shabbathai, "descanso", "pois ele concedeu seu amado sono". Depois disso, o Trigésimo Segundo Caminho se me abriu, não apenas na Árvore, mas na vida, pois as forças a problemas simbolizados pelo Caminho a suas correspondências se harmonizaram em minha alma. Por esses dois breves exemplos, podemos perceber que as meditações na Árvore constituem um sistema muito prático a exato de desenvolvimento místico, que é peculiarmente valioso por ser equilibrado, uma vez que nele os diferentes aspectos de manifestação são, por assim dizer, dissecados e operados em turnos, sem nada se esquecer. Assim que trilharmos todos os Caminhos da Árvore, aprenderemos tanto as lições da Morte e do Demônio, como as do Anjo a do Sumo Sacerdote.

A CABALA MÍSTICA OS PADRÕES DA ARVORE


1. São várias as maneiras pelas quais se podem agrupar as Dez Sephiroth Sagradas na Árvore da Vida. Não se pode dizer que determinada forma seja mais correta que outra, pois elas servem a diferentes objetivos a lançam muita luz sobre o significado das Sephiroth individuais, revelando-lhes as associações e o equilíbrio.
2. São valiosas também porque permitem relacionar o sistema decimal da Árvore com os sistemas temários, quaternários e setenários.
3. A conformação primária da Árvore consiste em três Pilares. Observaremos nos diagramas que as Sephiroth se prestam facilmente a essa divisão vertical tríplice, visto que estão dispostas em três colunas (Diagrama I), denominadas Pilar da Misericórdia (à direita), Pilar da Severidade (à esquerda) e Pilar da Suavidade ou do Equilíbrio (ao meio).
4. Antes de prosseguirmos, cumpre esclarecer o significado dos lados direito a esquerdo da Árvore. Observando o diagrama, vemos Binah, Geburah a Hod em seu lado esquerdo, a Chokmah, Chesed a Netzach no direito; essa é a maneira pela qual contemplamos a Árvore quando a utilizamos para representar o Macrocosmo. Mas, quando a utilizamos para representar o Microcosmo, isto é, o nosso próprio ser, devemos dar-lhe as costas, de modo que o Pilar Medial se equipare à espinha, o Pilar que contém Binah, Geburah e Hod corresponda ao lado direito do corpo e o Pilar que contém Chokmah, Chesed a Netzach, ao lado esquerdo. Esses três Pilares podem também ser correlacionados com os conceitos Shushumna, Ida a Pingala do sistema iogue. É de extrema importância nos lembrarmos dessa reversão da Árvore quando a utilizamos como um símbolo subjetivo, pois do contrário obteremos resultados confusos. Em sua valiosa obra sobre a literatura da Cabala, The Holy Qabalah [A cabala sagrada], o Sr. Waite, no frontispício, por alguma razão que só ele conhece, inverte a apresentação habitual da Árvore; na maioria das vezes, as apresentações desse símbolo correspondem à Árvore objetiva, não à subjetiva. Quando empregamos a Árvore para indicar as linhas de força na aura, devemos utilizar a Árvore subjetiva, de modo que Geburah corresponda ao braço direito. Em todos os casos, o Pilar Medial permanece, naturalmente, imóvel.
S. 0 Pilar da Severidade é negativo ou feminino, e o Pilar da Misericórdia é positivo ou masculino. Poder-se-ia pensar superficialmente que essas atribuições conduzem a um simbolismo incompatível, mas um estudo dos Pilares à luz do que agora sabemos a respeito das Sephiroth individuais revelará que as incompatibilidades são puramente superficiais a que o significado profundo do simbolismo é inteiramente concorde.
6. Observar-se-á que a linha indicadora dos desenvolvimentos sucessivos das Sephiroth zigue-zagueia de um lado ao outro do hieróglifo, tendo por isso recebido o nome apropriado de Relâmpago Brilhante. Essa imagem indica graficamente que as Sephiroth são sucessivamente positivas, negativas e equilibradas. Essa é uma representação muito mais adequada do processo da criação do que a figurada pela disposição das Esferas numa linha reta, umas sobre as outras, pois indica não só a diferença natural das Emanações Divinas, como também as suas mútuas relações; quando contemplamos o Hieróglifo da Árvore, percebemos facilmente as relações existentes entre as diferentes Sephiroth, a podemos ver como elas se agrupam, refletem-se a reagem mutuamente.
7. No topo do Pilar da Severidade, o Pilar feminino a negativo, está Binah, a Grande Mãe. Esta é atribuída à Esfera de Saturno, a Saturno é o Dador da Forma. No topo do Pilar da Misericórdia está Chokmah, o Pai Supremo, potência masculina. Temos aqui, então, a oposição entre Forma e Força.
8. Na Segunda Trindade, apresenta-se a oposição entre Chesed (Júpiter) a Geburah (Marte). Temos novamente os pares de opostos: da construção, em Júpiter, o legislador a governante benéfico; a da destruição, em Marte, o guerreiro e aniquilador do Mal. Poder-se-á perguntar por que razão uma potência masculina como Geburah está colocada no Pilar feminino. Cabe lembrar, contudo, que Marte é uma potência destrutiva, constituindo um dos planetas maléficos da Astrologia. 0 positivo edifica, o negativo destrói; o positivo é uma força cinética, o negativo é uma força estática.
9. Esses aspectos surgem novamente em Netzach, na base do Pilar da Misericórdia, a em Hod, na base do Pilar da Severidade. Netzach é Vênus, o Raio Verde da Natureza, força elemental, a iniciação das emoções. Hod é Mercúrio, Hermes, a iniciação do conhecimento. Netzach é instinto a emoção, força cinética; Hod é intelecto, pensamento concreto, redução à forma do conhecimento intuitivo.
10. Devemos lembrar, contudo, que cada Sephirah é negativa, ou seja, feminina, em relação à sua predecessora, da qual emana a da. qual recebe a Influência Divina; a positiva, masculina ou estimulante, em relação à sua sucessora, à qual transmite a Influência Divina. Portanto, toda Sephirah é bissexual, como um ímã, cujos pólos devem ser necessariamente um positivo e o outro negativo. Poderíamos explicar melhor o assunto se recorrêssemos a uma analogia astrológica, afirmando que unia Sephirah no Pilar feminino está dignificada quando funciona em seu aspecto negativo, e deprimida quando funciona positivamente, a que no Pilar masculino a posição se apresenta invertida. Portanto, Binah (Saturno) está dignificada quando produz estabilidade a resistência, mas deprimida quando o excesso de resistência toma-se ativamente agressivo, produzindo obstrução a emissão de matéria estéril. Por outro lado, Chesed, Misericórdia, está dignificada quando ordena a preserva harmoniosamente as coisas do mundo, mas deprimida quando a misericórdia se torna sentimentalismo a usurpa a Esfera de Saturno, preservando aquilo que a energia ígnea, a Esfera oposta, a Sephirah Geburah, deveria eliminar da existência.
11. Os dois Pilares representam, portanto, as forças da natureza: as positivas a as negativas, as ativas a as passivas, as destrutivas a as construtivas, a forma que concretiza e a força que libera, que desagrega.
12. As Sephiroth do Pilar Medial podem ser encaradas também como os níveis representativos da consciência ou como os planos sobre os quais eles operam. Malkuth é a consciência sensorial; Yesod é o psiquismo astral; Tiphareth é a consciência iluminada, o aspecto mais elevado da personalidade a que a individualidade pode se unir, a que constitui o estado que possibilita a iniciação; trata-se da consciência do eu superior atraída à personalidade - vislumbre da consciência superior oriunda da parte posterior do véu de Paroketh. É por essa razão que os messias a os salvadores do mundo são referidos a Tiphareth no simbolismo da Árvore, pois são eles que concedem a luz à humanidade; e, como todos os que roubam o fogo do céu devem sofrer, eles morrem a morte sacrificial em benefício da humanidade. É aqui também que morremos para o Eu Inferior, a fim de podermos alcançar o Eu Superior. In Jesu morimur.
13. 0 Pilar Medial eleva-se através de Daath, a Sephirah Invisível, que, como já vimos, é o Conhecimento, de acordo com os rabinos, a percepção ou apreensão consciente, de acordo com a terminologia psicológica. No topo desse Pilar está Kether, a Coroa, a Raiz de Todo Ser. A consciência, portanto, alcança a essência espiritual de Kether por meio da compreensão de Daath, que a faz cruzar o Abismo, levando-a para a consciência transladada de Tiphareth, para onde é conduzida por intermédio do sacrifício de Cristo, que rasga o véu Paroketh; em seguida, para a consciência psíquica de Yesod, a Esfera da Lua e, finalmente, para a consciência cerebral a sensorial de Malkuth.
14. É esse o curso da consciência na marcha da involução, que é o termo aplicado a essa fase de evolução que se dirige para baixo, desde a Primeira Manifestação em meio aos planos sutis de existência até a matéria densa; por essa razão, deveria o esoterista utilizar o termo evolução apenas quando pretende descrever a subida da matéria ao espírito, pois é nessa direção que ocorre a evolução daquilo que involuiu através das fases sutis de desenvolvimento. É óbvio que nada pode evoluir a desenvolver-se se antes não involuiu a não se desenvolveu. 0 curso real da evolução segue a trilha do Relâmpago Brilhante ou da Espada Flamejante, de Kether a Malkuth, na ordem de desenvolvimento das Sephiroth previamente descritas; mas a consciência desce plano por plano, a só começa a manifestar-se quando as Sephiroth polarizantes estão em equilíbrio; por conseguinte, os modos de consciência são atribuídos às Sephiroth Equilibrantes no Pilar Medial, mas os poderes mágicos são atribuídos às Sephiroth opostas, cada uma das quais se encontra na haste da balança dos pares de opostos.
15. 0 Caminho da Iniciação segue as espirais da Serpente da Sabedoria na Árvore; mas o Caminho da Iluminação segue o Caminho da Flecha lançada pelo Arco da Promessa, Qesheth, o arco-íris de cores astrais que se estende como um halo por trás de Yesod. Esse é o caminho do místico, que se distingue do caminho do ocultista; é rápido a direto, e livre do perigo da tentação da força desequilibrada que se encontra nos outros pilares, mas não confere nenhum poder mágico, salvo os do sacrifício em Tiphareth a os do psiquismo em Yesod.
16. Já fizemos menção às Três Trindades da Árvore em nossa discussão preliminar das Dez Sephiroth. Recapitulemo-las novamente para maior clareza. Mathers chama a Primeira Trindade, constituída por Kether, Chokmah a Binah, de Mundo Intelectual; a Segunda Trindade, constituída por Chesed, Geburah a Tiphareth, de Mundo Moral; e a Terceira Trindade, formada por Netzach, Hod a Yesod, de Mundo Material. A meu ver, essa terminologia é equívoca, pois tais palavras não nos comunicam o verdadeiro sentido desses Mundos. 0 intelecto é essencialmente a concretização da intuição a da compreensão e, como tal, é um vocábulo inadequado para o Mundo das Três Supremas. Concordo com o emprego do termo Mundo Moral para Chesed, Geburah a Tiphareth, pois ele é sinônimo do meu termo Triângulo Ético; mas discordo enfaticamente da utilização do termo Mundo Material para a Trindade de Netzach, Hod a Yesod, pois esse vocábulo pertence exclusivamente a Malkuth. Essas três Sephiroth não são materiais e sim astrais, a para essa Trindade eu proponho o termo Mundo Astral ou Mágico; não é conveniente utilizar as palavras fora de seu sentido dicionarizado, ainda que lhes precisemos o sentido, a isso Mathers não se preocupou em fazer.
17. A Esfera Intelectual não é tanto um nível quanto um Pilar, pois o intelecto, sendo o conteúdo da consciência, é essencialmente sintético. Esses termos, contudo, parecem provir de uma tradução algo rude dos nomes hebraicos dados aos quatro níveis em que os cabalistas dividem a manifestação.
18. Esses quatro níveis permitem, ainda, outro agrupamento das Sephiroth. 0 mais elevado deles é Atziluth, o Mundo Arquetípico, composto por Kether. 0 segundo, Briah, chamado de Mundo Criativo, consiste em Chokmah a Binah, Abba a Ama Supremos, o Pai e a Mãe. 0 terceiro nível é o de Yetzirah, o Mundo Formativo, que consiste das seis Sephirot centrais, a saber, Chesed, Geburah, Tiphareth, Netzach, Hod a Yesod. 0 quarto Mundo é Assiah, o Mundo Material, representado por Malkuth.
19. As Dez Sephiroth conformam-se também em Sete Palácios. No Primeiro Palácio estão as Três Supremas; no Sétimo Palácio estão Yesod e Malkuth; a as demais Sephiroth têm cada uma um Palácio próprio. Esse agrupamento é interessante, pois revela o íntimo relacionamento entre Yesod e MaIkuth, a permite equacionar a escala décupla da Cabala com a escala sétupla da Teosofia.
20. Há também outra divisão tripla das Sephiroth que é muito importante para o simbolismo cabalístico. Nesse sistema, confere-se a Kether o título de Arik Anpin, o Rosto Imenso. Este se manifesta como Abba, o Pai Supremo, Chokmah, a Ama, a Mãe Suprema, Binah, sendo esses os aspectos positivo a negativo do Três em Um. Esses dois aspectos diferenciados, quando unidos, são, de acordo com Mathers, Elohim, esse curioso Nome Divino que é um substantivo feminino flexionado com uma desinência masculina. Essa união ocorre em Daath, a Sephirah invisível.
21. As seis Sephiroth seguintes conformam-se em Zaur Anpin, o Rosto Menor, ou Microprosopos, cuja Sephirah especial é Tiphareth. A Sephirah restante, Malkuth, recebe o nome de Noiva de Microprosopos.
22. Microprosopos recebe também, às vezes, o nome de Rei; Malkuth, em conseqüência, o nome de Rainha. Ela se chama também Mãe Menor ou Eva Terrestre, distinta de Binah, a Mãe Suprema.
23. Esses diferentes métodos de classificar as Sephiroth não são sistemas concorrentes, mas visam permitir adequar o sistema décuplo dos cabalistas com outros sistemas, utilizando uma notação tripla, tal como a cristã, ou, como já observamos, um sistema sétuplo como o da Teosofia; todos esses sistemas são valiosos porque indicam relações funcionais entre as Sephiroth.
24. O sistema final de classificação que devemos considerar encontra-se sob a regência das Três Letras-Mães do alfabeto hebraico: Aleph (A), Mem (M) a Shin (Sh). De acordo com a atribuição Yetzirática do alfabeto hebraico, essas três letras estão relacionadas com os três elementos Ar, Água e Fogo. Sob o governo de Aleph, encontra-se a Tríade Aérea de Kether, na qual está a Raiz do Ar, que se reflete para baixo, através de Tiphareth, o Fogo Solar, em Yesod, a Radiância Lunar. Em Binah encontra-se a Raiz da Água (Marah, o Grande Mar), que se reflete para baixo, através de Chesed, em Hod, sob o governo de Mem, a Mãe da Água. Em Chokmah encontra-se a Raiz do Fogo, que se reflete para baixo, através de Geburah, em Netzach, sob o governo de Shin, a Mãe do Fogo.
25. Cumpre ter sempre em mente esses agrupamentos, visto que eles nos ajudam enormemente a compreender o significado das Sephiroth individualmente; como já salientamos em várias oportunidades, só podemos compreender uma Sephirah através de suas múltiplas relações.

A CABALA MÍSTICA AS TRÊS SUPREMAS


1. Tendo considerado em linhas gerais o desenvolvimento das três primeiras Emanações Divinas, estamos agora em posição de compreender lhes mais profundamente a natureza e o significado, pois podemos estuda-las em seu relacionamento mútuo. Esse é o único meio de estudar as Sephiroth, pois uma única Sephirah, considerada em separado, carece de sentido. A Árvore da Vida é essencialmente um esquema de relações, tensões e reflexos (Diagrama 11).
2. Os livros rabínicos atribuem muitos nomes curiosos às Sephiroth, e muito aprendemos ao considerá-las, uma vez que toda palavra, nesses livros, tem um significado importante, a nenhuma delas é utilizada superficialmente ou com vistas à mera fantasia poética; todas têm a precisão dos termos científicos, o que, de fato, são.
3. O significado da palavra Kether, como já observamos, é Coroa. Chokmah significa Sabedoria a Binah, Compreensão. Mas, pendente dessas últimas Sephiroth, existe uma Terceira Sephirah, curiosa a misteriosa, que nunca é representada no hieróglifo da Árvore; trata-se da Sephirah invisível Daath (Conhecimento), que resulta da conjunção de Chokmah a Binah e que atravessa o Abismo. Afirma Crowley que Daath é uma outra dimensão das demais Sephiroth, constituindo o vértice de uma pirâmide cujos ângulos básicos correspondem a Kether, Chokmah a Binah. A meu ver, Daath representa a idéia da compreensão a da consciência.
4. Tentemos, agora, elucidar as Três Supremas de acordo com o método da Cabala mística, que consiste em prover a mente com todas as correspondências a símbolos conferidos às Esferas, deixando à contemplação o trabalho de estabelecer as devidas relações.
S. Teremos a oportunidade de observar que essas três Sephiroth, acrescidas de uma quarta Sephirah misteriosa, apresentam o simbolismo relativo à cabeça, que, no homem arquetípico, representa o nível mais elevado de consciência. Se buscarmos na literatura rabínica outros nomes que se lhes possam aplicar, descobriremos muitos outros símbolos referentes à cabeça aplicados a Kether; esses símbolos, embora não se refiram especificamente às demais Sephiroth, abrangem também as outras duas Esferas Supremas, pois estas representam aspectos de Kether num plano inferior.
6. Os rabinos conferem a Kether, entre outros títulos, que não precisamos analisar no momento, os seguintes: Arik Anpin, o Rosto Imenso, A Cabeça Branca, A Cabeça que Não É. 0 símbolo mágico de Kether, de acordo com Crowley, é um velho rei barbado visto de perfil. Diz MacGregor Mathers: "0 simbolismo do Rosto Imenso diz respeito a um perfil graças ao qual só podemos ver uma face do rosto; ou, como se diz na Cabala, `Nele tudo é lado direito'." 0 lado esquerdo, voltado para o Imanifesto, é para nós como o lado escuro da Lua.
7. Mas Kether é, em primeiro lugar, a Coroa. Ora, a Coroa não é a cabeça, mas repousa nela a sobre ela. Por conseguinte, Kether não é a consciência, mas sim o material rude da consciência, do ponto de vista microcósmico, e o material rude da existência, do ponto de vista macrocósmico. Como já observamos, podemos considerar a Árvore da Vida de duas maneiras; podemos concebê-la como sendo o universo ou a alma do homem, e esses dois aspectos se iluminam mutuamente. Nas palavras da Tábua de Esmeralda, de Hermes: "Como é em cima, tal é embaixo."
8. Kether diferencia-se em Chokmah a Binah antes de alcançar a existência fenomenal, a os cabalistas chamam essas duas Sephiroth de Abba, o Pai Supremo, a Ama, a Mãe Suprema. Binah recebe também o nome de Grande Mar, a Shabathai, a Esfera de Saturno. Na seqüência de nosso estudo, descobriremos que as Sephiroth recebem sucessivamente os nomes das Esferas planetárias, mas Binah é a primeira das emanações a ser assim assinalada; Kether recebe o nome de Primeiro Remoinho, a Chokmah, a Esfera do Zodíaco.
9. Ora, Saturno é o Pai dos Deuses; ele é o maior dos velhos deuses que precederam as divindades olímpicas governadas por Júpiter. Nos títulos secretos atribuídos às camas do Taro, o Caminho de Saturno chama-se, de acordo com Crowley, o Grande Senhor da Noite dos Tempos.
10. Kether diferencia-se numa potência ativa masculina, Chokmah, e numa potência passiva feminina, Binah, a ambas as potências situam-se no topo de duas colunas laterais formadas pelo alinhamento vertical das Sephiroth em seu enquadramento na Árvore da Vida. A coluna da esquerda chama-se Severidade; a da direita, sob Chokmah, chama-se Misericórdia; a do meio, sob Kether, chama-se Suavidade, a recebe também o título adicional de Coluna do Equilíbrio. Essas duas colunas representam os dois pilares encontrados no Templo do Rei Salomão a também em todas as Lojas de Mistérios, constituindo o próprio candidato, quando permanece entre eles, a Coluna Medial do Equilíbrio.
11. Deparamos, aqui, com a idéia expressa por Mme. Blavatsky segundo a qual a manifestação não pode ocorrer antes da diferenciação dos Pares de Opostos. Kether diferencia seus dois aspectos como Chokmah a Binah, e é então que ocorre a manifestação. Temos, assim, nesse triângulo supremo, formado pela Cabeça Que. Não É, pelo Pai a pela Mãe, o conceito radical de nossa cosmogonia. Voltaremos muitas vezes a essa idéia, recebendo, em cada retorno, mais a mais iluminações. Estes capítulos iniciais não pretendem tratar exaustivamente de nenhum dos pontos, pelas razões já aduzidas, uma vez que o estudante que não esteja familiarizado com o assunto (e existem pouquíssimos estudantes que estão familiarizados com ele) ainda não tem o equipamento mental necessário que lhe permita apreciar o significado de um estudo mais detalhado; estamos, no momento, empenhados em reunir esses elementos; no devido tempo, começaremos a dispô-los num templo vivo e a estudá-los em detalhes.
12. Binah, a Mãe Superior (distinta de Malkuth, a Mãe Inferior, a Noiva de Microprosopos, a Isis da Natureza, a Décima Sephirah), apresenta dois aspectos, a estes distinguem-se como Ama, a Mãe Estéril Obscura, a Aima, a Mãe Fértil Brilhante. Já observamos que essa Sephirah se chama Grande Mar, Marah; a palavra Marah não significa apenas Amargo, mas é também a raiz de Maria, a aqui nos encontramos novamente com a idéia da Mãe, no início virgem, a depois com a criança concebida pelo Espírito Santo.
13. Pela associação de Binah com o mar, somos lembrados de que essa Sephirah se originou primordialmente nas águas; do mar nasceu Vênus, a mulher arquetípica. A associação a Saturno sugere a idéia da idade primordial: "Antes que os deuses que fizeram os deuses bebessem até fartar-se (...)", a lembra as rochas mais antigas: "Na sombria quietude do vale (...) sentava-se Saturno, de cabelos cinzentos, quieto como uma pedra." Max Heindel localiza os Senhores da Forma entre as fases mais antigas da evolução, a uma obra inspiracional em minha posse, Lhe Cosmic Doctrine, fala dos Senhores da Forma como as Leis da Geologia.
14. Considerando novamente o simbolismo das duas colunas laterais da Árvore, descobrimos que Chokmah a Binah representam a Força e a Forma, as duas unidades de manifestação.
15. Nada ganharíamos, por enquanto, penetrando mais profundamente nas ramificações sem fim desse simbolismo, pois ele nos levaria para além das três Sephiroth já estudadas. Consideraremos, porém, a misteriosa Sephirah Daath, que nunca aparece na Árvore e à qual não se atribui nenhum. nome divino ou coro angélico, visto que não possui nenhum símbolo cósmico planetário ou elemental, como as demais Esferas da Árvore.
16. Como já observamos, Daath resulta da conjunção de Chokmah e Binah. 0 Pai Supremo, Abba, desposa a Mãe Suprema, Ama, a Daath é o resultado dessa união. Como os cabalistas conferem curiosos nomes a Daath, será interessante observar alguns deles.
17. No verso 38 do Book of Concealed Mystery (tradução inglesa de Mathers da tradução latina de Knorr von Rosenroth), lê-se: "Pois o Pai e a Mãe estão perpetuamente unidos em Yesod, o Fundamento (a nona Sephirah), mas ocultos sob o mistério de Daath, o Conhecimento"; a lemos, no verso 40, a propósito de Daath: "0 homem que diz, Sou o Senhor, esse cairá (...) Yod (a décima letra do alfabeto hebraico) é o fundamento do Conhecimento do Pai; mas todas as coisas chamam-se Byodo, ou seja, todas as coisas se aplicam a Yod, a quem esse discurso diz respeito. Todas as coisas se combinam na língua que está oculta na mãe. Ou seja, graças a Daath, o Conhecimento, por meio do qual a Sabedoria se combina com a Compreensão, e o Caminho da Beleza (Tiphareth, a Sexta Sephirah) com a sua noiva, a Rainha (Malkuth, a Décima Sephirah); a essa é a idéia oculta, ou alma, que penetra toda a Emanação. Daath abre-se para aquilo que dele procede; isto é, Daath é ele próprio o Caminho da Beleza, mas também o Caminho Interno, a que se referia Moisés; a esse Caminho está oculto na Mãe, e é o meio de sua conjunção." Se observarmos que Yod é idêntico ao lingam do sistema hindu; a que Kether, Daath e o Caminho da Beleza, Tiphareth, a Sexta Sephirah, estão alinhados no Pilar Medial da Árvore, que equivale à espinha dorsal do homem, o microcosmo; a que Kundalini está enrolada em Yesod, também no Pilar Medial, descobriremos aqui uma importante chave para aqueles que estão equipados para utilizá-la.
18. Na obra Greater Holy Assembly, verso 566 (tradução de Mathers), lemos o seguinte, a respeito da Cabeça de Microprosopos, cujo corpo é considerado como um hieróglifo do cosmo: "Da Terceira Cavidade provêm mil vezes mil conclaves a assembléias, a nessa Cavidade se localiza a morada de Daath, o Conhecimento. A abertura dessa Cavidade localiza-se entre duas outras cavidades, a todos esses conclaves estão repletos em ambos os lados. Eis o que lemos nos Provérbios: `E os conclaves estarão cheios de Conhecimento (Daath)'. E essas três cavidades se expandem sobre todo o corpo, por todos os lados, unificando o corpo, e o corpo está contido nelas, por todos os lados, a assim, por meio do corpo, elas se expandem a se difundem."
19. Se recordarmos que Daath está situada no ponto em que o Abismo corta o Pilar Medial, a que no Pilar Medial se localiza o Caminho da Flecha, o caminho que a consciência trilha quando o sensitivo se eleva para os planos, a que nesse local também está Kundalini, observaremos que em Daath reside o segredo tanto da geração quanto da regeneração, a chave para a manifestação de todas as coisas por meio da diferenciação em pares de opostos a da sua união num terceiro elemento.
20. É assim que a Árvore revela seus segredos aos cabalistas.
21.0 Segundo Triângulo na Árvore da Vida é constituído pelas Sephiroth Chesed, Geburah a Tiphareth. Chesed forma-se pelo desdobramento de Binah, estando localizada no Pilar da Misericórdia, à direita, imediatamente abaixo de Chokmah; o ângulo do Relâmpago Brilhante, que é utilizado para indicar o curso das emanações na Árvore, dirige-se para baixo, cruzando o hieróglifo à direita, de Binah no topo do Pilar da Severidade até Chesed, que ocupa a seção média do Pilar da Misericórdia. 0 Relâmpago volta-se novamente a dirige-se na horizontal, através do hieróglifo, em direção ao Pilar da Severidade, em cuja seção média se encontra a Sephirah Geburah. 0 símbolo da força emanante desce uma vez mais para baixo e à direita, constituindo a Sephirah Tiphareth, que ocupa o centro mesmo da Árvore no Pilar da Suavidade ou do Equilíbrio. Essas três Sephiroth constituem o triângulo funcional seguinte que devemos considerar, a embora não pretendamos penetrar profundamente em seu simbolismo antes de completarmos nossa observação esquemática de todo o sistema, cumpre dizer algumas palavras para esclarecer-lhes o significado a conferir-lhes um lugar no conceito que estamos formulando. Esse conceito é tão vasto a tão complexo em seus detalhes que a tentativa de ensiná-lo exaustivamente de A à Z resultaria em confusão. Seu significado só é revelado ao estudante gradualmente, pois um aspecto interpreta o outro. Meu método de ensinar a Árvore pode não ser o ideal do ponto de vista do pensamento sistemático, mas acredito que ele é o único que capacitará o iniciante a "pegar o jeito" do assunto. Foi na Árvore que obtive meu próprio treinamento místico, a vivi a respirei em sua companhia por'muitos a muitos anos, de modo que me sinto competente para falar dela do ponto de vista do misticismo prático, pois conheço, por minha própria experiência, as dificuldades de dominar o sistema cabalístico, aparentemente tão intrincado, abstrato a volumoso e, no entanto, tão compreensível e satisfatório quando temos as chaves de sua interpretação.
22. Antes de considerarmos o Segundo Triângulo da Árvore como uma unidade, devemos conhecer o significado das Sephiroth que o compõem. Chesed significa Misericórdia ou Amor; pode chamar-se também Gedulah, Grandeza ou Magnificência, e a ela se atribui a Esfera do planeta Júpiter. Geburah significa Força a recebe também o título de Pachad, Temor; a ela se atribui a Esfera do planeta Marte. Tiphareth significa Beleza, e a ela se atribui a Esfera do Sol. Quando os deuses dos diversos panteões pagãos são correlacionados com as Esferas na Árvore, os deuses sacrificados referem-se a Tiphareth e, por essa razão, a Cabala cristã a chama de Centro Cristológico.
23. Temos agora material suficiente para fazer uma observação a respeito do Segundo Triângulo. Júpiter, o governante e legislador benéfico, é contrabalançado por Marte, o Guerreiro, a força ígnea a destrutiva, a ambas as esferas são equilibradas em Tiphareth, o Redentor. No Triângulo Supremo, temos a Sephirah primária emanando um par de opostos que expressam os dois lados de sua natureza, Chokmah, Força, a Binah, Forma, Sephiroth masculina a feminina, respectivamente. No Segundo Triângulo, temos os pares de opostos que encontram seu equilíbrio num terceiro elemento, localizado no Pilar Medial da Árvore. Deduzimos disso que o Primeiro Triângulo deriva seu significado da esfera que o antecede a que o Segundo Triângulo deriva seu significado daquilo que o triângulo anterior emana. No Primeiro Triângulo, encontramos uma representação das forças criativas da substância do universo; no Segundo, temos uma representação das forças que governam a vida em evolução. Em Chesed reside o rei sábio a bondoso, o pai de seu povo, que organiza o reino, constrói as indústrias, promove a instrução a implanta os benefícios da civilização. Em Geburah temos um rei guerreiro, que conduz o seu povo à guerra, defende o reino dos assaltos dos inimigos, estende-lhe os limites por meio da conquista, pune o crime e aniquila os malfeitores. Em Tiphareth, temos o Salvador, sacrificado na Cruz para a salvação de seu povo, colocando, assim, Geburah em equilíbrio com Gedulah, ou Chesed. Descobrimos, aqui, a esfera de todos os deuses solares e deuses curadores benéficos. Vemos, assim, que as misericórdias de Gedulah e as severidades de Geburah se unem para a cura das nações.
24. Atrás de Tiphareth, atravessando a Árvore, estende-se Paroketh, o Véu do Templo, que corresponde, num plano inferior, ao Abismo que separa as Três Supremas do resto da Árvore. Como o Abismo, o Véu marca uma cisão na consciência. 0 modo de mentalização num lado da cisão difere, em espécie, do modo de mentalização que prevalece no outro. Tiphareth é a Esfera superior, à qual a consciência humana normal pode elevar-se. Quando Felipe disse ao Mestre, "Mostra-nos o Pai", Jesus replicou, "Aquele que viu a Mim viu também ao Pai". A mente humana só pode conhecer de Kether aquilo que se reflete em Tiphareth, o Centro Cristológico, a Esfera do Filho. Paroketh é o Véu do Templo, que se rasgou no instante da Crucificação.
25. Chegamos, agora, em nossa breve observação preliminar, ao Terceiro Triângulo, composto das Sephiroth Netzach, Hod a Yesod. Netzach é a Sephirah básica do Pilar da Misericórdia, Hod é a Sephirah básica do Pilar da Severidade, a Yesod é o Pilar Medial da Suavidade ou do Equilíbrio, em alinhamento direto com Kether a Tiphareth. Assim, o Terceiro Triângulo é uma réplica exata do Segundo Triângulo num arco inferior.
26. O significado de Netzach é Vitória, e a ela se atribui a Esfera do planeta Vênus; o significado de Hod é Glória, e a ela se atribui a Esfera do planeta Mercúrio; o significado de Yesod é Fundamento, e a ela se atribui a Esfera da Lua.
27. Na medida em que se pode chamar o Segundo Triângulo, com alguma propriedade, de Triângulo Ético, pode-se muito bem chamar o Terceiro Triângulo de Triângulo Mágico; e, se atribuirmos a Kether a Esfera do Três em Um, a Unidade indivisa, e a Tiphareth a Esfera do Redentor ou Filho, poderíamos justificadamente referirmo-nos a Yesod como a Esfera do Espírito Santo, o lluminador; essa é uma atribuição da Trindade Cristã que se enquadra melhor ao contexto da Árvore do que a sua atribuição às Três Supremas, que coloca o Filho no lugar de Aba, o Pai; e o Espírito Santo no lugar de Ama, a Mãe, e é obviamente irrelevante a motivo de inúmeras discrepâncias nas correspondências a nos simbolismos. Temos, aqui, um exemplo do valor da Árvore como um método de meditação probatória; as atribuições corretas adornam a Árvore por meio de ramificações infindas de simbolismo, como vimos quando consideramos Binah como a Mãe; o simbolismo errôneo incorreto desintegra-se a revela as suas bizarras associações quando se tenta seguir uma cadeia de correspondências. É assombrosa a multidão de ramificações de cadeias associativas que se podem seguir quando a atribuição é correta. É como se apenas a extensão de nosso conhecimento pudesse limitar a extensão das cadeias associativas; estas abrangem a ciência, a arte, a matemática, as épocas da história, a ética, a psicologia e a fisiologia. Foi esse método peculiar de utilizar a mente que, com toda a probabilidade, deu aos antigos o seu prematuro conhecimento da ciência natural, conhecimento cuja confirmação precisou esperar a invenção de instrumentos de precisão. Temos indícios desse método na análise de sonhos da psicologia analítica. Poderíamos descrevê-lo como o poder da mente subconsciente de utilizar símbolos. Constitui uma experiência instrutiva tomar uma massa confusa de símbolos a observá-los ajustarem-se durante a meditação sobre a Árvore, elevando-se à consciência, em longas cadeias de associação, tal como numa análise de sonhos.
28. Netzach é a Esfera da Deusa da Natureza, Vênus. Hod é a Esfera de Mercúrio, o análogo grego do Thoth egípcio, Senhor dos Livros a da Sabedoria. Da oposição de ambos, resulta um terceiro elemento em equilíbrio, que vem a ser Yesod, a Esfera da Lua. Temos, assim, um Triângulo composto pela Senhora da Natureza, pelo Senhor dos Livros a pela Senhora da Feitiçaria; em outras palavras, a subconsciência e a superconsciência correlacionadas no psiquismo.
29. Quem quer que esteja familiarizado com o misticismo prático, sabe que são três os caminhos da superconsciência - o misticismo devocional, que corresponde a Tiphareth; o misticismo natural, de raízes dionisíacas, que corresponde à Esfera de Vênus, Netzach; e o misticismo intelectual, de vinculação ocultista, que corresponde a Hod, a Esfera de Thoth, Senhor da Magia. Tiphareth, como veremos no diagrama da Árvore, pertence a um plano mais elevado do que o dos componentes do Terceiro Triângulo; Yesod, por outro lado, está muito perto da Esfera da Terra.
30. Atribuem-se a Yesod todas as divindades de simbolismo lunar: a própria Luna; Hécate, que rege a Maria Negra; a Diana, que governa os partos. A Lua física, Yesod em Assiah, como diriam os cabalistas, com seu ciclo de vinte a oito dias, corresponde ao ciclo reprodutivo da fêmea humana. Se o simbolismo da Lua crescente fosse investigado em vários panteões, descobrir-se-ia que as divindades a eles associadas são predominantemente femininas; é interessante notar - corroborando a nossa atribuição do Espírito Santo a Yesod - que, de acordo com MacGregor Mathers, o Espírito Santo é uma força feminina. Diz ele (Kabbalah Unveiled, p. 22): "Ouvimos com freqüência que o Espírito Santo é masculino. Mas a palavra Ruach, `Espírito', é feminina, como se depreende da seguinte passagem da Sepher Yetzirah: Acha (feminino, não Achad, masculino) Ruach Elohim Chüm: o Um é ela, o Espírito do Elohim da Vida'." Quando considerarmos o Pilar Medial relativamente aos níveis de consciência, teremos uma confirmação adicional desse ponto de vista.
31. Resta-nos considerar, por fim, a Sephirah Malkuth, o Reino da Terra. Essa Sephirah difere das demais em vários aspectos. Em primeiro lugar, ela não integra qualquer triângulo equilibrado, mas é o receptáculo das influências dos triângulos anteriores. Em segundo lugar, é uma Sephirah decaída, pois a Queda a separou dos demais componentes da Árvore, a as espirais do Dragão Inclinado que se ergue do Mundo das Conchas, os Reinos da Força Desequilibrada, assinalam essa separação. Por trás dos ombros da Rainha, a Noiva de Microprosopos (Malkuth), a Serpente levanta sua cabeça, e é nesse local que ocorrem os julgamentos mais severos. A Esfera de Malkuth estende-se até os Infernos das Sephiroth Malignas, as Qliphoth, ou demônios maus. Ela é o firmamento de onde Elohim efetuou a separação entre as águas supremas de Binah a as águas infernais do Leviana.
32. Consideraremos em seu devido tempo o significado das Qliphoth, mas, como nos referimos aqui a elas a fim de explicar a posição de Malkuth, devemos dizer algumas palavras que tornem a explicação inteligível.
33. As Qhiphoth (no singular, Qliphah, mulher indecente, meretriz) são as Sephiroth Malignas ou Adversas, cada uma das quais uma emanação ou uma força desequilibrada oriunda de sua correspondente Esfera da Árvore Sagrada; essas emanações ocorrem durante os períodos críticos de evolução, quando as Sephiroth se encontram em desequilíbrio. É por essa razão que os textos se referem a elas como os Reis da Força Desequilibrada, os Reis de Edom, "que governaram antes que houvesse um rei em Israel", segundo relata a Bíblia, ou, conforme as palavras da Siphrah Dzenioutha, o Book of Concealed Mystery (tradução de Mathers): "Pois antes do equilíbrio, o rosto não via o rosto. E os reis dos tempos antigos estavam mortos, e suas coroas não mais foram encontradas, e a terra estava desolada."
34. Completamos, assim, o nosso exame preliminar da Árvore da Vida e da disposição das Dez Sagradas Sephiroth; tendo estudado, em linhas gerais, o significado das Esferas a sugerido a maneira pela qual opera a mente quando utiliza os símbolos cósmicos em suas meditações, podemos agora assinalar a cada nova informação o seu enquadramento correto em nosso esquema. Construiremos nosso quebra-cabeça conhecendo as linhas gerais do quadro. Crowley comparou com propriedade a Árvore a um fichário, em que cada um dos símbolos é uma gaveta. Eis uma comparação praticamente irretocável. No curso de nossos estudos, utilizaremos essas gavetas procurando descobrir-lhes o sistema de indexação sugerido pela utilização de um mesmo símbolo em diversas associações.

A CABALA MÍSTICA OTZ CHIIM, A ARVORE DA VIDA


1. Para podermos compreender o significado de qualquer Sephirah particular, devemos antes analisar as linhas gerais da OTZ CHUM, a Árvore da Vida, como um todo.
2. Trata-se de um hieróglifo, ou seja, de um símbolo composto, com o qual se procura representar o cosmo em toda a sua complexidade, e também a alma do homem nas relações que esta mantém com aquele; a quanto mais estudamos esse símbolo, mais descobrimos que ele constitui uma representação perfeitamente adequada do que procura expressar; utilizamo-lo da mesma maneira pela qual o engenheiro ou o matemático utiliza sua régua de cálculos - para investigar a calcular as complexidades da existência, tanto visível como invisível, seja na natureza externa, seja nas profundezas ocultas da alma.
3. Como se pode observar pelo Diagrama III (no final do livro), o hieróglifo consiste na combinação de dez círculos dispostos de determinada maneira a unidos entre si por linhas. Os círculos são as Dez Sephiroth Sagradas a as linhas constituem os Caminhos, que perfazem o total de vinte e dois.
4. Cada Sephirah (forma singular do substantivo plural Sephiroth) representa uma fase de evolução e, na linguagem dos rabinos, as Dez Esferas recebem o nome de Dez Emanações Sagradas. Os Caminhos entre elas são fases da consciência subjetiva, os Caminhos ou graus (do latim gradus, "degrau"), através dos quais a alma desenvolve a sua compreensão do cosmo. As Sephiroth são objetivas; os Caminhos são subjetivos.
S. Permitam-me lembrar-lhes mais uma vez que não exponho a Cabala tradicional dos rabinos como uma curiosidade histórica, mas sim como uma estrutura edificada por gerações inteiras de estudantes - todos iniciados e, dentre eles, alguns adeptos - que fizeram da Árvore da Vida seu instrumento de desenvolvimento espiritual a trabalho mágico. Essa é a Cabala moderna, a Cabala alquímica, como também a chamaram por vezes, que abrange muitas coisas estranhas à tradição rabínica, como se verá em seu devido tempo.
6. Consideremos, agora, a disposição geral e o significado da Árvore. Observemos que os círculos que representam as Sephiroth estão dispostos em três colunas verticais (Diagrama I), a que, no topo da coluna central, acima de todos os outros elementos, formando o vértice superior do triângulo das Sephiroth, está a Sephirah Kether, à qual nos referimos no capítulo anterior. Citando novamente as palavras de MacGregor Mathers, "0 oceano sem limites da luz negativa não procede de um centro, pois não o possui. Ao contrário, é essa luz negativa que concentra um centro, o qual é a primeira das Sephiroth manifestas, Kether, a Coroa."
7. Mme. Blavatsky extraiu de fontes orientais a expressão "o ponto no círculo" para expressar o Primeiro Impulso de manifestação, e a idéia está contida na expressão rabínica Nequdah Rashunah, o Ponto Primordial, título que se aplica à Sephirah Kether.
8. Mas Kether não representa uma posição no espaço. 0 Ain Soph Aur é descrito como um círculo cujo centro está em toda parte a cuja circunferência não está em nenhum lugar - expressão que, como tantas outras no ocultismo, é inconcebível, mas que, não obstante, apresenta uma imagem à mente e, por conseguinte, condiz com seu propósito. Kether, portanto (e, na verdade, todas as outras Sephiroth), é um estado ou uma condição da existência. Devemos ter sempre em mente que os planos não se superpõem uns aos outros no Empíreo, tal como os pavimentos de um edifício, constituindo, antes, estados de ser ou estados de existência de tipos diferentes. Embora esses estados se desenvolvam sucessivamente no tempo, eles se manifestam simultaneamente no espaço, pois todos os tipos de existência estão presentes no ser, por mais simples que este seja, a poderemos compreender melhor essa afirmação se lembrarmos que o ser humano consiste em um corpo físico, emoções, mente a espírito, a que todos esses aspectos ocupam simultaneamente o mesmo espaço.
9. Quem já observou, numa solução saturada, em um líquido aquecido, como vão se formando cristais ao se baixar a temperatura, tem uma imagem adequada para simbolizar a Sephirah Kether: tomemos de um copo de água fervente a nele dissolvamos o máximo de açúcar que for possível dissolver. Então, à medida que a mistura for se esfriando, veremos os cristais de açúcar irem se tomando visíveis novamente. Se o leitor fizer realmente essa experiência, não se contentando apenas em ler sobre ela, obterá um conceito através do qual poderá imaginar a existência da Primeira Manifestação oriunda do Imanifesto Primordial: o líquido está transparente a sem forma; mas uma mudança ocorre nele, a os cristais começam a aparecer, sólidos, visíveis a definidos. Podemos imaginar semelhante mudança ocorrendo na Luz Ilimitada a Kether se cristalizando nessa Luz.
10. Não pretendo, por enquanto, aprofundar a natureza de qualquer uma das Sephiroth, mas apenas indicar o esquema geral da Árvore. Voltaremos muitas a muitas vezes ao assunto no curso destas páginas, até alcançarmos um conceito compreensivo desse hieróglifo, mas essa compreensão só poderá ser atingida gradualmente. Se despendermos muito tempo num ponto particular, sem que antes o estudante tenha entendido o conceito geral, nossa tarefa será inútil, pois ele não compreenderá a importância desse conceito no esquema como um todo. Os próprios rabinos conferem a Kether os títulos de Segredo dos Segredos a Altura Inescrutável, sugerindo, assim, que a mente humana muito pouco pode esperar conhecer sobre Kether.
11. É digno de nota que o Judaísmo Exotérico, de cujas responsabilidades o Cristianismo é o desafortunado herdeiro, não apresenta qualquer concepção das Emanações ou da sobreposição das Sephiroth. Ele declara simplesmente que Deus fez o mar a as montanhas a as feras do campo, e visualizamos esse processo - se é que realmente o visualizamos - como o trabalho de um artífice celestial que molda cada nova fase de manifestação e assenta o produto final no lugar que lhe corresponde no universo. Essa concepção atrasou por séculos o avanço da ciência européia. Os homens de ciência tiveram, afinal, de romper com a religião a sofrer a perseguição como heréticos, a fim de chegarem à concepção da evolução que foi explicitamente ensinada na Tradição Mística de Israel - tradição, aliás, com a qual os autores do Velho Testamento estavam inquestionavelmente familiarizados, pois suas obras estão repletas de referências a implicações cabalísticas.
12. A Cabala não concebe Deus como um artífice que cria o universo etapa por etapa, mas pensa em diferentes fases de manifestação evoluindo umas das outras, como se cada Sephirah fosse um lago que, uma vez cheio, transbordasse num lago inferior. Citando novamente MacGregor Mathers: oculto numa bolota, existe um carvalho com suas bolotas e, oculto em cada uma destas, existe um carvalho com as suas bolotas. Assim, cada Sephirah contém a potencialidade de tudo que a segue na escala da manifestação descendente. Kether contém todas as outras Sephiroth, que são em número de nove; a Chokmah, a segunda, contém as potencialidades de todas as suas oito sucessoras. Mas, em cada Sephirah, apenas um aspecto de manifestação se acha desenvolvido; as Sephiroth subseqüentes permanecem em estado latente a as precedentes são recebidas pôr refração. Cada Sephirah é, portanto, uma forma pura de existência em sua essência; a influência das fases precedentes de evolução é externa à Sephirah, que recebe esses influxos por refração. Tais aspectos, cristalizando-se, por assim dizer, nos estágios anteriores, não se encontram mais em solução na corrente exteriorizada de manifestação, que procede sempre do Imanifesto por meio do canal de Kether. Quando, por conseguinte, desejamos descobrir a natureza essencial, a base de manifestação, de um tipo particular de existência, encontramo-la meditando sobre a Sephirah à qual essa existência corresponde em sua forma primordial. Existem quatro formas ou mundos pelos quais os cabalistas concebem a Árvore, a deveremos considerá-los em seu devido tempo. Referimo-nos agora a eles para que o estudante possa contemplar essa imagem em perspectiva.
13. 0 estudante encontrará uma valiosa ajuda nos capítulos de Lhe Ancient Wisdom, de Annie Besant, que tratam das fases de evolução. Essa obra lança muita luz sobre o assunto com que estamos nos ocupando, embora o sistema de classificação nela utilizado difira do nosso.
14. Concebamos Kether, portanto, como uma fonte que flui para um recipiente, o qual, uma vez cheio, transborda para outra fonte, que, por sua vez, enche outro recipiente e o transborda. 0 Imanifesto flui sempre sob pressão para Kether, até a evolução chegar à extrema simplicidade da forma de existência do Primeiro Manifesto. Formam-se assim todas as possíveis combinações, experimentando-se todas as possíveis permutas. Ação é reação estereotipizam-se, impedindo, em conseqüência, novos desenvolvimentos, a não ser por meio da associação mútua das combinações. A força forma todas as possíveis unidades; a fase subseqüente de desenvolvimento dessas unidades consiste na sua combinação em estruturas mais complexas. Quando isso ocorre, tem início uma nova a mais organizada fase de existência; tudo o que já havia evoluído permanece, mas aquilo que agora evolui é mais do que a soma das partes previamente existentes, pois novas capacidades vêm à existência.
15. Essa nova fase representa uma alteração do modo de existência. Assim como Kether cristaliza a Luz Ilimitada, a segunda Sephirah, Chokmah, cristaliza, da mesma forma, a Kether nesse novo modo de ser, nesse novo sistema de ações a reações, que deixaram de ser simples a diretas e se tomaram complexas a indiretas. Temos, então, dois modos de existência, a simplicidade de Kether e a relativa complexidade de Chokmah; ambas são tão simples que nenhuma espécie de vida conhecida por nós poderia subsistir nelas; não obstante, elas são as precursoras da vida orgânica. Poderíamos dizer que Kether é a primeira atividade da manifestação, o movimento; é um estado de pura gênese, Rashith ha Gilgalim, os Primeiros Remoinhos, o início dos Movimentos Giratórios, como os chamam os cabalistas, o Primum Mobile, na expressão dos alquimistas. Chokmah, a Segunda Sephirah, recebe dos rabinos o título de Mazloth, a Esfera do Zodíaco. Encontramos aqui o conceito do círculo com seus segmentos. A criação avança. Do Ovo Primordial surge a Serpente que morde a própria cauda, como relata Mme. Blavatsky, em suas inestimáveis fontes de simbolismo arcaico, A doutrina secreta a Ísis sem véu.
16. De maneira similar àquela pela qual Kether transbordou para Chokmah, esta, por sua vez, transborda para Binah, a Terceira Sephirah. Os Caminhos trilhados pelas Emanações nesses transbordamentos sucessivos são representados na Árvore da Vida por um Relâmpago Brilhante ou, em alguns diagramas, por uma Espada Flamejante. Observar-se-á, no Diagrama 1, que o Relâmpago Brilhante procede de Kether a caminha para fora a para baixo, no sentido da direita, alcançando Chokmah a daí retomando horizontalmente, à esquerda, até estabelecer a Sephirah Binah. 0 resultado é uma figura triangular sobre o diagrama, que recebe o nome de Triângulo das Três Supremas, ou Primeira Trindade, o qual é separado das demais Sephiroth pelo Abismo, que a consciência humana normal não consegue cruzar. Aqui estão as raízes da existência, ocultas aos nossos olhos.

A CABALA MÍSTICA A EXISTÊNCIA NEGATIVA


1. Quando o esoterista procura formular a sua filosofia no intuito de comunicá-la aos outros, defronta-se ele com o fato de que o seu conhecimento das formas superiores de existência resultou de um processo diferente do pensamento habitual a de que esse processo só tem início quando se ultrapassa o próprio pensamento. Portanto, é apenas nessa região da consciência transcendente ao pensamento que podemos conhecer a compreender a forma superior das idéias transcendentais, a apenas aqueles de nós que são capazes de utilizar esse aspecto da consciência estão aptos a comunicar essas idéias em sua forma original. Se procuramos comunicar tais idéias a pessoas que não tiveram experiência alguma desse modo de consciência, precisamos cristalizá-las na forma, pois do contrário não conseguiremos comunicar nenhuma impressão adequada. Os místicos utilizaram todos os símiles imagináveis na tentativa de comunicar suas impressões; os filósofos perderam-se num labirinto de palavras, a tudo isso de nada serviu para o adestramento da alma não-fulminada. Os cabalistas, contudo, utilizam outro método. Eles não tentam explicar à mente um conteúdo com o qual ela não é capaz de trabalhar, mas dão-lhe uma série de símbolos em que deve meditar, a estes lhe permitem armar gradualmente uma escada cognitiva para com esta subir às alturas que estão fora de seu alcance. A mente é tão incapaz de compreender a filosofia transcendental quanto o olho o é de ver a música.
2. A Arvore da Vida - e devemos enfatizar esta afirmação _ constitui antes um método do que um sistema. Aqueles que a formularam estavam perfeitamente cientes de que, para se obter a clareza de visão, cumpre circunscrever o campo dessa mesma visão. Muitos filósofos fundaram seus sistemas no Absoluto, mas essa é uma fundação movediça, visto que a mente humana não pode definir ou compreender o Absoluto. Outros tentaram utilizar uma negativa como fundamento, declarando que o Absoluto é e sempre será incognoscível. Os cabalistas não empregam qualquer desses artifícios, limitando-se a afirmar que o Absoluto é desconhecido para o estado de consciência normal dos seres humanos.
3. Por conseguinte, em função dos objetivos de seu sistema, os cabalistas lançam o véu sobre certo ponto da manifestação, não porque nada há aí para descobrir, mas porque a mente, como tal, não pode ultrapassar esse ponto. Quando a mente humana atingir o seu estágio mais alto de desenvolvimento, a quando a consciência conseguir desligar-se dela, ficando, por assim dizer, sobre seus ombros, poderemos então penetrar os Véus da Existência Negativa, como são eles chamados. Mas, tendo em vista os propósitos práticos, só podemos entender a natureza do cosmo se estivermos dispostos a aceitar os Véus como convenções filosóficas, compreendendo que eles correspondem a limitações humanas a não a condições cósmicas. A origem das coisas é inexplicável nos termos de nossa filosofia. Por mais longe que remontemos em nossas pesquisas às origens do mundo da manifestação, encontraremos sempre um estágio de existência anterior. É apenas quando aceitamos lançar o Véu da Existência Negativa sobre o caminho que remonta aos primórdios que podemos obter uma base na qual se pode fundar a Causa Primeira. E essa Causa Primeira não é uma origem desprovida de raízes, mas, antes, uma Primeira Aparição no plano da manifestação. A mente não pode it mais além, mas devemos lembrar sempre que cada mente remonta a distâncias diferentes e, para algumas, o Véu deve ser lançado num determinado ponto e, para outras, em outro bem distante. 0 homem ignorante não vai além da concepção de Deus como um ancião, de longa barba branca, sentado num trono dourado a dando ordens à criação. 0 cientista caminhará um pouco mais antes de se ver obrigado a lançar um véu a que chama éter, e o filósofo avançará ainda mais um pouco antes de lançar um véu a que chama Absoluto, mas o iniciado caminhará mais do que todos, pois aprendeu a avançar por meio dos símbolos, a os símbolos são para a mente o que as ferramentas são para as mãos - uma aplicação ampliada de seus poderes.
4. 0 cabalista toma como ponto de partida a Kether, a Coroa, a Primeira Sephirah, que ele simboliza pelo número Um, a Unidade, a pelo Ponto no Círculo. Sobre essa Sephirah, ele lança os três Véus da Existência Negativa. Esse processo difere bastante da tática de começar no Absoluto, tentando remontar à evolução, e, embora possa não comunicar um conhecimento imediatamente claro a completo da origem de todas as coisas, ele faculta, não obstante, um ponto de partida à mente. E sem um ponto de partida não temos esperança de chegar a um fim.
5. O cabalista, portanto, começa, quando pode, no primeiro ponto que está ao alcance da consciência finita. Kether equivale à forma mais transcendental de Deus que podemos conceber, cujo Nome é Ehieh, traduzido na Versão Autorizada da Bíblia como "Eu sou", ou, mais explicitamente, o Ser Puro, Que Existe por Si Mesmo.
6. Mas essas palavras não passam de palavras e, como tais, são incapazes de comunicar uma impressão à mente. Para que tenham sentido, é precise relacioná-las a outras idéias. Só poderemos compreender Kether quando estudarmos Chokmah, a Segunda Sephirah, sua emanação; a só quando contemplarmos o desenvolvimento completo das Dez Sephiroth estaremos prontos para nos aproximar de Kether, mas, dessa vez, aproximar-nos-emos com os dados que nos fornecem a chave de sua natureza. Quando se trabalha com a Árvore, é mais sábio manter a marcha do que se deter num único ponto até dominá-lo, pois uma coisa explica a outra, e é da compreensão das relações entre os diferentes símbolos que surge a iluminação. Repetimos novamente: a Árvore é um método de utilizar a mente, não um sistema de conhecimento.
7. Mas, por enquanto, não nos estamos ocupando do estudo das Emanações, a sim das origens que a mente humana é capaz de penetrar. Por mais paradoxal que possa parecer, podemos remontar muito mais às origens quando lançamos os Véus sobre elas do que quando tentamos penetrar as trevas. Portanto resumiremos a posição de Kether numa sentença, a qual talvez tenha pouco sentido para o estudante que se aproxima do assunto pela primeira vez, embora ele a deva conservar na mente, pois seu significado só ficará mais claro posteriormente. Ao faze-lo, atemo-nos à antiga tradição esotérica de dar ao estudante um símbolo para incubar até que este rebente a casca, dentro da mente, porquanto uma instrução explícita nada lhe diria. A sentença germinal que lançamos na mente subconsciente do leitor é essa: "Kether é a Malkuth do Imanifesto". Diz Mathers (op. cit.): "0 oceano sem limites da luz negativa não ,procede de um centro, pois não o possui. Ao contrário, é essa luz negativa que concentra um centro, o qual é a primeira das Sephiroth manifestas, Kether, a Coroa."
8. Essas palavras, em si mesmas, contêm contradições a são incompreensíveis; a luz negativa é simplesmente uma maneira de dizer que a coisa descrita, embora tendo certas qualidades em comum com a luz, não é, no entanto, luz tal como a entendemos. Essa sentença é bem pouco elucidativa no que respeita àquilo que pretende descrever. Ela nos diz para não cometer o erro de pensar na luz como luz, mas não nos diz como devemos concedera-la em sua essência, a isso pela simples razão de que a mente não está equipada com as imagens que podem representá-la; por conseguinte, devemos deixá-la até que o nosso crescimento nos permita faze-lo. Não obstante, embora essas palavras não nos falem tudo o que gostaríamos de conhecer, elas comunicam certas imagens à imaginação; essas imagens caem na mente subconsciente a daí são evocadas quando as idéias correlatas penetram essa Esfera. 0 método cabalístico, utilizado praticamente como a ioga do Ocidente, permite, desse modo, o crescimento progressivo da compreensão.
9. Os cabalistas reconhecem quatro planos de manifestação, a três planos de ~estação, ou Existência Negativa. O primeiro destes chama-se ALIV, ou Negatividade; o segundo,ALNSOPH, o Ilimitado; e o terceiro,AIIV SOPHAUR, a Luz Ilimitada. É este último plano que concentra a Sephirah Kether. Esses três termos correspondem aos três Véus da Existência Negativa que pendem sobre Kether; em outras palavras, eles são os símbolos algébricos com os quais podemos pensar naquilo que transcende o pensamento, mas que ocultam, ao mesmo tempo, o que representam; são as máscaras das realidades transcendentes. Se pensarmos nos estados de existência negativa nos termos de algo que conhecemos, incorreremos em erro, pois, seja o que for que eles possam ser, eles não podem ser o que pensamos, porquanto são imanifestos. A expressão "Véus", por conseguinte, ensina-nos a utilizar essas idéias como fichas, desprovidas de valor em si mesmas, mas úteis para nós em nossos cálculos. Essa é a verdadeira utilização de todos os símbolos; eles velam o que representam, até que possamos reduzi-los a termos compreensíveis, permitindo-nos utilizar, em nossos cálculos, idéias que de outra maneira seriam inconcebíveis. E como a essência da Árvore reside no fato de que seus símbolos se elucidam mutuamente graças às suas posições relativas, esses Véus servem como o andaime do pensamento, habilitando-nos a marcar nossas posições em regiões ainda não-cartografadas. Esses Véus, ou símbolos não-concretos, não têm nenhum valor para nós, a menos que um lado do Véu confine com uma terra conhecida. Os Véus, embora ocultem o que representam, permitem-nos ver claramente aquilo para o que servem de estrutura. Essa é a sua função, a única razão pela qual são utilizados. É apenas devido às nossas limitações que necessitamos desses símbolos insolúveis, mas a mente disciplinada na filosofia esotérica aprende rapidamente a trabalhar com essas limitações, aceitando o véu como símbolo daquilo que está além de seu alcance. Assim é o Caminho do desenvolvimento da sabedoria, pois a mente cresce com aquilo de que se alimenta, até que, subindo um dia a Kether, possa ela erguer os braços, desvendar o Véu a contemplar a Luz Ilimitada. 0 esoterista não limita a si mesmo declarando que o Desconhecido é Incognoscível, pois ele é, acima de tudo, um evolucionista, a sabe que o que está fora de nosso alcance hoje poderá ser alcançado no amanhã do tempo cósmico. Ele sabe, também, que o tempo evolutivo é um assunto individual nos planos internos, sendo medido (não regulado) pela revolução da Terra em tomo de seu eixo.
10. Esses três Véus - AIN, Negatividade; AIN SOPH, o Ilimitado; e AIN SOPH AUR, a Luz Ilimitada -, embora não possamos esperar compreendê-los, sugerem, não obstante, certas idéias às nossas mentes. A Negatividade implica o Ser ou a existência de uma natureza que não podemos compreender. Não podemos conceber uma coisa que é e que, no entanto, não é; por conseguinte, devemos conceber uma forma de ser da qual nunca tivemos qualquer experiência consciente; uma forma de ser que, de acordo com nossos conceitos de existência, não existe e, no entanto, se assim podemos nos expressar, existe de acordo com a sua própria idéia de existência. Para empregar as palavras de um grande sábio: "Há muito mais coisas no céu a na Terra do que as sonhadas por nossa filosofia".
11. Entretanto, embora digamos que a Existência Negativa está fora do alcance de nossa compreensão, isso não significa que estejamos fora do âmbito de sua influência. Se assim fosse, poderíamos rejeitá-la por não-existente no que nos diz respeito, a nosso interesse por ela terminaria em definitivo. Ao contrário, embora não tenhamos acesso direto ao seu ser, tudo o que conhecemos como existente tem suas raízes nessa Existência Negativa, de maneira que, embora não possamos conhecê-la diretamente, temos dela uma experiência indireta. Em outras palavras, embora não possamos conhecer-lhe a natureza, conhecemos seus efeitos, da mesma maneira como ignoramos a natureza da eletricidade, embora sejamos capazes de utilizá-la em nossas vidas, estando habilitados, pela nossa experiência sobre seus efeitos, a chegar a certas conclusões concernentes pelo menos às qualidades que ela deve possuir. Aqueles que penetraram mais profundamente no Invisível comunicaram-nos descrições simbólicas por meio das quais podemos virar nossas mentes na direção do Absoluto, ainda que não possamos alcançá-lo. Eles falaram da Existência Negativa como Luz: "Ain Soph Aur, a Luz Ilimitada." Falaram da Primeira Manifestação como Som: "No princípio era a Palavra." Certa vez, disse-me um homem - um adepto, se é que jamais houve algum: "Se quer saber o que Deus é, posso dizê-lo numa única palavra: Deus é pressão." Imediatamente, uma imagem brotou em minha mente, seguida de uma compreensão. Pude conceber a corrente da vida fluindo por todos os canais da existência. Senti que uma compreensão genuína da natureza de Deus me tinha sido comunicada. E, no entanto, se alguém tentar analisar as palavras, nada há nelas; não obstante elas tiveram o poder de comunicar uma imagem, um símbolo, à mente, e a mente, operando no reino da intuição, situado além da esfera da razão, alcançou uma compreensão, ainda que essa compreensão não possa ser reduzida à esfera do pensamento concreto senão como uma imagem.
12. Precisamos compreender claramente que, nessas regiões altamente abstratas, a mente não pode utilizar senão símbolos: mas esses símbolos têm o poder de comunicar compreensões às mentes que sabem como utiliza-los; eles são as sementes de pensamento, de onde brota o entendimento, ainda que não sejamos capazes de expandi-los a uma realização concreta.
13. Pouco a pouco, como uma maré ascendente, a compreensão vai concretizando o Abstrato, assimilando a expressando, nos termos de sua própria natureza, coisas que pertencem a outra Esfera; a cometeríamos um grande erro se tentássemos provar, com Herbert Spencer, que, por ser uma coisa desconhecida em razão da capacidade mental que no presente possuímos, essa coisa será para sempre Incognoscível. 0 tempo e a evolução aumentam não só o nosso conhecimento, como também a nossa capacidade; e a iniciação, que é a casa de força da evolução, antecipando a produção das faculdades necessárias, permite à consciência do adepto atingir vastas compreensões, até então abaixo do horizonte mental humano. Essas idéias, embora claramente apreendidas por ele através de um outro modo de conscientização, não podem ser comunicadas a alguém que não partilha desse modo de conscientização. Ele só pode expressá-las numa forma simbólica; mas toda mente que, de alguma maneira, experimentou esse modo mais amplo de funcionamento será capaz de assimilar essas idéias, embora seja incapaz de traduzi-las na esfera da mente consciente. É por essa razão que, na literatura da ciência esotérica, encontramos idéias germinais como "Deus é pressão" a "Kether é a Malkuth da Existência Negativa". Essas imagens, cujo conteúdo não pertence à nossa Esfera, são como os germes masculinos do pensamento que fecundam o óvulo da compreensão correta. Em si mesmas, elas brilham momentaneamente na consciência como um relâmpago fugidio de compreensão, mas sem elas o óvulo do pensamento filosófico seria infértil. Ao contrário, impregnado por elas, embora sua substância seja absorvida a perdida no próprio ato de impregnação, esse óvulo se transforma, pelo crescimento, no germe sem forma do pensamento e, por fim, após a devida gestação além do limiar da consciência, a mente dá à luz uma idéia.
14. Se desejamos obter o melhor de nossas mentes, devemos aprender a conceder-lhes esse período de latência, essa impregnação por alguma coisa que está fora de nosso plano de existência, permitindo-lhe a gestação além do limiar da consciência. As invocações de uma cerimônia de iniciação têm por objetivo atrair essa influência impregnante para a consciência do candidato. Eis a razão por que os Caminhos da Árvore, que são os estágios de iluminação da alma, estão intimamente associados ao simbolismo das cerimônias iniciáticas.

A CABALA MÍSTICA A CABALA NÃO-ESCRITA


1. 0 ponto de vista do qual abordo a Cabala Sagrada difere, nestas páginas, até onde eu saiba, do adotado por todos os outros escritores que se ocuparam do assunto, pois, para mim, a Cabala é um sistema vivo de desenvolvimento espiritual, não uma curiosidade histórica. Poucas pessoas, mesmo entre aquelas que se interessam pelo ocultismo, sabem que há uma tradição esotérica ativa em nosso meio, que se transmite por meio de manuscritos particulares a "de boca a ouvido". E menos pessoas ainda sabem que essa tradição consiste na Cabala Sagrada, o sistema místico de Israel. Mas onde poderíamos buscar a nossa inspiração oculta, a não ser na tradição legada pelo Cristo?
2. A interpretação da Cabala não se encontra, contudo, entre os rabinos do Israel Externo, que são hebreus apenas pela carne, mas entre aqueles que são o povo escolhido segundo o espírito - em outras palavras, os iniciados. A Cabala, como a compreendo, tampouco é um sistema puramente hebreu, pois ela foi suplementada, durante a Idade Média, por muitos conhecimentos alquímicos a pela estreita associação a este extraordinário sistema simbólico que é o Tarô.
3. Por conseguinte, em minha apresentação do assunto, não recorro muito à tradição, em apoio às minhas concepções, bem como à prática moderna, quanto aqueles que fazem use da Cabala como seu método de técnica oculta. Poder-se-ia alegar contra mim que os antigos rabinos nada sabiam de alguns dos conceitos aqui expostos. Replico que seria mesmo impossível que eles os conhecessem, pois tais idéias não eram conhecidas em seus dias, resultando, ao contrário, do trabalho dos herdeiros do Israel Espiritual. De minha parte - embora não pretenda desviar ninguém dos ensinamentos do mundo antigo a querendo, no tocante aos assuntos de precisão histórica, que estes permaneçam sujeitos à correção de todo aquele que estiver mais informado do que eu a respeito desses assuntos (e seu número é legião) -, atribuo escassa importância à tradição quando ela impede o livre desenvolvimento de um sistema de tanto valor como a Cabala Sagrada, a utilizo as obras de meus predecessores como uma pedreira de onde retiro as pedras para construir minha cidadela. Mas não me limito a essa pedreira por qualquer ordem de que tenha conhecimento, colhendo também o cedro do Líbano e o ouro de Orfir, se isso convém ao meu propósito.
4. Fique bem claro, portanto, que não digo "Este é o ensinamento dos amigos rabinos", mas sim "Esta é a prática dos modernos cabalistas, que constitui, para nós, assunto de vital importância, por se tratar de um sistema prático de desenvolvimento espiritual"; é a ioga do Ocidente.
S. Depois de me ter assim precavido, na medida do possível, contra a acusação de não ter feito aquilo que jamais pretendi fazer, julgo conveniente definir agora minha própria posição, no que toca à erudição a às qualificações gerais para a tarefa a cumprir. No que concerne à erudição real, estou na mesma classe de William Shakespeare, pois tenho pouco latim e nenhum grego, conhecendo do hebraico apenas o aspecto cultivado pelos ocultistas, ou seja: a habilidade para transliterar a difícil escrita hebraica em função dos cálculos gemátricos. Da acusação de não possuir nenhum conhecimento do hebraico enquanto língua, sou inocente.
6. Não sei se este franco reconhecimento de minhas deficiências servirá para desarmar as críticas; não há dúvida de que se alegará contra mim e não sem justificativas - que uma pessoa assim tão mal-equipada não deveria empreender a tarefa. Posso perguntar, em minha defesa, se alguém, encontrando um homem ferido, deveria, na ausência de qualificação médica, recusar-se a socorrê-lo e a dar-lhe a ajuda que pudesse, esperando, ao contrário,.a chegada da assistência qualificada? Minha obra sobre a Cabala tem a natureza dos primeiros socorros. Procuro desvelar um inestimável sistema até agora negligenciado, a por mais desqualificada para a tarefa que eu possa ser, procuro chamar a atenção para as suas possibilidades a restaurar-lhe o lugar adequado como chave do ocultismo ocidental; e é minha esperança que esta obra possa atrair a atenção dos eruditos a animá-los a continuar a tarefa de tradução a investigação dos manuscritos cabalísticos, que constituem, até agora, um veio do qual apenas os afloramentos superficiais foram aproveitados.
7. Posso alegar, contudo, uma qualificação para a minha tarefa: nos últimos dez anos, vivi a existi na Cabala Prática; utilizei-lhe os métodos tanto subjetiva como objetivamente, até que eles se tomassem parte de mim mesma, a conheço por experiência própria os resultados psíquicos a espirituais que podem produzir, tanto quanto seu incalculável valor como método de manipulação mental.
8. Aqueles que desejam utilizar a Cabala como sua ioga não precisam obter necessariamente um extenso conhecimento da língua hebraica; tudo o de que precisam é ler a escrever os caracteres hebraicos. A Cabala moderna ganhou certificado de naturalização nas línguas ocidentais, mas retém, e deve reter, as suas Palavras de Poder em hebraico, que é a língua sagrada do Ocidente, assim como o sânscrito é a língua sagrada do Oriente. Muitos são aqueles que se opuseram ao livre emprego dos termos sânscritos na literatura ocultista, a poderiam eles objetar ainda mais fortemente contra o emprego de caracteres hebraicos; mas sua utilização é inevitável, porquanto cada letra é também um número, a os números que as letras compõem são não apenas uma importante pista para o seu significado, mas podem também expressar as relações existentes entre diferentes idéias a poderes.
9. Segundo MacGregor Mathers, no admirável ensaio que constitui a introdução de seu livro, a Cabala é comumente classificada sob quatro categorias:
a Cabala Prática, que trata da magia talismânica a cerimonial; a Cabala Dogmática, que consiste na literatura cabalística;
a Cabala Literal, que trata do use das letras e dos números; e a Cabala Não-escrita, que consiste no conhecimento correto da maneira pela qual os sistemas simbólicos estão dispostos na Árvore da Vida, e a respeito da qual diz MacGregor Mathers: "Nada mais posso dizer sobre esse ponto, nem mesmo se eu o recebi ou não." Mas, como essa valiosa sugestão foi desenvolvida pela falecida Sra. MacGregror Mathers em sua introdução à nova edição do livro ("Simultaneamente à publicação da Cabala, em 1887, ele recebeu instruções de seus mestres ocultos para preparar o que posteriormente se tornou a sua escola esotérica"), é justificável dizer que, embora Mathers tenha recebido a Cabala Não-escrita, .esta deixou por alguns anos de ser não-escrita, pois, após uma disputa com esse autor, Aleister Crowley, o conhecido autor a erudito, publicou integralmente o conjunto. Seus livros são agora raros a difíceis de encontrar e, por serem muitos estimados pelos esoteristas mais eruditos, seu valor se tomou extraordinário a raramente chegam às livrarias de sebo.
10. A violação de um juramento iniciático é um assunto sério a uma coisa que, de minha parte, não pretendo fazer; mas não acredito em nenhuma autoridade que me impeça de coletar a comparar todo o material disponível já publicado sobre qualquer assunto a de interpreta-lo de acordo com a minha melhor habilidade. Nestas páginas, é ao sistema referido por Crowley que recorro para complementar os pontos sobre os quais silenciam MacGregor Mathers, Wynn Westcott a A. E. Waite, principais autoridades modernas da Cabala.
11. Quanto a ter recebido eu própria qualquer conhecimento da Cabala Não-escrita, seria muito inconveniente para mim, tanto quanto o foi para MacGregor Mathers, discorrer sobre esse ponto; e, seguindo seu clássico exemplo de enterrar a cabeça na areia a balançar a cauda, volto à consideração do material de que disponho.
12. A essência da Cabala Não-escrita repousa no conhecimento da ordem em que determinadas séries de símbolos estão dispostas na Árvore da Vida. Essa Árvore - Otz Chiim - consiste em Dez Sephiroth Sagradas, dispostas num padrão particular a unidas por linhas, as quais recebem o nome de Trinta a Dois Caminhos da Sepher Yetzirah, ou Emanações Divinas (ver Lhe Sepher Yetzirah, de Wynn Westcott). Aqui está um dos "labirintos" ou armadilhas em que se deleitavam os rabinos. Se contarmos os Caminhos, descobriremos que há vinte a dois, não trinta a dois deles; mas, para seus propósitos, os rabinos trataram as próprias Dez Sephiroth como Caminhos, enganando dessa maneira os não-iniciados. Os dez primeiros Caminhos da Sepher Yetzirah estão, portanto, atribuídos às Dez Sephiroth, a os vinte e dois seguintes, aos próprios Caminhos reais. Vemos, assim, que também as vinte a duas letras do alfabeto hebraico podem ser associadas aos Caminhos, sem discrepâncias ou sobreposições. Associam-se também a eles os vinte a dois trunfos do Tarô, os Atus, ou Moradas de Thoth. No que concerne às cartas do Tarô, há três autoridades dignas de nota: o Dr. Encausse, ou "Papus", o escritor francês; o Sr. A. E. Waite; a os manuscritos da Ordem da Aurora Dourada, de MacGregor Mathers, que Crowley publicou sob sua própria responsabilidade. Essas três autoridades apresentam pontos de vista muito diferentes. Quanto ao sistema dado pelo Sr. Waite, diz ele: "Há um outro método conhecido pelos iniciados". É razoável supor que esse seja o método utilizado por Mathers. Papus discorda de ambos em seu método, mas, como seu sistema violenta muitas vezes as correspondências com os padrões da Árvore - a prova final de todos os sistemas -, a como os sistemas de Mathers a Crowley se ajustam admiravelmente, penso que podemos concluir com exatidão que o método de ambos constitui a ordem tradicional correta, a pretendo ater-me a ele nestas páginas.
13. Os cabalistas depuseram, ademais, sobre os Caminhos da Árvore, os signos do Zodíaco, os planetas a os elementos. Ora, existem doze signos, sete planetas a quatro elementos, perfazendo vinte a três símbolos. Como se ajustam eles aos vinte a dois Caminhos? Aqui está outra "emboscada", mas a solução é simples. No plano físico, encontramo-nos no elemento Terra e, por essa razão, tal símbolo não aparece nos Caminhos que conduzem ao Invisível. Deixemos de lado esse símbolo a teremos vinte a dois símbolos, que correspondem perfeitamente, corretamente colocados, aos trunfos do Tarô, pois eles se esclarecem mutuamente de forma notável a fornecem as chaves da Astrologia Esotérica a da adivinhação do Tarô.
14. A essência de cada Caminho reside no fato de que ele constitui a união de duas Sephiroth. Só podemos compreender-lhe o significado levando em conta a natureza das Esferas unidas na Árvore. Mas uma Sephirah não pode ser entendida num único plano: ela tem uma natureza quádrupla. Os cabalistas o afirmam claramente ao dizerem que existem quatro mundos (ver MacGregor Mathers, Lhe Qabalah Unveiled).
Atziluth, o mundo Arquetípico, ou Mundo das Emanações; o Mundo Divino;
Briah, o Mundo da Criação, também chamado Khorsia, o Mundo dos Tronos;
Yetzirah, o Mundo da Formação a dos Anjos;
Assiah, o Mundo da Ação; o Mundo da Matéria.
15. Afirmam eles, também, que as Dez Sephiroth Sagradas têm, cada uma, seu próprio ponto de contato com cada um dos Quatro Mundos dos cabalistas. No Mundo Atzilútico, elas se manifestam por meio dos Dez Nomes Sagrados de Deus; em outras palavras, o Grande Imanifesto, simbolizado pelos Três Véus Negativos da Existência, que pendem atrás da Coroa, manifesta-se em dez diferentes aspectos, representados pelos diferentes Nomes utilizados para denotar a Divindade nas Escrituras hebraicas. Esses Nomes são traduzidos de diversas maneiras na Versão Autorizada, e o conhecimento de seu verdadeiro significado, aliado ao das Esferas às quais esses Nomes pertencem, permite-nos elucidar muitos enigmas do Velho Testamento.
16. No mundo Briático, as Emanações Divinas manifestam-se=por meio dos Dez Poderosos Arcanjos, cujos nomes exercem um importante papel na Magia Cerimonial; são eles os vestígios gastos a apagados dessas~Palavras de Poder que constituem os "bárbaros nomes de evocação" da Magia medieval, "nenhuma de cujas letras pode ser alterada". A razão disso é que, em hebraico, uma letra é também um número, a os números de um Nome têm um significado importante.
17. No Mundo Yetzirático, as Emanações Divinas manifestam-se, não por meio de um único ser, mas através de diferentes tipos de seres, chamados de Hostes ou Coros Angélicos.
18. O Mundo Assiático não é, estritamente falando, o Mundo da Matéria, se o encararmos do ponto de vista Sephirótico, mas antes os planos astral a etéreo inferiores, que, juntos, formam a base da matéria. No plano físico, as Emanações Divinas manifestam-se por meio do que poderíamos chamar, com propriedade, de Dez Chakras Cósmicos, porque esses centros de manifestação correspondem perfeitamente aos centros que existem no corpo humano. Os chakras consistem no Primum Mobile, ou Primeiro Remoinho, a Esfera do Zodíaco, os sete planetas a os elementos - perfazendo o total de dez.
19. Pelo que precede, pode-se observar que cada Sephirah se compõe, em primeiro lugar, de um chakra cósmico; em segundo lugar, de uma hoste angélica de seres, Devas ou Archons, Principalidades ou Poderes, de acordo com a terminologia empregada; em terceiro lugar, de uma Consciência Arquiangélica, ou Trono; a em quarto lugar, de um aspecto especial da Divindade. Deus como Ele é, em Sua Integridade, está absolutamente oculto atrás dos Véus Negativos da Existência, sendo, por essa razão, incompreensível à consciência humana não-iluminada.
20. Podemos considerar corretamente as Sephiroth como macrocósmicas a os Caminhos como microcósmicos, pois as Sephiroth, unidas, como às vezes o são nos velhos diagramas, por um raio de luz, ou por um punho provido de uma espada de fogo, representam as sucessivas Emanações Divinas, que constituem a evolução criadora, ao passo que os Caminhos representam os estágios sucessivos do desdobramento da compreensão cósmica na consciência humana; nas imagens antigas, uma serpente enrodilhada aparece às vezes nos ramos da Árvore. Trata-se da serpente Nechushtan, "que morde a própria cauda", símbolo da sabedoria a da iniciação. As espirais dessa serpente, quando corretamente dispostas na Árvore, cruzam todos os Caminhos a servem para indicar a ordem na qual eles devem ser enumerados. Com a ajuda desse hieróglifo, toma-se muito fácil dispor os símbolos estampados pelas tabelas em suas posições corretas na Árvore, desde que tais tabelas apresentem os símbolos na ordem exata. Em alguns livros modernos, considerados como autoridades sobre o assunto, não se dá a ordem correta, pois seus autores acreditam, aparentemente, que essa ordem não deva ser revelada ao não-iniciado. Mas, como essa ordem é corretamente explicitada em alguns livros antigos e, de mais a mais, na própria Bíblia e na literatura cabalística, não vejo razão para confundir os estudantes com informações espúrias. A recusa à divulgação de algum assunto pode ser justificável, mas como se pode explicar a transmissão de informações que semeiam a confusão? Ninguém será perseguido hoje por seus estudos em ciências heterodoxas, de modo que existe um único objetivo para ocultar os ensinamentos referentes à teoria do universo e à filosofia que dela resulta, a de maneira alguma aos métodos da Magia Prática, a esse objetivo é reter o monopólio do conhecimento que confere prestígio, se não poder.
21. De minha parte, acredito que tal egoísmo exclusivista constitui, antes, a ruína do movimento oculto do que a sua salvaguarda. Trata-se do antigo pecado de reter o conhecimento de Deus nas mãos de um clero e nega-lo aos que se encontram fora do c1ã sagrado; retenção que se justificava quando as pessoas eram selvagens, mas que é absolutamente injustificável no caso do estudante moderno. Além do mais, pode-se obter a informação desejada consultando-se a literatura existente ou adquirindo-se, em troca de valores muitos elevados, livros que são hoje muito raros. É certamente a disponibilidade de muito tempo a de muito dinheiro que constitui o teste de habilidade para a obtenção da Sabedoria Sagrada.
22. Não duvido de que estarei sujeita às críticas dos auto-constituídos guardiões desse conhecimento, os quais poderão afirmar que seus preciosos segredos foram traídos. A isso replico que não estou traindo nada que seja secreto, mas coordenando o que já foi revelado ao mundo a que é de natureza simples a bem conhecida. Quando tive acesso pela primeira vez a certos manuscritos, eu acreditava que eles eram secretos a desconhecidos para o mundo em geral, mas uma familiaridade maior com a literatura ocultista revelou que a informação já havia sido comunicada fragmentariamente por meio dessa mesma literatura. Muitas coisas, de fato, que os iniciados juraram manter em segredo já haviam sido publicadas pelos próprios Mathers a Wynn Westcott, a já em 1926 encontramos, numa nova edição da obra de Mathers sobre a Cabala, publicada sob a supervisão de sua viúva (que lhe conhecia certamente as intenções), muitas das tabelas que publico nestas páginas. Como esses catálogos de seres foram originalmente conferidos ao mundo por Isaías, Ezequiel a diversos rabinos medievais, podemos afirmar, com propriedade, que, em razão do tempo transcorrido, essas listas não pertencem a nenhum autor determinado. Em todo caso, a propriedade de tais idéias foi adquirida do autor original a não de um determinado comentarista posterior, a esse autor, segundo a própria Cabala, é o arcanjo Metatron.
23. Muito do que era outrora conhecimento comum foi reunido e ocultado sob o juramento de segredo do iniciado. Crowley zomba de seus mestres porque eles o obrigaram ao silêncio com juramentos terríveis a então "lhe confiaram o alfabeto hebraico para que o salvaguardasse".
24. A filosofia da Cabala é o esoterismo do Ocidente. Nela encontramos exatamente a mesma cosmogonia apresentada pelas Estâncias de Dyzian, que foram a base da obra de Mme. Blavatsky. Ela encontrou nessa obra a estrutura da doutrina tradicional, que expôs em seu grande livro, A doutrina secreta. A cosmogonia cabalística é a gnose cristã. Sem ela, nosso sistema religioso fica incompleto, e é essa lacuna que constitui a fraqueza do Cristianismo. Os primitivos padres, como diz o adágio familiar, "jogaram a criança fora juntamente com a água do banho". Um estudo ainda que superficial da Cabala revela que esse sistema subministra as chaves essenciais dos enigmas das Escrituras em geral a dos livros proféticos em particular. Existirá alguma razão para que os iniciados dos tempos modernos encerrem todo esse conhecimento numa caixa secreta a se sentem sobre a tampa? Se eles consideram que estou errada em passar informações cuidadosas sobre assuntos que julgam sua prerrogativa privada, replico que este é um país livre e que cada um tem direito às suas próprias opiniões.

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...