terça-feira, 1 de maio de 2018

Mecanismos das ondas elétricas cerebrais


Foi em 1924 que Hans Berger obteve o primeiro traçado eletrencefalográfico humano. Utilizando eletrodos de agulha introduzidos sob o couro cabeludo e um eletrocardiógrafo, Berger descobriu nas áreas occipitais as oscilações de potencial que denominou "ondas alfa". Este pesquisador estudou durante vários anos o eletrencefalograma (EEG) humano, publicando seus trabalhos entre 1929 e 1939. Adrian, em 1934, empreendeu também a análise das ondas cerebrais e de seus trabalhos resultou o interesse que durante e após a segunda guerra mundial levou à aplicação da eletrencefalografia à prática médica e à investigação neurofisiológica.

Embora tenha sido Berger o primeiro a descrever o EEG humano, coube a Caton, fisiologista inglês, descobrir em 1875 que era possível registrar variações de potencial no córtex cerebral. A atividade eletrofisiológica de nervos estava então sendo amplamente estudada na Alemanha e Caton buscava no cérebro fenômenos semelhantes ao potencial de ação, quando verificou que, registrando a diferença de potencial entre dois pontos do córtex cerebral exposto de coelhos, ocorriam espontaneamente oscilações elétricas, as quais podiam ser modificadas por estimulação sensorial. Caton provou que tais potenciais eram de natureza biológica, pois podiam ser abolidos por anóxia, anestesia e morte3.

Se o registro da atividade elétrica cerebral (AEC) é hoje tecnicamente muito fácil, analisar sua significação e seus mecanismos envolve problemas e metodologia muito complexos. Quando Adrian estudou o EEG humano preocupou-se com a origem das ondas, porém pouco mais pôde fazer que concluir pela existência de algum marca-passo subcortical que controla, pelo menos, a sincronia do ritmo alfa. Um exame mais aprofundado da questão revela que a análise objetiva da AEC abrange um conjunto de problemas neuro-fisiológicos muito complicados, dos quais se salientam os seguintes: 1) origem dos potenciais; 2) modificação ou modulação da AEC por estímulos sensoriais, alterações do estado de vigília, de sono, de atenção; 3) significação fisiológica desses fenômenos eletrofisiológicos.

Uma exposição razoavelmente completa sobre todos estes aspectos seria sobremodo longa e talvez pecasse por excesso de informações de difícil assimilação. Limitar-nos-emos, por isso, a discutir alguns aspectos fundamentais dos mecanismos de gênese da AEC.

Eletrofisiologia da membrana neuronal — A membrana celular é constituída por uma dupla camada de lipóides (cujas extremidades polares estão voltadas para dentro e para fora) e uma de proteínas de cada lado, atingindo 80 angstroms de espessura. A combinação de lipóides de cada tipo de membrana parece ser determinada geneticamente; no axônio a parte não polar é constituída principalmente de ácidos graxos com 16 a 20 átomos de carbono e a extremidade polar dos diversos lipóides varia tanto em tamanho como em configuração e carga elétrica. A microscopia eletrônica revelou que, externamente ã membrana celular, os neurônios dispõem de uma outra camada, denominada membrana exterior, cuja opacidade aos elétrons é muito débil, o que dificulta sua identificação. A espessura da membrana exterior é de aproximadamente 75 angstroms e em sua constituição entram predominantemente glicolípides e glicoproteinas.

Devido à diferente composição iônica dos líquidos intra e extracelular estabelece-se, através da membrana celular, uma diferença de potencial que pode ser calculada desde que se conheçam as concentrações de certos íons (potássio, sódio e cloro), sobretudo o potário (K+). A concentração de K + no líquido intracelular é, nos mamíferos, cerca de 40 vezes maior que no extracelular. Esse gradiente de concentração acarreta forte tendência de os íons K + passarem para o lado de fora da membrana. Em virtude de sua mobilidade ser muito maior que a dos aníons a ele ligados no interior da células, o K+ migra para o lado externo, deixando atrás de si os aníons que não conseguem atravessar a membrana por serem de grande porte, se comparados com o K+ . Nessas condições estabelece-se separação de cargas, com a frente positiva no lado externo, determinada pelo K+, em contraposição à negativa interna, deteiminada por íons aspártico, fumárico, glutâmico e outros Isso leva a uma diferença de potencial elétrico através da membrana, sendo a face externa positiva em relação ã interna. A saída de K+ não cresce indefinidamente, porquanto a elevação da diferença de potencial logo começa a opor-se eletrostàticamente à saída de K+ . Como conseqüência disso, em dado momento a força (devida à diferença de concentração) que faz os íons K+ sairem da célula é contrabalançada pela diferença de potencial gerada (e que atrai K+ para dentro). Nesse instante ocorre equilíbrio dinâmico, de tal forma que o número de íons K+ que saem é igual aos que entram na célula. O potencial elétrico que equilibra a força originada pela diferença de concentração de K denomina-se potencial de equilíbrio e pode ser calculado pela equação de Nernst:


na qual E = potencial de equilíbrio para o K ; R = constante dos gases perfeitos; T = temperatura absoluta; F = constante de Faraday; Ki = concentração interna de K+ ; Ke. = concentração externa de K+.

A equação de Nernst estabelece que o potencial de equilíbrio do K + é proporcional ao logaritmo da relação entre as concentrações interna e externa. Esse potencial é aproximadamente igual ao potencial de membrana, medido por intermédio de um eletrodo situado no interior da célula e outro no meio extracelular, quando a célula está em repouso funcional.

Enquanto a concentração de K+ é maior no meio intracelular» a concentração de sódio (Na+ ) é maior no extracelular, onde é mantida em níveis elevados porque a membrana tem um dispositivo metabólico que expulsa ativamente íons Na+ no estado de repouso. Se o neurônio é estimulado a estrutura da membrana se deforma e permite a entrada abrupta de Na. Duas situações podem então ocorrer: se o estimulo é pouco intenso (sub-limiar), a entrada de Na+ reduz o potencial de membrana; se o estímulo é intenso (limiar ou supralimiar), a entrada de Na+ é maciça e promove a inversão do potencial de membrana, pois a separação dos íons de Na+ causa uma diferença de potencial como para o K+ , agora porém com a frente positiva voltada para dentro. No primeiro caso é possível registrar a ativação como pequenas reduções do potencial de membrana (despolarizações, potenciais locais, graduados ou eletrotônicos). Tais potenciais se propagam a apenas poucos milímetros ou frações de milímetro do ponto estimulado. Aumentando-se ligeiramente a intensidade do estimulo a despolarização aumenta e facilita a ativação completa da membrana por outros estímulos sub-limiares. Quando, porém, o estímulo é forte, a despolarização é grande e atinge um valor, denominado limiar, que desencadeia um aumento da permeabilidade da membrana ao sódio, levando à inversão do potencial. Ao contrário do que acontece com os potenciais locais, a inversão é um potencial tudo-ou-nada, uma vez que, depois de atingido o limiar, a intensidade do estimulo não o modifica, desde que seja suficiente para provocar um valor igual ou muito maior do que o limiar. Outra diferença importante entre os dois tipos de resposta é que a inversão se propaga ao longo do axônio com amplitude mais ou menos constante, regenerando-se o processo de um ponto a outro até chegar à extremidade. Nas células nervosas essa onda de inversão propagada denomina-se impulso nervoso c pode ser registrada por meio de eletrodos colocados no lado externo ou um no lado externo e outro no interno. O potencial assim registrado denomina-se potencial de ação, que é a manifestação eletrofisiológica do impulso nervoso.

A velocidade de propagação do potencial de ação varia de acordo com o diâmetro da fibra nervosa e com a natureza do tecido. É maior nas fibras mais grossas (fibras motoras, proprioceptivas, fibras do trato piramidal e do trato vestibulospinal), nas quais pode chegar a 120 metros/segundo, do que nas finas (fibras aferentes cutâneas térmicas e dolorosas). É maior nas fibras nervosas grossas do que nas fibras musculares. Nas fibras finas e curtas do sistema nervoso central é ainda incerto que realmente ocorram impulsos nervosos; é provável que a transmissão seja em grande parte de natureza eletrotônica. De qualquer forma essa velocidade é pequena (frações de milímetro por segundo), mas as distâncias a percorrer são, também, extremamente curtas.

Após a inversão da polarização há inversão do processo iônico e refaz-se a diferença de potencial de repouso da membrana, ficando ela pronta a receber novo estímulo. Fisiologicamente isso podo ocorrer centenas de vezes por segundo. As fibras do trato piramidal, por exemplo, podem conduzir impulsos com a freqüência de 800-1000 por segundo.

A transmissão de informações de um elemento para outro, pelo menos nos vertebrados, se faz por intermédio de um dispositivo anatômico altamente diferenciado, a sinapse. Em invertebrados a transmissão pode ser feita, em muitos sistemas, de uma fibra a outra diretamente, no ponto de justaposição, que freqüentemente é uma decussação. Na maioria dos sistemas neurais, porém, as sinapses são constituídas de elementos especializados que permitem estabelecer as condições de transmissão de informações. A terminação axônica se resolve em múltiplos botões terminais, que perdem a camada de mielina (se a fibra é mielíniea) e se apõem à membrana da célula seguinte. A membrana da terminação denomina-se pré-sináptica e a da célula seguinte chama-se pós-sináptica. Entre ambas existe um delgadíssimo espaço, cheio de líquido intersticial, denominado fenda sináptica. No interior da terminação encontram-se numerosas vesículas que contêm moléculas dissolvidas de substâncias responsáveis pela ativação da membrana pós-sináptica, de acordo com o seguinte mecanismo: em condições de repouso funcional da sinapse algumas vesículas saem da terminação ao acaso e libertam na fenda sináptica o seu conteúdo (chamado genericamente mediador químico); a acetilcolina e a noradrenalina são os únicos até o momento indubitavelmente identificados como mediadores. Entrando em contato com a membrana pós-sináptica o mediador combina-se com certos radicais e da combinação resulta a formação de complexos moleculares, que deformam a membrana permeável ao sódio extracelular, causando pequena despolarização, insuficiente para causar ativação da célula; esse processo repete-se muitas vezes no tempo e no espaço e é detectável eletrofisiològicamente sob a forma de pequenos potenciais (minipotenciais) eletrotônicos. Quando chega um impulso à terminação a libertação do mediador é subitamente multiplicada centenas de vezes, de forma que os minipotenciais se somam e podem atingir o limiar do neurônio. Se isso acontece, um potencial de ação nasce no segmento inicial do axónio e se propaga a toda a célula.

Quando há necessidade de inibir um neurônio o complexo molecular formado com o mediador na membrana pós-sináptica causa aumento da permeabilidade ao K+ ou ao Cl e isso, como seria de esperar, acarreta aumento do potencial de membrana localmente, havendo hiper polarização em vez de despolarização. Os potenciais eletrotônicos de despolarização, implicados na excitação celular, denominam-se potenciais excitatórios pós-sinápticos (PEPS); os envolvidos na inibição são os potenciais inibitórios pós-sinápticos (PIPS). Em suma, pois, os processos de excitação são precedidos de PEPS e os de inibição, de PIPS9,10.



MECANISMO E SIGNIFICAÇÃO FUNCIONAL DAS ONDAS CEREBRAIS

As ondas cerebrais representam a resultante de vários tipos de fenômenos eletrofisiológicos que, por sua vez, refletem numerosas operações neurais. Em que pese a vultosa coleção de dados sobre essas operações e aquelas manifestações ainda não é possível estabelecer se as ondas cerebrais, como fenômenos eletrofisiológicos, desempenham alguma função específica ou se constituem apenas um epifenómeno da atividade neural.

Uma das possíveis funções da AEC é a modificação da excitabilidade dos neurônios pelas correntes resultantes da atividade do conjunto. Há muitas evidências experimentais de que isso ocorre, especialmente no que diz respeito a potenciais muito lentos; mesmo para o ritmo alfa parece certo que a excitabilidade cortical e o tempo de reação a um estímulo aferente sofrem modificações de acordo com a fase da onda alfa que esteja ocorrendo no momento em que se aplique o estímulo. O problema, contudo, está ainda em discussão, porquanto há experiências discrepantes. Ainda que se consiga algum dia demonstrar que as ondas cerebrais atuam sobre os elementos neurais de forma definida, não será fácil saber se suas características (amplitude, freqüência, sentido das correntes, relação de fase entre potenciais de áreas vizinhas) são organizadas deterministicamente para provocarem os efeitos que causam ou se causam tais efeitos secundariamente por terem aquelas características.

Esse problema está longe de ser solucionado. O mecanismo das oscilações, porém, já se esboça como uma associação de fenômenos compreensíveis. A investigação desses mecanismos é sumamente difícil, sobretudo por dificuldades de natureza técnica. É impossível conseguir dados simultâneos de mais do que uns poucos neurônios em uma área cortical qualquer. Considerando-se que a densidade de neurônios pode chegar a milhares por milímetro cúbico pode-se ter idéia da extrema limitação técnica com que nos debatemos. Uma solução parcial dessa dificuldade é analisar as manifestações eletrofisiológicas de fenômenos corticais transitórios e relativamente localizados, os quais discutiremos mais adiante.

Os fenômenos eletrofisiológicos que contribuem para as ondas cerebrais são, ao que tudo indica, tanto as alterações parciais do potencial de membrana dos neurônios corticais (PEPS e PIPS) como suas descargas (potenciais de ação) e outros potenciais muito lentos que podem decorrer do conjunto de ação de agregados neuronais amplos1. Os neurônios corticais, agrupados segundo circuitos muito complexos, interagem uns com os outros. Cada um dos neurônios de um circuito deve entrar em ação nos momentos precisos; há instantes em que determinados neurônios devem estar inibidos, para não inteferirem com o funcionamento de outros; nesses momentos eles recebem impulsos inibidores (hiperpolarizantes) a fim de se tornarem inertes ante os impulsos que lhes chegam de diversas fontes. Por outro lado, alguns neurônios são ativados pelos impulsos de outros, que em certas condições podem ser os mesmos que inibem os primeiros acima referidos. Nem sempre esses neurônios realmente descarregam impulsos, restringindo-se todo o processo apenas a PEPS. O resultado é que as correntes excitadoras e inibidoras, que têm sentidos opostos em relação aos pontos celulares inibidos ou estimulados, se compõem e são registradas como oscilações regulares ou irregulares de potencial. Teoricamente, portanto, é de se esperar que, com dispositivos especiais, se possam surpreender os potenciais elementares cuja composição redunda nas oscilações eletrencefalográficas. De fato, o registro do EEG com filtros que permitem a passagem de faixas estreitas de freqüência demonstra a existência de freqüências de 20, 100, 120, 200 e até 500 Hz nos mesmos pontos em que o registro usual evidencia ritmos de baixa freqüência.

Vejamos agora, sucintamente, quais são as provas experimentais de que as ondas cerebrais representam a composição de potenciais eletrotônicos e potenciais de ação de neurônios corticais.

1. Potenciais locais de superfície — A excitação direta do córtex por estímulos elétricos causa resposta bem típica na superfície, constituída de um potencial negativo de breve duração, seguido de outro positivo de baixa voltagem. Se o estímulo é intenso obtém-se um terceiro potencial, agora negativo, gerando um complexo muito semelhante a certas manifestações de focos epileptógenos. O primeiro potencial se deve à ocorrência de PEPS nos 400-500 micra mais superficiais do córtex; o potencial positivo deve-se à ocorrência de PIPS, aparentemente nas mesmas camadas (Fig. 1). Um eletrodo colocado mais profundamente não registra alterações da AEC ao estímulo fraco e efêmero. Esse fato, além de outros que não cabe aqui referir, introduz séria complicação na interpretação dos potenciais corticais. De há muito se considera que o cérebro se comporta elètricamente como um condutor em volume e que, portanto, as alterações de potencial em certa área podem ser registradas em outras, sempre com modificações de forma, amplitude e fase que dependem da distribuição física das correntes num condutor tridimensional homogêneo. No entanto, esse conceito só tem valor relativo, uma vez que a modificação de posição dos eletrodos não só modifica sua posição em relação às linhas de corrente mas também os põe em contato com as proximidades de outras fontes de potencial. O que é válido para um nervo submetido a estímulos padronizados não pode ser válido para estruturas em que a ativação de um elemento acarreta modificações funcionais em outros, de forma conhecida ou desconhecida.


Grundfest e col. 11 desenvolveram ampla análise dos componentes de potenciais elementares corticais, utilizando drogas que seletivamente alteram um ou outro componente. Esses autores verificaram, por exemplo, que a aplicação tópica de GABA (ácido gama-aminobutírico) no ponto em que se registra um potencial local, obtido por estímulo elétrico direto no córtex cerebral, abole totalmente a resposta negativa, que resulta de PEPS, e evidencia uma positiva, resultante de PIPS. A mesma experinécia, feita no córtex cerebelar, leva à abolição do componente negativo mas não evidencia o positivo (Fig. 2). Essas experiências demonstram não só que um mesmo tipo de potencial, nc caso a resposta local cerebral e a cerebelar, embora semelhantes podem envolver componentes diversos e, portanto, informações distintas, mas também que mesmo um potencial simples pode conter elementos inaparentes porque são mascarados.


O segundo componente positivo da resposta local era tido como ocasionado pela ativação maciça de interneurônios corticais. Mas Yamamoto e Kawai22 verificaram, recentemente, que mesmo esse componente é de origem superficial e, portanto, depende dos dendritos apicais. Esses autores conseguiram isolar e manter viva apenas a carnada molecular de blocos de córtex cerebral, contida em uma lâmina de 200 micra de espessura, e registraram típicos potenciais locais em resposta a estímulos breves. Como a camada molecular contém as ramificações apicais dos dendritos das células piramidais essas experiências confirmaram que respostas locais têm origem nessas fibras e independem das conexões intercorticais; o segundo componente positivo só pode originar-se nas fibras, visto que nessa camada praticamente não há corpos celulares.

2. Potenciais evocados, aumentantes e de recrutamento — A estimulação elétrica ou fisiológica de um órgão sensorial provoca, desde que o estimulo seja brusco e efêmero, um potencial bem característico na área cortical sensorial correspondente. Após curta latência ocorre um potencial positivo breve, seguido de outro negativo de duração maior. A esse complexo seguem-se pequenas oscilações cujas características, como no caso do primeiro e do segundo potenciais, dependem da região em que se localiza o eletrodo receptor ativo.

A excitação iterativa dos núcleos relés talâmicos (VPL, VPM, VL) causa, nas áreas corticais somestésica e motora, potenciais semelhantes aos potenciais evocados porém de amplitudes crescentes (daí o nome de potenciais aumentantes que se lhes dá).

A excitação iterativa a baixa freqüência dos núcleos do sistema reticular talâmico (núcleos intralaminares e da linha média) provoca o aparecimento, em certas áreas corticais, de potenciais de recrutamento, assim chamados porque crescem progressivamente até atingirem certa amplitude e, depois, oscilam periodicamente de voltagem enquanto dura a estimulação. Ao contrário do que ocorre com os potenciais evocados, porém, o primeiro potencial é negativo e o segundo, que surge em geral depois do terceiro ou quarto potencial, é positivo. Essas respostas são idênticas aos potenciais elementares que constituem os fusos tão característicos das primeiras fases do sono.

Por serem potenciais transientes que podem ser seguramente controlados e cronàdos as três modalidades eletrofisiológicas acima descritas foram objeto de múltiplos estudos no sentido de se correlacionarem seus componentes com fenômenos elementares dos neurônios corticais e talâmicos2,8,12,I5,20. Esses estudos demonstraram claramente que existe relação entre as ondas registradas no córtex e as modificações do potencial de membrana de neurônios corticais. Creutzfeldt e col.6, registrando simultaneamente o eletrocorticograma e os potenciais intracelulares de neurônios do córtex visual do coelho, verificaram que as ondas corticais positivas correspondem a despolarizações celulares (PEPS) e as negativas a hiperpolarizacões (PIPS); o mesmo acontece no córtex auditivo mas na área motora ocorre o oposto, possivelmente devido à diversidade dos padrões de conexões ou do tipo de neurônio estudado. No que respeita a potenciais evocados e potenciais aumentantes Uchida20 descreveu, no gato, o mesmo tipo de correlação.

Creutzfeldt e col.8 desenvolveram recentemente engenhosa técnica de análise da correlação entre ondas e potenciais celulares e com ela puderam reforçar suas observações anteriores, ao mesmo tempo em que deixaram claro que essa correlação é mais complexa do que aparenta. Eles extraíram de traçados simultâneos, feitos com macro-elétrodos de superfície e micro-elétrodos intracelulares, potenciais de EEG semelhantes e os superpuseram, de modo a obterem ondas relativamente homogêneas em forma e amplitude. Fazendo o mesmo com os traçados simultâneos obtidos com micro-elétrodos e depois comparando-os, puderam evidenciar claramente que existe correlação entre as duas manifestações eletrofisiológicas. As ondas puramente negativas são quase simétricas em relação ao pico e a atividade celular correspondente é predominantemnte excitadora, agrupando-se as descargas na fase ascendente e na descendente. No tipo com dois componentes (negativo e positivo) a atividade celular é caracterizada sobretudo por PIPS precedido de ativação. A evolução temporal do PIPS corresponde aproximadamente ao potencial positivo de superfície. A simplicidade dessas relações, contudo, é aparente, como se pode depreender das relações encontradas quando os potenciais são precedidos de um ligeiro pré-potencial. Tomando-se o ápice deste como zero vê-se que as descargas se agrupam em fase com êle e ocorre um PIPS em fase com o componente negativo do potencial de fuso (Fig. 3).



ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE ELÉTRICA CEREBRAL

Os fatos acima descritos mostram que a manifestação eletrofisiológica resultante, que é a onda eletrocortical, pode envolver fenômenos causais diferentes. A manifestação de superfície da AEC em dado instante depende fundamentalmente do número de elementos ativados ou inibidos, das relações de fase temporal entre eles existente e do sentido das correntes originadas. Estas, obviamente, dependem da geometria de disposição dos neurônios, especialmente das interações dos seus prolongamentos. A complexidade destas últimas é impossível de ser totalmente decifrada. No córtex visual do gato, segundo Sholl18, cada fibra aferente entra em contato com cerca de 5.000 neurônios vizinhos. Isso significa que a ativação de uma fibra do trato genículo-calcarino pode alterar a excitabilidade de milhares de pontos sinápticos, o que se realiza por meio de PEPS e PIPS cujas correntes se compõem e contribuem para a AEC local. Embora a atividade de circuitos autóctones, em áreas restritas do córtex seja essencial para seu funcionamento e, conseqüentemente, para condicionar as oscilações da AEC, os impulsos que a eles chegam é que certamente os põem em atividade e estabelecem as interações intra e intercorticais e córtico-subcorticais. Burns4 desenvolveu técnica que permitiu estudar a atividade de pequenos blocos de córtex neuralmente isolados mas com sua circulação funcionante. Nessas condições verificou que o bloco isolado em geral não apresenta oscilações de potencial. Deixando, porém, pequena ponte de córtex de menos de 5 milímetros de largura entre o bloco isolado e áreas vizinhas já era suficiente para que oscilações reiteradas ocorressem, mostrando que a chegada de informações de outras áreas é essencial para que os circuitos locais entrem em ação. Esse fato é forte evidência experimental de que a atividade funcional de uma área cortical depende de sua interação com outras regiões corticais e subcorticais, uma vez que a atividade elétrica é a manifestação da atividade funcional.

Se os potenciais eletrotônicos e os potenciais de ação celulares atingem a superfície com amplitude suficiente para serem registrados, até mesmo através do couro cabeludo, é óbvio que há somação de múltiplos potenciais a cada instante. Quando se estuda a correlação entre os dois fenômenos eletrofisiológicos só é possível fazer o registro de uma ou de poucas células corticais. Disso resulta, como já dissemos acima, grande dificuldade para se estabelecerem com precisão as relações buscadas. Algumas tentativas, feitas por Verzeano e Negishi21, no sentido de se registrar a atividade elétrica de diversos neurônios tridimensionalmente, revelaram que mesmo em um espaço muito diminuto há uma seqüência definida de descarga em elementos distintos. Essa seqüência pode ser reproduzida quando se aplicam estímulos aferentes à área em estudo. Esses autores demonstraram que a ocorrência de ondas sincronizadas em um campo neuronal, registradas por macro-elétrodos, coincide com aumento da freqüência das espículas geradas pelos neurônios individuais e aumento do agrupamento periódico de tais potenciais.

Estabelecido que os potenciais do EEG correspondem à composição de PEPS, PIPS, potenciais de ação e oscilações muito lentas causadas por agregados neuronais corticais, a pergunta que surge em seguida é: por que razão alguns ritmos cerebrais ocorrem com freqüência baixa e com uma regularidade que surpreende, quando se considera o número de elementos corticais em atividade? Há diversas explicações possíveis para esse fenômeno: 1) a oscilação a freqüências regulares é fortuita e deve-se à simples composição de PEPS, PIPS, potenciais de ação e potenciais lentos que por acaso se compõem a tais freqüências; 2) há microcircuitos cerebrais que oscilam primariamente, devido a uma seqüência definida de PEPS, PIPS e potenciais de ação, e da composição ao acaso dessas oscilações primárias resultam os ritmos regulares; 3) há circuitos marca-passos que oscilam deterministicamente em certas freqüências e as impõem a outros circuitos corticais, originando harmônicos e/ou subarmônicos da AEC. O mais provável é que os três mecanismos desempenhem algum papel mas as provas disso ainda são fragmentárias e não permitem estabelecer com certeza a contribuição de cada um.

Eccles 9,10,11 demonstrou que há circuitos talâmicos que tendem a oscilar quando ativados adequadamente. Circuitos análogos podem existir também no córtex cerebral e no sistema límbico. A aplicação de um pulso aferente (estimulação de um nervo sensorial) provoca no complexo ventrobasal do tálamo (conjunto dos núcleos VPM e VPL) ondulação rítmica com descargas superpostas que ocorrem a intervalos sucessivos de 100 milissegundos. A estimulação do córtex somestésico causa na mesma região talâmica potenciais semelhantes. O registro intracelular de neurônios do complexo ventrobasal mostra PIPS de 100-200 milisegundos, seguidos de PEPS e espículas no ápice destes últimos. O registro simultâneo da AEC cortical mostra um potencial evocado por estimulação aferente, seguido de oscilações mais ou menos em fase com as alterações eletrotônicas registradas no complexo ventrobasal. A ablação crônica do córtex não abole as oscilações talâmicas, o que até certo ponto invalida a antiga teoria de que as oscilações que se seguem ao potencial evocado cortical demandam reverberação tálamo-córtico-tálamo-cortical (Fig. 4).



Os fenômenos descritos por Eccles podem ser explicados de acordo com o seguinte esquema: os neurônios do complexo ventrobasal enviam seus axônios ao córtex e recebem axônios do lemnisco medial; colaterais dos axônios eferentes ativam interneurônios inibidores que inervam recorrentemente os neurônios relés. Assim, a informação que é gerada nesses neurônios acaba gerando sua própria inibição recorrente por PIPS. Ao final dos PIPS os neurônios relés estão em fase de hiperexcitabilidade pós-anódica, a qual provoca PEPS. Sob a ação de interneurônios excitadores, que também estavam sob inibição e entram em hiperexcitabilidade pós-anódica, os neurônios relés podem descarregar impulsos; estes provocam ativação dos interneurônios inibidores, repetindo o ciclo. Uma vez que a extensão da inibição dos neurônios relés seja suficientemente grande esse mecanismo, por si só, pode ser responsável pela oscilação (Fig. 5).





A estimulação de núcleos mediais do tálamo provoca respostas de recrutamento cortical desde que a freqüência de estímulos seja baixa; a excitação a alta freqüência provoca dessincronização cortical. O recrutamento assim obtido é semelhante aos potenciais de fuso encontrados durante as primeiras fases de sono. Registrando-se os potenciais intracelulares de neurônios de núcleos ventrais do tálamo os estímulos de baixa freqüência aplicados aos núcleos mediais causam, também, PIPS; sua latência é grande (15-40 ms), o que sugere a existência de cadeias polissinápticas envolvidas na inibição. Com freqüências altas ocorre, porém, despolarização prolongada dos referidos neurônios, evidenciando a atividade de sinapses excitadoras. É importante lembrar que nessas circunstâncias o registro da AEC mostra dessincronização.

As ondas teta, de freqüência na faixa de 4-8 Hz, são características da AEC do hipocampo e outras estruturas límbicas no estado de vigília e na fase paradoxal do sono. Fujita e Sato13 mostraram que há relação entre as ondas teta e os potenciais intracelulares de células piramidais do hipocampo. Cada PEPS com descarga corresponde a urna onda positiva na superficie. Como Eccles havia demonstrado para o complexo ventrobasal, no hipocampo também há poderosa inibição recorrente, que entra em ação quando as células piramidais são estimuladas. A duração dos PIPS registrados é de 200-500 ms. Uma oscilação de potenciais com essa duração realiza-se, como se pode calcular, a freqüências muito baixas. Após o PIPS há um rebote excitador e as células piramidais emitem descargas (Fig. 6).


Os ritmos cerebrais regulares mais característicos, que são o ritmo alfa, o teta límbico e os fusos do sono, talvez sejam causados mediante combinação de fenômenos como os acima mencionados. Estes foram estudados, em geral, sob condições de estimulação elétrica transitória e, por isso, os referidos fenômenos também se apresentam com caráter efêmero. Em condições naturais, quando os ritmos alfa, teta e os fusos de sono ocorrem reiteradamente, deve haver mecanismos que os mantêm. Para o caso dos fusos do sono tais mecanismos são devidos a centros situados em núcleos da linha média e laminares do tálamo e no núcleo caudado. A obtenção de ondulação exatamente igual por estimulação das referidas estruturas é muito sugestiva de que essa localização seja verdadeira. No caso do ritmo teta hipo-campal pelo menos alguns desses circuitos situam-se na área septal. No que diz respeito ao ritmo alfa, porém, a situação dos marca-passos é totalmente desconhecida. Uma das razões disso é que não existe nos animais abaixo do homem modalidade eletrofisiológica que corresponda exatamente ao ritmo alfa, o que impede investigação técnicamente adequada. Os fusos registrados nas áreas frontoparietais dos mamíferos comumente utilizados em laboratorio são tidos, por alguns, como análogos ao ritmo alfa, porém essa afirmação não é correta, uma vez que tanto a morfologia dos potenciais como sua projeção cortical são inteiramente diversas. É certo, contudo, que o ritmo alfa é provocado pela atividade de algum sistema subcortical de projeção bi-hemisférica. Só assim se torna possível explicar a sincronia tão estreita, porém não absoluta, entre os potenciais alfa de ambos os lados. O desenvolvimento das técnicas de correlação 17 permitiu estudo muito acurado das relações de fase dos potenciais. Utilizando essa técnica Liske e col.16 estudaram as relações de fase entre as derivações P3-O1 e P4-O2, concluindo que não existe sincronia absoluta, sendo, porém, a diferença muito pequena; de 42 indivíduos normais examinados, em 24 encontraram precedência de fase no hemisfério cerebral direito (em média de 0,83 milisegundos).

No que tange aos potenciais de natureza patológica, como as descargas convulsivas e as ondas lentas decorrentes de edema cerebral, pouco se sabe sobre como são provocados. A presença de fenômenos inibidores recorrentes, de distribuição tão ampla e de intensidade tão elevada, deve ser importante para impedir que os circuitos corticais entrem em atividade, quer desordenada, quer sincronizada, provocando convulsões. A injeção de metrazol provoca ondas de superfície negativas simultâneas com despolarização celular8. De início esta droga ativa o córtex cerebral via sistema reticular ascendente19, provavelmente interferindo nas conexões dos dendritos apicais5, e depois provoca potenciais bifásicos (positivo-negativos) de grande amplitude. Nesta fase, que se deve à excitação direta do córtex cerebral, há despolarização maciça dos neurônios com potenciais de ação de alta freqüência agrupados 7.

Pelo que acaba de ser exposto conclui-se que o estudo da atividade elétrica cerebral, no que tange aos seus mecanismos, ainda esbarra com sérias dificuldades. Se a origem eletrofisiológica dos potenciais já começa a ser deslindada, graças ao desenvolvimento das técnicas de registro unitário do córtex cerebral e de estruturas subcorticais, os mecanismos operacionais de controle, que modulam as alterações do potencial de membrana em determinados neurônios, são ainda muito mal conhecidos. O prosseguimento dos estudos com micrométodos deverá trazer nos próximos anos dados significativos para a compreensão clara da origem e da função fisiológica das ondas cerebrais.



REFERÊNCIAS

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Departamento de Fisiologia — Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo — Caixa Postal 2921 — São Paulo, SP — Brasil. 
Relatório apresentado ao II Congresso Brasileiro de Eletrencefalografia e Neurofisiologia Clínica (Porto Alegre, 5 a 9 de julho — 1970).

Ondas Cerebrais e os Tons Isocrônicos


O cérebro humano é um órgão complexo em constante trabalho, enviando sinais elétricos, comunicando, construindo novas conexões neurais, etc. Essa atividade elétrica gerada pelo cérebro, também conhecido por “ondas cerebrais”, refletem nossos estados mentais. A realidade não é fruto apenas das influências externas, mas sim, de um processo interno baseado nos nossos pensamentos, percepções e emoções, e assim, diversas frequências variantes manifestam a realidade. Existem cinco tipos diferentes de frequências cerebrais  – Beta, Alfa, Theta, Delta e Gamma.

São ocorrências naturais biológicas em que todos os seres humanos experienciam diferentes estados em diversos momentos do dia, e geralmente um desses estados é dominante. Você sabia que cada onda cerebral possui suas próprias características que representam um estado particular de consciência? Cada um dos estado de ondas cerebrais ocorrem em uma faixa de freqüência específica que é medida em ciclos por segundo (Hz). Cada um dos tipos de ondas cerebrais desempenha um papel fundamental em nosso desenvolvimento mental durante a nossa infância, e hoje, eles desempenham um papel importante na manutenção da nossa saúde e vitalidade como adultos. Hoje vamos falar dos diferentes estados de ondas cerebrais, os benefícios associados e experiências –

Beta (12 à 30 Hz)
A frequência Beta é nosso estado normal de consciência desperta. É associado com altos estados de alerta, raciocínio lógico, capacidade de resolver problemas, concentração, o momento quando a mente está ativamente engajada em atividades mentais. Como por exemplo, uma pessoa em um bate papo, praticando esportes ou fazendo uma apresentação estaria em um estado Beta. A frequência Beta é necessária para o nosso funcionamento eficaz na vida diária. Mas em níveis mais altos, resultam em estresse, ansiedade e inquietação.

A maioria das pessoas passam sua vida desperta em estado beta. Não é de se surpreender que muitas pessoas experimentam altos níveis de estresse no mundo de hoje.

Alfa – (8 à 12 Hz)
As ondas Alfa são mais lentas comparadas às Beta, que se transforma em um estado altamente relaxado de consciência. É um padrão de ondas cerebrais encontrado em pessoas que são naturalmente calmas e criativas. É um estado que parece como se você estivesse sonhando, ou quando se fecham os olhos ao meditar. Esta frequência aumenta a sua imaginação, memória, concentração, criatividade, reduz o stress para que se possa concentrar na aprendizagem e no desempenho. A prática da meditação resulta em um aumento das ondas Alfa, portanto, muitas técnicas de meditação e cura energética utilizam ondas Alfa do cérebro para relaxamento e cura. Até mesmo o uso de Cannabis tem sido associada ao aumento desta frequência no cérebro. Na infância tendemos a ter níveis muito maiores de ondas Alfa do que na fase adulta.

As ondas cerebrais alfa são consideradas as mais saudáveis das ondas cerebrais e o 10 Hz tem sido amplamente aceito como a “mais segura” frequência de ondas cerebrais para exercitar a mente.

Theta – (4 à 7 Hz)
A frequência Theta ocorre durante profundos relaxamentos e meditação, sono leve ou em sonhos lúcidos, incluindo o estado de sono REM. É o renio do subconsciente, onde a mente é capaz de produzir insights profundos, como fortes intuições, auto-cura e unidade – no estado Theta, nossas mentes se conectam com o universo e manifestam as possíveis melhorias da vida. Você também pode experienciar visualizações vívidas, inspiração e criatividade. A menor frequência do cérebro é a que mais facilita o aprendizado. As práticas de meditação e yoga são creditadas como tão relaxantes por induzirem à mente em um estado de transe que passa a gerar ondas Theta. Pessoas tendem a ter experiências paranormais e psíquicas quando o cérebro está repleto de ondas Theta. Boa parte das crianças e adolescentes tendem a ter esse padrão de ondas cerebrais.

Delta – (0.5 à 4 Hz)
As ondas Delta são as mais lentas em frequência, porém as mais altas em amplitude. Observadas em profundidade, sonos sem sonhos, essa frequência é o portal para a mente universal e a consciência coletiva, onde a informação que é recebida está, na maioria das vezes, indisponível ao nível consciente. Os estados mentais nessa frequência têm sido associados há muito tempo com a cura pelo fato do sono profundo ser necessário para os mecanismos de regeneração e auto cura do nosso corpo! Na meditação, as ondas Delta auxiliam o acesso à mente inconsciente. É uma onda cerebral dominante nas crianças (do nascimento aos 24 meses) e nos adultos durante o sono profundo.

Gamma (25 à 100 Hz)
A onda Gamma é a frequência mais rápida em que o cérebro pode funcionar, onde o indivíduo experiencia rajadas de insights e um alto nível de processamento de informação. Experimentos feitos pelos Monges Tibetanos Budistas tem demonstrado a correlação entre estados mentais transcendentais e as ondas Gamma. Quando os monges foram convidados à gerar sentimentos de compaixão, sua atividade cerebral foi para frequência Gamma de uma forma rítmica e coerente. É o estado de ser “in the zone” (algo como “no ponto”), o sentimento de que você é capaz de realizar qualquer coisa.
























Alterando os Estados das Ondas Cerebrais

Todos nós experienciamos essas frequências de ondas cerebrais durante diferentes momentos do nosso dia a dia, o que nos leva à diferentes níveis de consciência. Quando você está acordado, você está em uma frequência de ondas cerebrais diferente comparado à quando você está dormindo. Você pode alternar seus padrões de ondas cerebrais a favor de alcançar outros níveis de consciência. Por exemplo, se você não consegue pegar no sono a noite quando se sente estressado, você pode sincronizar sua onda cerebral à uma frequência correspondente para dormir ouvindo música.

Essa técnica de sincronização das frequências cerebrais com uma estimulação externa de áudio é conhecido como “Brainwave Entrainment” (ou “Arrastamento de Onda Cerebral”). Com esse processo continuado por algum tempo (minutos), as ondas cerebrais são sintonizadas ao som externo e então alcança a frequência particular do nível do som (alfa, theta ou delta). Mas você não precisa de estímulos externos se você pode meditar. Durante a meditação, alcança-se estados de calma e relaxamento, que é o estado Alfa de consciência. À medida que a meditação se aprofunda você se encontra mais calmo e concentrado e o nível das ondas cerebrais chega ao estado Teta e, finalmente, para Delta. Ouvir este tipo de frequência para meditar além de ser ótimo, é surpreendente! 

Formas de Arrastamento de Ondas com Batidas Bineurais (Binaural Beats)

Como o som com uma frequência menor que 20 Hz pode ser audível ao ouvido humano? A resposta está na especialização do som conhecido como Batidas Bineurais. O que essas “batidas” fazem é simples – tocando duas diferentes frequências em cada ouvido (usando fones), o cérebro detecta a diferença entre as duas frequências e sintoniza uma terceira ‘batida bineural’. Então, se você tocar 400Hz no ouvido direito, e 410Hz no ouvido esquerdo, seu cérebro produz uma terceira frequência que pulsa a 10Hz, que é a diferença entre os dois tons. 10Hz é equivalente à frequência Alfa, que gera relaxamento, meditação e pensamento criativo. Binatural Beats podem gerar excelentes resultados e te ajudar de muitas formas.

Existem vários tipos de Binatural Beats, há também aqueles que geram sensações que só são provenientes de uso de enteógenos. Abaixo segue um gráfico que mostra a diferença dos hemisférios antes e depois de uma sincronização com ondas Theta, em estado Normal, Após 15 Minutos e Após 25 Minutos:


Tons Isocrônicos

Os Tons Isocrônicos são ainda mais intensos que as Batidas Bineurais e são considerados mais eficientes. O tom isocrônico é um único tom que liga ou desliga um padrão em particular no cérebro. Cada um dos tons são diferentes e espaçados, sendo capaz de criar uma impressão duradoura no cérebro. Mas você não tem que usar os fones especificamente, pode simplesmente rodar o som em qualquer aparelho e desfrutar de seus benefícios.

Basicamente, com os tons Isocrônicos nossos cérebros tem muito menos trabalho para obter os mesmos efeitos que com as Batidas Bineurais – o que nos permite sentir-nos mais relaxados, obtendo um estado poderoso e pacífico de meditação e maior visão perante o mundo. Muitas pessoas que não respondem bem às Batidas Bineurais, geralmente respondem muito bem aos Tons Isocrônicos. Entretanto, para uma mudança de foco espiritual, você precisa usar os métodos tradicionais de meditação como ferramenta primária para acessar dimensões elevadas.

Onda cerebral II


Onda cerebral ou oscilação neuronal é atividade rítmica ou repetitiva no sistema nervoso central. O tecido neuronal pode gerar atividades oscilatórias de diferentes maneiras, cada um uma delas conduzida por mecanismos de neurônios individuais ou por meio da inteiração entre neurônios. Em neurônios individuais, oscilações podem aparecer também como oscilação na membrana potencial ou como padrões rítmicos, os quais produzem ativação oscilatória de neurônios pós-sinápticos. No nível do reagrupamento neuronal, a atividade de sincronização de um largo número de neurônios pode dar lugar a oscilações macroscópicas, que podem ser observadas por meio de eletroencefalograma. A atividade oscilatória em um grupo de neurônios geralmente surge a partir de um feedback de conexões entre os perônios que resultam na sincronização de padrões. Um exemplo conhecido de oscilação neuronal macroscópica é a atividade alpha. A oscilação neuronal foi observada pela primeira vez por pesquisadores em 1924 (por Hans Berger). Mais de 50 anos depois, o comportamento oscilatório intrínseco foi encontrando em neurônios de vertebrados, mas o seu papel funcional ainda não é completamente compreendido. As possibilidades de atuação da oscilação neuronal incluem vinculação neural, mecanismo de transferência de informação e a geração de motor rítmico de output. Ao longo das últimas décadas, mais conhecimento tem sido adquirido nesse campo, principalmente com o avanço da neuroimagem. A maior parte da pesquisa em neurociência envolve a determinação de como as oscilações são geradas e quais são seus papeis. A atividade oscilatória no cérebro é largamente observada em diferentes níveis de observação e é pensada para desempenhar um papel fundamental no processamento de informação neuronal. Numerosos estudos experimentais sustentam um papel funcional para as oscilações neuronais, no entanto, ainda falta uma interpretação unificada.

Visão Geral

Ondas cerebrais ocorrem no sistema nervoso central em todos os níveis. Em geral, essas ondas podem ser caracterizadas pela sua frequência, amplitude e fase. As propriedades desses sinais, podem ser obtidas usando Análise tempo-frequência. Em oscilações de larga escala, alterações de amplitude são consideradas resultado de alterações de sincronização nas células do sistema nervoso central, também conhecido como sincronização local. Além desta, atividades oscilatórias envolvendo estruturas neurais distantes (neurônios simples ou estruturas de neurônios), podem entrar em sincronia. Oscilações e sincronizações neurais foram associadas a várias funções cognitivas, tais como: transferência de informação, percepção, controle motor e memória. Oscilações neuronais foram mais amplamente estudadas em atividade neural gerada por grandes grupos de neurônios.

Onda cerebral I



Onda cerebral es la actividad eléctrica producida por el cerebro. Estas ondas pueden ser detectadas mediante el electroencefalógrafo y se clasifican en:

ondas delta (1 a 3 Hz)
ondas theta (3,1 a 7,9 Hz)
ondas alpha o ritmo mu (8 a 13 Hz)
ondas beta (14 a 29 Hz)
ondas gamma (30 a 100 Hz)

Ondas delta
Las ondas delta son oscilaciones, resultado de la representación de la actividad cerebral frente al tiempo, estas dada su naturaleza presentan una periodicidad, su rango de frecuencias es de 1-3 Hz, también suelen oscilar entre un rango de 0.1 - 4 Hz. Estas son detectadas en el cerebro humano a través de un electroencefalograma. Normalmente están asociadas con etapas de sueño profundo.
También se puede medir la actividad electromagnética del corazón, donde la presencia de ondas delta se asocia con el síndrome de Wolff-Parkinson-White.
En la actividad cerebral, estas ondas se presentan en las etapas tres y cuatro, en casos de daño cerebral y coma. Las ondas delta se presentan en sueño profundo sin soñar y no están presentes en las otras etapas del sueño (1,2 y de movimiento rápido de ojos)

Onda theta
Las ondas Theta son oscilaciones electromagnéticas en el rango de frecuencias de 3.5 y 7.5 Hz que se detectan en el cerebro humano a través de un electroencefalograma.
Normalmente están asociadas con las primeras etapas de sueño, fases 1 y 2. Se generan tras la interacción entre los lóbulos temporal y frontal.

Ondas alfa
Las ondas alfa son oscilaciones electromagnéticas en el rango de frecuencias de 8-13 Hz que surgen de la actividad eléctrica sincrónica y coherente de las células cerebrales de la zona del tálamo, también son llamadas «ondas de Berger», en memoria de Hans Berger, el primer investigador que aplicó la electroencefalografía a seres humanos.
Las ondas alfa son comúnmente detectadas usando un electroencefalograma (EEG) o un magnetoencefalograma (MEG), y se originan sobre todo en el lóbulo occipital durante períodos de relajación, con los ojos cerrados, pero todavía despierto. Se piensa que representan la actividad de la corteza visual en un estado de reposo. Estas ondas se enlentecen al quedarse dormido y se aceleran al abrir los ojos, al moverse o incluso al pensar en la intención de moverse.
Una onda similar a las alfa, llamada mu (μ) es a veces observada sobre la corteza motora y se acelera con el movimiento o incluso con la intención de moverse.

Ondas beta
Las ondas beta son oscilaciones electromagnéticas en el rango más alto de frecuencia (12 Hz-30 Hz) que se detectan en el cerebro humano a través de un electroencefalograma. Están asociadas con etapas de sueño nulo, donde se está despierto y consciente y las ondas son más frecuentes en comparación con las ondas delta, alfa y theta.

Ondas gamma
Las ondas gamma son un patrón de oscilación neuronal que tiene lugar en los seres humanos, cuya frecuencia oscila entre los 25 y los 100 Hz,​ aunque su presentación más habitual es a 40 Hz. Se ha teorizado que las ondas gamma podrían estar implicadas en el proceso de percepción consciente,​ pero no hay acuerdo unánime al respecto.

Historia
Las ondas gamma fueron desconocidas hasta el desarrollo de la electroencefalografía digital, dado que las limitaciones de la electroencefalografía analógica solamente permitían medir y registrar ritmos más lentos que 25 Hz (esto es, de menos hercios). Uno de los primeros informes al respecto procede de un estudio con monos del año 1964, en el que se realizaron grabaciones de la actividad eléctrica de unos electrodos implantados en la corteza visual.

sábado, 14 de abril de 2018

Martinismo Jean Bricaud


De todas as Ordens da Maçonaria Iluminista que floresceram na França durante o século XVIII, nenhuma teve influência comparável àquela que entrou para a história sob o nome de Martinismo. O surgimento desta Organização coincidiu com a de um estranho personagem chamado Joachim Martinez Pasqually. Ainda hoje alguns afirmam que ele pertencia a uma raça oriental, enquanto outros dizem que Pasqually era um judeu Polaco. Na verdade, nada disso é verdade. Sua família veio de Alicante na Espanha, onde seu pai nasceu em 1671, de acordo com as credenciais maçônicas apresentadas por seu filho em 26 de Março de 1763 na Grande Loja da França. De acordo com o mesmo documento, Joachim Martinez Pasqually nasceu em Grenoble no ano de 1710. Além disso, em 1769 durante o curso de um processo legal contra Du Guers, atestou ser Católico. Portanto, não era Judeu.

Martinez Pasqually que também se intitulava Don Martinez de Pasqually, passou a vida ensinando nas Lojas, na forma de um rito maçónico elevado, um sistema religioso ao qual deu o nome de: Elus Cohens, ou Sacerdotes Eleitos (Cohen em hebraico significa Sacerdote). Apenas aqueles maçons do grau de Elus eram admitidos nos Elus Cohen. Martinez viajou, de maneira misteriosa, por várias partes da França, sobretudo pelo sul e sudoeste deste país. Costumava deixar uma cidade sem dizer para onde ia e chegar a um lugar sem revelar de onde vinha. Enquanto propagava sua doutrina, conseguia adeptos nas Lojas de Marseilles, Avignon, Montpellier, Narbonne, Foix e Touluse. Se estabelece finalmente em Bordeaux em 1762, onde se casou com a sobrinha de um antigo auxiliar do Regimento Foix.

Em Bourdeaux, Martinez ingressa na Loja La Française, que era a única, das quatro lojas simbólicas, activa na cidade, naquele tempo. Martinez se empenhou em reviver o entusiasmo dos maçons de Bordeaux e após assegurar a cooperação de vários deles, escreveu para a Grande Loja da França em 1763: “Instituí um templo em Bourdeaux à Glória do Grande Arquitecto, compreendendo as cinco ordens perfeitas que administro sob a constituição de Charles Stuart, Rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra, Grão-Mestre de todas as lojas regulares espalhadas pela superfície da terra, e que estão hoje sob a protecção de George William, rei da Grã-Bretanha, e sob a Grande Loja intitulada “Elested and Scottish Perfection”. Na mesma época, dirigiu à Grande Loja uma cópia do certificado em Inglês. Pasqually dirigiu esta instituição na qualidade de Grão Mestre do Templo.

Após a troca de várias correspondências, a Grande Loja da França acabou emitindo um documento formal a Martinez, autorizando a constituição de sua Loja sob o nome de “Française Elue Ecossaise” nome registado na Grande Loja em 1º de Fevereiro de 1765. Neste mesmo ano partiu para Paris onde esteve em contacto com vários maçons eminentes incluindo os Irmãos Bacon de la Chevalerie, de Leisignan, de Loos, de Grainville, Willermoz e alguns outros a quem deu suas primeiras instruções. Com o auxílio destes irmãos fundou em 21 de Março de 1767 fundou o seu Sovereign Court (Supremo Conselho) de Paris, apontando Bacon de Chevalerie seu vice.

Em 1770 o Rito dos Elus Cohens contava com templos em Bordeaux, Montpellier, Avignon, Foix, Libourne, La Rochelle, Versailles, Metz e Paris. Outro templo estava prestes a se abrir em Lyon, graças aos esforços do Irmão Willermoz que viria a ser a figura mais activa e importante do rito de Martinez. O Rito dos Elus Cohens consistia de nove graus, divididos em três partes principais, como se segue:

1ª – Aprendiz, Companheiro, Mestre, Grão-Elu e Aprendiz Cohen.

2ª – Companheiro Cohen, Mestre Cohen, Grande Arquiteto, Cavaleiro Grão Comandador ou Grão-Elu de Zorobabel.

A terceira parte era secreta e reservada aos Réaux-Croix, uma espécie de elite dos Rosa-Cruzes.

Embora Martinez não tenha deixado um trabalho escrito completo referente aos seus ensinamentos, graças ao texto (incompleto) “Traité de la Réintegration des Etres” (Tratado da Reintegração dos Seres Criados), as informações sobre seus escritos e um estudo das reuniões de seus adeptos, é possível reconstruir essa etapa da história.

Como muitos de seus contemporâneos que estavam alarmados com a materialidade dos filósofos, Martinez lutou a fim de resistir a esta tendência que prevalecia entre os intelectuais da época. Contra aqueles que defendiam o materialismo ele colocou uma vigorosa resistência na forma de uma idealização da vida, uma mudança de atitudes com relação à atracção dos apetites físicos. Afirmava que em cada ser humano havia algo divino emborca adormecido e que era preciso reviver. Segundo Martinez esta centelha divina poderia ser inflamada a ponto de ser quase que inteiramente libertada do materialismo.

Sob tais condições o homem é capaz de adquirir poderes os quais lhe permitirão se “comunicar com seres invisíveis, chamados pela Igreja de Anjos e obter não apenas uma santidade pessoal, mas também a santidade de todos os discípulos de boa vontade”. Transformar o homem desta forma seria regenerá-lo e reintegrá-lo gradualmente em seu estado original; seria capacitá-lo a atingir aquele estado perfeito que cada indivíduo e sociedade deveria buscar, já que o Iluminismo Martinista também incluía actividade social colectiva. Contudo, não é possível alcançar este estado de perfeição imediatamente. Muitas mentiras se acumularam durante séculos e muitos preconceitos pesaram sobre a humanidade. É necessário permitir que a Luz se espalhe pouco a pouco, de outra forma seria por demais ofuscante cegando a humanidade ao invés de iluminar o verdadeiro caminho. Por este motivo é que Martinez distribuiu seus ensinamentos em pequenas doses e por graus. Ele queria que os adeptos – aqueles chamados a adentrarem os mais profundos mistérios da iniciação – buscassem, de qualquer forma, a devoção ao estudo dos segredos da Natureza, das Ciências Ocultas, dos altos ramos da Química, Magia, Cabala e do Gnosticismo, a fim de, aos poucos, chegar aos graus do iluminismo e da perfeição. Esta doutrina atingiu um surpreendente sucesso e a Grande Loja da França, logo compreendeu que como resultado de todos os ritos místicos ocorreu uma grande adesão de membros e se fazia necessário preservar com muito cuidado o segredo de suas tarefas misteriosas.

Entre os discípulo de Martinez muitos ficaram famosos, entre eles estão o Barão d’Holbach autor de “Systéme de la Nature”; o Cabalista e Hebraísta Duchanteau, inventor do “Calendário Mágico”, que morreu após uma bizarra experiência alquímica, realizada na Loja “Amis Réunis” em Paris; Jacques Cazotte, o célebre autor de “O Diabo Amoroso”; Bacon de la Chevalerie; Willermoz, que desempenhou um importante papel na Maçonaria; e finalmente o “Filósofo Desconhecido”, Louis Claude de Saint-Martin.

Saint-Martin servia como tenente no Regimento Foix quando ouviu falar de Martinez de Pasqually e seu Rito dos Elus-Cohen. Após se retirar do exército, dirigiu-se a Bordeaux onde foi iniciado nos graus Cohens pelo irmão de Balzac. Trabalhou por três anos como secretário de Martinez tendo contato com os principais adeptos. Seus árduos estudos o fizeram atingir um notável progresso, rapidamente, levando-o a penetrar o profundo Iluminismo Martinista. Viajava frequentemente a Lyon, que veio a ser um influente centro do Rito. Em Lyon Saint-Martin fez um esboço do livro “Dos Erros e da Verdade”, que teve um grande impacto sobre as idéias maçônicas no final do século XVIII. Saint-Martin que era de natureza cortês, modelada por uma intensa atividade intelectual, se via perturbado e até alarmado pelas operações que envolviam a Magia, associadas aos ensinamentos de seu Mestre. Aos poucos ele se retirou das práticas ativas, dedicando-se ao Réaux-Croix, a fim de se devotar unicamente ao estudo do misticismo e espiritualismo. Dirigiu-se então a Paris, onde foi muito bem recebido pela alta sociedade. As mulheres, em particular, discutiam entre si imaginando quem teria o privilégio de sua companhia e muitas delas lhe pediram orientação espiritual. Saint-Martin se viu obrigado a formar uma espécie de grupo, puramente espiritualista que excluía cerimônias ritualísticas e operações envolvendo Magia. Sem romper com seus irmãos Cohens, seguiu, cada vez mais, o caminho do desenvolvimento de teorias filosóficas contidas no sistema de Martinez, as quais ensinava oralmente e através de seus escritos. Até a eclosão da Revolução Francesa, Saint-Martin se alternava entre as orientações a seus adeptos e viagens ao exterior onde estabeleceu contacto com os escritos de Jacob Boheme um “Iluminati”.

Saint-Martin estava bastante preocupado durante o Reino do Terror Francês em 1793. Contudo, alguns de seus antigos discípulos que chegaram ao poder, o protegeram e graças a eles ficou livre de ser interrogado diante de uma corte revolucionária. Morreu em 1803 deixando vários adeptos em diferentes países da Europa. Sempre surgem confusões referentes à descrição do “Martinista” como sendo discípulo de Martinez ou de Saint-Martin. Embora as teorias fossem as mesmas, havia uma grande diferença de pensamento entre as duas escolas. A escola de Martinez permaneceu com o formato de uma alta Maçonaria, enquanto a de Saint-Martin se remetia aos não iniciados rejeitando, portanto, as práticas e cerimônias as quais a primeira dava tanta importância.

Após a morte de Martinez (no Haiti) o influente mestre Caignet de Lestére, seu sucessor, se sentia incapaz de se devotar ativamente à Ordem; sisões ocorreram. Ele morreu em 1778 após transferir seus poderes ao grande mestre Sébastien de las Cases. Este não considerava necessário restaurar as relações interrompidas entre diferentes templos dos Elus-Cohen e reestabelecer a unidade dentro do Rito. Pouco a pouco as atividades do templo se paralizaram. Foi então que o presidente dos Elus-Cohens de Lyon, Jean Baptiste Willermoz, com o objetivo de preservar a Tradição Martinista, decidiu introduzi-la no Rito da Estrita Observância Templária, do qual era um dos respeitáveis presidentes. Este ato contou com o apoio do vice Grão- Mestre dos Elus-Cohens, Bacon de la Chevalerie.

Sabe-se que a Estrita Observância Templária da Alemanha enviou um grupo do seu movimento à França. Seu centro era em Lyon, na Loja “La Bienfaisance”. Sob a influência de Willermoz, a Estrita Observância Templária francesa dirigiu-se gradualmente rumo ao Martinismo.

Por ocasião da assembléia geral dos Franco-Maçons gauleses, organizada em Lyon por Willermoz em 1778, se temia que o ressurgimento da Ordem do Templo pudesse levantar suspeitas por parte da polícia; assim sendo foi decidido que a Estrita Observância substituiria os Templários franceses pelos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS). Os Cavaleiros Benfeitores de Lyon liderados por Willermoz, consideravam a Estrita Observância uma escola preparatória, por onde os Eleitos eram introduzidos nos círculos internos do Martinismo. A Estrita Observância francesa decidiu conduzir o grupo mãe a um caminho que eles mesmos se comprometeram a seguir. Com esse objetivo Willermoz acrescentou dois graus secretos aos seis já existentes na Estrita Observância e em 1782 compareceu à assembléia geral dos Franco-Maçons em Wilhelmsbad, Alemanha, com a intenção de assegurar o sucesso de seu sistema. Willermoz teve o apoio de dois Irmãos, que eram os membros mais influentes da Franco-Maçonaria Templária, o Príncipe Ferdinando de Brunswick e o Príncipe Charles de Hesse. Contudo, os Iluminados Martinistas franceses se depararam com poderosos adversários, os Iluminados da Bavária. A assembléia de Wilhelmsbad veio a ser uma implacável e desesperadora luta entre Martinistas franceses e os Iluminados da Alemanha, resultando no triunfo do Martinismo.

Willermoz foi capaz de apresentar seus planos de reforma e novos rituais à Assembléia. Mais que isso, conseguiu o título de Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, aceito por todos os Irmãos da Ordem Interna, como era na França. conseqüentemente, o ritual Escocês seguiria, em grande parte, o ritual de Lyon, no qual Willermoz havia inserido referências preparatórias para a Doutrina Martinista. Por fim, uma Comissão especial comandada por Willermoz foi incumbida com a tarefa de redigir rituais e instruções dos presidentes do Regime Interno, que incluíam, no seu ápice, os dois graus Martinistas secretos, praticados na Estrita Observância de Lyon.

Obs.: A Estrita Observância era uma Ordem Templária fundada na Alemanha por volta de 1754 e mais tarde espalhada pela França onde os Templários Franceses vieram a ter o nome de “Chevaliers Bienfaisants de la Cité Sainte” (CBCS), que é hoje o Rito Escocês Retificado. Seus graus eram:

1º Aprendiz,
2º Companheiro,
3º Mestre,
4º Mestre Escocês (Maitre Escossais),
5º Escudeiro Noviço(Ecuyer Novice),
6º C.B.C.S. (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa), ao qual foi adicionado “Professo”, classe de dois graus:
7º Cavaleiro Professo(Chevalier-Profès
8º Cavaleiro Grão-Professo(Grand-Profès).

As conferências destes dois graus secretos são aquelas dadas nesse volume. Os “Cavaleiros Benfeitores” ainda existem nos dias de hoje, mas os dois graus secretos introduzidos por Willermoz desapareceram, não estando presentes nos trabalhos atuais. A Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa não foi restaurada na França até 1806. Ela reivindicava imediata filiação com a Grande Loja com a qual a Estrita Observância já havia tido tratados anteriormente. Assim como os Martinistas Elus-Cohens eles não reassumiram suas tarefas oficialmente. Contudo, Bacon de la Chevalerie, vice Grão-Mestre dos Elus-Cohen para a região norte, tomou posse em 1808, por virtude de sua posição, no Grande Consistório dos Ritos da Grande Loja da França. Mesmo assim, apesar de suas insistentes solicitações, não conseguiu o reconhecimento da Ordem junto ao corpo da Grande Loja. Em uma carta data de de 5 de Agosto de 1808, endereçada ao Irmão Marquês de Chefdebien, lamentou a falta de atividade e “absoluto silêncio dos Elus-Cohen, atuando ainda com extrema reserva o cumprimento de ordens do Mestre Supremo”.

Na Suíça, o sistema Martinista dos Cavaleiros Benfeitores estava operando por intermédio da “Directoire de Bourgogne” que transmitiu seus poderes à Diretoria Suíça. Acredita-se que este ramo se tornou o atual Regime Escocês Retificado. Willermoz morreu em Lyon em 1824, transmitindo seus poderes e instruções Martinistas a seu sobrinho Joseph-Antoine Pont do Regime Escocês Retificado. Assim como os antigos membros da Ordem dos Elus-Cohen, eles continuaram a propagar as doutrinas de Martinez, tanto individualmente como em grupos secretos formados por nove pessoas chamadas de Areopagitas Cabalistas. Os ensinamentos ocultos de Martinez foram, portanto transmitidos no século XIX, de um lado pelos Elus-Cohens, dos quais um dos últimos representantes foi o influente Mestre Destigny que morreu em 1868; e por outro lado, por alguns Irmãos do Rito Escocês Retificado que preservaram as instruções secretas de Willermoz.

Finalmente, os discípulos de Saint-Martin espalharam a doutrina do Filósofo Desconhecido na França, Alemanha, Dinamarca e sobretudo na Rússia. Foi através de um deles, Henry Delaage, que em 1880, um jovem ocultista parisiense, Dr. Encause (Papus) tomou conhecimento da doutrina de Saint-Martin decidindo se tornar seu paladino. Com esse objetivo, fundou em 1884, com alguns de seus associados, uma Ordem mística que chamou de Ordem Martinista. Muitos Franco-Maçons que tinham interesse em assuntos místicos e ocultos se juntaram a esta Ordem.

Até aquele momento, o Dr. Encause não sabia que a transmissão da tradição Martinista dos Elus-Cohens nunca fora quebrada e nunca deixou de ter seus representantes, tanto em Lyon como em várias cidades do exterior (em Lyon os Irmãos Bergeron e Brébanalomon; na Dinamarca Carl Michelsen e no Estados Unidos, Dr.Edward Blitz). O Dr. Edward Blitz, Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa e pertencendo aos altos graus do Memphis-Misraim foi o sucessor direto de Willermoz e de Antoine Pont. Tornou-se presidente do Supremo Conselho da Ordem Martinista, para os Estados Unidos, retomado por Papus. Em 1901, na qualidade de herdeiro de Martinez, decidiu reestabelecer a Ordem nos Estados Unidos com base na antiga tradição. Seu representante na França, Dr. Fugairon e mais tarde Charles Détré (Téder) tinha carta branca para agir com tal objetivo. De fato, Téder em concordância com Papus, organizou um congresso de Ritos Maçônicos em Paris (1908) a fim de ligar a Ordem Martinista aos Altos Graus da Franco-Maçonaria.

Por fim, em 1914, após um acordo com o Grão-Mestre do Rito Escocês Retificado (Dr. De Rib…) ficou decidido criar um Grã Capítulo Martinista consistindo unicamente de altos graus maçônicos, que serviria de ligação entre o Martinismo e o movimento Escocês Retificado. Novos eventos provocados pela guerra, a morte do Grão-Mestre Papus (1916), e principalmente as mudanças promovidas pelo Grão-Mestre do Rito Escocês Retificado na França, impediram este plano de ser realizado. O sucessor de Papus, o Irmão Charles Détré (Téder) morreu em 1918, transferindo seus poderes ao Irmão Jean Bricaud de Lyon. Este, durante a reorganização do Martinismo após a guerra, restabeleceu a Ordem nos sólidos fundamentos da Franco-Maçonaria simbólica e fora decretado que somente aqueles maçons pertencentes ao grau de Mestre poderiam ingressar na Ordem Martinista.

Em 25 de Setembro de 1918, após a morte de Téder, o Irmão Jean Bricaud foi apontado Grão-Mestre da Ordem Martinista. Ele havia estado em contacto com Dr. Blitz por intermédio do Dr. Fugarion e do próprio Téder. Se comunicou com os últimos representantes do movimento de Willermoz em Lyon, Dr. L. e o Sr. C. em particular, colectando seus ensinamentos. Pertenceu portanto à linha tradicional dos discípulos de Martinez, dos quais Saint-Martin havia formalmente se desligado a fim de se refugiar no espiritualismo puro e oferecer aos adeptos, no mais absoluto ecletismo, livre acesso a todo caminho do misticismo. Além do mais, Papus, assim como Saint-Martin, solicitava àqueles fora da organização, uma única coisa: Boa Vontade! Teoricamente isso era muito bom, mas como o Iluminismo estava em questão, boa vontade muitas vezes significava mera curiosidade. Contudo, o problema da Reintegração não pode ser resolvido pela curiosidade ou por uma boa vontade comum.. Para alcançar tal objectivo é preciso que o discípulo tenha uma qualidade ternária, aquela do espírito, da alma e do corpo. É exactamente este discípulo que os ensinamentos dos Elus-Cohens atingiam, ensinamentos que sequenciavam aqueles da Estrita Observância e dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa.. Bricaud compreendeu isto desde o princípio, e portanto, trabalhou a fim de ligar o Martinismo de Papus aos discípulos do Gnosticismo.

Em 1911 Papus assinou um tratado sob o qual reconheceu a Igreja Gnóstica Universal como a Igreja oficial do Martinismo. Com isso, ele ligou a Ordem que reviveu à secular doutrina Ocidental da qual Martinez extraiu sua inspiração, no princípio. Este tratado, confirmado e ampliado por Téder em 1917, numa segunda versão, deu aos membros do Alto Sínodo Gnóstico o direito de ter representantes dentro do Supremo Conselho Martinista, com base na reciprocidade. Assim, a íntima união entre as duas organizações foi alcançada.

Após tomar posse como Grão-Mestre, Bricaud fez ainda mais. Reverteu-se completamente à concepção de Martinez e Willermoz, que já havia sido objecto de examinação desde a assembleia geral dos Franco-Maçons em 1908. Ele sobrepôs o Martinismo à Franco-Maçonaria e decretou que somente os maçons regulares de todos os ritos seriam aceites na Ordem, ou mais conclusivamente, em seus círculos internos. Para receber o primeiro grau Martinista era preciso ter sido Mestre Maçom e, para ser investido dos outros graus, era necessário possuir os Altos Graus (da Franco-Maçonaria) de acordo com uma meticulosa hierarquia estabelecida. O Martinismo deixou de ser incorporado à Franco-Maçonaria, como ocorria no tempo de Willermoz; com isto, o Martinismo manteve sua própria personalidade, ainda que baseada na Franco-Maçonaria e da obrigação de desenvolver as instruções recebidas nos graus fundamentais da Franco-Maçonaria tradicional.

A guerra havia enfraquecido e, às vezes, rompido os elos que havia, até então, unindo as diferentes comunidades Martinistas do velho e do novo mundo. As lojas ficaram adormecidas, os discípulos dispersos e já não representavam mais do que uma unidade moral. O primeiro passo tomado pelo Grão-Mestre Bricaud foi reestabelecer a cadeia. Ele reestabeleceu a unidade da Ordem na França no início de 1919.

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