A Bíblia contém, além dessas citações trazidas no capítulo anterior – como se encontrará mencionado na Concordância Bíblica de Cruden, sob as diversas formas da palavra “sabedoria”, “conhecimento” e “compreensão” – várias passagens nas quais, ao insistir na necessidade de compreender o sentido velado da Escritura, estão implícitas, ao mesmo tempo, a existência de tal sentido e a possibilidade de compreendê-lo.
E a mesma autoridade enumera não menos que cinco maneiras diferentes em que a Escritura deve ser interpretada, chamando-as de Gramatical, Histórica ou Literal, Alegórica ou Figurativa, Analógica, e Tropológica ou Moral.
Mesmo essa, contudo, não é uma lista exaustiva, uma vez que falha em incluir o sentido intuitivo, e aquele que é o mais interno e divino sentido especificamente visado, e que é o sentido que constitui a Gnose, ou corpo da doutrina da qual o Cristo é a concretização e a demonstração individual. É essa doutrina que – estando, em razão da sua segurança, enterrada profundamente nas Escrituras – é chamada por Jesus “a lei e os profetas”, “Abraão, Isaac e Jacó”, os “Mistérios do reino do céu”, o “conhecimento” – Gnosis – da qual o Sacerdotalismo removeu a chave para a compreensão, e assim por toda a Bíblia removeu a “lei” e a “palavra de Deus”.
Essa é a doutrina conhecida desde os mais remotos tempos por todos os iniciados nos mistérios divinos – pois nem todos os mistérios são divinos – como a Gnose Hermética, e a qual os Rabinos da Cabala afirmam ter sido a primeira dada por Deus a Adão no Paraíso, e depois novamente dada a Moisés no Sinai.
E foi para salvar essa doutrina do cativeiro do “Egito” de um Sacerdotalismo que se tornou totalmente corrupto, e para transplantá-la para condições favoráveis à sua preservação e realização, que Moisés guiou seu povo para o deserto.
Essa é a doutrina cuja restauração – por meio da mesma faculdade pela qual ela sempre foi, ou poderá ser, compreendida – a Escritura declara repetidamente que ainda será o meio da regeneração do mundo, descrevendo a época e as condições de tal restauração como precisamente as condições que estão dadas agora.
E essa é a doutrina cuja nova enunciação em nossos próprios dias constitui o “Novo Evangelho da Interpretação”.
Agora, quanto ao sentido interior e aos múltiplos significados da escritura sagrada, a “Nova Interpretação” discorre como segue: –
“Todas as Escrituras que são a verdadeira Palavra de Deus têm uma dupla interpretação, a intelectual e a intuicional, a aparente e a velada.
Pois nada pode vir de Deus a não ser aquilo que é frutífero.
Tal como é a natureza de Deus, assim é a Palavra da boca de Deus.
A letra sozinha é estéril; o espírito e a letra dão vida.
Mas a Escritura que é a mais elevada é aquela que é mais fartamente frutífera e que trás significados em abundância.
Pois Deus é capaz de dizer muitas coisas em uma, como o ovário saudável contém muitas sementes em seu cálice.
Portanto, há nas Escrituras da Palavra de Deus certos escritos que, como árvores que dão muitos frutos, ofertam mais abundantemente do que outros no mesmo jardim sagrado.
E um dos mais elevados é a história da criação do céu e da terra.
Pois nela está contida em ordem uma genealogia, a qual tem quatro ramos, como um rio dividido em quatro braços, um escrito extraordinariamente rico.
E a primeira dessas criações é a dos Deuses.
A segunda é a do reino do céu.
A terceira é aquela do mundo visível.
E a quarta é aquela da Igreja de Cristo.”