quarta-feira, 1 de junho de 2016

Biografia Galileu Galilei


Galileu Galilei (em italiano: Galileo Galilei; Pisa, 15 de fevereiro de 1564 — Florença, 8 de janeiro de 1642 ) foi um físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano.

Galileu Galilei foi personalidade fundamental na revolução científica. Foi o mais velho dos sete filhos do alaudista Vincenzo Galilei e de Giulia Ammannati. Viveu boa parte de sua vida em Pisa e em Florença, na época integrantes do Grão-Ducado da Toscana.

Galileu Galilei desenvolveu os primeiros estudos sistemáticos do movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo. Descobriu a lei dos corpos e enunciou o princípio da inércia e o conceito de referencial inercial, ideias precursoras da mecânica newtoniana. Galileu melhorou significativamente o telescópio refrator e com ele descobriu as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Vénus, quatro dos satélites de Júpiter,os anéis de Saturno, as estrelas da Via Láctea. Estas descobertas contribuíram decisivamente na defesa do heliocentrismo. Contudo a principal contribuição de Galileu foi para o método científico, pois a ciência assentava numa metodologia aristotélica.

O físico desenvolveu ainda vários instrumentos como a balança hidrostática, um tipo de compasso geométrico que permitia medir ângulos e áreas, o termómetro de Galileu e o precursor do relógio de pêndulo. O método empírico, defendido por Galileu, constitui um corte com o método aristotélico mais abstrato utilizado nessa época, devido a isto Galileu é considerado como o "pai da ciência moderna".

Estudos em Pisa

Galileu foi excelente aluno na escola dominical de Vallombrosa e teve intenção de ingressar no monastério. Seu pai não permitiu e inscreveu-o na Universidade de Pisa para estudar medicina . No entanto desistiu de estudar medicina dois anos depois e decidiu estudar matemática com Ostilio Ricci, discípulo do famoso Niccolò Tartaglia . Seu pai tampouco desejava que o filho estudasse matemática clássica e assim Galileu abandonou a universidade em 1585, sem obter o título e foi para Florença, onde deu aulas particulares para sobreviver e continuou os seus estudos de matemática, mecânica e hidrostática.

Foi nessa época que inventou a balança hidrostática, cujo mecanismo descreveu no breve tratado "La bilancetta", publicado postumamente em 1644. Durante o curso de medicina descobriu o isocronismo do pêndulo, determinando que o seu período não depende da massa, mas apenas do comprimento do fio. Foi o primeiro a pensar que este fenómeno permitiria fazer relógios muito mais precisos, e já no final da sua vida viria a trabalhar no mecanismo de escapo que mais tarde originaria o relógio de pêndulo.

Em 1588, com o apoio de Guidobaldo del Monte, matemático e admirador da sua obra, Galileu foi nomeado para a cátedra de matemática na Universidade de Pisa . Também em Pisa realizou as suas famosas experiências de queda de corpos em planos inclinados. Nestas, demonstra que a velocidade de queda não depende do peso. Em 1590, publicou o pequeno tratado "De motu", sobre o movimento dos corpos. Com suas experiências de movimento de esferas em planos inclinados aproximou-se do que seria mais tarde conhecido como a primeira lei de Newton. Suas descobertas sobre o movimento tiveram significado especial pela abordagem matemática usada para analisá-las. A abordagem matemática se tornaria a marca registrada da física dos séculos XVII e XVIII e por esta razão Galileu seria chamado o "pai da física matemática".

Em Discursos sobre as duas novas ciências (1638) Galileu descreve um experimento com plano inclinado em favor de suas teses sobre a queda dos corpos, o experimento é descrito por uma esfera de bronze que desce sobre uma canaleta em uma viga de madeira inclinada, enquanto uma quantidade de água cai de um recipiente, para marcar o tempo, sua descrição impressiona por sua semelhança com a concepção atual de experimento. Antes da consideração do movimento acelerado e do movimento natural de queda, Galileu examina o movimento uniforme, ele relata que no movimento uniforme, para todos os tempos iguais um objeto percorre espaços iguais, e sugere o movimento uniformemente acelerado como aquele no qual em quaisquer tempos iguais há incrementos iguais na velocidade.

Pádua

Em 1592, ainda devido à influência de Guidobaldo del Monte, conseguiu a cátedra de matemática na Universidade de Pádua, onde passou os 18 anos seguintes, "os mais felizes da sua vida". Nesta universidade ensinou geometria, mecânica e astronomia. Em Pádua, descobriu as leis do movimento parabólico.

Em Pádua conquistou reputação internacional e suas aulas eram frequentadas por até mil alunos.

Telescópio

Em 1609, em uma de suas frequentes viagens a Veneza com seu amigo Paulo Sarpi ouviu rumores sobre a "trompa holandesa",um telescópio que foi oferecido por alto preço ao doge de Veneza. Ao saber que o instrumento era composto de duas lentes em um tubo, Galileu logo construiu um capaz de aumentar três vezes o tamanho aparente de um objeto, depois outro de dez vezes e, por fim, um capaz de aumentar 30 vezes.

Galileu não inventou o telescópio, cujo pedido de patente foi feito em 1608, por Hans Lippershey, fabricante de óculos de Middleburg, nos Países Baixos, embora o termo "telescópio" tenha sido inventado na Itália em 1611.

Porém Galileu foi o primeiro a fazer uso científico do telescópio, ao fazer observações astronómicas com ele.Descobriu assim que a Via Láctea é composta de miríades de estrelas (e não era uma "emanação" como se pensava até essa época), descobriu ainda os satélites de Júpiter, as montanhas e crateras da Lua. Todas essas descobertas foram feitas em março de 1610 e comunicadas ao mundo no livro Sidereus Nuncius ("O Mensageiro das Estrelas") em março do mesmo ano em Veneza. A observação dos satélites de Júpiter, levaram-no a defender o sistema heliocêntrico de Copérnico.

Reconhecimento público e primeiros problemas com a Inquisição

O eco das descobertas astronômicas de Galileu foi imediato, devido à publicação do Sidereus Nuncius foi nomeado matemático e filósofo grã-ducal, sem obrigação de ensinar. Entretanto observa as manchas solares e os anéis de Saturno, que confunde com dois satélites devido à baixa resolução do seu telescópio. Observa ainda as fases de Vénus, que utiliza como uma prova mais do sistema heliocêntrico. Abandonou então Pádua e foi viver em Florença.

Em Florença

A publicação do Sidereus Nuncius suscitou reconhecimento mas também diversas polêmicas. Com a acusação de haver se apossado, com o telescópio, de uma descoberta que não lhe pertencia, foram postas em dúvida também a realidade de suas descobertas. O aristotélico Cremonini recusou-se a olhar pelo telescópio enquanto o matemático bolonhês Antonio Magini - que seria o inspirador do libelo antigalileiano Brevissima peregrinatio contra Nuncium Sidereum escrito por Martin Hotky - sem negar a utilidade do instrumento, sustentou a inexistência das descobertas e Galileu em pessoa, de início, buscou inutilmente dissuadi-lo.

Mais tarde, Magini mudou de ideia e com ele também o astrônomo vaticano Christoph Clavius, que inicialmente havia afirmado que as descobertas eram somente ilusões de ótica das lentes. Era, esta última, uma objeção na época não facilmente refutável, dado que as lentes podiam aumentar a visão mas também deformá-la. Um apoio muito importante foi dado a Galileu por Kepler, que verificou a existência efetiva dos satélites de Júpiter, publicando em Francoforte em 1611 "Narratio de observatis a se quattuor Jovis satellibus erronibus".

Em 1611, foi convocado a Roma para apresentar as suas descobertas ao Colégio Romano dos jesuítas, onde se encontrava o futuro Papa Urbano VIII, de quem ficou amigo, e o cardeal Roberto Bellarmino, que reconhece as suas descobertas. No mesmo ano acede à Accademia dei Lincei.Os matemáticos do Colégio Romano eram considerados as maiores autoridades daquele tempo e em 29 de março de 1611 Galileu apresentou suas descobertas em Roma: foi recebido com todas as honras pelo próprio papa Paulo V, pelos cardeais Francesco Maria Del Monte e Maffeo Barberini e pelo príncipe Federico Cesi, que o inscreveu na Accademia dei Lincei, por ele mesmo fundada havia oito anos. Em 1 de abril, Galileu escreveu ao secretário ducal Belisario Vinta que os jesuítas "tendo finalmente conhecido a verdade dos novos planetas, estão há dois meses em contínuas observações, as quais prosseguem; e as temos comparado com as minhas, e seus resultados correspondem".

Galileu não sabia porém que em 19 de abril o cardeal Roberto Bellarmino havia encarregado os matemáticos vaticanos de aprontar-lhe uma relação sobre novas descobertas feitas por "um valente matemático por meio de um instrumento chamado canhão ou melhor óculos" e que a Congregação do Santo Ofício, no dia 16 de maio, havia decidido questionar sobre as relações existentes entre Galileu e o filósofo Cesare Cremonini, há tempos suspeito de heresia pela inquisição de Pádua. Evidentemente, na Igreja estavam bem presentes as consequências que "poderiam ter estes singulares desenvolvimentos da ciência sobre a concepção geral do mundo e assim, indiretamente, sobre os sacros princípios da teologia tradicional".

Em 1612, Galileu escreveu o "Discurso sobre as coisas que estão sobre a água, ou que nela se movem" - no qual apoiando-se na teoria de Arquimedes demonstrava, contra a teoria de Aristóteles, que os corpos flutuavam ou afundavam na água segundo seu peso específico e não segundo sua forma - provocando a polêmica resposta do "Discurso apologético sobre o Discurso de Galileu Galilei" do literato e aristotélico florentino Ludovico delle Colombe. Em 2 de outubro, no Palácio Pitti, presente o grão-duque e a grã-duquesa Cristina, e o cardeal Maffeo Barberini, então seu grande admirador, deu uma pública demonstração experimental do assunto, negando definitivamente as ideias de Colombe.

No seu "Discurso" Galileu comentava também as manchas solares, que ele sustentava já haver observado em Pádua em 1610, sem porém relatá-las: escreveu então, no ano seguinte, a "'História e demonstração sobre as manchas solares e seus acidentes'", publicada em Roma pela Accademia dei Lincei, em resposta a três cartas do jesuíta Christoph Scheiner que, endereçadas no final de 1611 a Mark Welser, anunciavam a sua descoberta das manchas solares.A parte a questão da prioridade da descoberta, Scheiner sustentava erroneamente que as manchas consistiam de chamas de astros rodando em torno ao Sol, enquanto Galileu as considerava matéria fluida pertencente à superfície do próprio Sol e rodante em torno ao mesmo por causa da rotação da estrela.

Em março de 1614, completou os estudos sobre o método para determinar o peso do ar, calculando seu peso como mínimo, diferente porém de zero. O ar é de fato cerca de 760 vezes mais leve que a água, mas os estudiosos da época pensavam, sem nenhum apoio experimental, que o ar não tinha peso algum.

Entre 1613 e 1615, escreveu as famosas cartas copérnicas dirigidas a Benedetto Castelli, Pietro Dini e Cristina di Lorena. Nestas cartas, Galileu descreveu as suas ideias inovadoras, que geraram muito escândalo nos meios conservadores, e que circularam apesar de nunca terem sido publicadas, ficando assim uma divisão de apoiantes e de opositores nas duas principais universidades da Itália. As passagens mais polémicas são aquelas em que transcreve alguns passos da Bíblia que deviam ser interpretados à luz do sistema heliocêntrico, para o qual Galileu não tinha ainda provas científicas conclusivas. E este começou a ser o princípio de um problema futuro.

Em 1616, a Inquisição (Tribunal do Santo Ofício) pronunciou-se sobre a Teoria Heliocêntrica declarando que a afirmação de que o Sol é o centro imóvel do Universo era herética e que a de que a terra se move estava "teologicamente" errada, contudo nada fora pronunciado a nível científico. O livro de Copérnico De revolutionibus orbium coelestium, entre outros sobre o mesmo tema, foi incluído no Index librorum prohibitorum ("Índice dos livros proibidos"). Foi proibido falar do heliocentrismo como realidade física, mas era permitido referir-se a este como hipótese matemática (de acordo com esta ideia o livro de Copérnico foi retirado do Index passados quatro anos, com poucas alterações). Apesar de que nenhum dos livros de Galileu foi nesta altura incluído no Index, ele foi no entanto convocado a Roma para expor os seus novos argumentos. Teve assim a oportunidade de defender as suas ideias perante o Tribunal do Santo Ofício dirigido por Roberto Bellarmino, que decidiu não haver provas suficientes para concluir que a Terra se movia e que por isso admoestou Galileu a abandonar a defesa da teoria heliocêntrica excepto como ferramenta matemática conveniente para descrever o movimento dos corpos celestes. Tendo Galileu persistido em ir mais longe nas suas ideias, foi então proibido de divulgá-las ou ensiná-las.

Apesar das admoestações, encorajado pela entrada em funções em 1623 do novo Papa Urbano VIII, seu amigo e um espírito mais progressivo e mais interessado nas ciências do que o seu predecessor (que afinal nada teve directamente a ver com a sentença do tribunal), publicou nesse mesmo ano Il Saggiatore (O Analisador), dedicado ao novo papa, para combater a física aristotélica e estabelecer a matemática como fundamento das ciências exactas. Nele coloca em causa muitas ideias de Aristóteles sobre movimento, entre elas a de que os corpos pesados caem mais rápido que os leves. Galileu defendeu que objetos leves e pesados caem com a mesma velocidade na ausência de atrito, diz-se que subiu à torre de Pisa e daí lançou objetos com vários pesos, mas essa história nunca foi confirmada. Este livro era também a reposta a uma polémica que mantinha com o jesuíta Orazio Grassi que defendia o modelo cosmológico de Tycho Brahe segundo o qual a Terra estava fixa no centro do Universo, mas os planetas e outros astros giravam em torno do Sol, que por sua vez girava em torno da Terra. Orazio Grassi defendia também que os cometas eram corpos celestes, o que é correcto, enquanto Galileu defendia erroneamente que eram produto da luz solar sobre o vapor atmosférico.

A condenação de Galileu pelo Santo Ofício

O papa Urbano VIII, que chegou a afirmar que "a Igreja não tinha condenado e não condenaria a doutrina de Copérnico como herética, mas apenas como temerária" e tinha sido testemunha de defesa no processo de 1616, recebeu Galileu no Vaticano em seis audiências em que lhe ofereceu honrarias, dinheiro (pensões de promoção académica e apoio científico) e recomendações. No entanto, o Papa não aceitou o pedido de Galileu de revogar o decreto de 1616 contra o heliocentrismo. Ao contrário, encorajou Galileu a continuar os seus estudos sobre o mesmo, mas sempre como uma hipótese matemática útil porque simplificava os cálculos das órbitas dos astros e significavam um avanço cientifico que ainda não estaria suficientemente maturo para a época.

Foi neste contexto que Galileu escreveu Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano, por vezes abreviado para Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo ("Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo") completado em 1630 e publicado em 1632, onde voltou a defender o sistema heliocêntrico e a utilizar como prova a sua teoria incorrecta das marés. É um diálogo entre três personagens: Salviati (que defende o heliocentrismo), Simplício (que defende o geocentrismo e é um pouco tonto) e Sagredo (um personagem neutro, mas que termina por concordar com Salviati). Esta obra foi decisiva no processo da Inquisição contra Galileu. A isto se deve a história complexa que levou à sua publicação.

O papa tinha sugerido a Galileu escrever um livro em que os dois pontos de vista, o helio- e o geocentrismo, fossem defendidos em igualdade de condições e em que as suas opiniões pessoais também fossem defendidas, e aceitou dar-lhe o Imprimatur caso este fosse o caso. Estariam assim abertas as possibilidades de levar o heliocentrismo adiante eliminando as rivalidades académicas e disputas universitárias, ao mesmo tempo que seriam possivelmente preparadas abordagens teológicas mais claras. Em 1630, com a obra terminada, Galileu viajou a Roma para apresentá-la pessoalmente ao papa. Este fez apenas uma leitura brevíssima e entrega-a aos censores do Vaticano para avaliar se estava de acordo com o decreto de 1616. Mas várias vicissitudes e em particular a ignorância dos censores em astronomia levaram a um grande atraso nesta avaliação, pois realmente o livro voltava a encalhar em aspectos dos defensores do geocentrismo e de uma facção da disputa académica. No fim foram realizadas apenas algumas experiências.

Galileu era cristão, mas tinha um temperamento conflituoso e viveu numa época atribulada na qual a Igreja Católica endurecia a sua vigilância sobre a doutrina para fazer frente às derrotas que sofria pela Reforma Protestante. O papa sentiu que a aceitação do modelo heliocêntrico como ferramenta matemática tinha sido ultrapassada e convocou Galileu a Roma para ser julgado, apesar de este se encontrar bastante doente. Após um julgamento longo e atribulado foi condenado a abjurar publicamente as suas ideias e à prisão por tempo indefinido. Os livros de Galileu foram incluídos no Index, censurados e proibidos, mas foram publicados nos Países Baixos, onde o protestantismo tinha já substituído o catolicismo, o que havia tornado a região livre da censura do Santo Ofício. Galileu havia escolhido precisamente a Holanda para executar uma experiência com o telescópio que anteriormente construíra. Reza a lenda que, ao sair do tribunal após sua condenação, disse uma frase célebre: "Eppur si muove!", ou seja, "contudo, ela se move", referindo-se à Terra. Galileu consegue comutar a pena de prisão a confinamento, primeiro no palácio do embaixador do Grão-duque da Toscana em Roma, depois na casa do arcebispo Piccolomini em Siena e mais tarde na sua própria casa de campo em Arcetri.

Em 1638, quando já estava completamente cego, publicou Discorsi e Dimostrazioni Matematiche Intorno a Due Nuove Scienze em Leiden, na Holanda, a sua obra mais importante. Nela discute as leis do movimento e a estrutura da matéria.

Inicialmente, Galileu e a sua obra foram recebidos e aclamados por clérigos proeminentes. No final de 1610, o padre Cristóvão Clavius escrevia a Galileu, informando-o que os seus colegas astrónomos jesuítas confirmaram as descobertas que ele tinha feito através do telescópio. Quando, no ano seguinte, foi a Roma, Galileu foi recebido com enorme entusiasmo, quer por figuras religiosas, quer por figuras seculares, tendo escrito a uma amigo: "Fui recebido com favor por muitos cardeais, prelados e ilustres príncipes desta cidade".

A Igreja não tinha qualquer objecção ao uso do sistema coperniciano (heliocêntrico), Galileu, apesar de estar convencido de que o sistema não era uma simples hipótese não tinha provas que permitissem sustentar minimamente que fosse, esta convicção.

Ainda assim, em 1616, depois de Galileu ter pública e persistentemente ensinado o sistema coperniciano, as autoridades da Igreja ordenaram-lhe que deixasse de apresentar a teoria coperniciana como se fosse uma teoria verdadeira, embora continuasse a ter a liberdade de a apresentar como uma hipótese. Galileu aceitou esta indicação, e prosseguiu com a investigação. Em 1632, Galileu publica o Diálogo dos grandes sistemas, mas ignorando a indicação que lhe fora dada. Em 1633 foi declarado suspeito de heresia.

Há muitos equívocos quanto à morte de Galileu, pois não foi ele o cientista queimado vivo por sua concepção astronómica, mas Giordano Bruno (1548-1600) que havia sido condenado à morte por heresia nos tribunais da Inquisição ao defender ideias semelhantes. Galileu Galilei, na verdade, morre em Arcetri rodeado pela sua filha Maria Celeste e os seus discípulos.Foi enterrado na Basílica de Santa Cruz em Florença, onde também estão Machiavelli e Michelangelo.

No decorrer dos séculos, a Igreja Católica reviu as suas posições no confronto com Galileu. Em 1846, são removidas todas as obras que apoiam o sistema coperniciano da versão revista do Index Librorum Prohibitorum. Em mais de três séculos passados da sua condenação, é iniciada a revisão do seu processo que decide pela sua absolvição em 1983. Contudo a revisão da condenação não tem nada a ver com o sistema heliocêntrico porque esse nunca foi objecto dos processos.

A defesa do heliocentrismo e o processo do Santo Ofício

Os autores medievais aceitavam que a Terra era redonda, mas acreditavam no geocentrismo como fora estruturado por Aristóteles e Ptolomeu.
O sistema cosmológico, na ciência, ensinava que a Terra estava parada no centro do universo e os outros corpos orbitavam em círculos concêntricos ao seu redor. A Igreja Católica aceitava esse modelo. Contudo essa não era uma certeza tradicional na ciência da época e não era um problema discutido. O heliocentrismo já era uma ideia antiga e que nunca despertou grande interesse nem complicação. Essa visão geocêntrica tradicional para alguns hoje foi abalada por Nicolau Copérnico que se limitou a dizer o que já tinha sido divulgado pelos monges copistas em seus manuscritos, que em 1514 começou a divulgar no meio académico um modelo matemático em que a Terra e os outros corpos celestes giravam ao redor do Sol, tese que ficou conhecida como heliocentrismo. Nesse primeiro momento, não se encontram muitas críticas por parte da Igreja. Note-se no entanto, que a obra de Copérnico foi publicada com uma nota introdutória, não assinada, que explicava que o modelo apresentado devia ser interpretado apenas como uma ferramenta matemática que simplificava o cálculo das órbitas dos corpos celestes e nunca como uma descrição da realidade. Johannes Kepler descobriu que essa nota introdutória havia sido escrita por Andreas Osiander, um clérigo luterano que supervisionou a impressão da obra.

Galileu viveu uma época atribulada. Durante a Idade Média, muitos teólogos já haviam reinterpretado as escrituras, mas depois do Concílio de Trento a Igreja passava a condenar esse comportamento. Galileu acabou condenado por desobediência e por proferir conteúdos contra a doutrina católica, por ignorância nestes temas, ao mesmo tempo que muitos clérigos apoiaram o geocentrismo e outros o heliocentrismo em disputas académicas.

No ano 2000, o Papa João Paulo II emitiu finalmente um pedido formal de desculpas por todos os erros cometidos pela Igreja Católica nos últimos 2.000 anos, incluindo o julgamento de Galileu Galilei pela Inquisição.

Vida familiar

Galileu nunca se casou. Porém, ele teve um relacionamento com Marina Gamba, uma mulher que ele conheceu em uma de suas muitas viagens a Veneza. Marina morou na casa de Galileu em Pádua, onde deu à luz três crianças. Suas duas filhas, Virgínia e Lívia, foram colocadas em conventos onde se tornaram, respectivamente, irmã Maria Celeste e irmã Arcângela. Em 1610, Galileu mudou-se de Pádua para Florença onde ele assumiu uma posição na corte dos Médici. Ele deixou seu filho, Vincenzo, com Marina Gamba em Pádua. Em 1613, Marina casou-se com Giovanni Bartoluzzi, e Vincenzo foi viver junto com seu pai em Florença.

Biografia Giordano Bruno

Giordano Bruno (Nola, Reino de Nápoles, 1548— Roma, Campo de Fiori, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício) com a acusação de heresia ao defender erros teológicos. É também referido como Bruno de Nola ou Nolano.

Origem e formação
Filho do militar Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino,seu nome de batismo era Filippo Bruno.Adotou o nome de Giordano quando ingressou na Ordem Dominicana, aos 15 anos de idade.

No seminário, estudou Aristóteles e Tomás de Aquino, predominantes na doutrina Católica da época, doutorando-se em Teologia.

Suas ideias avançadas, porém, suscitaram suspeitas por parte da hierarquia da Igreja. Em 1576 foi acusado de heresia e levado a Roma para ser julgado. Poucos meses depois, abandonou o hábito e em 1579 deixou a Itália.

Iniciou-se, então, o período de peregrinação de sua vida. Em Gênova, ainda em 1579, aparentemente, adotou o Calvinismo, o que negaria mais tarde, ao ser julgado em Veneza. Acabou sendo excomungado pelos calvinistas e expulso de Gênova.Viajou sucessivamente para França (Toulouse, Paris), Suíça e Inglaterra.Em Londres, onde permaneceu de 1583 a 1585, esteve sob a proteção do embaixador francês, e frequentou o círculo de amigos do poeta inglês Sir Philip Sidney. Em 1585, Bruno retornou a Paris, indo em seguida para Marburgo, Wittenberg, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde conseguiu publicar vários de seus escritos.

Prisão, julgamento e execução

Em Roma, o julgamento de Bruno durou oito anos, durante os quais ele foi preso, por último, na Torre de Nona. Alguns documentos importantes sobre o julgamento estão perdidos, mas outros foram preservados e entre eles um resumo do processo, que foi redescoberto em 1999.As numerosas acusações contra Bruno, com base em alguns de seus livros, bem como em relatos de testemunhas, incluíam blasfêmia, conduta imoral e heresia em matéria de teologia dogmática e envolvia algumas das doutrinas básicas da sua filosofia e cosmologia. Luigi Firpo lista estas acusações feitas contra Bruno pela Inquisição Romana:

Sustentar opiniões contrárias à fé católica e contestar seus ministros;
Sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação;
Sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre Jesus como Cristo;
Sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a virgindade de Maria, mãe de Jesus;
Sustentar opiniões contrárias à fé católica tanto sobre a Transubstanciação quanto a Missa;
Reivindicar a existência de uma pluralidade de mundos e suas eternidades;
Acreditar em metempsicose e na transmigração da alma humana em brutos, e;
Envolvimento com magia e adivinhação.

Giovanni Mocenigo (1558-1623), membro de um das mais ilustres famílias venezianas, encontrou Bruno em Frankfurt em 1590 e convidou-o para ir a Veneza, a pretexto de lhe ensinar mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, em que Bruno era perito. Segundo Will Durant Bruno estava havia muitos anos na lista dos procurados pela Inquisição, ansiosa por prendê-lo por suas doutrinas subversivas, mas Veneza gozava da fama de proteger tais foragidos, e o filósofo sentiu-se encorajado a cruzar os Alpes e regressar. Como Mocenigo quisesse usar as artes da memória com fins comerciais, segundo alguns, ou esperasse obter de Bruno ensinamentos de ocultismo para aumentar seu poder, prejudicar seus concorrentes e inimigos, segundo outros, Bruno se negou a ensiná-lo.Segundo Durant, Mocenigo, católico piedoso, assustava-se com "as heresias que o loquaz e incauto filósofo lhe expunha", e perguntou a seu confessor se devia denunciar Bruno à Inquisição. O sacerdote recomendou-lhe esperar e reunir provas, no que Mocenigo assentiu; mas quando Bruno anunciou seu desejo de regressar a Frankfurt, o nobre denunciou-o ao Santo Ofício. Mocenigo trancou-o num quarto e chamou os agentes da Inquisição para levarem-no preso, acusado de heresia. Bruno foi transferido para o cárcere do Santo Ofício de San Domenico de Castello, no dia 23 de maio de 1592.

No último interrogatório pela Inquisição do Santo Ofício, não abjurou e, no dia 8 de fevereiro de 1600, foi condenado à morte na fogueira. Obrigado a ouvir a sentença ajoelhado, Giordano Bruno teria respondido com um desafio: Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam ("Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la").

A execução de sua sentença ocorreu no dia 17 de fevereiro de 1600. Na ocasião teve a voz calada por um objeto de madeira posto em sua boca.

Ideário
Foi trágico o desfecho do processo contra Giordano Bruno (séc. XVI ), acusado de panteísmo e queimado vivo por defender com exaltação poética a doutrina da infinitude do Universo e por concebê-lo não como um sistema rígido de seres, articulados em uma ordem dada desde a eternidade, mas como um conjunto que se transforma continuamente.

Um dos pontos chaves de sua cosmologia é a tese do universo infinito e povoado por uma infinidade de estrelas, como o Sol, e por outros planetas, nos quais, assim como na Terra, existiria vida inteligente.Sua perspectiva se define a partir das idéias de Nicolau da Cusa, Copérnico e Giovanni Battista della Porta.

As suas ideias sobre a relatividade anteciparam as de Galileu: num universo infinito, qualquer perspectiva de qualquer objeto é sempre relativa à posição do observador, há infinitos referenciais possíveis e não existe nenhum privilegiado em relação aos demais. Além de defender a existência de planetas extrassolares, pode ter introduzido algumas idéias do que seria depois a Teoria da Evolução de Darwin

Seu livro Spaccio de la Bestia Trionfante era um ataque à religião e mostrava o ateísmo do seu autor.

Segundo John Gribbin, em seu livro Science: A History (1543-2001), Bruno filiou-se ao hermetismo, baseado em escrituras egípcias, da época de Moisés. Entre outras referências, esse movimento utilizava os ensinamentos atribuídos ao deus egípcio Thoth, cujo equivalente grego era Hermes (hermetismo), conhecido pelos seguidores como Hermes Trismegisto. Bruno teria abraçado a teoria de Copérnico porque ela se encaixava bem na ideia egípcia de um universo centrado no sol.

Deus seria a força criadora perfeita que forma o mundo e que seria imanente a ele. Bruno defendia a crença nos poderes humanos extraordinários, e enfrentou abertamente a Igreja Católica e seus preceitos.

Filosofia

Giordano Bruno foi o grande defensor da ideia de infinito.

"Nós declaramos esse espaço infinito, dado que não há qualquer razão, conveniência, possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um limite." (Giordano Bruno, Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos, 1584).
Bruno era hilozoísta (pensava que tudo tem vida) e panpsiquista (pensava que tudo tem uma natureza psíquica, uma alma).

"A Terra e os astros (...), como eles dispensam vida e alimento às coisas, restituindo toda matéria que emprestam, são eles próprios dotados de vida, em uma medida bem maior ainda; e sendo vivos, é de maneira voluntária, ordenada e natural, segundo um princípio intrínseco, que eles se movem em direção às coisas e aos espaços que lhes convêm" (A ceia de cinzas).
"Todas as formas de coisas naturais têm almas? Todas as coisas são animadas? pergunta Dicson.Theophilo, porta-voz de Bruno, responde: Sim, uma coisa, por minúscula que seja, encerra em si uma parte de substância espiritual, a qual, se encontra o sujeito  adequado, torna-se planta, animal (...); porque o espírito se encontra em todas as coisas, e não há mínimo corpúsculo que não o contenha em certa medida e que não seja por ele animado." (Causa, Princípio e Unidade, 1584).
"E o que se pode dizer de cada parcela do grande Todo, átomo, mônada, pode se dizer do universo como totalidade. O mundo abriga em seu coração a Alma do mundo".
"O mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar que Deus , ser infinito, possa ter se limitado a si mesmo criando um mundo fechado e limitado?"
"Não é fora de nós que devemos procurar a divindade, pois que ela está do nosso lado, ou melhor, em nosso foro interior, mais intimamente em nós do que estamos em nós mesmos." (A ceia de cinzas).

Obras

De umbris idearum, 1582
Cantus Circaeus, 1582
De compendiosa architectura, 1582
Il Candelaio, 1582
Ars reminiscendi, 1583
Explicatio triginta sigillorum, 1583
Sigillus sigillorum, 1583
Le ombre delle idee, 1582
La cena de le ceneri, 1583
De l’infinito universo e mondi, 1584
De la causa, principio e uno, 1584
Spaccio de la Bestia Trionfante, 1584 [1] [Nota 1]
Cabala del Cavallo Pegaseo, 1585
Gli eroici furori, 1585
Figuratio Aristotelici Physici auditus, 1585
Dialogi duo de Fabricii Mordentis Salernitani, 1586
Idiota triumphans, 1586
De somni interpretatione, 1586
Animadversiones circa lampadem lullianam, 1586
Lampas triginta statuarum, 1586
Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos, 1586
De lampade combinatoria Lulliana, 1587
De progressu et lampade venatoria logicorum, 1587
Oratio valedictoria, 1588
Camoeracensis Acrotismus, 1588
De specierum scrutinio, 1588
Articuli centum et sexaginta adversus huius tempestatis mathematicos atque Philosophos, 1588
Oratio consolatoria, 1589
De magia, 1591
De vinculis in genere, 1591
De triplici minimo et mensura, 1591
De monade numero et figura, 1591
De innumerabilibus, immenso, et infigurabili, 1591
De imaginum, signorum et idearum compositione, 1591
Summa terminorum metaphisicorum, 1595
Artificium perorandi, 1612

Biografia Johannes Kepler


Johannes Kepler (Weil der Stadt, 27 de dezembro de 1571 — Ratisbona, 15 de novembro de 1630) foi um astrônomo e matemático alemão. Considerado figura-chave da revolução científica do século XVII. É mais conhecido por ter formulado as três leis fundamentais da mecânica celeste, conhecidas como Leis de Kepler, codificadas por astrônomos posteriores com base em suas obras Astronomia Nova, Harmonices Mundi, e Epítome da Astronomia de Copérnico. Essas obras também forneceram uma das bases para a teoria da gravitação universal de Isaac Newton.

Durante sua carreira, Kepler foi professor de matemática em uma escola seminarista em Graz, Áustria, um assistente do astrônomo Tycho Brahe, o matemático imperial do imperador Rodolfo II e de seus dois sucessores, Matias I e Fernando II. Também foi professor de matemática em Linz, Áustria, e conselheiro do general Wallenstein. Adicionalmente, fez um trabalho fundamental no campo da óptica, inventou uma versão melhorada do telescópio refrator (o telescópio de Kepler) e ajudou a legitimar as descobertas telescópicas de seu contemporâneo Galileu Galilei.

Kepler viveu numa época em que não havia nenhuma distinção clara entre astronomia e astrologia, mas havia uma forte divisão entre a astronomia (um ramo da matemática dentro das artes liberais) e a física (um ramo da filosofia natural). Kepler também incorporou raciocínios e argumentos religiosos em seu trabalho, motivado pela convicção religiosa de que Deus havia criado o mundo de acordo com um plano inteligível, acessível através da luz natural da razão.Kepler descreveu sua nova astronomia como "física celeste",como "uma excursão à Metafísica de Aristóteles" e como "um suplemento de Sobre o Céu de Aristóteles",transformando a antiga tradição da cosmologia física ao tratar a astronomia como parte de uma física matemática universal.

Johannes Kepler nasceu em 27 de dezembro de 1571, na cidade imperial livre Weil der Stadt (agora parte da Região de Estugarda no estado alemão Baden-Württemberg, 30 km a oeste do centro de Estugarda). Seu avô, Sebald Kepler, tinha sido lorde-prefeito daquela cidade, mas, quando Johannes nasceu, tinha dois irmãos e uma irmã e a fortuna da família Kepler estava em declínio. Seu pai, Heinrich Kepler, ganhava a vida de maneira precária como um mercenário, e deixou a família quando Johannes tinha cinco anos de idade. Acreditava-se que tinha morrido na Guerra dos Oitenta Anos nos Países Baixos. Sua mãe, Katharina Guldenmann, a filha de um dono de hospedaria, era uma curandeira e herbolária que mais tarde foi julgada por bruxaria. Nascido prematuramente, Johannes disse ter sido uma criança fraca e doente. Ele foi, no entanto, uma criança brilhante; e frequentemente impressionava viajantes na pousada de seu avô com sua fenomenal capacidade matemática.

Kepler foi apresentado à astronomia quando criança, e desenvolveu um amor por ela que manteve por toda sua vida. Aos seis anos de idade, observou o Grande Cometa de 1577, deixou escrito que "foi levado por sua mãe para um local elevado para vê-lo." Aos nove anos, observou um outro evento astronômico, um eclipse lunar em 1580, registrando que se lembrava de ter sido "chamado para fora" para observá-lo e que a lua "parecia bastante vermelha".No entanto, varíola durante a infância o deixou com a visão fraca e alguma invalidez nas mãos, limitando sua habilidade para os aspectos observacionais da astronomia.

Em 1589, depois de ter passado pela escola primária, escola de latim, e seminário em Maulbronn, Kepler começou a assistir as aulas de Tübinger Stift na Universidade de Tubinga. Lá, estudou filosofia, tendo Vitus Müller como professor e teologia tendo Jacob Heerbrand como professor (um estudante de Philipp Melanchthon em Wittenberg), que também ensinou Michael Maestlin quando esse era um estudante.Kepler provou ser um matemático excepcional e ganhou uma reputação de astrólogo hábil, fazendo horóscopos para colegas estudantes. Sob a instrução de Michael Maestlin, professor de matemática de Tübingen de 1583 até 1631,ele aprendeu tanto o sistema ptolomaico quanto o sistema copernicano dos movimentos planetários. Ele se tornou um copernicano na época. Em um debate estudantil, defendeu o heliocentrismo de uma perspectiva tanto teórica quanto teológica, mantendo que o Sol era a principal fonte de poder motriz no Universo.Apesar de seu desejo de se tornar um ministro, perto do fim de seus estudos Kepler foi recomendado para uma posição de professor de matemática e astronomia na escola protestante de Graz (mais tarde a Universidade de Graz). Ele aceitou a posição em abril de 1594, quando tinha 23 anos de idade.

Graz (1594–1600)


Mysterium Cosmographicum

O modelo de Kepler dos sólidos platônicos para o Sistema Solar, do Mysterium Cosmographicum (1600)

O primeiro grande trabalho sobre astronomia de Johannes Kepler, Mysterium Cosmographicum (O Mistério Cosmográfico), foi a primeira defesa publicada do sistema copernicano. Kepler afirmou ter tido uma epifania em 19 de julho de 1595, enquanto ensinava em Graz, enquanto explicava a conjunção periódica de Saturno e Júpiter no zodíaco; ele percebeu que polígonos regulares limitavam um círculo inscrito e um círculo circunscrito em razões definidas, que, ele raciocinou, poderiam ser a base geométrica do universo. Após não conseguir encontrar um arranjo único de polígonos que se ajustasse às observações astronômicas conhecidas (mesmo com planetas extras adicionados ao sistema), Kepler começou a experimentar com poliedros, figuras tri-dimensionais. Ele descobriu que cada um dos cinco sólidos platônicos podia ser inscrito e circunscrito de forma única por esferas celestes; aninhando-se estes sólidos, cada um envolto por uma esfera, cada um dentro do outro, produzia-se seis camadas, correspondentes aos seis planetas conhecidos — Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, e Saturno. Ao ordenar os sólidos corretamente —octaedro, icosaedro, dodecaedro, tetraedro, cubo— Kepler descobriu que as esferas podiam ser posicionadas em intervalos correspondentes (dentro dos limites de acurácia das observações astronômicas disponíveis) ao tamanho relativo de cada trajetória planetária, assumindo-se que os planetas giram em torno do Sol. Kepler também encontrou uma fórmula que relacionava o tamanho da esfera de cada planeta com a duração de seu período orbital: dos planetas interiores aos exteriores, a razão de aumento do período orbital é o dobro da diferença entre os raios das esferas. No entanto, mais tarde Kepler rejeitou esta fórmula, porque ela não era precisa o suficiente.
Como ele indicou no título, Kepler pensou que havia revelado o plano geométrico de Deus para o Universo. Muito do entusiasmo de Kepler pelo sistema copernicano vinha de suas convicções teológicas a respeito da conexão entre o físico e o espiritual; o próprio Universo era uma imagem de Deus, com o Sol correspondendo ao Pai, e a esfera estelar ao Filho, e o espaço intermediário entre eles ao Espírito Santo. Seu primeiro manuscrito de Mysterium continha um extenso capítulo reconciliando o heliocentrismo com passagens bíblicas que pareciam sustentar o geocentrismo.


Seção interna do modelo

Com o apoio de seu mentor Michael Maestlin, Kepler recebeu permissão do senado da Universidade de Tübingen para publicar seu manuscrito, pendendo remoção da exegese bíblica e a adição de uma descrição mais simples e entendível do sistema copernicano assim como das novas ideias de Kepler. Mysterium foi publicado nos finais de 1596, e Kepler recebeu suas cópias e começou a enviá-las a proeminentes astrônomos e patronos dos começos de 1597; não foi amplamente lido, mas estabeleceu a reputação de Kepler como astrônomo muito habilidoso. A efusiva dedicação a patronos poderosos, assim como aos homens que controlavam sua posição em Graz, também forneceu uma porta de entrada decisiva para o sistema de patronagem.

Apesar dos detalhes terem sido modificados à luz de seus trabalhos posteriores, Kepler nunca renunciou à cosmologia platonista poliédrica-esferista apresentada em Mysterium Cosmographicum. Suas principais obras de astronomia subsequentes foram de certa forma, apenas desenvolvimentos adicionais dela, preocupados em encontrar dimensões interiores e exteriores mais precisas para as esferas, por meio do cálculo das excentricidades das órbitas planetárias dentro delas. Em 1621, Kepler publicou a segunda edição de Mysterium, expandida, uma metade a mais que a primeira, detalhando em notas de rodapé as correções e melhorias que ele tinha alcançado após 25 anos desde sua primeira publicação.


A localização da stella nova, no pé de Ofiúco, está marcada com um N (localizada 8 quadrículas para baixo e 4 da esquerda para a direita).

Em termos de impacto, Mysterium pode ser visto como um importante primeiro passo na modernização da teoria copernicana. Não há dúvidas de que objetivo de "De Revolutionibus" de Copérnico foi o de promover um sistema heliocêntrico, mas nesse livro ele recorreu a artifícios ptolemaicos (epiciclos e círculos excêntricos) a fim de explicar a mudança na velocidade orbital dos planetas. Além disso, Copérnico continuou a usar como ponto de referência o centro da órbita terrestre em vez da do Sol, como dito por ele, "como um auxílio para as contas e a fim de não confundir o leitor por divergir muito de Ptolomeu." Portanto, embora a tese do "Mysterium Cosmographicum" estivesse errada, a astronomia moderna deve muito a esse trabalho "uma vez que representa o primeiro passo na limpeza do sistema copernicano dos remanescentes da teoria ptolomaica ainda agarrados a ela."

Casamento com Barbara Müller

Em dezembro 1595, Kepler foi apresentado a Barbara Müller, de 23 anos de idade, viúva (duas vezes) e com uma filha pequena, Gemma van Dvijneveldt, e ele começou a cortejá-la. Müller, herdeira dos bens de seus maridos falecidos, também era a filha de um bem-sucedido dono de um moinho. Seu pai, Jobst, inicialmente se opôs ao casamento, apesar da nobreza de Kepler; embora ele tivesse herdado a nobreza de seu avô, sua pobreza fazia dele um partido inaceitável. Jobst cedeu após Kepler completar sua obra Mysterium, mas o acordo quase se desfez enquanto Kepler estava longe cuidando dos detalhes para a publicação. No entanto, oficiais da igreja —que tinham ajudado a estabelecer o casamento— pressionaram os Müllers a honrar com seu acordo. Barbara e Johannes se casaram em 27 de abril de 1597.

Nos primeiros anos do seu casamento, os Keplers tiveram dois filhos (Heinrich e Susanna), que morreram na infância. Em 1602, eles tiveram uma filha (Susanna); em 1604, um filho (Friedrich); e em 1607, outro filho (Ludwig).

Outras pesquisas

Após a publicação de Mysterium e com a bênção dos inspetores escolares de Graz, Kepler começou um ambicioso programa para estender e elaborar suas obras. Ele planejou quatro livros adicionais: um sobre os aspectos estacionários do Universo (o Sol e as estrelas fixas); um sobre os planetas e seus movimentos; um sobre a natureza física dos planetas e a formação das características geográficas (focado especialmente na Terra); e um sobre os efeitos dos céus sobre a Terra, incluindo óptica atmosférica, meteorologia e astrologia.

Ele também procurou as opiniões de muitos dos astrônomos aos quais tinha enviado Mysterium, entre eles Reimarus Ursus (Nicolaus Reimers Bär) —o matemático imperial de Rodofo II e um rival mordaz de Tycho Brahe. Ursus não respondeu diretamente, mas republicou a carta lisonjeira de Kepler, a fim de vencer sua disputa contra Tycho, a respeito da primazia do (como é agora chamado) sistema tychonico. Apesar disso, Tycho também começou a trocar correspondências com Kepler, começando com uma crítica severa, mas legítima, do sistema de Kepler; dentre uma série de objeções, Tycho declarou ser um problema o uso de dados numéricos imprecisos de Copérnico. Através de suas cartas, Tycho e Kepler discutiram sobre uma ampla gama de problemas de astronomia, entre eles, fenômenos lunares e a teoria copernicana (particularmente, a sua viabilidade teológica). Mas sem os dados significativamente mais precisos do observatório de Tycho, Kepler não tinha como tratar de muitas dessas questões.



Diagrama da trajetória geocêntrica de Marte através de vários períodos de aparente movimento retrógrado. Astronomia nova, Capítulo 1, (1609).

Em vez disso, ele voltou sua atenção para a cronologia e "harmonia", as relações numerológicas entre a música, matemática e o mundo físico, e suas consequências astrológicas. Assumindo que a Terra possuía uma alma (uma propriedade que mais tarde ele invocaria para explicar como o Sol causa o movimento dos planetas), ele estabeleceu um sistema especulativo que conectava aspectos astrológicos e distâncias astronômicas ao clima e outros fenômenos terrestres. Por volta de 1599, entretanto, novamente ele sentiu seu trabalho limitado pela imprecisão dos dados disponíveis —assim como uma crescente tensão religiosa que também estava ameaçando a continuação de seu emprego em Graz. Em dezembro daquele ano, Tycho convidou Kepler a visitá-lo em Praga; em 1º de janeiro de 1600 (antes mesmo de ele receber o convite), Kepler partiu na esperança de que a patronagem de Tycho poderia resolver seus problemas filosóficos assim como os sociais e financeiros.

Praga (1600–1612)

Trabalho para Tycho Brahe


Um dos diagramas de Strena Seu de Nive Sexangula, ilustrando a conjectura de Kepler

Em 4 de fevereiro de 1600, Kepler encontrou Tycho Brahe e seus assistentes Franz Tengnagel e Longomontanus em Benátky nad Jizerou (a 35 km de Praga), o local onde o novo observatório de Tycho estava sendo construído. Nos dois meses seguintes, ele permaneceu como um convidado, analisando algumas das observações de Tycho a respeito de Marte; Tycho vigiava de perto os seus dados, mas ficou impressionado com as ideias teóricas de Kepler e logo lhe permitiu mais acesso. Kepler planejava testar sua teoria exposta no Mysterium Cosmographicum baseando-se nos dados sobre Marte, mas ele estimou que o trabalho levaria até dois anos (uma vez que ele não tinha permissão para simplesmente copiar os dados para seu próprio uso). Com a ajuda de Johannes Jessenius, Kepler tentou negociar um arranjo de emprego mais formal com Tycho, mas as negociações acabaram em uma discussão furiosa, e Kepler partiu para Praga em 6 de abril. Kepler e Tycho logo se reconciliaram e finalmente chegaram a um acordo sobre o salário e condições de moradia, e em junho, Kepler retornou a sua casa em Graz para reunir-se com sua família.

Dificuldades politicas e religiosas em Graz arrancaram suas esperanças de retornar imediatamente a Tycho; na esperança de continuar seus estudos de astronomia, Kepler procurou uma nomeação como matemático do arquiduque Fernando. Com esse objetivo, Kepler compôs um ensaio — dedicado a Fernando — em que propunha uma teoria baseada em forças para o movimento da Lua: "In Terra inest virtus, quae Lunam ciet" ("Há uma força na Terra que faz com que a lua se mova").Embora o ensaio não tenha lhe rendido um lugar na corte Fernando, ele continha detalhes a respeito de um novo método para mensurar eclipses lunares, que ele aplicou durante o eclipse de 10 de julho em Graz. Essas observações formaram a base de suas explorações das leis da óptica que culminariam em seu Astronomiae Pars Optica.

Em 2 de agosto de 1600, após se recusar a converter-se ao catolicismo, Kepler e sua família foram banidos de Graz. Meses depois, Kepler retornou a Praga, agora com o restante de sua família. Durante a maior parte de 1601, Kepler foi diretamente financiado por Tycho, que o designou para analisar observações planetárias e escrever um trato contra o rival de Tycho (então falecido), Ursus. Em setembro, Tycho garantiu-lhe uma comissão para que fosse colaborador no novo projeto que ele tinha proposto ao imperador: as tábuas rudolfinas que deveriam substituir as tábuas prutênicas de Erasmus Reinhold. Dois dias após a morte inesperada de Tycho em 24 de outubro de 1601, Kepler foi nomeado seu sucessor como matemático imperial com a responsabilidade de completar seu trabalho inacabado. Os próximos onze anos como matemático imperial foram os mais produtivos de sua vida.


Harmonias geométricas nos sólidos perfeitos, de Harmonices Mundi (1619)

Conselheiro do imperador Rodolfo II

A obrigação primária de Kepler como matemático imperial era dar conselhos astrológicos para o imperador. Embora Kepler tivesse uma visão negativa das tentativas de astrólogos contemporâneos de predizer precisamente o futuro ou eventos divinos específicos, ele projetava bem-recebidos detalhados horóscopos para amigos, família e patronos desde seu tempo como estudante em Tübingen. Além de horóscopos para aliados e líderes estrangeiros, o imperador buscava os conselhos de Kepler em tempos de problemas políticos (no entanto, as recomendações de Kepler eram baseadas mais em bom senso do que nas estrelas). Rodolfo se interessava ativamente pelo trabalho de vários dos estudiosos de sua corte (incluindo numerosos alquimistas) e manteve-se a par do trabalho de Kepler em astronomia física.

Oficialmente, as únicas doutrinas religiosas aceitáveis em Praga eram a Católica e a Utraquista, mas a posição de Kepler na corte imperial permitiu-lhe praticar sua fé luterana desimpedido. O imperador nominalmente abastecia a família de Kepler com um ampla renda, mas das dificuldades do crédito sobrecarregado do tesouro imperial decorria que realmente obter dinheiro suficiente para cumprir com as obrigações financeiras era uma luta ininterrupta. Parcialmente por causa de problemas financeiros, sua vida domiciliar com Barbara era desagradável, marcada por brigas e crises de doença. A vida na corte, no entanto, levou Kepler a ter contanto com outros proeminentes estudiosos (Johannes Matthäus Wackher von Wackhenfels, Jost Bürgi, David Fabricius, Martin Bachazek, e Johannes Brengger, entre outros) e seu trabalho astronômico avançou rapidamente.

Astronomiae Pars Optica

Ao passo que ele lentamente continuava a analisar as observações de Tycho a respeito de Marte —agora à sua disposição em sua totalidade— e começava o lento processo de tabulação das tábuas rudolfinas, Kepler também retomou a investigação a respeito das leis da óptica de seu ensaio de 1600 sobre a Lua. Tanto o eclipse lunar quanto o solar apresentavam fenômenos não explicados, tais como tamanhos inesperados para as sombras, a cor vermelha de um eclipse lunar total, e a luz incomum ao redor de um eclipse solar total que tinha sido por alguns noticiada. Questões relacionadas de refração atmosférica se aplicavam a todas as observações astronômicas. Durante a maior parte do ano de 1603, Kepler fez uma pausa em seu outro trabalho para focar na teoria óptica; o manuscrito resultante, apresentado ao imperador em 1º de janeiro de 1604, foi publicado com o título Astronomiae Pars Optica (A Parte Óptica da Astronomia). Nessa obra, Kepler descreveu a lei do inverso do quadrado da distância que governa a intensidade da luz, reflexão por espelhos planos e curvos, e princípios das câmeras estenopeicas, assim como as implicações da óptica para a astronomia, tais como a paralaxe e os tamanhos aparentes dos corpos celestes. Ele também estendeu seu estudo de óptica ao olho humano, e é geralmente considerado por neurocientistas como o primeiro a perceber que as imagens são projetadas invertidas e são revertidas pelo cristalino na retina. A solução para esse dilema não era de particular importância para Kepler porque ele não o via como dizendo respeito à óptica, embora ele tenha sugerido que a imagem era mais tarde corrigida "nas cavidades do cérebro" devido à "atividade da alma".Atualmente, Astronomiae Pars Optica é geralmente reconhecido como a fundação da óptica moderna (embora a lei da refração não apareça nele).


O horóscopo feito por Kepler para o General Wallenstein

A Supernova de 1604

Em outubro de 1604, uma nova estrela bastante brilhante (SN 1604) apareceu, mas Kepler não acreditou nos rumores até que ele mesmo a viu. Kepler começou a observar sistematicamente a estrela. Astrologicamente, o final de 1603 marcava o começo de um trígono de fogo, o começo do ciclo de grandes conjunções de ca. 800 anos; astrólogos associaram os dois prévios períodos desse tipo com a ascensão de Carlos Magno (ca. 800 anos antes) e o nascimento de Cristo (cerca de 1600 anos antes), e assim esperavam eventos grandiosos, especialmente em relação ao imperador. Foi nesse contexto, como matemático imperial e astrólogo do imperador, que Kepler descreveu a nova estrela dois anos depois em seu De Stella Nova. Nele, Kepler tratou a respeito das propriedades astronômicas da estrela, tendo uma atitude cética para as muitas interpretações astrológicas então em circulação. Ele percebeu sua luminosidade em enfraquecimento, especulou a respeito de sua origem, e usou a falta de paralaxe observada para argumentar que ela estava na esfera de estrelas fixas, minando ainda mais a doutrina da imutabilidade dos céus (a ideia aceita desde Aristóteles de que as esferas celestiais eram perfeitas e imutáveis). O nascimento de uma nova estrela implicava a variabilidade dos céus. Em um apêndice, Kepler também discutiu o então recente trabalho cronológico do historiador polonês Laurentius Suslyga; ele calculou que, se Suslyga estava correto de que as cronologias aceitas estavam quatro anos atrasadas, então a Estrela de Belém —de maneira análoga à então nova estrela— teria coincidido com a primeira grande conjunção do ciclo de 800 anos anterior.

Astronomia nova

A ampla linha de investigação que culminou no Astronomia nova (Uma Nova Astronomia) —incluindo as primeiras duas leis do movimento planetário— começou com a análise, sob a direção de Tycho, da órbita de Marte. Kepler calculou e recalculou várias aproximações da órbita de Marte usando um equante (a ferramente matemática que Copérnico tinha eliminado com o seu sistema), e por fim criou um modelo que em geral concordava com as observações de Tycho para dentro de dois minutos de arco (o erro médio das medições). Mas ele não ficou satisfeito com o demasiado complexo e ainda levemente pouco preciso resultado; em certos pontos o modelo diferia dos dados por até oito minutos de arco. Nenhum dos vários métodos de astronomia matemática tradicionais logrou o fim em vista, e foi então que Kepler começou a tentar encaixar uma órbita oval para os dados.

Na visão religiosa de Kepler do cosmos, o Sol (um símbolo de Deus, o Pai) era a fonte da força motiva no sistema solar. Para embasamento físico, Kepler usou de analogia com a teoria de William Gilbert da alma magnética da Terra encontrada em De Magnete (1600) e em suas próprias pesquisas em óptica. Kepler supôs que o poder motivo (ou espécies motivas) irradiado pelo Sol enfraquecia com a distância, causando movimento mais rápido ou lento a medida que os planetas se moviam para mais próximo ou longe dele.Talvez esta suposição implicasse uma relação matemática que restaurasse a ordem astronômica. Baseado em medições do afélio e periélio da Terra e Marte, ele criou uma fórmula em que a taxa de movimento de um planeta é inversamente proporcional a sua distância ao Sol. Verificar essa relação para todo o ciclo orbital, no entanto, requiria cálculos muito extensos; assim, para simplificar essa tarefa, até o final de 1602 Kepler reformulou a proporção em termos geométricos: os planetas varrem áreas iguais em tempos iguais —A segunda lei de Kepler do movimento planetário.

Ele então começou a calcular toda a órbita de Marte, usando a lei da taxa geométrica e assumindo uma órbita em formato de ovo (ovoide). Após aproximadamente 40 tentativas fracassadas, no começo de 1605 ele finalmente teve a ideia de usar uma elipse, que ele tinha anteriormente assumido que era uma solução simples demais para que astrônomos anteriores a tivessem negligenciado. Após constatar que uma órbita elíptica se ajustava aos dados de Marte, ele imediatamente concluiu que todos os planetas movem-se em elipses, com o Sol em um dos focos —A primeira lei de Kepler do movimento planetário. Por não empregar assistentes de cálculo, no entanto, ele não estendeu sua análise matemática para além de Marte. Pelo final do ano, ele completou o manuscrito de Astronomia nova, contudo, ele não seria publicado até 1609 devido a disputas legais sobre o uso das observações de Tycho, de propriedade de seus herdeiros.

Dioptrice, o manuscrito Somnium e outro trabalho

Nos anos seguintes à conclusão do Astronomia Nova, a maior parte das pesquisas de Kepler estava focada em preparações para as tábuas rudolfinas e um conjunto abrangente de efemérides (previsões específicas acerca das posições de planetas e estrelas) baseadas na tabela (embora ainda por muitos anos nenhum desses trabalhos seria concluído). Ele também tentou (sem sucesso) começar uma colaboração com o astrônomo italiano Giovanni Antonio Magini. Alguns de seus outros trabalhos tratavam de cronologia, especialmente a datação de eventos da vida de Jesus, e com astrologia, especialmente críticas a previsões dramáticas de catástrofes, como as de Helisaeus Roeslin.

Kepler e Roeslin travaram uma série de ataques e contra-ataques públicos, enquanto o físico Philip Feselius publicou uma obra que descartava completamente a astrologia (e o trabalho de Roeslin em particular). Em resposta ao que Kepler viu por um lado como excessos da astrologia e por outro como rejeição excessiva a ela, Kepler preparou Tertius Interveniens (As intervenções de terceiros). Esse trabalho —apresentado ao patrono em comum de Roeslin e Feselius— era uma mediação neutra entre estudiosos rivais, mas também apresentava as visões gerais de Kepler sobre o valor da astrologia, incluindo alguns mecanismos conjecturados de interação entre planetas e almas individuais. Enquanto Kepler considerava a maioria das regras e métodos tradicionais da astrologia como sendo "esterco fedorento" em que "uma galinha diligente" arranha, havia "talvez, também um pouco de grão bom" para ser encontrado pelo astrólogo científico consciente.

Nos primeiros meses de 1610, Galileu Galilei —usando seu poderoso novo telescópio— descobriu quatro satélites orbitando Júpiter. Galileu escreveu Sidereus Nuncius (O Mensageiro das Estrelas) descrevendo suas descobertas, e solicitou o parecer de Kepler (em parte para reforçar a credibilidade de suas observações). Kepler respondeu com entusiasmo, com uma resposta curta publicada com o título Dissertatio cum Nuncio Sidereo (Diálogo com o Mensageiro das Estrelas). Kepler endossou as observações de Galileu e ofereceu várias especulações a respeito dos significados e implicações dessas descobertas, além de métodos telescópicos, para astronomia e óptica assim como para cosmologia e astrologia. Mais tarde no mesmo ano, Kepler publicou suas próprias observações telescópicas das luas em Narratio de Jovis Satellitibus, proporcionando ainda mais apoio a Galileu. No entanto, para o desapontamento de Kepler, Galileu nunca publicou suas reações (se as houve) ao Astronomia Nova.

Após ficar sabendo das descobertas telescópicas de Galileu, Kepler também começou uma investigação teórica e experimental da óptica dos telescópios usando um telescópio emprestado por Duque Ernesto de Colônia.O manuscrito resultante foi concluído em setembro de 1610 e publicado como Dioptrice em 1611. Nele, Kepler estabeleceu as bases teóricas a respeito das lentes convergentes duplamente convexas e lentes convergentes duplamente côncavas —e como elas podem ser combinadas para produzir um telescópio galileano— assim como os conceitos de imagens reais e virtuais, direitas e invertidas, e os efeitos da distância focal sobre a magnificação e redução. Ele também descreveu um telescópio aprimorado —agora conhecido como telescópio astronômico ou telescópio kepleriano— em que duas lentes convexas são capazes de produzir maior ampliação do que uma combinação de lentes convexas e côncavas como no de Galileu.

Por volta de 1611, Kepler fez circular um manuscrito do que viria a ser publicado (postumamente) como Somnium (O Sonho). Parte do objetivo do Somnium era descrever como seria a prática de astronomia da perspectiva de outra planeta, para mostrar a viabilidade de um sistema não geocêntrico. O manuscrito, que desapareceu depois de mudar de proprietário várias vezes, descrevia uma fantástica viagem à lua; e parte alegoria, parte autobiografia, e parte um tratado sobre viagens interplanetárias (e às vezes é descrita como a primeira obra de ficção científica). Anos depois, uma versão distorcida da história pode ter instigado o julgamento por bruxaria contra sua mãe, uma vez que a mãe do narrador consulta um demônio para aprender os meios de realizar viagens espaciais. Após a sua eventual absolvição, Kepler compôs 223 notas de rodapé para a história —que juntas eram várias vezes mais extensas do que o próprio texto— que explicavam os aspectos alegóricos, bem como o considerável conteúdo científico (particularmente a respeito da geografia lunar) escondidos dentro do texto.

Outros trabalhos em matemática e física

Como presente de ano novo, ele também compôs para o seu amigo e há algum tempo patrono, Baron Wackher von Wackhenfels, um pequeno folheto intitulado Strena Seu de Nive Sexangula (Um Presente de Ano Novo de Neve Hexagonal). Neste tratado, Kepler publicou a primeira descrição da simetria hexagonal dos flocos de neve e, estendeu a discussão para uma hipotética base física atomística para a simetria e enunciou o que mais tarde ficou conhecida como a conjectura de Kepler, uma afirmação a respeito da disposição mais eficiente para o empacotamento de esferas.Kepler foi um dos pioneiros em relação às aplicações matemáticas dos infinitesimais (veja-se lei da continuidade).

Problemas pessoais e políticos

Em 1611, a crescente tensão política-religiosa em Praga chegou a um cume. O imperador Rodolfo II —cuja saúde estava em declínio— foi forçado a abdicar ao posto de rei da Boêmia por seu irmão Matias. Ambos os lados procuraram os conselhos astrológicos de Kepler, uma oportunidade que ele aproveitou para fornecer aconselhamento político visando conciliação (com pouca referência às estrelas, exceto em declarações gerais para desencorajar ações drásticas). No entanto, ficou claro que as perspectivas futuras de Kepler na corte de Matias não eram boas.

Também no mesmo ano, Barbara Kepler contraiu febre maculosa húngara, e começou a ter convulsões. Enquanto Barbara se recuperava, todos os três filhos de Kepler sentiram-se doentes e descobriu-se que tinham contraído varíola; Friedrich, com 6 anos, morreu. Após a morte de seu filho, Kepler enviou cartas a patronos em potencial em Württemberg e Pádua. Na Universidade de Tübingen em Württemberg, preocupações a respeito do que percebiam como heresias calvinistas de Kepler em violação à Confissão de Augsburgo e à Fórmula da Concórdia impediram seu retorno. A Universidade de Pádua —sob recomendação de Galileu que estava a deixando— buscou Kepler para preencher a cátedra de matemática, mas Kepler, preferindo manter sua família em território alemão, preferiu viajar à Áustria para conseguir uma posição de professor distrital de matemática em Linz. Contudo, Barbara teve uma recaída na doença e morreu pouco depois do retorno de Kepler.

Kepler postergou a mudança para Linz e permaneceu em Praga até a morte de Rodolfo nos inícios de 1612, embora entre agitação política, tensão religiosa, e tragédia familiar (juntamente com a disputa legal sobre os bens de sua esposa), Kepler estava impossibilitado de fazer qualquer pesquisa. Em vez disso, ele uniu num todo um manuscrito sobre cronologia, Eclogae Chronicae, de correspondências e trabalhos anteriores. Após a sucessão como Imperador do Sacro Império Romano, Matias reafirmou a posição (e salário) de Kepler como matemático imperial, mas permitiu-lhe mudar-se para Linz.

Linz e outros lugares (1612–1630)

Em Linz, as principais responsabilidades de Kepler (além de completar as tábuas rudolfinas) eram lecionar na escola distrital e prestar serviços astrológicos e astronômicos. Em seus primeiros anos lá, ele desfrutou de segurança financeira e liberdade religiosa se comparada à sua vida Praga —embora tenha sido excluído da Eucaristia por sua igreja luterana devido a suas ideias sobre teologia. Sua primeira publicação em Linz foi De vero Anno (1613), um tratado sobre o ano do nascimento de Cristo; ele também participou de deliberações a respeito da introdução do calendário gregoriano às terras protestantes da Alemanha; naquele ano ele também escreveu o influente tratado matemático Nova stereometria doliorum vinariorum, sobre a mensuração do volume de recipientes com formas tais quais às de barris de vinho, e que foi publicado em 1615.

Segundo casamento
Em 30 de outubro de 1613, Kepler casou-se com Susanna Reuttinger de 24 anos de idade. Após a morte de sua primeira esposa, Barbara, Kepler tinha analisado 11 diferentes noivas em potencial. Ele eventualmente escolheu a Reuttinger, que, Kepler escreveu, "conquistou-me com seu amor, lealdade, poucos gastos domésticos, diligência, e o amor que proveu a seus enteados."As três primeiras crianças deste casamento (Margareta Regina, Katharina, e Sebald) morreram na infância. Outras três atingiram a idade adulta: Cordula (n. 1621); Fridmar (n. 1623); e Hildebert (n. 1625). De acordo com os biógrafos de Kepler, esse foi um casamento muito mais feliz do que o primeiro.

Epítome da Astronomia Copernicana, calendários e o julgamento de sua mãe por bruxaria

Desde a conclusão de Astronomia nova, Kepler tinha a intenção de compor um livro-texto de astronomia.Em 1615, ele completou o primeiro de três volumes de Epitome astronomiae Copernicanae (Epítome da Astronomia de Copérnico); o primeiro volume (livros I–III) foi impresso em 1617, o segundo (livro IV) em 1620, e o terceiro (livros V-VII) em 1621. Apesar do título, que referia-se apenas a heliocentrismo, o livro de Kepler culminou em descrever seu próprio sistema baseado em elipses. O Epitome tornou-se o mais influente livro de Kepler. Ele continha todas as três leis do movimento planetário e buscava explicar os movimentos celestes através de causas físicas.Embora explicitamente estendesse as duas primeiras leis do movimento planetário (aplicadas à Marte em Astronomia nova) para todos os planetas assim como a Lua e os satélites mediceanos de Júpiter, ele não explicava como órbitas elípticas podiam ser obtidas a partir dos dados observados.

Além das tábuas rudolfinas e as, intimamente conectadas a ela, Efemérides, Kepler publicou calendários astrológicos, que foram muito populares e ajudaram a pagar os custos de produzir seu outro trabalho —especialmente quando o amparo que recebia do tesouro imperial foi encerrado. Em seus calendários —seis dentre 1617 e 1624— Kepler fez previsões acerva das posições dos planetas e do clima, bem como de eventos políticos; estes últimos eram frequentemente de grande precisão, graças à sua aguda percepção das tensões políticas e teológicas de sua época. Por 1624, no entanto, a intensificação dessas tensões e a ambiguidade das profecias acarretaram problemas políticos para Kepler; seu calendário final foi queimado publicamente em Graz.

Em 1615, Ursula Reingold, uma mulher em uma disputa financeira com o irmão de Kepler, Christoph, afirmou que a mãe de Kepler, Katharina, a fizera doente com uma poção maléfica. A disputa se intensificou, e em 1617, Katharina foi acusada de bruxaria; julgamentos por bruxaria eram relativamente comuns na Europa Central naquela época. Começando em agosto de 1620 ela foi encarcerada por 14 meses. Ela foi lançada em outubro de 1621, em parte graças à extensa defesa legal elaborada por Kepler. Os acusadores não tinha nenhuma evidência mais forte do que rumores, juntamente com uma versão distorcida, de segunda mão do Somnium de Kepler, em que uma mulher mistura poções e pede a ajuda de um demônio. Durante o julgamento, Kepler adiou seus outros trabalhos para se concentrar unicamente em sua "teoria harmônica". O resultado, publicado em 1619, foi o Harmonices Mundi ("Harmonia do Mundo").

Harmonices Mundi

Kepler tinha convicção de que "os entes geométricos forneceram ao Criador o modelo para decorar o mundo inteiro."Em Harmonia, ele tentou explicar as proporções do mundo natural —particularmente, os aspectos astronômicos e astrológicos— em termos de música. O conjunto central de "harmonias" era a musica universalis ou "música das esferas", que tinha sido estudada por Pitágoras, Ptolomeu e muitos outros antes de Kepler; de fato, logo após a publicação de Harmonices Mundi, Kepler se envolveu em uma disputa de prioridade com Robert Fludd, que tinha recentemente publicado sua própria teoria harmônica.

Kepler começou pela exploração de polígonos regulares e poliedros regulares, incluindo as figuras que seriam mais tarde conhecidas como sólidos de Kepler. A partir daí, ele estendeu sua análise harmônica à musica, meteorologia e astrologia; a harmonia resultava dos tons produzidos pelas almas dos corpos celestes —e, no caso da astrologia, a interação entre esses tons e almas humanas. Na parte final da obra (Livro V), Kepler abordou os movimentos planetários, especialmente as relações entre velocidade orbital e distância orbital ao Sol. Relações semelhantes tinham sido usadas por outros astrônomos, mas Kepler —com os dados de Tycho e suas próprias teorias astronômicas— tratou-as muito mais precisamente e lhes deu novo significado físico.

Dentre muitas outras harmonias, Kepler enunciou o que venho a ser conhecido como a terceira lei do movimento planetário. Em seguida, ele tentou várias combinações até que descobriu que (aproximadamente) "Os quadrados dos períodos estão uns para os outros como os cubos das distâncias médias." Embora ele tenha informado a data dessa epifania (8 de março de 1618), ele não deu detalhes a respeito de como ele chegou a essa conclusão. No entanto, o significado mais profundo para a dinâmica planetária desta lei puramente cinemática não foi percebida até a década de 1660. Uma vez que, quando combinada com a então recente descoberta de Christiaan Huygens da lei da força centrífuga, ela possibilitou a Isaac Newton, Edmund Halley e talvez Christopher Wren e Robert Hooke a perceberem independentemente que a presumida atração gravitacional entre o Sol e seus planetas, se existisse, deveria diminuir com o quadrado da distância entre eles.Isso refutou a hipótese tradicional da física escolástica de que o poder de atração gravitacional se mantinha constante com a distância sempre que aplicado entre dois corpos, tal como assumido por Kepler e também por Galileu em sua equivocada lei universal de que a queda gravitacional é uniformemente acelerada, e também por Borrelli (um estudante de Galileu) em sua mecânica celestial de 1666.William Gilbert, depois de experimentar com ímãs descobriu que o centro da Terra era um enorme ímã. Isso levou Kepler a pensar que uma força magnética do Sol mantinha os planetas em suas órbitas. Era uma explicação interessante para os movimentos dos planetas, mas estava errada. Antes de os cientistas serem capazes de encontrar a resposta correta, eles precisavam saber mais a respeito dos movimentos.

As tábuas rudolfinas e os último anos

Em 1623, Kepler finalmente terminou as tábuas rudolfinas, que na época era considerada seu principal trabalho. No entanto, devido aos requerimentos para publicação do imperador e negociações com os herdeiros de Tycho Brahe, não seriam impressas até 1627. Neste meio tempo, tensão religiosa —a causa da então em curso Guerra dos Trinta Anos— mais uma vez colocou Kepler e sua família em perigo. Em 1625, agentes da contra-reforma católica selaram a maior parte da biblioteca de Kepler, e em 1626 a cidade de Linz foi sitiada. Kepler mudou-se para Ulm, onde ele fez arranjos para a impressão das Tábuas às suas próprias despesas.

Em 1628, seguindo-se aos sucessos militares dos exércitos de imperador Fernando sob o comando de General Wallenstein, Kepler tornou-se conselheiro oficial de Wallenstein. Embora não fosse o astrólogo da corte do general propriamente, Kepler fornecia cálculos astronômicos para os astrólogos de Wallenstein e, ocasionalmente, ele mesmo escreveu horóscopos. Em seus últimos anos, Kepler passou grande parte de seu tempo viajando, da corte imperial em Praga até Linz e Ulm para uma moradia temporária em Sagan, e finalmente para Regensburg. Pouco depois de chegar em Regensburg, Kepler adoeceu. Ele morreu em 15 de novembro de 1630, e foi enterrado lá; o local do enterro foi perdido depois que o exército sueco destruiu a igreja.Apenas o epitáfio poético de autoria do próprio Kepler sobreviveu ao tempo:

Mensus eram coelos, nunc terrae metior umbras
Mens coelestis erat, corporis umbra iacet.
Eu medi os céus, agora eu meço as sombras
Minha mente ao céu esteve presa, o corpo descansa na terra.


Monumento a Tycho Brahe e Johannes Kepler em Praga, República Tcheca

Recepção à sua astronomia

As leis de Kepler não foram imediatamente aceitas. Diversas grandes figuras, tais como Galileu e René Descartes ignoraram completamente o Astronomia nova de Kepler. Muitos astrônomos, incluindo o professor de Kepler, Michael Maestlin, fizeram objeções a Kepler pela sua introdução da física em sua astronomia. Alguns outros aceitaram-na parcialmente. Ismael Boulliau aceitou órbitas elípticas mas substituiu a lei de Kepler das áreas por movimento uniforme em relação ao foco vazio da elipse, enquanto Seth Ward usou uma órbita elíptica com movimentos definidos por um equante.

Muitos astrônomos testaram a teoria de Kepler, e suas diversas modificações, em comparação a observações astronômicas. Dois trânsitos de Vênus e Mercúrio sobre a face do Sol forneceram testes da teoria, sob circunstâncias em que esses planetas não podiam normalmente ser observados. No caso do trânsito de Mercúrio, em 1631, Kepler estava extremamente incerto acerca dos parâmetros para Mercúrio, e aconselhou observadores a esperarem pelo trânsito também nos dias anterior e posterior à data prevista. Pierre Gassendi observou o trânsito na data prevista, uma confirmação da predição de Kepler.Essa foi a primeira observação de um trânsito de Mercúrio. No entanto, sua tentativa de observar o trânsito de Vênus apenas um mês mais tarde, foi mal sucedida devido à inacurácias nas tábuas rudolfinas. Gassendi não ficou sabendo que ele não seria visível a maior parte da Europa, incluindo Paris.Jeremiah Horrocks, que observou o trânsito de Vênus de 1639, tinha usado suas próprias observações para ajustar os parâmetros do modelo de Kepler, previu o trânsito, e depois construiu um aparelho para observá-lo. Ele permaneceu um firme defensor do modelo de Kepler.

O Epitomo da Astronomia Copernicana foi lido por astrônomos de várias partes da Europa, e após a morte de Kepler foi o principal veículo para a difusão de suas ideias. Entre 1630 e 1650, foi o livro mais utilizado como livro de ensino de astronomia, convertendo muitos para uma astronomia baseada em órbitas elípticas.No entanto, poucos adotaram suas ideias a respeito da base física para movimentos celestiais. Nos finais do século XVII, várias teorias astronômicas físicas inspiradas pelo trabalho de Kepler —notavelmente as de Giovanni Alfonso Borelli e Robert Hooke— começaram a incorporar forças atrativas (embora não as quase-espirituais espécies motivas postuladas por Kepler) e o conceito cartesiano de inércia. Isso culminou no Principia Mathematica (1687) de Isaac Newton, em que Newton derivou as leis de Kepler do movimento planetário de uma teoria baseada na força universal da gravidade.

Legado cultural e histórico

Além do seu papel no desenvolvimento histórico da astronomia e filosofia natural, Kepler foi importante para a filosofia e historiografia da ciência. Suas leis de movimentos foram centrais para algumas das primeiras histórias da astronomia tais como Histoire des mathématiques (1758) de Jean-Étienne Montucla e Histoire de l’astronomie moderne (1821) de Jean-Baptiste Delambre. Estas e outras histórias escritas de uma perspectiva iluminista trataram os argumentos religiosos e metafísicos de Kepler com ceticismo e desaprovação, mas depois filósofos naturais românticos perceberam estes elementos como centrais ao seu sucesso. William Whewell no seu livro History of the Inductive Sciences (1837), notou Kepler como o arquétipo do gênio científico indutivo; em Philosophy of the Inductive Sciences (1840), Whewell considerou Kepler como a personificação das mais avançadas formas de método científico. Similarmente, Ernst Friedrich Apelt - o primeiro a estudar extensivamente os manuscritos de Kepler após a compra por Catarina, a Grande - identificou Kepler como a chave para a "revolução científica". Apelt que viu a matemática de Kepler, sensibilidade estética, ideias físicas e teologia como parte de um sistema unificado de pensamento, produziu a primeira análise extensiva da vida e trabalho de Kepler.

Traduções modernas de vários livros de Kepler apareceram no final do século XIX e início do século XX, a publicação sistemática de sua coleção de trabalhos começou em 1937 (e está próximo de terminar no início do século XXI), e a biografia feita por Max Caspar foi publicada em 1948.Entretanto, o trabalho de Alexandre Koyré sobre Kepler foi, depois de Apelt, o primeiro marco maior nas interpretações históricas da cosmologia de Kepler e sua influência. Nas décadas de 1930 e 1940 Koyré e outros da primeira geração de historiadores da ciência profissionais, descreveram a "Revolução científica" como o evento central da história da ciência, e Kepler como um (talvez o) personagem central nesta revolução. Koyré colocou a teorização de Kepler, ao invés do seu trabalho empírico, no centro da transformação intelectual das visões antigas para as modernas. Desde a década de 1960, o volume da sabedoria histórica de Kepler se expandiu consideravelmente, incluindo estudos de sua astrologia e meteorologia, seus métodos geométricos, o papel de suas visões religiosas em seus trabalhos, seus métodos de literatura e retórica, sua interação com a cultura geral e correntes filosóficas de seu tempo, e até seu papel como um historiador da ciência.
O debate sobre o lugar de Kepler na revolução científica produziu também uma grande variedade de tratamentos populares e filosóficos. Um dos mais influentes é The Sleepwalkers (1959) de Arthur Koestler, no qual Kepler é indiscutivelmente o herói (moralmente e teologicamente assim como intelectualmente) da revolução.Filósofos influentes da ciência tais como Charles Sanders Peirce, Norwood Russell Hanson, Stephen Toulmin, e Karl Popper repetidamente voltaram-se a Kepler: exemplos de incomensurabilidade, raciocínio análogo, falseabilidade e muitos outros conceitos filosóficos têm sido encontrados nos trabalhos de Kepler. O físico Wolfgang Pauli até usou a disputa prioritária de Kepler com Robert Fludd para explorar as implicações da psicologia analítica em investigações científicas.Um bem recebido, se irreal, romance histórico de John Banville, Kepler (1981), explorou muitos dos temas desenvolvidos na narrativa não científica de Koestler e na filosofia da ciência.De algum modo mais fantástico é o trabalho de não ficção, Heavenly Intrigue (2004), que sugere que Kepler assassinou Tycho Brahe para ter acesso aos seus dados.Kepler adquiriu uma imagem popular como um ícone da modernidade científica e um homem à frente de seu tempo; Carl Sagan descreveu-o como "o primeiro astrofísico e o último astrólogo científico."

Na Áustria, Kepler deixou um legado histórico tal que foi um dos temas das moedas de pratas de colecionadores, que foi cunhada em 10 de setembro de 2002. O lado reverso da moeda tem um retrato de Kepler, que passou algum tempo ensinando em Graz e áreas em torno. Kepler estava familiarizado pessoalmente com o Príncipe Hans Ulrich von Eggenberg, e provavelmente influenciou a construção do Castelo de Eggenberg (o tema do verso da moeda). Na frente dele na moeda está o modelo de esferas alinhadas e poliedros do Mysterium Cosmographicum.

Em 2009, a NASA nomeou uma sonda espacial, a Kepler, pelas contribuições dele no campo da astronomia.

Obras

Mysterium cosmographicum (1596)
De Fundamentis Astrologiae Certioribus (1601)
Astronomiae Pars Optica (1604)
De Stella nova in pede Serpentarii (1604)
Astronomia nova (1609)
Tertius Interveniens (1610)
Dissertatio cum Nuncio Sidereo (1610)
Dioptrice (1611)
De nive sexangula (1611)
De vero Anno, quo aeternus Dei Filius humanam naturam in Utero benedictae
Virginis Mariae assumpsit (1613)
Eclogae Chronicae (1615, publicada com Dissertatio cum Nuncio Sidereo)
Nova stereometria doliorum vinariorum (1615)
Epitome astronomiae Copernicanae (publicada em três partes dentre os anos 1618 e 1621)
Harmonice Mundi (1619)
Mysterium cosmographicum 2ª edição (1621)
Tabulae Rudolphinae (1627)
Somnium (1634)

Biografia Johann Tholden

Johann Thölde ou também Johann Georg Toeltius (Grebendorf, por volta de 1565 — por volta de 1614), foi um alquimista, autor e editor alemão, que se tornou famoso por editar, a partir de 1602, as obras atribuídas a Basilio Valentim, personagem de existência discutida. Considera-se Thölde um dois mais significativos cientistas das ciências químicas da sua época.

Supõem-se hoje em dia que Thölde foi, pelo menos parcialmente, autor dos livros atribuídos a Basilio Valentim, como "O Carro triunfal do antimónio" e, mais especificamente, tudo o que se refere à primeira descrição "científica" deste elemento químico - descoberta tradicionalmente atribuída a Valentim.

Escreveu, sem margem para dúvidas, um livro intitulado "Disenteria vermelha e a extremamente rápida e perigosa doença da pestilência" em Erfurt em 1599 e uma obra de alquimia ("Haligraphia"), também em Erfurt, em 1603.

Obras

Basilius Valentinus: De Occulta Philosophia. Oder Von der heimlichen Wundergeburt der sieben Planeten und Metallen, 2. Aufl., Leipzig 1611
Haliographia. Das ist: gründliche unnd eigendliche Beschreibung aller Saltz-mineralien. Beneben einer historischen Beschreibung aller Saltzwercke. Apel, Leipzig 1612 (Nachdruck: Reprintverlag, Leipzig 1992, ISBN 3-7463-0193-9)
"Proces Buch" von 1594 : "Triumphwagen des Antimons" (Text des handschriftliches "Proces Buch" enthalten), Verlag: Humberg Buchverlag 2004 ISBN 9783980278874

Biografia Eugène Canseliet

Eugène Léon Canseliet (Sarcelles, 18 de dezembro de 1899 - Savignies, 17 de abril de 1982) foi um alquimista francês. Nasceu às vinte horas de uma segunda-feira, em 18 de Dezembro de 1899, na cidade de Sarcelles. Era filho de Henri Joseph Canseliet (1862 - 1921) e de Aline Victorine Hubert (1868 - 1935). Visando aprender desenho, vai para Marseille em 1915 e torna-se aluno no Palais des Beaux-Arts Place Carli. Em Marseille conhece Fulcanelli, um alquimista de 76 anos, que residia na rua Dieudé. É nesta época que conhece também o pintor Jean-Julien Hubert Champagne (1877 - 1932).

De 1920 a 1923 foi o director da fábrica de gás de Sarcelles, da Companhia Georgi. Como discípulo de Fulcanelli, teria operado então, pelas suas mãos, uma transmutação alquímica de chumbo em ouro no laboratório do primeiro andar da fábrica, diante de três testemunhas: o pintor Julien Champagne, o químico Gaston Sauvage e o próprio Fulcanelli.

É na fábrica que redige os dois livros de Fulcanelli, seguindo as notas que este lhe entregara. Em outubro de 1925, prefacia o primeiro livro, "O Mistério das Catedrais", publicado em 1926. E, em abril de 1929, prefacia o segundo o livro, "As Mansões Filosofais", publicado em 1930.

Autor de diversos livros de alquimia, entre os quais se destaca Deux Logis Alchimiques, e de diversos artigos publicados em revistas, faleceu em um sábado, 17 de abril de 1982, na cidade de Savignies, e foi enterrado em La Neuville-Vault, numa campa próxima do seu amigo Philéas Lebesgue.

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...