sexta-feira, 19 de junho de 2020

Correntes Gnostikas


Clemente de Alexandria foi um crítico dos gnósticos, em especial de Valentim

O gnosticismo (do grego Γνωστικισμóς; transl.: gnostikismós; de Γνωσις, gnosis: 'gnose', e gnostikos: 'conhecedor, sábio'), ou alta teologia, é um conjunto de correntes filosófico-religiosas sincréticas oriundas da região do mediterrâneo durante os séculos I e II d.C., alicerçado em interpretações de relatos bíblicos e apócrifos pelo viés filosófico médio-platônico e de cultos de mistérios greco-romanos e orientais. Mesclara-se ao cristianismo primitivo dos primeiros séculos desta era, e fora condenado como heresia após um período de prestígio entre os intelectuais cristãos.

Com base em interpretações heterodoxas e alternativas do pentateuco e doutros relatos da Escritura hebraica e cristã, os gnósticos afirmam que o universo material (cosmo) foi criado por uma emanação imperfeita do Deus supremo chamada demiurgo, para prender a centelha divina (espírito) no corpo humano. Esta centelha divina poderia, então, ser liberta através da gnose: que seria o conhecimento intuitivo sobre o espírito e a natureza da realidade.

As ideias e ramos gnósticos floresceram no mundo mediterrâneo no século II d.C, em conjunto e trocando influências com os primeiros movimentos cristãos e médio-platônicos Mesmo com um considerável declínio após o século II, o gnosticismo sobreviveu sub-repticiamente ao longo dos séculos na cultura ocidental, remanifestando durante o Renascimento através do esoterismo ocidental, assumindo a proeminência com a espiritualidade moderna. Do Império Persa, o gnosticismo se alastrou até a China através do maniqueísmo, ao passo que o mandeísmo ainda vive no Iraque.

As primeiras definições e tentativas de destrinchar o gnosticismo ocorreram no contexto da Era cristã. Embora alguns estudiosos suponham que o gnosticismo seja anterior ou contemporâneo ao cristianismo, todos os textos gnósticos até hoje descobertos são posteriores à primeira metade do século I, época em que o cristianismo já estava estabelecido como religião através dos apóstolos.

O estudo do gnosticismo e do cristianismo primitivo de Alexandria foram ambos reacesos após a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, em 1945.

O termo gnosticismo

A terminologia gnosticismo, ipsis litteris, não consta em fontes antigas. Cunhado por Henry More em um comentário sobre as Sete Igrejas do Apocalipse, gnosticisme foi o neologismo escolhido por More para descrever a heresia tiatirense (Apocalipse 2:18-29), no mesmo sentido que seu contemporâneo Henry Hammond usou a expressão gnostick-heresi. Esta última expressão vem da literatura patrística e heresiológica do início do cristianismo, especialmente a do Bispo Ireneu de Lião.

Isto ocorre no contexto do tratado do Pe. Ireneu, Contra as heresias, (em grego: ἔλεγχος καὶ ἀνατροπὴ τῆς ψευδωνύμου γνώσεως; elenchos kai anatrope tes pseudonymou gnoseos) onde o termo pseudonymos gnosis ("falsamente chamada gnose") abrange vários grupos tachados por Ireneu como sectários da Igreja (não apenas o do heresiarca Valentim), e é uma citação direta da exortação paulina para manter "horror aos clamores vãos e profanos da falsamente chamada ciência (coiné: Γνωσις, gnosis), a qual professando-a alguns, se desviaram da fé." (I Timóteo 6:20-21)

O significado comumente aceito de gnostikós em clássicos gregos é "aquele que sabe" ou "que entende", como na comparação entre "o que pratica" (praktikós) e "o que entende" (gnostikós) usada no colóquio entre Platão, Sócrates e o jovem estrangeiro no tratado Político (258e). A preferência de Platão pelo vocábulo gnostikós é muitíssimo típica nos clássicos.

Durante o período helenístico, gnostikós passou também a ser associado aos cultos de mistérios greco-romanos, tornando-se até sinônimo de mistério (gr. μυστήριον, mustḗrion). Gnostikós não é usado no Novo Testamento para se referir a grupos ou indíviduos específicos além da supracitada e genérica mênção paulina em Timóteo, mas Clemente de Alexandria no Livro Sétimo do Stromata enaltece o "culto" gnostikós autenticamente cristão. A aplicação de gnostikós na forma pejorativa e associada às heresias começa com as análises críticas de Ireneu. Alguns estudiosos, por exemplo A. Rousseau e L. Doutreleau, tradutores da edição francesa (1974), consideram que Ireneu às vezes escrevia gnostikós querendo dizer apenas "entendedor", como em 1.25.6, 1.11.3, 1.11.5, e "seitas de entendedores" (Adv. Haer. 1.11.1) quando queria criticar designações e seitas específicas. Evidências em favor disso aparecem quando Ireneu começa a utilizar comparativos como gnostikeron (i.e. "mais entendido" ou "mais sábio"), já que nunca existiu a forma "mais gnóstico" como nome próprio de uma seita. Dentre os grupos que Ireneu identificou como "seitas de entendedores" (gnostikós), estavam os marcelinos e os setianos ou barbelognósticos, um dos mais notórios a se autoidentificar com o nome gnostikós. Mais tarde, o Bispo Hipólito aplicou gnostikós indiscriminadamente como labéu contra heresiarcas como Cerinto e os ebionitas, enquanto Epifânio fez o mesmo somente contra seitas específicas.

Per se, a aplicacão do termo gnosticismo como categoria genérica é problemática, pois mesmo Ireneu e seus sucessores conceituaram uma única tipologia para os vários grupos existentes à época. Essa noção varia um pouco ao perceber-se que o gnosticismo admite muitas exceções. E ainda, o termo "gnosticismo" tem sido aplicado como labéu a diversas seitas modernas com cerimoniais arcanos e iniciáticos, ou mesmo ressignificado para enquadrar ideologias políticas e facções sociais (como faz Eric Voegelin), mesmo que muitas delas não explicitem nenhuma autoidentificação com os gnósticos históricos. Longe de esclarecerem, essas generalizações só obscurecem ainda mais o conceito e dificultam a verdadeira compreensão histórica do gnosticismo enquanto movimento.

Características gerais

Não existe um sistema gnóstico único e uniforme. No entanto, há semelhanças suficientes para justificar uma caracterização geral, lembrando que nem todos os sistemas incluem todos os elementos e nesses termos. Estas características são particulares ao gnosticismo cristão (de forma antagónica ou não à figura de Cristo):

A estimativa do mundo, devido ao que precede, como uma falha ou produto de um "erro", mas, possivelmente, benévolo na medida do que o limite material permitir.
A introdução de um deus criador distinto ou demiurgo, que é uma ilusão e depois emanação a partir do único mónada ou fonte. Este segundo deus é um deus menor, inferior ou falso. Esse deus criador é comumente referido como o demiourgós. O demiurgo gnóstico apresenta semelhanças com as figuras de Platão em Timeu e A República. No primeiro caso, o Demiurgo é uma figura central, um criador benevolente do universo que trabalha para tornar o universo tão benevolente quanto possível dentro do que as limitações da matéria permitirão, neste último, a descrição de um desejo "leonino" no modelo de psique de Sócrates tem semelhança com as descrições do demiurgo como tendo a forma de um leão, a passagem relevante de A República foi encontrada dentro da Biblioteca de Nag Hammadi,Jesus é identificado por alguns gnósticos como uma encarnação do Ser Supremo para trazer a gnōsis para a terra. Entre os mandeístas, Jesus foi considerado um mšiha kdaba ou "falso messias", que perverteu os ensinamentos que lhe foram confiados por João Baptista. Outras tradições identificam Maniqueu e Sete, como o terceiro filho de Adão e Eva, como a figura de salvação.
Desejo de conhecimento especial e íntimo dos segredos do universo. A salvação gnóstica era da ignorância e não do pecado. O conhecimento não era apenas o meio de salvação, era a única real salvação. O conhecimento era o conhecimento do verdadeiro self, seu lugar no Pleroma e um retorno de lá.

Dualismo e monismo

Normalmente, os sistemas gnósticos são vagamente descritos como sendo de natureza "dualista" , o que significa que eles têm a visão de que o mundo é composto ou explicável através de duas entidades fundamentais. Hans Jonas escreve: "A característica fundamental do pensamento gnóstico é o dualismo radical que rege a relação de Deus e do mundo, e, correspondentemente, a do homem e do mundo"

Dualismo radical

Ou dualismo absoluto, postula duas forças divinas co-iguais. O maniqueísmo concebe dois reinos anteriormente coexistentes de luz e de escuridão que se envolveram em um conflito, devido às ações caóticas desses últimos. Posteriormente, alguns elementos de luz tornaram-se presos dentro de trevas, o propósito da criação material é decretar o lento processo de extração destes elementos individuais, ao final do qual o reino da luz prevaleça sobre as trevas.

Monismo qualificado

Onde se discute se a segunda entidade é divina ou semi-divina. Os elementos das versões do mito gnóstico valentiniano sugerem para alguns que a sua compreensão do universo pode ter sido monista, em vez de dualista. Elaine Pagels afirma que "gnosticismo valentiniano [...] difere essencialmente do dualismo" enquanto que de acordo com Schoedel: "um elemento padrão na interpretação do valentinianismo e formas semelhantes de gnosticismo é o reconhecimento de que eles são fundamentalmente monistas". Nesses mitos, a malevolência do demiurgo é mitigada; sua criação de uma materialidade falha não é devido à falta de qualquer moral de sua parte, mas devido a sua imperfeição em contraste com as entidades superiores de que ele não tem conhecimento. Como tal, os valentinianos já tem menos motivos para tratar a realidade física com o igual desprezo que os gnósticos setianistas. A tradição valentiniana concebe materialidade, não como sendo uma substância separada do divino, mas atribuída a um "erro de percepção" que foi simbolizado mítica e poeticamente como o ato da criação material.

Conceitos e termos

Note que o texto a seguir é formado por resumos das várias interpretações gnósticas reunidas. Os papéis de alguns seres mais familiares, como Jesus, Sofia e o Demiurgo geralmente compartilham os temas centrais entre os vários sistemas, mas pode haver algumas diferentes funções ou identidades atribuídos a eles em cada uma.

Æon

Em muitos sistemas gnósticos, os aeons são várias emanações de um deus superior, que também é conhecido por nomes como Mônada, Aion teleos (grego: "O Perfeito Aeon"), Bythos (grego: Βυθος - 'profundidade') e muitos outros. Deste ser inicial, também um Aeon, uma série de diferentes emanações ocorreram, começando em alguns textos gnósticos com o hermafrodita Barbelo de quem sucessivos pares de Aeons emanam, frequentemente em pares masculino-feminino chamados de sizígias; o número destes pares varia de texto para texto, embora alguns identifiquem seu número como sendo trinta.

Arconte

Arconte no singular, (em grego: ἄρχων, pl. ἄρχοντες; "alto oficial", "chefe", "magistrado") seria qualquer um dos seres que foram criados juntamente como mundo material por uma divindade subordinada chamada o Demiurgo (Criador). Os gnósticos eram dualistas religiosas, que considerou que a matéria é má e o espírito bom e que a salvação é alcançada através do conhecimento esotérico, ou gnose. Porque os gnósticos do segundo e terceiro séculos - geralmente originadas dentro do cristianismo - consideravam o mundo material como definitivamente mal ou como o produto de erro, os arcontes eram vistos como forças maléficas.

Abraxas / Abrasax

Abraxas ou Abrasax é o nome gnóstico para o semideus que governa o 365o aeon, a esfera final e mais alta. Os demonologistas cristãos colocam Abraxas no mesmo patamar de demônios. Jung chamou Abraxas de "o realmente terrível" por sua habilidade em gerar verdade e falsidade, bem e mal, luz e sombra com as mesmas palavras e o mesmo empenho.


Demiurgo, (em grego: δημιουργός)

O termo Demiurgo deriva da forma latinizada do termo grego dēmiourgos (δημιουργός), literalmente, "artesão", "alguém com habilidade específica", de dēmios do povo, popular (dēmos, pessoas ou povo) e ourgos, trabalhador (ergon, trabalho). No gnosticismo, o Demiurgo não é Deus mas o arconte ou chefe da ordem dos espíritos inferiores ou éons. De acordo com os gnósticos, o Demiurgo era capaz de dotar o homem apenas com psiquê (alma sensível) - o pneuma (alma racional) seria adicionada por Deus. Os gnósticos identificaram o Demiurgo com Jeová dos hebreus. 

Gnose

Gnose vem da palavra grega gnosis (γνῶσις) "conhecimento" significando o conhecimento direto sobre o divino que por si só provê a salvação (assim conquistando o codinome de "Alta Teologia"). Para os gnósticos antigos, a gnosis existia no âmbito da cosmologia, do mito, da antropologia e da prática usada dentro de seus grupos. Assim, a gnose não era apenas a iluminação mas viria acompanhada por uma compreensão - como expressado nos Resumos de Teódoto de Bizâncio- sobre "quem éramos, o que nos tornamos, onde estávamos, para onde fomos lançados, para onde estamos indo, do que estamos libertos, o que é o nascimento e o que é renascimento".

Mônada

Do latim monad, monas, do grego monos, no sentido de "unidade última e indivisível", aparece bem cedo na história da filosofia grega. Nos relatos antigos das doutrinas de Pitágoras, ocorre como o nome da unidade a partir do qual - como no princípio de arquétipo - todos os números e multiplicidades são derivados.

Pleroma

Pleroma (πληρωμα) geralmente se refere à totalidade dos poderes de deus. O termo significa "plenitude" e é usado em vários contextos teológicos cristãos: tanto gnósticos em geral, como também no cristianismo (como em «Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade» (Colossenses 2:9)).

Sofia

Sofia ou Sophia (em grego: Σοφία) é aquilo que detém o "sábio" (σοφός; "sofós"). Na tradição gnóstica, Sofia é uma figura feminina, análoga à alma humana e simultaneamente um dos aspectos femininos de Deus. Os gnósticos afirmam que ela é a sizígia de Jesus (veja a Noiva de Cristo) e o Espírito Santo da Trindade. Ocasionalmente é referenciada pelo equivalente hebreu Achamōth (Ἀχαμώθ) e como Prouneikos (Προύνικος, "A Libidinosa"). Nos textos da Biblioteca de Nag Hammadi, Sofia é o mais baixo dos Aeons ou a expressão antrópica da emanação da luz de Deus.

Escolas gnósticas

As escolas gnósticas podem ser definidas como sendo membros de duas vertentes, a Escola Persa ou do Leste e da Escola Sírio-Egípcia. 

Gnosticismo persa

A Escola Persa possui tendências dualistas mais fáceis de serem demonstradas e que refletem a influência das crenças dos zoroastras (seguidores de Zoroastro) persas. Aparecendo na Babilônia, seus escritos foram produzidos originalmente em dialetos aramaicos locais e são representativos das crenças e formas mais antigas do gnosticismo. Esses movimentos são considerados pela maioria dos estudiosos como religiões, não apenas emanações do cristianismo ou do judaísmo.

Mandeísmo é ainda praticado por pequenos grupos no sul do Iraque e na província iraniana do Cuzistão. O nome do grupo deriva do termo Mandā d-Heyyi, que significa "Conhecimento da Vida". Embora a origem exata deste movimento não seja conhecida, João Batista eventualmente se tornaria uma figura chave nesta religião, assim como ênfase no batismo se tornou parte do cerne de suas crenças. Assim como no maniqueísmo, apesar de certos laços com o cristianismo, os mandeanos não acreditam em Moisés, Jesus ou Maomé. Suas crenças e práticas também tem poucas sobreposições com as religiões fundadas por eles. Uma quantidade significativa das Escrituras originais Mandeanas sobreviveram até a era moderna. O texto principal é conhecido como Genzā Rabbā e tem trechos identificados pelos estudiosos como tendo sido copiados já no século II d.C. Existe também o Qolastā, ou "Livro Canônico de Oração" e o sidra ḏ-iahia, o "Livro de João Batista".
Maniqueísmo, que representa toda uma tradição religiosa e que agora está quase extinto, foi fundado pelo profeta Manes (216–276 d.C.). Embora acredite-se que a maior parte das Escrituras dos maniqueístas tenha se perdido, a descoberta de uma série de documentos originais ajudou a lançar alguma luz sobre o assunto. Preservados agora em Colônia, Alemanha, o Codex Manichaicus Coloniensis contém principalmente informações biográficas sobre o profeta e alguns detalhes sobre seus ensinamentos. Como disse Mani, "O Deus verdadeiro não tem nada a ver com o mundo material e o cosmos", e "É o Príncipe das Trevas que falou com Moisés, os judeus e seus sacerdotes. Portanto, cristãos, os judeus e os pagãos estão envolvidos no mesmo erro quando adora este Deus. Pois ele os leva para perdição através dos desejos que lhes ensinou".

Gnosticismo sírio-egípcio

As doutrinas da escola sírio-egípcia tendem ao monoteísmo e, entre as exceções, estão movimentos relativamente modernos que incluem elementos de ambas as categorias, como os cátaros, os bogomilos e os carpocracianos. Elas são derivadas de influências platônicas que, em geral, retratam a criação como uma série de emanações de uma força única primal. Como resultado desta crença, há uma tendência em enxergar o mal em termos materiais e desprovido de intenções benévolas, algo oposto à ideia mais comum de que o mal seria uma força equivalente ao bem. Essas escolas usam os termos "bem" e "mal" como relativos e autodescritivos.
A escola siríaca-egípcia foi uma escola gnóstica que deriva muito de sua forma geral das influências platônicas. Tipicamente, ela apresenta a criação numa série de emanações de um fonte primal monádica, finalmente resultando na criação do universo material. Como consequência, há uma tendência nestas escolas em ver o "mal" (ou a maldade) como a matéria, inferior à bondade, sem inspiração espiritual e sem bondade, ao invés de retratá-lo como uma força igual. Podemos dizer que estas escolas gnósticas utilizam os termos "bem" e "mal" como sendo termos "relativos", pois se referem aos relativos apuros da existência humana, aprisionada entre estas realidades e confusa na sua orientação, com o "mal" indicando a distância extremada do princípio e fonte do "bem", sem necessariamente enfatizar uma negatividade inerente. Como pode ser visto abaixo, muitos destes movimentos incluíram fontes relacionadas ao Cristianismo, com alguns inclusive se identificando como cristãos (ainda que de forma distintamente diferente das chamadas formas ortodoxas ou católica romana).

Escrituras siríaco-egípcias

A maioria da literatura nesta categoria nos é conhecida ou foi confirmada pela descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi.

Obras Setianas

Assim chamadas em homenagem ao terceiro filho de Adão e Eva, Sete (ou Seth), que eles acreditavam possuir e ser o disseminador da gnosis. As obras tipicamente setianas são:

O Apócrifo de João
O Apocalipse de Adão
A Hipóstase dos Arcontes, também conhecido por "A Realidade dos Regentes"
Trovão, Mente Perfeita
Protenóia trimórfica
Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível também conhecido por "Evangelho Copta dos Egípcios"
Zostrianos
Alógenes
As Três estelas de Sete
O Evangelho de Judas
Obras tomistas
Assim chamadas por causa da escola de Tomé Apóstolo. Todos são pseudepígrafos. Os textos geralmente atribuídos a ela são:

Hino da Pérola, também conhecido como "Hino de Tomé Apóstolo Dídimo no país dos Indianos"
Atos de Tomé
O Evangelho de Tomé
Livro de Tomé o Adversário

Obras Valentianas

São assim chamadas em referência ao bispo e professor Valentim (ca. 153 dC). Ele desenvolveu uma complexa cosmologia fora da tradição setiana. Em certo ponto, chegou a estar próximo de ser nomeado o bispo de Roma, naquela que hoje é a Igreja Católica Romana. As obras geralmente atribuídas a eles estão listadas abaixo, sendo que os fragmentos que podem ser diretamente relacionadas a elas estão marcados com asterisco:

A Divina Palavra presente na Criança (Fragmento A) *
Sobre as Três Naturezas (Fragmento B) *
A Habilidade de falar de Adão (Fragmento C) *
Para Agathopous: O Sistema Digestivo de Jesus (Fragmento D) *
Aniquilação do Reino da Morte (Fragmento F) *
Sobre Amizade: A Fonte da Sabedoria Comum (Fragmento G) *
Epístola sobre Conexões Sentimentais (Fragmento H) *
Colheita de Verão *
Evangelho da Verdade *
A versão Ptolemaica do Mito Gnóstico
Oração do Apóstolo Paulo
Epístola de Ptolomeu à Flora
Tratado sobre a Ressurreição, ou Epístola a Reginus.
Evangelho de Filipe

Obras basilidianas

Assim chamadas por causa do fundador da escola, Basilides (132–? dC). Quase todas as obras são conhecidas por nós principalmente através da crítica de um de seus oponentes, Ireneu de Lyon, no seu livro Adversus Haereses. Outros trechos são conhecidos através das obras de Clemente de Alexandria, principalmente a Stromata:

O Octeto das Entidades Subsistentes (Fragmento A)
A The Singularidade do Mundo (Fragmento B)
Ser Eleito Naturalmente requer Fé e Virtude (Fragmento C)
O Estado da Virtude (Fragmento D)
Os Eleitos Trascendem o Mundo (Fragmento E)
Reincarnação (Fragmento F)
O Sofrimento Humano e a Bondade da Providência (Fragmento G)
Pecados Perdoáveis (Fragmento H)

Seitas e grupos gnósticos

Simão Mago e Marcião de Sinope: ambos tinham tendências gnósticas, mas as ideias que eles apresentaram estavam ainda em formação; por isso, eles podem ser descritos como pseudo- ou proto-gnósticos. Ambos desenvolveram um considerável conjunto de seguidores. O pupilo de Simão Mago, Menandro de Antioquia também pode ser incluído neste grupo. Marcião é popularmente identificado como gnóstico, porém a maior parte dos estudiosos não entende assim.
Cerinto (c. 100 d.C.), o fundador de uma escola herética com elementos gnósticos. Como gnóstico, Cerinto mostrou Cristo como um espírito celeste separado do homem Jesus e citou o Demiurgo como criador do mundo material. Porém, ao contrário dos gnósticos, Cerinto ensinava os cristãos a observar a lei judaica; seu demiurgo era sagrado e não inferior; e acreditava na segunda vinda de Cristo. Sua gnosis era um ensinamento secreto atribuído a um apóstolo. Alguns estudiosos acreditam que a Primeira Epístola de João foi escrita em resposta a Cerinto.
Ofitas, assim chamados por reverenciarem a serpente do Gênesis como um fonte de conhecimento.
Cainitas, que como o nome implica, veneravam Caim, assim como Esaú, Coré e os sodomitas. Há pouca evidência sobre a natureza deste grupo; porém, é possível inferir que eles acreditavam que indulgência no pecado era a chave para a salvação, pois dado que o corpo é intrinsecamente mau, é preciso denegri-lo com atitudes imorais (veja libertinismo). O nome 'cainita' não é utilizado aqui no sentido bíblico de "descendentes de Caim" (que segundo a Bíblia foram exterminados no Dilúvio).
Carpocracianos, uma seita libertina que acreditava unicamente no Evangelho dos Hebreus.
Borboritas, uma seita libertina gnóstica, que acredita-se ser uma derivação dos nicolaítas
Paulicianos, um grupo adocionista, também acusado por fontes medievais como sendo gnóstica e quasi-maniqueísta. Eles floresceram entre 650 e 872 na Armênia e nas províncias (ou temas) orientais do Império Bizantino.
Bogomilos, a síntese (no sentido do sincretismo) entre o paulicianismo armênio e o movimento reformista da Igreja Ortodoxa Búlgara, que emergiu durante o Primeiro Império Búlgaro entre 927 e 970, e se espalhou pela Europa.
Cátaros (Cathari, Albigenses ou Albigensianos) são tipicamente vistos como imitadores do gnosticismo. Se os cátaros possuíam ou não uma influência histórica direta do antigo gnosticismo ainda é tema disputado, embora alguns acreditem que numa transferência de conhecimento dos bogomilos.

Neoplatonismo e gnosticismo
Filosofia grega antiga e gnosticismo

As primeiras origens do gnosticismo são obscuras e ainda contestadas. Por esta razão, alguns estudiosos preferem falar de "gnosis" ao se referir às ideias do século I que mais tarde evoluíram para o gnosticismo e reservar o termo "gnosticismo" para a síntese dessas ideias em um movimento coerente, no século II. Influências prováveis incluem Platão, o Médio platonismo e as escolas ou academias de pensamento neopitagóricas e isto parece ser verdade em ambos os gnósticos do setianismo e os do valentianismo. Além disso, se compararmos diferentes textos setianistas uns aos outros em uma tentativa de criar uma cronologia do desenvolvimento do Setianismo durante os primeiros séculos, parece que os textos posteriores continuam a interagir com o platonismo. Textos anteriores, como o Apocalipse de Adão mostram sinais de ser pré-cristão e se concentram em Sete, o terceiro filho de Adão e Eva. Estes primeiros setianistas podem ser idênticos ou relacionados com a Nazarenos, Ofitas ou aos grupos sectários chamados de herético por Fílon de Alexandria.

Textos setianos tardios como Zostrianos e Alógenes criam sobre as imagens de textos setianos mais antigos mas utilizam "um grande fundo de conceituação filosófica derivada do platonismo contemporânea, (médio platonismo tardio) com vestígios de conteúdo cristão ". Na verdade, a doutrina do "um único formado por três" (a trindade) é encontrada no texto de Alógenes, como descoberto na Biblioteca de Nag Hammadi e é "a mesma doutrina encontrada nos comentários anônimos em Parmênides (Fragmento XIV) que são atribuídos por Hadot a Porfírio e também, a encontramos na Enéadas de Plotino 6.7, 17, 13-26."

No entanto, os neoplatônicos do século III, como Plotino, Porfírio e Amélio da Toscana atacam os Setianistas. Parece que o Setianismo começou como uma tradição pré-cristã, possivelmente sincrética que incorporou elementos do platonismo e do cristianismo à medida que crescia, apenas para que ambos o cristianismo e o platonismo os rejeitassem se voltassem contra eles. O professor John Turner acredita que este duplo ataque levou à fragmentação do Setianismo em numerosos grupos menores como arcônticos, audianos, borboritas, fibionitas, estratiônicos e outros.

O estudo sobre o gnosticismo tem avançado muito desde a descoberta e a tradução dos textos de Nag Hammadi que lançam alguma luz sobre alguns dos comentários mais intrigantes feitos por Plotino e Porfírio sobre os gnósticos. Mais importante ainda, as versões ajudam a distinguir os diferentes tipos dos primeiros gnósticos. Parece claro que os gnósticos setianistas e valentinianos tentaram "se esforçar para uma conciliação e mesmo afiliação" com filosofia antiga final, mas foram rejeitados por alguns neoplatônicos, incluindo Plotino.

Relações filosóficas entre o neoplatonismo e o gnosticismo

Os gnósticos emprestaram várias déias e termos do platonismo, eles exibem uma profunda compreensão dos termos filosóficos gregos e do idioma grego koiné em geral; utilizam conceitos filosóficos gregos em todo o seu texto, incluindo conceitos como hipóstase (a realidade, a existência), ousia (essência, substância, ser), e demiurgo (Deus criador). Bons exemplos incluem textos como a Hipóstase dos Arcontes ("Realidade dos Governantes") ou Protenoia Trimórfica ("O primeiro pensamento em três formas").

Porfírio em A vida de Plotino estabelece uma diferença entre os genuínos seguidores de Cristo e um outro grupo de mesclava a filosofia (gnosis) com elementos cristãos e Plotino é antagônico a esta situação ao dizer "Eles (gnósticos) tiraram algumas ideias de Platão, mas todas as novidades que acrescentaram para criar uma filosofia original, são fora da verdade",no mesmo tratado, Plotino critica o elitismo ao dizer que os gnósticos "visam à formação de uma doutrina especial", Plotino repreende os gnósticos por desfigurarem a filosofia de Platão e apesar de sempre sereno em suas exposições fala de modo áspero: "Quando esses gnósticos afirmam que desprezam a beleza terrena, fariam melhor se desprezassem a dos meninos e das mulheres, para não sucumbirem à incontinência". É preciso observar que se os gnósticos, sem exceção tivessem sido libertinos, Plotino nunca os teria admitido, já que levava uma vida de virtudes.

Outro epíteto dado por Plotino aos gnósticos é o de charlatães ao "se vangloriaram em poder expulsar doenças com fórmulas" e ainda segundo Plotino, que as doenças eram consideradas seres (ou obras) de entidades demoníacas pelo gnósticos de sua época, "Só a plebe ignara se deixa iludir(...) as doenças não são algo demoníaco.". Plotino assevera que a moral dos gnósticos é inferior à de Epicuro o qual "aconselha procurar a satisfação no prazar" e ainda adverte que a doutrina é temerária porque ridiculariza a virtude e só pensa em interesses próprios. Para chegar a essas acusações graves, com certeza Plotino levou algum tempo, ao chegar em Roma, ele encontrou entre seus ouvintes sectários do gnosticismo com os quais discutia seus pontos de vista.

Estudos sobre o gnosticismo

É difícil obter informações sociais sobre os gnósticos, a maior parte da literatura gnóstica consiste de pseudoepígrafos - isto é, obras atribuídas à uma figura respeitada do passado tal como Adão, Sete ou o Apóstolo João: essa convenção literária não deixa muito espaço para a descrição sobre as atividades sectárias. Os outros registros são descrições breves e preconceituosas da doutrina e prática gnósticos feitas por adversários cristãos. O estudo gnosticismo requer muito cuidado com a precisão e a verdade das fontes sobre o assunto - na maior parte heresiólogos, Ireneu de Lyon, Clemente de Alexandria e Hipólito de Roma são o exemplo de descrição franca e constantemente hostil. Seu estilo é frequentemente irônico visto que seu objetivo não é descrever, mas destruir.

Século XIX até 1930

Antes da descoberta de Nag Hammadi, a evidência de movimentos gnósticos era apenas vista através do testemunho dos heresiologistas da igreja primitiva. O "modelo histórico da igreja", representado por Adolf von Harnack entre outros, viu o gnosticismo como um desenvolvimento interno da igreja, sob a influência da filosofia grega.

Depois da descoberta de biblioteca de Nag Hammadi, 1945

O estudo do gnosticismo e do cristianismo primitivo da Alexandria recebeu um forte impulso a partir da descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, em 1945. O estudo do gnosticismo atualmente se faz impossível sem o total conhecimento dos escritos de Nag Hammadi e consequentemente da Língua copta. 

"Gnosticismo" como uma categoria potencialmente falha
Em 1966, em Messina, Itália, foi realizada uma conferência sobre sistema da gnosis.

A "proposta cautelosa" alcançada na conferência sobre o gnosticismo é descrita por Markschies:

No documento final de Messina a proposta foi "pela aplicação simultânea dos métodos históricos e tipológica" para designar "um determinado grupo de sistemas do segundo século depois de Cristo" como "gnosticismo", e use "gnosis" para definir uma concepção de conhecimento que transcende os tempos, que foi descrito como "o conhecimento dos mistérios divinos para uma elite.
Em essência, foi decidido que "gnosticismo" seria um termo historicamente específico, restrito a significar os movimentos gnósticos prevalentes no século III, enquanto "gnosis" seria um termo universal de um sistema de conhecimento retido "para uma elite privilegiada". No entanto, este esforço no sentido de dar clareza na verdade criou mais confusão conceitual, já que o termo histórico "gnosticismo" era uma construção inteiramente moderna, enquanto o novo termo universal "gnosis" foi um termo histórico: "alguma coisa estava sendo chamada de "gnosticismo" que os teólogos antigos tinham chamado de" gnosis"... [um] conceito de gnose tinha sido criado por Messina e este era quase inutilizável em sentido histórico".[69] Na antiguidade, todos concordaram que o conhecimento era centralmente importante para a vida, mas poucos entraram em acordo sobre o que exatamente constituia o "conhecimento", a concepção unitária que a proposta de Messina pressupôs não existiu.

Estas falhas significam que os problemas relativos a uma definição exata do gnosticismo ainda persistem.

Permanece como convenção atual usar "gnosticismo" em um sentido histórico, e "gnosis" universalmente. Deixando de lado as questões com o último mencionado acima, o uso de "gnosticismo" para designar uma categoria de religiões do século III foi recentemente questionado também. Digno de nota é o livro da autoria de Michael Allen Williams Rethinking "Gnosticism": An Argument for Dismantling a Dubious Category, em que o autor examina os termos pelos quais o o gnosticismo está definido como categoria e compara estas suposições com o conteúdo dos textos gnósticos reais (a biblioteca de Nag Hammadi recém-recuperada foi de importância central para o argumento).

Williams argumenta que as bases conceituais sobre as quais a categoria gnosticismo se apoia são os restos da agenda dos heresiologistas. Muita ênfase tem sido colocada sobre as percepções do dualismo, corpo - e matéria - ódio e anticosmismo sem que essas suposições tenham sido "devidamente testadas". Em essência, a definição interpretativa do gnosticismo que foi criado pelos esforços antagônicos dos heresiologistas da igreja primitiva foi retomado por estudiosos modernos e refletido em um "definição categórica", apesar de hoje existerem meios de se verificar sua precisão. Ao tentar fazer isso, Williams revela a natureza dúbia da categória "gnosticismo" e conclui que o termo precisa ser substituído, a fim de refletir com mais precisão os movimentos que o compõem.

Gnosticismo no século XXI

O chamado gnosticismo moderno se desenvolveu a partir das origens no Ocultismo do século XX onde Eliphas Levy traz todo o espectro de assuntos do gnosticismo à tona por meio da discussão da cabala judaica. Uma série de pensadores do século 19, como William Blake, Arthur Schopenhauer, Albert Pike e Madame Blavatsky estudaram o pensamento gnóstico extensivamente e foram influenciados por ele, até mesmo figuras como Herman Melville e W. B. Yeats foram mais tangencialmente influenciados. A fundação da Sociedade Teosófica em 1875 por Blavatsky e o trabalho de seu aluno G.R.S Mead (tradutor especializado em texto gnósticos e herméticos), tornou o gnosticismo acessível ao público fora da academia, o que preparou o caminho para o gnosticismo para as massas no século seguinte. Jules Doinel "restabeleceu" uma Igreja Gnóstica, na França, em 1890, o que alterou a forma como o gnosticismo passou por vários sucessores diretos (principalmente Fabre des Essarts como Tau Synésius e Joanny Bricaud como Tau Jean II) e que, apesar de pequeno, ainda está ativo até os dias de hoje.

A descoberta e a tradução da Biblioteca de Nag Hammadi depois de 1945 teve um enorme impacto sobre o gnosticismo desde a Segunda Guerra Mundial. Pensadores que foram fortemente influenciados pelo gnosticismo neste período incluem Hans Jonas, Philip K. Dick e Harold Bloom, com Albert Camus e Allen Ginsberg sendo mais moderadamente influenciados.

Mistérios Eucarísticos Gnósticos


1. A Eucaristia
Por Arnold Krumm-Heller (VM Huiracocha)
O problema mais profundo das religiões cristãs é a Eucaristia que, de fato, nunca deixou de preocupar os sacerdotes.

Basta consultar a Teologia de Sacrest para perceber-se o esforço dos Católicos na demonstração de que o pão, ou melhor, a hóstia está convertida em Deus, De Verum, como diz o dogma e sustentava o próprio Santo Tomás.

É este o grande ato de magia que o sacerdote, quando pronuncia os mantras:

HOC EST ENIM CORPUS MEUM e HIC EST CALIX SANGUINIS MEI, como pronunciara o Nazareno por ocasião da Ceia e que significam: Este é meu corpo e Este é meu sangue.

No fundo o Catolicismo afirma que a hóstia é realmente Deus e, por isto, a coloca em exposição nos seus altares, no momento das cerimônias religiosas.

Os fiéis prostram-se de joelhos na consumação deste santo sacrifício.

Não pensam do mesmo modo os Protestantes que, acentuando com Lutero as seguintes palavras do Senhor: FAZE ISTO EM MINHA MEMÓRIA, deduzem que a Eucaristia nada tem de comum com o corpo e o sangue do Cristo e que tudo se limita a uma cerimônia sem a mínima transcendência, constituindo-se numa mera recordação da Ceia do Nazareno.

Ficou, portanto, a comunhão, para os Protestantes, reduzida à expressão de um símbolo e nada mais.

Disso deriva, efetivamente, a diferença que distingue o Catolicismo do Protestantismo, que, se pudessem entrar em acordo, com relação a outros pontos de doutrina, jamais se harmonizariam quanto ao Sacramento da Eucaristia.

O Catolicismo Romano compreende perfeitamente o valor de tudo isto e por este motivo não deixa de realizar periodicamente os seus Congressos eucarísticos.

E’ também notável a devoção que o Catolicismo tributa à hóstia, exposta por ocasião da missa.

Os GNÓSTICOS, que procuram esclarecer esses assuntos, encaram o problema através de um prisma muito mais transparente e cristalino. A hóstia e o vinho são ou não o corpo e o sangue do Cristo?

Se a razão está com os Católicos é insignificante o cerimonial que executam para a celebração de tão sagrados elementos; se está, porém, com os Protestantes, carece de importância, pois, o Nazareno aludiu a coisas muito mais elevadas que a Igreja não celebra, pelo menos, com tanta retumbância.

A crucificação, por exemplo, seria um ato ritualístico de sublime significação.

Os Mistérios antigos no Egito ou na Grécia realizavam sempre idênticas solenidades e a UNÇÃO foi, do mesmo modo, considerada uma cerimônia de assinalada preponderância.

Daí, certamente, o interesse que o Sacramento desperta.

Para a solução do problema lançamos mão da nossa CHAVE: o México nos antigos Mistérios do Sol que, ainda hoje, são celebrados, na sua original pureza, pelos Chuch-kahau, que são Magos ou Sacerdotes existentes no Departamento de Chiche, na Guatemala, e em outras localidades do Yucatán.

Acentuamos que se trata do Cristo e, para isto, basta refletir quem foi Quetzalcóatl.

Fixemos nossa mente no Sol, não no sentido puramente material e astronômico de centro do sistema planetário, não como o Sol que é apenas um expoente parcial, mas no Sol como essência da sua luz, que é, em si mesma, o Reino do Céu, a Substância Cristônica, esparsa por todo o Cosmo.

Deste modo, os Mistérios antigos compreenderam Quetzalcóatl e assim, justamente, devemos compreender o Cristo, na sua qualidade de substância íntima, solar.

Os antigos mexicanos tinham o costume de pôr nos túmulos diversos alimentos como pão e o pulque, isto é, pão e vinho, e acreditavam que os mortos, depois de abandonarem o corpo material, possuíam necessidades físicas e precisavam, portanto, alimentar-se.

Ainda mantêm esses velhos hábitos que, por mais extravagantes que pareçam, não deixam de ter uma explicação. Quando morremos, e a alma deixa o corpo, continuamos a sentir, por muito tempo, o ambiente em que vivemos, e nos parecerá estranho como conseguimos atravessar as paredes das habitações familiares, sem despertar a atenção dos que nos cercam. O conhecimento desses fenômenos deu origem ao Espiritismo, que não deixa de ter suas razões.

Pois bem, quando vivemos, tomamos alimentos, entre eles, pão e vinho, que, ao penetrarem em nosso organismo, são transformados e assimilados. Quando mortos, não dispomos dos órgãos necessários à alimentação, mas a Alma do ser desencarnado percebe que tudo, agora, se opera de um modo absolutamente contrário. Em vez do alimento, por exemplo, penetrar no organismo, o organismo penetra no alimento, e nisso está a CHAVE ou a explicação do Mistério.

Todos nós recebemos, em particular, essa energia solar, essa luz íntima do Cosmo. Jesus foi o único que se saturou e se converteu nessa luz. O Mistério do Gólgota reside em que a alma do Nazareno, depois do sacrifício da cruz, difundiu-se por todo o Cosmo, sem perder, contudo, a sua personalidade e sua missão de Guia de nosso Planeta.

Um sacerdote consciente pode, portanto, invocar o Cristo e conseguir que a substância cristônica penetre realmente no pão e no vinho, que, uma vez em nosso organismo, SE UNE AO CRISTO DO NOSSO REAL SER.

Assim, nem os Católicos nem os Protestantes têm razão. A explicação do Mistério está no que acabamos de expor.

O México, com seu culto solar, nos dá a CHAVE DO GRANDE MISTÉRIO e se as filosofias e religiões que nos chegam do Oriente exaltam a Índia, o Egito e a Grécia, por este motivo, com maior razão temos o dever de exaltar o México.

2. A Eucaristia e Os Anjos da Presença, Do Amor e da Morte
Por Geoffrey Hodson

As almas desencarnadas assistem frequentemente aos serviços físicos das igrejas, porém na ocasião especial da Missa de Réquiem, vê-se presente um grande número delas. Muitas chegam, algum tempo antes do início do serviço, concentrando-se a maior parte ao redor das alas da igreja e na galeria, e ocupando grande parte do espaço sob o teto.

Em suas consciências mais elevadas muitos membros da congregação física podiam saudar a seus amigos superfísicos. A alegria de muitas reuniões felizes que assim ocorreram, não foi em nada afetada pelo fato de pouco ou nenhum conhecimento dos desencarnados ter penetrado na consciência física dos encarnados.

A maior parte da congregação física havia criado nítidas formas-pensamento de seus amigos particulares falecidos e estas foram mais tarde substituídas pelos próprios amigos. Em alguns casos os desencarnados trouxeram consigo seres com quem haviam feito amizade no outro lado. Estes, junto a outros visitantes e os frequentadores superfísicos da Igreja, humanos e angélicos, formaram uma congregação muito grande nos mundos ocultos.

A congregação superfísica ficou de frente para o altar no início do serviço, e daí em diante foi gradualmente se aproximando cada vez mais do mundo físico. Desde o começo eles viram nitidamente os candelabros, porque a luz da vela de cera é visível nos mundos ocultos e algumas vezes é usada como um sinal para os do outro lado do véu.

A chama de luz e força emanada do Sacramento Reservado também é claramente vista, bem como os anjos ministrantes e as correntes de força fluindo através dos vários símbolos e joias. Entretanto, estranhamente alguns nada veem, apesar de sua visão não ser limitada como a nossa, por possuirmos corpo físico.

O efeito geral, entretanto, era para revelar o interior do plano físico da igreja, como se tivesse sido aberta uma cortina de um palco. Este afastamento do véu não se estendeu na mesma proporção ao exterior da Igreja. O conjunto da congregação ficou isolado das vibrações e fenômenos do mundo externo. Um grande anjo a quem nos referiremos mais adiante, vigiava este isolamento e mantinha a congregação superfísica dentro de sua aura, e assim ajudava a criar as condições em que o véu poderia ser seguramente afastado.

Os ANJOS DA EUCARISTIA têm também o cuidado de incluir tanto os vivos quanto os desencarnados no edifício interno espiritual, de forma que todos possam compartilhar tanto quanto possível das influências derramadas. Eles ajudavam as pessoas no que era necessário e possível, e gradualmente, como resultado de suas carinhosas ministrações e do serviço, as congregações física e superfísica eram unidas uma a outra. No final do serviço os desencarnados estão aptos a ver o edifício físico, seus amigos, e especialmente os sacerdotes e os servidores no interior do Santuário.

Isso os enchia de intensa felicidade, embora alguns experimentassem vaga saudade e mesmo anseio de retornar a vida e camaradagem do plano físico. Uns poucos não haviam achado a nova vida tão feliz quanto poderia ter sido, e sentiam-se solitários ali.

Para muitos, sua consciência interna se desvanecia um tanto à medida que a percepção física aumentava, embora alguns poucos retivessem sua visão de seus próprios mundos. Alguns penetravam na aura de seus amigos e permaneciam de pé ou sentados com eles, porém a maioria dos que tinham amigos físicos presentes flutuavam bem acima deles. Quase todos sentiam a alegria da reunião e de receber os pensamentos e recordações amorosas de seus amigos e parentes.

Gradativamente, a medida que todos se tornavam completamente harmonizados, as palavras e a música eram ouvidas com crescente clareza. Isto os tornava muito ditosos, evocando-lhes antigas recordações. Para eles era um grande prazer ouvir as vozes atuais de seus amigos particulares, deixados no plano físico. Ouviam muito atentamente o sermão, e no Credo, todos inclinavam suas cabeças. Alguns deles evidentemente conheciam bem as palavras e ajoelhavam-se no exato momento, porém todos acompanhavam com compreensão e assentimento reverentes.

Decorrido algum tempo, todas as considerações pessoais cederam lugar ao ato de adoração conjunta, quando as duas congregações se integraram no ritmo e poder do serviço. Pouco a pouco, com poucas exceções, se tornaram unificadas e harmonizadas, e os anjos puderam tratá-las como uma unidade. As exceções foram os que não haviam sido acostumados ao culto da igreja; estes permaneciam um tanto afastados, observando com interesse, mas não participando.

O Anjo da Presença resplandecia em toda a perfeita beleza espiritual do Senhor, cujos amor e bênção fluíam continuamente através d’Ele. Todos eram envolvidos nesse maravilhoso fluxo, especialmente os sentados a parte, pois o Anjo parecia volver sua atenção para eles com o mais terno e compassivo amor, que paulatinamente vencia seu afastamento e os atraía.

Um grande anjo de tipo inteiramente novo para o autor apareceu na extremidade ocidental da igreja. Embora fosse essencialmente um Anjo de Amor, e vertesse uma qualidade especial de amor e proteção sobre os desencarnados, sua aparência externa era tal que nos fazia pensar no Anjo da Morte. Parecia ser um representante do grande Deus da Morte, cuja mão poderosa corta o cordão de prata que ata a alma ao corpo durante a vida terrena. Sua fisionomia era enérgica e inspirava tímido respeito com sua inescrutável expressão de poder e mistério. Era de cor verde escuro e da altura do corpo da igreja.

Mantinha a congregação invisível muito coesa no interior de sua consciência e exercia uma influência protetora sobre a mesma, de forma que nenhum dano poderia ocorrer aos vivos como aos mortos. Ele permanecia imóvel e impassível, zelando como se mencionou acima o isolamento da igreja do mundo externo, e dando a impressão de uma estátua enorme, viva e verde escura do Anjo da Morte.

No mundo do Além, como neste mundo existem muitos seres indesejáveis que tomariam vantagem imediata das condições especiais, do íntimo intercâmbio de forças entre os dois mundos. Esta proteção angélica era, portanto, adicionada ao isolamento propiciado pela consagração original da igreja e pelas “paredes” do edifício eucarístico.

Parece também ter havido uma rarefação do véu no mundo externo, porém isto se restringiu aos níveis mais elevados dos planos concernentes. Isto parece ser o resultado de certas mudanças que ocorrem em todo sistema solar nesta época do ano. A influência do espiritual, como distinta do material, parece ser de algum modo aumentada e a divisão entre o espírito e a matéria como um conjunto, parece ser marcante.

Talvez haja uma lei cíclica sob a qual, nesta época do ano, todos os véus se tornam definidamente mais tênues, de sorte que os níveis sem forma e com forma se tornara mais intimamente associados e os planos dentro destas divisões, mais intimamente sincronizados. Os subplanos mais elevados dos mundos mental, emocional e etérico, são fundidos e mutuamente entrelaçados de maneira que o pulsar da vida e força no mundo material e através do mesmo é muito mais livre, do que normalmente.

Dentro da igreja, onde se criam condições especiais, isto se estende através de todos os subplanos, decrescentemente, e daí a necessidade de medidas especiais de precaução.

Aparentemente é função do Anjo da Morte manter a necessária proteção, pois a ele concerne a passagem de poder, consciência e vida de plano para plano, e a transferência da consciência humana do plano físico ao plano emocional, na morte. Ele pode exercer uma função, que é complementar e o inverso da de Nossa Senhora, a qual preside a todo nascimento humano. Sugere-se correspondência, porém o autor não está habilitado a dar um pronunciamento definido sobre o assunto.

Retornando ao serviço em si, notou-se que a repetição de um nome em uma cerimônia liga instantaneamente o seu dono, aonde quer que esteja, com o oficiante, e através dele, com o poder da cerimônia. Quando foi recitada a prece pelos mortos e mencionados os nomes dos falecidos, os designados fulguravam subitamente com uma luz maior, a bênção do Senhor verteu-se do Santuário sobre eles, e fez o princípio crístico brilhar dali para dentro deles.

Os não efetivamente presentes tiveram sua atenção atraída para os ali mencionados. Em alguns casos vieram imediatamente para a igreja, chamados pelo poder do Senhor e pelo amor dos que os lembraram.

Os próprios anjos trouxeram para a igreja muitos daqueles cujos nomes foram mencionados, ao mesmo tempo que adicionavam outros, não mencionados. Muitos anjos se assemelham a lindos pastores, cada um com seu rebanho destas “ovelhas” humanas, que haviam reunido e trazido a presença do Senhor. Muitos auxiliares humanos invisíveis, estavam também muito ocupados em trazer gente desencarnada para a igreja, e em ajudá-los a assimilar a atmosfera e a bênção do serviço.

O Anjo Construtor incluía todos estes em sua esfera de trabalho, e o Anjo da Presença saudava-os com o seu glorioso sorriso de amor e ternura a medida que chegavam. Era maravilhoso contemplar a expressão e o sorriso do Anjo da Presença.

Seu sorriso revela muitíssimo mais do que qualquer sorriso humano pode expressar; inclui um jubiloso reconhecimento de um velho e muito amado amigo, uma profunda compreensão espiritual de todas as suas mais elevadas esperanças e possibilidades, e o terno amor compassivo de um pai para com o seu filho predileto. A expressão na face do Anjo é sempre a de exaltação espiritual, enquanto que o irradiante poder, vida e amor fluem através dele continuamente.

Quando, pois, ele sorri, a beleza e amor profundamente compassivo revelados excedem a toda concepção humana, e nenhuma palavra pode retratar com propriedade a maravilha deste glorioso Representante Angélico de Nosso Senhor.

Uma tal visão do Bom Pastor e Seus servos angélicos e Seu rebanho demonstrou prontamente que Ele conhece cada indivíduo deste planeta, que todos os homens estão envolvidos no abraço de Seu Amor, e que de fato “por baixo estão os eternos braços”. O Anjo da Presença reconhecia, cumprimentava, abençoava e enviava amor a cada indivíduo que chegava, e extraía o mais elevado no interior de cada um, em resposta.

A medida desta resposta variava consideravelmente. Alguns nessa hora estavam preocupados e concentrados em si e não responderam completamente; todos eram definidamente auxiliados, cada um na medida em que estava apto a receber e assimilar a bênção vertida e o Cristo interno podia ser despertado.

Àqueles que estavam lutando com grandes dificuldades quando a bênção os atingiu – frequentemente acompanhada por um anjo – se sentiam de repente livres da tensão o iIuminados com as soluções de seus problemas. Para muitos era um nítido ponto de retorno no longo ciclo de encarnações; pode mesmo influenciar o restante de sua peregrinação para a perfeição.

Como fez o Filho Pródigo, desde então “se levantarão e irão a seu Pai”. Teve lugar uma verdadeira conversão e determinaram-se desde esse dia a dedicar-se à vida espiritual e ao trabalho profícuo.

3. Os Anjos e sua Função na Eucaristia e nos Rituais
Por Charles Leadbeater

Quando um homem adentra na igreja, ele se põe na presença de Nosso Senhor, entronizado sobre Seu altar; e só por este fato ele também entra na presença de uma grande multidão de Anjos adorantes. O quanto será possível fazer por ele depende de até onde ele pode abrir seu coração à sua influência, e de sua disposição física, moral e mental.

Alguns de nós sentem tais influências fácil e nitidamente, por termos aguçado nossos sentidos em tal direção; outros as percebem apenas vaga e incertamente; mas um número crescente de pessoas está se tornando cônscia delas. O homem está andando em lentos passos em direção a tornar-se o tipo de criatura que os Anjos podem ajudar, e à medida que avança mais para dentro de sua esfera, percebe melhor seu interesse e sua graciosa resposta.

A presença dos Anjos não nos deveria ser incerta, vaga ou hipotética; deveríamos começar a pensar que são realidades perfeitamente definidas, e ainda que não possamos de fato vê-los mais do que vemos uma corrente elétrica, são reais como uma corrente elétrica o é, e seus efeitos podem ser notados por aqueles que são capazes de senti-los.

Grandes legiões de Anjos assistem à celebração da Eucaristia. Os maiores Anjos acodem para tomar uma parte definida no trabalho. A Sagrada Eucaristia não é celebrada para nós, ainda que muito benefício possamos obter dela. Nós não vamos no intuito de receber, mas principalmente no de dar.

Nós vamos porque este é o método pelo qual Cristo irradia influência espiritual sobre todo o Seu mundo, e nós vamos lá para ajudá-lo nesta distribuição de divina energia. Incidentalmente obtemos muito para nós mesmos, mas este não é nosso objetivo principal.

Os Anjos vêm – os grandes Anjos – a fim de fazer tudo isso possível para nós. Ao fim do Asperges, pedimos a Deus que envie Seu Anjo para nos ajudar e para estar conosco. Em resposta a aquele apelo acorre o Anjo da Eucaristia e constrói um receptáculo a partir de nossa devoção e de nossos sentimentos, e da energia liberada pela parte musical do serviço.

Maiores que ele são os Anjos que vêm quando os chamamos justamente antes do Sanctus – quando o sacerdote ou bispo, tendo pedido que elevássemos nossos corações e déssemos graças a Deus, prossegue dizendo que com os Santos Anjos (enumerando os diferentes tipos), também fazemos nossa parte.

Este é o chamamento tradicional a eles, e a melodia com que cantamos “Corações ao alto!” e “Nosso coração está em Deus” tem quase 2 mil anos, se não mais. Ela remonta aos primeiros tempos em que tais músicas eram cantada na Igreja.

Então eles vêm e tomam parte no serviço. É claro que não devemos pensar nem por um momento que este é um privilégio nosso. Em todas as Igrejas Cristãs onde não houve ruptura na sucessão apostólica, permanece o mesmo mecanismo; na verdade não devemos sequer imaginá-lo confinado ao Cristianismo. Todas as religiões existem para o auxílio do mundo, e em quase todas algum sistema é arranjado para a recepção e distribuição de força espiritual.

Este trabalho dos Anjos é tornado mais fácil quando a congregação compreende o que está sendo feito e colabora inteligentemente através do pensamento. Destarte deveríamos nos aplicar em saber e compreender, para que pudéssemos ajudar os Anjos no trabalho que têm de fazer.

Esses Espíritos gloriosos são de tantos tipos diversos que é praticamente impossível tentar alguma descrição deles. Muitos deles têm forma humana, ainda que usualmente maiores que a estatura do homem. Suas cores, sua radiância e iridescência são de uma maravilha além de toda palavra; eles nos olham com seus olhos faiscantes, plenos da paz eterna.

Suas auras são tão grandes e tão mais magnificentes que as nossas, que à distância parecem somente esferas de luz fulgurante. Nunca os vi com asas; na verdade, imagino que as asas usadas pelos Anjos da arte e da poesia devam simbolizar seus diversos poderes, como o ilustram algumas escrituras.

Esta suposição pode ser corroborada pelo fato de que mesmo nas histórias bíblicas, quando o Anjo do Senhor vem visitar Seu Povo (como Abraão, Pedro e outros), ele costumeiramente é tomado por um homem, o que dificilmente ocorreria se portasse um par de asas enormes.

A aura de um grande Anjo é muito mais expansível e flexível que a nossa; ele se expressa simultaneamente em formas-pensamento de desenho maravilhosamente belo, em fulgurações de gloriosas cores e através de uma pletora da mais deslumbrante música.

Para ele um sorriso de boas-vindas poderia ser um coruscante relampejar de cores e uma torrente de harmonias sonoras; uma frase proferida por um desses valorosos Filhos de Deus seria como um grandioso oratório; uma conversação entre dois grandes Anjos seria como uma poderosa fuga (estilo de composição musical contrapontística onde as várias vozes, que têm aqui igual importância, entram em distâncias e alturas sucessivos e predeterminados, dialogando em forma de imitação mútua ou eco), com motivo (ou tema, fragmento melódico apresentado na abertura da peça) respondendo a motivo, ecoando em cataratas de harmonia acompanhada de caleidoscópicas mutações de tons flamantes, cintilando como miríades de arco-íris.

Anjos há que vivem e se expressam pelo que para nós são fragrâncias e perfumes – mesmo que dizer assim seja degradar e materializar as exóticas emanações nas quais se comprazem tão jubilosos.

Sempre há Anjos cerca da Hóstia Consagrada, mas quando o fulgor aumenta, na Elevação ou no Benedictus, vemos uma surpreendente e ainda mais formosa adição à falange, pois um número de pequeninos Anjos volteiam em seu redor.

A maioria dos membros da Hoste Angélica são pelo menos do tamanho humano, e muitos deles são bem maiores que o homem; mas há uma tribo de diminutos querubins que são como aqueles pintados por Ticiano ou Michelangelo. São todos pequenas e maravilhosamente perfeitas criaturas – não diversos de certos tipos de espíritos da natureza, exceto pelo fato de que são muitíssimo mais radiantes e indubitavelmente angélicos em feição; têm aparência de crianças, mas ainda assim parecem muito, muito velhos.

São uma imagem do fulgor eterno que é impossível de expressar em palavras; são como aves do paraíso no esplendor de suas cores, seres feitos de luz viva; e eles voejam ou quedam em atitude de adoração, volteando adiante e atrás ao se mover, criam uma espécie de esfera oca em torno da Hóstia – uma esfera de talvez seis metros de diâmetro.

Penso que nenhum deles desce ao nível astral; a maioria deles é distinguível somente com a visão do plano causal, o que significa que seu veículo mais denso é feito de matéria pertencente ao plano mental. São da mais alta valia no serviço, pois refletem e transmutam algumas das mais poderosas forças empregadas, e podem veicular grandes quantidades de outras; assim, um torvelinho de indescritível atividade está sempre acontecendo dentro e em torno da esfera.

Há também um outro tipo destas criaturinhas ao qual o título de Anjo é menos adequado. São igualmente graciosas e belas à sua maneira, mas na realidade pertencem ao reino dos elfos ou espíritos da natureza.

Eles não se expressam através de perfumes, mas vivem nas cercanias e misturados a tais emanações, e estão onde quer que fragrâncias estejam sendo disseminadas. Há muitas variedades, algumas vivendo de odores repulsivos e pesados, outras somente daqueles delicados e refinados. Entre eles existem algumas poucas espécies que são especialmente atraídas pelo cheiro do incenso, e são encontradas sempre que este é queimado.

Quando o sacerdote incensa o altar, criando um campo magnético, enclausura dentro dele um número destes deliciosos elfinhos, e eles absorvem grande quantidade da energia que é acumulada ali, tornando-se valiosos agentes de sua distribuição no momento oportuno.

Nós podemos também guardar em afetuosa lembrança a grande classe de Anjos-Pensamento, que estão especialmente conectados com os serviços da Igreja.

O maior de todos é o Anjo da Presença, que aparece toda vez que a Santa Eucaristia é celebrada, e consuma por nós aquele tremendo sacrifício; pois, ao completar os deveres de seu ofício sagrado, o sacerdote pronunciando as palavras de poder, aquele Anjo fulgura, e pelo seu ígneo toque acontece aquela espantosa transmutação que é ao mesmo tempo o maior de todos os milagres e ao mesmo tempo o de todos o mais natural, uma expressão íntima do Amor Divino.

Ele é em verdade uma forma-pensamento do próprio Senhor Cristo, uma projeção daquela prodigiosa Consciência.

Não há alegria maior para Seus Santos Anjos que seguir o clarão daquele pensamento, e banhar-se naquele rio de vida, aquele inefável derramar de influência espiritual. E isso acontece em cada Eucaristia; em cada Missa a congregação é de longe muito mais numerosa da que pode ser vista com os olhos físicos; e quando celebramos estes sagrados mistérios, os esquadrões da falange celeste juntam-se a nós, aqui e agora.

4. A Missa Sagrada, A Eucaristia e A Visão Gnóstica
Por Helena Blavatsky

Prestemos alguns momentos de atenção às assembléias dos “Construtores do Templo Superior” nos primeiros tempos do Cristianismo. Ragon nos mostrou plenamente a origem dos seguintes termos:

a) “A palavra ‘Missa’ vem do latim Messis – ‘colheita’, donde o nome de Messis, aquele que faz amadurecer as colheitas – o ‘Cristo-Sol’.

A palavra ‘Loja’, da qual se servem os maçons, fracos sucessores dos Iniciados, toma sua raiz em Loga (Loka em sânscrito), uma localidade e um Mundo; e do grego Logos – a Palavra, um discurso, cujo pleno significado é: um local onde certas coisas são discutidas”.

c) As reuniões dos Logos dos Maçons, Primitivos Iniciados, acabaram sendo chamadas Synaxys, ‘assembleias’ de Irmãos, com o fim de rezar e celebrar a Ceia (refeição), onde eram utilizadas somente as oferendas não manchadas de sangue, tais como os frutos e cereais. Logo depois essas oferendas foram chamadas Hostiae, ou Hóstias puras e sagradas, em contraste com os sacrifícios impuros (como os prisioneiros de guerra, Histes, donde o francês Hostage – Ôtage ou Refém), e porque as oferendas consistiam de frutos da colheita, as primícias de Messis. Já que nenhum Padre da Igreja menciona, como certos sábios o teriam feito, que a palavra missa vem do hebreu Missah (Oblatum, oferenda), esta explicação é tão boa quanto a outra. (Para um estudo profundo da palavra Missah e Mizda, ver Os Gnósticos, de King, pág. 124 e seguintes).

A palavra Synaxis tinha seu equivalente entre os gregos na palavra Agyrmos (reunião de homens, assembleia). Referia-se à Iniciação nos Mistérios. As duas palavras, Synaxis e Agyrmos (14) caíram em desuso, e a palavra Missa prevaleceu e ficou.

Desejosos como estão os teólogos de velar pela sua etimologia, diremos que o termo “Messias” (Messiah) deriva da palavra latina Missus (Mensageiro, o Enviado). Mas, se assim é, essa palavra poderia também ser aplicada ao Sol, o mensageiro anual, enviado para trazer nova vida à terra e à sua produção. A palavra hebraica Messiah, Mashiah (o ungido, de Mashah, ungir) dificilmente poderia ser aplicada no sentido eclesiástico, ou seu emprego ser justificado como autêntico, tanto quanto a palavra latina Missah (missa) não deriva da outra palavra latina Mittere, Missum, “enviar” ou “reenviar”. Porque o serviço da comunhão, seu coração e sua alma, se fundamenta na consagração e oblação da Hóstia (sacrifício), um pão ázimo (fino como uma folha) representando o corpo de Cristo na Eucaristia, e sendo feito de flor de farinha, é um desenvolvimento direto da colheita ou oferendas de cereais.

Ainda mais, as missas primitivas eram Ceias (ou último alimento do dia), simples refeição dos romanos, em que eles “faziam abluções”, eram ungidos e se vestiam do Senatory, e foram transformadas em refeições consagradas à memória da última ceia de Cristo.

No tempo dos apóstolos, os judeus convertidos se reuniam em seus Synaxis para ler os Evangelhos e suas correspondências (Epístolas). São Justino (ano 150 de nossa era) nos diz que essas Assembleias solenes eram feitas nos dias chamados “sun” (o dia do Senhor, e em latim, Dies Magnus).

Nesses dias, havia o canto dos Salmos, a “colação” do batismo com água pura e o Ágape da Santa Ceia “com água e o vinho”. Que tem a ver essa combinação híbrida das refeições romanas pagãs, erigidas em mistério sagrado pelos inventores dos dogmas da Igreja, com o Messiah hebreu, “aquele que deve descer às profundezas” (ou Hades), ou com o Messias (que é a sua tradução grega)?

Como demonstrou Nork, Jesus jamais foi ungido, nem como grande sacerdote, nem como rei, e é por isso que seu nome Messias não pode derivar da palavra equivalente hebraica, ainda mais que a palavra “ungido” ou “untado de óleo”, termo homérico, é CHRI e CHRIO, ambos significando Untar o Corpo de Óleo (ver Lúcifer, 1887: The Esoteric Meaning of the Gospels – O Significado Esotérico dos Evangelhos).

As frases seguintes de outro maçom de grau elevado, autor da Sources des Mesures, resumem em algumas linhas esse “imbróglio” secular: “O fato é , diz ele, que existem Dois Messias: um, descendo por sua própria vontade ao abismo para a salvação do mundo – é o Sol despojado de Seus Raios de Ouro e coroado de raios negros como espinhos (simbolizando essa perda); o outro, o Messias triunfante, que alcançou o Ápice do Arco do Céu, personificado pelo Leão da Tribo de Judá. Em ambos os casos, ele tem a cruz…

Nas Ambarválias, festas romanas dadas em honra a Ceres, o Arval, assistente do Grande Sacerdote, vestido de branco imaculado, colocava sobre a Hóstia (a oferenda do sacrifício) um bolo de trigo, água e vinha; provava o vinho das libações e dava-o a provar aos outros.

A Oblação (ou oferenda) era então erguida pelo Grande Sacerdote. Tal oferenda simbolizava os três reinos da natureza: o bolo de trigo (o reino vegetal), o vaso do sacrifício ou Cálice (o reino mineral) e o Pal (a estola) do Hierofante, uma de cujas extremidades pousava sobre o cálice contendo o vinho da oblação. Essa estola era feita de pura lã branca de tosão de cordeiro.

Os padres modernos repetem gesto por gesto os atos do culto pagão. Eles erguem e oferecem o pão para a consagração; benzem a água que deve ser posta no cálice, e em seguida vertem o vinho, incensam o altar, etc., etc…, e, voltando ao altar, lavam os dedos, dizendo: “Eu lavarei minhas mãos entre o Justo e rodearei teu altar, Ó Grande Deus!”

Assim o fazem porque o antigo sacerdote pagão assim o fazia, e dizia: “Eu lavo minhas mãos (com água lustral) entre o Justo (os irmãos completamente Iniciados) e rodeio teu altar, ó Grande Deusa (Ceres)”.

O Grande Sacerdote fazia três vezes a volta ao altar, levando as oferendas, erguendo acima de sua cabeça o cálice coberto com a extremidade de sua estola feita de lã de cordeiro, branca como a neve…

A vestimenta consagrada, usada pelo papa, Pallium, tem a forma de uma manta feita de lã branca, com um galão de cruzes púrpura. Na Igreja grega, o padre cobre o cálice com a extremidade de sua estola pousada sobre seu ombro.

O Grande Sacerdote da Antiguidade repetia três vezes durante o serviço divino seu “O Redemptor Mundi” a Apolo – o Sol; seu “Mater Salvatoris” a Ceres – a Terra; seu Virgo Partitura à Virgem Deusa, etc… pronunciando Sete Comemorações Ternárias. (Ouvi, ó maçons!)

O número ternário tão reverenciado na Antiguidade como em nossos diasé pronunciado sete vezes durante a Missa; temos três Introito, três Kyrie Eleison, três Mea-Culpa, três Agnus Dei, três Dominus Vobiscum, verdadeiras séries maçônicas. Acrescentemos-lhes os três Et Cum Spiritu Tuo, e a missa cristã nos oferecerá as mesmas Sete Comemorações Tríplices.

Paganismo, Maçonaria, Teologia, tal é a trindade histórica que governa o mundo Sub-Rosa.

Podemos terminar com uma saudação maçônica, e dizer: Ilustre dignitário de Hiram Abif, Iniciado e “Filho da Viúva”: o Reino das Trevas e da ignorância desaparece rapidamente, mas há regiões ainda inexploradas pelos sábios e que são tão negras quanto a noite do Egito.

Fratres Sobrii Estote et Vigilate.

5. Os 7 Sacramentos da Comunidade dos Iniciados
SACRAMENTOS
Planeta
Arcanjo
Significado
Batismo
Lua
Gabriel
O Conhecimento dos Mistérios Alquímicos, pacto do Batismo para ser orientado internamente.
Confirmação
(Crisma)
Mercúrio
Rafael
Aprofundamento e tomada de Consciência da importância desses Mistérios para nossa Autorrealização.
Matrimônio
Vênus
Uriel
A efetiva prática desses Mistérios, é executar o que já se estudou e se praticou o be-á-bá da Alquimia, como os pranayamas, mantras, desbloqueios dos nadís etc. Aqui se trabalha de verdade no 1º Fator.
Eucaristia
Sol
Michael
Ajuda vinda dos Mundos do Cristo, aqui se absorvem os Átomos Crísticos, tão necessários para nosso crescimento interior.
Confissão
Marte
Samael
Aqui se conhece e se pratica realmente a Morte do Ego, o 2º Fator.
Apostolado
Júpiter
Zacariel
O Apostolado é sinônimo do 3º Fator, da ajuda à humanidade, amor consciente ao próximo, entregando a Doutrina Gnóstica.
Extrema-Unção
Saturno
Orifiel
Aprofundamento do Trabalho dos 3 Fatores para a total transcendência do si mesmo. A morte absoluta e a Renúncia.
6. Quem Ensinou o Mistério da Santa Eucaristia ao V.’. M.’. Samael Aun Weor

Estando nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica, o mestre Samael fez “amizade” com um poderoso Anjo de Deus, Anjo de Mando e do Poder, chamado Aroch.

Foi este Anjo, todo sabedoria, Amor e Poder, que ensinou ao mestre Samael, entre outras coisas, o mantra mais poderoso para se despertar a Kundalini, o antibiótico mais eficiente do mundo, a Conjuração de Proteção mais poderosa do Universo (Belilin) etc.

Esse Anjo sagrado também ensinou ao Mestre Samael e a toda a Comunidade Gnóstica os Mistérios da Santa Unção Gnóstica, ou Mistério Eucarístico Gnóstico.

Leiamos o que o mestre Samael escreveu, no livro Tratado Esotérico de Magia Prática:

Quando o Anjo Aroch, Anjo de Mando, me ensinou esta chave maravilhosa da Unção Gnóstica, também me ensinou a ORAR:

“São indizíveis aqueles instantes em que o anjo Aroch, na figura de um menino, ajoelhado e com as mãos unidas sobre o peito, levantou seus olhos puríssimos até os Céus…

Seu rosto parecia ser de Fogo naquels instante, e, cheio de Amor profundo, esclamava:

“SENHOR, SENHOR, NÃO ME DEIXES CAIR, NÃO ME DEIXES JAMAIS SAIR DA LUZ… Etc…”

Logo, repartiu o Pão e o deu de comer, e pôs o vinho dentro de uma pequena jarra de prata. Serviu-o em alguns cálices e nos deu de beber…”

Até aqui, as palavras de nosso querido mestre Samael.

Como se pode invocar a este Anjo, toda vez que necessitarmos Iluminação, Consolo, Proteção e Sabedoria? Continua o Mestre, explicando:

À noite, antes de dormirmos, faremos uma oração. Devemos ter uma vela acesa (que deverá ser apagada depois de feita a oração), um copo com água e uma rosa (esta deverá estar sem o cabo, somente em botão. Se tivermos um altar, melhor. Se não, também está bom…)

Acendemos uma vela, colocamos no copo a água e, mergulhado na água colocamos um botão de rosa (sem o cabo, somente o botão).

Aí fazemos a oração conforme sabemos e podemos, e de manhã, logo após acordarmos, bebemos esta água…

Podemos repetir esta prática por 3 dias seguidos…

(Do livro Tratado de Magia Prática)

7. O Milagre da Transubstanciação
(Texto retirado do livro O Parsifal Desvelado, do VM Samael Aun Weor
Na Missa Gnóstica encontramos o seguinte relato:

“(…) E Jesus, o Divino Grande Sacerdote Gnóstico, entoou um doce cântico em louvor do Grande Nome e disse aos seus discípulos: ‘Vinde a Mim e eles assim o fizeram’.

Então, dirigiu-se aos quatro pontos cardeais, estendeu seu tranquilo olhar e pronunciou o nome profundamente sagrado “Jeú”, abençoou-os e lhes soprou nos olhos.

Olhai para cima – exclamou. Já sois clarividentes. Eles então levantaram seus olhares para onde Jesus assinalara, e viram uma grande cruz que nenhum ser humano poderia descrever.eucaristia-gnosisonline

E o Grande Sacerdote disse: Afastai a vista dessa grande luz e olhai para o outro lado. Então viram um grande fogo, vinho e sangue. (Aqui abençoa-se o pão e o vinho.)

E continuou: Em verdade vos digo que eu não trouxe nada ao mundo, senão o fogo, a água, o vinho e o sangue da redenção.

Trouxe o fogo e a água do lugar da luz, dali onde a luz se encontra.

Trouxe o vinho e o sangue da morada de Barbelos.

Depois de passado algum tempo, o Pai me enviou o Espírito Santo em forma de branca pomba, mas, ouvi-me: o fogo, a água e o vinho são para a purificação e o perdão dos pecados.”

O Evangelho de Taciano testemunha o sacramento do corpo e do sangue, dizendo:

“E Jesus tomou o pão e o abençoou.

E deu-os aos seu discípulos, dizendo: Tomai e comei, porque este é o meu corpo, que lhes é dado.

E, tomando o cálice, deu graças, e o ofereceu aos seus discípulos.

E disse: Tomai e bebei, porque este é o meu sangue que será vertido na remissão dos pecados.

E desde agora não beberei mais do fruto da videira até o dia em que o beba convosco no reino de meu Pai. Fazei isto em minha comemoração.”

Lucas desvenda inteligentemente o profundo significado desta mística cerimônia mágica, dizendo:

“Chegou o dia dos pães sem fermento, no qual era necessário sacrificar o Cordeiro Pascal.

E Jesus enviou a Pedro (cujo evangelho é o sexo) e a João (cujo evangelho é o Verbo), dizendo: Ide preparar-nos a Páscoa, para que a comamos.”

O Nome Oculto de Pedro é “Patar” com suas três consoantes, que no alto esoterismo são radicais: “P”, nos recorda o Pai que está oculto, o ancião dos dias da cabala hebraica; “T” ou Tau, letra cruz, estudada em nosso capítulo anterior, famosa no Sexo-Yoga; e “Ra”, Fogo Sagrado, Divindade, Logos.

João descompõe-se nas cinco vogais IEOUA (Ieouan, Swan, Choan, Ioan), o Verbo, a palavra.

Pedro morre crucificado na cruz invertida com a cabeça para baixo e os pés para cima, como se nos convidasse a baixar à Forja dos Ciclopes, à Nona Esfera, para trabalharmos com a água e o fogo, origem de mundos bestas, homens e deuses.

Toda autêntica Iniciação Branca começa por ali.

João, o inefável, recosta sua cabeça no coração do grande Cabir Jesus como que declarando: o amor alimenta-se com o amor.

É fácil compreender que o Verbo criador, em cilada mística, aguarda enroscado no fundo da arca o instante preciso de ser realizado.

Ao que sabe, a palavra dá poder. Ninguém a pronunciou, ninguém a pronunciará, a não ser aquele que a tiver encarnado.

No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Está escrito com palavras de fogo no grande livro da existência cósmica que primeiro devemos percorrer firmemente o caminho de Pedro.

O Verbo que jaz oculto no âmago misterioso de todas as idades ensina, claramente, que depois é necessário caminhar pela senda de João.

Porém, dentro destas duas sendas divinas, existe um Abismo.

É indispensável ter uma ponte de prodígios maravilhosos entre os dois caminhos… e, após, morrer de instante a instante (morte mística).

Transmutar para falar no horto puríssimo da divina língua é, certamente, o profundo significado místico da Unção Gnóstica.

O pão e o vinho, a semente de trigo e o fruto da videira devem ser regiamente transformados na carne e no sangue do Cristo Íntimo.

O Logos Solar, com a sua vida pujante e ativa, faz germinar a semente para que a espiga cresça de milímetro em milímetro e, logo, encerrar-se como em um cofre precioso dentro da pétrea dureza do grão.

Os raios solares, penetrando solenes na cepa da videira, desenvolvem silenciosamente até amadurecer no fruto santo.

O Sacerdote Gnóstico, em estado de êxtase, percebe essa substância cósmica do Cristo-Sol encerrada no pão e no vinho e atua desligando-a de seus elementos físicos para que os Átomos Crísticos penetrem, vitoriosos, nos organismos humanos.

Esses Átomos Solares, essas vidas ígneas, esses agentes secretos do Adorável, trabalham silenciosos dentro do Templo-Coração, convidando-nos uma ou outra vez a trilharmos a Senda que nos conduzirá ao Nirvana.

É evidente e palpável a misteriosa ajuda dos Átomos Crísticos.

E resplandece a luz nas trevas e aparecem sobre a Ara os 12 pães da proposição, alusão manifesta aos signos zodiacais ou diversas modalidades da substância cósmica.

Isto nos faz recordar a décima segunda carta do Tarô, o Apostolado, o Magnus Opus, o liame da cruz com o triângulo.

Enquanto o Vinho deriva do fruto maduro da videira, é o símbolo maravilhoso do fogo, do sangue e da vida que se manifesta na substância, mesmo que as palavras Vinho, Vida, Videira tenham diferentes origens. Nem por isso deixam de ter certas afinidades simbólicas. Não de outra forma relaciona-se o Vinho com Vis, “Força”, e Virtus, “Força moral”, assim como Virgo, “Virgem” (a Serpente Ígnea de nossos mágicos poderes).

O Sahaja Maithuna (a Magia Sexual) entre Varão e Fêmea, Adam-Eva, no leito delicioso do amor autêntico, guarda, em verdade, sublimes concordâncias rítmicas com o ágape místico do grande Cabir Jesus.

O germe encantador da espiga sagrada tem seu expoente máximo e íntimo na humana semente.

O fruto sacrossanto da videira é realmente o emblema natural da vida que se manifesta com todo o seu esplendor na substância.

Transformar o pão (semente) em carne solar, e o vinho delicioso em sangue crístico e fogo santo é o milagre mais extraordinário do Sexo-Yoga.

Taumaturgia

  Taumaturgia (do grego θαύμα, thaûma, "milagre" ou "maravilha" e έργον, érgon, "trabalho") é a suposta capaci...