quarta-feira, 1 de junho de 2016

Biografia Zósimo de Panópolis


Zósimo de Panópolis foi um alquimista egípcio ou grego e místico gnóstico do final do terceiro e início do quarto século depois de Cristo. Ele nasceu em Panópolis, hoje Akhmim, sul do Egito em meados do ano 300. Escreveu os mais antigos livros conhecidos na alquimia, dos quais citações na língua grega e traduções para o siríaco e árabe são conhecidas. Ele é um dos cerca de 40 autores representados numa coleção de manuscritos alquímicos que foi provavelmente composta em Bizâncio, Constantinopla, no século XVII ou XVIII d.C., atualmente em Veneza e Paris.

Traduções arábicas dos textos de Zósimo foram descobertas em 1995 em uma cópia do livro Chaves da Misericórdia e Segredos da Sabedoria por Al-Tughrai, um alquimista persa. Infelizmente, as traduções estavam incompletas e aparentemente não eram textuais.O famoso índice de livros árabes, Kitab al-Fihrist por Ibn al-Nadim, menciona traduções mais antigas de quatro livros de Zósimo. Contudo, devido à sua inconsistência na transliteração, estes textos foram atribuídos a nomes como "Thosimos", "Dosimos" e "Rimos"; também é possível que dois deles tenham sido traduções do mesmo livro.
Em meados de 300 depois de Cristo, Zósimo produziu uma das primeiras definições da alquimia:

Alquimia (330) - o estudo da composição das águas, movimento, crescimento, possessão e exorção, retirada dos espíritos de corpos e ligação dos espíritos entre os corpos.
Em geral, o entendimento da alquimia por Zósimo reflete a influência das espiritualidades herméticas e gnósticas. Ele afirmava que um anjo caído ensinou as artes da metalurgia às mulheres com que se casaram, uma ideia também vista no Primeiro Livro de Enoque e depois repetida no gnóstico Apócrifo de João. Em um fragmento preservado por Jorge o Monge, Zósimo escreve:


Os escritos antigos e divinos dizem que os anjos enamoraram-se das mulheres; e, descendo, ensinaram a elas todas o funcionamneto da natureza. Delas, portanto, vem a primeira tradição, quím, a respeito destas artes; pois elas chamavam este livro de "quím" e portanto a ciência da Química tem este nome.


Os processos externos da transmutação metálica — a transformação de chumbo e cobre em prata e ouro (ver o Papiro de Estocolmo) — tinha sempre que imitar um processo interior de purificação e redenção. Zósimo escreveu em Sobre o verdadeiro Livro de Sophe, o Egípcio, e do Divino Mestre dos Hebreus e dos Poderes Sabáticos:

Há duas ciências e duas sabedorias: a dos egípcios e a dos hebreus. A última é confirmada pela justiça divina. A ciência e o conhecimento dos mais excelentes domina a um e ao outro. As duas originam em tempos antigos. Sua origem é sem um rei, autônoma a imaterial; não está preocupada com os corpos materiais e corrompíveis: ela opera sem submeter-se às influências estranhas, sustentada por prece e graça divina.
O símbolo da Química é trazido da criação pelos seus adeptos, que limpam e preservam a conexão divina da alma nos elementos, e que liberta o espírito divino de sua mistura com a carne.
Como o Sol é, por assim dizer, uma flor do fogo e, simultaneamente, o sol celeste, o olho destro do mundo, então o cobre quando brilha — isto é, quando toma a cor do ouro, através da purificação — torna-se um sol terrestre, que é o rei da Terra tal como o Sol é o rei do céu.


Alquimistas gregos utilizavam o que eles chamavam ὕδωρ θεῖον, que significa tanto "água divina" como "água sulfúrica".Para Zósimo, o recipiente alquímico era idealizado como uma fonte de batismo e os vapores do mercúrio e do enxofre como ligados às águas purificadoras do batismo, que aperfeiçoava e redimia a iniciativa gnóstica. Zósimo elaborou sobre a imagem hermética do krater (pote de misturar), um símbolo da mente divina onde os iniciantes herméticos eram "batizados" e purificados no curso de uma ascensão visionária através dos céus e para dentro das dimensões transcendentais. Ideias similares de batismo espiritual nas "águas" do Pleroma transcendental são características dos textos gnóstico-setianistas descobertos em Nag Hammadi. Estas imagens do recipiente alquímico como uma fonte de batismo é central para as suas "visões".

Visões de Zósimo

Um dos textos de Zósimo é sobre uma sequência de sonhos relacionados à alquimia e apresenta a protociência como uma experiência muito mais religiosa. Em seus sonhos ele primeiro vem a um altar e conhece Íon (Os sabeistas consideravam-no o fundador de sua religião), que se proclama "sacerdote dos santuários internos, eu submeto-me ao tormento interminável." Ion então luta e empala Zósimo com uma espada, desmembrando-o "de acordo com a regra da harmonia" (refere-se à divisão em quatro corpos, naturezas ou elementos) e então arranca a pele da cabeça de Zósimo (uma referência ao Apocalipse de Elias, que menciona que aqueles que forem condenados "ao eterno castigo": "seus olhos serão misturados com sangue"; e dos santos que foram perseguidos pelo Anticristo: "ele irá arrancar suas peles de suas cabeças"). Ele leva os pedaços de Zósimo até o altar e "incinera-os no fogo da arte, até que percebi que pela transformação do corpo eu havia me tornado espírito." Dalí em diante, Íon chora sangue e derrete no "oposto dele mesmo, em um mutilado Anthroparion" o que Carl Jung notou ser o primeiro conceito de homúnculo na literatura sobre a alquimia.

Zósimo acorda e pergunta a si mesmo: "seria isso a composição das águas?" e retorna a dormir, tornando a ter visões novamente. Ele constantemente acorda, pondera consigo mesmo e volta a dormir durante estas visões. Retornando ao mesmo altar, Zósimo encontra um homem sendo fervido vivo, ainda consciente, que o diz: "a visão que você presencia é a entrada e a saída e a transformação (...) Aqueles que procuram obter a arte (ou a perfeição moral) entram aqui, e tornam-se espíritos ao escapar dos seus corpos", o que pode ser considerado como destilação humana; tal qual a água destilada é purificada, o corpo destilado purifica também. Ele vê então um Homem Forte (outro homúnculo, como Jung acreditava que qualquer homem descrito como sendo de metal fosse) e um Homem Plúmbeo (nomeado Agathodaimon, também um homúnculo). Zósimo também sonha com um "lugar de punições" onde todos que entram imediatamente incandescem em chamas e "submetem-se a um tormento interminável."

Jung acreditava que essas visões eram uma alegoria alquímica, com o homúnculo atormentado persfonificando as transmutações, queimas e fervuras como meios de tornar-se algo mais. A imagem central das visões são o ato do sacrífico, que cada homúnculo sofre. Na alquimia a natureza diofisista é constantemente enfatizada, dois princípios equilibrando-se um no outro, ativo e passivo, masculino e feminino, o que constitui o ciclo eterno do nascimento e da morte. Na alquimia antiga este ciclo era representado pelo símbolo do Ouroboros, o dragão que morde seu próprio rabo. A união do rabo do dragão com sua boca é algo alí considerado também como autofertilização, como no texto "Tractatus Avicennae", onde menciona-se o "dragão que derrota a si mesmo, casa consigo mesmo, engravida a si mesmo." Nas visões, o pensamento circular aparece na identidade do sacerdote dos sacrifícios com suas vítimas e a ideia de que o homúnculo no qual Íon se tornou devora-se. Ele vomita sua própria carne e dilacera-se com seus próprios dentes. O homúnculo portanto representa o Ouroboros, que devora e dá a luz a si mesmo. Já que o homúnculo representa a transformação de Íon, entende-se que Íon, o Ouroboros, e o sacrificador são essencialmente o mesmo indivíduo.

Obra

Memórias Autênticas
O Livro das Figuras (Muṣḥaf aṣ-ṣuwar)
Sobre o verdadeiro Livro de Sophe, o Egípcio e o Mestre Divino dos Hebreus e os Poderes Sabáticos (Tradução francesa)
A Certificação Final (Tradução francesa)
Da Evaporação da Água Divina que fixa o Mercúrio (Tradução francesa)
Da Letra Ômega (Excerpt traduzido por G.R.S. Mead; Tradução francesa)
Tratado nos Instrumentos e Fornalhas (Tradução francesa)
As Visões de Zósimo (Tradução anglófona)
O completo (tal qual em 1888) "Œuvres de Zosime (Trabalhos de Zósimo)" foi publicado em francês por M. Berthelot em Les alchimistes grecs. Traduções em inglês continuam elusivas.

Biografias Dos Alquimistas do Islã medieval


Biografia
Abul Hasan ibn Musa ibn Arfa Ra'a (d. 1197) foi um famoso alquimista, artesão e autor muçulmano de Bagdá. É o autor de Shudhur al-dhahab (A Lantejoula de Ouro), um renomado trabalho lidando com experimentos teóricos e práticos na Química Medieval.

Escreveu sobre as propriedades de vários metais e forneceu informação detalhada sobre cerâmica esmaltada e as várias técnicas, métodos e processos de química industrial da época. Foi enormemente inspirado por Jabir ibn Hayyan e seus estudantes.

Biografia
Aḥmad ibn ‘Imād al-Dīn (em árabe: أحمد بن عماد الدين) foi um médico e alquimista persa. Foi provavelmente oriundo de Nishapur no século XI d.C.

Foi o autor de um tratado alquímico intitulado Sobre a Arte do Elixir (ou Fi sina‘at al-iksir) que é preservado na Biblioteca Nacional de Medicina.Nenhuma outra cópia foi identificada e o autor não está listado nas bibliografias públicas dos escritores islâmicos sobre alquimia. Escreveu tratado alquímico intitulado Sobre a Arte do Elixir (ou Fi sina‘at al-iksir), no qual ele descreve várias reações químicas.

Biografia
Aḥmad ibn Yaḥyā al-Balādhurī(em árabe: أحمد بن يحيى بن جابر البلاذري; m.  892), mais conhecido simplesmente como al-Baladhuri ou al Biladuri foi um historiador persa do século IX. Foi um dos mais proeminentes historiadores do Médio Oriente do seu tempo, e passou a maior parte da sua vida em Bagdade, onde tinha grande influência na corte do califa al-Mutawakkil.Viajou pela Síria e pelo Iraque, compilando informações para as suas obras maiores.É considerado uma fonte fiável para a história dos primeiros Árabes e da expansão islâmica.
Apesar de ser persa de nascimento, aparentemente nutria grande simpatia pelos Árabes, pois al-Masudi refere-se a um dos seus trabalhos onde rejeita a condenação feita por Baladhuri ao nacionalismo não árabe Shu'ubiyya.Viveu na corte dos califas al-Mutawakkil e al-Musta'in, e foi tutor do filho de al-Mu'tazz. Morreu em 892, em resultado duma droga chamada baladhur (anacárdio oriental, Semecarpus anacardium),que autores judeus e árabes descrevem como boa para avivar a memória.Segundo a tradição, o nome al-Baladhuri por que é conhecido deve-se a esse facto.

Aparentemente experimentou a alquimia, pois menciona como se fabricava vidro depois de misturar "ácidos líquidos" com soda desambiguação necessária e areia. Também menciona como o bronze era produzido misturando cobre e carvão, num processo que ajuda a remover o óxido de zinco. Fala ainda de como colorir vidro misturando vários materiais.
A sua obra mais importante que sobreviveu até aos nossos dias é um resumo duma história mais longa, o Kitab Futuh al-Buldan (فتوح البلدان; "Livro das Conquistas das Terras"), o qual foi traduzido para inglês por Philip Khuri Hitti em 1916 e por Francis Clark Murgotten em 1924, que a integrou no seu livro The Origins of the Islamic State ("A Origem do Estado Islâmico").O Kitab Futuh al-Buldan fala sobre as guerras e conquistas dos Árabes do século VII, e dos acordos feitos com os residentes nos territórios conquistados. Cobre as conquistas de territórios da Arábia, Egito, resto do Norte de África e península Ibérica, a ocidente, e Iraque, Irão e Sinde, para oriente. A sua história foi muito usada por escritores posteriores.

Outra obra célebre é o Ansab al-Ashraf (أنساب الأشراف; "Genealogias dos Nobres") que também sobreviveu até à atualidade, uma coleção de biografias organizada por ordem genealógica sobre a aristocracia árabe desde Maomé e seus contemporâneos até aos califas Omíadas e Abássidas. Os seus escritos sobre a ascensão e queda das poderosas dinastias contêm uma moral política. Os seus comentários sobre metodologia são raros, à parte de asserções de exatidão.

Fez também algumas traduções de persa para árabe.

Biografia
Harbi al-Himyari (em árabe: حربي الحميري Ḥarbī al-Ḥimyārī), foi um erudito árabe do Iêmen, que viveu entre os séculos VII e VIII EC. Foi famoso como o professor alquimista islâmico Jabir ibn Hayyan. De acordo com Holmyard nada mais é conhecido sobre ele.

Biografia
Najm al-Dīn al-Qazwīnī al-Kātibī (morreu em AH 675 / 1276 CE) foi um filósofo e lógico persa islâmico da escola Shafi'i.Um estudante de Nasir al-Din al-Tusi,é o autor de dois importantes trabalhos, um sobre lógica, Al-Risala al-Shamsiyya, e um sobre metafísica e as ciências naturais, Hikmat al-'Ain.
Seu trabalho sobre lógica, o al-Risāla al-Shamsiyya (Lógica para Shams al-Dīn), foi em geral usado como o primeiro texto importante sobre lógica nos madraçais sunitas, exatamente no final do século vinte e é "talvez o livro didático de lógica mais estudado de todos os tempos".A lógica de Al-Katibi foi amplamente inspirada pelo sistema avicênico formal de lógica modal temporal, porém é mais elaborada e se afasta dela de vários modos. Enquanto Avicena considerou dez modalidades e examinou seis delas, al-Katibi considerou muito mais proposições modalizadas e examinou treze que ele considerou 'habituais para investigar'.



Biografia
Abu al-Hakim Muhammad ibn Abd al-Malik al-Salihi al-Khwarizmi al-Khati, Al-Khati (floresceu em 1034 d.C.), foi o alquimista muçulmano da aldeia de Kath na região de Corásmia. É conhecido por sistematizar a alquimia muçulmana.

Al-Khati viveu e trabalhou em Bagdá e nas proximidades, e escreveu Ain al-San'a wa awn al-Sunâ (O essencial da Arte e a Ajuda para os Artesãos). O trabalho foi crucial para o treinamento de fabricantes de vidro, metalúrgicos, carpinteiros e outros artífices e artesãos. O livro fornecia informação detalhada sobre várias técnicas e métodos usados na prática.

Biografia
Ibn al-Rassam literalmente (filho do artífice), foi um alquimista egípcio muçulmano, fabricante de telha e projetista de mosaico, que floresceu durante a dinastia Bahri mameluca (de 1250–1382) .

Ibn Rassam é amplamente conhecido por ter inventado as técnicas através das quais ele obteve cobre de variedades da malaquita. Também descobriu o índigo pelo aquecimento de várias substâncias. Foi colega do químico Abul Ashba ibn Tammam (d.1361).


Biografia Cleopatra la Alquimista

Cleopatra la Alquimista fue una alquimista y escritora del Egipto romano. Las fechas de su nacimiento y muerte se desconocen, pero se la sitúa en Alejandría entre los siglos III y IV. También se desconoce su nombre real, Cleopatra era su pseudónimo. No se trata de Cleopatra VII, aunque en algunas obras posteriores se refieren a ella como Cleopatra: reina de Egipto. Así aparece por ejemplo en Basillica Philosophica de Johann Daniel Mylius (1618), donde su imagen aparece retratada junto al lema: «Lo divino está oculto para la gente por la sabiduría del Señor». Además se solía utilizar a Cleopatra como personaje en los diálogos de los textos alquímicos.

Cleopatra fue una de las figuras fundadoras de la alquimia, precediendo a Zósimo de Panópolis. Michael Maier la menciona como una de las cuatro mujeres que sabía cómo obtener la piedra filosofal, junto a María la Judía, Medera y Taphnutia.Se menciona a Cleopatra con gran respeto en la enciclopedia árabe Kitab al-Fihrist de 988. Se la reconoce principalmente por su manuscrito Chrysopeia (fabricación del oro), que contiene muchos emblemas usados y desarrollados posteriormente por las filosofías gnóstica y hermética. Por ejemplo en esta obra aparece por primera vez el uróboros, la serpiente que engulle su propia cola símbolo del ciclo eterno; además de la estrella de ocho puntas. La obra también contiene varias descripciones y dibujos de los procesos técnicos del horno de fundición o la destilación. Algunos le atribuyen la invención del alambique.

Biografia Abdul Alhazred


Abdul Alhazred, o Árabe Louco, é um poeta fictício, suposto autor do livro "Al Azif" (mais conhecido por Necronomicon) na literatura e mitos criados por H. P. Lovecraft.
O nome Abdul Alhazred é um pseudónimo que Lovecraft criou na sua juventude, que adotou após ter lido As Mil e uma Noites aos cinco anos de idade. O nome terá sido inventado pelo próprio Lovecraft ou pelo advogado da família Phillips, Albert Baker.Abdul é um nome árabe comum, mas Alhazred poderá estar relacionado com "hazard" (em português: perigo, risco), em referência à natureza destrutiva e perigosa do Necronomicon, ou aos antepassados de Lovecraft com esse nome.Pode ainda ser um trocadilho com a expressão "all has read" (em português: que tudo leu), uma vez que Lovecraft foi um leitor ávido na sua juventude. Outra possibilidade, apresentada num ensaio do escritor e editor sueco Rickard Berghorn, é que o nome Alhazred foi influenciado por referências a dois autores históricos cujos nomes foram latinizados como Alhazen: Alhazen ben Josef, que traduziu Ptolomeu para árabe, e Abu Ali al-Hasan Ibn Al-Haitham, que escreveu sobre ótica, matemática e física. Diz-se que Ibn al-Haytham fingiu ser louco para escapar à fúria de um governante.
Segundo Lovecraft, Alhazred era "um poeta árabe louco originário de Sanaa no Iémen, que terá prosperado durante o período dos Califas Omíadas, cerca de 700. Visitou as ruínas da Babilónia e o segredo subterrâneo de Mênfis e passou dez anos sozinho no grande deserto da arábia, o Rub' al-Khali, que é alegadamente habitado por espíritos malignos e monstros da morte."Nos seus últimos anos Alhazred viveu em Damasco, onde em 738 escreveu o Al Azif, um livro maléfico em árabe que viria mais tarde a ser conhecido como Necronomicon. Todos aqueles que entram em contacto com este livro geralmente têm um final desagradável, e Alhazred não foi uma exceção. De acordo com Lovecraft, "é dito por Ibn Khallikan (biógrafo do século XII) que ele terá sido agarrado por um monstro invisível em plena luz do dia e horrivelmente devorado na presença de um grande número de testemunhas aterrorizadas. Sobre a sua loucura muitas coisas são ditas. Ele alegava ter visto a fabulosa Irem, ou cidade dos Pilares, e descoberto sob as ruínas de um certo povoado no deserto os anais e segredos de uma raça mais antiga do que a humanidade. Alhazred era apenas um muçulmano indiferente, venerando entidades desconhecidas a quem chamava Yog-Sothoth e Cthulhu"

Mitos de Cthulhu

Os Mitos de Cthulhu (do inglês, Cthulhu Mythos) é o termo usado pelo escritor August Derleth como referência ao panteão de monstros e seres fantásticos que habitam os contos de ficção científica e horror de Howard Phillips Lovecraft. Subsequentemente, o termo também é usado pelas gerações de escritores influenciados por sua vida e obra.

Cthulhu teve sua primeira referenciação no conto "O Chamado de Cthulhu" (do inglês The Call of Cthulhu), na forma de uma estatueta de argila, representando um híbrido de octópode, ser humano, e dragão (de acordo com descrições do próprio autor).Ele está ligado ao mito dos Grandes Antigos (do inglês Great Old Ones), que surgem constantemente ao longo de toda sua obra, como em Nas Montanhas da Loucura (At the Mountains of Madness), A Sombra Vinda do Tempo (Shadow Out of Time), Um Sussurro nas Trevas (Whisperer in Darkness), entre outros. Segundo os Mitos, a Terra teria sido habitada, há bilhões de anos, por criaturas que aqui teriam chegado antes que nosso planeta fosse capaz de gerar ou sustentar vida por si próprio. Eles, e não Deus, teriam criado a vida: o próprio Homem seria uma criação deles, gerada unicamente por escárnio e servitude.Em contos posteriores, fica implícito que os Grandes Antigos seriam criadores do próprio universo, e de todos os seres nele presentes. Isso foi suficiente para que Lovecraft fosse considerado pelas igrejas fundamentalistas do mundo inteiro, que acreditam na versão da criação bíblica, como blasfémio. Os Grandes Antigos teriam Cthulhu como um de seus líderes (de acordo com os contos, seria o Alto Sacerdote, responsável pelo ressurgimento de todos os outros quando as estrelas estivessem alinhadas devidamente), embora existam outros monstros na "Literatura Lovecraftiana" ainda mais estranhos e cruéis, como o Demônio-Sultão Azathoth. Os Mitos são uma metáfora para a insignificância humana diante da magnitude do Universo: mais do que malevolentes, os monstros dos Mitos são, na verdade, friamente indiferentes à existência e sofrimento humanos, encarnando as verdadeiras forças da Natureza.

Os Mitos segundo Derleth

Após a morte de Lovecraft, Derleth se tornou o mais famoso escritor a incorporar os Mitos em sua histórias. Mas Derleth o fez segundo sua própria visão, incorporando propriedade do cristianismo e do dualismo aos Mitos, tornando-os uma batalha do Bem contra o Mal, ao invés do universo caótico, cruel e desprovido de sentido que caracterizava os contos lovecraftianos. Muitos leitores de Lovecraft consideram a intervenção de Derleth prejudicial à obra original. Lovecraft era ateu e afirmava que os valores éticos ocidentais, pregados por Kant, eram uma piada. Os Mitos, na visão de Lovecraft, não foram criados como uma mitologia coesa, e sim como uma coletânea de idéias que poderiam ser usadas para provocar as mesmas emoções. Coloca-los como parte de uma batalha entre bem e mal seria tirar deles o que os tornava incomparavelmente hediondos: um propósito além de nossa compreensão, e uma brutal e cruel indiferença em relação a condição humana.

Os Deuses

Vários deuses são citados nas histórias que compõem o Mito, dentre os quais se destacam:

Cthulhu
Azathoth
Hastur
Nyarlathotep
Shub-Niggurath
Tsathoggua
Yog-Sothoth
Dagon e Hydra

Nyarlathotep

Nyarlathotep (O Caos Rastejante) é uma divindade no universo fictício dos Mitos de Cthulhu, criado por H. P. Lovecraft. O personagem apareceu primeiramente no poema em prosa com o mesmo nome escrito no ano de 1920 por Lovecraft. Mais tarde, foi mencionado outras obras do mesmo escritor e de outros autores na área de fantasia e ficção-científica.
O nome desta divindade é distinto pelo seu sufixo -hotep, que dá ao nome um tom egípcio antigo. Apesar disto, "hotep" significa "estar em paz, satisfeito" em egípcio.

Nyarlathotep no trabalho de H. P. Lovecraft

Na sua primeira aparição em "Nyarlathotep", ele é descrito como um "homem alto e moreno", semelhante a um antigo faraó egípcio . Nesta história, ele vagueia pela Terra, reunindo legiões de seguidores - o narrador da história entre eles - , através de demonstrações de instrumentos estranhos e aparentemente mágicos. Estes seguidores perdem a noção do mundo à sua volta, e, durante a narrativa cada vez menos segura, o leitor fica com uma impressão do colapso do mundo. A história termina com o narrador fazendo parte de um exército de servos para Nyarlathotep.

Nyarlathotep aparece subsequentemente como personagem de grande importância em "À Procura de Kadath" (1926/27), em que, mais uma vez, se manifesta sob a forma de um faraó egípcio quando confronta o protagonista Randolph Carter.

Em "Os Sonhos na Casa das Bruxas" (1933), Nyarlathotep aparece a Walter Gilman e à bruxa Keziah Mason (que fez um pacto com a entidade) sob a forma de "o 'Homem Negro' do culto às bruxas, um avatar de pele negra do Diabo descrito por caçadores de bruxas.

Nyarlathotep também é mencionado em "As Ratazanas nas Paredes", como um deus sem face nas cavernas do centro da Terra.

Finalmente, em "O Habitante da Escuridão" (1936), o monstro noctívago de asas de morcego e tentáculos, habitando no campanário da igreja da ceita Starry Wilson, é identificado como outra manifestação de Nyarlathotep.

Apesar de Nyarlathotep aparecer como personagem em apenas quatro histórias e dois sonetos (mais do que qualquer outro deus de Lovecraft), o seu nome é mencionado com frequência em outras obras, tais como "Sussurros nas Trevas" e "Sombras Perdidas no Tempo".

Embora haja similaridades no tema e no nome, Nyarlathotep não toma parte na obra de Lovecraft "O Rastejante Caos" (1920/21), escrita em colaboração com Elizabeth Berkeley.

Inspiração

Numa carta escrita a Reinhardt Kleiner, em 1921, Lovecraft relatou um sonho que tivera - descrito como "o mais realístico e horrível [pesadelo] que eu já experienciei desde os meus dez anos" - , que serviu como base do seu poema em prosa "Nyarlathotep". No sonho, ele recebeu uma carta do seu amigo Samuel Loveman que dizia:

Não deixes de ver Nyarlathotep se ele vier a Providence. Ele é horrível - horrível para lá de tudo o que possas imaginar - mas maravilhoso. Ele caça um para horas mais tarde. Eu ainda estremeço com o que ele mostrou.


Lovecraft comentou:

Eu nunca tinha ouvido o nome Nyarlathotep antes, mas pareci compreender a alusão. Nyarlathotep era uma espécie de director de circo itinerante ou conferencista que se mantinha guardado em salões públicos e despertou um medo e discussão muito difundidos com as suas exibições. estas exibições consistiam em duas partes - primeiro, uma horrível - possivelmente profética - bobina de cinema; e mais tarde algumas experiências extraordinárias com aparelhos eléctricos e científicos. Quando recebi a carta, pareci lembrar-me que Nyarlathotep estava já em Providence... Pareci lembrar-me que pessoas me tinham sussurrado em receio dos seus horrores, e avisado para não me aproximar dele. Mas o sonho de Loveman decidiu-me... Enquanto saía de casa vi multidões de homens a deambular pela noite, todos murmurando receosamente e curvados numa direcção. Juntei-me a eles, medroso, contudo, ansioso para ver e ouvir o grande, o obscuro, o indescritível Nyarlathotep.
Will Murray especulou que esta imagem onírica de Nyarlatohep pode ter sido inspirada pelo inventor Nikola Tesla, cujas concorridas palestras envolviam experiências extraordinárias com aparelhos eléctricos, e quem muitos viam como uma figura sinistra.

Robert M. Price propõe que o nome Nyarlathotep pode ter sido sub-conscientemente sugerido a Lovecraft por dois nomes de Lord Dunsay, um autor que ele muito admirava. Alhireth-Hotep, um falso profeta, aparece em "Os Deuses de Pegana" de Dunsay, e Mynarthiep, um deus descrito como "furioso" em "A Mágoa da Procura" .

Sumário

Nyarlathotep difere dos outros seres em numerosos sentidos. A sua maioria está exilada nas estrelas, como Yog-Sothoth e Hastur, ou a dormir e a sonhar como Cthulhu; Nyarlathotep, por sua vez, é ativo e frequentemente caminha pela Terra sob a forma de um ser humano, normalmente como um homem alto, esguio e alegre. Tem "mil" outras formas, na sua maior parte tidas como sendo loucamente horrorosas. A maioria dos Deuses Extraterrestres tem os seus próprios cultos a servi-la; Nyarlathotep parece servir esses cultos e tratar dos seus assuntos na sua ausência. Enquanto grande parte dos outros usa linguagens extraterrestres, Nyarlathotep usa linguagens humanas e pode ser confundido com um ser humano. Acima de tudo, os Deuses Extraterrestres e os Grandes Antigos são frequentemente descritos como desatentos ou imperscrutáveis, em vez de malévolos - Nyarlathotep tem prazer na crueldade, é deceptivo e manipulador, e até cultiva seguidores e usa propaganda para alcançar os seus objetivos. Tendo isto em conta, ele é provavelmente o mais semelhante ao Homem de entre eles.

Nyarlathotep legaliza a vontade dos Deuses Extraterrestres e é o seu mensageiro, coração e alma; é também um servo de Azathoth, cujos desejos ele cumpre de imediato. Ao contrário dos outros Deuses Extraterrestres, causar loucura é-lhe mais importante e aprazível do que morte e destruição. Alguns sugerem que ele destruirá a raça humana e, possivelmente, a Terra igualmente

O ciclo Nyarlathotep

Em 1996, Chaosium publicou "O Ciclo Nyarlathotep", uma antologia dos Mitos de Cthulhu concentrada em obras referentes a ou inspiradas pela entidade Nyarlathotep. Editado pelo estudante de Lovecraft, Robert M. Price, o livro inclui uma introdução por Price localizando as raízes e o desenvolvimento do Deus das Mil Formas. Os conteúdos incluem:

"Alhireth-Hotep o Profeta" de Lord Dunsany
"A Mágoa da Busca" de Lord Dunsany
"Nyarlathotep" de H. P. Lovecraft
"O Segundo Advento" (poema) de William Butler Yeats
"O Silêncio cai nas Paredes de Meca" (poema) de Robert E. Howard
"Nyarlathotep" (poema) de H. P. Lovecraft
"Os Sonhos na Casa das Bruxas" de H. P. Lovecraft
"O Habitante da Escuridão" de H. P. Lovecraft
"O Titã e a Cripta" de J. G. Warner
"Santuário do Faraó Negro" de Robert Bloch
"Maldição do Faraó Negro" de Lin Carter
"A Maldição de Nephren-Ka" de John Cockroft
"O Templo de Nephren-Ka" de Philip J. Rahman & Glenn A. Rahman
"O Papiro de Nephren-Ka" de Robert C. Culp
"O Nariz na Alcova" de Gary Myers
"A Esfinge Contemplativa" (poema) de Richard Tierney
"Ech-Pi-El’s Ægypt" (poemas) de Ann K. Schwader

O livro Do Necronomicon

O Necronomicon ("Al Azif", no original árabe) é um livro fictício criado por H.P.Lovecraft, autor estadunidense de ficção científica, horror e literatura fantástica. Segundo o próprio, o Necronomicon teria sido escrito em Damasco por volta de 730 d.C. por Abdul Alhazred, um poeta árabe louco originário de Sanaa, no Iémen.

O "Necronomicon" é o mais famoso livro fictício dos "Mitos de Cthulhu", nome dado pelo escritor August Derleth à mitologia criada por Lovecraft, e aparece em grande parte das suas obras. Um dos exemplares da obra estaria guardado na biblioteca da Universidade de Miskatonic, sediada em Arkhan. O grimório conteria fórmulas mágicas ligadas à magia negra e aos Antigods, seres descritos especialmente em dois contos, Nas montanhas da loucura e A sombra perdida no tempo. Usando esta fórmula de atribuição a um autor antigo de um livro, cuja cópia em seu poder seria a última existente, e usando um contexto fantástico, o autor desenvolve a ideia de um livro mágico, creditando possíveis excessos à alma de poeta do "autor" original. Esta fórmula literária foi também utilizada por Jorge Luis Borges e Umberto Eco nas suas obras.

Al Azif

Título do original em árabe. Segundo Lovecraft, azif é o nome usado pelos árabes para designar aquele barulho nocturno, produzido pelos insectos, que supõem ser o uivo de demónios.

Necronomicon

Nome dado à tradução em grego e pelo qual é mais vulgarmente conhecido o "Al Azif". O seu significado não é unânime e são apontadas várias traduções possíveis. As mais comummente utilizadas são "Livro dos Nomes Mortos", "Livro das Leis Mortas", "Imagem da Lei dos Mortos" e "Livro em Memória dos Mortos".

Conteúdo

Alegadamente, o Necronomicon é um grimório onde são descritos numerosos rituais para ressuscitar os mortos, contactar com entidades sobrenaturais, viajar pelas dimensões onde habitam estes seres, trazer de volta à Terra antigas divindades banidas e aprisionadas, etc. É mencionado ainda que a sua simples leitura basta para provocar a loucura e a morte.

Ficção verossímil

Embora o livro seja fictício, Lovecraft forneceu inúmeros dados supostamente reais a respeito da sua origem e história. Indicou, por exemplo, que o livro foi banido pelo Papa Gregório IX em 1232, logo após a sua tradução para o latim, e que dos exemplares ainda existentes um está guardado no Museu Britânico em Londres e outro na Biblioteca Nacional em Paris. Graças a isso, e apesar do autor ter insistido em numerosas ocasiões que o livro é pura ficção, existem relatos de pessoas que acreditam realmente que o "Necronomicon" é um livro real e o próprio Lovecraft recebeu cartas de fãs inquirindo acerca da autenticidade do mesmo.

Alguns escritores produziram e apresentaram necronomicons diversos. Um de tais escritores é o italiano Frank G. Ripel, fundador de uma Escola de Mistérios - a Ordem Rosa Mística. Em um de seus livros - La Magia Lunar - Ripel fornece uma tradução em castelhano do "verdadeiro Necronomicon" que, segundo Ripel, teria sido formulado há mais ou menos 4.000 anos a.C. O Al Azif seria uma versão espúria, adulterada através dos tempos. O Necronomicon da Ordem Rosa Mística fundamenta uma série de rituais da Ordem e há quem acredite que todas as entidades nele citadas são reais.


Biografia Fausto


Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um pacto com o demônio, baseada no médico, mago e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540). O nome Fausto tem sido usado como base de diversos textos literários, o mais famoso deles a peça teatral do autor Goethe, produzido em duas partes, escrita e reescrita ao longo de quase sessenta anos. A primeira parte - mais famosa - foi publicada em 1806 e a segunda, em 1832 - às vésperas da morte do autor.

Considerado símbolo cultural da modernidade, Fausto é um poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que o enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso.

O Fausto histórico
Não são muitas as fontes que se referem a Johann Georg Faust e as de que se têm conhecimento apresentam muitas informações incompletas ou conflitantes, além de poderem ser apócrifas.

Knittlingen, Helmstadt e Roda (atualmente Stadtroda) são indicados como os possíveis locais de nascimento de Dr. Fausto. É em Knittlingen, entretanto, que se encontram hoje o Faust-Museum e o Faust-Archive (Museu e Arquivo de Fausto).

Também não há consenso quanto ao ano de nascimento de Johann Faust. Há fontes que indicam que este teria ocorrido em 1466, em 1478 e, finalmente, entre 1480 e 1481, informação contida na maioria dos textos sobre a personagem histórica. As informações comuns entre as diferentes fontes é que Dr. Fausto teria estudado para tornar-se alquimista, astrólogo, mago e vidente. O teólogo protestante Philipp Melanchton, que viveu em período próximo ao de Fausto (1497-1560), produziu um texto em que consta que Fausto teria estudado em Cracóvia, onde a magia era então matéria curricular. O teólogo menciona também uma conferência que teria sido realizada por Fausto em 1539, na qual "muitas pessoas se deixaram iludir". Quando Dr. Fausto morre, em 1540/1541, Melanchton menciona que muitos acreditavam ser obra do diabo e admite a hipótese de tratar-se de morte sobrenatural.

O Fausto apócrifo

Em 1507 foi nomeado mestre-escola em Kreuznach "um homem muito douto e místico", chamado Georgius Sabellicus Faust Junior, que, conforme uma carta achada na abadia de Sponheim, "abusou dos alunos e fugiu". Em 15 de janeiro de 1509 colou grau de bacharel em teologia, na universidade de Heidelberg, um certo Johannes Faust. Conrad Mutianus Rufus, da paróquia de St. Marien em Gota, conta que um tal Georg Faust blasfemava soberbamente em Erfurt, em setembro de 1513. O bispo de Bamberg declarou ter pago a um Faust, em 10 de fevereiro de 1520, dez moedas de ouro, para que ele lhe lesse o horóscopo. Documentos rezam que um doutor Georg Faust foi banido de Ingolstadt, em 15 de junho de 1528, como charlatão. Um doutor Faust teve negado salvo-conduto, em Nuremberg, a 10 de maio de 1532. Em Münster o doutor Faust, em 25 de junho de 1535, predisse a capitulação da cidade pelo bispo, como depois aconteceu.

Em pouco tempo outros mitos e lendas que envolviam personagens como Simão Mago, Cipriano e Teófilo, episódios bíblicos e medievais, burlas e fábulas começaram a compor uma tão considerável tradição oral e apócrifa acerca desse Fausto, que ele acabou por tornar-se figura literária.

O Fausto literário



No intuito de compilar tudo quanto se acreditava e dizia acerca de Fausto, Johann Spiess, livreiro e escritor de Frankfurt, compôs no ano de 1587 a primeira narrativa literária dessa personagem. Era um volume de 227 páginas, intitulado como a Historia von dr. Johann Fausten, cujo enredo contava como ele se vendeu ao diabo a prazo estipulado, as extraordinárias aventuras que viveu nesse ínterim, a magia que praticava, e por fim sua morte e danação. Tudo isso publicado para servir de advertência sincera contra os que levavam a curiosidade intelectual além do limite estabelecido pelas igrejas[carece de fontes]. Muitos críticos e estudiosos avaliam esse primeiro romance faustiano, ou Faustbuch, como mera propaganda luterana para doutrinação e proselitismo.

Controvérsias à parte, outros escritores perceberam que a personagem poderia servir a temas mais profundos e complexos. Com efeito, Fausto tornou-se figura recorrente ao longo de cinco séculos de literatura ocidental.

Dois anos depois da publicação de Spiess, ou seja em 1589, o escritor e dramaturgo inglês Christopher Marlowe (1563-1593) transforma Fausto em peça teatral, onde sutilmente retrata o dilema do novo homem ocidental, então dividido entre a religiosidade medieval e o humanismo renascentista.

Quase dois séculos depois, no ano de 1760, foi a vez do escritor alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) criar uma nova versão dramática do Fausto, na qual ele encarnaria o heroísmo do intelecto humano, capaz por si mesmo de triunfar sobre o mal, personificado no diabo. A obra de Lessing, porém, hoje encontra-se fragmentada.

Não obstante, Fausto se tornaria um das persongens preferidas do período romântico, que vai de meados do século XVIII ao século XIX, a notória época do Sturm und Drang. A personagem apareceria em muitas obras do romantismo alemão como o Fausts Leben (A Vida de Fausto, 1778), escrita por Maler Müller, e o Fausts Leben, Taten und Höllenfahrt (Vida, feitos e danação de Fausto, 1791) escrita por F. M. Klinger. Além destes, Nikolaus Lenau também fez uma versão romântica do Faust.

Mas seria através do poeta Johann Wolfgang von Goethe que Fausto alcançaria a sua máxima expressão. A tragédia de Fausto, como dito anteriormente, foi a obra de toda a vida de Goethe. A primeira versão foi composta em 1775, mas era apenas um esboço intitulado Urfaust (Proto-Fausto, ou Fausto zero) que só foi publicado em 1887, décadas depois da morte do autor.

Doze anos após a composição do Urfaust, houve ainda outro esboço, feito em 1791, que era intitulado Faust, ein Fragment (Fausto, um fragmento), e também não chegou a ser publicado.

A versão definitiva, só seria escrita e publicada por Goethe no ano de 1808, sob o título de Faust, eine Tragödie (Fausto, uma tragédia), e assim trazia a lume sua maior obra prima. Mas a problemática humana do Fausto continuou a intrigar o poeta, e em 1826 ele começou a escrever a segunda parte do poema, publicado postumamente sob o título de Faust. Der Tragödie zweiter Teil in fünf Akten (Fausto. Segunda parte da tragédia, em cinco atos).

Enredo

No afã de superar os conhecimentos de sua época, Fausto evoca espíritos e, por fim, Mefistófeles, o demônio (palavra que significaria, etimologicamente, inimigo da luz) - com o qual negocia viver por vinte e quatro anos sem envelhecer.

Durante este tempo, conforme o contrato assinado com seu próprio sangue, serviria o diabo a Fausto, em troca da sua alma. Entregue aos prazeres durante este tempo, é finalmente ao término deles levado para o Inferno.

Tendo, porém, encontrado o amor de Margarida, dela tenta obter a salvação, mas foi inevitável o destino a que se comprometera.

O Fausto pós-moderno

Sendo um arquétipo da alma humana, o mito de Fausto jamais se esgotou simbólica e literariamente, de modo que diversos artistas contemporâneos e posteriores a Goethe reagiram criativamente à personagem.

O poeta russo Puchkin escreveu em 1826 um Faust notável pelo diálogo com Mefistófeles. Christian Dietrich Grabbe também compôs em 1836 uma tragédia onde confrontava Don Juan und Faust(Don Juan e Fausto).

No século XX, o poeta francês Paul Valéry escreveu a peça Mon Faust (Meu Fausto), sem todavia a concluir.

Depois foi a vez do poeta português Fernando Pessoa escrever Fausto: Uma Tragédia Subjectiva, inusitadamente narrado na primeira pessoa.

E por fim, Thomas Mann publicou seu romance Doktor Faustus em 1947.

Recentemente, em 2008, o escritor Rafael Dionísio lançou os seus "Cadernos de Fausto" revisitando também este mito.

Em 2011, a escritora brasileira Regina Baptista publicou o livro "Ato Penitencial" que também faz referência ao mito de Fausto, numa versão do século XXI.

Em 2012, a escritor argentino Edgar Brau publicou seu tragédia "Fausto".

Fausto também foi tema para as peças musicais de vários compositores clássicos como Wagner (Faust), Berlioz (La Damnation de Faust), Schumann (Szenen aus Goethes Faust), Liszt (Faust-Symphonie) e Gounod (Faust).

Ainda na música Fausto de Goethe serviu de inspiração para dois álbuns, Epica e The Black Halo, da banda de Metal Melódico Kamelot, e para três álbuns, The Scarecrow, The Wicked Symphony e Angel Of Babylon do projeto de Power Metal Avantasia, onde o compositor, Tobias Sammet, cria sua própria versão da Lenda de Fausto através de canções. Em 2012, a banda de Black Metal Agalloch lança o EP Faustian Echoes, a letra conta com trechos da obra.

Ainda na chamada "Cultura Pop", o escritor de quadrinhos Alan Moore traz em sua premiada obra "Promethea" (1999) uma versão de Fausto, baseado livremente na lenda original.

O livro O Fantasma da Ópera (Gaston Leroux) apresenta a ópera Fausto, de Charles Gounod, no momento em que Erik sequestra Christine.

Em um episódio do seriado "Chapolin" a historia de Fausto é abordada em um tom humorístico com a varinha chama Chirrim-Chirriom e com um final diferente aonde Fausto engana do diabo.

Fausto no cinema

Em 1926 foi lançado na Alemanha o filme Faust - Eine Deutsche Volkssage, dirigido por F.W. Murnau e baseado na obra de Goethe. Em 1986, Carlos Reichenbach dirige Filme Demência, uma atualização do mito na cidade de São Paulo. Em 1994 foi lançado na República Checa o filme Faust, dirigido por Jan Svankmajerse utilizando de um roteiro fantástico e de bonecos marionetes. Em 2011 o diretor russo Alexander Sokurov lança sua versão de Fausto, também baseada na obra de Goethe.

Fausto em outras mídias

Nos anos 70, Fausto aparece no seriado mexicano "El Chapulin Colorado" (Chapolin Colorado) de Roberto Gomes Bolaños no episódio "De acordo com o Diabo". Neste episódio, o Chapolin, interpretado por Bolaños tenta ensinar um rapaz que a ambição não serve para nada e para isso se utiliza de uma narrativa cujo o tema é a história de Fausto. Na adaptação de Bolaños, Fausto aparece como um velho de longas barbas e cabelos brancos que almeja o poder pelo saber e acha que para isso precisa de duas coisas: a juventude e o amor. É quando surge Mefistófeles, interpretado por Ramon Valdez. Mefistófeles lhe faz assinar um contrato, onde Fausto vende a sua alma para que assim receba uma espécie de varinha mágica onde é capaz de realizar diversos desejos e assim consegue ganhar mais alguns anos de vida para conquistar o coração de Margarida, interpretada por Florinda Meza.

Em 1999 foi lançado Fausto, o primeiro game inspirado no personagem. Fausto apresenta a história a partir do ponto de vista de Mefistófeles e o objetivo do jogador é investigar as causas que levaram o demonio a intervir na vida de Fausto.

Em 2014 a desenvolvedora paulista Tlön Studios lançou o jogo para computador Soul Gambler, uma visual novel interativa inspirada livremente no personagem Fausto, na qual o protagonista, faz um pacto que lhe permite trocar frações de sua alma pela realização de pequenos desejos.

Literatura relacionada

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.
PESSOA, Fernando. A Hora do Diabo. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004.
Primeiro Fausto. São Paulo: Iluminuras, 1996.
Tragédia Subjectiva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
BARRENTO, João (Org.). O Fausto na Literatura Européia. Lisboa: Apaginastantas, 1984.* BENE, Orietta Del. Elementos para tentativa de estudo do “Primeiro Fausto”. Ocidente, 1970.
ABRAHÃO, Miguel M. - O Strip do Diabo - Ed. Agbook, 2009
CAMPOS, Haroldo de. Deus e o diabo no Fausto de Goethe. São Paulo: Perspectiva, 1981. (Signos, 9).
FUHR, Gerhard. Fausto – redenção ou salvação? O tratamento do tema em quatro obras: “Volksbuch”, Marlowe, Lessing e Goethe. Estudos germânicos. Belo Horizonte (UFMG), v.2, p. 79-102, 1981.

Biografia Johann Joachim Becher


Johann Joachim Becher (Speyer, 6 de maio de 1635 — Londres, outubro de 1682) foi um médico, alquimista, precursor da química, estudioso e aventureiro alemão, mais conhecido por seu desenvolvimento da teoria do flogístico da combustão, e seu avanço do cameralismo austríaco.

Becher foi filho de um pastor protestante e antes professor em Estrasburgo. Ao que consta, não concluiu um curso universitário, e seu pai faleceu antes de lhe transmitir seus conhecimentos; mas Becher lia avidamente e adquiriu como autodidata vastos conhecimentos, não só químicos, mas em muitas outras áreas, chegando a dominar dez idiomas. Longas viagens pela França, Itália, Países Baixos e Suécia contribuíram para ampliar sua formação.

Entre 1660 e 1661 estudou medicina na universidade de Mainz, onde mais tarde, de 1663 a 1664, foi professor. As más línguas dizem que obteve título e cátedra graças ao patrocínio do Arcebispo-Eleitor de Mainz e a seu casamento com a filha do conselheiro Wilhelm von Hornick (para o que se converteu inclusive ao catolicismo). Foi médico e conselheiro, sucessivamente, de Johann Philipp o Sábio, Arcebispo de Mainz, de 1657 a 1664, do Duque da Baviera em Munique (1664/1670) e da corte imperial em Viena (1670/1678).


Intrigas levaram ao seu rompimento com o imperador, e Becher refugiou-se na Holanda e depois fixou-se na Inglaterra, onde trabalhou para o príncipe Rubert (1619-1692), sobrinho do rei Carlos I (1600-1649). Morreu pobre em Londres, em 1682, depois de se converter novamente ao protestantismo, e está sepultado na Igreja de St.James in the Fields.



Obra

Suas obras são, além do famoso "Physica Subterranea"(1669), o "Chymiches Laboratorium"(1680), "Chymischer Glückshafen oder grosse chymische Concordantz und Collection von 1500 chymischen Processen"(1682) e "Tripus hermetica, pandens oracula chymica"(obra póstuma, 1689).

Na economia, devem-se-lhe diversos empreendimentos, considerado um dos criadores da Tecnologia Química, ativo principalmente em Viena e na Baviera. De certa forma uma atividade econômica é a proposta que Becher fez ao governo da Baviera de criar uma "Companhia das Índias Ocidentais", filiada à Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, para colonizar terras herdadas pelo Conde de Hanau na América do Sul. A ideia não saiu do papel, embora a atividade colonizadora por parte de pequenos países do século XVII existia.

Elaborou em 1661 para o arcebispo-eleitor de Mainz (que ofereceu alta recompensa, nunca paga) um "idioma universal" com dez mil palavras, talvez o mais remoto antecessor do esperanto.

Contribuições na Química

Em 1669, descobriu o gás eteno (Etileno), pela desidratação do álcool em meio ácido e a quente.
No mesmo experimento, observou e isolou em grandes quantidades, um subproduto: era o Éter etílico (Éter sulfúrico ou simplesmente Éter, o Éter comum), substância já conhecida desde os tempos dos Alquimistas Árabes e Bizantinos e hoje usada extensamente como solvente e preparada industrialmente por basicamente o mesmo processo, porém variando o ácido usado na desidratação. Becher usou Ácido sulfúrico, enquanto a indústria usa Alumina ácida.

Atribuiu-se a Becher a descoberta em 1665 do alcatrão de hulha, mais tarde uma pedra basilar da Química Orgânica.
Descobriu a possibilidade de obtenção de álcool a partir de batatas (Becher introduziu a batata na Alemanha, como alternativa de alimentação para os menos favorecidos).
Descobriu que a fermentação necessita de "substâncias doces".
Em sua obra máxima, "Physica subterranea", foi um dos primeiros, senão o primeiro, a intuir que o interior da Terra é formado por um Magma incandescente.

Teoria da Matéria e o Flogistico

Sua obra fundamental é a sua proposta para uma teoria unificadora da Química, baseada nas suas teorias sobre combustão, expressas em "Physica Subterranea", onde Becher destaca grandes temas da "filosofia química":

A interpretação alquímica da Criação;
A identificação da Criação com um processo cíclico; e
A ideia do surgimento espontâneo da vida vegetal e animal (ideias já analisadas por Paracelso).
Na sua teoria da matéria, as substâncias são constituídas por ar, água e terra, dividindo a última em três categorias: Terra Vitrificável (sal); Terra Mercurial (mercúrio) e Terra Combustível (enxofre = terra pinguis).

De certa forma Becher parte do conceito paracelsiano dos tria prima, porém admite que esse conceito não se sustenta diante dos fatos empíricos observados; e com relação a esses fatos verificou que a maioria das substâncias que queimam não contém enxofre, substituindo-o então pela terra pinguis, como principio da inflamabilidade. Portanto, a proposta desta terra pinguis derivou-se de uma dedução tirada de fatos empíricos, e para Becher a terra pinguis, que ele chamou mais tarde de flogistico ( do grego, significando "inflamar-se") não é uma ideia mas uma espécie química, com peso e propriedades definidas.

Becher elaborou uma teoria da matéria, concebeu uma explicação para uma propriedade da combustibilidade, mas seu caráter irrequieto e possivelmente a falta de uma bagagem filosófica profunda impediram-no de formular uma teoria abrangente. Seu continuador nesse sentido foi Georg Ernst Stahl, que viu nas ideias de Becher um ponto de partida para elaborar uma teoria unificadora da Química, a teoria do flogisto.

Referências

MAAR, Juergen Heinrich. "História da Química" - 2ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. Cap.8, p. 487-491.


Biografia Henning Brand

Hennig Brand (1630 — 1710) foi um mercador e alquimista em Hamburgo, Alemanha. Brand descobriu o elemento químico fósforo em 1669 ao destilar uma mistura de urina e areia na procura da pedra filosofal (a qual supostamente transformaria qualquer metal em que encostasse em ouro). Ao vaporizar a ureia, obteve um material branco que brilhava no escuro e ardia com uma chama brilhante. Por este efeito, Brand deu-lhe esse nome (do latim phosphŏrus, e este do grego φωσφόρος = "Fonte de Luz"). Brand manteve esta descoberta em segredo até 1675 quando mostrou o material aos seus amigos, tornando-se notícia em Hamburgo. Para superar dificuldades financeiras, Brand vendeu uma quantia de fósforo para o comerciante e alquimista alemão Johann Daniel Kraft. Em 1677, por mediação de Gottfried Leibniz, vendeu o segredo da produção em troca de um salário fixo.

A descoberta do fósforo foi realizada graças a sua tentativa de produzir ouro a partir da urina. Em 1669 Brand reuniu 50 galões de urina no porão de sua casa e adicionou-lhes produtos químicos que foi escolhendo arbitrariamente. A pasta resultante foi submetida a um processo de destilação, cujos vapores deveriam transformar-se em ouro quando resfriados em água. O que obteve, porém, foi uma substância que brilhava na escuridão. Em vez de chegar ao ouro, descobriu o fósforo. Pois, com as adições de Hennig Brand, a urina, um fosfato sódico de amônia, foi transformada num fosfito sódico, que, levado à ebulição, decompôs-se de maneira a liberar o fósforo.

Logo se percebeu a importância comercial dessa descoberta. Pelo caminho percorrido por Hennig Brand, eram necessários 50 litros de urina para obter um grama de fósforo, que era vendido por cerca de 30 dólares atuais por grama, valendo mais que o ouro.

O químico sueco Karl Scheele (1742-1786) descobriu em 1769 um processo semelhante à pasteurização que permitiu a produção de fósforo em larga escala e colocou a Suécia como líder mundial em produtos luminíferos.

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