sábado, 11 de fevereiro de 2017

Biografia Comenius (Especial)



A Vida e a Obra de J. A. Comenius

A Época e as Tradições

A obra de Coménio ilustra o melhor possível a largueza e profundidade da sua erudição. Ao estudar a história da sua cultura europeia, inspirou-se nos princípios correntes da antiguidade e do cristianismo. Contudo, ele não notou somente as ideias dos filósofos gregos e romanos comuns, tal como Sócrates, Platão, Aristóteles e outros, que tinham desenvolvido o ideal da educação universal.

Coménio citava muitas vezes autores, acrescentando a base ética e o sentido da vida na respectiva época, a que não se atribuía grande importância. A acentuação dos aspectos éticos nestes autores (como por exemplo Cícero, Séneca e outros) tinha encontrado de facto terreno propício nas tendências moralizadoras da época da Reforma checa, por meio da qual recebia e desenvolvia os ideais do cristianismo. Não é nada de admirar que o seu autor cristão preferido tivesse sido S. Agostinho, que também era muito estimado pela reforma checa. Mas Coménio referia-se também ao nome de outros autores, particularmente àqueles que se tinham reconciliado com as tradições do cristianismo primitivo e com os seus valores, tal como a simplicidade, a fé activa e a justiça social às quais a Reforma checa estava muito ligada. Coménio, instruído e formado nas tradições da Reforma checa, que é designada como a primeira Reforma europeia. Coménio tinha também grande predilecção por outras correntes da Reforma: o luteranismo, o calvinismo e o zuinglianismo, sem, portanto, aceitar a doutrina luterana sobre a salvação pela simples fé (sola fide) ou o ensino calvinista sobre a predestinação. Ele não se fechava na sua confissão, mas bebia também nas obras dos autores católicos, onde se sentia impelido para a sua criação (por exemplo: os autores do Renascimento, Nicolau de Cusa. Tomás Campanela e outros).

Apreciava decididamente o humanismo e o Renascimento, que retomaram e desenvolveram os ideais da cultura antiga. Coménio é muitas vezes qualificado de reformador humanista, se bem que esta característica seja insuficiente para abranger toda a extensão da sua obra.

Na época, houve duas sociedades europeias avançadas no plano social, político e cultural - a neerlandesa e a inglesa - que tiveram impacto positivo em Coménio. Na luta social, política e religiosa dos Neerlandeses contra o poder espanhol dos Habsburgos, uma luta coroada de sucessos, ele via um exemplo encorajador para a luta do seu povo contra os Habsburgos austríacos. No princípio do séc. XVII, no decurso da revolução neerlandesa (1566-1609), mas, praticamente, até 1648, apareceu na carta geográfica uma república neerlandesa, burguesa e calvinista, onde estava sempre vivo o espírito de tolerância legado por Erasmo de Roterdão (1467-1536), autor humanista preferido por Coménio, graças às pesquisas científicas e ao desenvolvimento cultural global, os Países Baixos atingiram, de facto, um desenvolvimento notável, que Coménio seguia com admiração.

Coménio estava a par dos escorços que tinham em vista elevar o nível a instrução em Inglaterra. O conflito entre o Parlamento e o poder dos Stuartes, durante a revolução inglesa (1640-1660), dirigida por Oliver Cromwell (1599-1658), terminou com a proclamação da república. Novos horizontes se abriram então à realização de reformas no ensino, na qual Coménio igualmente participou durante a sua estadia na Inglaterra, no princípio dos anos quarenta. Era uma situação favorável à actividade de novos inventores que muitas vezes se inspiravam na obra do filósofo inglês Francisco Bacon e nos seus incitamentos nas pesquisa científica.

Foram também registados esforços reformadores algures na Europa. Era o caso, por exemplo, da Fraternidade Rosacruz, que se propôs, como objectivo, depurar os costumes da humanidade, baseando-se no cristianismo (Coménio tinha particular respeito por J. V. Andreia, 1586-1654). Naquela época eram muitas as tentativas para melhorar o ensino do latim e reformar o sistema escolar de maneira que ficasse adequado aos conhecimentos da ciência do Renascimento.

No entanto, se quisermos descobrir as raízes da ideia do aperfeiçoamento permanente de Coménio, devemos procurá-las na Unidade dos Irmãos, uma pequena Igreja da Reforma checa, porque de facto era lá que Coménio, o seu último bispo, recebeu as bases da sua formação. A Unidade dos Irmãos viu o dia em 1457 (constituída como Igreja em 1467), depois da derrota da ala radical dos hussitas. O seu objectivo era continuar a propagação do ideal do cristianismo depurado: mas, diferentemente dos hussitas, ela optou pela via pacífica, com o espírito das ideias de Petr Chelcicky, pensador do sul da boémia. Crítico implacável das ambições políticas do papa, Chelcicky opôs-se contudo categoricamente a todos as espécies de violências. Na sua vida quotidiana e na prática, os Irmãos ligavam, com efeito, uma importância particular justamente a este aspecto pacífico. Coménio sistematizou esta prática na sua teoria sobre a cultura de toda a vida de todos os homens na sua Pampaedia.

Ao mesmo tempo, a Unidade dos Irmãos renuncia ao isolamento do mundo e os seus membros tornam-se mesmo propagadores da cultura humanista da Reforma e empenham-se na vida política. É o caso, por exemplo, de Jan Beahoslav (1523-1571), é também o caso do próprio Coménio.

A Unidade foi sempre uma Igreja minoritária (sendo utraquistas cerca de um décimo da população dos países checos, e um pouco mais de um décimo somente de católicos, Irmãos e membros doutras seitas), mas o número de escritores e de pensadores daquela época recrutavam-se precisamente entre os seus membros. A ideia do aperfeiçoamento permanente, traço característico da Unidade, foi, passado tempo, muito apreciada pelo historiador Frantisak Placky, autor da primeira biografia séria de Coménio. Os Irmãos desenvolveram esta ideia como ensino gradual de todos: os principiantes, os avançados e aqueles que aspiravam à perfeição. Pode-se encontrar aí a continuidade com a doutrina e João Hus, falando daqueles que aprendem, que progridem e que sabem (isto é, dos homens virtuosos). É com base nesta sucessão que Coménio desenvolveu o seu sistema de instrução para toda a gente.

Antes de Coménio, foi criada uma tradição importante pelos utraquistas e pelos Irmãos na confissão checa defendendo o espírito de tolerância das principais correntes da Reforma checa, sem tocar nos caracteres específicos de cada um deles. A luta nacional, política e religiosa para o renascimento da confissão checa pelos soberanos do Reino da Boémia, Maximiliano II e Rudolfo II, terminou pela sua legalização, em 1609, nas Letras da Majestade Rodolfo.

No século XVI, o Reino da Boémia, abarcando a Boémia, a Morávia, a Silésia e a Baixa Lusácia, era confrontado com enormes dificuldades de natureza social, política, religiosa e cultural. Isto marcou a vida de Coménio, assim como toda a sua época. A chegada dos Absburgos ao trono da Boémia, em 1526 e os seus esforços para formarem uma monarquia absburguesa na europa central, ao lado da ala espanhola, significaram a consolidação do absolutismo monárquico com a base no catolicismo em todos os países da Europa central. Os direitos dos estados, respeitados profundamente sobretudo no território do Reino da Boémia, foram naturalmente ameaçados por tudo isso. A primeira revolta contra os Habsburgos conduzida pelos estados checos, indignados também pelas represálias absburguesas contra as cidades dos Países Baixos, foi reprimida. Fernando I vingou-se então cruelmente das cidades. Uma das consequências disso foi também a primeira vaga de emigração. Muitos Irmãos refugiaram-se na Polónia perante as perseguições como resultado da sua participação na revolta.

O conflito entre o poder dos estados dos países checos e o poder da casa de Habsburgo, entre a Reforma e a nova catolicização (os jesuítas foram chamados a Praga em 1556), culminou na insurreição dos estados contra Fernando II, 1618-1620, no seu destronamento e na entronização de Frederico o Palatino, genro do rei da Inglaterra. Esta guerra , dita checa (1618-1620), vem a ser a primeira fase duma guerra de trinta anos para o poder na Europa. As simpatias de Coménio estavam do lado da oposição antiabsburguesa dos “corpus evangelicorum” aos quais pertenciam os países do Norte da Europa e do Oeste, principalmente a Suécia, a Dinamarca, os Países Baixos, os soberanos da Alemanha e da Inglaterra. As coligações mudavam, certamente, no decurso da guerra dos Trinta Anos (1618-1648), em particular após a entrada da França no estado de guerra contra os Absburgos (1635) e outros países a isso igualmente se ligarem, tais como por exemplo, a Transilvânia, sob o reinado dos Rakoczi.

A guerra dos Trinta Anos e a derrota dos estados checos em 1620, produziram, pois, um duro golpe não somente na nação checa na sua unidade, mas também em Coménio, pessoalmente. Perseguido na sua pátria depois de 1620, viu-se obrigado a deixá-la para sempre em 1628. Ele via com grande mágoa a fim da cultura humanística desenvolvida da Reforma no seu país, assim como a emigração de cerca de 30 000 famílias dos burgueses e dos nobres que se recusaram a renunciar á sua fé; e também a sorte dos outros habitantes (a população do campo, servos da gleba, não podia abandonar o país), vítimas duma nova catolicisação pela força. Somente determinados letrados conservaram secretamente as tradições da Reforma até ao fim do renascimento nacional checo no fim do sédulo XVII.

A Infância e a Juventude

Coménio é originario do Sul da Morávia. É principalmente a partir das suas citações ocasionais nas suas obras, em particular nas suas compilações polémicas, e da correspondência de Coménio e dos seus contemporâneos que podemos reconstituir a sua infância e a sua juventude. Nasceu em 28 de Março de 1592, mas não existe nenhuma prova directa no que toca ao lugar do seu nascimento. Na bela paisagem do Sudoeste da Morávia, há três comunas que se referem à infância de coménio: Komna, donde provém seu pai Martinho e sua mãe Ana, e onde habitavam os seus parentes próximos; Uhersky Brod, onde o pai era um burguês respeitável e rico; Nivnice, onde o pai possuía um moinho, segundo a tradição.

Coménio cresceu em Uhersky Brod, no ambiente da Unidade dos Irmãos de que os pais são membros. Desde tenra idade, inspirado no amor às Escrituras, a disciplina e a ordem, de que ele se lembrava mais tarde, o amor ao trabalho, a verdade, e também a tolerância. Órfão depois de 1604, viveu em casa da sua tia em Stratznice, no Sul da Morávia. É aí que ele vê, com os seus próprios olhos, os primeiros horrores da guerra, quando o exército húngaro de I. Boczkai, revoltado contra os Habsbourg, entra na Morávia e queima Straznice. A intenção inicial de Boczkai - de encorajar os estados morávios a juntarem-se à revolta - estava na realidade em contraste com o comportamento dos seus soldados, que devastavam o país como se fossem inimigos. Com treze anos, Comémio perde o seu domicílio provisório em casa da tia e vive provavelmente com tutores em Nivnice.

Formação Académica (1608-1614)

Na Morávia

A sua educação é, à primeira vista, bastante negligenciada. É somente na idade de dezasseis anos que entra na escola latina que a Unidade possui em Prerov, na Morávia central. Graças a Carlos de Zerotin, Senhor de Prerov, a escola tinha um bom nível, o que permitiu a Coménio preparar-se bem para os estudos superiores. Então, passados três anos, passa para a escola superior em Herborn, depois para Heidelberg, onde prosseguiu os seus estudos em várias escolas superiores na Suíça e na Alemanha.

No Estrangeiro

Os estudos superiores (1611-1614), ligados à sua primeira viagem aos Países Baixos, alargaram os horizontes de João. Em Herborn, foi influenciado particularmente pelo professor J.H. Alstedius e pelas suas obras enciclopédicas sobre diferentes correntes filosóficas e disciplinas científicas. Em Heidelberg foi atraído para a tolerância entre as Igrejas evangélicas (irenismo), mas também por outras. Redige brilhantes memórias universitárias (primeiras obras) que são publicadas, facto que o encoraja a trabalhar mais depois de regressar à Alemanha. Seduzido pelo exemplo de Alstedius, ele dispõe-se também a compor uma enciclopédia a fim de enriquecer a cultura nacional. Reúne os elementos para um grande dicionário de latim-checo, para a história da família Zerotin e para a história da antiga Morávia

Na Alemanha, familiarizou-se, provavelmente, com o movimento quiliástico, isto é, com a crença do milenarismo. Apenas Coménio aplicou, mais tarde, esta convicção, nas suas obras, escolheu a sua forma activa (e não o esperar passivamente pelo fim do mundo). Segundo ele, a chegada do fim do milénio estava condicionado pelo trabalho do homem para o melhoramento de todas as coisas humanas. Ele foi também atraído, certamente, pelos esforços da época para melhorar o estudo e o ensino do latim. O primeiro livro que publicou depois do seu regresso foi, com efeito, uma gramática para facilitar o estudo do latim (Praga, 1616). Este manual, tal como as narrativas históricas sobre a Morávia e a família de Zerotin, não se conservaram até aos nossos dias.

Prerov (1614-1617)

Não tendo ainda atingido a idade para ser ordenado padre, Coménio ensina durante dois anos na mesma escola da Unidade em Prerov, onde tinha estudado recentemente. Em 1616, ano da publicação do seu primeiro manual, Gramática para Facilitar os Estudos (Grammaticae Facilioris Praecepta), foi ordenado padre dos Irmãos. A acumulação destas funções era uma coisa habitual na Unidade. No princípio, no entanto, como depois confessou, Coménio tinha estado ultimamente ocupado nos seus deveres eclesiásticos. Por outro lado, concebeu também a sua actividade pastoral como uma missão inteiramente educativa. Como prova, temos o seu opúsculo Cartas para o Céu (Lettres au Ciel), publicado, segundo ele, em 1617, mas do qual não se conhecem mais do que os exemplares de 1619, ou seja, da época da sua permanência em Fulnek.

Fulnek

Em 1618, o jovem sábio conheceu um breve período de felicidade pessoal. Foi nomeado pastor e preceptor em Fulnek na Morávia (do Nordeste). É neste mesmo ano que ele casa com senhora Madalena Vizovická e cria a sua família. Como Fulnek é uma comuna bilíngue, faz as prédicas em checo e em alemão. Aconselha as pessoas no seu trabalho e, de a cordo com a tradição, baseia-se na apicultura. Como administrador da escola dos Irmãos, desenvolveu a lição de coisas a ensinar às crianças nas coisas da natureza. Trabalha infatigavelmente e redige uma enciclopédia checa intitulada Theatrum Universitatis Rerum (Teatro de Todas as Coisas). Simultaneamente, prepara também uma antologia das Escrituras. No que toca às suas posições políticas, simpatiza com os estados e o rei Frederico, a cuja família se conserva fiel durante toda a vida. Os multiplicados ataques da Contra-Reforma contra a validade das Cartas de Majestade de Rodolfo são, provavelmente, a origem da sua crítica ao papa (Cautela Contra as Seduções Anticristãs).

Ainda que escreva as suas obras em checo, dá-lhes muitas vezes títulos latinos. É o caso, por exemplo, da enciclopédia Theatrum Universitatis Rerum. Este vasto projecto que tem por fim facilitar a orientação na verdade dos conhecimentos da época, tem, com efeito, dois prefácios: um em checo e outro em latim para os letrados. No segundo, Coménio mostra-se convicto de que nada existe que não possa ser dito em checo, língua rica e encantadora, que devia ser utilizada principalmente pelos eruditos. “Confesso francamente que não me encontro menos preocupado com a língua do que com o seu conteúdo concreto, porque eu quero os dois: que os nossos se aproximem pelo desejo de saber e que se esforcem por cultivar atentamente a sua língua”.

Este esforço pela unidade da língua e pelo conhecimento, acompanhará toda a sua criação posterior. No primeiro prefácio, Coménio glorifica e interpreta o saber. Invoca aí também a ideia de que o mundo é uma escola de sabedoria, a qual conduzo estudo da natureza e das Escrituras, e também o estudo do homem e das suas manifestações. Nas suas obras pedagógicas, o estudo destes três domínios considera-se como a base do ensino e da educação.

Refúgio na Morávia

Depois da vitória do imperador da Áustria na batalha da Montanha Branca, Coménio torna-se primeiramente um proscrito na sua pátria, e depois um exilado. Os decretos dirigidos contra os não-católicos, primeiramente contra os sacerdotes calvinistas (1621), depois contra os sacerdotes da confissão checa (os Irmãos e os utraquistas), os eclesiásticos luteranos (1622) e, depois de 1623, contra todos os sacerdotes não católicos (era proibido aos não-católicos terem privilégios de burgueses, exercerem as profissões artesanais, serem casados e enterrados com cerimónia, etc.) reduziram com efeito ao mínimo o espaço vital daqueles que recusavam a conversão ao catolicismo nos países checos. Depois de 1624, começou a ser imposta a nova catolicização sistematicamente pela força. Muitas revoltas então nasceram nas zonas rurais checas e morávias como protesto contra esta opressão e contra o endurecimento da servidão.

Coménio mudou a família de Fulnek para Prerov, e ele foi obrigado a esconder-se. Refugiou-se provavelmente nos domínios dos Zerotin. Com efeito, Carlos de Zerotin, seu protector, não tomou parte na insurreição; diferentemente do seu primo Ladislav Velen, o qual participou nas revoltas militares contra os Habsburgos, mesmo no exílio. Coménio ficou privado de todos os seus bens; a sua biblioteca foi queimada publicamente na praça de Fulnek em 1623. “De um lugar conhecido de Deus” envia uma carta à sua mulher Madalena, começada assim: “Minha querida esposa, Madalena, minha jóia mais querida a seguir a Deus”. E completada com um opúsculo consulador, intitulado “As Reflexões Sobre a Perfeição Cristã”, ao qual acrescenta um prefácio da sua publicação, em 1622. Entretanto, feriu-o um golpe duro: a mulher e os filhos, que tinham ficado em Fulnek, tinham já morrido na primavera de 1622, vítimas duma epidemia como consequência da guerra.

Perante estes acontecimentos - manifestaçõpes de crueldade, perda da família, devastação do país, Coménio esforça-se por responder às questões dolorosas de saber por que razão existe tanto mal e tantos sofrimentos. Todavia, apesar da sua situação extremamente difícil, não pára de lutar pelo equilíbrio espiritual e de procurar novas certezas da vida, que ele encontra, graças à sua crença profunda.

À imagem do mundo exterior tornado tão tenebroso, opõe a imagem do interior do homem, do paraíso do coração e procura a profundeza da conviança o “centrum securitatis”. Os títulos das suas obras exprimem simbolicamente:

O Nome do Eterno é Uma Alta Torre, Acerca do desamparo, O Angustiado, O Labirinto do mundo e o Paraíso do coração, A Pressão de Deus, Centrum Securitatis e outros.

Notas:

O Nome do Eterno é um alta Torre

O Nome do Eterno é uma Alta Torre é uma obra consoladora escrita em 1622 e dedicada à Senhora Doroteia Cirila, futura sogra de Coménio.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 235-263.

Acerca do Desamparo

“Acerca do Desamparo” (provavelmente 1622-1624), opúsculo que exprime o que sente aquele que se encontra desamparado. Coménio escreveu-o para consolar os outros, mas também para si próprio. É também deste período que data a “Pressão de Deus”.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 429-472, 413-426.

O Angustiado

“O Angustiado I” (cerca de 1623) e II (1624, data da publicação dos dois tomos), tem a forma duma conversa angustiada com a Razão e com a Fé. Exprime a dor da perda da pátria e do declínio da Igreja. A obra está cheia de questões humilhantes que procuram explicar as causas da catástrofe que atingiu a nação checa depois de 1620. As outras partes foram escritas depois da Paz de Vestefália, que não trouxe nem a libertação da pátria nem a possibilidade de tornar a entrar no país. O terceiro tomo trata do gemido da rola cativa por longo tempo nos rochedos escarpados (publicado em Leszno, em 1650). O quarto e último tomo intitula-se “A Triste Voz do Pastor”, perseguido pela ira de Deus, o qual dá conselhos e se despede do seu rebanho disperso e que vai perecendo. Data de 1660, isto é, do período em que Coménio pressente já o declínio da Unidade dos Irmãos, sem, no entanto, perder a esperança na reconstituição posterior.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 17-159.

O Labirinto do Mundo e o Paraíso do Coração

O “Labirinto do Mundo e o Paraíso do Coração” (1623) é um tratado impressionante em dois volumes dedicado a Carlos de Zerotin. É uma alegoria satírica do mundo, a imagem duma cidade com os habitantes divididos segundo os diferentes estados e profissões. A Segunda parte (na Segunda edição de 1663, Coménio substitui o termo “lusthaus” pela palavra “paraíso”) representa uma ideia utópica duma comunidade harmoniosa de cristãos.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 265-412.

Centrum Securitatis

"Centrum Securitatis" (1625), tem a primeira edição em 1633, em Leszno. A obra apresenta uma concepção filosófica e religiosa do homem em relação com o mundo. O mundo é um organismo (no espírito da linha neoplatónica) comparado à árvore que vai buscar a sua força às raízes. O fundamento do mundo encontra-se em Deus - centro, certeza, perfeição (que consistem na sabedoria, na bondade e no amor), e ordem.

Qualquer afastamento do centro tem consequências fatais para o homem. O mal não é causado por Deus, mas pelos Homens; por eles próprios, que se afastam do centro, do bem e não desenvolvem neles a imagem de Deus, isto é, o esforço criador com vista ao aperfeiçoamento. Num dos manuscritos, o mundo está representado sob a forma duma árvore. Na Segunda edição, impressa em Amesterdão em 1633, Coménio acrescentou o seguinte título: “É a profundeza da Tranquilidade do Espírito”.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 73-548; 549-554; 555-564.

Refúgio na Boémia Ocidental

Coménio já não se sente seguro na Morávia e instala-se noutro domínio de Carlos Zerotin, em Brandys, na Boémia oriental. É lá que ele conclui o “Angustiado I, II”, como “a lamentação triste e nostálgica do homem cristão à beira das misérias da pátria e da Igreja”, tal é o subtítulo deste diálogo alegórico da Razão e da Fé e da busca dramática da humanidade e da paciência que devem enfrentar o desencorajamento.

A sátira mordaz contra a miséria e a tristeza do egoísmo humano, do ódio, da inimizade, e contra a hipocrisia em todos os estados e profissões no Labirinto, imagem alegórica duma cidade que um peregrino percorreu com os seus acompanhantes, é compensada a segunda parte da obra - O Paraíso do Coração. Em contacto com o mundo depravado, Coménio desenvolve aqui a visão duma sociedade harmoniosa de cristãos que se respeitam e entreajudam. A volta ao paraíso do coração significa um isolamento do mal, da mentira e da violência. Não se trata, no entanto, dum isolamento total do mundo, mas da procura da força espiritual que permitirá concretizar o esboço duma visão dum mundo melhor. O plano desta obra está inspirado incontestavelmente na leitura das obras de J. V. Andreia (o autor dos Manifestos Rosacrucianos), mas também é possível encontrar aí a influência do Theatrum Mundi Minoris de Nathanael Vodnansky de Uracov ou, antes, da Cidade Espiritual ou da Delícia da Alma, de Václav Porcius Vodnansky. Ambos datam do princípio do séc. XVII. É em 1623 que Coménio dedicou o Labirinto a Carlos Zerotín, mas só o publicou em 1631 em Leszno.

Coménio interessa-se cada vez mais intensamente pelo lugar do homem no mundo. Prova-o a sua obra Centrum Securitatis (1625, publicada no exílio em 1633). O mundo é representado aí como um organismo, o que foi um método habilmente usado pelos neoplatónicos (pelo místico alemão J. Bohme, também rosacruciano, por exemplo). Compara o mundo a uma árvore que retira a sua força das raízes escondidas, tal como tudo tem a sua base em Deus invisível. Este é o centro, a certeza da perfeição e da ordem. Qualquer desvio deste centro tem consequências funetas. O que importa é a ideia da relação das coisas e dos fenómenos no mundo, e sobre a pesquisa das relações correctas que se esclarecem a substância. Esta ideia reaparece, mais tarde, na filosofia, isto é, na filosofia de Coménio, ao mesmo tempo que a ideia dum todo, donde é indispensável partir para a pesquisa das soluções dos problemas parciais. O mal não é aí apresentado como obra de Deus, cuja perfeição embaraça especialmente a sabedoria, a bondade e o amor. O mal é causado pelas pessoas, se não despertam em si mesmas a imagem de Deus.

Nos momentos de depressão, Coménio compõe o Amphitheatrum Universitatis Rerum, de conteúdo bastante pessimista. Depois de 1625, reune todas as forças contra a adversidade sofrida nessa época de desespero. Escreve um opúsculo de divulgação da ciência e outro que tem por objectivo melhorar o nível da poesia checa (traduz os Salmos) e termina a Carta da Morávia, que se publica em Amsterdão em 1627. É possível que tenha negociado esta publicação durante a sua viagem aos Países-Baixos em 1626, durante a sua visita a Haia.

Visita a corte de Frederico, o Palatino, que se mantém, aos olhos dos exilados como rei da Boémia. Foi para Leszno, para se preparar para a recepção aos exilados. Fez uma perigosa viagem para a Morávia, com mensagens de Carlos Zerotin. Quando o seu patrono proibiu a concessão de refúgio aos sacerdotes da Unidade, Comenio mudou-se com a sua segunda esposa, Dorothee Cyrille, para Bila Tremesna, perto Dvur Kralove, na zona de Jiri Sadovsky Sloup. Durante uma visita ao castelo de Silberstein em Vicice, descobriu na biblioteca de Adam Zilvar a Didactica de Elie Bodin. Para Comenio foi como um impulso. Começou a escrever a sua própria Didáctica, não apenas uma coleção de preceitos, mas que eleva a reforma do ensino e da educação ao nível da filosofia do homem e da sua vida. Desenvolveu os princípios de uma educação sólida, mas natural e alegre, para todos os checos, desde a infância até a idade adulta.

Antes de sair da Boemia, Comenio estava interessado nas ideias e visões de Christoph Kotter. Estas ideias e visões do seu amigo de escola de Straznice, Nicolas Drabik, deu-lhe uma vida um pouco triste. Posterior publicação rendeu-lhe muitos inimigos.

Após a aprovação da nova Constituição em 1627, a vida dos não-católicos não foi mais possível nas terras checas. Mesmo Carlos de Zerotin vai para o exílio, onde morreu em 1636, em Wroclaw. Com a sua esposa e filha Dorothee Christine (1627) e as famílias Cirilo e Sadovsky, Comenius deixa o seu país, para nunca mais voltar. Mudou-se para Leszno, na Polónia, onde ficou até 1656.

É possível que antes de ir para o exílio, Comenio formulou um conjunto de idéias que desenvolveu mais tarde noutros países. Depois de 1627, Comenio viveu na Polónia (Leszno três estadias: 1628-1641, 1648-1650, 1654-1656), Inglaterra 1641-1642, ao serviço dos suecos Elbing (Elblag hoje, 1642-1648), na Hungria (1650-1654) e nos Países Baixos (1656-1670).

Período de Exílio (1628 - 1670)

Primeira estadia de Coménio em Leszno (1628-1641)

A Polónia é um país agrário onde a nobreza superentendia tanto no poder económico e político, como na cultura. Diferentemente dos países checos, a Reforma sempre se apresentou como uma corrente minoritária, difundida, principalmente entre os burgueses. Do ponto de vista político, o rei, que se encontrava à cabeça da maioria católica, estava dos lado dos Habsburgos. O reino de Wladyslaw IV (1632-1648) distinguia-se pelo espírito de tolerância.

Em Leszno, que estava situada junto duma importante via comercial, ligando-a com Gdansk e conhecida pelo seu meio cultural, vivia juntamente, e com tolerância, com os Irmãos checos, que tinham aí a sua corporação desde a Segunda metade do séc. XVI, os Polacos, alguns dos quais eram membros da ala polonesa da Unidade dos Irmãos (aí estava Rafael V. Leszczynski, senhor de Leszno), enquanto outros eram católicos, e havia luteranos vindos da Silésia.

Coménio está muito ocupado em Leszno. É professor no Liceu local, escreve obras filosóficas e pedagógias, trabalha como historiador da sua Unidade os Irmãos, e dá-se à publicação de prédicas. Publica também a Ordem da Unidade e o manual Praxis Pietatis; escreve os Pontos de discussões sobre a Unidade dos Irmãos, sobre os seus traços característicos; e também contra os ataques do luterano checo. Exprime-se a propósito das questões da compreensão pacífica entre os Irmãos e os luteranos (A Apologia e a Vida da Paz), etc. O seu tratado em poucas palavras sobre o contágio da peste (publicado também em versão alemã), apresenta-se como um documento importante não somente sobre os tratamentos dos doentes atingidos pela peste, mas também sobre o espírito de humanidade dos Irmãos, que assim enfrentavam a realidade.

O mais importante daquela época são os seus trabalhos pedagógicos. Em 1630, termina em Leszno a sua Didáctica, primeiramente em checo, que havia concebido quando ainda estava na sua pátria. Nos anos de 1631-1632, a situação político-militar e particularmente a ocupação de grande parte da Boémia pelos exércitos suecos e saxões, despertam em Coménio uma grande esperança de poder entrar no seu país. É precisamente nessa altura que ele encara o seu primeiro projecto no domínio de uma educação que intitula de Paradisus Ecclesiae (o Paraíso da Igreja; utiliza também o título de Paraíso Checo). Esta obra tinha como fim elevar o nível de instrução da nação checa, pela reforma das escolas nacionais. Deveria ser completado também, com uma parte prática, isto é, com manuais e informações para os professores. O único manual que Coménio chega a acabar é a Escola da Natureza, opúsculo que formula os fins, conteúdo e os métodos da educação das crianças após o nascimento até à idade de seis anos, a fim de os preparar para a vida. Dos manuais para a escola nacional, conservaram-se apenas os títulos poéticos: Violarium (Canteiro de Violetas), Rosarium (Canteiro de Rosas), Viridarium (Canteiro de Verduras), Sapientiae Labyrinthus (Labirinto da Sabedoria), Balsamentum Spirituale (Bálsamo Espiritual) e Paradisus Animae (Paraíso da Alma).

À escola latina podiam ser convenientes os seus manuais de diferentes matérias, que ele compôs, evidentemente com base na sua prática de ensino em Leszno. Alguns conservaram-se na chamada Recolha de Manuscritos de Leninegrado. Entre elas há a Geometria com a Geodesia, a Cosmographiae Compendium (manual de astronomia e de geografia), o manual de filosofia - metafísica: Prima Philosophia e a história profana e política: Historia Prophana sive Politica. Os manuais de história e de geografia existem apenas em fragmentos.

Em 1633, Coménio publicou em Leszno o Manual de Física, Physicae Synopsis, que já não era um manual tradicional duma só matéria, mas que representava a natureza em toda a sua amplidão. Tratava-se, na realidade, duma filosofia natural habitual. Não foi senão depois, no século XVII, que as ciências naturais se desenvolveram, nesta base, pela aplicação das quantificações e dos métodos matemáticos e mecânicos. Coménio detém-se, contudo, quando se abeira das disciplinas naturais. Ele parte da física conhecida por mosaico e inspira-se especialmente nas teorias de Tomás Campanella. É assim, por exemplo, que formula as suas opiniões sobre a astronomia na orientação do sistema de Ptolomeu. Depois, nos anos quarenta, aceita, certamente, a concepção de compromisso de Tycho Brahe (A Terra está no centro mas os planetas giram à volta do Sol; e todo este sistema gira à volta da Terra); mas ele recusa aceitar a Teoria de Copérnico, que começa a encontrar participantes na Segunda metade do séc. XVII. Coménio não é um naturalista, mas a natureza representa para ele uma componente importante do universo (natureza-homem-Deus). Ele procura responder às perguntas de saber qual é o sentido das coisas e dos fenómenos naturais para a vida do homem. Vemos isso na sua Didáctica, onde os fenómenos observados na natureza (curso natural das coisas,, não violência, evolução gradual) são aplicadas ao sistema educativo. Por este aproximar-se do espaço teleológico, distingue-se dos naturalistas da época, de orientação matemática.

Se Bacon procurava um novo método de estudo da natureza, e Descartes um novo método de estudo do pensamento do homem, Coménio procurava um novo método de estudo da evolução e da formação do homem e da vida da sociedade. Como não se podia apoiar numa teoria desenvolvida, ele próprio formula os princípios que fazem dele o precursor da ciência sobre o homem e a sociedade, e é o fundador da teoria da educação, a pedagogia.

Contudo, ele chega também a conclusões notáveis na sua concepção filosófica da natureza. Por exemplo, aplicando o realce de Bacon no movimento, chega a uma concepção dinâmica da evolução cósmica, à concepção da evolução, na natureza, dos organismos simples para os organismos mais complexos com o homem no ponto mais elevado. Do ponto de vista da educação, verifica a importância da actividade da criança e da actividade humana em geral - no pensamento, na expressão, no comportamento. No concernente aos princípios naturais elementares, - a substância, o espírito e a luz, a substância é para ele um princípio passivo, ao passo que a luz e o espírito representam dois princípios activos. No plano humano, o símbolo da difusão da luz identifica-se nele com a ideia das luzes da cultura.

Na época em que lhe falta a esperança de regressar á pátria, Coménio escreve ainda outras obras. Citemos, por exemplo, o Haggaeus Redivivus, onde ele se apresenta com o papel dum profeta do Antigo Testamento, que apela para a restauração da vida social apoiada numa base melhor e nos esforços com vista para tudo melhorar.

Coménio presta muita atenção à elaboração da sua pansofia, filosofia da sabedoria da vida em todos os domínios da actividade do homem. Ela não tem uma importância puramente intelectual; não é uma omnisciência, mas tem igualmente alcance moral, religioso e social para toda a actividade humana. Coménio aplica-se já na sua Didáctica Checa, e reclama para todos a instrução em tudo que é fundamental para a vida, uma educação completa a todos os respeitos. Ele permanece fiel a esta formulação dos fins em vista do conteúdo e dos métodos do ensino até ao fim da sua vida. Na Didáctica, exprime também a convicção de que o que é essencial para a vida é principalmente o conhecimento do mundo no seu conjunto. O estudo deve, pois, ser selectivo. Doutro modo, não seria possível reter todos os conhecimentos. Segundo Coménio, no entanto, esta selecção diz respeito a todas as camadas fundamentais do mundo: a natureza, o mundo do homem e as esferas espirituais, divinas. Persuadido, sob a influência da leitura das obras neoplatónicas, da possibilidade de resolver qualquer problema parcial unicamente na óptica do conjunto de todos os problemas, ele demonstra, nos quatro primeiros capítulos da sua Didáctica, que a reforma do ensino deve partir da filosofia da vida humana e da posição do homem no mundo.

Sem esperança nenhuma de voltar à pátria (os exércitos anti-habsburgueses foram repelidos da Boémia por Wallenstein), Coménio não abandona, no entanto, o seu processo pedagógico. A pedido dos polacos, dá uma visão mais geral às suas conclusões, o que permite a sua adaptação às escolas latinas. Traduz a Didáctida do checo para o latim, completa e corrige alguns capítulos, etc. e desenvolve, em capitulos autónomos, o projecto de organização de escolas, depois da idade pré-escolar até ao fim dos estudos superiores (até aos 24 anos). Termina esta versão latina em 1638 e submete-a à apreciação dos seus amigos residentes em diversos países europeus. É assim que a Didáctica Magna vê a luz do dia, embora não seja publicada senão em 1657, incluída nas suas obras completas Opera Didactica Omnia. Omnes Omnia Omnino, é assim que denomina os princípios-base da educação completa de todos. O atraso da sua publicação explica-se também pelo tom crítico de determinados juízos a condenarem Coménio, como por exemplo o facto de começar pelos propósitos mais latos da vida. Mas é precisamente a isso que Coménio se recusa a renunciar: “Com efeito, não comecei a escrever uma didáctica da arte da panificação ou da pintura; a gramática ou da lógica, ou doutra qualquer partícula das coisas dignas de conhecimento, mas sim uma didáctica da vida e é por isso que a denominei de “Grande”. É por isso que, tendo em consideração apresentar o todo, eu devia mostrar o todo e não somente uma parte; e começar a construção dos fundamentos mais baixos mas solidamente apresentados”. É com estas palavras que Coménio justifica a sua concepção em 1657 (Ventilabrum). É a partir dum largo objectivo do ensino que ela formula as exigências em matéria de conteúdo (ensino das ciências, dos costumes e do sentimento religioso) e que apresenta com precisão os métodos naturais de estudo e ensino, permitindo que todo o processo seja esclarecido, alegre, rápido e sólido. Também se utiliza largamente a comparação com a evolução natural que presenciamos na natureza (a aplicação da síncrise é um dos traços característicos da metodologia de Coménio).

É já no início dos anos trinta, quando ele reflectia cada vez mais intensamente acerca do modo de aplicação da pansofia aos problemas concretos do ensino, que Coménio apresentou a sua ideia do conteúdo do ensino como selecção do conhecimento do mundo. Criou, assim, um tipo de manual pansófico, um novo tipo de manual que, em cem pequenos capítulos, apresentava conhecimentos escolhidos respeitantes à natureza, à evolução do homem, às suas actividades materiais e espirituais, à sociedade e à relação do homem com Deus nas diferentes religiões. Intitulou esse livro de Janua Linguarum e publicou-o em 1631, primeiramente em latim. Conforme as suas recomendações, o texto podia ser traduzido noutras línguas (ele próprio publicou a versão checa em 1633). Coménio escreveu este mesmo manual ao mesmo que a Didáctica, sob um impulso exterior (o seu amigo J. Jonston tinha-lhe atraído a atenção para um manual com o mesmo nome dos monges irlandeses), mas não tinha dúvidas de que a obra reflecte igualmente as suas experiências do ensino em Leszno.

A obra Janua Linguarum deu-lhe imediatamente fama pela Europa. Apareceu em muitos países, muitas vezes mesmo vertida em várias línguas. Este sucesso explica-se pelo facto de que Coménio ligou dois problemas da época: mostrou como se pode facilitar o ensino do latim, que nas escolas era matéria importante, e outras línguas; e como reunir conhecimentos concretos num sistema. O manual foi também muito bem recebido na Inglaterra, onde um grupo de eruditos à volta de Samuel Hartlib (originário de Elbing) procurava unificar, segundo o espírito do filósofo Francisco Bacon (1561-1626), o conteúdo do ensino e da cultura em geral. Por intermédio dos Irmãos, Hartlib, quando estudava na Inglaterra, entrou em contacto com Coménio. Foi o começo duma correspondência frutuosa, que viam na sua Pansofia possibilidades de solução dos seus problemas. Eis a razão por que Coménio lhes foi ao encontro, remetendo-lhes os manuscritos dos seus trabalhos.

Coménio quer que os conhecimentos estejam adequados à idade dos alunos. Por esse facto, completa a Janus Linguarum com um manual destinado aos alunos Vestibulum Latinae Linguae (Vestíbulo da Língua Latina, 1632; não se conhecem exemplares cuja data seja posterior a 1633). Pensa também no terceiro grau, que denomina, primeiramente, de Palatium (Palácio), mas é somente nos anos cinquenta que ele consegue realizar este projecto com o título de Atrium. É assim que ele compõe a obra intitulada Templum Latinitatis (Templo do Latim), destinado às escolas secundárias latinas. A parte teórica é formada pela Didáctica latina que Coménio pretende completar com manuais pansóficos para os professores, tais como, por exemplo, Os Debates Didácticos. Publicado em 1638, este manual é dedicado aos burgueses e professores de Wróclaw. Coménio responde, assim, àqueles que pedem que lhes explique a utilização das obras Vestibulum e Janua Linguarum. Ao mesmo tempo, não pára de desenvolver o seu projecto didáctico e, no fim dos anos trinta, ele estuda já um sistema de sete graus de manuais, ideais que não chega a realizar.

A pansofia de Coménio não significava todavia, somente a selecção dos conhecimentos essenciais sobre a unidade do mundo. Conforme a intenção dos seus esforços universalistas, considerando que a pansofia diz respeito a tudo, a todos os domínios e a qualquer actividade unificadora numa base de princípios comuns, ele reflectia, a partir dos anos trinta sobre a função filosófica e metodológica. Discernindo acerca dos princípios filosóficos do mundo, ele queria unificar os espaços da actividade humana, eliminar o isolamento dessas actividades, onde o teólogo não se ocupava do trabalho do médico; onde o matemático não se interessava pela alma do homem, etc. Naquela época, as diferentes disciplinas científicas nas faculdades eram, na verdade, representantes de reinos isolados. Coménio experimentou, portanto, delinear o papel da pansofia neste processo de unificação. Denominou-a de metafísica pansófica. Esta distinguia-se naturalmente dos sistemas metafísicos conhecidos, porque ela não fechava o sistema das ciências como tinha acontecido, com Aristóteles, antes pelo contrário, formulava os princípios comuns de todas as disciplinas.

Assim é que Coménio compôs o Prodromus Pansophaie, à qual tinha dado o título de Porta Sapientiae (Porta da Sabedoria) no manuscrito, foi publicada sem o autor saber em 1637, em Oxford, com o título Conatuum Comenianorum Praeludia, prefaciada por Hartlib. A segunda edição, autorizada, foi publicada em Londres já com o conhecido título de Prodromus Pansophiae (Pródromo da Pansofia). O Prodromus desperta grande interesse na Europa; as reacções são também tão positivas como críticas ou inteiramente negativas. Alguns teólogos censuraram Coménio, dizendo que a sua Pansophia não é suficientemente cristã. Por seu lado, Coménio publica em sua defesa a Conatuum Pansophicorum Dilucidatio (Explicação dos Ensaios Filosóficos). Contudo, verifica-se que a diferente concepção de Coménio, que ele tem da unificação do ensino é determinada, em princípio, pelo seu esforço de abarcar o conjunto das manifestações humanas. O que o impede de separar as ciências da crença. Nada de admirar que ele se choque contra a desaprovação quer dos teólogos quer dos representantes das ciências naturais. Em todo o caso, se Coménio parou no limiar da ciência moderna no domínio da história da natureza, a sua tónica sobre o Todo significa uma contribuição importante para o desenvolvimento das ciências pedagógicas. De facto, naquele domínio, a unidade da educação universal e parcial, especial, assim como a unificação dos aspectos racionais e éticos, individuais e sociais, era, sem dúvida, de um grande alcance.

É possível juntar livremente ao sistema de manuais pansóficos, também o seu opúsculo Faber Fortunae (O Artífice da Fortuna), um manual das virtudes cristãs, dedicado aos filhos do conde Leszczynski, mecenas do autor. Isso também é válido para as tentativas de Coménio no domínio do texto didáctico, e particularmente para a sua peça Diogenes Cynicus Redivivus (Diógenes, o Cínico Ressuscitado), que é uma defesa da humanidade e da filosofia e a política fundadas numa base ética. As Leges Illustris Gymnasii Lesnensis, regulamento escolar do Liceu de Leszno, são também testemunho da importância que Coménio ligava ao bom funcionamento do Liceu.

Esta variedade da actividade de Coménio durante a sua estadia em Leszno seria contudo incompleta, se não falássemos das suas tentativas de construir um aparelho de movimento perpétuo - perpectuum mobile. Este aparelho constituía também o objecto da correspondência de Coménio com os seus amigos na Inglaterra, que se interessavam muito nisso e que pensavam seriamente na respectiva aplicação técnica. As experiências de Coménio, realizadas sem cálculos matemáticos, foram, todavia, votadas ao insucesso. No fim da sua vida, Coménio volta novamente a este problema.

Coménio na Inglaterra (1641-1642)

O reencontro pessoal de Coménio com os seus amigos ingleses, conseguido por iniciativa de Samuel Hartlib, celebrou-se no momento em que J. Gauden já tinha proferido o seu discurso, onde recomendava ao Parlamento o trabalho de Coménio e do ecomenista escocês John Dury. Tal como Cromwell, Hartlib era partidário da oposição antireal no Parlamento e independente.

Depois de 1616, os independentes procederam com vista a reformar radicalmente a Igreja Anglicana, reconhecendo unicamente a autoridade da Bíblia e recusando a intervenção do poder profano nos assuntos da Igreja. No grupo à volta de Hartlib, havia participantes do parlamentarismo tanto radicais como moderados. Coménio tinha amigos entre uns e outros. Com efeito, tratava-se duma sociedade muito heterogénea - professores primários, filólogos, matemáticos, inventores, naturalistas, teólogos, políticos, juristas, reformadores da Igreja e da vida social e outros. Eram, frequentemente, como Robert Boyle, eruditos de espírito universal. Ligava-os o interesse no progresso social e no quiliasmo activo (milenarismo). A pansofia de Coménio foi assim muito bem recebida tanto pelo matemático J. Pell, como por W. Petty, político, por Th. Haak, filólogo, ou pelo bispo Williams e outros.

Os debates com os seus amigos ingleses foram uma grande fonte de inspiração para Coménio, particularmente para a sua ideia de ligar a reforma escolar com a reforma da sociedade que, de ora avante, estaria presente no seu projecto. É precisamente com esta intenção que ele consegue o seu terceiro grande projecto. São disso prova os seus diversos testemunhos, onde delineia um sistema de ensino para a idade pré-escolar, para a escola elementar da língua materna, a escola secundária latina e (a escola) para os adultos. Explica como concebe a educação global e o melhoramento dos costumes na sua Via Lucis (O Caminho da Luz), obra fundamental deste curto período da sua vida, que ele somente publica em 1668. Concebe aí a história da humanidade como propagação progressiva da civilização e, por conseguinte, o melhoramento das condições de vida. Às trevas da barbárie opõe a luz do aperfeiçoamento do homem, que contribui para o desenvolvimento do mundo; ele contrasta a cultura e paz à violência e guerras. Ele vê novamente os caminhos mais importantes para melhorar tudo na investigação completa de tudo em todos (Omnes Omnia Omnino), em livros académicos, escolas, a sociedade de estudiosos de todo o mundo para a propagação da civilização (Collegium Lucis) e uma linguagem universal. É com ênfase, muito maior do que antes, que enfatiza a unidade da teoria e da prática. Da mesma forma, trabalha pela unidade de educação geral e especial. De muitas maneiras, projecta já a Via Lucis, o programa de consulta geral, o maior de Comenuis. O progresso da revolução inglesa e a insurreição irlandesa, ocupa inteiramente o Parlamento. Não tendo esperança de realizar seus projetos, Coménio deixou a Inglaterra. Três convites são-lhe oferecidos, antes de partir - para reformar o sistema escolar, na Suécia, fundar uma faculdade pansófica na França (o convite é feito em nome de Richelieu) e tornar-se Reitor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos - Comenius aceitou a proposta dos suecos, motivado com a esperança do seu auxílio para a libertação da nação checa.

Durante a sua viagem à Suécia, ele percorre a Holanda e a Alemanha. Os seus trabalhos, particularmente o seu livro Janua linguarum, obteve uma boa reacção em toda parte. Descobre que o seu livro é também traduzido em línguas orientais. Graças aos seus amigos, encontrou-se com o filósofo francês R. Descartes (1596-1650) em Leyden, que estava hospedado no castelo de Endegeest. Após um debate de quatro horas, os dois espíritos não encontram, é claro, um consenso em relação ao projecto, mas partem como amigos. Em Amsterdam, Coménio visita representantes da Igreja de Wallonne, em contato com ele, e que apoiam a Unidade dos Irmãos; discute com os amigos J. Rulicius, J. Morian e G. Hotton, que são também amigos de Hartlib. Em Bremen, recusa a reitoria, em Lubeck, à proposta de um grupo de nobres poloneses, seus companheiros de viagem, que o convidaram para se estabelecer na Pomerellie. Permanece fiel à sua promessa para com os suecos.

Coménio e a reforma das escolas na Suécia (1642-1648)

Na Suécia, Coménio foi financiado por Louis de Geer, empresário holandês e fundador da indústria siderúrgica sueca. Ele também foi recebido pela rainha Cristina. Da mesma forma, o tutor da rainha, Johan Mathiae, sentiu afeição por ele. Foi um longo debate sobre a reforma da educação com o chanceler sueco Axel Oxenstjerne, que lhe ofereceu trabalho em Elbing (Elblag), cidade do Báltico que estava então sob a administração da Suécia.

Elbing (Elblag)

Esta rica cidade hanseática, onde a tolerância prevaleceu entre os luteranos e os reformadores (calvinistas), onde os esforços de educação tiveram uma grande tradição, era um oásis de calma para o trabalho de Coménio. Sua família (sua esposa Dorothy e filhas e Christine e Elizabeth, com quinze e catorze anos, respectivamente) juntaram-se a ele em Elbing. Por sua parte, logo Coménio revisou os livros didáticos com seus assessores e deu cursos de filosofia, no ensino médio local.

Os vereadores do conselho municipal apoiaram em todos os sentidos. Em suma, ele realmente tinha condições ideais para um analista didáctico. Mas Coménio veio para a Suécia com planos de longo alcance, para configurar uma grande obra pansófica, que estava gradualmente a transformar-se num projeto para melhorar a sociedade, em sete volumes; um dos volumes, apesar de ser maior, estava realmente reservado para pansofia. Para agradar aos seus amigos em Inglaterra, que pediam trabalhos pansóficos, Coménio publicou em 1643, em Gdansk, o esboço de seu sistema (Pansophiae Diatyposis), mas ele já estava a preparar o seu livro intitulado De rerum humanarum emendatione Consultatio catholica (Consulta geral sobre a reforma das coisas humanas). Foi também no Elbing que terminou o primeiro volume do livro, Excitatorium universale, enviando para Hartlib o manuscrito (o título posterior seria Panegersia).

Simultaneamente, Coménio não pode ficar indiferente aos debates sobre a unificação das Igrejas. Ele não só iniciou uma grande controvérsia com Valerian Magni, capuchinho estudioso cujo trabalho De Luce mentium (1642) despertou o seu interesse, mas participou diretamente em 1645, nas discussões ecuménicas em Torun(Coloquium Charitativum) e escreveu um opúsculo sobre a possibilidade de harmonia entre cristãos. Desiludido das suas esperanças (o colóquio não foi um lugar de conciliação entre os cristãos com base na igualdade, e os participantes não chegaram a interpretar veridicamente o cristianismo), Coménio deixa Torun. Em vez de trabalhar em paz, vê-se entre vários fogos. Pretende servir de mediador entre os luteranos e os reformadores (calvinistas), cujas contradições enfraquecem as posições da Reforma, na Prússia Ocidental. No entanto, isso não convinha aos Suecos e, por outro lado, o trabalho de Coménio era mal recebido por uma parte da nobreza polaca. A situação político-religiosa na Suécia era com efeito muito complexa. Existiam aí dois grupos com diferentes pontos de vista – os luteranos ortodoxos com Oxtenstjerne e os unionistas protestantes a trabalharem com vista à reconciliação dos luteranos com os reformadores. No primeiro grupo não havia muita compreensão relativamente à pansofia de Coménio. De Geer, que pertencia ao segundo grupo juntamente com os seus colegas holandeses, mas que via as coisas dum ponto de vista elevado, calculou bem o momento em que os esforços de Coménio, com vista à unificação das Igrejas, se tornavam indesejáveis na Suécia. Intervem junto de Coménio que primeiramente completa o seu trabalho didáctico. No entanto, Coménio permanece convencido de que é necessário, primeiramente, terminar as suas teorias pansóficas antes de escrever os manuais. Não para de desenvolver novas ideias que o impelem a manusear os seus textos, de tal modo que não chega a terminar as suas obras. “Se eu pudesse mais ou quisesse menos”, repete nas suas cartas dirigidas aos seus amigos.

Durante um curto período em que está prestes a retomar a redacção da sua Consulta Geral, e a ocupar-se apenas dos seus trabalhos didácticos, esboça o plano mais complexo do seu sistema de ensino. A pansofia é então aplicada para as escolas como um conjunto de conhecimentos das coisas e de fenómenos concretos do mundo (do tipo de Janua Linguarum); depois um conjunto de princípios filosóficos do mundo (Janua Rerum - Porta das Coisas), em realidade a metafísica pansófica que ele escrevia depois dos anos trinta) e um novo conjunto de opiniões apresentados na história a propósito dos problemas mais diversos: filosóficos, astronómicos, históricos, etc. (Intitula esta série de Janua Cogitationum - Porta do raciocínio). Cada uma destas séries devia possuir graus: Vestibulum, Janua, Atrium; e devia conter o texto, a gramática (isto é, a teoria), uma metodologia e acessórios, tais como dicionários de línguas e filosóficos. Contudo, Coménio abandona este projecto e retorna à Consulta Geral. Realiza, pois, a primeira série, linguística, a qual junta o tratado metodológico intitulado Linguarum Methodus Novissima (O Método mais Moderno das Línguas).

Tratava-se tanto duma filosofia da linguagem como da didáctica das línguas, mostrando como ensinar as línguas, a partir do texto, a gramática e os dicionários do Vestibulum, Janua e Atrium, com base num método didáctico geral que Coménio analisou no décimo capítulo do Método, visando os princípios da Didáctica. O livro também tinha um número de ideias respeitantes à comparação das línguas. Devido à sua larga concepção, esta metodologia pretendia melhorar o estado geral da educação. Muitas ideias da futura Consulta Geral já se encontravam no Método. Com efeito, trata-se da primeira obra impressa onde já estão caracterizadas as coisas humanas, isto é, as disciplinas mais importantes - a cultura (filosofia), a política, a teologia - determinantes para a felicidade ou a infelicidade e o fim da humanidade.

Coménio conversa ainda uma vez com o Chanceler Oxenstjerne, que o informa de como decorrem os seus trabalhos. Foi novamente recebido pela rainha Cristina. O chanceler sueco sossegou-o, quanto ao não esquecimento da causa dos checos. Contudo, por diferentes razões, das quais provavelmente também as contradições no meio político sueco, a ordem do chanceler Oxenstjerne, autorizando a delegação sueca a reclamar a restituição das liberdades para os países checos nas negociações em Vestefália, chega demasido tarde, no dia 24 de Outubro de 1648, após a assinatura dos tratados. Com efeito, nos termos destes tratados, renovou-se na Europa o status quo do ano de 1624 e não o de 1618. Também aí se reflectiu o facto de que os estados protestantes alemães aceitarem o projecto de trabalhos, preferindo os interesses materiais aos aspectos éticos.

Depois de todos os seus empenhos na Suécia, Coménio regressa com a família a Leszno, em Agosto de 1648. Pouco depois, morre-lhe a mulher que o deixa com duas crianças nascidas em Elbing, Susana (1643) e Daniel (1646).

Segunda Estadia de Coménio em Leszno, 1648-1650

Consternado com a morte da mulher, Coménio suporta ainda muito mal o resultado da Guerra dos Trinta Anos, que impedia os exilados de regressarem à pátria. Exprime a sua desilusão, por exemplo, no 3º volume de O Afligido, intitulado simbolicamente o Gemido da Rola, há muito tempo cativa nas rochas escarpadas (1650, publicado em 1651). As perspectivas sombrias da Unidade dos Irmãos levam Coménio, sénior ou bispo da Unidade em 1648, a escrever o célebre Testamento da Unidade, em 1650. Nos seis legados da Unidade à nação, Coménio convida à procura da verdade divina, ao amor da Bíblia, à concórdia, à purificação, à tolerância e à ordem e disciplina, à purificação e ao conhecimento da língua materna, e ainda à educação cuidada da juventude. Apesar de tudo, o texto é optimista: “Creio, e Deus sabe-o bem, que depois do apaziguamento do furacão da sua cólera, o governo que atraímos pelos nossos erros, o governo dos teus assuntos voltará para as tuas mãos, ó povo checo”. Coménio também distingue os valores da Unidade dos Irmãos noutras obras (por exemplo o posfácio na publicação do livro oitavo de J. Lasicky, A História da Origem e dos Actos dos Irmãos da Boémia).

Em Leszno, Coménio vê-se sobrecarregado de trabalho. Publica as obras preparadas anteriormente, escreve novos textos, ocupa-se da Unidade, suportada materialmente graças a ele, por L. de Geer, prega o Evangelho e ensina os jovens padres da Unidade. Dirige o liceu e continua a escrever a Deliberação Geral. Ainda por cima, sofre duma doença. Em 1649 casa com Joana Gajus, e toma a seu cargo os dois filhos. Casam-se as duas filhas mais velhas - Doroteia Cristina, com João Molitor, membro da Unidade, que trabalha na Eslováquia, e Elisabete desposa, em 1649, Pedro Figul, filho adoptivo e ajudante fiel de Coménio, predicador da Unidade desde 1649.

Era preciso encorajar e ajudar os Irmãos dispersos pela Eslováquia. Coménio desfruta então do convite dos príncipes da Transilvânia, que lhe pedem que reforme as escolas e regressa à Hungria com o consentimento do sínodo dos Irmãos.

Coménio na Hungria, 1650-1654

Em 1650, Coménio empreende duas viagens na Hungria. Primeiramente, para fazer o que era necessário para organizar o seu trabalho no liceu de Sárospatak; depois para aí se instalar. Por ocasião das suas viagens, acompanhado de Jean Chodnicius, ao qual chama sénior, visita as comunidades de Irmãos na Eslováquia, em Skalina. Também o seu antigo colega de escola e amigo Nicolau Drabik, que perante ele evocava as suas profecias sobre o significado da família Rákóczi, para a Hungria e outras nações oprimidas.

De início, Coménio não leva a sério as profecias dele, mas aceita, enfim, uma potencial coligação da Transilvânia com a Suécia de Carlos Gustavo, eventualmente com a Inglaterra.

Por ocasião da sua primeira estadia em Sárospatak, Coménio esboça, por ideia dos príncipes, a ideia básica da escola local (Illustrissimae Patakinae Scholae Idea), com vista a difundir os reflexos da cultura na Hungria. Gozando do pleno apoio da princesa e do príncipe Segismundo Rákoczi, Coménio elaborou o plano duma escola pansófica com sete classes (Schola Pansophica). Confrontado com a realidade, com um pequeno número de alunos, Coménio tem de se contentar em abrir a escola apenas com três classes. Inaugura as diferentes classes com importantes alocuções, onde formula as tarefas no quadro do ensino pansófico. É assim que ele aflora as questões da influência metódica (Methodi Verae Encomia), os problemas de como estudar bem as coisas (De Utilitate Accuratae Rerum Nomenclaturae) e da educação para o belo, a sabedoria e a pureza da língua. São muitas vezes de importância capital as suas alocuções pronunciadas por ocasião da inauguração da escola: De Cultura Ingeniorum (Da Cultura do Espírito) e De Libris (Acerca dos Livros).

O primeiro desenvolve a significação da educação e da cultura em geral; o segundo aconselha como utilizar os livros que representam o instrumento principal do ensino. No entanto, Coménio sente-se com a falta de actividade, preguiça e indiferença dos alunos. Aí faz frente com a sua obra Fortius Redivivus (Fortius Ressuscitado, ou Como acabar com a preguiça na escola) e com as Regras de Comportamento. Com o fim de facilitar os estudos, Coménio compõe um manual ilustrado que, em 150 pequenos capítulos, desenvolve o texto da sua Janua, que completa com ilustrações, onde as diferentes coisas são numeradas conforme o texto. Coménio intitula este manual de Lucidarium e publica em 1653 o exemplar espécime. A versão definitiva aparece depois com o título Orbis Pictus e torna-se muito popular até ao sec. XIX. Para que os estudos se tornem mais agradáveis, refaz a sua Janua Linguarum e escreve oito peças de teatro para os alunos: Schola Ludus.

Coménio tem grandes esperanças culturais e políticas em Sigismond Rákoczi, um senhor erudito interessado na pansofia, assim como no casamento deste com a princesa Henriqueta Maria, filha de Frederico, o Palatino. Jorge II, irmão de Segismundo, é principalmente um guerreiro. É para despertar o seu interesse pela educação, que Coménio escreve a obra Gentis Felicitas (A Felicidade das Pessoas), onde caracteriza os princípios comuns e geralmente válidos dum povo instruído em matéria de economia e de cultura e das possibilidades dum desenvolvimento nacional feliz.

Por altura da sua viagem de regresso a Sarospatak, Coménio visita várias localidades na Eslováquia. É recebido com grande respeito tanto nas famosas escolas de Presov e de Levoca, como entre os Irmãos na Eslováquia Ocidental.

A última estadia de Coménio em Leszno, 1654-1656

Coménio trabalha intensamente em Leszno. Desempenha as suas obrigações de bispo, continua a escrever a sua Consulta Geral e, vislumbrando novas esperanças na formação de novas coligações, participa em debates por correspondência acerca da evolução política. Mas, a sua temporada em Leszno termina numa tragédia. Em 1654, Carlos Gustavo sucedeu à rainha Cristina, na Suécia. Pela sua parte, Jean-Casimir, rei da Polónia, que também aspirava à coroa Sueca, recusou reconhecer o seu direito de sucessão. No entanto, como ele era pouco popular na Polónia, devido à opressão das liberdades, Carlos Gustavo ocupou facilmente grande parte da Polónia. Era bem acolhido por todo o lado e viam nele o futuro rei da Polónia. Coménio escreve, então, a convite do Juiz Schlichting um Panegyricus Carolo Gustavo (1655), glorificando o rei da Suécia como defensor das liberdades e da tolerância para todos os habitantes da Polónia. Mas o comportamento dos soldados suecos nem sempre se deu sem violência. Sustentada pelos Jesuítas, a maioria dos católicos insurgiu-se todavia contra eles e contra os não-católicos. A cidade de Leszno, centro não-católico na Grande Polónia, foi posta a saque e incendiada pelos polacos católicos.

Os vencedores fizeram sentir pesadamente a Coménio a sua cólera. Perdeu nas chamas todos os seus bens, mas principalmente a biblioteca e todos os manuscritos de obras inéditas. Coménio descreveu esta catástrofe na obra intitulada Lesnae Excidium (O Fim de Leszno).

Ficou muito desiludido pelas manifestações de ódio num país que, anteriormente, tinha sido conhecido pela sua tolerância. Ele amava os Polacos como um povo muito próximo dos Checos; e assim perdeu em Leszno a sua segunda pátria. Pela segunda vez na vida, viu-se proscrito e obrigado a procurar refúgio. Encontrou-o, primeiro, em casa dos seus amigos em Francfort do Óder e, seguidamente, Laurent de Geer, filho do seu antigo mecenas e amigo, ofereceu-lhe hospitalidade em Amesterdão. Por ocasião da sua viagem, dirigiu-se às Igrejas, pedindo que ajudassem as vítimas de Leszno. Passado tempo, a sua família reuniu-se a ele, em Amesterdão.

 O Último Refúgio de Coménio em Amsterdão, 1656-1670

Nos Países Baixos, Coménio foi bem acolhido em Groningue, em Utrecht e, enfim, em Amsterdão, onde ficou. O Conselho Municipal ofereceu-lhe um posto de ensino de honra e sustento financeiro, que lhe permitiu publicar os seus livros. Do mesmo modo que depois de 1648, em que tinha escrito que das infelicidades se deviam originar as virtudes, escreve aos amigos que deseja “reunir os restos dos vasos quebrados... e pôr-se a trabalhar”. Ele começa então a trabalhar infatigavelmente. As obras anteriormente escritas para as escolas, prepara-as então para serem publicadas, como por exemplo peças de teatro, tais como Diogenes Cynicus, e refaz também Faber Fortunae, apresentando nelas um homem pansófico, sensato e harmonioso, etc.

Trabalha muito para a Unidade dos Irmãos para a qual consagra extractos das Escrituras para jovens e adultos (Manual da Bíblia), um catecismo e nomeadamente o Livro dos Cânticos, isto é, uma colecção de cânticos traduzidos e outros compostos põe ele com prefácio sobre a importância dos cantos e dos cantos religiosos em particular. É no trabalho em latim intitulado “Do Bem precioso da Unidade e da Ordem” (consagrado à Igreja Anglicana), na breve história da Igreja eslava e noutras obras que informa os estranhos à Unidade. Dez anos após o aparecimento do Testamento da Unidade, Mãe Moribunda, publica o quarto volume de O Aflito - Triste Voz do Pastor, perseguido pela cólera de Deus, que aconselha e se despede do seu rebanho disperso e moribundo (1660), uma confissão plena de tristeza pelo enfraquecimento da Unidade nas guerras, epidemias e outros sofrimentos. No entanto, segundo Coménio, os Irmãos não se deviam entregar tanto ao desespero mas sim pelo contrário, aprofundar a sua vida espiritual e cumprir o legado da ordem, jóia da Unidade, pois, como ele pensava, a Unidade dos Irmãos viveria um dia o seu renascimento. Ele próprio trabalhava com vista à grande unidade mundial.

Ele iniciou uma polémica com os “socinianos”, ou seja, com os racionalistas religiosos que não acreditavam na divindade de Jesus Cristo nem na Santíssima Trindade. Criticava também o cartesianismo, principalmente o facto de Descartes isolar a razão do conjunto das outras manifestações do homem. No entanto, do ponto de vista da evolução, as doutrinas de Galileu e de Descartes foram inelutáveis, indispensáveis para a especialização científica pela separação da ciência, e da filosofia da teologia. Coménio, por seu lado, tinha razão na proporção em que, por exemplo, a separação da ciência dos processos da evolução humana, individual e social, podem marcar a vida negativamente. Donde também a sua profunda concentração sobre a ideia da harmonia.

Coménio escreve também tratados políticos, mas encontra-se cada vez mais, desviado da verdadeira cena política. Publica, por exemplo, Angelus Pacis (O Anjo da Paz), convidando a Inglaterra e os Países-Baixos, dois países protestantes em guerra, para a reconciliação. Nesse livro, pronuncia-se pela paz e contra a guerra, contra a exploração das colónias sem ter em conta os seus habitantes, exprime, também a sua convicção que a humanidade devia ser fundamentada na pureza e na verdade.

A multiplicação das profecias e do misticismo atraem-lhe vários inimigos e até a separação de antigos amigos. Reuniu os profecias de Poniatowska, de Kotter e de Drabik num volume intitulado Lux in Tenebris (Luz nas Trevas), editado, na Segunda edição, com o título Lux e Tenebris (A Luz das Trevas), ao qual dá um sentido político. Na época, acreditava-se bastante nas revelações, particularmente no seio dos refugiados, de modo que todo esse empenho, inaceitável para os racionalistas que se começavam a impôr, deve ser estudado do ponto de vista do período histórico em que se desenrola.

Entre as inúmeras obras dos últimos catorze anos da vida de Coménio, distinguem-se dois grandes projectos, que exprimem o seu ideal de fábrica da humanidade no melhoramento das escolas e da sociedade. O primeiro, Opera Didactica Omnia, conjunto de trabalhos didácticos publicado nos anos 1657-1658, e o segundo, De Rerum Humanarum Emendatione Consultatio Catholica (Consulta Geral da Reforma dos Trabalhos Humanos), conservado em manuscrito em estado fragmentário.

As Opera Didactica Omnia reúnem, em quarto volume, os trabalhos didácticos e pansóficos, principalmente a sua Didáctica, que dada da sua primeira estadia em Leszno (I) e das estadias em Elbing (Elblag II) e Sárospatik (III). O quarto volume contém textos novos, escritos provavelmente em Amsterdão, nos anos de 1656-1657. Coménio resume nelas as dificuldades da sua vida; passa revista às suas actividades (Ventilabrum Sapientiae), e formula um programa para o futuro (Traditio Lampadis). Nos trabalhos puramente pedagógicos, define resumidamente os princípios básicos do seu novo método de ensino, e desenvolve principalmente o princípio do natural, a unidade dos objectivos, do conteúdo, dos métodos e dos meios de ensino, bem como a unidade existente entre a teoria e a prática, o saber, o querer e as capacidades de agir simples e correctamente. (E Scholasticis Labyrinthis Exitus, A Saída dos Labirintos Escolares). Na obra intitulada Typographaeum Vivum (A Tipografia Viva), ilustra o bom funcionamento dessa escola e apresenta um método de ensino fácil do latim no seu Latium Redivivum (Latim Ressuscitado). Queixa-se com frequência do facto de que o seu ideal de escola enquanto “fábrica da humanidade”, “Jardim do Estado”, e “Abertura a Toda a Vida”, limita sempre um objectivo que se deve realizar (Paradisus Juventutis Christianae Reducendus, Como Formar o Paraíso na Juventude Cristã.

Paralelamente, Coménio esforça-se por terminar a sua Consulta Geral. Com efeito, em Leszno, tinha conseguido salvar, pelo menos, os rascunhos dos seus dois primeiros volumes, a Panegersia e a Panaugia. Durante a viagem de Leszno a Amsterdão, parou em Hamburgo, onde mandou fazer as respectivas cópias. Primeiramente estas duas obras foram traduzidas em francês e apresentadas a Laurent de Geer. Elas publicam-se nos anos de 1662-1664. Coménio publica ainda um exemplar espécime completado com o segundo prefácio da Pansofia, oito capítulos da Panorthosia e menos de treze capítulos da Pannuthesia. As passagens quiliásticas da Panorthosia provocaram uma viva crítica a Coménio da parte de Samuel Maresius, professor de Groningue. De facto, os dois últimos anos da vida de Coménio foram pesadamente marcados pela polémica entre estes dois eruditos. Por outro lado, é precisamente graças a isso e, em particular, aos argumentos de Coménio, utilizados em sua defesa, que hoje não estamos mal informados dos pormenores da sua vida (Continuatio Admonitionis Fraternae, A Continuação da Admoestação Fraternal).

No prólogo da Consulta (Europae Lumina, As Luzes da Europa), Coménio exorta as personalidades ilustres dos países europeus, mas também todos os outros homens e participarem nas consultas para mudar as ideias sobre a situação, para procurar melhorar o estado da humanidade, para unir os esforços com vista ao conhecimento objectivo e à educação em geral, ao bom procedimento dos homens e à boa relação com a Natureza e com vista à boa participação perante Deus, perfeição suprema.

O primeiro volume, a Panegersia (O Acordo de Todos), anuncia o intuito do melhoramento das coisas humanas, isto é, a filosofia, a política, a religião, propõe meios de acabar com as guerras e recomenda pôr em evidência diferentes formas de cooperação internacional. A Panaugia (O Esclarecimento de Todos) refere-se aos métodos da reforma de tudo e de todos, completa e no todo (Omnes, Omnia, Omnino). Segue-se a Pansophia (A Sabedoria Universal) e sete volumes, à qual Coménio queria dar o nome de Pantaxia, visto que ela continha um sistema coerente de conhecimentos do mundo como um todo; tantos princípios, cujas chaves principais são: saber, querer e poder (scire, velle, posse), como conhecimentos das coisas e dos fenómenos concretos. Os princípios do mundo (ou a metafísica pansófica) são formulados na primeira parte do Mundus Possibilis (Mundo Possível). A construção do universo explica-se nos outros sete “mundos” (ou graus que descrevem no quadro da evolução cósmica: o mundo divino, pelo mundo angélico e natural; o mundo da actividade humana, até ao mundo eterno, a posição e o papel do homem no processo de melhoramento. Na Pampaedia (Educação Universal), Coménio evoca a sua teoria da cultura permanente nas “escolas da vida”, desde o nascimento até à velhice e à morte. A sua Panglottia (A Preocupação de todos sobre a Língua) trata dos meios da compreensão internacional e contém também o projecto duma língua universal, clara, exacta e fácil de aprender. O sexto volume, a Panorthosia (Melhoramento Universal), abre o caminho do melhoramento da sociedade por intermédio das instituições. Coménio não se contenta apenas com o simples melhoramento das famílias, das escolas, da Igreja, do Estado, mas também propõe constituir tribunais internacionais - colégios de homens eruditos encarregados de propagar a cultura em todas as nações e de se representar as nações de todo o mundo, um espaço para tratar da paz internacional e um concelho mundial das Igrejas, autorizado a discutir as questões litigiosas de ordem política, filosófica e eclesiástica. Na Pannuthesia, Coménio exorta todas as pessoas a organizar conferências e a realizarem os respectivos resultados na prática.

Coménio tinha encarregado o seu filho Daniel e o seu amigo Christian Nigrin da publicação da sua obra, mas foram vãos os seus esforços neste sentido. Nigrin copiou o manuscrito e procurou publicá-lo, em 1702, em Halle, com Justus Docemius, amigo de Coménio. Pela falta de interesse, foi suspensa a publicação dos cinco últimos volumes. O manuscrito encontrou-se depois nos arquivos do Orfanato de Halle, onde ficou esquecido. Em 1795, numa das suas Cartas, de sustentáculo da humanidade, o filósofo J.G. Herder aviva a memória de Coménio e depois, em 1829 o historiador Frantisek Polacky, começa a estudar sistematicamente a sua vida e obra. Ao mesmo tempo, há quem se ponha também a procurar o manuscrito da Consulta Geral (J. Kvacala). Descoberto em 1934, por D. Tschizewski, publica-se o original latino da Consulta, pela primeira vez, em Praga, em 1966.

O legado de Coménio compreende outros manuscritos. Citemos por exemplo, o Triertium Catholicum (A Tripla Arte Comum), que trata paralelamente do pensamento, da linguagem e da acção (a lógica, a gramática e o pragmatismo) e sublinha a necessidade de harmonia entre estes (publicado em 1681, com o título de Janua Rerum, que Coménio já não chegou a publicar em vida). Os seus jornais ficaram conservados apenas em fragmentos, tal como um extracto da sua agenda de trabalho de 1646 e das notas relativas à sua obra Clamores Eliae (Os Gritos de Élia).

Dois anos antes da sua morte, Coménio publicou também o livro Unum Necesarium (Uma Coisa Necessária), Pela procura da verdade e da justiça, da liberdade, da ordem e da concórdia, o homem sai dos labirintos da vida para a paz. Laborioso e cheio de amor, de paciência e de tolerância, vai à procura da sabedoria da vida e, por consequência, da boa relação com a natureza, com os homens e com Deus. “Como são imprudentes os que se entregam inteiramente às coisas inúteis e põem de lado as coisas necessárias”!

Coménio faleceu em 15 de Novembro de 1670, em Amsterdão. Foi enterrado em Naarden. Nessa época, tinha-se ele declarado como o “homem de aspiração”. Acrescentemos o seguinte: tratava-se da aspiração ao aperfeiçoamento de tudo.


Biografia Augusta Foss Heindel


Augusta Foss nasceu em Mansfield, Ohio, USA, Latitude 40N45, Longitude 82W30, filha de William Foss e Anna Richt as 5:15 da tarde de 27 de janeiro de 1865. William Foss veio de Mogendorf, ao este de Koblenz, Alemanha, onde nasceu em 6 de março de 1831. Ele veio para a América quando tinha 22 anos de idade, em 1853. Seu nome era originalmente Vosz. Anna Marie Richt nasceu em Neuwied, norte de Koblenz, em 4 de Junho de 1827. Casaram-se em 6 de junho de 1855 e tiveram sete filhos, todos nascidos em Mansfield, Ohio. Augusta foi a segunda filha mais jovem. A família Foss mudou-se para Los Angeles nos anos de 1880 e construiu sua residência em Bunker Hill em 1885.

Augusta Foss, que procedia de uma família luterana, começou a estudar filosofia oculta e astrologia em 1898. Inicialmente esteve associada a Ordem dos Hermetistas e posteriormente a Sociedade Teosófica, servindo como bibliotecária.



Foi no outono de 1903 durante uma conferência de C.W. Leadbeater no Blanchard Hall, em Los Angeles, que Max Heindel conheceu Augusta Foss, a mulher que nos anos seguintes se tornaria sua inspiração espiritual, e quefoi instrumental no interesse de Max Heindel pela ciência da Astrologia, na qual foi mais tarde reconhecido como um dos maiores astrólogos esotéricos do século XX, e um dos responsáveis pelo renascimento desta ciência no mundo ocidental.

Augusta Foss Heindel ensinou Astrologia a Max Heindel , antes de se casarem em 1910. Liderou o movimento rosacruz na California ao lado de seu marido, assumindo a direção da The Rosicrucian Fellowship após a transição de Max Heindel aos planos superiores em 1919.

Escreveu A Mensagem das Estrelas e Astrodiagnose com Max Heindel, e outros livros como A Evolução do Homem segundo a Filosofia Rosacruz, Memórias de Max Heindel e da Fraternidade Rosacruz e A Astrologia e as Glandulas Endócrinas, prefaciado por Manly P. Hall, que também iniciou seus estudos em Astrologia sob a direção desta iluminada e competente instrutora.

Foi editora da revista Rays from the Rose Cross, publicando artigos esclarecedores no campo da Astrologia e do Esoterismo Cristão.

Passou ao Oriente Eterno , no dia 9 de maio de 1949,  após uma existencia frutifera dedicada ao Idealismo Rosacruz.

"Ao discípulo da antiga sabedoria é ensinado a perceber que o Homem não é essencialmente uma personalidade, mas um espírito" (Manly P. Hall)



Estudo do Tema Natal da

Sra. Augusta Foss-Heindel



O Mapa da Sra. Augusta Foss Heindel, Iniciada Rosacruz e cofundadora da Fraternidade Rosacruz pode ser encontrado na Obra Astro diagnose, de Max Heindel e Augusta Foss Heindel, Cap. XI, Lição de Direções Planetárias. Pag.51 na Edição da Editora Pensamento
De um espírito forte, vigoroso, pioneiro, na constante busca da Luz e da Verdade, apesar das provações e tentações de forças terríveis. Possuindo um espírito de fé e confiança invencível, representado pelo Sol em Aquário e a Lua em sextil com Netuno e em trígono com Marte, ela passou por todos os testes e lutas encontradas à sua frente.

Naturalmente, era de se esperar que uma aquariana se dedicasse a pensamentos avançados; e ela não foi à exceção. Muito cedo procurou uma solução para os problemas intrincados da vida e da morte e as interpretações ortodoxas dessas perguntas não satisfaziam sua mente. Urano está em Gemini, e isto certamente a levou a se voltar para novos horizontes, particularmente em sua própria conduta mental.

Em 1898, ela interessou-se pela astrologia, e por volta do ano 1905 conheceu Max Heindel, um leonino (signo oposto ao seu). O tema desta aquariana nos dará duas lições interessantes sobre compatibilidade, uma das quais é indicada ao comparar o tema do Sr. Heindel com este de nossa irmã aquariana.

Com o Sol, Lua e ascendente em Léo, conjunto no ascendente e oposição ao seu Sol e Lua, não há dúvida de que estas duas pessoas encontraram reciprocamente, o complemento natural de suas próprias naturezas. Casaram-se no dia 10 de agosto de 1910 e seus esforços agora estavam (re) unidos.

Em sua vida, ela possuía a mãe enferma para cuidar (Saturno na quarta casa) e mais tarde assumiu a responsabilidade de ajudar seu marido em seu trabalho (Saturno em quadratura com o Sol).

Ela tinha muita simpatia pelos jovens, criou amizades incomuns (Urano na décima primeira casa), o que proporcionou muita amizade. Era muitas vezes chamada de "mãe". Ela expressou seu grande amor humanitário por todos (Sol e Lua em Aquário) ao invés de um centralizado amor de mãe por um único filho.

Com Léo no ascendente, tinha um corpo forte, bem constituído, que refletia a força e a dignidade de sua personalidade. A natureza forte de aquário era também notada nos seus traços, bastante marcantes, com linhas profundas de personalidade.

Não aceitava a desonestidade e algumas vezes era intencionalmente áspera e impaciente ao falar, mas Marte em Gemini, não fala com rodeios, nem é vago ao se expressar! Ela tinha a coragem de ir direto ao ponto, falando severa e firmemente, pois não é difícil tomar uma decisão rápida quando o planeta da ação (Marte) está no signo da mente (Gemini). Todos gostavam imediatamente da Sra. Heindel e ela - em retribuição amorosa - gostava de todos ( Sol em trígono com Marte). A posição de Léo no ascendente indica uma boa disposição, um gênio amigável e um desejo sincero de se dar ao mundo.

Mercúrio em Capricórnio dá uma mente persistente e na sexta casa, indica serviço e trabalho de ordem mental (palestras, escritos, ensinamentos etc.), e tudo isto foi realizado pela nossa amiga aquariana!

A Cabeça de Dragão e Saturno na quarta casa mostram um importante clímax de vida realizado em sua casa ou base das operações. A Cauda de Dragão localizada na décima casa indica que os obstáculos precisam ser vencidos antes que a posição de honra torne-se um direito de nascimento. Contudo, Marte, regente do Meio Céu está muito bem aspectado, assegurando-lhe sucesso e êxito diante das exigências do mundo. Seu profundo senso de honradez foi sua grande qualidade, o que muito a fortaleceu e ajudou-a a vencer os obstáculos.

A segunda lição sobre compatibilidade, estudando o tema da Sra. Heindel, é que os signos próximos (Capricórnio e Aquário) têm muito pouco em comum, exceto que o primeiro (Capricórnio) procura melhorar ao segundo (Aquário).

Áries deve progredir para Touro, Touro a Gemini, Gemini a Câncer, etc.

Cada signo seguinte possui qualidades procuradas pelo anterior. Onde há um contato desta natureza, um deveria auxiliar ao outro, pois nativos de signos próximos têm muito a aprender entre si. Uma vez que a compreensão altruística estabelece-se, o crescimento pessoal se desenvolverá de uma maneira surpreendente e superior.

Quando aspirantes se juntam no Caminho, para trabalharem por objetivos mútuos, ninguém dever ser totalmente dominante. Como nesta aquariana, as características estritamente individualistas, foram expressas no serviço amoroso e desinteressado ao próximo.

A Sra. Heindel foi capaz de utilizar a aumentar suas faculdades construtivas durante sua vida aqui na Terra.

Por todos os degraus da liberdade (Aquário), mostrou aos outros, uma vida que irradiava amor. Partiu para os planos internos em 9 de maio de 1949, aos 84 anos.

- Jonas Taucci



Sra. Augusta Foss Heindel próxima a Cruz consagrada a Christian Rosenkreutz

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Biografia Jorge Adoum (Especial)



Insigne Escritor Gnóstico" y "Gran Maestro de Misterios Mayores de la Logia Blanca".

Aunque fue un prolífico escritor, no se conoce ningún currículum-vitae suyo, ni siquiera para la contratapa de alguno de sus numerosos libros. Toda la información de la que se dispone proviene de las referencias de sus hijos, ya que habiendo fallecido en 1958 a la edad de 61 años, en 1988 (30 años después) la mayoría de sus contemporáneos que pudieran informar sobre sus primeros años han dejado también de existir. Se sabe que tuvo un hermano menor, el último, Salim, y tres hermanas: Celinda, fallecida en Guayaquil, Nazza y Rebicimia, fallecidas en Brasil, país adonde emigraron casadas durante la Primera Guerra Mundial.

Fue una persona hermética en lo que concernía a su vida. En dos de las novelas que escribió: "Adonay" y "El Bautismo del Dolor" (la primera publicada en español y portugués y la segunda sólo en portugués), lo que aconteció a "Adonay" aparentemente son relatos autobiográficos de su vida en Líbano, Cercano Oriente y Francia; no obstante, cada vez que se le preguntó si realmente podrían considerarse como acontecimientos de su vida, eludía sistemáticamente una respuesta objetiva, diciendo que la pregunta carecía de importancia, actitud que mantenía, según explicó a uno de sus hijos, por temor a que se cultivara una reverencia a su persona, a causa de la admiración que le tenían y aun tienen sus discípulos.

ADOUM o ADUM

La ortografía con que escribía su apellido (incluyendo una "o" entre la "d" y la "u") proviene de su pasaporte emitido por autoridades francesas, en cuyo idioma es indispensable escribir "Adoum" para que suene igual que "Adum" en español.

SU INFANCIA

Su infancia debe haber sido difícil, al igual que la de todos los cristianos en Europa Oriental y Cercano Oriente, la ocupación turca revistió extrema crueldad como lo testimonian hechos muy conocidos, provocados por el fanatismo otomano en los países árabes y en Europa.

Las restricciones impuestas por los turcos fueron draconianas, al extremo que les estaba prohibido acercarse al mar y el que lo hiciera recibía disparos de alguno de los gendarmes que vigilaban las playas. Durante la guerra no podían siquiera salar los alimentos ya que la sal escaseaba particularmente entre los cristianos. Sin embargo, los turcos no tenían óbice para que sus súbditos emigraran, razón por la cual concedían pasaportes o salvoconductos para salir del Imperio.

Así, cuando las cosas se pusieron difíciles entre 1900 y 1918, se produjo la avalancha de cristianos libaneses, sirios y palestinos a América y esa es la razón por la que se les dio equivocadamente el gentilicio de "turcos" a todos los inmigrantes que se identificaban con tales documentos.

Nada se sabe de los estudios que hizo, pero en su novela "Adonay" hay evidencias de que inició su investigación sobre las religiones antes de salir del Líbano, país al que jamás regresó, porque se refiere con gran conocimiento a la de los drusos, secta y etnia circunscripta al Cercano Oriente, de la cual hay escasísima información en Occidente.

Alguna vez contó a sus hijos que durante la guerra del 14 se unió al emir Faisal de Siria como su secretario, luchando por la independencia de su país, y cuando le preguntaron por qué continuó a su lado él explicó que una frase inoportuna suya había cambiado su vida y tal vez la de su país, agregando: "El emir me invitó a volver con él cuando me ubicó aquí, pero ya era demasiado tarde".

Hacia 1916 llegó a su casa la noticia de que había muerto en el frente, su padre y su hermano decidieron hipotecar a un usurero las tierras de la familia y venir a América; sin embargo, no había muerto y al fin de la guerra regresó a su casa en busca de refugio, perseguido, sin la protección del emir Faisal y con la cabeza puesta a precio por ser nacionalista, encontró que la heredad ya no les pertenecía y que los suyos habían venido a Ecuador.

LLEGA A AMÉRICA

Enseguida abandonó Líbano y ningún conocido volvió a saber de él hasta 1924, cuando llegó a nuestro país (Ecuador). Proveniente de Francia, estudiando, porque cuando llegó a Ecuador hablaba y escribía correctamente francés, lengua que no se enseñaba en colegios ni universidades de Líbano sino a partir de 1918.

Sabía Medicina Naturista, Hipnotismo y Sugestión, que no eran materias de las escuelas de Medicina de la Europa de esa época, lo cual pone una interrogante adicional en la investigación de lo que pudo haber hecho en ese lapso. Lo más probable es que tempranamente se decepcionó de la Medicina Clásica y orientó sus estudios hacia la especialidad que después cultivó.

Llegó con la salud quebrantada, en busca de los suyos, pero tuvo la sorpresa de no encontrarlos porque padre y hermano, uno después de otro, habían viajado a Brasil, donde residieron hasta su muerte.

CONOCE A QUIEN SERÁ SU ESPOSA

Los médicos le recomendaron que se radicara en la Sierra porque el clima de Guayaquil sería fatal para él. El Dr. Abel Gilbert le diagnosticó tuberculosis y pronosticó tres meses de vida. Fue así como decidió viajar a Ambato, donde, superados sus males, que estaban lejos de ser la terrible enfermedad de esos tiempos, conoció por un amigo, que en Machala acababa de enviudar un señor Villamar, a quien sería su esposa: Juana Aguad Barciona, libanesa, hija única, que vino con sus padres cuando tenía 5 años de edad y casaron por poder.

Con ella procreó cinco vástagos: Violeta, Jorge Enrique, Handel, Wagner (fallecido en 1977) y Nancy.

DESINTERÉS POR EL DINERO 

Ambato en 1924 era una ciudad poco apta para poner de manifiesto su talento. Sin poder ejercer la Medicina que él conocía ("¡Quién querría o podría tomarme exámenes! explicaba años más tarde a sus hijos) trató de sobrevivir con el comercio pero descubrió que no tenía aptitud para esa rama. Y de hecho el resto de su vida mostró un total desinterés por el dinero, lo que justificaba su fracaso como comerciante.

Cuando algún amigo acudía a él en busca de salud, era incapaz de cobrar por el tratamiento. Aun, posteriormente, cuando tuvo autorización para ejercer, consideraba indigno recibir honorarios por curar enfermos, causando la natural irritación de su esposa, quien tenía que enfrentar las estrecheces económicas de un hogar de cinco hijos; por eso y mientras ejerció la Medicina, siempre se atuvo a la generosidad de sus pacientes sin pedirles jamás un centavo.

EL ARTISTA


En el aislamiento cultural que mantuvo en Ambato se dedicó a la pintura con razonables resultados en lo formal y artístico y deplorables en lo económico, pero en el campo intelectual se ahogaba. Para combatir el tedio aprendió a tocar música clásica en violín, tradujo y publicó "Las Alas Rotas" de Khalil Gibrán, dando a conocer probablemente por primera vez en Ecuador a este renombrado poeta y "La Moderna Eva" de Nicolás Hadad, otro notable escritor libanés.

EL MÉDICO

Con respecto a su ejercicio de la Medicina se deben señalar algunos hechos sorprendentes, de los cuales informan sus hijos con suficiente conocimiento porque fueron testigos presenciales.

Para el cuerpo médico de Ecuador en la década de 1930, cerrado a innovaciones o investigación de nuevas técnicas, Adoum no pasaba de ser un brujo irresponsable, a pesar de que quienes acudían a él lo hacían sólo cuando los médicos académicos los habían desahuciado.

En 1935 buscó horizontes más amplios en Quito y se mudó con su familia a la capital. Allí, con mejores elementos culturales, pudo desarrollar su capacidad aunque siempre dentro de extremadas limitaciones.
Publicó una revista teosófica "Yo Soy", cuya circulación se producía en el exterior, siendo muy limitada su venta en el país. Ese año atendió al Jefe Supremo Ing. Federico Páez de la grave dolencia que éste sufría y fue recompensado con una autorización para poder ejercer libremente la Medicina en el Ecuador.

Entre las curaciones importantes que realizó está la de una señora llamada María de León, quien sufrió terribles ataques de asma durante muchos años, habiendo visitado a cuantos médicos conocía, sin resultado alguno. Adoum le dio un tratamiento de hipnosis y prescribió que a las cinco de la mañana caminara sin zapatos sobre el césped del parque El Ejido de Quito.

María de León, al cabo de pocos meses, dejó de tener ataques de asma.

Hacia 1978 (43 años después) una revista médica de la Unión Soviética publicó que los médicos rusos estaban experimentando el tratamiento del asma, mediante marchas sobre el césped, en la madrugada, pues durante la noche, los rayos cósmicos, beneficiosos para los asmáticos, se acumulan en las hojas y pueden ser aprovechados por los pacientes antes de que el sol y el tránsito reduzcan su potencia.

Adoum jamás reveló cuál era la fuente donde aprendió ese tratamiento y tampoco vivió lo suficiente para poder leer el artículo mencionado.

A su hijo Wagner le curó la tiña, temido mal porque aun no se habían descubierto los antibióticos. A su hijo Handel, cuando tuvo terribles dolores de cabeza que desconcertaron a los médicos, desde Buenos Aires, por carta, sólo en base a los síntomas, le diagnosticó acertadamente envenenamiento tabacal.

Adoum jamás ejerció la medicina en otro país que no fuera Ecuador; sin embargo, cuando algún amigo le pedía consejo, se lo daba, aparentemente con éxito, porque siempre acudía algún amigo de su amigo, también en busca de consejo.

De esta manera propagando su renombre como médico acertado.

Sus curaciones debieron ser notables y bastante conocidas no sólo en Ecuador sino en Sudamérica, si se juzga con el siguiente incidente que le contrarió en Buenos Aires.(ver más adelante donde dice: "En 1955 viajó a Buenos Aires..."

EL ESCRITOR


Hacia 1940 publicó en Quito su primer libro, "Poderes", empleando el seudónimo de "Mago JEFA" que identificó su producción literaria posterior y que consiste en las iniciales de su nombre, más la del nombre de pila de su padre según la usanza de los árabes (JEFA es igual a Jorge Elías Francisco Adoum).

Este libro despertó gran interés en toda Latinoamérica y escasa atención en el país. A éste le siguieron "Las llaves del Reino Interno" (1941), "Adonay" (1942), "La Zarza de Oreb" (1943), y "Revivir lo Vivido", editada ésta en 1945 como la última cuya impresión se hizo en Ecuador.

En 1943 se independizó Líbano y fue fundador y primer presidente del "Centro Cultural Árabe" de Quito, cuyo órgano de publicidad fue la revista "Oasis" de la cual llegaron a salir 16 números en tres años. En ella se publicaron artículos de notables escritores de Quito y del país, al convertirse en uno de los poquísimos medios de comunicación que existían en la capital. Las ceremonias de inauguración tuvieron lugar en la casa de Saadin Dassum que fue electo Vicepresidente y Antonio Chediack administrador.

SATISFACCIONES EN EL CAMPO ESPIRITUAL

Para 1946 era una figura conocida en el continente sudamericano, en el campo esotérico. Recibió una invitación de Chile para que dictara algunas conferencias y allí aprovechó para publicar su nuevo libro "El Pueblo de las Mil y Una Noches" (1946) en un lugar donde su demanda era mucho mayor que en Ecuador. Su intención fue permanecer en Santiago por tres meses, pero sus compromisos jamás le dejaron regresar en otra condición que de visita a su familia. Volvió algunas veces hasta 1953, año en que murió su esposa.

Desde 1946 su existencia cambió totalmente y fue llena de satisfacciones personales en el campo espiritual y la admiración que sus discípulos tenían por él rebasa toda ponderación. La generosidad de éstos hizo que las estrecheces económicas que sufrió en Ecuador se superaran sin esfuerzo. 

Vivía indistintamente entre Chile, Argentina y Brasil haciendo giras. Finalmente, en 1950, decidió establecerse en Río de Janeiro, desde donde visitaba otros países. La venta de sus libros se multiplicó y continúan siendo éxitos de librerías en América Latina.

En los años cincuenta, en vida suya, se constituyó en Brasil la "Comissáo Divulgadora das Obras do Dr. Adoum", cuya sede está aun en Santos Dumont, estado de Minas Gerais y se ocupa principalmente de la difusión de las enseñanzas y escritos de quien ha sido considerado un maestro en ese tipo de investigaciones.

En 1955 viajó a Buenos Aires y alguien cometió la indiscreción de dejar saber en qué hotel se alojaría. Se hospedó tranquilamente la noche de su llegada y a la mañana siguiente la policía acudió a su habitación a pedirle que dejara la ciudad a la brevedad posible. Le resultó totalmente incomprensible esa descortés actitud porque aun no se había enterado que el hall de hotel estaba lleno de gente en silla de ruedas, con muletas y caras demacradas, que querían visitar al Dr. Adoum por razones médicas; hecho que obligó a la administración a llamar a la policía.

FALLECE EN BRASIL 

El 4 de mayo de 1958 falleció en Río de Janeiro a causa de un derrame cerebral y cumpliendo su voluntad está enterrado en la ciudad de Petrópolis, Brasil, donde le recuerdan como "JEFA EL VENERABLE". De sus discípulos ecuatorianos más conocidos cabe destacar la enorme admiración que por él tuvo el poeta César Dávila Andrade, para quien las enseñanzas de Jorge Adoum tuvieron mucho significado.

SUS CARACTERÍSTICAS PERSONALES

En cuanto a sus características personales, era alto, grueso, muy esbelto, de caminar imponente y cuidadoso en el vestir. Su mirada, jamás inexpresiva, era penetrante e inspiraba temor o ternura, según quien fuera el interlocutor. Hablaba muy claramente, en voz nunca alta pero siempre claramente audible, de tono firme y seguro. Tanto el español como el francés lo hablaba casi sin acento, con mucha propiedad.

En sus conferencias, como siempre sucede, se hacían presente sus detractores; pero Adoum sabía emplear el humorismo con mucha agilidad para desviar la controversia hacia la carcajada. Nadie recuerda haber presenciado un altercado suyo con otra persona, lo que conduce a creer que tenía un gran poder de convicción o habilidad para encontrar soluciones de armonía. Gustaba polemizar con quienes no pensaban como él, más no intentaba imponer sus creencias. Al discutir con Adoum se tenía la impresión de que sólo trataba de conocer cómo eran los puntos de vista ajenos, por mera curiosidad.

Su pasatiempo en los últimos años de su vida fue el cine, al que acudía con un estricto sentido de distracción, sin mayor análisis artístico de la película que iría a espectar. En Quito, los domingos, solía reunir en casa a almorzar a sus pocos amigos, casi todos compatriotas, tocaban laúd y cantaban música árabe, eran reuniones alegres y fraternales. Poderes o el Libro que Diviniza.

Como padre fue severo y exigente, predominando ante sus ojos el cumplimiento del deber como principio fundamental de vida. De hecho, él fue exigente por igual consigo mismo y se auto concedía muy poco margen para distracciones, en un perenne estudiar desde la hora de levantarse hasta la de acostarse.
Solía madrugar y comenzaba el día con sus ejercicios respiratorios, de los cuales formaban parte ciertos sonidos de las cuerdas vocales, muchos de ellos con la boca cerrada, tenuemente emitidos, muy prolongados, que variaban de tonalidad.

Sus libros tratan de las fuerzas interiores que, sin conocer de poseerlas, tiene el hombre. Varias de sus obras descubren significados ocultos en las escrituras sagradas de todas las religiones, particularmente del Cristianismo. Según sus propias palabras el objetivo de las religiones es acelerar la evolución del hombre, pero es inútil revelar a todos las mismas enseñanzas, porque lo que puede ser ayuda para unos es incomprensible y perjudicial para otros; no obstante, mientras no consiga transformarse cada uno en su propia religión, el hombre continuará sintiendo la necesidad de un culto institucionalizado. Las religiones, dice, fueron dadas a los pueblos y deberían satisfacer las necesidades de cada uno de ellos porque, en caso contrario, no satisfarán a su evolución. Dice que todas las religiones tienen un origen común y que las divergencias entre ellas se deben a la diferencia de nivel del desenvolvimiento mental de sus adeptos.

En "Esta es la Masonería" analiza el contenido esotérico de la masonería y los pasos que deben darse para lograr la superación y la maestría. Intentó escribir sobre los 33 grados pero la muerte lo sorprendió al concluir el noveno. "Del Sexo a la Divinidad" estudia la historia de los misterios de las religiones, el poder creador, la llave de los misterios y el principio puro de las religiones. "Yo Soy" es una colección de afirmaciones para lograr la auto superación. "Poderes", dentro de la misma línea, habla de las llaves del saber, del querer y del nuevo nacimiento. "Cosmogénesis" analiza la relación del espíritu con la naturaleza. "La Magia del Verbo" se ocupa del poder espiritual y científico de las palabras. "La Zarza de Oreb" es una introducción a los grandes misterios del cuerpo humano. "El Génesis Reconstruido" trata de la relación del hombre con las fuerzas cósmicas. "El Pueblo de las Mil y Una Noches" trata de las religiones de Oriente, con un profundo conocimiento de la historia de esos pueblos. Fue un hombre culto y conocía la situación del Medio Oriente. 

SUS LIBROS

Los libros que publicó son los que siguen. Junto al título se indica el número de ediciones que se han hecho hasta 1988:

Adonay 
Cómo Sentir y Disfrutar la Felicidad 
Cosmogénesis 
Del Sexo a la Divinidad 
El Bautismo del Dolor 
El Génesis Reconstruido 
El Libro sin título de un Autor sin Nombre 
El Pueblo de las Mil y Una Noches 
El Reino 
Esta es la Masonería: 9 libros, 7 tomos:
El Aprendiz y sus Misterios 
El Compañero y sus Misterios 
El Maestro Masón y sus Misterios 
El Maestro Secreto y sus Misterios 
El Maestro Perfecto y sus Misterios 
El Secretario Intimo, Maestro Inglés (6° tomo) 
El Preboste y Juez o Maestro Irlandés (6° tomo) 
El Intendente de los edificios o Maestro en Israel (6° tomo)
Grado del Maestro Elegido de los Nueve 
Poderes o el Libro que Diviniza 
La Magia del Verbo 
La Zarza de Horeb 
Las Llaves del Reino Interno 
Rasgando Velos 
Revivir lo Vivido 
Yo Soy 
Veinte días en el Mundo de los Muertos 

Quedaron inéditos algunos libros del Mago JEFA, tales como:

1. El Evangelio de la Paz
2. El Germen de la Vida
3. Los Ejércitos de la Miel
4. Rumbo a los Misterios

y el paradero de los originales de otros es ignorado. Algunas de sus obras se agotaron en la primera edición y es difícil encontrar un ejemplar para hacer una nueva. De ello se ocupa actualmente la "Comissáo Divulgadora das Obras de Jorge Adoum".

En "Adonay", publicado en 1942 (aun no nacía siquiera el Estado de Israel y la Segunda Guerra Mundial estaba en todo su furor) presagia los terribles tiempos que iban a venir para Líbano, Siria y Palestina, por la forma con que se conducía la política de esos países liberados de los turcos.

Como dato curioso cabe también mencionar que Adoum practicaba como pasatiempo la lectura de la suerte a través de la ceniza de los cigarros y los conchos de las tazas de café, técnicas muy antiguas en el Oriente para esta clase de hobbies.