sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Biografia Theodor Reuss (Especial)



Theodor Reuss (1855 - 1923), de origem anglo-germânica, foi um ocultista tântrico, socialista utópico, jornalista, cantor e promotor da Emancipação Feminina. Mais conhecido por ter sido sucessor de Carl Kellner como cabeça da O.T.O..

Primeiros anos

Filho de um estalajadeiro, Reuss nasceu em Augsburg em 28 de Junho de 1855 e.v. Ele foi cantor profissional em sua juventude e teve o privilégio de trabalhar para Richard Wagner, que o levou a conhecer, também, o Rei Ludwig II da Bavária, patrono de Wagner, em 1873. Ele participou da primeira montagem de Parsifal (ópera de Wagner) no Bayreuth Festspiele de 1882. Mais tarde ele se tornou correspondente de um jornal, e, como tal, passou a viajar frequentemente para a Inglaterra, onde ele se tornou um maçom em 1876. Ele também passou um tempo lá como jornalista e como cantor de music-hall com nome artístico de "Charles Theodore".

Reuss a Maçonaria

Em 1880, em Munique, ele participou de uma tentativa de reavivar a Ordem Illuminati Bavariana de Adam Weishaupt. Em 1885, na Inglaterra, ele entrou para a Liga Social Britânica, na qual alguns dizem que ele entrou para espionar a filha de Karl Marx para o Servi'vo Secreto Alemão. Enquanto esteve na Inglaterra, ele se tornou amigo de William Wynn Westcott, o Magus Supremo da Societas Rosicruciana en Anglia (S.R.I.A.) e um dos fundadores da Ordem Hermética da Aurora Dourada. Wescott concedeu a Reuss uma patente, datada de 26 de Julho de 1901, para o Rito de Swedenborg e uma carta de autorização, datada de 24 de Feveriro de 1902, para fundar um Conselho Superior da S.R.I.A. na Alemanha. Gérard Encausse (Papus, 1865-1916) lhe concedeu-lhe uma patente, datada de 24 de Junho de 1901, o designando Inspetor Especial para a Ordem Martinista na Alemanha. Em 1888, em Berlim, ele, juntamente com Leopold Engel de Dresden, Max Rahn e August Weinholz, participou de outra tentativa de reavivar a Ordem Illuminati. Em 1895 ele começou a discutir a formação da Ordo Templi Orientis com Carl Kellner.

As discussões entre Reuss e Kellner não levaram a nenhum resultado positivo à época, alegadamente por que Kellner não aprovava as conexões de Reuss com Engel. De acordo com Reuss, dada sua separação definitiva com Engel, em Junho de 1902, Kellner o contatou e os dois concordaram em proceder com o estabelecimento da Ordem dos Templários Orientais, buscando autorizações para atuar nos vários ritos dos altos-graus da Maçonaria. Wescott ajudou Reuss a entrar em contato com o estudioso maçônico inglês John Yarker (1833-1913). Junto com seus associados Franz Hartmann e Henry Klein, ele ativou os Ritos Maçônicos de Memphis e Mizraim e um ramo do Rito Escocês na Alemanhã com patentes de Yarker. Reuss recebeu cartas-patente de Grande Inspetor Soberano 33° do Rito Escocês de Cernau de Yarker, datada de 24 de Setembro de 1902. Na mesma data, Yarker aparentemente emitiu uma permissão para Reuss, Hartmann e Klein operarem um Soberano Santuário 33°-95° dos Ritos Escocês, de Memphis e Mizraim.

O documento original não existe mais, porém uma cópia dessa autorização foi publicada em 1911 no periódico maçônico de Reuss, "The Oriflamme", cuja publicação se iniciou em 1902. Yarker emitiu uma patente confirmando a autoridade de Reuss para operar os ditos ritos em 1 de Julho de 1904; e Reuss publicou uma cópia dessa patente adicional datada de 24 de Junho de 1905. Reuss e Kellner prepararam juntos um breve manifesto para a Ordem em 1903, que foi publicado no ano seguinte no "The Oriflamme".

Reuss e a O.T.O.

Quando Carl Kellner morreu em 1905, a liderança da Academia Maçônica da O.T.O. caiu sobre os ombros de Reuss, e ele incorporou todas suas outrass organizações sob a mesma bandeira, desenvolvendo os três graus da Academia Maçônica, disponível apenas para maçons, em um sistema de iniciação coerente e auto-suficiente, aberto tanto para homens quanto para mulheres. Em 21 de Junho de 1906, em Londres (onde estava morando desde Janeiro deste ano) ele promulgou uma constituição para sua nova e ampliada O.T.O. e no mês seguinte se proclamou Cabeça Externo da Ordem (O.H.O.). Naquele mesmo ano ele publicou Lingham-Yoni, que era uma tradução para a língua alemã do trabalho Phallism (de Hargrave Jennings), e a emitiu uma patente para Rudolph Steiner (1861-1925, que nesta época era o Secretário Geral do ramo alemão da Sociedade Teosófica, tornando-o Grande Mestre Delegado de um capítulo subordinado à O.T.O/Memphis/Mizraim e do Grande Conselho, chamado "Mystica Aeterna", em Berlim. Steiner deu fundação à Sociedade Antroposófica em 1912 e encerrou sua associação com Reuss em 1914.

Em 24 de Junho de 1908, Reuss compareceu à "Conferência Maçônica e Espiritualista Internacional" organizada por Encausse em Paris. Nesta conferência, Encausse recebeu uma patente de Reuss para estabelecer um "Supremo Grande Conselho Geral dos Ritos Unidos da Antiga e Primitiva Maçonaria para o Grande Oriente da França e suas Dependências em Paris", e possivelmente recebeu autoridade da Église Catholique Gnostique de Papus. Ele também indicou o Dr. Arnold Krumm-Heller (Huiracocha, 1879-1949) como seu representante oficial na América Latina.

Reuss, Crowley e Thelema

Enquanto morou em Londres, Reuss se tornou íntimo de Aleister Crowley. Em 1910, concedeu a Crowley o VII° da O.T.O. (baseado no fato de Crowley já possuir, àquela época, o 33° do Rito Escocês), e em 1912, lhe conferiu o IX° e o nomeou Grande Mestre Nacional Geral X° da O.T.O. para o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda através de uma patente datada de 1 de Junho de 1912. A indicação de Crowley incluía autoridade sobre um rito em língua inglesa dos baixos graus (maçônicos) da O.T.O. que foram chamados de Mysteria Mystica Maxima, ou M.'.M.'.M.'. Em 1913, Crowley publicou uma Constituição para o M.'.M.'.M.'. e o Manifesto do M.'.M.'.M.'., que ele subsquentemente revisou e publicou como Liber LII, o Manifesto da O.T.O. Em 1913, Crowley escreveu o Liber XV, a Missa Gnóstica para a Igreja Católica Gnóstica de Reuss. Crowley também dedicou sua peça de mistério "The Ship" (1913) e uma coletânea de poesia, "The Giant's Thumb" (1915) a Reuss.

Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, Reuss deixou a Inglaterra e retornou para a Alemanha. Ele trabalhou por um curto período para a Cuz Vermelha em Berlim, então, em 1916, se mudou para Basileia, na Suíça. Durante sua estadia lá, ele estabeleceu uma "Grande Loja e Templo Místico Anacional" da O.T.O. e da Irmandade Hermética da Luz no Monte Verità, uma comuna utópica perto de Ascona fundada em 1900 por Henri Oedenkoven e Ida Hofmann. Em 22 de Janeiro de 1917, Reuss publicou um manifesto para sua Grande Loja Anacional, que foi chamado de "Verità Mystica". Na mesma data, ele publicou uma Constituição revisada da O.T.O. (baseada em grande parte na Constiuição de 1913 de Crowley para a M.'.M.'.M.'.), com uma "Sinopse dos Graus" e tendo um resumo da Mensagem do Mestre Therion como apêndice. Reuss organizou um "Congresso Anacional para Organização e Reconstrução da Sociedade em Linhas Coopertivas Práticas" em Monte Verità de 15 a 25 de Agosto de 1917. Este Congresso incluiu leituras de poesias de Crowley (dia 22) e uma narração da Missa Gnóstica de Crowley (dia 24). Em 24 de Outubro de 1917 Reuss patenteou uma Loja da O.T.O., "Libertas et Fraternitas", em Zurique. Esta loja posteriormente se colocou sob a jurisdição maçônica da Grande Loja Suíça Alpina.

Em 1918, Reuss publicou sua tradução para o alemão da Missa Gnóstica de Crowley. Em uma nota no final da sua tradução do Liber XV, ele se referiu a si próprio como, simultaneamente, Patriarca e Primaz Soberando da Igreja Gnóstica Católica e Legado Gnóstico para a Suíça da Église Gnostique Universelle, reconhecendo Jean Bricaud (1881-1934) como Patriarca Soberano desta Igreja. A publicação deste documento pode ser vista como o nascimento da E.G.C. Thelêmica como uma organização independente, sob tutela da O.T.O., tendo Reuss como seu primeiro Patriarca.

Reuss estava claramente impressionado com Thelema. A Missa Gnóstica de Crowley, que ele traduziu para o alemão e recitou durante seu Congresso Anacional em Monte Verità, é um ritual explicitamente thelêmico. Em uma carta não datada a Crowley (recebida em 1917), Reuss relatou animadamente que havia lido A Mensagem do Mestre Therion para um grupo em Monte Verità, e que ele estava traduzindo o Livro da Lei para o alemão. Ele adicionou, "Que esta notícia lhe encorage! Nós vivemos em sua Obra!!!"

Reuss deixou Monte Verità em algum momento antes de Novembro de 1918. Em 10 de Maio de 1919, Reuss emitiu um documento chamado "Gauge of Amity" para Matthew McBlain Thomson, fundador da mal-fadada "Federação Maçônica Americana". Em 18 de Setembro de 1919 Reuss foi reconsagrado por Bricaud, recebendo a "Sucessão de Antióquia" e re-indicado como "Legado Gnóstico" para a Suíça para a Église Gnostique Universelle de Bricaud. Em 1920, Oedenkoven e Hofmann abandonaram Monte Verità e estabeleceram uma segunda colônia no Brasil, e Reuss publicou um documento entitulado "Programa de Construção e Princípios-Guia para os Gnósticos Neo-Cristãos: O.T.O. "

Em 17 de Julho de 1920, ele compareceu ao Congresso da Federação Mundial da Maçonaria Universal em Zurique, que durou muitos dias. Reuss, com o apoio de Bricaud encorajou a adoção da religião da Missa Gnóstica de Crowley como a "religião oficial para todos os membros da Federação Mundial da Maçonaria Universal em posse do 18° do Rito Escocês". Os esforços de Reuss nesse aspecto foram falhos, e ele deixou o Congresso após o primeiro dia. Em 10 de Maio de 1921, Reuss emitiu patentes para Charles Stansfeld Jones e Heinrich Tränker para servirem como Grão-Mestres para os Estados Unidos e Alemanha, respectivamente. Em 30 de Julho de 1921, Reuss emitiu outro "Gauge of Amity", desta vez para Harvey Spencer Lewis, fundador da AMORC, a organização rosacruciana com base em San Jose, Califórnia. Reuss retornou para a Alemanha em Setembro de 1921, se estabelecendo em Munique.

A sucessão

Há razões para se acreditar que Reuss sofreu um ataque na primavera de 1920, mas isto não é inteiramente certo. Crowley escreveu para W. T. Smith em março de 1943: :"o antigo O.H.O., após este primeiro ataque de paralisia, entrou em pânico pelo trabalho a ser realizado... Ele rapidamente emitiu diplomas honorários do Sétimo Grau a várias pessoas, algumas das quais não tinham direito a nada e alguns deles eram apenas recursos baratos."

Pouco após apontar Frank Bennett como seu Vice-Rei para a Austrália, Crowley parece ter se correspondido e discutido com ele suas dúvidas acerca da habilidade de Reuss em, efetivamente, continuar a governar a Ordem. Parece que Reuss descobriu esta correspondência; ele escreveu para Crowley uma furiosa resposta defensiva em 9 de novembro de 1921, na qual ele parecia distanciar-se e à O.T.O. de Thelema, a qual ele havia, como visto acima, abraçado. Crowley respondeu à carta de Reuss em 23 de novembro de 1921 e afirmou em sua carta: "É de minha vontade ser o O.H.O. e Frater Superior da Ordem e espero a sua renúncia — para proclamar-me como tal." ele assinou a carta como "Baphomet O.H.O.". No registro de seu diário de 27 de novembro de 1921 Crowley escreveu: "Eu proclamei a mim mesmo como Frater Superior O.H.O. da Ordem dos Templários Orientais." Reuss morreu em 28 de outubro de 1923 e.v..

Em suas "Confissões" Crowley diz que Reuss "abdicou do título [de O.H.O.] em 1922 em meu favor." Em uma carta a Heinrich Tränker, datada de 14 de fevereiro de 1925, Crowley escreveu o seguinte: :"Reuss era de temperamento incerto, e de muitas formas intratável. Em seus últimos anos ele parece ter perdido completamente seu juízo, chegando a acusar o Livro da Lei de ter tendências comunistas, idéia que não poderia ser mais absurda. Ainda assim parece ter tomado algumas decisões acertadas, como ter apontado a você e a Frater Achad, e designado a mim, em sua última carta, como seu sucessor."

Em uma carta a Charles Stansfeld Jones, datada Sol in Capricornius, Anno XX (12/1924 — 01/1925), Crowley disse "na última carta do O.H.O. para mim ele convidou-me a ser seu sucessor como O.H.O. e Frater Superior." A carta de Reuss designando Crowley como seu sucessor como O.H.O. jamais foi encontrada, mas nenhum documento crível surgiu indicando que Reuss havia designado qualquer sucessor alternativo.

Entre os escritos de Reuss, encontram-se: The Matrimonial Question from an Anarchistic Point of View (1887); Die Mysterien der Illuminaten (1894); Geschichte des Illuminaten-Ordens (1896); Was muss man von der Freimauerei wissen? (1901); Was ist Okkultismus und wie erlangt man occulte Kräfte? (1903); Was muss man von Richard Wagner und seinen Ton-dramen wissen? (1903); Lingam-Yoni; oder die Mysterien des Geschlechts-Kultus (1906); Allgemeine Satzungen des Ordens der Orientalischem Templer O.T.O. (1906; Parsifal und das Enthüllte Grals-Geheimnis (1914); Constitution of the Ancient Order of Oriental Templars, O.T.O., Ordo Templi Orientis, with an Introduction and a Synopsis of the Degrees of the O.T.O. (1917); Die Gnostische Messe (1920); Das Aufbau-Programm und die Leitsätze der Gnostischen Neo-Christen (1920); e numerosos artigos publicados no seu periódico "The Oriflamme" (1902-1914).

Biografia Stanislas de Guaita (Especial)



Marie Victor Stanislas de Guaita nasceu num sábado, 6 de abril de 1861 às 5 horas da manhã, em Alteville, perto de Nancy, na Lorraine Francesa. Seu signo ascendente posicionou-se aos 27º 30´ de Peixes e seu signo solar colocou-se em Áries. Era filho de François Paul de Guaita e de Marie Amélie de Guaita, católica fervorosa. Seu pai provinha de uma antiga família de origem germânica, vinda da Itália no reino de Carlos Magno. Seus antepassados foram homens de guerra, religiosos e poetas. Em 1715, o tataravô de Stanislas de Guaita estabeleceu-se em Frankfurt, casando-se com uma jovem alemã. Durante o império Napoleônico, o avô de Guaita alistou-se no exército Francês e adquiriu a nacionalidade francesa. O pai do ocultista fixou-se em Alteville, onde nasceu o Mestre. A família de sua mãe era de descendência francesa.

O brasão dos Guaita possuía um escudo dividido horizontalmente. Na parte superior, uma águia imperial, bicéfala, destacava-se em negro, tendo sobre sua cabeça uma coroa. A parte inferior do escudo era em prata com três esquadros de lápis lazúli, com bordas de triângulos alternadas, em prata e negro.

Os autores que escreveram sobre Stanislas de Guaita não chegaram a nos fornecer muitos dados sobre a sua vida iniciática. Aprofundaram-se apenas na doutrina que ele próprio expôs em seus livros; os dados sobre sua vida particular, que poderiam interessar a todos aqueles que o admiram através de sua obra, referem-se apenas a aspectos exteriores. Apenas sua correspondência com Joséphin Péladan deixa entrever a natureza oculta e séria de seus trabalhos iniciáticos.

Na verdade, pouco antes do nascimento de Stanislas de Guaita, estava na moda o espiritualismo esotérico. Segundo o Mestre Papus, por volta de 1850, os Rosa+Cruzes tinham recebido a missão de encetar uma reação contra o materialismo oficial. Tinham se organizado centros Martinistas e parecia que o espírito cristão voltava a renascer. Este foi o clima no qual Guaita veio ao mundo das formas.
Entretanto, é impossível apresentar o interior de um Iniciado de sua envergadura e revelá-lo ao público, sem efetuar uma grande profanação. O homem interior só se deixa revelar à própria Divindade. Aqueles que vivem no exterior recebem apenas os reflexos de sua grande luz. Da mesa do Senhor as migalhas caem no chão e são digeridas por todos aqueles que aspiram a poder, algum dia, partilhar do celeste ágape.

Possam todos os iniciados que se baseiam na vida e obra dos divinos Mestres da Humanidade, um dia participar de tão glorioso banquete.

No colégio dos Jesuítas em Nancy, Stanislas de Guaita teve como companheiro Maurice Barrès, poeta que chegou a ingressar na Academia Francesa. Na primavera de 1880, Guaita e Barrès, jovens aprendizes de filósofos, viveram em Nancy com plena independência. Assim diria Barrès, referindo-se àquela época: "Esse tempo continua sendo o mais agradável de minha vida... O dia todo, e eu poderia dizer, a noite toda, da mesma forma, líamos poemas em voz alta um para o outro. Guaita, que possuía uma saúde magnifica e não abusava dela, deixava-me somente tarde da noite, mas ao amanhecer ia contemplar a elevação das brumas sobre as colinas que rodeavam Nancy".

A poesia foi pois, a primeira manifestação literária de Stanislas de Guaita. Escreveu "Les Oiseaux de Passage" em 1881, com 20 anos de idade, "La Muse Noire" em 1883 e "Rosa Mystica" em 1885. Em 1882 desembarcou na capital, juntamente com seu inseparável companheiro Maurice Barrès. Nessa época já se havia iniciado nos estudos ocultistas e efetuado um bom relacionamento com os esoteristas parisienses. Barrès procurou logo o mundo das artes, enquanto Stanislas de Guaita fez apenas um pequeno giro de reconhecimento da cidade e se concentrou em seus livros. Guaita renunciou sem vacilar à poesia. Tinha encontrado em outra parte o seu caminho. O objetivo de seu deslocamento para Paris era a Faculdade de Direito. Procurava algo mais elevado, embora não tivesse ainda total certeza do que se tratava. Sua vocação foi decididamente encontrada através da leitura de livros de Eliphas Levi e da obra "O Vício Supremo", de Joséphin Péladan, pois encontrou no Sâr um mestre vivo. O primeiro contato entre ambos deu-se através de uma correspondência endereçada por Stanislas de Guaita a Joséphin Péladan em 1884, quando o remetente possuía 23 anos e Péladan 25. Esta carta foi o prenúncio de uma amizade que mesmo vindo a ser posteriormente abalada, perdurou praticamente até a morte de Stanislas de Guaita. Datada de 3 de novembro, nela Guaita expressava-se ele mesmo, a Péladan "por falta de amigos comuns", na esperança que o autor lhe esclarecesse alguns pontos que o intrigavam. Mais tarde, descobriria que Péladan era um assíduo leitor de Eliphas Levi, possuindo praticamente todas as suas obras. Stanislas de Guaita confessou que considerava a Cabala uma Ciência magnífica, possuidora de "dogmas grandiosos e mitos incomparáveis". Nessa época já assinava com um aleph, o que demonstra a linhagem cabalística do jovem ocultista.

Depois de ter conhecido Péladan, Guaita relacionou-se sucessivamente com Barlet, Papus e Julien Lejay. Já eram seus amigos o Abade Roca (Alta) e Saint-Yves d´Alveydre. Intensificou, a partir desse momento, suas pesquisas ocultistas e a busca de livros raros nos sebos das margens do rio Sena. Montou uma invejável biblioteca cabalística, cuidadosamente encadernada e catalogada.
Péladan tinha uma brilhante erudição, mas de pouca profundidade. Os dois ocultistas, em suas correspondências assinavam Mérodack, Péladan, e Nébo, Stanislas de Guaita.
Mérodack, nome caldaico que expressa os atributos de Júpiter; Nébo, igualmente de origem caldéia que se refere aos de Mercúrio.

Em sua obra "Os Filhos das Estrelas", Joséphin Péladan diria:

"Espírito de Mérodack! Ó Júpiter! Espírito de Força e de Misericórdia, Senhor mui generoso, magnânimo imperador de Deus, senhor do templo e do palácio, chefe dos magos e dos reis, astro do cetro e da mitra, fazê-nos render a todos a honra que nos foi dada."

"Espírito de Nébo! O! Mercúrio! Espírito de sutilidade e de magia, que ensina as partes, possuidor dos secretos, senhor dos talismãs, árbitro do destino, desenvolve em nós o espírito profético e sagrado; permite-nos descobrir o mistério celeste, astro de inteligência, de sucesso, de milagres."

Por sua vez, Stanislas de Guaita, demonstrando o respeito que possuía por Péladan, numa de suas cartas diria:

"Eu sei, eu sinto que vós sois uma Inteligência superior à minha... Vós sois um gênio de espontaneidade e de síntese; eu sou um talento de paciência e de análise... Em vossos contatos amistosos, vós tendes o verdadeiro tato: aquele da Inteligência do Coração."
Posteriormente, por ocasião do afastamento de seu amigo a quem chegou a chamar de "grande fanático", sua admiração por Péladan arrefeceria. Em verdade, os conhecimentos de Péladan fundamentavam-se naquilo que lhe ensinara seu irmão e mestre o Dr. Adrien Péladan que Guaita não chegou a conhecer, bem como, no companheirismo do sábio cabalista Albert Jounet, diretor da revista "A Estrela", poeta esotérico que escreveu "As Ísis Negras" e "O Livro do Juízo" e que também foi amigo de Guaita.

Escrevendo a Maurice Barrès, Stanislas de Guaita diria:

"Leia os livros de Eliphas Levi e você verá que não há nada mais belo do que a Cabala. E eu, que sou relativamente versado em Química, não me admiro ao ver até que ponto os alquimistas eram sábios verdadeiros; com certeza a pedra filosofal não é nenhum embuste. A ciência mais contemporânea e mais esclarecida tende a confirmar hoje as geniais hipóteses dos magos de 6 mil anos atrás."
Stanislas de Guaita sempre foi um reconciliador, e a impressão que se tem é de que ele sempre estava procurando formar um grupo de Homens de Desejo, em torno de si e talvez de Saint-Yves d´Alveydre. Isto poderá explicar sua paciência na busca da reconciliação de uns e outros possíveis candidatos ao adeptado.

Stanislas de Guaita encontrou em Papus e Barlet as duas colunas de seu edifício intelectual. O trio tinha em Eliphas Levi, Fabre d´Olivet, Khunrath, Martinez de Pasqually, Saint Martin e Jacob Boheme os guias invisíveis que iluminavam a senda por onde deveriam passar não somente esses homens de vontade, mas todo aquele rebanho por eles apascentado. Seguindo as pistas de Jacob Böehme, de Eckhartaussen, de Pico della Mirandola, de Marcelo Ficin e de Knorr de Rosenroth é que Guaita chegou a Saint Yves d´Alveydre.

Stanislas, Papus e Barlet, apoiavam-se nas obras dos mestres e na Cabala Judaica, fundamento da Alta Magia. "Agora que fiz a síntese absoluta de minhas idéias sobre Cabala", disse Guaita, "estou em condições de lhe dizer: meu caro amigo (Péladan), estou CERTO. Herméticamente falando, estou absolutamente certo de estar na tradição ortodoxa... estou convencido de que te falo com conhecimento de causa. Ah! se pudesse em algumas linhas comunicar-te a claridade que me inunda... Parece-me que a luz se faz em meu espírito, e que os Arcanos se esclarecem. "

Percebe-se, que assim como Papus, Guaita representava a Senda Ativa da Iniciação, aquela que conduz o Adepto a tomar "o céu por assalto". Por isso, quando o mestre Gérard Encause fundou em Lyon a Escola de Magnetismo, tendo Philippe Nizier como seu Diretor, nomeou como professores a Guaita, Sedir, Barlet, Péladan, Chamuel, Marc Haven, Maurice Barrès e a Victor Emile Michelet. A finalidade oculta dessa escola era a de recrutar membros para as Sociedades Iniciáticas dirigidas por Papus e Guaita. Nessa escola, ensinavam Hebraico, Cabala, Tarot, Astrologia, História Oculta, Magia e Medicina Oculta. Papus, numa de suas obras, falando de Guaita, afirma que ele, foi um sábio cabalista contemporâneo, demonstrando seu respeito pela figura de Stanislas.

Stanislas de Guaita passava cinco meses do ano no seu apartamento térreo da Avenida Trudaine, em Paris, na zona norte da cidade, onde recebia seus amigos ocultistas e onde mantinha uma segunda biblioteca. Seu salão, todo decorado de vermelho, obrigava a sérias meditações. As conversas com os amigos, assim como leituras cabalísticas, eram estimulantes para o espírito. Maurice Barrès, seu amigo de infância, dizia que ele era capaz de ficar semanas inteiras sem sair do apartamento. Muitas vezes cortava esse isolamento voluntário pela "caça" aos livros e raramente regressava sem trazer um exemplar raro. Os sete meses restantes do ano eram passados no campo, em seu castelo de Alteville, com sua mãe, certamente cuidando de sua produção material. No entanto, jamais se descuidava de seus estudos ocultos e procurava visitar os doentes nos vilarejos vizinhos, exercendo uma medicina caseira herdada de seu pai. Tinha um quarto da casa transformado "Laboratório Alquímico", para uma atividade que dizia exercer desde sua tenra juventude. Esse recinto era guardado, segundo acreditavam alguns criados e alguns amigos que freqüentavam sua intimidade, por um fantasma.
Tinha ele, nesse local, outra biblioteca e era, certamente, o local de reunião alternativo dos Rosa+Cruz, da qual foi o seu verdadeiro renovador. Seu Laboratório químico proporcionava a transformação dos elementos por inúmeras combinações; da mesma forma, ocorria em seu ser uma transformação espiritual, testemunhada por seus escritos e pelas conversas sempre estimulantes, que acalentavam os corações de todos os seus irmãos. Os trabalhos realizados em Alteville, com seus companheiros mais íntimos, efetuavam-se com muita harmonia, apesar da oposição de sua mãe, católica praticamente. Segundo contaria posteriormente seu secretário, Oswald Wirth, desde muito jovem têm-se notícia de que Stanislas de Guaita ousava escrever livros que pareciam heréticos à sua mãe viúva, embora ela não pudesse compreender que eram de um escritor esotérico e cristão. Ela não entendia a independência religiosa do filho e temia pela sua condenação eterna. "Confesso a divindade do Cristo-Espírito", escrevia-lhe o filho, "e professo o cristianismo universal ou catolicismo...(1890)... Creio em Deus e na Providência e não há um dia em que eu não eleve várias vezes minha alma em direção da Absoluta Bondade ou meu espírito em direção da Verdade Absoluta."

Esta incompreensão familiar, estendeu-se pela sua cidade natal, e o próprio clero e a igreja passaram a condenar seus escritos, sendo perseguido e banido da comunidade eclesiástica. Posteriormente, um padre seu amigo, conseguiu, após árdua luta, reconciliar Stanislas de Guaita com o poder monacal.
Apesar de ter nascido com imensa bagagem espiritual, jamais deixou de consultar a opinião dos antigos ocultistas, através de seus livros. Pois a verdade não se inventa: ela existe há séculos e cabe a nós encontrá-la na literatura, na Natureza e em nosso próprio interior. A opinião daqueles que dedicaram uma vida inteira à busca do conhecimento não pode ser negligenciada. Daí a grande importância das leituras. Guaita sabia disso e dialogava diariamente com Eliphas Levi, Fabre d´Olivet, Trithemo, Paracelso, Saint-Martin e com outros pais da espiritualidade ocidental, não apenas através de seus escritos, mas também através da Luz Astral.

O ambiente de sua biblioteca parecia exaltar os mais puros pensamentos e lá as pessoas esqueciam-se do tempo. Guaita lia raramente os jornais, mas concentravam-se nos seus grimórios, pantáculos e nos grandes clássicos do Ocultismo. Vivendo nessa atmosfera a maior parte do tempo, pairava acima das condições mundanas de sua época, podendo elevar os seus pensamentos às mais puras abstrações. Segundo Barlet: "ele via sábios pretenderem englobar no ciclo de suas descobertas todo o infinito do mundo, a ciência revoltar-se contra a fé, o espírito novo lançar-se contra a experiência dos séculos e o dogma do progresso material predominar sobre o da perfeição espiritual e moral".

Para Stanislas de Guaita, o importante era alcançar a beleza da alma, e para isso, em primeiro lugar era necessário vencer o orgulho. Era necessário transformar o instinto em sentimento e o sentimento em ideal. Era necessário renunciar aos prazeres sociais em seu aspecto coletivo, para que pudesse nascer a individualidade. "A sabedoria é o único egoísmo permitido, a glória é a única realidade aceitável quando ela é conquistada nas alturas" diria ele. "Não devemos deixar que a vida nos lastime, que entorpeça pelas circunstâncias exteriores o esforço de perfeição individual. O mago deve libertar-se do mundo, e não sofrer nele." - "Para ser mago, é necessário ser um gênio, um elo da corrente dos homens predestinados que transmitem, uns aos outros, de idade em idade, a chama da luz" diria Divoire, completando seus pensamentos.

Stanislas de Guaita, esse jovem ocultista, que possuía o mais vivo desejo de atingir o Nirvana, e que congregava uma plêiade de cabalistas do mais alto nível, a partir da última década do século XIX, como Papus, Barlet, Julien Lejay, Chaboseau, Polty, Marc Haven, Victor Emile Michelet, Sedir, Péladan, Oswald Wirth e outros, não deixou de fundar uma sociedade que congregasse os maiores talentos da época, vivificadores da Santa Cabala, e que ressuscitasse dos velhos santuários o simbolismo da Rosa+Cruz.

Seu conhecimento com Oswald Wirth teria ocorrido em 1887, a quem uma mulher doente à qual houvera magnetizado, lhe anunciara que recebia uma carta lacrada em vermelho e com armas da nobreza, endereçada por um homem jovem, de cabelos e pele clara e de olhos azuis, com idêntico interesse que o de Wirth. Efetivamente, essa carta foi escrita por Guaita na sexta-feira santa daquele ano, convidando Oswald Wirth para um almoço no dia seguinte, para travarem conhecimento pessoal.

Esse encontro entre os dois eminentes ocultistas, acabou produzindo, dois anos depois, em 1889, a união do simbolismo maçônico que Wirth estudara em 1884, com o significado interior do Tarô, professado por Guaita, na publicação das cartas desenhadas pelo primeiro, sob o título: "O Taro dos imaginários da Idade Média".

A Sociedade fundada por aqueles talentosos ocultistas da época, teria sido fundada e tornada pública pela necessidade de denunciar publicamente o abade Boullan, de cujos ensinamentos Guaita desconfiou, encarregando Wirth de investigar a verdadeira essência de sua doutrina.
Verificou-se que Boullan recorria à Missa Negra, a orgias sexuais entre os membros da seita e a outros fenômenos prejudiciais à saúde dos mais fracos. Concluiu-se que Boullan era discípulo de Eugêne Vintras, o feiticeiro desmascarado por Eliphas Levi, Vintras fundara a seita do Carmelo, cujas aberrações Guaita revelou no Templo de Satã, denunciando-as à opinião pública. Boullan foi condenado à retratação pública por um tribunal de Adeptos Rosa+Cruzes e, tendo-se agravado seu desequilíbrio psicológico, imaginou que Guaita teria sobre ele lançado algum enfeitiçamento. Guaita acabou sendo acusado de práticas mágicas contra Boullan por Jules Blois nos jornais "Le Figaro" e "Gil Blas". Esse caso explica os duelos de Jules Blois com Guaita e Papus, que felizmente não ocasionou nenhuma gravidade maior.

A Rosa+Cruz tinha na época como objetivo, além de recrutar intelectuais capazes de adaptar a tradição esotérica do século que estava entrando, explica-nos Stanislas de Guaita, combater a feitiçaria em todos os lugares onde ela pudesse ser praticada. "Nós os condenamos ao batismo da luz" enfatiza Guaita em O Templo de Satã. Ele procurava conhecer todas as artimanhas do maligno para combatê-lo com toda potência possível.

O acesso aos graus da Rosa+Cruz Cabalística era efetuado mediante exame, sendo que para o último grau era necessário a defesa de uma tese sobre um tema estabelecido pelo Supremo Conselho, o qual era formado por seis membros conhecidos e por seis ocultos. Os membros conhecidos eram Guaita, Papus, Barlet, Polti, Péladan e Agur.

François Charles Barlet, escrevia a respeito da obra de Guaita: "A harmonia dos contrários é a fórmula mais indicada para caracterizar a tua obra... Teu método é, ao mesmo tempo, analítico e intuitivo... Nem pontífice nem inovador: tu serás o fiel apóstolo das verdades que recebestes..."
Com a demissão de Péladan da Rosa+Cruz Cabalística, foi admitido o abade Roca, pseudônimo da Alfa. Ele, convocado pelo bispo de Perpignam a retratar-se de seu cristianismo esotérico não o fez, e assim, foi afastado do poder clerical, perdendo o seu título de canônico honorário.

Quando a Ordem adquiriu o número suficiente de membros, de acordo com a sua constituição, foi rigorosamente fechada. Ela dirigia outros grupos de iniciados de graus inferiores, propagando as doutrinas esotéricas no seio da coletividade, através de publicações das teses de doutoramento em Cabala.

Esse procedimento não só permitiu a formação de homens com bom conhecimento de Cabala, como propagou seus ensinamentos no meio ocultista. A Cabala propõe a síntese da doutrina dos magos, a Alta e Divina Magia herdada dos Caldeus através de Abraão, reformulada por Moisés e Esdras e divinizada pelo próprio Jesus Cristo. É a tradição primordial do Ocidente, que procura desenvolver a positividade do homem, tornando-o um ser de vontade.

Conforme André Billy, a Ordem Cabalística da Rosa+Cruz era administrada por um conselho supremo composto por três câmaras: Câmara de Direção (Baret e Papus), a Câmara de Justiça (Paul Adam, Julien Lejay e Alta), e a Câmara de Administração (Wirth e Chaboseau). As três reunidas compunham o Supremo Conselho e todas elas eram submetidas à direção do Grão Mestre, Stanislas de Guaita.

A respeito da apologia do Misticismo feita por Oswald Wirth, respondeu-lhe Guaita: "...Quando esses Iniciados - considerando-se quase como egrégoras, pastores de almas errantes, Sacerdotes e Franco-Juizes -, quando esses Iniciados chegam a praticar, passando pela terra, algum bem a seus semelhantes, isto é, a seus irmãos menores, acreditai, eles nada mais têm a desejar e possuem em verdade a paz profunda do Rosa+Cruz!".

Dentre os membros do Supremo Conselho, havia um que não aceitava a liderança de outra pessoa que não fosse ele próprio: Joséphin Péladan. Não admitia tornar-se discípulo tendo sido o primeiro mestre de Stanislas de Guaita. Além disso, suas concepções impregnadas de catolicismo romano exagerado, conflitavam com a opinião independente dos demais Rosa+Cruz. Suas concepções acerca de Jesus, Maria e de outros personagens do cristianismo não se diferenciavam das opiniões de um padre católico.

Dizia-lhe Stanislas de Guaita: "...Deus irá te conceder uma ou várias entrevistas, para que possas ver a Luz integral do Cristianismo esotérico, e isto sem renegar uma sílaba de teu credo, sem eliminar uma das arestas do Dogma Eterno. Pois estás destinado para o futuro; o céu assim o deseja... Sou, pois, Sacerdote do Oculto, como foram em todas as épocas todos os Adeptos do 3º grau e tenho todos os poderes para exercer o culto in secretis, magicamente e não sacerdotalmente".
"Seria capaz de sacrificar-me por tudo aquilo que creio verdadeiro, belo e justo" diria Guaita em outra ocasião.

Péladan não entendia o significado profundo e oculto dessas palavras e não admitia que seu ex-discípulo lhe falasse por parábolas, e assim, passou a editar bulas e excomunhões em nome da Rosa+Cruz. Advertido pelo Grão-Mestre, criou sua própria sociedade, a Ordem Rosa+Cruz Católica do Templo do Graal, separando-se do Grupo em 1890. Guaita, Jacques Papus e Charles Barlet declararam Joséphin Péladan cismático e apóstata denunciando seus atos e sua ordem ao tribunal da opinião pública.

Essa separação foi, sem dúvida nenhuma, muito desencantadora para Guaita. Viu todos os esforços, no sentido de encaminhar Péladan na Senda, caírem por terra. Entre 1882 e 1891 Guaita procuraria acalentar o espírito do amigo e fortificar a sua fé, ausente em seu íntimo.
Stanislas de Guaita buscara sempre ser um mediador e um médico de almas. Numa correspondência a Péladan, diria: "Para curar uma alma, um Dirigente prudente usará alternativamente o Rigor e a Misericórdia. Assim um bom médico poderá curar um corpo sofrido, pelos Semelhantes ou pelos Contrários... Eu reconheço que a homeopatia é a medicina esotérica; é o magnetismo curativo quem sintetiza o emprego do medicamento."

Acreditava ele que para penetrar a Sabedoria Divina existente além da ciência humana, são necessários o Amor e a Fé. Dizia que "A inteligência voluntária é, entre nós, o princípio ativo; mas a fé é passional e passiva. A Grande Obra é o casamento do ativo e do passivo; é como dizia Basile Valentin, o Fixo do Volátil e o Volátil do Fixo."

A falta de fé está intimamente associada à ausência de tolerância, que é, em última análise, um desamor em relação a todos os nossos semelhantes.

Guaita nunca deixou de prestar suas homenagens aos Mestres que lhe precederam. Dizia ele: "Tenho uma infinidade de livros de todos os séculos e li com atenção na Biblioteca Nacional quase todos os mestres; inclino-me diante de Eliphas Levi como diante do Mestre dos Mestres (como Arnaud de Vila Nova chamou a Geber). Ninguém, que eu saiba, penetrou tão profundamente no problema, e ninguém construiu uma síntese tão esplêndida, tão imensa e tão inabalável."

Em 1886, Stanislas escreveu a Péladan dizendo-lhe que estava preparando para os próximos anos a publicação de uma obra que deveria denominar "Os Três Mundos", com uma introdução longa, destinada a familiarizar o espírito do leitor com as matérias esotéricas de maior profundidade discutidas nos tomos seguintes. Essa introdução foi publicada inicialmente na Revista Contemporânea, dando origem ao seu primeiro livro: "No Umbral do Mistério".

Já nessa época, Stanislas de Guaita prenunciava sua passagem para o Oriente Eterno, e em algumas de suas cartas, sua caligrafia demonstrava os sofrimentos corporais de que era vítima, chegando a tornar-se ilegível pela dor que o atormentava.

"Preparai-vos - disse ela a Péladan convidando-o para com ele encontrar-se em Paris - eu estarei aqui por pouco tempo e tenho sede de vossa companhia". - "Eu vos escrevo no leito, sofrendo, como podeis ver por minha escrita. - "Procuro diminuir minha Morfina, mas isto me é muito difícil".
Nunca entretanto, deixou de ocupar-se do ocultismo, escrevendo continuamente sobre os temas que se tornaram o seu Verdadeiro Ideal.

Dizia ele que a chave de tudo está na Luz Astral. Nesse sentido concebeu a sua obra baseado nas lâminas do Tarô, procurando desvendar o tríplice significado de Nahash, a alma astral do mundo. "Dominar a Luz Astral em si e na Natureza é ter descoberto e formulado o incomunicável Grande Arcano. É a matéria-prima que solve e coagula para a realização da Grande Obra. A Fé, a Ciência e a Vontade, são instrumentos de emancipação do Verbo Humano e de sua reintegração no Verbo Divino, promovendo o casamento místico do homem com a Divindade."

Seus ensaios de Ciências Malditas, deveriam compreender, cinco volumes a saber:
1º Volume - "No Umbral do Mistério" - introdução geral. 2º Volume - "O Templo de Satã". 3º Volume - "A Chave da Magia Negra". 4º Volume - "O Problema do Mal". 5º Volume - "Conclusão, a Apoteose".



No Umbral do Mistério foi publicado em 1886, em formato pequeno sem os apêndices. Para o meio ocultista da época foi uma revelação. Todos os Homens de Desejo encontraram a luz que buscavam na chama viva que era Stanislas de Guaita. Ele foi o primeiro a surpreender-se com o inusitado sucesso de seu livro. Em 1890 foi publicada uma segunda edição, três vezes maior, contendo dois pantáculos de Henry Khunrath. Em setembro de 1894 houve uma terceira edição, na qual, utilizando o prólogo, Stanislas de Guaita fala do sentido verdadeiro da Alta Magia como síntese geral, duplamente fundamentada na observação positiva e na indução por analogia.
Guaita confessava-se discípulo fervoroso de Eliphas Levi e de Fabre d´Olivet e não pensava ser mais do que um simples discípulo. Não esperava nenhum apostolado, mas sua primeira obra ocultista, revelou-se por inspiração divina e pelo ardor de seus leitores.

Aceitou com naturalidade, aos vinte e cinco anos, a missão que se descortinou para ele, preparando-se ainda com mais afinco para o fiel cumprimento do alto dever que contraiu com o próprio Reparador. Dedicou toda a sua vida a procurar a verdade e a transmitir as teorias ocultistas dentro de um estilo claro, que logo se tornou clássico. Numa época em que todos se ocupavam em alimentar as paixões da alma e os instintos do corpo , obteve grande reputação em razão de seu trabalho desinteressado, que não tinha outro objetivo a não ser conduzir, elevar e iluminar a alma humana.

Raphael Germinal, em seu livro, "O Destino Religioso da Humanidade", diz que: "O nome de Jesus simboliza então, admiravelmente, a queda da divindade no espaço e no tempo, pelos ciclos geradores da Senda Universal. "Guaita, escreveu: "O número da queda, é também o número da vontade, e a vontade é o instrumento da reintegração."

"O Templo de Satã", foi publicado em 1891, abordando as sete primeiras lâminas do Tarô, focalizando a história física do ocultismo inferior e os procedimentos da baixa magia. Ele é o primeiro volume da "Serpente da Gênese".

Para esclarecer o sentido figurado, Guaita elaborou a "Chave da Magia Negra". Nahash, a luz astral, agente tanto de obras boas como más. Seu domínio fornece a chave da Magia Negra, permitindo analisar as causas e os efeitos dos ritos e dos fenômenos descritos em O Templo de Satã. A Chave da Magia Negra foi editada em 1897, ano da morte de Guaita, e O Problema do Mal não chegou a ser concluído, sendo completados, os poucos capítulos que o autor chegou a redigir, por Oswald Wirth e por Marius Lepage. Muitos anos depois, em 1949, Lepage fazia notar que Stanislas tinha 35 anos quando começou a escrever O Problema do Mal, e que Oswald Wirth se aproximava dos sessenta quando retomou o livro inacabado. Nesse intervalo, muita água correra sob a ponte do esoterismo. De qualquer forma, Wirth procurou seguir de perto as indicações das lâminas do Tarô. Ele que amara a Guaita como a um irmão, continuava sentindo a sua presença quase tangível. Legou a Lepage o manuscrito por ele concluído do Problema do Mal, com a missão de que Lepage o terminasse em forma definitiva. Lepage por modéstia, concluiu que: "Quanto mais eu estudava as folhas que me haviam sido passadas, mais eu compreendia que era a obra de uma única alma em dois corpos. "Wirth e Lepage deram conclusão a essa obra póstuma de Stanislas de Guaita, seguindo à risca os ensinamentos do mestre. O livro possui aproximadamente 100 páginas escritas ou ditadas por Guaita, 10 ou 12 completadas por Wirth e mais ou menos 60 por conclusões e comentários de Lepage (conf. A. Billy).

Se Guaita tivesse tido tempo para concluir esse livro, provavelmente a evolução de seu pensamento nos teria presenteado escritos da mais alta profundidade, em razão do amadurecimento de suas doutrinas. Com "O Problema do Mal", os leitores encontrariam as chaves que conduzem à Iluminação Divina, se a Providência não tivesse arrancado o autor do convívio de seus iniciados. Os amigos de Guaita pensavam, em 1897, que a Providência Divina não aprovara a conclusão da obra, repleta de revelações que deveriam permanecer ocultas e restritas a um pequeno número de Homens de Desejo.
De qualquer forma, essa sua obra somente foi publicada 50 anos após a sua morte.

Por volta de 1888 Papus reanimara a Ordem Martinista e Stanislas de Guaita chegou a presidir uma cerimônia de Iniciação. Essa Ordem tomou grande vigor a partir de 1887 devido à multiplicação dos iniciados livres e pela constituição do Supremo Conselho da Ordem em Paris. A Ordem Martinista conservara intactas as constituições das altas fraternidades iniciáticas que precederam à revolução maçônica de 1773. A Ordem Martinista era essencialmente espiritualista e combatia com todas as suas forças o ateísmo e o materialismo. Outorgava ao simbolismo, o grande papel que lhe estava reservado em qualquer iniciação séria. Nunca se ocupava de política nem de questões de cultos religiosos. Permitia estudar e não abandonava a mais absoluta das tolerâncias. Lá não adentrava aquele que queria, mas aquele que tendo reunido méritos para tal, para isto era convidado. O iniciador não podia ser conhecido a não ser por duas pessoas: aquela que havia sido iniciada, e o iniciador do próprio iniciador. Estabelecia-se assim uma corrente de silêncio iniciático.

Numa recepção Martinista presidia por Stanislas de Guaita, estas foram as suas palavras: "Aqui não tratamos de impor convicções dogmáticas. Que tu acredites ser materialista ou idealista, que professes o budismo ou o cristianismo, que te proclames livre pensador ou que somente aceites o cepticismo absoluto, pouco nos importa realmente. Nós não contradizemos teu coração incomodando o teu espírito com problemas que não deves resolver a não ser frente à tua própria consciência e no solene silêncio de tuas paixões aplacadas... Dá ao amor dos homens, teus irmãos, a denominação que quiseres: Amor, Solidariedade, Altruísmo, Fraternidade ou Caridade... As palavras não são nada...

Mas, sejas quem fores, não te esqueças jamais que, em todas as religiões realmente verdadeiras e profundas, isto é, fundamentadas no esoterismo, colocar tudo isto em prática, através do sentimento, é o primeiro ensinamento, capital, essencial... Nenhum dogma religioso ou filosófico pode ser imposto à tua fé. Quanto às doutrinas, cujos princípios essenciais resumidos para ti, pedimos tão somente que as medites como melhor te parecer e sem idéias preconcebidas... Abrimos para ti os selos do livro, agora deves primeiro conhecer a letra e, posteriormente penetrar no Espírito dos mistérios que este livro encerra..."

Afastado da Ordem da Rosa+Cruz, Stanislas de Guaita, prenunciando a sua passagem para o Oriente Eterno, viveu cada vez mais solitário e longe da turbulência mundana. Charles Barlet, que o visitara em 1896, pedindo-lhe colaboração para uma pequena revista, assim descreve parte de sua visita: "Seus olhos azuis... de uma calma impressionante... seus traços imóveis, enquadrados pela barba e pelos cabelos loiros, davam à sua fisionomia algo do aspecto hierático que se imagina nos sábios da Grécia e nos Profetas da Bíblia."

Encerrando em seu castelo com livros de esoterismo reunidos durante toda a sua vida, Stanislas de Guaita desinteressara-se pelas lutas políticas e sociais que, nessa época, opunham franceses contra franceses. Ao contrário de Barrés e Péladan, ignorava as coisas temporais, não tendo pensamentos a não ser para o invisível. Realizou a solidão temporal da Lâmina IX.

Ele que combatera o mal, chegara a uma conclusão definitiva sobre sua existência no mundo da forma, em oposição ao bem: "Sem dúvida, pode-se dizer que Deus não criou o Mal, mas admitiu-o como possibilidade para o caso de que, livremente, o homem quisesse cometê-lo."

A esse respeito, dissera ainda: "Eis aqui a árvore da ciência do Bem e do Mal; seu tronco bifurcado eleva-se sobre uma única raiz. Eis aqui a virgem simbólica que Apolônio encontrou às margens da Hiphasis e cujo corpo está dividido numa metade branca e numa metade negra. Eis aqui o misterioso cristal do pantáculo de Tritheme; no triângulo superior, brilha o esquema Divino, o Tetragrama incomunicável a imagem de Satã ri nas trevas do triângulo inferior."

Para Guaita, o ocultismo comporta um tríplice objeto de estudos: Deus, o Homem e o Universo. As duas colunas do templo são Jakin e Boaz e os métodos complementares para aquisição do conhecimento são a experiência e a tradição. As duas são necessárias, pois que uma única, somente forma iniciados incompletos. A analogia é o método duplo, ao mesmo tempo indutivo e dedutivo, de grande valor para os iniciados que caminham na senda do ocultismo.

"Existem quatro diferentes caminhos para o homem, - diz Stanislas de Guaita, - em primeiro lugar a vida universal, à qual se vincula pela vida de sua espécie. Depois, a sua própria vida, que é inerente a seu ser individual. Depois, a vida refletida, a vida particular de cada uma das células cujo agrupamento orgânico constitui seu próprio corpo. E, finalmente, num grau inferior, a vida química dos átomos da matéria que se agrupam eles mesmos para formar a célula."

A cada ser humano é dado viver com maior ou menor intensidade aquela dessas vidas que mais atrai a sua própria alma. Uns fundamentam-se na ciência humana, outros na Ciência Divina. Os Iniciados, em ambas, para realizarem o equilíbrio universal.

Stanislas de Guaita foi assim, um Cabalista e um Alquimista, embora nunca tenha admitido pessoalmente essa condição. Para ele, entre outros, Guilhaume Postel, Reutchlin, Khunrath, Nicolas Flamel, Saint Martin e Fabre d´Olivet eram Mestres da Cabala, e ele seguia-lhes os passos juntamente com Victor Emile Michelet desde os 20 anos de idade, quando foram apresentados por Barrès, um ao outro. Michelet foi o último sobrevivente do grupo de Guaita, passando para o Oriente Eterno em 13 de janeiro de 1938.

O Destino não permitiu que Stanislas de Guaita concluísse seu terceiro setenário, ocasionando sua morte através do mesmo mal que atacou seu pai em 1880: a uremia. Já antes de 1886, Guaita queixava-se desse mal, cujo reflexo é uma dor de cabeça terrível. Mas o mal foi-se acentuando, e em 1897 Guaita chamou em Alteville seu mais fiel companheiro, Papus, para transmitir-lhe a sucessão na Ordem Cabalística da Rosa+Cruz, dizendo-lhe que estava tudo acabado e que o Destino não lhe permitiria dizer mais nada. "Talvez eu assista ao nascimento de meu livro ("A Chave da Magia Negra"), mas creio que não poderei ir mais longe". Alguns dias mais tarde, Papus sentiu que um nascimento estava prestes a ocorrer no Invisível: viu inúmeros sinais misteriosos, enchendo seu coração de tristeza, e isso significava a morte do companheiro que tanto estimava. Três dias depois Stanislas de Guaita estava morto, vítima de uremia. Seu espírito galgando as alturas das regiões celestes, foi atuar no mundo das almas glorificadas, na Comunhão dos Iniciados.

Não deixou testamento literário ou filosófico, na opinião de seus biógrafos e amigos. Muitos acreditam que seus últimos desejos não foram transmitidos aos amigos de Paris. A biblioteca que valia no mínimo, 38 mil francos, foi vendida por apenas 15 mil à livraria Dorbon. Os livros raros, com notas do punho do Adepto, foram dispersados. A família recusou todo tipo de oferta dos amigos pela biblioteca Parisiense. Muitos manuscritos seus foram queimados, assim como diversos documentos. Sua família via na atividade iniciática do Mestre a causa de sua morte, esquecendo-se de que o pai fora atingido pelo mesmo mal em 1880.

O mal que ele tanto procurou combater, reside na imaginação corrompida das pessoas, nos corações endurecidos pelo orgulho e pelo ódio. Reside no egoísmo e nos falsos valores da humanidade. A morte física é o sofrimento da saudade para os encarnados, mas também é a desvinculação das necessidades físicas. E ele poderá viver na Luz e pela Luz, contribuindo para a emancipação de seus semelhantes que ainda permaneceram para trás na escala evolutiva.

Um novo século se aproxima e novos iniciados realizarão igualmente a sua obra. Eles encontrarão o caminho um pouco mais facilitado pelo trabalho de seus antepassados, Filhos da Luz, como foi Stanislas de Guaita.

Dois anos após a morte de Stanislas de Guaita, Péladan, que não lhe guardara nenhum rancor pelas admoestações recebidas, dedicou-lhe sua obra "L´Occulte Catholique" (1899), endereçando-lhe palavras que todos os iniciados, no momento em que se reverencia sua memória, igualmente fazem suas:

"...Tua morte prematura assegurou toda a purificação de teu destino, e tu és agora um Eleito. Eu me recomendo à tua amizade, celestialmente destinada, em testemunho daquela que nos uniu por muito tempo e que nos reunirá, eu o espero, na própria eternidade. Assim seja."
O Mestre Stanislas de Guaita, passou para o Oriente Eterno a 19 de Dezembro de 1897, quando contava com 36 anos de idade.

Referências Bibliográficas

Lettres Inédites de Stanislas de Guaita au Sâr Joséphin Péladan (150 exemplares impressos p/Editions Rosicruciennes em Suiça, 1952).
O Tarot dos Bohemios - (Papus) - Editorial Kier - 4ª Ed., 1977
No Umbral do Mistério - Edições Grafosul - Porto Alegre - 1979
História e Doutrina do Mart.: - Coleção interna - Bethel.
Stanislas de Guaita - Príncipe del Esoterismo - Série Incógnita/ Poderes 1ª Edição - Barcelona - 1981.
A Cabala (Papus) - Editora do Brasil - SCA - 1983.
No Umbral do Mistério - Editora Martins Fontes - 1ª Edição/1985.

Biografia Shrii Shrii Anandamurti

O mestre espiritual e fundador do Ananda Marga, Anandamurti ou Prabhat Ranjan Sarkar, nasceu em Bihar, na Índia, em 1921. "Ele era o amor personificado", conta Dada Dipa, que teve oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. "Ele podia expressar alegria, riso, raiva, tristeza, mas ficava sempre além de tudo isso ao mesmo tempo. Todas as suas expressões estavam guiadas por benevolência e amor", recorda o monge.

Além de fundar a Ananda Marga e expandi-lo em todo mundo, Anandamurti ajustou o Tantra Yoga aos tempos atuais, propôs a filosofia do Neo-Humanismo, elaborou uma teoria para coletivizar o bem-estar econômico e social da sociedade e escreveu obras na área da filologia, lingüística, ciência, música e literatura.

Na medida em que suas atividades no campo social, educacional e espiritual se desenvolviam na Índia, tanto religiosos como políticos tradicionais, como o Partido Comunista Indiano, passaram a se incomodar com Sarkar. Uns porque enxergaram nele uma ameaça à ordem social injusta baseada nas castas, outros porque temiam perder sua popularidade junto às massas populares. Como resultado, a Ananda Marga começou a ser perseguida e Sarkar foi preso, em 1971, sob a falsa acusação de assassinato. Durante os sete anos em que passou na prisão, Anandamurti sobreviveu a uma tentativa de envenenamento por parte de carcereiros e jejuou em protesto por cinco anos e meio, consumindo somente dois copos de água com iogurte por dia.

"Ele ficou fisicamente fraco, mas ficou muito forte moral e espiritualmente. Quando finalmente foi libertado da prisão, todas as acusações contra ele foram retiradas", conta Dipa. Até sua morte, em 1990, Anandamurti continuou guiando a rápida expansão e estruturação da Ananda Marga.

Hoje são mais de 1500 acharyas, mestres de meditação e yoga, monges ou não, dedicados à propagação de sua filosofia e práticas sociais e espirituais para melhorar as condições de vida da população de vários países do mundo.

Atualmente, os missionários da Ananda Marga são guiados espiritualmente pelo acharya Shraddhananda, enquanto um comitê central guia as políticas e atividades da organização, cuja sede principal fica em Calcutá, na Índia.

Biografia Samuel Liddell Mac Gregor Mathers (Especial)



"A história completa e verdadeira de qualquer Adepto só poderia ser escrita pelo próprio Adepto, e ainda assim, se a expusesse ante a vista do público em geral, quantas pessoas dariam crédito?"

S.L. Mac Gregor Mathers - "A Magia Sagrada de Abramelin o Mago" (introdução)

Filho de William M. Mathers e Miss Collins. Nasceu em 08 de Janeiro de 1854 e no nº11 da Rua De Beauvior Place, Hackney. Seu pai morreu mu ito cedo e ele viveu com sua mãe viúva em Bournemouth até a morte da mesma em 1885.

Em 1877, Mathers foi iniciado na maçonaria, na Loja Hengist Nº195 de Bournemouth. Foi apadrinhado por E.L.V. Rebbeck, um conhecido agente de propriedades. Mathers progrediu através dos graus de Aprendiz, Companheiro e finalmente Mestre Maçon; o conseguiu em menos de 18 meses, ainda que nunca tenha chegado a ser um Mestre de Loja Maçon (grau mencionado na coleção do Cônsul Francês Lemanceau). Em 1882, Mathers renunciou à Loja.

Mathers logo foi apresentado ao Dr. Wynn Westcott e ao Dr. William Woodman. Ambos eram maçons de alto grau, e Woodman era além disso Magus da S.R.I.A.1.. A história diz que foram Westcott e Woodman que apresentaram a Mathers a S.R.I.A.. A foi e é uma Sociedade Rosacruciana aberta somente a Mestres Maçons (não confundir a S.R.I.A. em Londres com a atual S.R.I.A. nos Estados Unidos).

Durante esse período, Mathers também se fez amigo de Fredrick Hockley. Hockley era um metalúrgico, alquimista e intrépido consultor de cristais. Não há dúvidas que Mathers e Hockley fizeram algum trabalho juntos e de que Hockley teve uma influência definitiva sobre Mathers e seus ensinamentos ao referir-se à observação na Visão do Espírito (Mathers logo aperfeiçoaria essa técnica: Viajando na Visão Espiritual com o uso de símbolos específicos e cores ofuscantes, etc.).



Com a ajuda do Dr. William Wynn Westcott, Mathers fez a primeira tradução inglesa da Kabbala Denudata de Knorr Von Rosenroth. Um trabalho que teve inúmeras edições e lhe outorgou uma reconhecida posição no ocultismo.

Após a morte de sua mãe, viu-se em circunstâncias muito pobres e mudou-se para Londres, onde viveu em modestas pensões em Great Percy Street, King´s Cross, disfrutando da hospitalidade do Dr. Westcott por muitos anos. Mathers também fez algo militar. Uniu-se aos Primeiros Voluntários de Infantaria de Hamshire. Traduziu um manual militar do francês para o inglês. Deve fazer-se notar nesse ponto que Mathers ganhava a vida fazendo uma variedade de trabalhos. O ocultismo era sua vida e o dinheiro era um mal necessário para a sobrevivência.



Em 1887, a Kabbala Denudata estava acabada e um trabalho maior estava para começar: o de criar uma Fraternidade para aqueles que estivessem famintos pelo Conhecimento Oculto, que se chamaria Ordem Hermética da Golden Dawn. Foi em 1886 ou 1887 que Mathers recebeu os Manuscritos Cifrados para traduzir. O código era simples e era um código do séc. XV criado pelo Abade Trithemius. A história registra que foi Westcott quem encarregou Mathers de traduzir os manuscritos e usá-los como esqueleto para o que logo se conheceria como as Iniciações da Golden Dawn. Acredita-se que Mathers e Westcott já tinham sido iniciados nos Mistérios Rosacruzes e que os Manuscritos Cifrados eram um método de proteger seu próprio juramento de segredo.

Westcott, Mathers e Woodman integrariam o primeiro corpo diretivo da recém formada Ordem Hermética da Golden Dawn. Os três estavam acostumados a trabalhar juntos, pois também eram o corpo diretivo da S.R.I.A. com Westcott como Magus Supremo.

Muitos ocultistas estão fascinados pelo movimento, a poesia e a efetividade das iniciações da Golden Dawn compiladas e escritas por Mathers. Inclusive William Butler Yeats não pode evitar pegar imagens dos rituais que Mathers compôs.

A tarefa então era admitir sérios estudantes na nova Ordem. Mathers estava muito influenciado pela Dra. Anna Kingsford e seu associado, Edward Maitland. Eles eram os fundadores da Sociedade Hermética e amigos muito próximos de Mathers. Ele absorveu muito de suas crenças de Anna Kingsford e insistiu em que uma dessas crenças fosse incorporada na Golden Dawn; que as mulheres fossem aceitas na Ordem, sobre bases completamente equitativas com os homens. Mathers era insistente neste ponto e até que Woodman e Westcott não aceitassem, não prosseguiria.

Todos concordaram com Mathers e as mulheres foram aceitas na Ordem equitativamente. Mathers e a nova Ordem estavam a ponto de fazer história, história que mudaria o mundo do oculto para sempre. Mathers conheceu sua futura esposa, Mina Bergson, pela primeira vez no Museu Britânico. Ela era companheira de estudos da filha do Sr. Horniman, e uma talentosa artista da Escola de Slade. Encontrava-se no Museu estudando a arte Egípcia.



Dali tiveram um breve compromisso e uniram-se em matrimônio na Igreja Chacombe, próxima de Bandury, pelo reverendo W.A. Ayton, que era um proeminente estudioso do misticismo, investigador de Alquimia e membro de numerosas sociedades ocultas.

Logo após a Ordem operar por um tempo, Mathers percebeu a necessidade de uma Segunda Ordem, ou Ordem -Interna-. Enquanto aparentemente vista do exterior pode ter se assemelhado ao acréscimo de uma Ordem Externa, de fato, sempre houve uma Segunda Ordem Interna, e sob a direção de Mathers sempre esteve aberta aos membros da Golden Dawn. Junto com Moina, e sob a direção dos contatos da Terceira Ordem, a Segunda Ordem foi criada.

Como comentário exterior, podemos ver agora que embora um dos erros que Mathers cometeu na direção da Segunda Ordem foi a admissão de candidatos inaceitáveis. O crescimento do ego de uma pessoa é suficientemente grande enquanto atravessa os graus da Ordem Externa, e se essa pessoa não está estabilizada suficientemente como um bom vinho e se lhe permite ascender demasiado cedo à Segunda Ordem, os resultados podem ser desastrosos. O ego está então completamente incontido e tomando uma corrente muito mais forte que aquela da Ordem Externa. Condutas como a criação de rumores, separações e auto-engrandecimentos são o resultado. Isto é parcialmente o que acontecia na Segunda Ordem da Golden Dawn no final do século, quando a Ordem atravessaria uma desastrosa revolta por Adeptos que quiçá nunca deveriam ter alcançado a Segunda Ordem. Em 1891, Mathers e sua esposa se mudaram para Paris, onde Mathers realizou extensas investigações literárias na Librarie d´Arsenal, uma instituição notável, por sua riqueza em literatura oculta, e no Museu Guimet, de onde derivou muito de seu conhecimento da antiga sabedoria mística oriental.

Mathers também publicou uma tradução para o inglês de um manual militar francês, um Ensaio sobre as Cartas do Tarot, e um volume de Poemas. Durante sua residência em Paris, adotou o mote escocês de -S’Rioghail mo Dhream- (Régia é minha Tribo). Enquanto alguns historiadores acreditam que esse mote era uma reafirmação de sua história anterior escocesa (é o mote do clã MacGregor), é claro ao iniciado nos Mistérios Avançados. A Raça Real é o pequeno número de verdadeiros buscadores dedicados à evolução espiritual da humanidade. A Raça Real é essa augusta linhagem de Mestres iniciados que mantiveram os Mistérios vivos através de toda a antiguidade.

Também declarou sua sucessão ao título Jacobita de Conde de Glen Strae, o qual alegou haver sido outorgado a um ancestral seu pelo Rei James II. Mathers foi conhecido popularmente no distrito de Auteuil como -o inglês louco-.

Em Paris, inicialmente, Mathers e Mina viveram numa pobreza extrema. Sua principal fonte de renda era Annie Horniman, que vivia em Londres, sendo amiga de Moina e membro da Ordem. Foi dois anos após sua mudança para Paris que Mathers estabeleceu um Templo operativo nesta cidade. O Templo foi chamado Ahathor, e se encontra ativo atualmente. Devido a seus meios limitados, Mathers perdeu em Paris muita de sua sua reputação como estudante de boa fé e mestre, e caiu em práticas questionáveis que não foram vistas com bons olhos por alguns alunos antigos.

Mathers também foi vítima da fraude de Madame Horos e seu esposo, dois aventureiros que pouco tempo depois foram processados e convictos em Londres por ofensas abomináveis. Assistido por sua esposa Moina, Mathers obteve em Paris uma noteriedade passageira com a intenção de reviver a adoração da deusa egípcia Ísis.

Mathers fez freqüentes viagens a Londres para lidar com assuntos da Ordem. Uma de suas mais dolorosas tarefas fois a suspensão de Annie Horniman em 1896.



Horniman era uma das mulheres mais ricas da Inglaterra. Ela era benfeitora de Mathers, o que lhe permitiu desse modo continuar seu trabalho e investigar para a Ordem. Sem dúvida, não considerando suas necessidades pessoais e consciente de que expulsá-la da Ordem lhe causaria difíceis problemas econômicos, procedeu sem hesitação. Foi demitida da Ordem por intrometimento e geração de desordem em assuntos da organização; um problema comum que deveria ser enfrentado por qualquer bom Chefe de uma Ordem. A mudança de século trouxe tempos duros e difíceis para Mathers. Uma cisão na Segunda Ordem do Ísis-Urânia começou. Há vários motivos dados para a cisão, mas nenhuma razão é válida. Uma das acusações lançadas e freqüentemente citada por aqueles que favoreceram a revolta era que Mathers era um líder autocrático. Nada podia estar mais longe da verdade. Um líder autocrático não outorga a outros uma posição alta ou posto como Mathers fez.

Um líder autocrático quer ter decisão direta sobre tudo. Mathers, ao contrário, mudou-se para Paris e deu orientações a seus Adeptos em Londres, mas lhes outorgou o poder de liderança. Foi apenas após constantes abusos de poder e uma falta geral de respeito pela Tradição, à Ordem e ao Chefe dela, que Mathers escreveu seu famoso manifesto.

Em qualquer caso, os animais agora estavam soltos no zoológico, e em gratidão aos 15 anos de dedicação a sua aprendizagem (virtualmente todos os ensinamentos da Ordem surgiram de Mathers), se separaram e começaram sua própria corrente e Ordem.

Em 1903, Aleister Crowley, que então acreditava ser o -Menino Dourado-, por assim dizer, e o novo Chefe da Ordem, se separou de Mathers. Seria nos depois, em 1910, que Crowley ofenderia a seu antigo Mestre em vários volumes de uma publicação bienal chamada -The Equinox-. Nesta publicação, Crowley tornou públicos uma grande quantidade de documentos de instrução ritualística que havia recebido sob o juramento de segredo, e este procedimento o levou a ações legais que nunca terminaram satisfatoriamente.

Nessa época, Mathers regressou a Londres e permaneceu ali por dois anos. Não se sabe se Moina esteve com ele nesse período. A razão primeira de seu retorno a Londres era investigação. Sem dúvida, ainda tinha alguns Adeptos leais em Londres. Em 1912, Mathers retorna a Paris. Investigaria e logo brindaria o público com uma tradução aceitável do -Grimório de Armadel-. Mathers também era responsável pela -Chave Maior de Salomão-, quiçá o documento mais importante da Magia Cerimonial.

A Primeira Guerra Mundial chegou e Mathers viveu o suficiente para ver a vitória dos aliados no outono de 1918. Desde então, as coisas se voltaram obscuras. Nos ensinam que Mathers morreu em seu apartamento na Rue Rivera em 20 de novembro de 1918. Depois, Dion Fortune nos diz que Moina lhe informou que ele havia falecido de uma epidemia de gripe nesse ano, mas não se encontrou nenhuma Certidão de Óbito de Mathers, nem sua tumba.

Ainda que Moina possuísse uma Certidão de Óbito, não há registros cartorários.

Mathers foi um ser humano especial que aportou um sentido de dedicação e trabalho intenso aos Mistérios. Acreditava no potencial humano e na possibilidade de o ser humano passar mais além e eventualmente -tornar-se mais que humano-.



Livros e textos de autoria de Mathers

Introdução Prática sobre o Exercício da Campanha de Infantaria 1884 - em Francês
O Tarot: Um Breve Tratado sobre a Leitura das Cartas Em Francês
A Queda de Granada: Um Poema em Seis Partes 1885 - em Francês
A Kabbalah Revelada 1888 - Originalmente em Caldeu, mas ele traduziu a versão do séc. XVII da Kabbala Denudata por Knorr Von Rosenroth, em Latim.
Simbolismo Egípcio Publicado em Paris
O Grimório de Armadel Em Francês
O Tarot, seu Significado Oculto e Métodos de Jogo 1888
A Chave do Rei Salomão: Clavícula Salomonis 1889 - em Hebraico
A Magia Sagrada de Abramelin o Mago 1896 - em Francês
Magia Ritual de Projeção Astral e Alquimia Escritos Originais da Golden Dawn - Volume I

Graus da Golden Dawn

Como já nos é conhecido, a Golden Dawn foi fundada, na Inglaterra, por um mestre-maçom chamado Willian Wynn Westcott em conjunto com mais dois homens no ano de 1888.

Muitas confusões circundam a criação e o desenvolvimento da referida ordem, o que dificulta um trabalho mais minucioso no que tange a sua história. Mas o foco dos trabalhos futuramente apresentados aqui será puramente cognitivo sobre Magia.

Cabe ao momento mencionar que Crowley fez parte da G.D., onde alcançou o grau mais alto no ínfimo período de um ano. Deve-se notar, pois, que Crowley não era nem um pouco negligente em seus trabalhos mágicos. A Grande Besta teve sua escalada rápida devido, tão somente, a sua inquestionável competência e labor.

Sobre os graus, a Golden Dawn divide-se em A Segunda Ordem, e sobre esta nada se fala externamente, somente encontram-se documentos sobre rituais, lições e afins do grau de Adeptus Minor 5º=6, o primeiro grau da Segunda Ordem.

No entanto há a chamada Primeira Ordem, que compreende cinco graus: Neófito, Zelator, Theoricus, Practicus e Phiolosophus. Todos relacionados à Árvore da Vida.

O Neófito (semelhante ao Probacionista da Astrvm Argentvm) estaria em um período unicamente de provas para mostrar-se merecedor do ingresso na Ordem. O Zelator estaria na Sephirah de Malkhut, o Theoricus em Yesod, o Practicus em Hod e o Philosophus em Netzach.

Após tais graus há a Cripta dos Adeptos, bem como na Árvore da Vida há o Véu de Paroketh. E é somente aí que o conteúdo mais prático da Ordem será mostrado, pois até então era mínima parte não-teórica. Entretanto, após a Cripta é que há o início da Segunda Ordem, então, deter-me-ei a expor somente dados dos graus de Neófito a Philosophus.

Manuscritos Cifrados

Os Manuscritos Cifrados são uma coleção de 60 fólios contendo o esboço estrutural de uma série de rituais de iniciação mágica correspondendo aos elementos espirituais de Terra, Ar, Água e Fogo. Os materiais "ocultos" nos Manuscritos são um compêndio da teoria mágica clássica e o simbolismo conhecido no mundo Ocidental por volta do século XIX, combinados para criar um modelo abrangente da Tradição do Mistério Ocidental, e arranjado em um plano de estudos de um curso dividido em graus de instrução em simbolismo mágico. Era usado como a estrutura da Hermetic Order of the Golden Dawn.


O 13º fólio do Manuscrito Cifrado.


A cifra usada nestes manuscritos, mostrada em uma edição de Polygraphia (Trithemius) de 1561. Outra cifra conhecida como "Alfabeto Thebano" é dada acima dela.


Os fólios estão escritos em tinta preta sobre papel de algodão com marca d'água de 1809. O texto é escrito em inglês plano escrito da direita para a esquerda em uma simples substituição por criptograma conhecido como a cifra de Trithemius. Numerais estão substituídos por letras hebraicas, onde Aleph = 1, Beth = 2, etc. Os desenhos toscos de diagramas, implementos mágicos e cartas do tarô estão intercalados com o texto. Uma página final traduz para o francês e latim.

As cifras contem o esboço de uma série de rituais graduados e o plano de estudos de um curso de instrução em Qabalah e magia hermética, incluindo Astrologia, Tarô, Geomancia e Alquimia. Ele também contém uma série de diagramas e desenhos toscos de vários implementos ritualísticos. Os Manuscritos Cifrados são a fonte original sobre a qual os rituais e as leituras da Hermetic Order of the Golden Dawn estão baseados.

O material atual descrito no Manuscrito é de origens conhecidas. Hermetismo, Alquimia, Qabalah, Astrologia e Tarô era, certamente não eram desconhecidos para estudantes das artes mágicas no século XIX; a Cifra é um compêndio das previosamente conhecidas tradições mágicas. A estrutura básica dos rituais e os nomes de Graus são similares àqueles da Societas Rosicruciana in Anglia e a 'Gold und Rosekreuzes'.

Hekas hekas este Bebeloi

Hekas Hekas, este Bebeloi é o grito dos Mistérios Eleusianos e significa "Longe, ficai longe, profanos!".

É um termo usado nas cerimônias da Golden Dawn (i.e. McGregor Mathers) que foi tirado dos Ritos de Eleusis. Esse era o "comando", em Grego, para todos os profanos ou não iniciados deixarem a área preparatória para as Cerimônias Mágicas que se seguiriam. Hekas é também um Deus Egípcio que governa a Magia.

Crowley preferia usar uma versão da mesma frase em Latim: "Procul, o procul este, profani!". Ambas possuem a mesma tradução. Esta fora usada por Virgílio na epopeia Eneida de 6.258 a.c.

Origem Remota

A primeira notícia do uso da frase "Procul, O procul este profani" foi no poema épico em Latim de Publius Vergilius Maro, A Eneida. O épico explica que Virgílio coloca essas palavras na boca da Sibila de Cuma que está se preparando para proferir uma grande profecia e exatamente com essa fala, afugenta os estranhos dizendo: "Afastai, ficai longe, ó impuros!"

Profanus em Latim significa literalmente aquele que está condenado a fica "fora (latim, pro) do templo (latim, fanum)". Originalmente profani eram os pagão (escória) que não eram autorizados a estarem dentro de lugares sagrados do santuário interno (Sanctum Sanctorum) porque não eram fiéis ou porque tinham sidos envenedados por outros pagãos trapaceiros. O tipo de linguagem baixa que esses rufiões provávelmente falavam eram, é claro, blasfêmias, profanação, da mesma maneira que esses que a usavam eram profanos.

Hierofante (Golden Dawn)

O Hierofante (ou a Hierophantissa) no Ritual do Neófito da Golden Dawn representa o sacerdote iniciador, aquele que ensina matérias espirituais, especialmente no que diz respeito às adorações e sacrifícios.

Descrição

É o expositor dos Mistérios na Sala da Manifestação Dual da deusa da Verdade. Dentre os símbolos e insígnias do Hierofante estão o Trono do Leste, o manto vermelho (capa externa) que leva uma cruz branca no peito esquerdo, um colar branco do qual se pendura um lámen vermelho e verde desenhado uma cruz circular, o cetro com uma coroa na ponta e a Bandeira do Leste.

Hiereus (Golden Dawn)

O Hiereus (ou a Hiereia) no Ritual do Neófito da Golden Dawn é aquele que realiza sacrifícios no templo.

Descrição

Hiereia é a vingadora dos deuses, Guardiã dos Mistérios Sagrados. Dentre os símbolos e insígnias do Hiereus estão o trono do Oeste, o manto negro levando uma cruz branca sobre o peito esquerdo, um colar vermelho que leva pendurado um lámen branco e preto desenhado um triângulo, a Espada da Força e Severidade e a Bandeira do Oeste.

Hegemon (Golden Dawn)

O Hegemon (ou a Hegemone) no Ritual do Neófito da Golden Dawn é o líder, aquele que primeiro procede sobre um caminho.

Descrição

Guardião do limiar da Entrada e Preparador do Caminho para o Entrante. Dentre os símbolos e insígnias do Hegemon estão o manto branco portando uma cruz vermelha sobre o peito esquerdo, um colar preto no qual se pendura um lámen branco e preto desenhado uma cruz e o cetro com cabeça de mitra.

Kerux (Golden Dawn)

O Kerux (ou a Kerykissa) no Ritual do Neófito da Golden Dawn é aquele que anuncia, chama a reunião à ordem e entrega mensagens.

Descrição

Vigia para os deuses. O Observador dentro do templo. Os símbolos e insígnias do Kerux são a lâmpada vermelha, um colar branco no qual se pendura um lámen branco e preto desenhado um caduceu e a vara Caduceus.

Stolistes (Golden Dawn)

O Stolistes (ou a Stolistes, da mesma forma) no Ritual do Neófito da Golden Dawn é aquele que verifica que tudo no ritual, roupas e ornamentações, estão em ordem.

Descrição

O Afirmador dos poderes da Água. A Luz brilhando através das Águas sobre a Terra. Os símbolos e insígnias do Stolistes são um colar preto no qual se pendura um lámen branco e preto desenhado uma copa e um Cálice de água.

Dadouchos (Golden Dawn)

O Dadouchos (ou a Dadouche) no Ritual do Neófito da Golden Dawn é aquele que, como a Mulher nos Mistérios Eleusianos, porta a tocha como um símbolo do caminho pelo qual Deméter buscava por sua filha.

Descrição

O Afirmador dos poderes do Fogo. Perfeição através do Fogo manifesto na Terra. Os símbolos e insígnias do Dadouchos são um colar preto no qual se pendura um lámen branco e preto desenhado uma suástica e o Incensário.

Phylax (Golden Dawn)

O Phylax (ou a Phylakissa) no Ritual do Neófito da Golden Dawn é o sentinela ou guarda.

Descrição

O Observador fora do templo. Os símbolos e insígnias do Phylax são um colar preto no qual se pendura um lámen branco e preto desenhado um olho e uma espada em suas mãos.

Biografia Q.V.I.F.

Frater Q.V.I.F. é cidadão brasileiro, nascido em 1958, na cidade do Rio de Janeiro. Tomou conhecimento da Filosofia de Thelema em 1973 de maneira insipiente através de um grupo ligado a Raul Seixas. Na época, não havia um movimento plenamente organizado no Brasil, a despeito dos esforços de Marcelo Ramos Motta e de Euclydes Lacerda de Almeida, proeminentes pioneiros na divulgação da Lei de Thelema em nosso país.

Em 1982 iniciou correspondência com a Loja Nuit da Sociedade Ordo Templi Orientis do Brasil, tendo adquirido, a partir de então, literatura thelêmica publicada por Marcelo Motta. Foi uma época de descobertas, pois publicações do gênero eram raras em português. Em 1985 é recebido por Motta na A.·. A.·., no Grau de Probacionista, não tendo mais contato pessoal com o mesmo depois disso.

Em 1986 solicita, com insistência, entrada na S.O.T.O., tendo recebido em princípios de agosto de 1987, correspondência remetida por Motta, em nome da Loja Nuit, porém postada em Teresópolis, RJ, com um Juramento do Grau I e instruções sobre como proceder. Respondeu a mesma, remetendo o que foi solicitado, não tendo, porém , recebido nenhuma confirmação de que fora aceito.

Em 1988, recebeu correspondência dos Estados Unidos, de Daniel B. Stone, informando sobre a morte de Motta em final de agosto de 1987, e da transferência da Ordem para os Estados Unidos.

A partir daí, Frater Q.V.I.F. passa a estudar sozinho, tendo conhecido em final de 1990, Euclydes Lacerda de Almeida , conhecido na época por Frater Aster. Através deste, veio a aprofundar seus estudos na Filosofia Thelêmica, tendo trabalhado intensamente na difusão da Lei, junto com outros, em uma época que Crowley e sua Obra eram encarados de maneira extremamente preconceituosa, equivalente a satanismo. Ajudou ministrando instruções na Loja Therion, dirigida por Frater PAN , durante três anos, tendo fundado a Loja Thelema em 1993 e.v. Em virtude desta fundação, sérios problemas surgiram e erros de avaliação de Frater Q.V.I.F. fizeram-no afastar-se de Frater Aster em 1994 e.v. Neste ano, fundou a Ordo Templi Orientis Brasilis, tendo cometido aí seu maior erro, pois deixou-se levar pelo ego, tendo seu trabalho se desordenado e acabado, por sua decisão, em 1995.

Paralelo a tudo isso, a única coisa que Q.V.I.F. conseguiu manter foram seus estudos na A.·. A.·. . Fora recebido regularmente em 1985 por Motta, e mais tarde, por indicação de Frater Thor , por Frater Bruno. Não conseguindo continuar seus estudos sob uma direção no Brasil, buscou ajuda de um americano, Frater Leny, da linhagem de Soror Estai, que ciente de sua situação o ajudou a chegar ao Grau de Neófito. Porém, em virtude de sua ligação anterior com Frater Thor, Leny cortou contato com Q.V.I.F. Abalado, com sua vida pessoal desorganizada, foi obrigado a sair do Rio de Janeiro, indo morar no interior do estado, em 1996. Foi uma época muito difícil, período em que somente Frater ABO, manteve contato, estando a trabalhar com Q.V.I.F. na A.·. A.·.

A partir de sua mudança, Frater Q.V.I.F. começou a reorganizar-se. Conscientizou-se de seus erros, reavaliou o seu caminho, refez seus juramentos na A.·. A.·. e mesmo sozinho, se aplicou a uma intensa prática. Paralelo a isso, junto com Frater ABO, estruturou e fundou a Loja Nova Isis, que viria a ser, durante muitos anos, o local onde se reuniu uma comunidade que realizou trabalho impecável. A despeito de ter estruturado e fundado essa Loja, Frater Q.V.I.F. observou que o trabalho coletivo não era mais sua vontade. Não quis com isso dizer que todo e qualquer trabalho coletivo não tinha validade. Somente não era mais sua vontade participar de um. Resolveu dedicar-se a A.·. A.·. integralmente.

Em 1997 voltou a tomar contado com a Euclydes Lacerda de Almeida, que na época estava iniciado no Califado O.T.O.. Para ter acesso a Euclydes, Frater Q.V.I.F. foi iniciado no Califado O.T.O. nos Graus de Minerval e Homem (0 e I), tendo logo depois tomado conhecimento que Euclydes havia se afastado do mesmo. Sem pestanejar, mandou e-mail para uma das líderes do Campo no Rio, informando de sua saída daquela Ordem.

Em 1998 voltou para o Rio de Janeiro, entrando em contado efetivo com Euclydes, tendo com ele esclarecido todos os erros do passado,admitindo também aquele que fora induzido a erro, precipitando-se em algumas decisões. Resolvida a situação, Frater Q.V.I.F.,assinou os juramentos devidos, colocando-o sob sua instrução de Frater Thor na A.·. A.·. .

A partir daí, Q.V.I.F. reencontrou cada pessoa que havia se afastado dele no passado, tendo mostrado aos mesmos que as "ordens passam, mas a amizade fica". Muitos lhe recusaram amizade novamente, mas isso já não abalou mais o referido frater. Sua vida profissional e pessoal foi plenamente restruturada, seu trabalho iniciático estava fluindo como deveria.

Frater Q.V.I.F. continuou a difundir a Lei de Thelema através de um Site sobre a Astrum Argentum , em palestras e cursos sobre Tarot, Rituais Thelêmicos, Magick, etc. Está em fase de conclusão de um Livro sobre o Tarot de Thoth (Crowley) e está construindo o portal Thelema Brasil , onde estarão sub-sites inéditos sobre Marcelo Motta, Movimentos Thelêmicos no Brasil e no mundo, bem como bastante material para pesquisadores de todos os gostos.

Quando no Brasil, aqui e ali, surgiam (e surgem a cada dia) movimentos thelêmicos das mais diversas tendências, Frater Q.V.I.F. focou-se na difusão da "Filosofia de Thelema com Responsabilidade", isto é, sem os exageros e distorções sectaristas e exclusivistas, em fim, tudo o que proporcionou a fama de "intrigueiros", fofoqueiros, ditadores, etc. dos muitos que se intitulam thelemitas, quando na verdade, cada um de nós, que não alcançou a consciência da Verdadeira Vontade, não passa de um Aspirante a Thelema.

Em fevereiro de 2006 Frater QVIF retirou-se ao silêncio mas hoje em dia está trabalhando novamente, sendo um dos 4 membros da Sociedade Novo Aeon, mantenedora da Ordem dos Cavaleiros de Thelema.

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...