domingo, 14 de agosto de 2016

Éon (gnosticismo)


Éon, eon ou ainda aeon significa, em termos latos, um enorme período de tempo, ou a eternidade. A palavra Latim aeon, significa "para sempre". Ela é derivada do grego αίών (aion), cujo um dos significados é "um período de existência" ou "vida".

Em cronologia ou geologia, o éon geológico refere-se à maior subdivisão da escala de tempo geológico, imediatamente antes da era.

Platão usou a palavra aeon para denotar o mundo eterno das ideias, que ele concebia como se estivesse "atrás" do mundo perceptível, como demonstrado em sua famosa alegoria da caverna. Assim, em termos filosóficos ou em história da religião, no gnosticismo e no neoplatonismo, refere-se à entidade intermédia entre a divindade suprema e o mundo perceptível ao pensamento.

Em alguns sistemas gnósticos, as várias emanações de Deus, que era também chamado por nomes como Uno, Mônada, Aion teleos (Aeon perfeito), Bythos (Profundidade), Proarkhe (O Anterior ao começo), E Arkhe (o Começo), são chamadas aeons. Este Ser primordial também era um aeon e tinha um ser dentro de si mesmo chamado Ennoea (Pensamento), Charis (Graça), ou Sige (Silencio). O ser perfeito dividido concebeu o segundo aeon, Caen (Poder) em si mesmo. Junto com o aeon masculino Caen veio o aeon feminino Akhana (Verdade, Amor).

Os aeons frequentemente aparecem em pares masculino/feminino chamados sizigias, e são bastante numerosos. Dois frequentemente listados são Jesus e Sophia. Juntos, os aeons constituem o Pleroma, a "região da Luz". As regiões abaixo do pleroma estão mais perto da escuridão, como o mundo físico.

Quando o aeon chamado Sophia emanou sem o seu "aeon parceiro", o resultado foi o Demiurgo, ou semi-criador (às vezes chamado de Ialdaboth nos textos gnósticos), uma criatura que nunca deveria ter existido. Ele nunca pertenceu ao pleroma, e o Uno emanou dois aeons, Cristo e o Espírito Santo, para salvar o homem do Demiurgo. Cristo então tomou a forma de homem, Jesus, para poder ensinar aos homens como adquirir a gnose, e assim retornar ao pleroma.

Nag Hammadi



Nag Hammadi é uma aldeia no Egito, conhecida como Chenoboskion na antiguidade, cerca de 225 km ao noroeste de Assuan, com aproximadamente 30000 habitantes. É uma região camponesa onde produtos como o açúcar e o alumínio são produzidos. Nesta aldeia, o camponês Muhammad Ali as-Salmman, encontrou um grande pote vermelho de cerâmica, contendo 13 livros de papiro encadernados em couro. No total descobriram cinquenta e dois textos naquele sítio que ficaram conhecidos como biblioteca de Nag Hammadi, contendo textos do antigo gnosticismo.

Os Manuscritos

A Biblioteca de Nag Hammadi foi o conjunto de textos encontrados na cidade de Nag Hammadi, no Egito, em Dezembro de 1945. Estes manuscritos totalizavam treze códices de papiro, escritos em copta, com capa de pergaminho em um recipiente fechado. A descoberta foi feita por camponeses da região. Entre as obras aí guardadas encontravam-se tratados gnósticos, três obras pertencentes ao Corpus Hermeticum e uma tradução parcial da República de Platão. Estes textos também são conhecidos como Evangelhos gnósticos.

Principais Textos da Biblioteca

Codex I (Codex Jung)

Prece do apóstolo Paulo
Apócrifo de Tiago
O evangelho da verdade
Tratado sobre a ressurreição
Tratado tripartite

Codex II

Apócrifo de João (versão longa)
Evangelho de Tomé
Evangelho de Filipe
Hipostasia dos arcontes
Sobre a origem do mundo
Exegese da alma
O livro de Tomé, o combatedor

Codex III

Apócrifo de João (versão curta)
Evangelho dos egípcios
Eugnossos, o abençoado
A sofia de Jesus Cristo
Diálogo do salvador

Codex V

Apocalipse de Paulo
Apocalipse de Tiago (I e II)
Apocalipse de Adão

Codex VI

Atos de Pedro e os 12 apóstolos
O trovão, mente perfeita
Ensimanteo autorizado
O conceito de nosso grande poder
Platão, República
Discurso sobre o oitavo e o nono
Prece de ação de graças
Asclépio

Codex VII

Paráfrase de Shem
Segundo tratado do grande Seth
Apocalipse de Pedro
Os ensinamentos de Silvano
As três estelas de Seth

Codex VIII

Zostrianos
Carta de Pedro a Felipe

Codex IX

Melquisedeque
O pensamento de Norea
Testemunho da verdade

Codex X

Marsanes

Codex XI

Interpretação do conhecimento
Exposição valentiniana
Alógenes
Hypsiphrone

Codex XII

Sentenças de Sexto
Fragmentos

Codex XIII

Protenóia trimórfica
Sobre a origem do mundo

Livro De Enoque



O Livro de Enoque (ספר חנוך א') é um dos maiores pseudo-epígrafos, grandemente conhecido pela sua versão em etíope e mais tarde as traduções gregas dos capítulos I-XXXII, XCVII-CI e CVI-CVII, bem como de algumas citações importantes feitas por Georgius Syncellus, o autor bizantino. Teria sido escrito por Enoque, ancestral de Noé, contendo profecias e revelações. O Livro de Judas cita um trecho desta obra .

Em Qumram, foram encontrados na Gruta 4, sete importantes cópias que foram atestadas pela versão Etíope. Estas cópias embora que não idênticas na totalidade foram encontradas em conjunto com cópias do Livro dos Gigantes referenciadas no capitulo IV do Livro de Enoch.

As cópias de Qumram foram catalogadas com as referências 4Q201-2 e 204-12 e fazem parte da herança deixada pela comunidade Nazarita do Mar Morto, em Engedi.

O Livro de Enoque também é chamado de Primeiro Livro de Enoque. Existem outros dois livros chamados de Segundo Livro de Enoque e Terceiro Livro de Enoque, considerados de menor importância.

Datação dos manuscritos

A datação Paleográfica datou estes documentos de Qumram entre 200aC e o fim da era cristã.

Conteúdo da versão aramaica de Qumram

Existem muitos excertos aleatórios no livro que estão descontextualizados ou simplesmente não fazem sentido. Fazendo uma breve referencia ao conteúdo dos excertos que fazem sentido no livro, estes resumem-se da seguinte forma:

4Q201 - Enumera os nomes em aramaico dos vinte chefes dos anjos caídos;
4Q204 - Relata o milagroso nascimento de Noé cujo paralelismo é notório com o de Génesis Apócrifo e os fragmentos do Livro de Noé.
4Q206 - Este é o mais divergente com a versão etíope
4Q209 - Chamado Livro Astronómico, é consideravelmente mais longo que a versão etíope.

A secção do Livro dos Gigantes não existe na versão etíope, mas circulava na literatura maniqueísta, talmúdica e medieval Judaica.

Comparação das versões

Existem diferenças notórias, embora que parciais, na estrutura das versões do Livro de Enoque. A parte astrológica é muito mais desenvolvida na versão etíope que na versão de Qumram. Por outro lado a secção do Livro das Parábolas dá mais ênfase a sua especulação a respeito do Filho do Homem na versão do Qumram do que na versão etíope. Existem outra inúmeras divergências estilísticas, colocadas provavelmente pelos diferentes tradutores que trabalharam as obras na altura.

Linguagem enoquiana

A linguagem enoquiana é uma linguagem utilizada no ocultismo , popularizada por John Dee e Edward Kelley no século 16 , que diziam que a linguagem e sua escrita foram reveladas por anjos . O termo "enoquiano" é uma referência ao nome do livro apócrifo de Enoque.

A Fórmula de IAO


Esta é a principal e mais característica formula de Osíris, da Redenção da Humanidade. “I” é Ísis, a Natureza, arruinada por “A”, Apofis, o Destruidor, e restaurada à vida por Osíris, o Redentor!. A mesma idéia está expressa na formula Rosacruz da Trindade:

Ex Deo nascimur.
In Jesu morimur.
Per Spiritum Sanctum reviviscimus.

Isto é idêntico à Palvra Lux, L.V.X., que é formada pelos braços da cruz. É esta fórmula que está implícita nos antigos e modernos monumentos em que o falo é adorado como sendo o Salvador do Mundo.

A doutrina da ressurreição, em seu sentido comum, é falsa e absurda. Não é nem mesmo “Escritural”. São Paulo não identifica o corpo glorificado que se levanta com o corpo mortal que perece. Ao contrário, ele repetidamente insiste em fazer uma diferença entre os dois. O mesmo ocorre com a cerimônia mágica. O Magista que foi destruído pela absorção na Divindade não foi realmente destruído. O miserável autômato mortal permanece no Círculo. É tão indiferente ao Deus quanto o pó da terra.

Mas antes de entrar nos detalhes de “I.A.O.” como formula mágica, é preciso salientar que ela é, essencialmente, a formula da Yôga, ou da meditação; na verdade, de todo o misticismo elementar, em todos os seus ramos. Ao começar uma prática de meditação, sempre ocorre um calmo prazer, um suave crescimento natural; tem-se um interesse vívido no trabalho. Os mais simples e fáceis atos se tornam quase impossíveis de serem feitos. Tal impotência enche a mente de apreensão e desespero. A pessoa que nunca experimentou isto nem pode entender a intensidade deste desgosto. Este é o período de Apophis.

A ele segue-se o levante não de Ísis, mas de Osíris. A antiga condição não se restaura, mas cria-se uma nova condição superior, possível apenas através do processo da morte. Os próprios alquimistas ensinaram esta verdade. A primeira matéria da obra era rude e primitiva, ainda que “natural”. Depois de passar por diversos estágios, o “dragão negro” surgia; mas de tudo isto saía o perfeito e puro ouro.

Até mesmo na lenda de Prometeu nós encontramos, oculta, esta mesma formula; e o mesmo se aplica às de Jesus Cristo, e de muitos outros homens-deuses míticos, adorados em diversos países.

Uma cerimônia mágica, construída segundo esta formula, está, assim, numa harmonia essencial bem próxima ao processo místico natural. Podemos vê-la na base de muitas importantes iniciações, notadamente no Terceiro Grau da Maçonaria, e na cerimônia do 5º=6º da G.’.D.’., descrita no Equinox I,III. Com esta formula, pode-se montar muito bem uma auto-iniciação cerimonial. A sua essência consiste em roubar-se a si mesmo como rei, e daí despir-se e matar-se, e levantar desta morte para o Conhecimento e a Conversação com o Santo Anjo Guardião%. Existe uma identidade etimológica entre o Tetragramaton e o “I.A.O.”, mas as formulas mágicas são inteiramente diferentes, como mostraram as descrições aqui apresentadas.

O Professor William James, em "Variedades de Experiência Religiosa", classificou muito bem as religiões como as de “nascidos-uma-vez” e as de “nascidos-duas-vezes”; mas a religião proclamada agora no Liber Legis harmoniza ambas, transcendendo-as. Não há tentativa de livrar-se da morte negando-a, como o fazem os nascidos-uma-vez; nem de aceitação da morte como portal para uma nova vida, como entre os nascidos-duas-vezes. Com a A.’.A.’., vida e morte são igualmente incidentes no curso, assim como o dia e a noite na história do planeta. Mas, prosseguindo com a comparação, observamos nosso planeta de longe. Um Irmão da A.’.A.’. vê “a si mesmo” (como diria outra pessoa), como um – ou, melhor dizendo, alguns – fenômeno entre um grupo de fenômenos. Ele é aquele “nada” cuja consciência é, de certo modo, o universo considerado como um único fenômeno no tempo e no espaço, e, de outro modo, é a negação de tal consciência. O corpo e a mente do homem são tão importantes para ele (se é que são), quanto o telescópio o é para o astrônomo. Se o telescópio fosse destruído, isto não faria diferença alguma no Universo que ele revelara.

Agora entende-se que esta formula do I.A.O. é a formula de Tifereth. O Magista que a emprega está consciente de si mesmo como um homem capaz de sofrer, e ansioso para transcender tal estado tornando-se um com o deus. Isto lhe parece como sendo o Supremo Ritual, o último passo; mas, como já vimos, é apenas as preliminares. Para o homem comum hoje em dia, entretanto, isto representa uma realização considerável; e há uma formula anterior,cuja investigação está no Capítulo VI.

O MESTRE THERION, no ano Dezessete do Eon, reconstruiu a Palavra I.A.O. a fim de satisfazer as novas condições da Mágicas impostas pelo progresso. Sendo Thelema a Palavra da Lei, cujo número é 93, este número deveria tornar-se o cânon de uma Missa equivalente. De acordo com isto, ele expandiu o I.A.O. tratando o O como um Ayin, e daí adicionando Vav como prefixo e sufixo. A palavra completa é, então,Vav Yod Aleph Ayin Vav

cujo número é 93. Podemos analisar esta nova Palavra em detalhe, e demonstrar que é um hieróglifo apropriado para o Ritual de Auto-Iniciação neste Eon de Horus. Para ver a correspondência na nota que se segue, veja Liber 777. Os pontos principais são os seguintes: Iota-Alpha-Digama varia em significado com os Éons sucessivos.

“Aeón de Isis”. Era Matriarcal. A Grande Obra vista como algo simples e direto. Vemos esta teoria se refletir nos costumes do Matriarcado. Presume-se que a Parte no gêneses seja verdadeira. A Virgem (Yod-Virgo) contém, em si mesma, o Princípio do crescimento – a semente Hermética do epiceno. Esta se transforma no Bebê no Ovo (A – Harpócrates) pelo poder do Espírito (A=Ar, engravidando a Mãe – Abutre), e se transforma no Sol, ou no Filho (Digamma=a letra de Tiphareth, 6, ainda se soletrada como Omega, em cóptico. Veja 777)

“Aeón de Osíris”. Era Patriarcal. Dois sexos. Vê-se o I como a Vara-Pai (Yod no Tetragramaton). A, o Bebê, é perseguido pelo Dragão, que lança uma enchente pela boca, para engolfa-lo. Veja “Apocalipse” VII. O Dragão é também a Mãe – a “Mãe Cruel” de Freud. É Harpócrates, ameaçado pelo crocodilo do Nilo. Vemos o simbolismo da Arca, do Ataúde de Osíris, etc. O Lótus é o Yoni; a Água é o Líquido Amniótico. Para viver sua própria vida, a criança deve deixar a Mãe, e vencer a tentação de se refugiar nela. Kundry, Armida, Jocasta, Circe, etc, são símbolos desta força que tenta seduzir o Herói. Ele pode toma-la como serva&, depois de a ter dominado, de modo a poder curar seu pai (Amfortas), vinga-lo (Osíris), ou pacificá-lo (Yahwah). Mas para se tornar adulto, ele deve deixar de depender dela, desejando a Lança (Parzival), reivindicando suas Armas (Aquiles), ou fazendo seu bastão (Hércules)7, e vagando nos ermos sem água como Krishna, Jesus, Oedipus, chi, tau, lambda – até a hora em que, como o “Filho do Rei”, ou o cavaleiro errante, ele deve lutar pela Princesa, e colocar-se em um trono estrangeiro. Quase todas as lendas sobre heróis possuem esta formula em símbolos incrivelmente semelhantes. Digamma. Vau, o Sol – o Filho. Ele deveria ser mortal; mas como isto se apresenta? Parece uma perversão absoluta da verdade: os símbolos sagrados não possuem indício algum disto. Esta mentira é a essência da Grandiosa Feitiçaria. A religião osiriana é uma fantasia freudiana saída do medo humano da morte, e da ignorância quanto à natureza da mesma. A idéia de partenogêneses continua, mas agora é a formula da encarnação de semi-deuses, ou reis divinos; eles devem ser assassinados e levantarem-se dos mortos de alguma forma).

“Eon de Horus”. Dois sexos em uma pessoa. Digamma Iota Alpha Omicron Digamma (: 93, a formula completa, reconhecendo o Sol como Filho (Estrela), e a Unidade manifesta pré-existente da qual todas as coisas brotaram, e para a qual todas retornarão. A Grande Obra é transformar o Digamma Digamma de Assiah (o mundo de ilusão material) no final Digamma Iota Digamma de Atziluth), o mundo da pura realidade. Soletrando o nome todo, Digamma Digamma + Iota Digamma Delta = Alpha Lambda Pi + Omicron Iota Nu + Digamma Iota = 309 = Sh T = XX + XI = 31, a secreta Chave da Lei. Digamma é a Estrela manifesta.

Iota é a secreta Vida - Serpente Amor - Lâmpada Liberdade - Vara Silêncio - Manto

Estes símbolos estão no Atu “O Eremita”. Eles são os poderes de Yod, cuja extensão é o Vav. Yod é a Mão com a qual o homem faz sua Vontade. É também A Virgem; sua essência é inviolar. Alpha é o Bebê “que formulou seu Pai, e fertilizou sua mãe” – Harpócrates, etc., como antes; mas ele se desenvolve para ser Omicron, o “Diabo” exaltado (também o “outro” Olho secreto), através da formulada Iniciação de Horus, descrita algures em detalhe. Este “Diabo” se chama Satanás, ou Shaitan, e é visto com horror por aqueles que são ignorantes de sua formula, e, imaginando-se como maus, acusam a Natureza de seu próprio crime fantasmagórico. Satanás é Saturno, Set, Abrasax, Adad, Adonis, Attis, Adam, Adonai, etc. A acusação mais séria contra ele é a de que ele é o Sol do Sul. Os Iniciados Antigos, morando em locais cujo sangue era as águas do Nilo ou do Eufrates, conectavam o Sul com seu calor que tira o viço da vida, e amaldiçoavam aquele quadrante no qual os dardos solares eram os mais mortíferos de todos. Até mesmo na lenda de Hiram: ele foi atacado e morto ao meio-dia. Capricórnio, portanto, é o signo no qual entra o Sol, ao atingir sua extrema declinação no sul, no Solstício do Inverno, a estação da morte da vegetação para o pessoal do hemisfério Norte. Isto lhes dava uma segunda razão para amaldiçoar o sul. Uma terceira: a tirania dos ventos quentes, secos e venenosos; a ameaça dos aterrorizantes desertos ou oceanos, porque misteriosos e intransponíveis; estes também estavam concatenados, na mente deles, com o Sul. Mas para nós, que estamos conscientes dos fatos astronômicos, este antagonismo contra o Sul é uma superstição tola, sugeridas aos nossos ancestrais animísticos pelos acidentes das condições locais. Não vemos inimizade alguma entre a Direta e a Esquerda, Acima e Abaixo, e outros pares opostos semelhantes.

Estas antíteses são reais apenas como afirmações de relação; são convenções de um artifício arbitrário que representa nossas idéias em um simbolismo pluralístico baseado na dualidade. “Bom” deve ser definido em termos de ideais e instintos humanos. “Leste” não tem significado algum exceto com referência aos negócios internos da terra; como uma direção absoluta no espaço, ele muda um grau a cada quatro minutos. “Acima” não quer dizer o mesmo para duas pessoas ao mesmo tempo, a menos que aconteça que um esteja na linha que une o outro ao centro da terra. “Duro” é a opinião pessoal de nossos músculos. “Verdadeiro” é um epíteto absolutamente ininteligível que já provou ser refratário à análise dos filósofos mais hábeis. Não temos, portanto, nenhum escrúpulo em restaurar a “adoração ao diabo” de idéias que as leis do som, e o fenômeno da fala e da audição, nos compelem a nos concatenar com o grupo de “Deuses” cujos nomes se baseiam em Sht, ou D, vocalizados pelo A de sopro livre. Pois tais Nomes significam qualidades de coragem, franqueza, energia, orgulho, poder e triunfo; são as palavras que expressam a vontade criativa e paternal.

Assim, o “Diabo” é Capricornus, o Bode que salta sobre as montanhas mais altas, a Divindade que, caso manifestada no homem, torna-o Aegipiano, o Tudo. O Sol entra neste signo quando retorna, para renovar o ano no Norte. Ele é também a vogal O, própria para rugir, para gritar e para comandar, sendo um sopro forçoso controlado pelo círculo firme da boca.

Ele é o Olho Aberto do exaltado Sol, perante o qual todas as sombras fogem; é também aquele Olho Secreto que faz uma imagem de seu Deus, a Luz, e dá-lhe poder de pronunciar oráculos, iluminando a mente.

Assim, ele é o Homem que se torna Deus, exaltado, ansioso; ele chegou deliberadamente ao seu total, e está, portanto, pronto para começar sua jornada de redimir o mundo. Mas ele talvez não apareça em sua forma real; a Visão de Pã faria os homens loucos. Ele deve se disfarçar com seu traje original.

Ele, assim, se torna em aparência o homem que foi no início; ele vive a vida de um homem; ele é, na verdade, inteiramente homem. Mas sua iniciação tornou-o mestre dos Acontecimentos, dando-lhe o entendimento de que tudo o que lhe acontecer é a execução de sua verdadeira vontade. Assim, o último estágio de sua iniciação está expressa em nossa formula como o final:

Digamma – A série de transformações não afetou sua identidade, mas explicou-o a si mesmo. Da mesma forma, o cobre ainda é cobre depois de:

Cu+O = CuO:+H SO = CuS O(H O):+K S = CuS (K SO) 2 4 4 2 2 2 4 + zarabatana e agente redutor = Cu(S)

É o mesmo cobre, mas aprendemos algo a respeito de suas propriedades. Observamos especialmente que ele é indestrutível, ele mesmo inviolável através de todas suas aventuras e todos seus disfarces. Vemos também que ele só pode fazer uso de seus poderes, realizar as possibilidades de sua natureza, e satisfazer suas equações, combinando assim com suas contrapartidas. Sua existência como substância separada é evidência de sua sujeição à pressão; e isto se sente como a dor de um desejo incompreensível, até dar-se conta de que cada experiência é um alívio, uma expressão de si mesmo; e que não pode ser ferido por nada que possa lhe acontecer. Foi no Eon de Osíris que descobriu-se que o Homem deve morrer para que possa viver. Mas agora, no Eon de Horus, sabemos que cada acontecimento é uma morte; sujeito e objeto matam-se um ao outro em “amor sob vontade”; cada uma dessas mortes é, ela mesmo, vida, a maneira pela qual nos realizamos a nós mesmos, em uma série de episódios.

O segundo ponto principal é a compleição do A, o bebê Bacchus, por O Pan (Parzival ganha a Lança, etc.). O primeiro processo é encontrar o I no V – iniciação, purificação, encontrar a Raiz Secreta de si mesmo, a Virgem epicena que é 10 (Malchut), mas, soletra 20 por completo (Júpiter). Este Yod na “Virgem” se expande, tornando-se o Bebê ao formular a Secreta Sabedoria da Verdade de Hermes no Silêncio do Louco. Ele adquire a Vara-Olho, observando a ação e sendo adorado. O Pentagrama Invertido – Baphomet – o Hermafrodita completamente crescido – cria a si mesmo em si mesmo, outra vez como V. Note-se que há agora dois sexos completamente em uma só pessoa, de modo que cada pessoa é sexualmente auto-procriativa, enquanto que Isis conhecia apenas um sexo, e Osíris pensou que os dois sexos eram opostos. Inclusive a formula agora é Amor em todos os casos; e o fim é o começo, em um plano mais elevado.

Forma-se o I do V, removendo-se sua cauda, o A equilibrando 4 Yods, o O fazendo um triângulo invertido de Yods, que sugere a formula de Nuit – Hadit – Ra-Hoor-Khuit. A vem a ser os elementos espirais como suástica – a Energia criadora em ação equilibrada!

Liber IAO
(sub figurâ XVII)
Trata-se do nome dado a um livro da A.·. A.·., sendo uma publicação de Classe D.

Sofia (gnosticismo)



Sophia (em grego: Σοφία) é um conceito presente na religião e filosofia helenística, Platonismo, Gnosticismo, Cristianismo Ortodoxo, Cristianismo Esotérico e no Cristianismo místico. Significa, literalmente, a que detém a "sabedoria" (em grego: σοφός; "sofós"). Na tradição gnóstica, Sophia é uma figura feminina, análoga à alma humana e simultaneamente um dos aspectos femininos de Deus. Os gnósticos afirmam que ela é a sizígia de Jesus (veja a Noiva de Cristo) e o Espírito Santo da Trindade. Ocasionalmente é referenciada pelo equivalente hebreu Achamōth (em grego: Ἀχαμώθ) e como Prouneikos (em grego: Προύνικος, "A Libidinosa").

É considerada ainda como a responsável pela criação do mundo material, ou uma das responsáveis, dependendo da tradição gnóstica.

Prouneikos ("Lasciva")

No sistema gnóstico descrito por Ireneu em Contra Heresias, o nome Prouneikos por várias vezes substitui o de Sophia na história. O nome Prouneikos também é dado a Sophia no relato do sistema irmão borborita, apresentado no capítulo anterior do mesmo livro de Ireneu. Celso, que aparenta ter tido contato com algumas obras ofitas, também mostra familiaridade com o nome Prouneikos (Contra Celso), um nome que Orígenes reconhece como sendo valentiano. Que este nome ofita tenha realmente sido adotado pelos valentianos é evidenciado por sua ocorrência num fragmento valentiano preservado por Epifânio. Ele também introduz Prouneikos como um termo técnico no sistema dos simonianos (seguidores de Simão Mago), a quem ele descreve como estando sob o comando dos nicolaítas e ofitas.

Nem Ireneu nem Orígenes indicaram saber algo sobre o significado desta palavra e não temos nenhuma informação melhor sobre o assunto, exceto uma conjectura de Epifânio. Ele afirma que a palavra significa "impudica" ou "lasciva", pois os gregos tinham um epíteto para um homem que tivesse devassado uma garota, Eprounikeuse tautēn. Porém, Epifânio estava profundamente convencido da podridão da moral gnóstica e frequentemente interpretava a linguagem deles da pior maneira possível. Se a frase reportada fosse realmente popular, é estranho não encontrarmos exemplos do seu uso em comédias de autores gregos. Não se nega que Epifânio tenha ouvido a frase como empregada, mas é possível que palavras inocentes venham a ser usadas em um sentido obsceno.

À favor da explicação de Epifânio está o fato de que nos mitos cosmogônicos gnósticos, imagens de paixão sexual são constantemente introduzidas. Parece no todo provável que Prouneikos deve ser entendido no mesmo sentido de propherēs, que tem como um de seus significados "precoce com relação aos atos sexuais". É possível que o nome indique as tentativas de Sophia de atrair a fagulha da luz divina dos poderes cósmicos inferiores. No relato de Epifânio, a alusão à atração pelo ato sexual que está envolvido no nome se torna mais proeminente.

Achamōth

Tem se debatido se o nome Achamōth (em grego: Ἀχαμώθ) deriva originalmente do hebreu Chokhmah (em hebraico: חָכְמָ֑ה), em aramaico Ḥachmūth, ou se significa 'Aquela que dá a luz" - "Mãe". A forma siríaca Ḥachmūth foi utilizada por Bardesanes, já a forma grega é encontrada apenas entre os valentianos: o nome provavelmente deriva da mais antiga forma de gnosis siríaca.

Mitos de Sophia

Quase todos os sistemas gnósticos do tipo siríaco ou egípcio ensinaram que o universo iniciou com um original, impenetrável (ou incognoscível) Deus, chamado de "Pai" ou Bythos, ou como Mônade por Monoimus. Ele também pode ser equiparado ao conceito de Logos em termos estóicos, esotéricos ou teosóficos (a 'Raiz Desconhecida'), assim como ao Ein Sof da Kabbalah e Brahma no Hinduísmo. Deste começo unitário, o Uno emanou Aeons adicionais, em pares de seres progressivamente 'menores' em sequência. Em conjunto com a fonte que os emanou, eles formam o Pleroma - totalidade - de Deus que, portanto, não deve ser entendido como algo distinto do divino, mas abstrações simbólicas da natureza divina. A transição do imaterial para o material, do numenal ao sensível, foi causado por uma falha - ou paixão ou pecado - em um dos Aeons. Na maior parte das versões dos mitos gnósticos, é Sophia que traz instabilidade ao Pleroma, o que por sua vez provoca a criação da matéria. Assim, uma visão positiva ou negativa do mundo depende, em grande medida, da interpretação das ações de Sophia na mitologia. De acordo com alguns textos, a crise ocorreu como resultado de Sophia ter tentado emanar sem sua sizígia ou, em outra tradição, por que ela tentou quebrar a barreira entre ela e o Impenetrável Bythos. Após cair cataclismicamente do Pleroma, o medo e a angústia de Sophia por ter perdido sua vida (assim como ter perdido a luz do Uno) deixou-a confusa e com uma saudade incontrolável. Por causa dela, matéria (hylē', em grego: ὕλη) e alma (psychē, em grego: ψυχή) acidentalmente foram criadas. A criação do Demiurgo (também chamado Yaldabaoth, "Filho do Caos") também foi um erro ocorrido durante este exílio. O Demiurgo prossegue a criação do mundo físico onde vivemos, ignorante da existência de Sophia, que ainda assim consegue infundir alguma fagulha espiritual (Pneuma, em grego: πνευμα) na criação dele. Em Pistis Sophia, Cristo é enviado pelo Uno para trazer Sophia de volta à totalidade (Pleroma). Ele a habilita a ver novamente a luz, dando-lhe o conhecimento do espírito (Pneuma). Cristo é então enviado à Terra na forma de um homem (Jesus) para dar aos homens a Gnose necessária para que se libertem do mundo físico e retornem para o mundo espirítual. Para os gnósticos, o drama da redenção de Sophia através do Cristo (ou o Logos) é o drama central do universo.

Queda

Tentando reconciliar a doutrina da natureza pneumática de Sophia com a morada atribuída a ela nos Provérbios, no reino do "meio", fora portanto do reino superior de luz, foi imaginada uma queda de Sophia de sua morada celeste, o Pleroma, até o vazio (kenōma) abaixo dele. A idéia era a de um confisco ou roubo da luz, ou uma explosão e difusão do "orvalho da luz" até o kenōma, causado por um movimento criador de vida (vivificador) no mundo superior. Porém, ainda que a luz trazida até a escuridão deste mundo tenha sido compreendida e descrita como envolvida em sofrimento, este deve ser considerado como uma punição. Esta inferência é apoiada ainda pela noção platônica de queda espiritual.

Mitos da Alma

Alienadas de sua morada celeste por sua própria falta, as almas afundaram neste mundo inferior sem ter perdido de todo a lembrança de seu estado original. E, preenchidas pela saudade de sua herança perdida, estas almas caídas ainda se esforçam para subir. Desta forma, o Mito da queda de Sophia pode ser entendido como tendo um significado particular. O destino da "Mãe" foi considerado como protótipo do que seria repetido na história de cada alma individual, que, sendo de origem pneumática celeste, caíram de sua morada - um mundo superior de luz - e acabaram sob a influência de poderes malignos, de quem elas precisam aturar uma longa série de sofrimentos até que um retorno ao mundo superior lhes seja novamente possível. Mais ainda que, de acordo com a filosofia platônica, almas caídas ainda retenham a lembrança de sua morada perdida, esta noção foi preservada de outra forma nos círculos gnósticos. Ensinava-se que as almas dos pneumatici (detentores da Pneuma), tendo perdido a lembrança de sua derivação celeste, precisavam novamente se familiarizar com a Gnose, ou conhecimento desta essência pneumática, para que pudessem retornar à luz. E é nesta obtenção da Gnose que consiste a redenção trazida e confirmada por Cristo. Ensinava-se também que Sophia também precisava da redenção trazida por Cristo, por quem ela seria libertada de sua agnoia e sua pathe, e será, no fim do mundo, novamente trazida de volta à sua morada há muito perdida, o Pleroma superior.

Mētra (Útero)

Relacionada a Sophia está a noção amplamente difundida entre as seitas gnósticas sobre o impuro mētra (útero) de onde todo o mundo supostamente nasceu. De acordo com os valentianos italianos, o Uno abre o mētra de Sophia caída do Pleroma (enthymēsis - pensamento) e provoca a formação do universo, personificando assim o próprio mētra. Epifânio reporta que a cosmologia a seguir é a de um ramo dos nicolaítas:

No início existiam a Escuridão (Trevas), o Caos e as Águas (skotos, kai bythos, kai hydōr), mas o Espírito que vive dentro deles e entre eles os separou. Da miscigenação da Escuridão com o Espírito nasceu o mētra que novamente foi aceso com renovado desejo pelo Espírito; ela deu à luz primeiro quatro, e então outros quatro aeons, produzindo assim uma direita e uma esquerda, luz e trevas. Por último nasceu um aischros aiōn, que teve relações sexuais com o mētra. A prole desta relação são os deuses, anjos, demônios e espíritos.
  — Epifânio, Panarion, sobre os Nicolaítas.

Segundo Hipólito em Philosophumena, os setianos ensinaram que, de maneira similar, da primeira simultaneidade (syndromē) dos três primeiros princípios primais emergiram o céu e terra como uma megalē tis idea sphragidos. Eles têm a forma de um mētra com um Onfalos (umbigo) no meio. O mētra grávido contém em si todos os tipos de formas animais, um "reflexo" do céu e da terra, e todas as substâncias encontradas na região do "meio". Este mētra também é encontrado na grande Apophasis atribuída a Simão Mago onde ele afirma que o local onde o homem foi formado como sendo o Paraíso e o Éden.

Estas teorias cosmogônicas foram precedidas por Tiamat da mitologia síria, a mãe-da-vida de quem Berossus deve tanto, ou no "mundo-ovo" do qual, quando partido, procederam o céu, a terra e todas as coisas.

Seitas gnósticas

Barbeliotas

Muito similar às doutrinas gnósticas relatadas por Ireneu são as crenças dos assim chamados "Barbeliotas". O nome Barbelo, que de acordo com uma interpretação, é o nome da Tétrade superior, originalmente não tinha nada a ver com Sophia.

Segundo eles, Sophia, um Ser posterior, também chamado de Spiritus Sanctus and Prunikos é a prole do primeiro anjo que está ao lado do Monogenes. Sophia vendo que todos os outros tinham sua sizígia dentro do Pleroma, deseja ardentemente encontrar também um consorte para si. Não encontrando nenhum no mundo superior, ela olha para baixo, nas regiões inferiores, e estando ainda insatisfeita, para lá ela desce, contra a vontade do Pai, até as profundezas. Lá ela forma o Demiurgo (o Proarchōn), uma mistura de ignorância e auto-exaltação. Este Ser, por conta dos poderes pneumáticos roubados de sua mãe, segue então criando o mundo inferior. A mãe, por outro lado, foge para as regiões superiores e passa a morar lá, na Ogdóade.


"Plérome de Valentin," da Histoire critique du Gnosticisme; Jacques Matter, 1826, Vol. II, Plate II.


Ofitas

Sophia também aparece na literatura ofita, cujo 'Diagrama' é descrito por Celso e Orígenes, assim como entre várias facções gnósticas ofitas mencionadas por Epifânio. Lá, ela é chamada de Sophia ou Prunikos, a mãe superior e o poder superior, e está entronada sobre a Hebdomad (os sete céus planetários) na Ogdóade. Ela também é ocasionalmente chamada Parthenos e, novamente, é identificada como Barbelo ou Barbero.

Bardesanes

Mitos cosmogônicos também são parte da doutrina de Bardesanes. O locus foedus onde os deuses (ou Aeons) planejaram e construíram o Paraíso é o mesmo que o impuro mētra(útero), que Efrém se envergonhou até de dizer o nome. A criação do mundo aconteceu através do filho "daquele que vive" e de "Rūha d' Qudshā", o Espírito Santo, que é idêntico a Ḥachmūth, mas em combinação com "criaturas", ou seja, seres subordinados que cooperam com eles. Apesar de não estar expressamente indicado, é a inferência mais provável é que assim como a mãe e o pai, também sua prole (filhos "Daquele que Vive" e de Rūha d' Qudshā ou Ḥachmūth) também devem ser consideradas como Sizígias. Ḥachmūth dá a luz à duas filhas, a "Vergonha da terra seca" (mētra) e à "Imagem das águas" (Aquatilis Corporis typus), que é mencionada ligada à Sophia ofita. Ao dela, numa passagem evidentemente em referência a Bardesanes, ar, fogo, água e escuridão são mencionados como aeons. Estas são provavelmente as "criaturas" a quem, em conjunto com o Filho e Rūha d' Qudshā, acredita-se que Bardesanes creditou a criação do mundo. Embora muito ainda permaneça obscuro sobre as doutrinas de Bardesanes, não podemos simplesmente descartar os comentários de Ephraim, que continua sendo a mais antiga fonte siríaca para o nosso conhecimento sobre as doutrinas deste gnóstico siríaco. Bardesanes, segundo Ephraim, também falava sobre a esposa ou virgem que tendo caído do Paraíso Superior, oferece, durante seu abandono, preces pedindo ajuda do alto e, sendo ouvida, retorna aos prazeres do Paraíso Superior.

Escritos bíblicos

Livro dos Provérbios

A filosofia religiosa judaica se ocupou muito com o conceito da divina Sophia, como uma revelação do pensamento interno de Deus e atribuiu a ela não somente a formação e ordenação do universo natural como também a comunicação de toda percepção e conhecimento à humanidade. Em Provérbios 8:1 e seguintes, Sabedoria (substantivo feminino) é descrita como conselheira de Deus que habitava dentro dele antes da Criação do mundo e que faz muitas coisas diante Dele. De acordo com a descrição dada no Livro dos Provérbios, uma morada foi atribuída a Sophia pelos gnósticos e a sua relação com o mundo superior e também com os sete poderes planetários abaixo dela. As sete esferas planetárias (ou céus) eram para os antigos as regiões mais altas do universo criado. Eles eram entendidos como sete círculos subindo um sobre o outro e dominado por sete arcontes. Juntos, estes círculos constituíam a Hebdomad. Acima do mais alto, e sobre ela, estava a Ogdóade, a esfera de imutabilidade, e que estava próximado mundo espiritual. Diz Provérbios:

«A sabedoria edificou a sua casa, Cortou as suas sete colunas;» (Provérbios 9:1)

Estes sete pilares foram interpretados como sendo os céus planetários e a morada de Sophia foi colocada acima da Hebdomad, na Ogdóade. O livro bíblico diz ainda sobre a mesma sabedoria divina:

«No cume das alturas junto ao caminho, Nas encruzilhadas ela se coloca;» (Provérbios 8:2)

Na interpretação gnóstica, isso significa que Sophia tinha sua morada "no cume das alturas", sobre o universo criado, no lugar do "meio", entre o mundo superior e o inferior, entre o Pleroma e a ektismena. Ela se senta "Junto às portas, à entrada da cidade", ou seja, nas vias de aproximação aos reinos dos sete Arcontes e é na "entrada" do reino superior de luz que recebe seus elogios. A Sophia (Sabedoria) é portanto o governante superior sobre o universo visível e, ao mesmo tempo, a intermediária entre os reinos. Ela dá forma ao universo mundano com base nos protótipos celestes e forma os sete ciclos estelares com seus Arcontes e sob o domínio deles é colocado - de acordo com as concepções astrológicas da antiguidade - o destino de todas as coisas terrenas, especialmente o homem. Ela é a "Mãe" ou a "Mãe da Vida". Tendo vindo das alturas, ela é formada pela essência pneumática, a mētēr phōteinē or the anō dynamis,da qual todas as almas pneumáticas se originam.

Escritos apócrifos

Nag Hammadi

Nos textos da Biblioteca de Nag Hammadi, Sophia é o mais baixo dos Aeons ou a expressão antrópica da emanação da luz de Deus. Na obra Sobre a origem do Mundo, Sophia é mostrada como sendo a destruidora final do universo material, Yaldabaoth e todos os seus céus:

Ela Sophia irá jogá-los no abismo. Eles os Arcontes serão obliterados por conta de sua iniquidade. Pois eles serão como vulcões e consumirão uns aos outros até que perecerão nas mãos do principal entre seus pais. Quando ele os tiver destruído, ele irá se voltar contra si mesmo e se destruirá até que deixe de existir. E seus céus irão cair cada um sobre o próximo e suas forças serão consumidas pelo fogo. Seus reinos eternos também serão derrubados. E seu céu irá cair e partir-se-á em dois. Seus [...] irão cair sobre o [...] os suporta; eles irão cair no abismo, e o abismo será derrubado. A luz irá [...] a escuridão e obliterá-la: será como algo que nunca foi
  — Sobre a origem do Mundo.


Atos de Tomé

Os Atos de Tomé preservaram vários hinos cuja composição é do próprio Bardesanes ou obras de sua escola. Na versão siríaca do texto dos Atos, encontramos o Hino da Pérola, no qual Sophia foi enviada dos céus para capturar uma pérola guardada pela serpete. Uma vez no mundo inferior, ela se esqueceu de sua missão celeste até que relembrada por uma carta da "mãe, pai e irmão", executa então a tarefa, recebe de volta suas vestes gloriosas e retorna para sua antiga casa. Dos demais hinos, que estão preservados em grego e são mais fiéis que a versão siríaca, que sofreu uma revisão católica, o primeiro que merece atenção é Ode a Sophia, que descreve o casamento de uma "virgem" com o seu noivo celeste e a sua introdução no Reino Superior de Luz. Esta "virgem", chamada "filha da luz", não é - como supõe o revisor católico - a Igreja, mas Ḥachmūth (Sophia), acima da qual o "rei", ou seja, o Pai de toda a vida, está entronado; o noivo dela é, de acordo com a interpretação mais provável, o filho do Vivo (ou "Aquele que Vive"), Cristo. Com ela, os Vivos (as almas pneumáticas) entram no Pleroma e recebem a gloriosa luz do Pai Vivo e o adoram juntamente com o "espírito vivo", o "pai da verdade" e a "mãe da sabedoria". A Sophia também é invocada na Primeira Oração de Consagração. Ela é ali chamada de "mãe piedosa", "consorte do masculino", "reveladora dos mistérios perfeitos", "mãe das Sete Casas" (Hebdomad) que "encontra repouso na oitava casa" (Ogdóade). Na segunda Segunda Oração de Consagração ela é chamada de "perfeita Misericórdia" e "Consorte do Masculino", mas é também chamada de "Espírito Santo" (Rūha d' Qudshā) "Revelador de Mistérios de toda Magnitude", "Mãe escondida", "Aquela que sabe os Mistérios dos Eleitos" e "aquela que participou dos conflitos do nobre Agonistes" (Cristo). Há ainda mais adiante um resquício direto da doutrina de Bardesanes quando ela é invocada como a "Pomba Sagrada" que deu à luz os dois gêmeos (as duas filhas de Rūha d' Qudshā).

Pistis Sophia

Um desenvolvimento especial e ricamente escrito aparece na forma mítica de Sophia no livro gnóstico Pistis Sophia. Os dois primeiros livros desta obra, muito bem nomeada Pistis Sophia, tratam em grande parte da queda, arrependimento e redenção de Sophia. Ela tinha, por ordem dos poderes maiores, obtido uma visão breve de sua morada no mundo espiritual, o thēsauros lucis que fica além do décimo terceiro Aeon. Através de seus esforços em direcionar para lá a sua ascensão, ela acaba atraindo a inimizade de Authadēs, Arconte do décimo-terceiro Aeon, e dos Arcontes do décimo-segundo também, que estavam sob ele. Por eles, ela é atraída até as profundezas do caos e atormentada de uma enorme variedade de formas para que perca a sua natureza de luz. No limite de suas necessidades, ela endereça treze preces penitentes (metanoiai) para a Luz Superior. Passo-a-passo ela é erguida até Christus nas regiões mais altas, embora ela ainda esteja ofendida pelos ataques dos Arcontes, e seja, após lhe ser oferecido morada no décimo-terceiro (Metanoia), mais veementemente atacada do que nunca, até que enfim Christus a leva para um lugar intermediário abaixo do décimo-terceiro Aeon, onde ela permanece até o fim do mundo, oferecendo hinos de gratidão aos céus. O trabalho terreno de redenção tendo sido completado, a Sophia então retorna à sua morada celeste.

A característica peculiar desta representação está no desenvolvimento adicional das idéias filosóficas que geralmente já fazem parte do Mito de Sophia. Aqui ela não é meramente, como em Valentim, representativa da saudade que um espírito finito sente pelo conhecimento do infinito, mas também a um tipo de padrão de fé, arrependimento e esperança.

Mais um resquício da Sophia dos antigos sistemas gnósticos também pode ser encontrado em Pistis Sophia na figura da "Donzela-Luz" (ou "Donzela de Luz" - parthenos lucis), que é claramente distinta de Sophia e aparece como um arquétipo de Astraea, a constelação de Virgo.

Livro de Baruque

Um papel similar ao de mētra é desempenhado por Edem, consorte de Elohim no livro gnóstico Baruque, onde aparece como um monstro, com cabeça de mulher e corpo de serpente.

Entre os vinte e quatro anjos que ela dá luz de Elohim e que forma o mundo pelos seus membros, a segunda forma angélica feminina é chamada Achamōs (Achamōth).

Similar a esta história contada no Philosophumena sobre a Gnose de Baruque é a que foi relatada por Epifânio sobre uma festa ofita em que eles inventaram que uma serpente do mundo superior havia tido relações sexuais com a Terra na forma de uma mulher.

Sistemas gnósticos

Simão Mago

O Mito da Alma e sua descida até o mundo inferior, com seus vários sofrimentos e mudanças de sorte até a libertação final aparece também no sistema simoniano sob a forma da "Mãe de Todos" é emitida como primeiro pensamento do Hestōs ou poder maior de Deus. Ela geralmente tem o nome de Ennoia, mas também é chamada de Sabedoria (Sophia), Regente, Espírito Santo, Prunikos e Barbelo. Tendo caído dos mais altos céus até as regiões mais profundas, ela cria anjos e arcanjos e estes, por sua vez, criam e governam o universo material. Aprisionada pelo poder deste mundo inferior, suas tentativas de voltar ao reino do Pai são frustradas. De acordo com uma das representações, ela sofre toda sorte de insultos dos anjos e arcanjos, presos à força seguidamente em renovados corpos terrestre e compelidos por séculos a vagar em cada vez numa nova forma corpórea. De acordo com outro relato, ela é em si incapaz de sofrimento, mas é enviada a este mundo inferior e submete-se à perpétuas transformações para excitar com sua beleza os anjos e poderes, para impeli-los a engajarem-se na luta perpétua e assim privá-los do seu estoque da fagulha (luz) celeste. Em algum momneto, Hestōs desce do mais alto céu num corpo fantasmagórico para libertar a Ennoia sofredora e para redimir as almas presas em cativeiro dando-lhes a Gnosis (Conhecimento).

A forma mais frequente de denominar a Ennoia entre os simonianos é "a perdida" ou "ovelha vagante". As divindades gregas Zeus e Atena já foram interpretados como significando Hestōs e sua Ennoia, e de forma similar, os deuses de Tiro, o deus-sol Herakles-Melkart e a deusa-lua Selene-Astarte. E também a homérica Helena, como sendo a causa da guerra entre os gregos e os troianos, já foi considerada como sendo a Ennoia. A história que os pais da Igreja nos deixaram sobre a relação sexual entre Simão Mago e sua consorte Helena teve provavelmente sua origem nesta interpretação alegórica.

Valentim

O mais importante desenvolvimento do Mito de Sophia é encontrado no sistema valentiano. A queda de Sophia do Pleroma é atribuída à maneira de Platão de "cair", e como causa final desta queda é apontado um estado de sofrimento que penetrou no próprio Pleroma. Sophia ou Mētēr é, na doutrina de Valentim, o último, ou seja, o décimo-terceiro Aeon no Pleroma, do qual tendo caído, num estado de saudade profunda do mundo melhor que ela perdeu, deu à luz os Christus "com uma sombra" (meta skias tinos). Enquanto Christus retorna ao Pleroma, Sophia forma o Demiurgo e todo o mundo inferior, criado a partir do skia, um princípio dual de esquerda e direita. Para a redenção de Sophia, ou o próprio Christus ou o Soter descem para ajudá-la a retornar ao Pleroma e uni-la novamente com a seu syzygos. O motivo da queda de Sophia foi definido de acordo com o ensinado pela escola de Anatólia, de que pelo seu desejo de saber o que havia além dos limites do cognoscível, ela se colocou num estado de ignorância e sem forma. Seu sofrimento então se estendeu por todo o Pleroma. Por isso, ela acabou separada dele e deu à luz fora dele (através da sua ennoia, suas lembranças do mundo superior), ao Christus, que imediatamente ascende ao Pleroma. Em seguida, ela produz um ousia amorphos, a imagem de seu sofrimento, do qual o Demiurgo e o mundo inferior se originam. Por fim, olhando para cima em sua condição miserável e implorando pela luz, ela finalmente dá a luz a spermata tēs ekklēsias, as almas pneumáticas. Na sua obra de redenção, o Soter desce, acompanhado por anjos masculinos que deverão se tornar os futuros syzygoi das almas (femininas) dos Pneumatici. Então, ele introduz Sophia e estes Pneumatici na câmara nupcial celeste.

Ptolomeu

A escola italiana destacou uma Sophia dualista, a ano Sophia e a katō Sophia (ou Achamoth). De acordo com a doutrina de Ptolomeu e de seus discípulos, a primeira se separou de sua syzygos, o thelētos, por causa de seu corajoso desejo de uma Comunhão imediata com o Pai de tudo, caiu para uma condição de sofrimento e iria derreter-se totalmente neste desejo, não tivesse Horos a purificado de seu sofrimento e a restabelecido no Pleroma. A sua enthymēsis, por outro lado, o desejo que ganhou controle sobre ela e o sofrimento causado por ele se tornaram um amorphos kai aneideos ousia, que também é chamado de ektrōma, foi separado dela e colocado num lugar além dos limites do Pleroma.

Maniqueísmo

A "Donzela-Luz" (parthenos tou phōtos), de Pistis Sophia, também é encontrada entre os maniqueístas excitando os desejos impuros dos demônios e assim libertando a luz que até então tinha sido aprisionada pelos poderes das trevas. Por outro lado, o lugar da Sophia gnóstica entre os maniqueístas é tomado pela "Mãe da Vida" (mētēr tēs zōēs) e pela Alma do Mundo (psychē hapantōn), que frequentemente se distingue da Mãe-Vida, e é considerada como difundida em todas as criaturas vivas, cuja libertação do reino das trevas constitui toda a história do mundo.

Gnosticismo Siríaco

O Mito de Sophia sofreu uma série de tratamentos nos vários sistemas gnósticos. O mais antigo, o Gnosticismo siríaco, se refere a Sophia como a formação do mundo inferior e a produção de seus regentes, os Arcontes, e também atribui a ela a preservação e propagação da semente espiritual.

Como descrito por Ireneu, a grande Mãe do universo aparece como a primeira mulher, o Espírito Santo (rūha d'qudshā) se movendo sobre as águas, também chamada de Mãe da Vida. Abaixo dela estão quatro elementos materiais: água, escuridão, abismo e caos. Com ela, se fundem as duas luzes supremas masculinas, o primeiro e o segundo homem, o Pai e o Filho, este último sendo chamado de "Ennoia" do Pai. Desta união nasce uma terceira luz imortal, o terceiro homem, Cristo. Mas incapaz de aguentar a abundante plenitude da luz, a Mãe - no nascimento do Cristo - deixa uma parte desta luz escapar para a esquerda. Então, enquanto Cristo, como dexios (O do lado direito) sobe com sua Mãe aos céus, a outra luz que transbordou do lado esquerdo afunda no mundo inferior e lá dá origem à matéria. E esta é a Sophia, chamada também de Aristera (A do lado esquerdo), Prouneikos (A libidinosa) e a masculina-feminina.

Não há neste mito uma compreensão de "queda" propriamente dita, como no sistema valentiniano. O poder que transbordou à esquerda desceu voluntariamente nas águas inferiores, confiando na posse da fagulha da luz verdadeira. Adicionalmente, é evidente que embora mitologicamente diferente da humectatio luminis (ikmas phōtos, em grego: ἰκμὰς φωτός), a Sophia é ainda nada mais que uma fagulha vinda de cima, entrando neste mundo material e se tornando aqui a fonte de toda criação, tanto das formas superiores quanto inferiores de vida. Ela navega sobre as águas e coloca sua até então imóvel massa em movimento, dirigindo-as ao abismo e toma para si a forma corporal de hylē (matéria). Ela viaja por todos os lados e é carregada com todo tipo de peso e substância material até que, com exceção da fagulha da luz, ela afunda e se perde na matéria. Presa ao corpo que ela assumiu e pesada por causa dele, ela luta em vão para escapar das águas profundas e correr para sua mãe celeste, no alto. Não tendo sucesso nesta empreitada, ela procura preservar, pelo menos, a fagulha de luz de ser danificada pelos elementos inferiores, para isso elevando-se por seus próprios poderes até a região mais alta e se espalha por toda ela, formando com seu próprio corpo o firmamento visível, ainda que mantendo sua aquatilis corporis typus (Imagem das Águas). Finalmente, tomada por uma saudade enorme da luz superior, ela encontra em si, depois de muito esforço, o poder de elevar-se acima do céu de sua própria criação e de abandonar complemente sua existência corporal. O corpo abandonado é chamado de "Mulher da Mulher".

A narrativa prossegue contando sobre a formação dos sete Arcontes pela própria Sophia, sobre a criação do homem, que "a Mãe" (não a primeira mulher, mas Sophia) se utiliza como um estratagema para retirar dos Arcontes sua parte na fagulha de luz, sobre o perpétuo conflito da parte de sua mãe contra os esforços dos egoístas dos Arcontes e sobre a contínua luta de Sophia para recuperar a fagulha de luz escondida na natureza humana. Finalmente, Cristo vem em seu apoio e, em resposta às suas orações, coleta todas as fagulhas para Si, une-se com Sophia como noivo e noiva, desce em Jesus, que tinha sido preparado por Sophia como um "veículo mais puro" para recebê-lo, e retira-se novamente antes da crucificação, ascendendo com Sophia até um mundo imortal. Neste sistema, o significado cosmogônico de Sophia ainda permanece em destaque. A antítese de Cristo e Sophia, como "Ele do lado direito" (ho dexios) e "Ela do lado esquerdo" (hē aristera), como masculino e feminino, não é mais do que a repetição da primeira antítese cosmogônica em outro formato. A Sophia em si nada mais é do que uma cópiada "Mãe da Vida" e é, portanto, chamada "Mãe". Ela é a formadora do céu e da terra, pois a mera matéria só recebe forma através da luz que, vinda de cima, interpenetrou as águas escuras do hylē.


Apoteose de Homero. A direita do altar, da esquerda para a direita, História, Poesia, Tragédia e Comédia, então Natureza (Physis), Virtude (Arete), Memória (Mneme), Boa fé (Pistis), Sabedoria (Sophia). Relevo em mármore, provavelmente feito em Alexandria, Egito ptolemaico, 225–205 aC. de Bovillæ na Via Ápia.

Pistis Sophia



Pistis Sophia é um importante texto Gnóstico. As cinco cópias remanescentes, que os estudiosos datam do período entre 250 a 300 dC, relatam os ensinamentos Gnósticos de um Jesus transfigurado aos apóstolos (incluindo Maria de Magdala, Maria, mãe de Jesus e Marta), quando o Cristo ressuscitado havia passado supostamente onze anos falando com seus discípulos. Nele as estruturas complexas e as hierarquias celestes familiares nos ensinamentos Gnósticos são reveladas.

Os manuscritos

O mais conhecido dos cinco manuscritos de "Pistis Sophia" está amarrado com um outro texto gnóstico numa encadernação intitulada "Piste Sophiea Cotice". Este Códice Askew foi adquirido pelo Museu Britânico em 1795 de um certo Dr. Askew. Até a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi em 1945, o Códice Askew era um dos três códices que continham quase todos os escritos gnósticos que sobreviveram à eliminação dessa literatura, sendo os outros dois o Códice Bruce e o Códice de Berlim. A menos dessas fontes, tudo o que foi escrito sobre o Gnosticismo antes de Nag Hammadi é baseado em citações, caricaturas e inferências a partir dos escritos dos Pais da Igreja, inimigos do Gnosticismo. O objetivo destes textos era polêmico, apresentando os ensinamentos Gnósticos como absurdos, bizarros, egoístas e como uma heresia aberrante do ponto de vista do Cristianismo Paulino ortodoxo.

Pistis Sophia

O título Pistis Sophia é obscuro e é, às vezes, traduzido como Sabedoria da Fé, Sabedoria na Fé ou Fé na Sabedoria. Uma tradução mais exata, levando em conta seu contexto gnóstico, é "a fé de Sophia", uma vez que Sophia para os gnósticos era a sizígia divina do Cristo, e não uma simples palavra significando sabedoria. Numa versão anterior e mais simples de uma Sophia (Sophia de Jesus Cristo) no Códice de Berlim e também encontrado em um papiro em Nag Hammadi, o Cristo transfigurado explica Pistis de um modo bastante obscuro:

Novamente, seus discípulos disseram: "Diga-nos claramente como eles desceram das invisibilidades, do imortal para o mundo que morre?"
O perfeito Salvador disse: "O Filho do Homem entendeu-se com Sophia, sua consorte, e revelou uma grande luz andrógina. Seu nome masculino é designado Salvador, progenitor de todas as coisas. Seu nome feminino é designado 'Todo-progenitora Sophia'. Alguns a chamam de Pistis".”
  — Desconhecido, Sophia de Jesus Cristo.

Autor

O texto é geralmente atribuído à Valentim. Porém, como G.R.S. Mead afirma que:

Não é por causa de nenhum elemento do pensamento Helênico no estudo dos Aeons, que se sabe ser o caso nos ensinamentos de Valentim, que levou tantos a conjecturar que o texto seria uma derivação valentiana. Foi o algo long episódio do sofrimento de Sophia que os influenciou. Este episódio reflete, num nível mais baixo da escala cósmica algo do intuito (motif) do mito trágico da Anima Mundi, invenção geralmente atribuída ao próprio Valentimm embora ela possa ter possivelmente transformado ou trabalhado sobre material ou noções já existentes.
  — Pistis Sophia, G.R.S Mead.

Conteúdo

O texto proclama que Jesus permaneceu no mundo após a ressurreição por onze anos e foi capaz nesse tempo de ensinar a seus discípulos até o primeiro (isto é, inicial) nível do mistério. Começa com uma alegoria fazendo um paralelo entre a morte e ressurreição de Jesus e descrevendo a descida e a ascensão da alma. Em seguida, prossegue descrevendo figuras importantes na cosmologia gnóstica e então, finalmente, lista trinta e dois desejos carnais que devem ser superados antes que a salvação seja possível, sendo esta superação a própria salvação.

Pistis Sophia inclui ainda citações de cinco das Odes de Salomão, encontradas nos capítulos entre o 58 e o 71. Esta era a única fonte conhecida para o texto original de quaisquer das Odes até a descoberta de uma cópia quase completa em siríaco das Odes em 1909. Ainda assim, como a primeira parte está faltando neste manuscrito, Pistis Sophia continua sendo a única fonte para a primeira Ode.

Esquema do texto

Abaixo um esquema do texto proposto por G.R.S. Mead em seu texto Pistis Sophia, escrito em 1924:

O Inefável.

Os Membros do Inefável.

I. A Mais Alto Mundo de Luz ou Reino de Luz.

i. O Primeiro Espaço do Inefável.
ii. O Segundo Espaço do Inefável.
iii. O Terceiro Espaço do Inefável ou o Segundo Espaço do Primeiro Mistério.
II. O Mais Alto (ou "no Meio") Mundo de Luz.

i. O Tesouro da Luz.

1. As Emanações da Luz.
2. A Ordem das Ordens.

ii. A Região da Direita.
iii. A Região do Meio.
III. A Luz Mais Baixa ou Mundo dos Aeons ou a Mistura da Luz e Matéria.

i. A região da Esquerda.

1. O Décimo-Terceiro Aeon.
2. Os Doze Eons.
3. O Destino.
4. A Esfera.
5. Os Governantes dos Modos do "Meio" (mais baixo) .
6. O Firmamento.

ii. O Mundo (Kosmos), especialmente a Humanidade.
iii. O Mundo das Profundezas.

1. O Amente.
2. O Caos.
3. As Trevas Exteriores.

Sofia de Jesus Cristo

A Sophia de Jesus Cristo é um dos muitos textos Gnósticos nos códices da Biblioteca de Nag Hammadi (códice III), descoberta no Egito em 1945. O título é algo misterioso, pois embora "Sophia" seja Sabedoria em grego, num contexto Gnóstico "Sophia" é a sizígia de Cristo.

Origem

O manuscrito copta foi datado como sendo do século IV dC, embora tenha sido complementado por uns poucos fragmentos em grego datados do século III dC, implicando numa data anterior. O texto tem forte similaridade com a Epístola de Eugnostos, texto anterior no códice III, mas um pouco expandido e com uma "moldura" mais Cristã.

O debate sobre a data do texto é crítico, pois alguns argumentam que ele reflete o "verdadeiro relato dos ditos de Jesus", o que é possível apenas se o texto for datado no século I dC. Outros argumentam que ele é, de fato, consideravelmente mais novo e constitui uma fonte secundária e não confiável (na melhor das hipóteses um rumor post facto).

Conteúdo

A maioria dos estudiosos argumenta que o texto é de origem Gnóstica, baseado nas similaridades entre os ensinamentos místicos encontrado no texto e os temas padrão dos Gnósticos. Fortemente místico, o conteúdo deste texto relata a criação de deuses, anjos e o universo com ênfase na verdade infinita e metafísica.

O Salvador perfeito disse: "[Você] Vem das coisas invisíveis até o fim daquelas que são visíveis e a emanação do Pensamento irá revelar a vocês como fé naqueles que são invisíveis foi encontrada naqueles que são visíveis, naqueles que pertencem ao Pai Ingênito [ou Não-Nascido]. Aquele que tiver ouvidos para ouvir, ouça!
  — Desconhecido, Sophia de Jesus Cristo.

O texto é composto por treze questões dos discípulos (e de Maria), seguidas por breves discursos de Jesus dados em resposta:

Sobre a vaidade e futilidade da busca de Deus.
Como encontrar a Verdade apenas explicando o que ela não é.
Como a verdade foi revelada aos Gnósticos no início dos tempos.
Como é preciso despertar para ver a Verdade.
Sobre o início de tudo.
Como a humanidade chegou à Gnosis.
Sobre a posição de Jesus.
Sobre a identidade de Jesus.
Como o espírito se conecta ao mundo material.
Sobre o número de espíritos.
Sobre a imortalidade.
Sobre aqueles que são imateriais.
A questão final é sobre a origem da humanidade e qual o seu propósito.

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...