segunda-feira, 29 de junho de 2020

O Esoterismo: Uma Abordagem Hermenêutico-Conceitual


O presente artigo consiste em uma reconstrução histórica e conceitual do esoterismo, suas origens, aplicações e, sobretudo, do sentido (tanto no significado, como no histórico) atribuído a ele pela tradição. O estudo do esoterismo propõe o retorno de um conhecimento rejeitado pelas tradições hegemônicas, mostrando que se pode estudá-lo de maneira lúcida, concisa, e dentro de seu próprio rigor metodológico. Trata-se aqui de uma introdução ao assunto, não se atendo a discutir temas ditos esotéricos, mas ao estabelecimento de um campo de estudo e uma tentativa de semear o interesse de pesquisa neste campo que cresce consideravelmente.

Introdução

O Esoterismo Ocidental

A chamada “Tradição Esotérica Ocidental” (Western Esotericism Tradition) é um recente campo de pesquisa acadêmica, porém esta “tradição” não é nada nova, nem mesmo uma moda moderna, nem pretende ser uma reação ao cientificismo ou ao empirismo. Para que possamos entender o que se designa por tal nome precisamos, antes de tudo, definir o que vêm a ser tradição e ocidental, além de esotérico e esoterismo.

Antes o esoterismo era estudado como pertencente a assuntos teológicos; entretanto, com o estudo sistemático e a adoção de métodos apropriados – e contando com publicações sérias sobre o assunto – passou a designar um campo de pesquisa autônomo (o “ismo”) com sua própria abordagem. Mas porque deveríamos estudar a “Tradição Esotérica Ocidental” (TEO)?

Aquilo que chamamos “ocidente” refere-se a todo o conjunto greco-latino e judaico-cristão, ambos “visitados pelo islamismo” na antiguidade e medievo. Em filosofia a questão envolvendo o ocidente sempre suscitou a relação de antagonismo entre ocidente e oriente. Não somente geográfica, mas, sobretudo, baseada em visões de mundo e contraposições culturais, os partidários do que ficou conhecido como “milagre grego” e os chamados “orientalistas” criaram uma dicotomia envolvendo as duas metades do mundo. Diferentes interpretações foram dadas para justificá-la e podemos distinguir duas: A primeira atribui um valor negativo ao oriente e positivo ao ocidente, pois o oriente seria um “ainda-não do ocidente”, atrasado, despótico, comunitário e religioso, enquanto o ocidente seria o desenvolvido, livre, societário, secularizado. A segunda atribui um valor negativo ao ocidente e positivo ao oriente, para eles, o oriente é o lugar por excelência da sabedoria, da espiritualidade, enquanto o ocidente é o deserto do materialismo, do cientificismo, do pragmatismo tecnológico, etc.

A chamada “Tradição Esotérica Ocidental” compreende, segundo Faivre, o mundo latino a partir do final séc. XV, o Renascimento e o resgate de correntes filosóficas e religiosas helenísticas tais como o gnosticismo, o hermetismo, neopitagorismo, estoicismo, como também o neoplatonismo, a cabala e a alquimia.

Nomes como Marcílio Ficino e Pico della Mirandola estão intimamente envolvidos tanto com o ressurgimento das filosofias pagãs, como do intercambiamento entre elas. Com Pico della Mirandola vemos a complementaridade entre a cabala, o cristianismo e o hermetismo alexandrino, e com Ficino a tradução da Hermética2, atribuída a Hermes Trismegisto.

O que aqui chamamos Hermética, ou Corpus Hermeticum, trata-se da compilação de vários textos, incluindo o Poimandres, o Asclépio, os fragmentos e testemunhos de Estobeo, entre outros autores e notícias de alguns neoplatônicos no período helenístico e cristão da filosofia antiga.
É no Renascimento que surge a ideia – recorrente no esoterismo – da unidade ou consonância entre as doutrinas, o que evoca a ideia da philosophia perennis: autores que trariam no âmago de suas doutrinas origens comuns, embora expressas de diferentes maneiras, porém conciliáveis entre si. A esta “perenidade” alguns autores desde o séc. XIX chamam de “Tradição”.

No contexto do pensamento esotérico, a noção de Tradição remete a uma ideia que surge de uma Tradição espiritualmente superior que perdura desde os inícios do pensamento até hoje por meio de inspiração divina ou grupos iniciáticos.

A abordagem hermenêutica pretendida neste trabalho propõe traçar a história do conceito de esoterismo e seu uso, compreendendo sua “via crucis”, seu julgamento, condenação e resgate. O sentido que nós e os autores clássicos (o apoio da tradição documental) atribuímos ao termo será a medida e a base para a compreensão, ao menos provisória por não se pressupor definitiva, de nosso objeto de estudo. A parte do método próprio ao esoterismo ocidental trata-se de um esboço para futuras abordagens desde “dentro”, e consequentemente, melhor compreensão dos temas pertencentes à Tradição e a complexidade que requer mais aprofundamentos em sua abordagem.

O estudo do esoterismo não propõe justificar os conteúdos de uma determinada corrente da Tradição, nem mesmo verificar uma suposta realidade histórica desta em tempos imemoriais; trata-se tão somente de apreender ou investigar a “emergência dessa ideia nas imagens e discursos, isto é, por meio das formas que assumiu até hoje”.

De minha parte propor o estudo do esoterismo significa trazer à luz um conhecimento “esquecido” ou “rejeitado”, não por que seja um caminho ideal, apenas porque é uma maneira pela qual o homem atribui sentido e constrói uma visão de mundo particular, ou – porque não? – uma maneira de conhecimento (uma nova ordem gnosiológica) ou uma construção onto-lógica própria.

1. Esotérico e Esoterismo.

Primeiramente devemos distinguir “esotérico” e “esoterismo”. A palavra “esotérico” é encontrada com muita frequência na literatura atual, e por esse motivo é a maior parte das vezes abordada sem o menor rigor. O uso inadvertido do termo causa confusão ao generalizar, por vezes, relacionando o esotérico com doutrinas exóticas, sistemas iniciáticos, ciências ocultas, entre outros – o que é o bastante para que a ciência moderna as taxe de falsas e nem sequer as considere ciências.

O primeiro a tentar resolver a problemática do termo esoterismo foi Antoine Faivre, professor da Sorbonne, em seu pequeno livro L’ésotérisme (1992). A etimologia do termo não sugere muito, ou melhor, é pouco explicativa: eso indica “para dentro”, o ter uma oposição, e o ismo um sistema. “Estar” ou “ir para dentro” sugere uma interiorização, voltar-se ao “interno”, porém “estar fora” ou “dentro” de quê? Pois a palavra esoterismo não indica algo específico, até mesmo pode significar uma infinidade de conteúdos. A tentativa de Faivre é circunscrever um campo de pesquisa possível. Porém, o esoterismo parece indicar mais uma “forma de pensamento” do que um “campo”. Faivre sugere investigar a natureza do esoterismo a partir de discursos que chamam a si mesmo de “esotéricos”, e os que implicitamente o dizem ser.

Em geral o termo esotérico indica “segredo”, “arcano”; algo isolado, misterioso ou reservado. Por exemplo, fala-se de doutrinas esotéricas de Platão e Aristóteles – o sentido do termo “esotérico” (έσωτερικός) é atribuído a Aristóteles, porém ele usa apenas a palavra “exotérico”, a qual seria o oposto a acromático (άκρόαμα), que quer dizer “instrução oral” – que eram ensinadas a discípulos escolhidos – ou dos ensinamentos das antigas escolas de mistérios reservados aos iniciados que deveriam percorrer um longo caminho de purificação. O termo “esotérico” aparece pela primeira vez com Luciano de Samosata3, contudo este termo só será associado a “segredo” em Clemente de Alexandria, posteriormente, o termo aparece em Hipólito de Roma5, Orígenes e Gregório de Nissa.

Leilão de Vidas. No livro Hermes e Zeus vendem filósofos. Os aristotélicos são vendidos “um” por “dois”, pois um veria para “fora” e o segundo para “dentro”, o primeiro exotérico, o segundo “esotérico”.
Refutações a todas as heresias.
Segundo Jean-Pierre Laurant o termo esoterismo aparece pela primeira vez em 1742 em um autor maçom6, e lá remete a um ensinamento interno, ou secreto, ministrado nas Lojas apenas aos seus integrantes.

La Tierce, Nouvelles obligations et status de la très vénérable corporation des francs maçons, 1742.
Hanegraaff, por outro lado, indica o ano de 1828 e ao autor Jacques Matter ao aparecimento do termo l’ésotérisme em seu livro História crítica do gnosticismo e de suas influências; seguido por Jacques Etienne em 1839, e Pierre Leroux. Em 1852 aparece no Dicionário Universal de Maurice Lachâtre (do grego eisôtheo entendido como princípio da doutrina secreta), depois popularizado por Eliphas Lévi em livros sobre magia, enquanto no inglês (esoteric, esotericism) é introduzido por A. P. Sinnett em Budismo Esotérico.

Aqui podemos perceber um sentido a ele associado, o do “mistério”, que torna o mundo uma experiência de aprofundamento, fora dos afazeres cotidianos, dos objetos comuns, para o insólito, em suma, para o extraordinário, ultrapassando os limites da linguagem e dos conceitos, e ingressa em um âmbito não comunicativo, ou no mundo do símbolo, do mito e do rito, da linguagem velada ou simbólica. Porém, esse sentido é muito restrito ou pouco significativo, pois muito do que se diz “esotérico” é restrito aos iniciados, cabendo apenas a eles o domínio apropriado do sentido e transmissão dos conteúdos “esotéricos”, sendo então muito problemático para os não-iniciados.

O esoterismo possui outros sentidos, como: 1) o de um caminho ou prática que dirige aquele que o segue a um lugar o qual conteria um tipo superior de conhecimento através do contato direto com a Tradição. As escolas ou correntes seriam um meio para alcançar esse lugar, tanto que o termo esoterismo poderia se referir tanto ao meio de alcançá-lo, quanto o lugar como tal que se quer atingir. Segundo Faivre, esse lugar seria o mesmo alcançado por todos aqueles que o buscam, não importando sua orientação ou tradição (no sentido de transmissão) de onde particularmente partiriam. Isso demonstraria uma suposta unidade entre todas as tradições existentes. Ou, 2) o de conhecimento rejeitado, marginalizado por uma tradição hegemônica.

Seria, entretanto, no mínimo ignorância, ou ingenuidade, supor que tudo aquilo que é herético ou contrário a um conteúdo dogmático seja “esotérico”. Podemos perceber que as correntes ditas esotéricas surgem dentro de movimentos religiosos, da mesma maneira que vemos falar com certa frequência de “cristianismo esotérico” ou “budismo esotérico”, como sendo a versão marginalizada da doutrina oficial.

O caso do dogmatismo não é restrito à questão religiosa, mas atinge até mesmo o ambiente filosófico. Na tradição filosófica ocidental, tudo o que se diz “esotérico”, ou se aproxima disso, é rejeitado reiteradamente e taxado como irracional, contraditório ou como um problema superado, um velho quadro inútil da ignorância primitiva do homem (por exemplo, a crítica de Theodor Adorno contra a astrologia, sendo esta instrumento de manipulação ideológica em As Estrelas descem à Terra, por outro lado, Paul Feyerabend em O Estranho Caso da Astrologia; também “O Mundo Humano do Espaço e do Tempo”, Ensaio sobre o Homem de E. Cassirer). Sendo então tudo aquilo que não se encaixa no padrão “racional” ou do método não aceitável ou passível de estudo.

A questão que sugere “ir para dentro”, indica olhar “de fora” algo que desde a idade média estava inserido na Teologia. O jugo da Teologia acerca do esotérico o tornara periférico ou excluído; entretanto, o desmantelamento do lastro que sustentava a hegemonia da Teologia fez surgir um campo vasto passível de inúmeras abordagens, sem a necessidade da Teologia para acessá-la. Ou seja, foi primeiro necessário “ir para fora” do teológico, para acessar o esotérico por meio dele mesmo (o “interno”), ou seja, desde a perspectiva – no sentido mesmo de visão – do esoterista, recuperando-o do exílio, do claustro teológico.

Devemos muito aos humanistas renascentistas neste ponto, pois eles ousaram romper com o jugo teológico-escolástico para celebrar um verdadeiro casamento entre as doutrinas das religiões abraâmicas com as doutrinas hermético-filosóficas (Pico della Mirandola, Discursos Sobre a Dignidade do Homem). O desprendimento da Teologia descortinou o campo de abrangência do esoterismo, e o mesmo ocorreu com a ciência: ela se tornou autônoma. O conteúdo dito esotérico passou a designar assuntos de cunho metafísico, cosmológico e ético, fora do âmbito teológico.

Segundo Faivre, as fontes as quais constituem a Tradição Esotérica Ocidental podem ser distinguidas como grandes rios que deságuam no oceano do esoterismo moderno. Estas disciplinas ou ramos irrigam a Alquimia, a Astrologia e a Magia, sendo seus afluentes – usando a metáfora de Faivre os seguintes:


Não confundir com a expressão moderna de Teosofia, associada a doutrinas orientais, pela Sociedade Teosófica de H.P. Blavatsky (séc. XIX).
Todos os afluentes irrigaram, forte ou tenuemente, os três grandes rios do esoterismo. Todos eles mantêm relações entre si, como também com as tradições religiosas ou culturais que não podem ser totalmente separadas ou dissociadas, pois ambas são fontes para uma estrutura do imaginário esotérico, o que é bastante visível ao analisarmos profundamente estas obras. Há um distanciamento das questões teológicas, entretanto se mantêm as filiações religiosas (ou talvez espirituais) e culturais, aspectos mitológicos e sociais que envolvem toda a formação esotérica de seus componentes.

2. Os seis elementos fundamentais do esoterismo em Antoine Faivre.

Definir de maneira inequívoca quais são os conteúdos nos quais se adéqua perfeitamente o termo esoterismo é bastante complexo, pois de maneira alguma se busca definir doutrinalmente o que venha a ser esotérico – nem é o objetivo defender que maneira deve ser a mais adequada para entender o esoterismo, privilegiando uma doutrina em detrimento de outra.

Ao menos podemos seguir a tentativa de Faivre, em sua já consagrada distinção, entre os quatro elementos fundamentais do esoterismo: (1) as correspondências; (2) a natureza viva; (3) imaginação e mediações; e a (4) experiência da transmutação, além de outras duas que seriam elementos “secundários” ou “não fundamentais”: (5) a prática da concordância e a (6) transmissão.

1. O elemento correspondência indica uma relação de interdependência, “O que está em cima é como o que está embaixo…”8, além de diferenciados níveis de existência, os quais estariam ligados ou interligados por meio de correspondências ou analogias. Na literatura esotérica é comum encontrar correspondências entre microcosmos e macrocosmos, e associações entre metais, plantas e planetas, um elemento sendo remetido aos outros, criando assim uma rede praticamente infinita. Estas correspondências são quase sempre ocultas ou pouco reveladas. Este é o campo do mistério, do encoberto, do segredo. Faivre distingue dois tipos de correspondências: (a) as visíveis e as invisíveis. As visíveis são as que estão ligadas ao mundo natural, partes do corpo, plantas, metais, etc., com as regiões invisíveis do mundo celeste; as invisíveis tratam da correspondência entre (b) o cosmos, ou a história, com o texto revelado. Natureza e Escritura corroboram-se mutuamente, uma ajudando no conhecimento da outra.

O segundo princípio hermético, “princípio da correspondência”. Cf. Iniciados, Três. O Caibalion.
O estudo das correspondências indicaria uma dimensão na qual o contraditório, paradoxal ou indissociável se desfaria e encontraríamos a solução para os grandes problemas da existência. Deste modo, é demolida toda a estrutura lógico-aristotélica dos princípios de não-contradição, identidade e terceiro excluído9. A noção de correspondências sugere que a ordem cósmica segue uma estrutura não linear, diferente da lógica clássica. As relações de analogias e semelhanças podem variar facilmente de níveis ontológicos e/ou lógicos, por meio de redes interligadas ou hierarquias, alterando-se tanto ascendentes, quanto descendentemente – do macro ao micro, do “acima” ao “baixo”, e vice-versa.

Sobre este tema ver “Aspectos da Semiose Hermética” in ECO, Umberto. Os limites da Interpretação.

2. A correspondência pode ser associada à ideia de uma natureza viva, pois a relação simpática que liga todas as coisas naturais é o elo da magia, onde o controle e emprego das forças estão ligados ao uso das correspondências. A ideia de uma natureza viva é o princípio mesmo da magia, particularmente no Renascimento. Do latim magia e do grego magiké téchne, “a arte dos mágoi” – os antigos magos persas – designava para os gregos um praticante de rituais privados que posteriormente passou a ser marginalizado e proibido. A crença em forças vivas ou animadas é chamada animismo, na qual se admite a ação ou causa às forças naturais animadas (salamandras, ondinas, silfos, gnomos).

Desta maneira podemos compreender o cosmos como um complexo, plural, com entidades hierárquicas continuamente animadas por uma energia viva. O domínio destas forças naturais costuma-se chamar magia. A prática da magia se faz por parte de instrumentos, amuletos ou talismãs, pelos quais o praticante se comunica com as forças celestes ou terrestres.

De origem oriental, difundiu-se no mundo grego e posteriormente no latino, tornando-se marginal na Idade Média e ressurgindo no Renascimento como parte da filosofia natural. As ideias básicas expostas aqui concordam com praticamente todos os autores da época, como Pico della Mirandola, Reuchlin, Agrippa, Paracelso, Fracastoro, Cardano e Della Porta, sendo a mesma ideia desdobrada pelo último, como também por Campanella. A magia retorna ainda no Romantismo Alemão em Novalis, Goethe, etc. No final séc. XIX e metade do XX a magia torna-se então somente uma categoria de interpretação na sociologia e na psicologia. Do séc. XX em diante vemos um retorno da magia associado a movimentos como o neo-paganismo, wicca, new age, e correntes correlatas, como também pode ser incluída nos Novos Movimentos Religiosos (NMR).

No âmbito das sociedades iniciáticas modernas percebemos a predominância da magia na Ordem Hermética da Aurora Dourada e suas ramificações posteriores (A. O. Alfa et Omega (S. L. Macgregor Mathers), Sociedade da Luz Interior (Dion Fortune), Builders of the Adytum (P. Foster Case), Thelemic Order of the Golden Dawn, etc., como também no movimento Thelemita A.A. (Aleister Crowley), O.T.O – sistema maçônico que após Crowley passa a possuir um caráter mágico-cerimonial ou em demais ordens ou práticas cerimoniais (Societas Rosacriciana in Anglia, Elus Cohen).

3. A imaginação e a mediação pressupõem a interligação entre estas e as correspondências e as forças naturais. São destas interligações que surgem os ritos, símbolos, angelologias, etc. Faivre indica uma diferenciação importante entre o esotérico e o místico, no qual o primeiro inclui em seu sentido um “iniciador”, ou seja, aquele que transmite (mediação) um conhecimento ou prática, enquanto o segundo termo dispensa tais mediações.

O esotérico visa, sobretudo, as mediações e revelações, pelo qual o uso da imaginação é essencial. Porém, isto não pode impedir que esoteristas possuam traços místicos ou vice-versa. Ainda sobre a imaginação, podemos perceber sua importância não somente no âmbito da magia, mas em toda a experiência humana (cognitiva10, inventiva, religiosa). É com a imaginação que o homem estabelece uma intricada estrutura significativa e explicativa do mundo11. Faivre faz referência neste elemento ao que Henry Corbin chama de mundus imaginalis, um mesocosmo, um mundo intermediário o qual teria relação cognitiva e visionária.

A importância dada por Kant à imaginação como a condição de síntese entre as categorias e as sensações em sua estética transcendental, na Crítica da Razão Pura. O “esquema transcendental” seria o procedimento pelo qual a imaginação confere uma imagem para um conceito.
Para uma abordagem mais aprofundada acerca do tema ver. DURAND, Gilbert. A Imaginação Simbólica.

4. A Transmutação remete à “metamorfose”, ou seja, uma mudança que não é de um estado a outro, senão um movimento parcimonioso ou gradual. De origem alquímica, porém não possuindo o sentido restrito de processo laboratorial, senão no sentido original da palavra (labor–oratorium, labora et ora, trabalha e ora) no qual o processo que ocorre na matéria da Obra ocorre do mesmo modo no interior do operador. O sentido iniciático sugere o renascimento, o novo homem. Na alquimia a transmutação possui três estágios: o nigredo, o albedo, e o rubedo, que podem ser associados à purgação, iluminação e unificação na mística tradicional.

5. Neste elemento secundário, Faivre insere a prática da concordância como o estabelecimento de pontos comuns entre diferentes tradições (uma indicação de laicidade do esoterismo). Este método de estudo, o comparativo, surge no séc. XV-XVI (lembrar a importância de Ficino e Pico della Mirandola) e retomando com mais força nos fins do séc. XIX.

É importante ressaltar o espírito de tolerância que existe no fato de se reunir diferentes tradições sem evidenciar suas particularidades, senão em suas convergências. Porém, o que Faivre pretende mostrar é que a convergência das tradições visa atingir uma gnosis que contenha, de maneira individual ou coletiva, o vislumbre de uma origem única da qual todas as tradições se ramificaram. O que se iniciou com o estudo de doutrinas orientais, o estudo de “religiões comparadas”, deu origem à ideia de uma philosophia perennis (ou Tradição primordial) que se acredita ser a fonte de todas as religiões e concepções esotéricas.

6. O elemento transmissão indica que os conteúdos esotéricos devem ser transmitidos ou comunicados; todavia, essa transmissão não se efetua de qualquer maneira. Isso sugere a emergência de um Iniciador e um sistema “legítimo” e “regular”. Isto se encontra de maneira bastante clara dentro de todos os sistemas iniciáticos ocidentais que podem ser investigados (maçonaria, rosacrucianismo, martinismo, etc.).

Todos os elementos expostos aqui sugerem um ponto de partida para o estudo do esoterismo e suas diversas correntes. A tentativa de Faivre em elencar seis elementos fundamentais não visa constituir um marco doutrinário para a área, senão assinalar a presença de pontos comuns aos mais variados discursos ou disciplinas esotéricas. Cada elemento pode variar hierarquicamente dentro de um determinado sistema, como também pode assumir posições metafísicas, teológicas ou cosmológicas diferentes.

3. O Problema da definição acadêmica de esoterismo.

Wouter Hanegraaff no Dictionary of gnoses & western esotericism distingue duas perspectivas acerca do sentido do termo esoterismo: a) uma construção tipológica (certos tipos de atividade religiosa com sua estrutura específica); b) ou como um tipo de religião ou dimensão estrutural (associado a certas correntes históricas ou culturais da tradição ocidental).

Existe aí o debate sobre a necessidade de restringir o âmbito do esoterismo à modernidade ou à contemporaneidade, caracterizado pela busca de um núcleo dominante para o estabelecimento de uma periodização ou demarcação histórica do esoterismo e sua definição.

Uma saída para uma definição apoiada em uma periodização seria delimitar uma corrente histórica específica, porém quais seriam os pressupostos para o acolhimento de uma corrente como definição de esoterismo?

Von Stuckrad critica a definição de Hanegraaff por ele usar duplamente o termo “certos” (certain) como vago para distinguir dois sentidos de esoterismo. O que há de racional nisso? Poderíamos selecionar hermetismo, paracelsismo, new age, separadamente excluindo os demais, entretanto não teríamos uma definição geral do que seja esoterismo. Em vez disso ressalta-se o caráter de conhecimento rejeitado pela academia, no qual o próprio estudo do esoterismo retornaria excluindo certos componentes que integrariam sua própria definição. Isso sugere uma reflexão acerca dos pressupostos e preconceitos dos pesquisadores acadêmicos.

Segundo Von Stuckrad, alguns estudiosos preferem aplicar o termo esoterismo para um restrito contexto ou período, da mesma forma que autores evitam outras formas de abordagens históricas, ou evitam o uso do termo esoterismo para não serem associados ao movimento moderno “new age”.

Ainda seguindo a crítica de Von Stuckrad, o desafio acadêmico de delimitação de campo e definição do conceito é imprescindível para fornecer um prévio quadro interpretativo no qual estes diversos estudos (hermetismo, alquimia, rosacrucianismo, maçonaria, new age, etc.) possam estar devidamente ancorados em seu devido lugar. A proposta de Von Stuckrad não é definir o esoterismo por meio das correntes históricas que a compõem, senão defini-lo como “um elemento estrutural da cultura ocidental”. Além disto, é necessário perguntar: qual a importância do esoterismo na “dinâmica da história ocidental”? E o que podemos “obter com o uso de uma ética do esoterismo”?


4. Conclusão: A possibilidade de estudo e o(s) método(s) do Esoterismo Ocidental.

Se desejarmos abordar o esoterismo a partir de uma perspectiva que lhe seja própria, qual seria então o método próprio a essa empresa? O que fazem os principais autores e especialistas nesta área de estudo, tanto do esoterismo como no estudo de religiões, é apontar a emergência do método empírico.

Empírico porque pretende sustentar a pesquisa em “materiais” delimitados dentro do espaço e do tempo. Não confundir com empirismo, pois não se trata de verificação.
O esoterismo (enquanto noção restritamente ocidental) remete para todo um conjunto de materiais para o qual um estudo conciso somente possuiria êxito se investigado dentro de seu restrito ambiente geográfico, histórico e cultural, ou seja, o mundo greco-latino e judaico-cristão visitado pelo islã. Segundo Faivre a sua proposta de estudo do esoterismo é delimitar fronteiras nas quais os seis elementos fundamentais sejam encontrados todos juntos em um determinado período histórico e geográfico, no qual já existiria a necessidade de buscar nomes para designar tal fenômeno. Este método buscaria afastar todos os riscos de anacronismos ou inconsistências comumente encontrados em estudos pouco rigorosos ou aventureiros do esoterismo e das religiões.

A legitimidade da pesquisa se arvora na questão comum a todos os homens, ou seja, a busca pelas respostas acerca da perplexidade na qual o homem se encontra ao estar lançando em um mundo estranho e repleto de enigmas, o qual o faz indagar-se sobre si e sua existência. O esoterismo é tão antigo quanto o pensamento ocidental e as suas histórias estão entrelaçadas seja como visões de mundo, concepções religiosas e metafísicas ou como desenvolvimentos científicos pelo qual percorreram até a modernidade.

De nenhuma maneira o estudo do esoterismo deve pretender-se científico – no rigor do termo -, nem inserir-se no âmbito do irracionalismo. Se admitirmos que apenas o que é “cientifico” ou “racional” produz “conhecimento” caímos em um poço sem fundo, o qual rejeita toda outra maneira (seja lógica, cognitiva, significativa) de pensar – compreender – o mundo. O pensamento esotérico possui sua própria epistemologia que os métodos hegemônicos rejeitam por não se enquadrarem neles. As ideias de correspondência e magia não fazem sentido em um mundo dominado pelos princípios de identidade, não-contradição e terceiro excluído. A “razão hermética” não deixa de ser “racional” ou produzir compreensão (em níveis ontológicos) por não ser redutível à lógica tradicional (a não-linearidade) ou fazer uso dela.

O estudo do esoterismo propõe resgatar uma maneira completamente válida – quando abordada metodologicamente – de atribuir sentido a um mundo muito amplo e passível de diversas aproximações, seja por parte da história da filosofia, do imaginário, do simbolismo, da antropologia, etc., como por sua própria via de acesso, a da “razão hermética”.

Antoine Faivre lançou os pontos coordenadores, dentre os quais podem ser acrescidos outros como fez Pierre Riffard. A estes elementos fundamentais podem ser associadas abordagens que nos possibilitam se aproximar de nosso objeto. Abordagens particulares como a semiose hermética de Umberto Eco, no campo da semiótica, e a hermetica ratio em Gilbert Durand, na teoria do imaginário. Ambas, mais fortemente em Durand, partem da crise do pensamento moderno. Eco na contraposição entre a lógica formal-aristotélica e a lógica hermética; Durand na crise das ciências humanas e na contribuição epistemológica da “hermetica ratio”. Vemos que Durand pretende mostrar o retorno do princípio hermético da correspondência de dois modos: a profunda metodologia que sugere este princípio e a solução ao círculo, as reduções e fragmentações comuns às ciências sociais.

De um ponto mais distante podemos evocar aqui a fenomenologia de Mircea Eliade ao expor de maneira brilhante a estruturação da realidade na mentalidade do homem primitivo. Partindo de uma compreensão da ontologia do pensamento arcaico podemos nos aproximar do esoterismo como uma construção particular da realidade fundada na ruptura de níveis ontológicos e no estabelecimento de outros níveis tanto lógicos como ontológicos da realidade, como na relação entre ontologia e hermenêutica para a compreensão da relação entre homem e mundo.

O estudo do esoterismo pode, além de possibilitar outra maneira de compreensão acerca do real, ser também de grande importância para formulação de um pensamento ético ligado a situação do homem em relação com os outros homens e com a natureza.

5. Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ADORNO, Theodor. As Estrelas Descem à Terra. A coluna de astrologia do Los Angeles Times. Um estudo sobre a superstição secundária. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o Homem. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
DURAND, Gilbert. Ciencia Del hombre y tradición: El nuevo espíritu antropológico. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1999.
_______________. A Imaginação Simbólica. Trad. Carlos Aboim de Brito. Lisboa: Edições 70, 1993.
ECO, Umberto. Os Limites da Interpretação. São Paulo: Perspectiva, 1995.
FAIVRE, Antoine. O Esoterismo. Campinas, SP: Papirus, 1994.
______________. The Eternal Hermes. From the Greek God to Alchemical Magus. Trad. Joscelyn Godwin. Phanes Press, 1995.
FEYERABEND, Paul. El Extraño Caso de la Astrología. In. ¿Por que no Platon? Trad. María A. Albisu Aparicio. Madrid: Editorial Tecnos, 1993.
FICINO, Marsílio. Three Books on Life. Tempe, Arizona: The Renaissance Society of America, 1998.
GOODRICK-CLARKE, Nicholas. The Western Esoteric Traditions. A historical introduction. New York: Oxford university press, 2008.
HANEGRAAFF, Wouter (ed.). Dictionary of Gnosis & Western esotericism. Leiden: Koninklijke Brill NV, 2006.
_____________________. Empirical Method in the Study of Esotericism. In. Method & Theory in the Study of Religion, Vol. 7/2, pp. 99-129, 1995.
INICIADOS, Três. O Caibalion: estudo da filosofia hermética do antigo Egito e da Grécia. São Paulo: Pensamento, 2010.
LAURANT, Jean-Pierre. O Esoterismo. São Paulo: Paulus, 1995.
PICO della MIRANDOLA, Giovanni. Discurso Sobre a Dignidade do Homem. Lisboa: Edições 70, 2006.
RIFFARD, Pierre. O Esoterismo. O que é esoterismo. Antologia do esoterismo ocidental. São Paulo: Mandarim, 1996.
Von Struckrad, Kocku. Western esotericism: Towards an integrative model of interpretation. In Religion 35, pp. 78-97. (2005).


sexta-feira, 19 de junho de 2020

Evangelhos Gnósticos


A Descoberta

            Em dezembro de l.945 um camponês árabe fez uma descoberta arqueológica espantosa em Nag Hammadi, vilarejo do Alto Egito a 500 km do Cairo: um pote de cerâmica de quase 1 metro de altura que continha 13 papiros encadernados em couro!

            Foi o início de uma história dramática e policialesca que terminou com 10 destes livros - posteriormente chamados códices - confiscados pelo governo egípcio e depositados no museu copta do Cairo; os demais códices foram contrabandeados para fora do Egito, finalmente caindo nas mãos de estudiosos de várias linhas filosóficas e religiosas.

            Hoje encontram-se todos traduzidos, permanecendo o centro da atenção dos historiadores para uma nova interpretação da história.

A língua e as datas

            Os papiros estavam escritos em copta, que é uma língua camito-semítica do sec. III DC., com características gregas, e que hoje é usada apenas como língua litúrgica; eram traduções de originais escritos em grego ( a língua do Novo Testamento), entre os anos 400 a 500 D.C.

            E quanto às datas dos textos originais, os estudiosos divergem: alguns não poderiam ser posteriores a 120 ou 150 DC, pois Irineu, o bispo ortodoxo de Lyon, escrevendo por volta de 180 DC, declarou que "os hereges dizem possuir mais evangelhos do que realmente existem ", e lastima que nessa época esses escritos tivessem atingido grande circulação - da Gália até Roma, e da Grécia até a Ásia Menor !

            O pesquisador Quispel e seus colaboradores sugerem que os originais sejam datados por volta do ano 140 DC; um alemão, prof. Helmut Koester, de Harvard, sugeriu que uma das coletâneas, a do Evangelho de Tomé, talvez inclua algumas tradições ainda mais antigas que os evangelhos do novo testamento, contemporâneas ou anteriores a Marcos, Mateus, Lucas e João (escritos por volta de 50 a 100 DC).

O assunto dos textos

            Um dos mais eminentes pesquisadores foi o professor Gilles Quispel, um historiador da religião em Utrech, Holanda. Ao examinar a primeira linha de um texto ficou estupefato e incrédulo com o que leu: "Essas são as palavras secretas que Jesus, o Vivo, proferiu, e que o seu gêmeo Judas Tomé, anotou " - O texto continha O Evangelho Segundo Tomé, que ao contrário do Novo Testamento, se apresentava como "secreto".

            Quispel viu que o texto continha muitos ensinamentos presentes também no Novo Testamento; mas esses mesmos dizeres, colocados em contextos pouco familiares, sugeriam outras dimensões de significados!

            Verificou, ainda, que algumas passagens diferiam totalmente de qualquer tradição cristã conhecida: Jesus, o Vivo, por exemplo, fala de maneira tão intensa e enigmática quanto os Koans Zen. Jesus disse: "Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá". O que Quispel tinha em mãos era apenas um dos 52 textos descobertos em Nag Hammadi.

            Encadernado no mesmo volume do Evangelho de Tomé estava o Evangelho de Filipe. Em outro volume encontraram-se ensinamentos criticando crenças cristãs bastante comuns, como a concepção imaculada - ou a ressurreição corporal, considerando-as ingenuamente equivocadas!

            Boa parte da literatura encontrada em Nag Hammadi é nitidamente cristã . Certos textos, contudo , mostram pouca ou nenhuma influência cristã; alguns provêm de fontes ditas pagãs, e outros fazem uso extenso de tradições judaicas.

Os Textos

LISTA DOS TEXTOS ELABORADA PELO PROJETO CANADENSE DA BIBLIOTECA COPTA DE

NAG HAMMADI

Prece do Apóstolo Paulo Fragmento de A Republica

Epístola Apócrifa de Tiago Octoade e Eneade

Evangelho da Verdade Prece de Ação de Graças

Tratado sobre a Ressurreição Asclépio

Tratado Tripartite Paráfrase de Sem

Apócrifo de João Segundo Tratado do Grande Set

Evangelho de Tomé Apocalipse de Pedro

Evangelho de Filipe Ensinamento de Silvano

Hipóstase dos Arcontes As Três Estelas de Set

Escrito sem título Zostriano

Exegese da Alma Epístola de Pedro a Filipe

Livro de Tomé, O Atleta Melquisedec

Apócrifo de João Noréia

Evangelho dos Egípcios Testemunho de Verdade

Eugnosto, o Bem-aventurado Marsano

Sabedoria de Jesus Cristo Interpretação da Gnose

Diálogo do Salvador Exposição Valentiniana

Evangelho dos Egípcios Batismo A

Eugnosto, o Bem-aventurado Batismo B

Apocalipse de Paulo Eucaristia A

1o- Apocalipse de Tiago Eucaristia B

2o- Apocalipse de Tiago Alógeno

Apocalipse de Adão Hypsiphrone

Atos de Pedro e dos 12 Apóstolos Sentenças de Sexto

Bronté ou Trovão Evangelho da Verdade

Authentikos Logos Protenóia Trimorfe

Conceito de Nossa Grande Força Escrito sem título 

Agrupamento de assuntos:

Coletânea das palavras de Jesus/diálogos com seus discípulos:

• Evangelho de Tomé
• Diálogo do Salvador
• Epístola de Pedro a Filipe

Relatos apócrifos sobre Jesus e seus discípulos:

• Epístola Apócrifa de Tiago
• Evangelho de Maria

Apocalípses:

• Adão
• Pedro
• Paulo
• Tiago

Tratados sobre as origens do mundo visível/invisível:

• Tratado Tripartite
• Apócrifo de João
• Origem do mundo

Tratados filosóficos sobre a alma/destino humano:

• Exegese da Alma
• Marsano
• Zostriano

Tratado Hermético:

• As Três Estelas de Set

Coletânea de sentenças de sabedoria (tipo monástico):

• Sentenças de Sexto
• Ensinamentos de Silvano

 As origens do Gnosticismo

            Hipólito, um cristão de Roma, escrevendo em grego por volta do ano 225, ouvira falar dos brâmanes indianos - e inclui a tradição destes entre as fontes de heresia: "Há, entre os indianos, a heresia daqueles que filosofam entre os brâmanes - que vivem uma vida auto-suficiente abstendo-se de ingerir criaturas vivas e todo alimento cozido. Eles afirmam que Deus é luz, não como a luz que se vê, nem como o sol ou o fogo. E para eles Deus é discurso; não o discurso que se expressa em sons distintos e inteligíveis, mas o do conhecimento (gnose) através do qual os mistérios secretos da natureza são apreendidos pelos sábios"!

            Já Edward Conze, o estudioso britânico do budismo, sugere que "os budistas mantiveram contato com os cristãos tomistas (i.é., cristãos que conheciam e usavam escritos como o Evangelho de Tomé) no sul da Índia!". As rotas comerciais entre o mundo greco-romano e o extremo oriente estavam sendo abertas na época em que o gnosticismo floresceu (entre os anos 80 e 200 DC); missionários budistas vinham pregando em Alexandria já há gerações!.

            O estudioso do Novo Testamento, Wilhelm Bousset, remontou a origem do Gnosticismo às antigas tradições babilônicas e persas, declarando que "o gnosticismo é antes de tudo um movimento pré-cristão cujas raízes estão em si mesmo. Deve, portanto, ser compreendido... em seus próprios termos, e não como uma ramificação ou sub-produto da religião cristã"! O filólogo Richard Reitzenstein concordou com este ponto, mas argumentou que o gnosticismo proveio da antiga religião iraniana, e que foi influenciado por antigas tradições do zoroastrismo.

            Os atuais estudiosos e pesquisadores acima citados não fizerem mais do que corroborar o que HPB já revelara no final do século passado. Já havia um certo conhecimento sobre o gnosticismo em sua época, além da literatura católica que anatematizava os gnósticos, de alguns textos originais em grego descobertos em outras regiões: o próprio Evangelho de Tomé (descoberto em meados de 1895); e a Pistis Sophia, descoberto em meados do sec. 18), contendo muitas páginas onde o próprio Jesus instruía seus discípulos sobre a reencarnação, ensinamento comum nos primeiros tempos do cristianismo primitivo.

            Helena P. Blavatsky escreveu vários artigos sobre "O Caráter Esotérico dos Evangelhos" destacando sempre que Jesus ensinava aos seus discípulos uma doutrina esotérica: "A vós vos foi dado o mistério do Reino de Deus; aos de fora, porém, tudo acontece em parábolas" (Marcos 4:11). Em Isis sem Véu, HPB menciona que no Evangelho de João e nos atos de São Paulo, o Novo Testamento apresenta um grande número de expressões gnósticas, como admitem os eruditos hoje.

            George R.S. Mead, secretário particular de HPB entre os anos de 1887 a 1891, recebeu dela a incumbência de que "se dedicasse ao estudo e à pesquisa na área do Gnosticismo" (o que ele realizou com brilhantismo). Em um de seus trabalhos, O Hino de Jesus - Um Rito Gnóstico, encontramos o que segue: "Como está atualmente provado, e fora de qualquer dúvida, que a Gnosis é pré-cristã , estamos então tratando com uma gnosis cristianizada que existia demonstradamente no tempo de Paulo e que este encontrou já existindo nas igrejas". Sem dúvida, a gnosis era pré-cristã no sentido de que já existia no sec. I AC, especialmente na região da Samaria e da Síria.

            A catedrática Elaine Pagels, da Universidade de Colúmbia, que escreveu "Os Evangelhos Gnósticos", diz que "a maioria dos estudiosos hoje concorda que o que nós chamamos - gnosticismo - foi um movimento muito difundido cujas fontes podem ser encontradas em diversas tradições".

O Gnosticismo e o cenário religioso da época

            Elaine Pagels explora uma linha de pesquisa que busca a relação entre o Gnosticismo e o cenário religioso da época; ela mostra, em parte, como as formas gnósticas de cristianismo primitivo interagiram com as formas ortodoxas, que mais tarde deram origem ao Catolicismo.

            Sendo este também um dos objetivos deste trabalho, podemos colocar as seguintes questões : por que esses textos foram enterrados? por que não foram usados pela igreja cristã , posteriormente institucionalizada? e por que os cristãos gnósticos foram chamados de "hereges", e perseguidos pelos cristãos ditos "ortodoxos" ( aqueles que pensam corretamente)?

As considerações abaixo apontarão algumas respostas a tão cruciais questões!:

            No século IV, na época da conversão do Imperador Constantino e quando o cristianismo tornou-se religião oficial do Império Romano, os bispos cristãos, anteriormente perseguidos pela polícia da época, passaram a comandá-la! Possuir livros denunciados como heréticos tornou-se crime civil - assim, quase toda a literatura gnóstica preciosa foi destruída pelo fogo; mas, no alto Egito, possivelmente um monge do mosteiro de São Pacômio (próximo ao vilarejo de Nag Hammadi), teve a feliz inspiração de enterrar os textos, hoje estudados! Antes desta valiosa descoberta, tudo o que sabíamos daquela época é de origem ortodoxa. A supressão dos textos cristãos gnósticos é o resultado de toda uma disputa crítica para a formação da igreja católica.

            Muitos autores gnósticos afirmavam apresentar tradições sobre Jesus que eram secretas, ocultas dos "muitos" (os que passaram a ser conhecidos como ortodoxos). A palavra "Gnósis" geralmente é traduzida por "conhecimento", mas a Gnose não é, primordialmente, um conhecimento racional; a língua grega distingue entre o conhecimento científico (ele conhece matemática) e, reflexivo (ele se conhece), experiência que é Gnose, percepção direta daquilo que é, percepção interior, um processo intuitivo de conhecer-se a si mesmo. Como um ensinamento dessa natureza poderia ser utilizado pela igreja?.

            Aqueles que não participavam da mesma interpretação de "textos sagrados" (no mais das vezes simples interpolações dogmatizadas!) dada pelos padres, passaram a ser denunciados como "heréticos" ( aquele que pratica doutrina contrária ao que foi definido pela igreja em matéria de fé). No entanto, essa campanha contra a heresia envolvia um reconhecimento de seu poder de persuasão! ... e no entanto, foram os bispos que prevaleceram.

            Traçaremos, agora, um paralelo entre o que acreditavam e o que falavam os cristãos ortodoxos e os gnósticos seguidores de Valentino, um dos líderes moderados da época, e que até pretendia a união entre as duas facções, pretensão esta repudiada por Irineu e outros bispos:

os cristãos ortodoxos:
-Uma distância abissal separa a humanidade de seu criador. Ele é inteiramente distinto de Sua criação.
os gnósticos valentinianos:
- Negam essa distância e afirmam que o conhecimento de si mesmo é conhecimento de Deus; o "eu" e o "divino" são idênticos.
-Jesus fala em "pecado" e "arrependimento".
- Jesus fala em ilusão e iluminação.


- Jesus é o Senhor e o Filho de Deus, de uma maneira única e singular; permanece eternamente distinto do resto da humanidade que veio "salvar".
- Jesus veio como um guia que abre o acesso para o entendimento espiritual, e quando o discípulo se ilumina, ele deixa de ser seu Mestre, pois ambos se tornam semelhantes.


- Seguindo os tradicionais ensinamentos judaicos, "todo sofrimento vem do pecado", que teria maculado uma criação originalmente perfeita .
- É a ignorância e não o pecado que leva uma pessoa a sofrer. No Evangelho da Verdade encontra-se: "...a ignorância...trouxe angústia e terror. E a angústia tornou-se espessa como uma neblina, de modo que ninguém conseguia enxergar. Por isso o erro é tão poderoso..." Isto significa que a maioria das pessoas vivem no oblívio, na inconsciência. Sem jamais se tornarem cientes de si mesmas, elas não têm raízes.Os que vivem deste modo sofrem "terror, confusão, instabilidade, dúvidas e desunião", sendo enredados por "muitas ilusões".


- A paixão e a morte de Jesus como um sacrifício que redime a humanidade da culpa e do pecado. E a única chave para abrir o Paraíso é "o nosso próprio sangue".
- A "crucificação" é o momento para descobrirmos a essência divina em nós mesmos. O "Testemunho da Verdade" declara que aqueles que se entusiasmam com o martírio não sabem "quem é o Cristo". O autor ridicularizava a crença de que o martírio assegura a salvação e diz que os ortodoxos o veem como uma oferenda a Deus e pensam que ele deseja sacrifícios humanos!". Cristo é um ser espiritual e apenas a sua natureza humana sofreu.


- A ressurreição de Jesus e do cristão.
A "Fé dos Tolos". A existência humana comum é morte espiritual. É necessário receber a ressurreição espiritual enquanto vivem!.


- A discriminação da mulher: Tertuliano, nos preceitos da "disciplina eclesiástica para as mulheres", especificava: "Não é permitido a nenhuma mulher falar na igreja, nem é permitido que ensine ou que batize, ou que ofereça a eucaristia’ ... para não falar em qualquer cargo sacerdotal. Em 1.977, o papa Paulo VI declarou que a mulher não pode ser padre "porque Nosso Senhor era homem".
- Entre alguns grupos gnósticos , as mulheres eram consideradas iguais aos homens; algumas ensinavam, outras evangelizavam e curavam.


- A fé ortodoxa diz que o ensinamento original dos apóstolos é a norma e o critério; aquilo que se afastar é heresia!
- Os escritos gnósticos previam que o futuro propicia um aumento ininterrupto do conhecimento!


- Os três evangelhos sinóticos do Novo Testamento, em sua maior parte, traçam uma biografia da vida de Jesus em ordem cronológica, fazendo dele o Messias esperado pelos judeus. O destino humano depende dos eventos da "história da salvação", particularmente da sua vinda, vida, morte e ressurreição como fato histórico.
- Os gnósticos aceitavam os acontecimentos históricos como secundários; interessavam-se, acima de tudo, pelo significado interior dos acontecimentos e parábolas. Tanto o gnosticismo como a psicoterapia valorizam sobretudo, o conhecimento - o autoconhecimento que é a percepção interior. De acordo com o "Diálogo do Salvador", quem não compreender os elementos do Universo, e de si mesmo, está fadado ao aniquilamento: "... quem não compreender como o corpo veio a existir, há de perecer com ele. Quem não compreender como veionão há de compreender como irá...".!


- Os ortodoxos concebiam o "Reino de Deus" literalmente, como se fosse um lugar específico. Segundo Mateus, Lucas e Marcos, Jesus proclamou o advento próximo do Reino de Deus, quando "os encarcerados obteriam a sua liberdade, os doentes seriam curados, os oprimidos receberiam alívio, e a harmonia prevaleceria sobre todo o mundo". Marcos afirma "que os discípulos esperavam que o reino se instaurasse num evento cataclismico que ocorreria ainda durante suas vidas", pois Jesus dissera que alguns deles viveriam para ver "o reino de Deus chegando com poder".
- No Evangelho de Tomé, Jesus teria ridicularizado aqueles que concebiam o Reino de Deus literalmente:
"...antes, o reino de Deus está dentro de voces; e está fora de voces. Quando vierem a se conhecer, então se farão conhecidos, e perceberão que são os filhos do Pai Vivo. Mas se não conhecerem, existirão em pobreza". O "Reino" então simboliza um elevado estado de consciência.

- Os líderes criaram um arcabouço simples e claro, constituído de doutrina, ritual e estrutura política que provou ser um sistema extraordinariamente eficaz de organização. Criou-se uma hierarquia de três níveis - bispos, padres e diáconos, e a concepção: "Um Deus, um Bispo". Clemente diz que Deus delega sua autoridade para reinar a líderes e governantes na terra!. Separar-se do bispo é separar-se da igreja e de Deus ! Fora dessa igreja não há salvação - "Ela é a entrada para a vida!".

- Os gnósticos foram potencialmente "subversivos" quando diziam que os "muitos" (os ortodoxos) eram "canais sem água"! Afirmavam oferecer a todo iniciado um acesso direto a Deus, sem representantes ou intermediários. Em o "Testemunho da Verdade " encontramos que "obediência à hierarquia clerical exige que os fiéis se submetam a guias cegos"; a fé nos sacramentos demonstra um raciocínio mágico e ingênuo. Contra essas mentiras o gnóstico declara que, quando um homem se conhecer a si mesmo, e ao Deus que está acima da verdade, ele será salvo.

- A autoridade da igreja é incontestável e é a base para a "infalibilidade papal ". Concebiam Jesus como Senhor, identificando-o como alguém exterior e superior aos seus discípulos. Em Marcos encontramos: "E Jesus partiu com seus discípulos...No caminho perguntou-lhes: "Quem dizem os homens que eu sou?" Ao que replicaram: "João Batista; outros, Elias, outros ainda, um dos profetas" E ele perguntou: "Mas quem vocês dizem que eu sou?" Pedro respondeu: "És o Cristo". Mateus acrescenta que Jesus abençoou Pedro pela sua acuidade, e em seguida declarou que a igreja seria edificada sobre ele e sobre o seu reconhecimento de Jesus como o Messias.
O Evangelho de Tomé narra o episódio de maneira diferente; Jesus disse a seus discípulos: "Comparem-me e digam-me com quem me pareço eu". Disse Simão Pedro: "És semelhante a um anjo justo". Disse-lhe Mateus: "És semelhante a um filósofo sábio". Disse-lhe Tomé: "Mestre, minha boca é totalmente incapaz de dizer com quem tu és semelhante". Jesus disse: "Não sou o seu Mestre. Porque vocês beberam, ficaram embriagados da fonte borbulhante da qual eu lhes servi". Jesus não nega aqui o seu papel de Mestre. Mas os discípulos e suas respostas representam um nível inferior de compreensão. Daí Tomé, que reconhecia a impossibilidade de atribuir qualquer papel específico a Jesus, transcendeu , naquele instante de reconhecimento, a relação discípulo/mestre.

O modelo gnóstico aproxima-se do modelo psicoterapeutico: ambos admitem a necessidade de orientação, como medida provisória apenas. O propósito de aceitar a autoridade é aprender a superá-la; aquele que se torna maduro não precisa mais de uma autoridade exterior.

Quem alcança a gnose torna-se "não mais um cristão, mas um Cristo" E quem esperava "tornar-se Cristo", dificilmente poderia admitir que as estruturas institucionais da igreja - seus bispos e padres, seu credo e cânone, e seus ritos - possuíssem a autoridade suprema.


- Aquele que confessasse o Credo, aceitasse o ritual do batismo, participasse do culto e obedecesse ao clero, pertencia à igreja.


- Os gnósticos afirmam que o que distingue a verdadeira da falsa igreja não é a sua relação com o clero, mas o nível de compreensão dos seus membros e a qualidade das relações que esses mantém entre si, unidos pela amizade e amor fraternal.


Conclusão

            Vimos que a corrente filosófica e religiosa de nome Gnosticismo foi um movimento pré-cristão, cfe. os atuais estudiosos Bousset/Reitzenstein, que vieram a corroborar as pesquisas de George R.S. Mead, erudito secretário de HPB durante os últimos anos de vida desta grande iniciada.

            Podemos dizer que essa grande corrente - O Gnosticismo - pode ser dividida em: uma popular (influenciada pelas antigas religiões, notadamente o Zoroastrismo - 1400 AC , que também veio a influenciar o Catolicismo contribuindo com as "crenças no céu, no inferno, na ressurreição dos mortos e no juízo final"); e outra esotérica, de origem grega (pelo Orfismo do VI sec. AC, e o Neoplatonismo, através de Plotino, entre 204 AC e 70 DC ) - doutrinas que professavam, entre outros aspectos, a purificação da alma para evitar futuros renascimentos.

            Esta corrente helenística influenciou notavelmente os primeiros padres cristãos (que eram gregos), inclusive o conhecido São Paulo, que era um judeu helenizado e com uma visão universalista cristã, contrária ao segregacionismo judaico. Mas, aos poucos, o cristianismo puro de Jesus foi sendo dominado, com a emergente igreja católica assimilando cada vez mais, através dos concílios, ensinamentos do Velho Testamento, tornando-se, na realidade, uma igreja judaica-cristã. Muitas interpolações foram feitas nos evangelhos ditos canônicos, com evidente objetivo.

            Ao estudarmos as origens do Catolicismo começamos a entender o por que da sua sobrevivência por quase 2000 anos! É a façanha de uma organização hierarquizada que se autodenominando representante de Deus na face da terra, através de seus clérigos, procurou nivelar as consciências por meio de dogmas. E tal organização jamais iria abrir mão da sua "representatividade", pois sem ela não haveria razão para a sua existência!

            O dogmatismo e a intolerância advindas dessa imposição (como se o homem fosse um ser estático, não passível de evolução), castraram o desenvolvimento de muitas consciências, e as que se rebelaram sofreram restrições terríveis. Suficiente é nos lembrarmos da "Santa Inquisição" e dos "trabalhos" de catequese que tiraram de muitas sociedades o direito de seus membros à liberdade de culto! E em muitos casos, as suas riquezas materiais...

            Sylvia Cranston, em sua recente obra Helena Blavatsky, relata que "o trabalho da Teosofia ... foi reconhecido na Encyclopaedia Britannica num artigo sobre o Cristianismo pelo historiador da religião, Ernst Wilhelm Benz... definindo-a (a teosofia) como "caracterizada principalmente por uma combinação de tradições e ensinamentos cristãos e elevadas religiões asiáticas" , concluindo a seção com um comentário surpreendente: ..."Muitos eruditos estão convencidos de que, no século vinte, é necessário um Cristianismo Esotérico para cumprir uma tarefa positiva como um contra movimento capaz de compensar a perda de substância espiritual na organização institucional, social e dogmaticamente estática da Igreja".

            Em Isis Sem Véu, HPB cita Max Müller, que escreveu em l860: "A ciência da religião está só começando... Durante os últimos 50 anos, documentos autênticos das religiões mais importantes do mundo foram recuperados de maneira inesperada e quase miraculosa..." (e até então, nada se sabia de Nag Hammadi!) . E ela pergunta se a freqüente ocorrência dessas descobertas não obedece a algum propósito pré-determinado: "Será tão estranho pensar que os guardiões da sabedoria "pagã", vendo que chegou o momento certo, façam com que o documento, livro, ou relíquia necessários cheguem como que por acaso às mãos do homem certo?".

            Estará chegando "por acaso" às suas mãos?


            P.S.: Este trabalho representa "o direito de liberdade de pensamento e de expressão" , e o 2o- objetivo da Sociedade Teosófica que é o de "Encorajar o estudo da Religião comparada, Filosofia e Ciência". Portanto, não representa, necessariamente, a filosofia da Sociedade, que procura "remover os antagonismos religiosos... e unir os homens de boa vontade quaisquer que sejam as suas opiniões religiosas, estudar as verdades apresentadas pelas religiões e compartilhar os resultados de seus estudos com outros."


Bibliografia:

Pagels, Elaine - Os Evangelhos Gnósticos ; Ed. Cultrix, 1979

Kuntzmann, R - Nag Hammadi - O Evangelho de Tomé ; Edições Paulinas, 1990

Mead, George R.S. - O Hino de Jesus - Um Rito Gnóstico ; Ed. Teosófica, 1994

Rodhen, Huberto - O Quinto Evangelho ; Ed. Alvorada

Le Cour, Paul - O Evangelho Esotérico de São João ; Ed. Pensamento, 1980

Hinnells, John R. - Dicionário das Religiões ; Ed. Cultrix, 1984

Cranston, Sylvia - Helena Blavatsky - A Vida e a Influência Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno ; Ed. Teosófica, 1997

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