sexta-feira, 9 de agosto de 2024

JOHN YARKER: UM MESTRE DO PASSADO E SUA JORNADA INICIÁTICA

 

Dentro de nosso processo iniciático, em determinadas ordens (e em especial no Martinismo), em determinados momentos, somos convidados a escolher um nome esotérico/iniciático.

Essa escolha não é uma tarefa simples, pois temos a possibilidade de que seja através de um mote em latim, um nome criado do zero ou a escolha do nome de um Mestre do Passado.

Independente do caminho escolhido, a ideia é que esse nome ancore uma determinada “energia”.

No caso da escolha pelo nome de um Mestre do Passado, encaro esta escolha como a continuidade do seu trabalho, movendo no momento presente, o que fora realizado outrora no passado.

Nesse quesito, quando me deparei com a necessidade de concretizar esta escolha, investi um bom tempo refletindo e pesquisando: “Quem”, dentre vários Mestres do Passado, mais me conecto e mais admiro seu trabalho?

Dentre todos o que se destacou em minha mente e em minhas pesquisas foi o nome de John Yarker, o qual trago de forma sintética uma extensa pesquisa sobre sua jornada iniciática.

Infelizmente, pouco encontrei sobre sua vida profana, me impedindo de compreender melhor como pensava e agia no mundo ordinário, no âmbito familiar ou em sua carreira profissional, aplicando nestas áreas o que encontrou dentro das ordens.

Espero que o(a) leitor(a) se sinta motivado(a) em viajar comigo através da história nas linhas que se seguem.

I. SOBRE SUA VIDA PROFANA:

Nascido em 17 de abril de 1833, em Swindale, Shap, Westmorland, no norte da Inglaterra. Era descendente de Reinhold Yarker de Laybourne, que viveu em meados do século XVII.

Ele se mudou com seus pais para Lancashire e depois para Manchester em 1849, quando tinha apenas 16 anos. 

Trabalhou como comerciante de importação/exportação e como agente de fios ou de tecidos ao longo de sua carreira profissional.

Há, de fato, pouca informação sobre sua vida profana, nos impedindo de conhecer um pouco mais da intimidade deste grande mestre.

Sabe-se, apenas, que desde muito jovem se interessava pela Maçonaria em todas as suas formas.

Em minhas pesquisas, nada encontrei sobre matrimônio, herdeiros ou continuidade familiar.

II. SOBRE SUA JORNADA NA MAÇONARIA TRADICIONAL

Ele foi feito maçom na Grande Loja Unida da Inglaterra aos 21 anos, especificamente na Loja da Integridade, nº 189 (mais tarde re-numerada para 163), em Manchester, no dia 25 de outubro de 1854.

Após um interstício de apenas três meses, foi prontamente Passado a Companheiro em 16 de Fevereiro e Elevado à Mestre em 25 de Abril de 1855. Servirá como Secretário, Segundo Vigilante e Venerável Mestre dentro dos três anos seguintes.

Filiou-se à Loja Fidelidade nº 623 em  27 de abril 1855 em Dunkinfield. 

Instalado Cavaleiro Templário em 1856, no Conclave Jerusalém, de Manchester, tornou-se fascinado com a história da Ordem. Recebeu os graus de Malta, Rosa Cruz e o de Sacerdote Cavaleiro Templário do Real Arco.

Também se interessou muito pelos ritos apócrifos, pelos altos graus e pelos graus co-laterais, incluindo os de Mestre Maçom da Marca, o Arco Real, Rito Escocês Antigo e Aceito e outras Ordens de Cavalaria.

Alguns registros indicam que ele era membro de várias Grandes Lojas em todo o mundo, algumas clandestinas aos olhos da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE), outras reconhecidas.

III. SUA DEMISSÃO E AFASTAMENTO DA MAÇONARIA TRADICIONAL

Sete anos depois, em 1862, ele se demitiu (renunciou) à Maçonaria (Graus Simbólicos) e cortou contato com a Maçonaria Inglesa, com exceção do Ciclo de Correspondentes da Loja Quatuor Coronati, que integrou como um de seus primeiros membros, em 1887.

Em sua correspondência, Yarker refere-se a “Maçons de garfo e faca”, “Leitores de atas” e “Adoradores da garrafa”. Ele estava mesmo insatisfeito com a falta de ligação esotérica entre seus Irmãos.

Freqüentou o Capítulo Palatino R+C, em Manchester (1862) e também trabalhou com o Grau Kadosch. Não se sabe se antes ou depois de sua demissão da Maçonaria Simbólica.

IV. SUA JORNADA INICIÁTICA APÓS SUA DEMISSÃO

Avançando em sua jornada, a conexão com os Altos Graus parece não se romper totalmente após a sua demissão. Inclusive, o seu primeiro livro foi dedicado ao seu Acampamento Templário: Notas sobre as Ordens do Templo e São João e o Acampamento de Jerusalém, Manchester (1869).

Foi em suas pesquisas nos arquivos do Conclave Jerusalém, que Yarker encontrou as relíquias de uma história esquecida da Maçonaria, incluindo registros de rituais há muito abandonados ou esquecidos. Isto precipitou a sua obsessão vitalícia com a arqueologia maçônica. Tornou-se um prolífico escritor de livros, juntamente com artigos, notas e cartas à Maçonaria – e, como veremos, no futuro, ainda contribuiu com revistas de ocultismo. Tudo isto lhe valeu a reputação não só como um dos historiadores mais eruditos da maçonaria, mas também como um dos mais opinativos. Enquanto os seus amigos abraçaram os seus conhecimentos enciclopédicos, os seus detratores achavam-no abrasivo e descredenciado.

Percebeu que a maioria dos Ritos de Altos Graus eram, na verdade, compilações de cerimônias mais antigas e independentes. Yarker concluiu, então, que estes ritos não tinham qualquer base para reivindicar exclusividade sobre os seus rituais de graus constituintes: ou seja, os rituais individuais eram criações de outros, e não pertenciam aos ritos que mais tarde os adotaram.

[Nota: Na Inglaterra, o REAA é chamado de AAR (Ancient and Accepted Rite), excluindo-se a referência ao termo Escocês.]

Esta crença de que os rituais não eram criações dos sistemas em si, colocou Yarker em conflito com o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), do qual acabou por ser expulso em 1870.

Em 1871, filiou-se ao Acampamento Antiguidade, em Bath, onde encontrou o Rito de Mizraim.

Aceitou, em 1871, o Grau 33 do “irregular” Rito de Cernau, USA, ignorando a manifesta oposição da Maçonaria.

Em Nova York, Yarker filiou-se ao Rito Antigo e Primitivo e, em Londres, foi instalado como Grão Mestre Geral do Soberano Santuário para a Grã-Bretanha e Irlanda (1872).

Ele respondeu à expulsão fundando um Supremo Conselho do Rito Antigo e Primitivo, com 33 graus, sob uma carta patente de Harry J. Seymour. O Rito Escocês Antigo e Aceito considerou isto como uma versão espúria do seu rito, e avisou os seus membros para se afastarem sob ameaça de expulsão.

Em 1875, Yarker declarou guerra ao Supremo Conselho – uma guerra que continuou pelo resto de sua vida.

Os ritos de Yarker provariam ser um pomo de discórdia contínuo, a ponto de Yarker lutar verbalmente com Albert Pike sobre estas questões nos anos 1880.

Por fim, sabe-se hoje que o Rito Antigo e Primitivo nunca foi uma ameaça para o REAA, e subsistiu através do pagamento das quotas de um pequeno quadro de membros dedicados, com Yarker a fazer a diferença a partir do seu próprio bolso.

Com o tempo, Yarker adicionaria também o Rito Escocês de Cerneau e o Rito de Swedenborg ao seu considerável portfólio de patentes, juntamente com ordens e ritos pouco conhecidas como: o Rito de Ismael, o Ramo Vermelho de Eri, Sat Bhai, e a Antiga Ordem de Zuzumites. 

Em 1884, começou também a publicar p “The Kneph”, que era o “Jornal Oficial do Rito Antigo e Primitivo da Maçonaria”.

Apesar do seu conflito contínuo com o REAA, Yarker continuou a ser um maçom em boa posição. Juntou-se ao círculo de correspondência acadêmico e prestigioso da Quatuor Coronati em Maio de 1887 como membro número 77; permaneceria como membro, e contribuiria regularmente para a sua revista, Ars Quatuor Coronatorum, para o resto de sua vida.

Yarker encontrou no Rito Primitivo aquilo que não pode achar na principal Maçonaria inglesa: Um sistema que sintetizava sua necessidade da posse do conhecimento arcano, que fizesse com que seus membros pensassem sobre o que aconteceu antes, e procurassem pelo conhecimento que fornecesse a chave para a sabedoria.

Editou uma Constituição do Rito em 1875. Além de se manter em contato com membros da Societas Rosicruciana in Anglia (SRiA) e da Order of the Golden Dawn, Yarker editou cartas-patentes do Rito de Memphis-Mizraim para Kall Kellner e Theodor Reuss (1904) e, mais tarde, conferiu à Aleister Crowley, o Grau 95 do Memphis e o 90 do Mizraim.

Como muitos dos seus colegas, Yarker também estava interessado no ocultismo. A maçonaria era o seu vício como porta de entrada, e entre 1876 e 1878 conduziu um “inquérito experimental sobre Cristandade, Mesmerismo e Ocultismo” – 1) William L. Cummings confirma isto, recordando que [Yarker] parece ter estado familiarizado com tudo o que tinha sido escrito sobre magia e confessa ter levado a cabo algumas experiências de alquimia prática sem obter quaisquer resultados definidos. Aparentemente, tomou tudo de natureza ocultista ou mística para a sua província e dirigiu toda a gama de experimentos. 2) Estes interesses esotéricos incluíam Teosofia: H. P. Blavatsky (1831-1891) fez de Yarker um Companheiro correspondente da Sociedade Teosófica e citou as suas ‘Notes on the Scientific and Religious Mysteries of Antiquity (1872)’ em seu Isis Sem Véu (1877). Por sugestão do seu mútuo reconhecimento a Charles Southeran (1847-1902), Yarker retribuiu conferindo graus honoríficos maçônicos a Blavatsky tanto na Sat Bhai como na Maçonaria de Adoção. Foi também um dos primeiros colaboradores do The Theosophist.

Em 12 de novembro de 1893, solicita por correio a Papus sua admissão na Ordem Martinista, na qual ele é iniciado antes do final do mesmo ano através do Barão Adolph Franz Leonhardi de Platz (1841-1902), membro da Loja L’Estrela Azul de Praga e Delegado Geral da Ordem para a Boêmia e Hungria. Em 1901, Papus obteve de John Yarker uma patente para abrir em Paris a Loja INRI, que trabalhava de acordo com o Rito de Swedenborg. A loja INRI mais tarde se tornou a sede da Grande Loja Swedenborgiana da França, graças a uma nova carta constitutiva recebida de John Yarker, em 20 de março de 1906.

Em Novembro de 1902, Yarker passou de Grão-Mestre 96° para a Grã-Bretanha e Irlanda para suceder  Francesco Degli Oddi como Grande Hierofante 97°, o chefe internacional ou Grão Mestre Geral Soberano do Rito Antigo e Primitivo.

Quando Theodor Reuss e colegas começaram a recolher autoridade para estabelecer a Academia Maçônica que se tornaria a Ordo Templi Orientis, a maior parte das suas cartas patentes vieram de John Yarker: em 21 de Fevereiro de 1902, Yarker autorizou Reuss a estabelecer uma Grande Loja Alemã do Rito de Swedenborg. Pouco tempo depois, Yarker nomeou Reuss, Franz Hartmann e Henry Klein ao grau de Grande Conservador Geral (95°) em honoris causa, tendo então conjuntamente patenteado os três para formar um  Soberano Santuário e “conferir os vários Graus do nosso Rito Antigo e Primitivo desde o Primeiro ao 33°-95° A[tient] e Primitive], 90° Misraïm e 33° do Ancient and Accepted. 

Em 14 de Julho de 1903, o Soberano Santuário da Grã-Bretanha e Irlanda – satisfeito com o progresso do Rito na Alemanha – fez Carl Kellner, Theodor Reuss, Franz Hartmann e Henry Klein, Grão Mestres Honorários para a Grã-Bretanha e Irlanda.

Além disso, Yarker foi membro do grupo precursor da Golden Dawn, a Sociedade dos Oito, a Irmandade Celestial de Charubel (John Thomas, 1826-1908), e da Ordem Martinista de Gérard Encausse (1865-1916). Ele tinha ligações com a Irmandade Hermética de Luxor – o seu selo adornou a primeira página da tradução de Yarker, Magnetic Magic (1898) – assim como Paschal Beverly Randolph (depois da morte de Randolph, Yarker pagou £4 pelo manuscrito original de Eulis de Robert Fryar, 1845-1909). 

Em 1906, Rudolf Steiner recebeu de Theodor Reuss, que representava Yarker na Alemanha, a patente para fundar em Berlim um capítulo e grande conselho de Memphis-Misraim sob o título distintivo de “Mystica Aeterna”. Steiner foi nomeado Grão-Mestre Adjunto com jurisdição sobre os membros que recebeu onde quer que recebesse no futuro . Steiner logo entrou em conflito com Reuss e recuperou sua independência. Então, a partir dos elementos iniciáticos que ele reuniu, ele fundou seu próprio Rito “Maçonaria Esotérica”, ao qual Edouard Schuré provavelmente teria sido iniciado . Este rito utilizava um ritual muito antigo, cujo texto pode ser encontrado parcialmente na obra Dogme et Rituel de Haute Magie de Éliphas Lévi. Em sua autobiografia, Steiner minimiza o relacionamento que teve com a Maçonaria e Reuss em particular. Observe que Theodor Reuss foi um ex-membro da Sociedade Teosófica. De acordo com alguns autores, Steiner também foi iniciado na Ordem da Rosa-Cruz Esotérica por Franz Hartmann, outro teosofista e amigo de Reuss, que depois do caso do Juiz fundou um ramo dissidente da Sociedade Teosófica na Alemanha.

A publicação em 1909 da Obra Magna de Yarker, The Arcane Schools, foi recebida com pouca repercussão. A recepção da imprensa foi morna e a sua editora relatou vendas lentas. Yarker ficou, por isso, visivelmente surpreendido. Em correspondência com Aleister Crowley, o mesmo publicou em The Equinox: “o leitor deste tratado é no início esmagado pela imensidão da erudição do Irmão Yarker. Ele parece ter examinado e citado todos os documentos que alguma vez existiram. […] Mas o Irmão Yarker reprimiu nobremente uma tendência spenceriana de divagar; escreveu com perspicácia, evitou a pedantice, e fez florescer os monótonos campos da arqueologia com flores de interesse. Por conseguinte, devemos elogiá-lo ao máximo, pois ele fez o melhor possível. Ele provou abundantemente o seu ponto principal, a verdadeira antiguidade de algum sistema maçônico. É um paralelo ao traçado de Frazer da história de Deus.”

Essa correspondência revelar-se-ia temporariamente funcional para ambos. Para Yarker, ofereceu uma oportunidade de publicar resenhas de livros no The Equinox e de encontrar um jovem ansioso por continuar o trabalho que há tanto tempo tinha nutrido. Para Crowley, Yarker reconheceu o 33° que tinha recebido no México em 1900 e há muito havia assumido ter sido espúrio. Em 29 de Novembro de 1910, reconheceu Crowley como 33° no Rito Antigo e Aceito (ou seja, a linhagem Cerneau de Yarker, não a RAA descendente de Charleston).

Durante este tempo, Yarker ensinou a Crowley a política de dirigir um Rito da Maçonaria Esotérica de Altos Graus sem correr à falta da Grande Loja Unida de Inglaterra. Esta educação incluiu a importância das quotas numa organização de membros. Como Yarker observou, “virá a ver […] que uma dúzia de homens, que já são Franco-Maçons, e pagarão uma taxa razoável, valem 40 ou 50, admitidos ao acaso, e em absoluto desafio a toda a regularidade Constitucional e Simbólica; Alguns dias mais tarde, enfatizou, “se tivéssemos adotado a sua ideia de admitir toda a gente livre, poderíamos ter tido metade da cidade, não que eles teriam sido de alguma utilidade. O que é comprado barato é avaliado pelo mesmo preço”.

Em 07 de Agosto de 1912, Yarker deu a Crowley dispensa para proceder à revitalização dos corpos adormecidos do Rito Antigo e Primitivo de Londres. Crowley interpretou isto de forma ampla, como significando: “começar algo”. E assim ele conferiu – com a aprovação escrita de Yarker – os graus aos primeiros membros do novo M∴M∴M∴. Crowley considerou os rituais pouco práticos e impraticáveis, e evidentemente o Grande Hierofante concordou: de acordo com Crowley, “John Yarker viu em 1911 e 1912 que os seus 33 graus eram eles próprios impraticáveis”. A solução de Crowley foi pegar os rituais e reduzi-los a um conjunto de cerimônias reduzido e exequível para M∴M∴M∴.

Yarker produziu uma enorme quantidade de material escrito. O tendo como trabalho final “As Escolas Arcanas: Uma Revisão da sua Origem e Antiguidade com uma História da Maçonaria e a sua Relação com os Mistérios Teosóficos, Científicos, e Filosóficos”. No avanço do livro Yarker expressou o seu desagrado com o ofício, afirmando que muitos pareciam dispostos a aceitar o que foi escrito sobre a fraternidade pelos fundadores da Grande Loja da Inglaterra em 1717. Sentiu que era necessário fazer mais para aprofundar a investigação do passado da Maçonaria.

John Yarker morreu de decadência senil, fibróide phthis, e insuficiência cardíaca em 20 de Março de 1913. O seu manuscrito sobre a História dos Templários estava nas mãos da sua gráfica na altura, e uma edição revista das Escolas Arcanas tinha sido preparada.

Há uma obra póstuma, que é a reorganização e atualização dos Ritos de Memphis e de Mizraim, com J.M. RAGON e o SCT, formando, assim, o Novo Rito Oriental de Memphis-Mizraim.


V. BIBLIOGRAFIA
Yarker, John. Notas sobre as Ordens do Templo e de St. John and the Jerusalem Acampment, Manchester. Manchester: np, 1869.
Yarker, John. Notas sobre os mistérios científicos e religiosos da Antiguidade; A Gnose e as Escolas Secretas da Idade Média; Rosacrucianismo moderno; e os vários ritos e graus da Maçonaria Livre e Aceita. Londres: J. Hogg, 1872; rpt. Nova York: JW Bouton, 1878.
Yarker, John. Cargas e palestras maçônicas, uma série traduzida do francês. Manchester: Isaac W. Petty & Son, 1880.
Yarker, John. “English Ghost Stories”, Theosophist, fevereiro de 1880, 1: 114.
Yarker, John. Manual dos Graus do Antigo e Primitivo Rito da Maçonaria, emitido pelo Soberano Santuário, 33º Grau, na e para a Grã-Bretanha e Irlanda. Sl: np, 1881.
Yarker, John. “The Beni Elohim”, Theosophist, agosto de 1881, 2: 237-8.
Yarker, John. “The Beni Elohim and the Book of Enoch”, Theosophist, abril de 1882, 3: 171-2.
Yarker, John. Genealogia do Sobrenome Yarker; Com os Leyburn e várias famílias aliadas, residentes nos condados de Yorkshire, Durham, Westmoreland e Lancashire, incluindo todo o nome em Cumberland, Canadá, América e Middlesex (da Conquista até o presente). Manchester: AM Petty, 1882.
Yarker, John. “Can the Double Murder — Or Produce Results on the Material Body”, Theosophist, março de 1883, 4: 149-50;
Yarker, John. “The Adwaita Philosophy versus the Semitic Bible,” Theosophist, abril de 1883, 4: 175.
Yarker, John. Recapitulação de toda a maçonaria, ou, uma descrição e explicação do hieróglifo universal do Mestre dos Mestres. Dublin: Sovereign Sanctuary, 1883.
Yarker, John. Maçonaria especulativa: uma palestra histórica sobre a origem do ofício e da Maçonaria de alto grau, e mostrando a grande antiguidade do sistema combinado, entregue antes dos irmãos do Palatino e capítulo de Jerusalém, nº 2 do Livro do Soberano Santuário do Antigo e Rito Primitivo da Maçonaria no e para o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, em Assembléia em seu local de reunião, o Grosvenor Hotel, Deansgate, Manchester, 26 de novembro de 1883. Liverpool: Joseph Hawkins, 1883.
Yarker, John. The Kneph, 1884–1900.
Yarker, John. Duas palestras sobre alvenaria de alto grau. Liverpool: np, 1886.
Yarker, John. O Código da Apex e o Sat Bhai, revisado. Londres: np, 1886.
Invictus [Robert H. Fryar?] E John Yarker, The Letters of Hargrave Jennings, autor de “The Rosicrucians”, “Phallicism”, & c., & C .: Forming the Unabridged Correspondence with the Editor of the Bath Occult Reprints, entre 1879 e 1887, com o Frontispício. Bath: Robert H. Fryar, 1895.
Thomas Inman e John Yarker, Supernatural Generation. Banho: RH Fryar, 1896.
Yarker, John. “Aureus:” the Golden Tractate of Hermes Trismegistus: Concerning the Physical Secret of the Philosopher’s Stone: In Seven Sections: With an Introductory Essay by J. Yarker. Bath: Robert H. Fryar, 1886.
Villars de Montfaucon e John Yarker, Sub-Mundanes: Ou, os Elementares da Cabala, Sendo a História dos Espíritos. Banho: RH Fryar, 1886.
Villars de Montfaucon e John Yarker, Continuação do Conde De Gabalis, ou Novos Discursos Sobre as Ciências Secretas; Tocando na Nova Filosofia: Obra Póstuma: Amsterdam, Pierre de Coup, MDCCXV. Bath: Robert H. Fryar, 1897.
Antoine Androl e John Yarker, The Assistant Génies e Irreconcileable Gnomes, ou Continuation to the Comte de Gabalis. La Haye, M.DCC.XVIII. Bath: Robert H. Fryar, 1897.
LA Cahagnet e John Yarker, Magnetic Magic. [Bath]: [Robert H. Fryar], 1898.
Yarker, John. “Obituário do Dr. Karl Kellner”, Ars Quatuor Coronatorum 1905, 18: 150.
Yarker, John. As Escolas Arcanas: Uma Revisão de Sua Origem e Antiguidade; com uma história geral da maçonaria e sua relação com os mistérios teosóficos, científicos e filosóficos. Belfast: W. Tait, 1909.
Yarker, John. As Antigas Encargos Constitucionais dos Maçons Livres da Guilda: às quais é adicionada uma comparação com a Maçonaria de York. Belfast: William Tait, 1909.
Yarker, John. “The Apocalypse Unsealed” [revisão], The Equinox 1911, I (6): 164-7.
Yarker, John. “The Secret Tradition in Freemasonry” [revisão], The Equinox 1912, I (7): 413–7.
CONCLUSÃO
É através desta conexão com um Mestre do Passado, que fica assim demonstrado que a morte não existe para os que crêem e trabalham pela conquista da Imortalidade!

É também uma forma de honrar o trabalho empreendido, os campos desbravados e o legado deixado.

John Yarker nos proporciona um legado para além do Memphis-Misraim, com ordens internas, paralelas, verdadeiramente secretas, além de um acervo bibliográfico extraordinário.

Nota-se na cronologia acima que muitos nomes conhecidos no meio esotérico e ocultista da Europa, de alguma maneira, se conectaram com John Yarker ao longo de sua jornada.

Nota-se também que o mesmo chancelou esses grandes nomes, de modo a realizarem seus trabalhos, ainda que o nome do próprio John Yarker permaneça, por vezes, desconhecido para os que se conectam com esses outros nomes.

O trabalho e a obra de John Yarker permanece, perdura e continua no velho continente (a esmagadora maioria das ordens que eram dirigidas por ele continuam ativas até hoje). E, através da conexão do nome iniciático com este Mestre do Passado, sua obra vive, perdura e continua também em terras brasileiras.

Que a Eterna Luz da Sabedoria Divina nos Ilumine sempre!

Por Sâr John Yarker – S:::I:::I:::

FONTES:
https://freemasonry.bcy.ca/kneph/aprm.html
https://freemasonry.bcy.ca/biography/esoterica/yarker_j/yarker_j.html
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Yarker
https://pt.frwiki.wiki/wiki/John_Yarker 

O Novo João Batista


Quando subimos a Escada e não prestamos atenção no caminho, é normal tropeçarmos e cairmos. O tropeço é necessário, mas ai de quem fizer tropeçar[1]. A queda sempre nos leva a Malkuth, e, o retorno, à condição anterior, demanda mais ação daquele que estava mais alto do que daquele que estava mais baixo[2]. Por isso, enquanto aquele que está mais baixo, em seu tropeço, passa despercebido na multidão, o tropeço daquele que está no alto, faz-se notar com mais clareza.


Contudo, uma vez aceita a condição da queda e a realização das ações necessárias para o seu regresso ao ponto anterior, Yahweh, que é Justo, pode nos conceder, de acordo com a Sua Vontade, as características da condição anterior. Uma vez limpos da queda, somos imediatamente encaminhados para a continuação de nossa jornada rumo à Terra Prometida, descortinando os Véus que ainda nos separam do Reino de Deus.


(40) e foi a ele um leproso pedindo e caindo de joelhos e dizendo a ele: “Se queres, podes me purificar”.

Antes de ingressarmos na análise do significado do versículo, cabe-nos destacar a expressão “leproso”, utilizada para designar a característica daquele que busca o auxílio de Jesus.


A tradução do koiné (λεπρὸς) guarda o mesmo significado da palavra em português. Contudo, a expressão utilizada em koiné é uma tentativa de traduzir uma expressão hebraica que não possui correspondência em outras línguas, que é Tzaraat (צרעת). A raiz de Tzaraat significa “ferir” e, na Torá ela é apresentada, principalmente, nos capítulos 12 e 13 do Levítico, como uma “doença” que gera manchas na pele, mas que também afeta as roupas e as construções. Apesar de ser traduzida para o koiné e para o português como “lepra”, a Tzaraat não guarda qualquer semelhança com aquela doença. Na verdade, ela é um sintoma físico de um defeito espiritual, que, geralmente, afeta indivíduos de “alto nível espiritual”.


Números 12 : 9-16


A ira de Yahweh se inflamou contra ele. E retirou-se e a Nuvem deixou a Tenda. E Miriã [Maria] tornou-se leprosa, branca como a neve. Aarão voltou-se para ela, e ela estava leprosa. Disse Aarão a Moshé: ‘Ai, meu senhor! Não queiras nos infligir a culpa do pecado que tivemos a loucura de cometer e do qual somos culpados. Peço-te, não seja ela como um aborto cuja carne já está meio consumida ao sair do seio de sua mãe!’ Moshé clamou a Yahweh: ‘Ó Yahweh’, disse ele, ‘digna-te dar-lhe a cura, eu te suplico!’ Disse então Yahweh a Moshé: ‘E se seu pai lhe cuspisse no rosto, não ficaria ela envergonhada por sete dias? Seja, portanto, segregada sete dias fora do acampamento e depois seja nele admitida novamente’. Miriã foi segregada durante sete dias fora do acampamento. O povo não partiu antes do seu retorno. Depois o povo partiu de Haserot e foi acampar no deserto de Farã.


A “lepra” (Tzaraat) que recai sobre Miriã (Maria) é fruto da maledicência[3] cometida por ela e por Aarão. Contudo, apenas ela ficou marcada, posto que é a representante do corpo “animado” pelo princípio representado por Aarão[4]. Assim, a tzaraat é uma marca corporal que destaca para os olhos[5] que uma mácula existe ali, decorrente de um desvio do caminho reto.


Neste sentido, verificamos que, aquele que se aproxima de Jesus, é alguém dotado de grande poder espiritual, mas que, pelas forças do seu adversário interno, acabou caindo no erro. Em outras palavras, é alguém que já ultrapassou o Véu de Nephesch, mas ainda não o de Paroketh. Contudo, apesar de ter “caído”, busca Yahweh, representado na figura de Jesus, a fim de obter a sua redenção[6], prostrando-se de joelhos.


1 Reis 8 : 52-56


‘Que teus olhos estejam abertos para súplica de teu servo e de teu povo Israel, para ouvires todos os apelos que lançarem a ti. Pois foste tu que os separaste como tua herança[7], dentre todos os povos da terra[8], como declaraste por meio de teu servo Moshé, quando fizeste sair do Egito nossos pais, senhor Yahweh’. Quando Salomão acabou de dirigir a Yahweh toda essa prece e essa súplica, levantou-se do lugar onde estava ajoelhado, de mãos erguidas para o céu, diante do altar de Yahweh e pôs-se de pé. Abençoou em alta voz toda a assembleia de Israel, dizendo: ‘Bendito seja Yahweh, que concedeu o repouso a seu povo Israel, conforme todas as suas promessas; de todas as boas palavras que disse por meio de seu servo Moshé, nenhuma falhou!’


A atitude daquele que se encontra marcado pela tzaraat, remete a oração feita por Salomão em prol de Israel. Assim, como as mãos de Salomão se encontravam erguidas para o céu, aquele, que estava marcado, pede a Jesus (Tipheret), que se encontra no Céu (Briah, o Mundo da Criação).


Apesar da sua postura redentora, o marcado pela tzaraat demonstra ainda guardar consigo os ensinamentos que adquiriu anteriormente, pois pede que a confirmação da sua redenção não decorra do seu próprio querer, mas do querer de Jesus. Em outras palavras, ele sabe que, apesar de ter realizado ações redentoras, quem decide sobre a redenção não é ele, mas Yahweh.


Aqui também cabe destacar um detalhe do texto em koiné. A palavra utilizada para designar a vontade de Jesus, enquanto servo de Yahweh, é thélis (θέλῃς), que significa “você quer”. Ela deriva da expressão Thelema (θέλημα), que é uma palavra complexa e de múltiplos significados: “disposição; vontade; desejo; ter vontade ou capacidade de; poder; estar disposto a; consentir em; ser disposto por natureza; ser habitual; amar alguém; comprazer-se em”. E, na Bíblia, Thelema está vinculada à Vontade de Yahweh.


Mateus 6 : 9-10


Portanto, orai desta maneira: Pai nosso que estás nos Céus, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade (θέλημα) na terra, como no céu.


Assim, entendemos que, se o nosso querer se encontrar em sintonia com a Vontade de Yahweh, tudo pode ser criado, formado e feito[9]. E, por isso, o marcado pela tzaraat solicita que seja feita a Vontade de Yahweh e não a sua.


(41) E tendo as entranhas revolvidas, estendia a mão, tocou-o e diz a ele: “Quero, sê purificado”[10].

A condição experimentada por Jesus pode causar certa estranheza e, em algumas traduções, encontra-se a expressão “irado”, alguns usam a expressão “comovido”, contudo, a palavra utilizada em koiné é splanchnistheís (σπλαγχνισθεὶς), que significa “eviscerado”. A sua aplicação no versículo em análise nos revela que, diante do pedido feito, por aquele que está marcado pela tzaraat, Jesus sentia como se as suas vísceras estivessem sendo retiradas.


Apesar de, inicialmente, parecer estranha esta sensação experimentada por Jesus, ela faz referência a uma passagem no Livro de Isaías:


Isaías 53 : 10-11


Mas Yahweh quis esmagá-lo pelo sofrimento. Porém, se ele oferece a sua vida como sacrifício expiatório, certamente verá uma descendência, prolongará seus dias, e por meio dele o desígnio de Yahweh triunfará. Após o trabalho fatigante da sua alma, verá a luz e se fartará. Pelo seu conhecimento, o justo, meu Servo, justificará a muitos e levará sobre si as suas transgressões.


Pelo transcrito trecho, verificamos que, uma vez que aquele que se desviou do caminho, ofereceu-se em sacrifício expiatório, tendo cansado a sua alma (Nephesch), ele conseguirá ver à Luz. Porém, para que isso aconteça, o servo de Yahweh, isto é, aquele que representa a sua ação projetada, sentirá em si as transgressões daquele que está para ser purificado.


Assim, como a tzaraat recai sobre aqueles que já avançaram no caminho espiritual[11], isso revela que o suplicante já ultrapassou o Véu de Nephesch[12], mas ainda não o de Paroketh[13], localizando-o no Mundo Formativo (Yetzirah). Essa localização faz referência ao abdome do Adam Kadmon[14], representado pela letra Mem (מ). Por isso que, na condição de representante do Adam Kadmon, Jesus sente que as suas vísceras reviraram, sinalizando que é da Vontade de Yahweh que as marcas da tzaraat sejam limpas (καθαρίθητι)[15], “quero, sê purificado” [thélo, katharíthiti (θέλω, καθαρίθητι)].


Uma vez que é a Sua Vontade, Jesus o toca, isto é, na condição de Ruach, ele interpenetra aquele corpo, animando-o[16] e, consequentemente, tornando-o puro.


(42) E logo foi embora dele a lepra e purificou-se.

Uma vez recebendo o toque de Jesus, representando a expressão da Sua Vontade, o corpo marcado pela tzaraat é limpo, retornando a sua condição anterior de espiritualidade e permitindo que ele possa ser reintegrado à comunidade (Números 12:9-16), realizando as suas atribuições (Lucas 15-11-32).


(43) E, fremente, logo o pôs para fora[17]

Novamente, o comportamento físico atribuído a Jesus gera, em uma leitura casual, certa estranheza. A expressão em português “fremente” denota “agitação”, sendo um dos significados contidos da palavra, em koiné[18], emvrimisámenos (ἐμβριμησάμενος) que é utilizada no texto bíblico. Em algumas traduções bíblicas, encontramos o uso de outro significado, “advertindo-o severamente”, mas que também denota uma sensação de agitação e urgência transmitida pela autoridade.


Este comportamento agitado, adotado por Jesus para colocar aquele que havia sido limpo para fora, transpassa a urgência de colocar aquele que foi limpo em condições para retornar a sua missão, posto que “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho[19]”


Lucas 15 : 22-24


Falou então o pai aos seus escravos: ‘Rápido, buscai túnica de primeira e vesti-o, e dai anel para a mão dele e sandálias para os pés. E levai o vitelo cevado, sacrificai, e, comendo, nos deliciarmos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado’. E começaram a deliciar.


Tal qual o filho pródigo que havia deixado a casa do pai e regressou, após estar com os porcos, o “leproso” havia sido limpo e, portanto, estava retornando a casa de Yahweh, sendo reencontrado, após estar perdido.


(44) e disse a ele: “Vê que não fales nada a ninguém, mas vai. Mostra-te ao sacerdote e apresenta pela tua purificação as coisas que comandou Moshé em testemunho a eles”.

O versículo tem início com uma advertência dada por Jesus “não fales nada a ninguém, mas vai”. Apesar de muitos comentarem sobre a importância do trabalho silencioso, desprovido de interesse próprio[20], a advertência se aplica, principalmente, como um alerta para que aquele indivíduo que acabou de ser curado da tzaraat não venha a cometer o mesmo erro, a prática da maledicência[21].


João 8 : 10-11


Tendo-se endireitado, então Jesus falou a ela: ‘Mulher, onde estão? Ninguém te condenou?’ Ela então falou: ‘Ninguém, Senhor’. Falou então Jesus: ‘Nem eu te condeno. Vai e a partir de agora não mais erres’.


A transcrita passagem, que integra do Evangelho segundo João, nos revela o mesmo conselho: uma vez perdoado o seu desvio, segue adiante e não tropeces mais[22]. Contudo, a passagem também nos revela algo a mais a respeito da conduta do próprio Jesus.


O trecho se inicia com a descrição de que Jesus tinha acabado de se endireitar, e que, em algumas traduções, comenta sobre ele ficando em pé, posto que tinha se abaixado para escrever na terra. Por se tratar de um texto esotérico, compreendemos que a sua mensagem foge da simples literalidade e, por isso, entendemos que Jesus sinaliza que, até “pouco tempo atrás”, ele também havia se desviado do caminho, mas que agora ele andava na retidão[23]. Ademais, em trecho anterior, ele instiga a multidão a revelar quem jamais havia errado e, em função dessa condição, poderia julgá-la. Como no passado, ele também tropeçou, ele se afasta de julgá-la, pois, ao abaixar-se e tocar a terra, ele se recorda do seu caminho até ter conseguido atravessar o Véu de Paroketh.


Deste modo, tendo em mente que o tropeço faz parte da jornada e que ele próprio, em sua vida pretérita, havia tropeçado, ele não poderia condenar o tropeço alheio. Então, a única coisa que lhe cabia fazer é orientar para que a pessoa redimida não volte a cometer o mesmo tropeço.


Feita a advertência, Jesus determina que a pessoa, que foi limpa da tzaraat, siga os ritos determinados por Yahweh a Moshé (Levítico 14:1-20). Essa orientação reforça a ideia de que, Jesus, como servo de Yahweh, não pode quebrar as suas Leis[24], mas deve aplicá-las com exatidão. Ademais, a orientação dada a Moshé sobre o rito de purificação, visa, dentre outras coisas, permitir que aquele que foi redimido, possa ser reinserido à comunidade.


Outrossim, o rito demonstra, simbolicamente, uma série de ensinamentos. O primeiro, está vinculado ao uso de 2 (duas) aves[25], no qual uma será sacrificada, enquanto a outra será solta após banhar-se no sangue sacrificial da primeira. Isto é, como a tzaraat é uma marca associada a maledicência de alguém que já estava mais avançado na senda espiritual, uma ave deveria ser sacrificada, demonstrando a sua queda. Porém, o seu sangue[26], a sua energia vital, a sua experiência, deveria cobrir uma nova ave, que seria liberta para retornar ao seu mundo, demonstrando que aquele que caiu, aprendeu com o tropeço e agora poderá voltar a senda da retidão.


Levítico 17 : 11-12


Porque a vida da carne está no sangue[27]. E este sangue eu vo-lo tenho dado para fazer o rito de expiação sobre o altar, pelas vossas vidas; pois é o sangue que faz a expiação pela vida. Esta é a razão pela qual eu disse aos israelitas: ‘Nenhum dentre vós comerá sangue, e o estrangeiro que habita no meio de vós também não comerá sangue.’.


O ritual também envolve a limpeza das roupas, simbolizando a purificação do corpo, e a raspagem dos seus pelos, representando tanto a demonstração de que não há nenhuma marca no corpo, quanto ter de iniciar o processo de usar o tzitzit[28], que indica que ele está recomeçando e, por isso, deverá ainda cumprir as mitzvot[29]. Essa etapa dura 7 (sete) dias e, no oitavo dia, há o sacrifício de 2 (dois) novilhos, que ratifica o status sacerdotal daquele que foi marcado pela tzaraat, conforme se verifica em trecho anterior do Levítico:


Levítico 4 : 2-4


Esta é a lei se um indivíduo comete um pecado inadvertidamente, violando qualquer um dos mandamentos proibitórios[30] de Yahweh. Se o sacerdote ungido[31] comete uma violação, trazendo culpa a seu povo, o sacrifício para sua violação será um novilho sem defeito como uma oferenda pelo seu pecado à Yahweh. Ele trará o novilho diante de Yahweh à entrada da Tenda da Comunhão


Contudo, diferentemente da “regra geral” sobre a violação por um sacerdote que requer a imolação de 1 (um) novilho[32], no caso da purificação referente a tzaraat, há a necessidade de 2 (dois), de maneira similar ao que acontece com os pássaros.


Um ponto que podemos destacar neste ritual de purificação, é que, diferentemente de outros rituais visando purificar um sacerdote, em que o próprio pode realizar (Levítico 4:2-4), a ritualista da limpeza no caso da tzaraat demanda que outro sacerdote a conduza. Este ponto é importante para se traçar um paralelo com os atos praticados por Jesus no processo de purificação daquele que estava marcado pela tzaraat.


Além de ter sido o responsável por atestar que aquele sacerdote, que havia utilizado da fala levianamente, estava limpo, destacamos a presença do termo vehenyf (והןיף) no texto da Torá (Levítico 14:12[33]). Apesar de em algumas traduções do hebraico, a expressão seja apresentada como “elevação” ou “gesto (ritual) de apresentação”, o seu significado está associado ao ato de agitar de um lado para o outro, vinculado ao sacrifício de culpa ou oferenda pelo pecado ou oferenda de paz, o que nos remete a expressão emvrimisámenos (ἐμβριμησάμενος ), contida no versículo 43, e a sparássô (σπαρἀσσω), contida no versículo 26, nos tópicos O novo João Batista e O 5º Dia, respectivamente.


(45) Ele, porém, tendo saído, começou a apregoar muito e a propagar a palavra a ponto de ele não mais poder entrar na cidade manifestamente, mas ficava fora, em lugares desertos. E iam a ele de toda parte[34].

Este versículo é importante porque nos mostra o que o “sacerdote” fazia antes de ficar marcado pela tzaraat. Ao ser purificado, ele começa a fazer uso da palavra para proclamar as designações de Yahweh, significando que, anteriormente, era justamente isso o que ele fazia, isto é, ele era um nabi (ןביא)[35], um profeta, alguém que cumpre a função de ser a boca de Yahweh:


Deuteronômio 18 : 17-19


E Yahweh me disse: ‘Eles falam bem. Eu farei surgir um profeta [nabi (נביא)] para eles dentre seus irmãos, assim como tu. Eu colocarei Minha palavra em sua boca, e ele lhes declarará tudo que Eu lhe ordeno. Se alguma pessoa não ouvir a palavra que ele declara em Meu nome, Eu punirei (essa pessoa). Ao contrário, se um profeta presunçosamente faz uma declaração em Meu nome, quando Eu não lhe ordenei fazê-lo, ou se ele fala em nome de outros deuses, então esse profeta deverá ser morto[36].


Uma vez que ele se encontra limpo, deve voltar a fazer exatamente o que fazia antes de sua queda, proclamar a mensagem de Yahweh. Contudo, justamente por propagar a palavra em todos os seus momentos, tal como aconteceu com o profeta Elias (1 Reis 19), ele teve de se refugiar no deserto a fim de continuar a cumpri os desígnios de Yahweh[37], posto que se encontrava limpo da tzaraat e estava disposto a não tropeçar mais.


E, no deserto, continuou a proferir a palavra, o que fez com que pessoas de toda a parte fossem ao seu encontro para ouvir a palavra. Com essa informação, podemos traçar um paralelo com um trecho do Livro de Isaías, referente ao próprio Isaías, e um do Evangelho segundo João:


Isaías 40 : 1-3


‘Consolai, consolai meu povo, diz vosso Deus, falai ao coração[38] de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que seu serviço está cumprido, que sua iniquidade foi expirada, que ela recebeu da mão de Yahweh paga dobrada por todos os seus pecados’. Uma voz clama: ‘No deserto, abri um caminho para Yahweh; na estepe, aplainai uma vereda para o nosso Deus’.


João 1 : 19-23


E este é o testemunho de João, quando expediram a ele os judeus de Jerusalém sacerdotes e levitas para que perguntassem a ele: ‘Tu quem és?’ E confessou e não negou. E confessou: ‘Não sou o ungido’. E perguntaram-lhe: ‘O que, portanto? Tu és Elias?’ E diz: ‘Não sou’. ‘O profeta és tu?’ E respondeu: ‘Não’. Falaram, portanto, a ele: ‘Quem és? Para que uma resposta damos aos que nos enviaram. Que dizes sobre ti mesmo?’ Afirmava: ‘Eu: voz que clama no deserto, Endireitai o caminho do senhor, segundo falou Isaías, o profeta’.


Entendo esse processo de purificação de que o profeta passou, de ficar diante de Jesus para ser purificado e, depois, de realizar o seu batismo, compreendemos um dos significados da passagem existente no Evangelho segundo João:


João 1 : 15


João testemunha sobre ele e apregoou dizendo: ‘Esse era quem eu falava: o que atrás de mim vem, à minha frente ficou, porque primeiro do que eu era’.


Esse trecho do Evangelho segundo João costuma gerar confusão justamente pela busca de um pensamento pautado numa linearidade temporal, o que tornaria, praticamente, impossível o Jesus vir antes e, ao mesmo tempo, depois de João Batista. Contudo, quando compreendemos que os Evangelhos seguem a métrica da Torá, na qual ciclos se repetem continuamente, onde o Shabat representa, ao mesmo tempo, o término de um período de 6 (seis) dias simbólicos e o início de outros 6 (seis) dias simbólicos, conseguimos entender não apenas a passagem, mas todo o Evangelho e além.


Apocalipse 1 : 8


Eu sou o Alfa e o Ômega, Diz o Supremo [kýrios (Κύριος)], “Aquele-que-é, Aquele-que-era e Aquele-que-vem”, o Todo-poderoso[39].


A declaração da divindade como sendo o alfa (α) e o ômega (ω) indica que tudo começa nela[40], ao mesmo passo que tudo se encerra nela. Isto é, todos os ciclos têm início e fim na própria divindade. Cada dia um (Yom Rishon) é o primeiro dia após um Shabat, da mesma maneira que cada Shabat também é o dia sete após o Shabat anterior[41].


Desta forma, entendemos que o “leproso” que foi limpo por Jesus é, na verdade, João Batista. E João Batista é, na verdade, aquela parte de nós que nos batiza no micvê[42], fazendo com que a gente ultrapasse o Véu de Nephesch[43], mas que também é purificada pela nossa ação cristônica a fim de se encontrar apta a purificar aqueles que vem depois, que surjam como um broto novo (Nazareth[44]).


E, como João Batista já se encontra limpo, pregando no deserto, desde o seu (re)nascimento[45], será possível que Jesus venha e diga: “Completou-se a ocasião e está à mão o reinado de Deus. Mudai de mente e confia no bom anúncio” (Marcos 1:15), porque é Shabat, o dia que Yahweh (IAÔ) cessou a sua ação criativa-criadora e o santificou[46].


 


 NOTAS:


[1] Mateus 18:7 “Ai do mundo por causa dos tropeços. Pois necessidade vir os tropeços, só que: ai do homem através de quem vem o tropeço”.


[2] Lucas 12:47-48 “Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou e não agiu conforme sua vontade, será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes. Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será reclamado”.


[3] Aarão e Miriã falam mal da esposa que Moshé havia tomado para si. Por isso, há o vínculo da tzaraat com a prática da maledicência, do uso da fala para difamar alguém. É importante lembrar que a “fala” é o atributo divino que representa a ação criativa-criadora, então, quando uma pessoa faz uso da fala para o mal, o seu corpo fica marcado pela tzaraat para que todos possam ver o que fez.


[4] Vide comentários ao tópico “O 6º Dia”, que contém os versículos de 29 a 31.


[5] Vide explicação sobre a ayin (ע) no comentário introdutório do tópico O 5º Dia, que é formado pelos versículos de 21 a 28.


[6] Vide comentários sobre Tsadic no versículo 36 deste capítulo.


[7] Vide comentários ao O 6º Dia.


[8] Embora costume ser verificada como uma separação entre Israel e outras culturas, a referência deve ser compreendida como sendo a distinção entre Adam, quanto humanidade, e as demais criaturas que habitam o Mundo de Assiah.


[9] Vide comentários ao versículo 31.


[10] καὶ σπλαγχνισθεὶς ἐκτείνας τὴν χεῑρα αὺτοῦ ᾕψατο καὶ λέγει αὺτᾧ. θέλω, καθαρίθητι


[11] Vide comentários do versículo 40 deste capítulo.


[12] Vide tópico O Batismo de Jesus – o Véu de Nephesch, que aborda os versículos de 9 a 11.


[13] Vide tópico Tentação de Jesus – o Véu de Paroketh, que aborda os versículos 12 e 13.


[14] Vide comentários ao versículo 8.


[15] Mateus 10:8 “Fracos tratai, mortos levantai, leprosos (quem tem tzaraat) limpai, demônios ponde para fora. Em dom recebeste, em dom dai (δωρεὰν ὲλάβετε, δωρεὰν δότε)”.


[16] Vide comentários do versículo 8.


[17] καὶ ἐμβριμησάμενος αὺτῷ εὐθὺς ἐξέβαλεν αὐτὸν


[18] Os outros significados em koiné incluem “fazer censuras violentas a; reprovar duramente”. Etimologicamente, a palavra deriva de βριθύς, que significa “estar pesado; ter peso (no sentido de autoridade); superar”.


[19] Vide comentários ao versículo 15.


[20] Mateus 6:3-4 “Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que tua esmola fique em segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”. Dentro da tradição judaica, a mão esquerda é a mão utilizada para receber alguma coisa, enquanto a direita é utilizada para entregar. Assim, a recomendação feita por Jesus e contida na passagem transmite o ensinamento de que devemos fazer o certo pelo certo e não aguardando uma recompensa pela ação feita.


[21] Vide comentários ao versículo 40.


[22] Mateus 18:7 “Ai do mundo por causa dos tropeços. Pois necessidade vir os tropeços, só que: ai do homem através de quem vem o tropeço”.


[23] Vide comentários ao tópico O Evangelho de Jesus.


[24] Mateus 5:17 “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento”.


[25] Vide comentário introdutório ao tópico O 5º Dia, referente aos versículos de 21 a 28.


[26] A ave deve ser imolada e o seu sangue deve ser recolhido em um vaso de barro (simbolizando um novo corpo), em um micvê (vide comentários sobre o versículo 4 deste capítulo). Além do pássaro, também se utiliza um hissopo (uma planta herbácea utilizada nos rituais de purificação pela sua característica de absorver a água, e que era utilizada como aspersório); um pedaço de cedro (vide Salmos 92:12; Salmos 104:16; Isaías 14:8; Jeremias 22:23; Ezequiel 27:5); e um pouco de lã escarlate (vide Isaías 1:18).


[27] O sangue, além de dar a vitalidade para o corpo, também é considerado o responsável pela natureza animal do homem.


[28] Vide comentários ao versículo 6.


[29] A raspagem dentro do simbolismo do uso do tzitzit também é uma forma de deixar a pessoa simbolicamente nua, isto é, ela revela como ela está de fato, sem a possibilidade de esconder uma marca com uma mitzvá (מצוה).


[30] Em toda a Torá, existem 2 (dois) tipos de obrigações impostas por Yahweh: as de natureza positiva, isto é, que determinam o que se deve fazer, a exemplo do 5º mandamento, “Honra teu pai e tua mãe. Tu viverás longamente na terra que Yahweh Elohim está te dando” (Êxodo 20:12); e as de natureza negativa, isto é, que determinam o que não se deve fazer, a exemplo do 9º mandamento, “não atestes como falsa testemunha contra o teu próximo” (Êxodo 20:13). Destacamos que a maledicência (causa da tzaraat), nada mais é, do que uma prática vinculada a violação de uma obrigação negativa contida no 9º mandamento.


[31] Vide Êxodo 29 e Êxodo 30:30.


[32] Vide Hebreus 9:12.


[33] ולקח הכהן את־הכבש האחד והקריב אתו לאשם ואת־לג השמך והניף אתם תנופה לפני יהוה


[34] Ό δὲ ἐξελθὼν ἤρξατο κηρύσσειν πολλὰ καὶ διαφημίζειν τὸν λόγον, ὤστε μηκέτι αὐτὸν δύνασθαι φανερῶς εἰς πόλιν εἰσελθεῖν, ἀλλʹ ἔξω ἐπʹ ἐρήμοις τόποις ἦν. καὶ ἤρχοντο πρὸς αὐτὸν πάντοθεν.


[35] A junção da letra Nun (ן) com Bet (ב) transmite a ideia de um buraco, um lugar vazio por onde passa a mensagem [Yod (י)] de Yahweh [Aleph (א)]


[36] No final da passagem, Yahweh explica o que deve acontecer com o profeta que não fala exatamente o que Ele determina. Contudo, isso não significa necessariamente que a comunidade irá matar o antigo profeta imediatamente, uma forma de se matar alguém é, justamente, o retirando da comunidade, segregando-o, mesmo procedimento adotado para aqueles que possuem tzaraat.


[37] Em algumas traduções, é feita a referência de que foi Jesus que teve de buscar exílio no deserto. Contudo, no texto em koiné não há qualquer indicativo deste fato. A atribuição a Jesus do exílio decorre, basicamente, de dois fatores. O primeiro, vinculado ao início do capítulo seguinte, no qual informa que Jesus havia voltado a Cafarnaum; e o segundo está associado ao fato de que o “leproso” costuma ser tratado com um personagem anônimo e de pouca importância, relegado ao papel de demonstrar o poder curativo de Jesus, desconsiderando todas as referências que foram abordadas neste tópico, O novo João Batista.


[38] Importante destacarmos que, enquanto, atualmente, o coração é a sede simbólica das emoções, dentro da cultura judaica antiga, o coração é a sede do pensamento, onde se cria o raciocínio. Enquanto a emoção está ligada à alma (Nephesch).


[39] ἐγώ εἰμί α καί Ω λέγω κύριος ὁ ὅ ὤν ὁ ἦν ὅ ὤν καί ὁ ὅ ὤν ἔρχομαι ὅ ὤν παντοκράτωρ.


[40] Em koiné, quando se faz referência direta a própria divindade transmitindo a ideia Dela ser o Alfa e o Ômega, encontramos a inscrição: ιαω (iota, alfa e ômega), que se pronuncia IAÔ. Esta utilização nos textos em koiné são encontradas em algumas versões da Torá no lugar da expressão YHWH (יהוה). No texto denominado Pistis Sophia, há uma passagem na qual Jesus se volta para os quatro cantos do mundo, juntamente com os seus discípulos, e diz: IAÔ. A utilização do iota (ι) designa o fato de o universo ter “brotado”, ao passo que o alfa (α) indica que esse “brotar” é o seu início, enquanto o ômega (ω) indica que ele também é a sua conclusão. Assim, em koiné, o tetragrammaton é escrito com 3 (três) letras: IAÔ (ΙΑΩ ou ιαω). O iôta (ι), na numerologia do koiné, tem valor igual à 10 (dez), o mesmo que o yod (י) hebraico. Além disso, em um dos seus significados, também pode ser utilizado como nominativo do pronome reflexivo de 3ª pessoa, onde significa “si mesmo”. O alfa (α), na numerologia em koiné, tem valor igual à 1 (um) ou indica o primeiro. Além disso, pode ser utilizado para designar o pronome relativo ὅς, que, por sua vez, refere-se a um antecedente expresso ou não, e tem significado de “o qual” ou “a qual”. Enquanto o omega (ω), a última letra do alfabeto grego, possui valor numérico de 800 (oitocentos), além de, em função dativa singular poética do pronome possessivo. transmitir a ideia do pronome reflexivo de 1ª ou 2ª pessoa do singular ou plural, ἑος, que significa “meu”, “minha”, “nosso”, “nossa”, “teu”, “tua”, “vossa”, “vosso”. Desta forma, IAÔ (ΙΑΩ ou ιαω) significa “aquele que é o primeiro e o último” ou “si mesmo o qual o meu”.


[41] Gênesis 2:24 “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”. Vide comentários sobre o versículo 30 deste capítulo.


[42] Vide comentários ao tópico João Batista, que contém os versículos de 4 a 8.


[43] Vide comentários ao tópico O Batismo de Jesus – Véu de Nephesch, que contém os versículos de 9 a 11.


[44] Vide comentários ao versículo 9.


[45] Lucas 1:64-65 “Reabrindo-se então a sua boca imediatamente e a sua língua e falou elogiando Deus E deu medo em todos os que moram em volta deles. E em toda a região montanhosa da Judeia falava-se de todos esses declaros.”. Uma vez que foi devidamente purificado, João Batista não nasce mais na Galileia (vide comentários ao versículo 9), mas na Judeia [Yehuda (יהודה), que significa “louvor”].


[46] Vide comentários ao versículo 36.


Gnosticismo Borborita: o uso do Sangue Menstrual e do Sêmen como Eucaristia


De acordo com o Panarion de Epifânio de Salamina (cap. 26), e o Haereticarum Fabularum Compendium de Teodoreto, os borboritas ou borborianos (em grego: Βορβοριανοί; no Egito, fibionitas; em outros países, koddianos, barbelitas, secundianos, socratitas, zaqueus, estratióticos) eram uma seita gnóstica cristã, que se dizia descender dos nicolaítas. É difícil saber com certeza as práticas do grupo, pois tanto Epifânio quanto Teodoreto eram oponentes do grupo. De acordo com Epifânio, a seita era composta de libertinos que abraçaram os prazeres do mundo terreno. A palavra borborita vem da palavra grega βόρβορος, que significa “lama”; o nome borboritas pode, portanto, ser traduzido como “os imundos”, e é improvável que seja o termo que a seita usou para si.


Os borboritas possuíam vários livros sagrados, incluindo Noria (o nome que deram à esposa de Noé), um Evangelho de Eva, O Apocalipse de Adão e O Evangelho da Perfeição. Eles também usaram uma versão do Evangelho de Filipe, mas uma citação do Evangelho Borborita de Filipe encontrada no Panarion de Epifânio não é encontrada em nenhum lugar na versão sobrevivente de Nag Hammadi. Várias das escrituras sagradas dos borboritas giravam em torno da figura de Maria Madalena, incluindo As Perguntas de Maria, As Perguntas Maiores de Maria, As Perguntas Menores de Maria e O Nascimento de Maria. Os borboritas também usaram vários textos sagrados atribuídos a Seth, o filho de Adão e Eva, incluindo o Segundo Tratado do Grande Seth e as Três Estelas de Seth. Embora os borboritas também usassem tanto o Antigo quanto o Novo Testamento, eles renunciaram ao Deus do Antigo Testamento como uma divindade impostora.


Epifânio de Salamina registra que As Perguntas Maiores de Maria continham um episódio em que Jesus levou Maria Madalena ao topo de uma montanha, onde ele puxou uma mulher para fora de seu lado (de Jesus) e teve relações sexuais com ela. Então, ao ejacular, Jesus bebeu seu próprio sêmen e disse a Maria: “Assim devemos fazer, para que vivamos“. Ao ouvir isso, Maria desmaiou instantaneamente, ao que Jesus respondeu ajudando-a e dizendo-lhe: “Mulher de pouca fé, por que duvidaste?”


Eles ensinaram que havia oito céus, cada um sob um arconte governante. No sétimo reinava Sabaoth, o criador do céu e da terra, o Deus dos judeus, representado por alguns borboritas sob a forma de asno ou porco; daí a proibição judaica da carne de porco. No oitavo céu reinava Barbelo, a mãe dos vivos; o Pai de Todos, o Deus supremo; e Jesus Cristo. Eles negavam que Cristo tivesse nascido de Maria, ou tivesse um corpo real, defendendo em vez disso o docetismo; e também negavam a ressurreição do corpo. A alma humana após a morte vagueia pelos sete céus, até obter descanso com Barbelo. O homem possui uma alma em comum com as plantas e os animais. Epifânio afirma que os borboritas foram inspirados pelo setianismo e que elementos do sacramentalismo sexual desempenharam um papel importante em seus rituais. Ele afirma que os borboritas se engajaram em uma versão da eucaristia na qual eles manchavam suas mãos com sangue menstrual e sêmen e os consumiam como o sangue e o corpo de Cristo, respectivamente. Ele também alega que, sempre que uma das mulheres de sua igreja estava menstruada, eles coletavam seu sangue menstrual e todos na igreja o ingeriam como parte de um ritual sagrado. Dizia-se também que os borboritas extraíam fetos de mulheres grávidas e os consumiam, principalmente se as mulheres engravidassem acidentalmente durante rituais sexuais relacionados. Epifânio escreveu que tinha algum conhecimento em primeira mão da seita. Segundo ele, duas mulheres gnósticas se aproximaram dele e tentaram recrutá-lo para a seita e seduzi-lo. Eles também permitiram que ele lesse suas escrituras, mas Epifânio afirma que ele não foi tentado e não se juntou. Em vez disso, ele denunciou o grupo aos bispos, o que resultou na expulsão de cerca de 80 pessoas da cidade de Alexandria.


“Pois eu mesmo apareci nesta seita, amado, e realmente aprendi essas coisas pessoalmente, da boca de pessoas que realmente as realizaram. Não só as mulheres sob essa ilusão me ofereceram essa linha de conversa e divulgaram esse tipo de coisa para mim. Além disso, com ousadia insolente, elas mesmas tentaram me seduzir – como aquela esposa egípcia assassina e vilã do cozinheiro-chefe – porque me queriam na minha juventude… aparência, mas em suas mentes perversas elas tinham toda a feiúra do diabo. Mas o Deus misericordioso me resgatou de sua maldade, para que, depois de ler seus livros, ao entender sua real intenção e ao não me deixar levar por ela, e depois de escapar sem morder a isca, não perdi tempo para denunciá-los aos bispos que estavam lá, e descobrir quais estavam escondidos na igreja. Assim, eles foram expulsos da cidade, cerca de 80 pessoas, e a cidade foi limpa de seu crescimento espinhoso e semelhante a joio.”


— Epiphanius, Panarion, 26, 17.4, 17:8-9. Traduzido por Frank Williams.


Como tudo o que se sabe sobre os borboritas vem exclusivamente de polêmicas escritas por seus oponentes, ainda se discute se esses relatos refletem com precisão os ensinamentos borboritas ou se são mera propaganda destinada a desacreditá-los. Stephen Gero acha os relatos escritos por Epifânio e escritores posteriores plausíveis e os conecta com mitos gnósticos anteriores. Bart Ehrman, por outro lado, acha Epifânio quase totalmente não confiável. Ehrman escreve que acusar oponentes de práticas sexuais selvagens era comum na antiguidade romana, então os relatos lúgubres de Epifânio devem ser vistos como uma consequência disso. Ele também acha implausível a história de Epifânio de como ele aprendeu sobre suas supostas doutrinas – se eles realmente estivessem tendo ritos escandalosos, seria improvável que os compartilhassem com não membros. De maneira mais geral, os documentos escritos pelos próprios gnósticos egípcios, como os encontrados na biblioteca de Nag Hammadi, não parecem corresponder ao que os escritores anti-heresia alegaram. Embora tanto seus oponentes quanto os gnósticos concordassem que o gnosticismo desprezava o mundo material da carne, a escrita gnóstica geralmente indicava uma tendência ao ascetismo como resultado – de ignorar ou punir a carne através do esforço e do jejum. Escritores proto-ortodoxos, em vez disso, concluíram que, se os gnósticos acreditassem que o mundo material fosse inferior ao do espírito, eles – para demonstrar seu desdém por ele – teriam se lançado na devassidão, uma afirmação que Ehrman não encontra respaldo em evidências e o oposto de o que os verdadeiros gnósticos provavelmente pensavam.


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Principais fontes:


Ehrman, Bart (2012). Forgery and Counterforgery: The Use of Literary Deceit in Early Christian Polemics. Oxford University Press. p. 33–36.

Epiphanius of Salamis. Panarion (Adversus Haereses). Chapters 25 and 26.

Theodoret. Haereticarum Fabularum Compendium.

The Protestant Theological and Ecclesiastical Encyclopedia (1858) by John Henry Augustus Bomberger and Johann Jakob Herzog.

Meditação da Cripta de Christian Rosenkreuz


O seguinte exercício foi encontrado entre os papéis de meu falecido tio-avô, Edward Tischler, um estudante de longa data do rosacrucianismo. O documento não tem data, mas é provavelmente dos anos 1940 ou 1960 e foi entregue em um conclave da Ordem Rosacruz,  AMORC em San Jose, Califórnia, ou em Filadélfia, Pensilvânia. O estilo e o tom da escrita sugerem o último, assim como possivelmente fez parte de uma palestra apresentada por Joseph Weed, autor de Wisdom of the Mystic Masters, uma exposição completa sobre os ensinamentos e práticas básicas da AMORC publicada pela primeira vez em 1968.


O exercício é projetado para ajudar a colocar o praticante em maior harmonia para a sintonia cósmica através de uma meditação sistemática e visualização nos quatro principais centros psíquicos ou glândulas endócrinas do coração, garganta, glândula pineal e pituitária. A aversão a qualquer meditação ou energização dos centros abaixo do coração é típica das técnicas da AMORC e ​​da abordagem de Weed para o desenvolvimento psíquico. Algumas notas foram adicionadas ao final do exercício para torná-lo mais compatível com as práticas e doutrinas cabalísticas.


A Técnica

Centralize sua consciência em seu coração e visualize toda a área do peito envolta em uma aura rosa.

Inspire contando até seis enquanto mantém essa visualização.

Prenda a respiração contando até doze e, ao fazê-lo, levante a nuvem rosa até um ponto 3 polegadas acima do topo de sua cabeça.

Solte a respiração lentamente contando até oito e, ao mesmo tempo, expanda a nuvem rosa de modo que inclua a cabeça e a parte superior do corpo.

Quando sua respiração for expelida e seus pulmões estiverem vazios, prenda a respiração contando até doze e, ao mesmo tempo, mantenha em sua mente a visualização da nuvem rosa brilhante envolvendo sua cabeça e parte superior do corpo.

Repita o processo usando apenas a cor azul em sua garganta.

Repita o processo centrando sua consciência na glândula pituitária, entre as sobrancelhas e acima da ponte do nariz, cerca de 1,5 cm atrás da testa.

Visualize uma luz branca brilhante ao redor de sua cabeça contando até seis enquanto inspira.

Segure por uma contagem de doze, elevando a aura branca a um ponto de três polegadas acima de sua cabeça.

Solte a respiração contando até oito e, ao fazê-lo, sinta o centro pituitário se unir ao centro acima de sua cabeça, de modo que se tornem um só, enquanto a luz criada por essa fusão ilumina toda a sala.

Quando sua respiração for expelida, mantenha seus pulmões vazios contando até doze e veja aquela aura brilhante como o sol se expandir de modo que inclua sua cabeça e toda a parte superior de seu corpo acima da cintura.

Relaxe e sente-se em meditação silenciosa por cerca de três minutos. Durante este período, peça o que você precisa. Se for um pedido digno, será concedido. Antes de se levantar, diga a si mesmo: “Que o bem se manifeste no mundo”.

O exercício requer um aumento no controle da respiração semelhante ao pranayama básico, como sugerido por Swami Vivikenanda em seu trabalho Raja Yoga. Essa capacidade de prender a respiração por contagens além de quatro a seis segundos requer um certo grau de condicionamento e preparação. É aconselhável que, antes de realizar a seção de respiração do exercício, vários minutos sejam dedicados à respiração quadrada simples usada em muitos círculos esotéricos. Isso consiste em expirar para esvaziar os pulmões e contar até quatro. Então, a respiração é tomada para uma contagem de quatro, mantida para uma contagem de quatro, exalada para uma contagem de quatro e mantida para uma contagem de quatro. Isso é repetido por dois a três minutos. Este exercício aparentemente simples pode ser muito difícil, pois aumenta as reservas de energia do corpo e da mente, o ph do sangue, faz com que as células do corpo se harmonizem em um ritmo singular e purgue o corpo de toxinas. Além disso, a vontade ou a capacidade de se concentrar em uma única tarefa é fortalecida. Isso fará com que os pulmões se expandam, o corpo relaxe e, assim, aumente a capacidade de realizar os períodos sugeridos de retenção da respiração, conforme sugerido no exercício acima.


Em segundo lugar, a eficácia do exercício pode ser dramaticamente aumentada ao sentir o corpo se enchendo de um intenso calor branco à medida que a Respiração Quadrada é executada; então, durante o minuto ou dois finais do período de preparação, concentre a atenção na área acima da cabeça, visualizando-a como um intenso ponto de luz branca. Este é o Kether dos cabalistas.


Segure esta imagem por um ou dois minutos e, em seguida, com a respiração, mova-a para o coração, preenchendo-o com uma intensa luz branca. Mude esta luz para um escarlate intenso ou vermelho cereja e, em seguida, passe para a etapa 1 do exercício (aura rosa ao redor do coração) para combinar essas cores e mediar sua potência, ou passe para a etapa dois do exercício acima ( Aura azul ao redor da garganta).


As cores vermelho e branco são bem conhecidas nos trabalhos cabalísticos e alquímicos por seu simbolismo da intensa atividade criativa e poderes de nossa psique. Veja: “Parte Um, Imaginação e Força de Vontade, Teste de Voar No. II, Parte III; e No. VI”, em Ritual Magic of the Golden Dawn, Works by S.L. MacGregor Mathers e outros por Francis King.


No entanto, o problema com muitos exercícios como este, ou qualquer um que sugira o transpessoal, é que o elemento da emoção é frequentemente esquecido. A pergunta que muitos fazem é: “O que devo sentir (ou muitas vezes espero sentir) ao fazer este exercício?” Aqui a resposta é bastante simples e, de fato, é uma resposta que pode ser aplicada a qualquer exercício esotérico. O objetivo desses exercícios no nível emocional é uma sensação de plenitude. Para muitos, isso pode ser facilmente descrito como Maslow colocou “uma experiência de pico”. Esse sentimento de sucesso, vitória, alegria e entusiasmo explosivo em torno de um único evento ou momento. Um sentimento tão avassalador que quase podemos experimentá-lo novamente em sua totalidade apenas pensando nele. Se as experiências de pico são um aspecto da “totalidade”, então a descarga emocional que elas criam pode ser reexperimentada e transferida (reformulada na linguagem da PNL) em torno de outra experiência, embora separada e distinta.


Por exemplo, se antes de imaginar a esfera de luz acima de nossa cabeça (ou nuvem rosa ao redor de nosso coração), paramos e nos lembramos de um momento em que estávamos tendo uma ‘experiência de pico’ e permitimos que o contexto da experiência desapareça enquanto nos apegamos a as emoções, podemos construir um novo contexto em torno das emoções ‘velhas’ e altamente carregadas. Assim, sempre que imaginamos a nuvem rosa que construímos com ela a carga da experiência de pico, ela por sua vez pode desencadear novas experiências de pico. O mesmo acontece quando imaginamos nosso “Kether” ou luz primordial na cabala.


De fato, um exercício de Psicossíntese projetado para crianças pequenas em novas experiências educacionais os encoraja a visualizar uma luz acima de suas cabeças e a associá-la a experiências bem-sucedidas e de pico, e a ‘reinvocá-la’ antes de qualquer novo empreendimento (Psicossíntese em Educação ). Em exercícios como esses, não apenas o invocamos novamente e o associamos a experiências novas e futuras, mas também atraímos literal e imaginativamente esse poder para dentro de nós e, como tal, para nossa consciência.


Fonte: An Exercise from the Vault of CRC – Rituals and Ritual Work – Mark Stavish – Hermetic Library