domingo, 1 de novembro de 2015

Biografia Geber


Abu Musa Jabir ibn Hayyan (جابر بن حیان; c.721–c.815), também conhecido pelo nome latino Geber, foi um alquimista islâmico proeminente, além de farmacêutico, filósofo, astrônomo, e físico. Ele também foi chamado de “o pai de química” pelos europeus. A origem étnica dele não é clara, embora a maioria das fontes o atribuem a origem árabe ou persa. Geber é responsável pela introdução da experimentação na alquimia, assim como a invenção de vários processos importantes usados na Química moderna, como as sínteses dos ácidos nítrico e clorídrico, a destilação e a cristalização.
Geber nasceu em Tus, no Grande Coração (no Irã atual), então sob o jugo do Califado Omíada. A data do nascimento não é consenso, mas acredita-se que foi em 721 ou 722. Ele era o filho de Hayyan al-Azdi, farmacêutico árabe (ou persa) da tribo de Azd que emigrou do Iêmen para Kufa (no Iraque atual) durante o período omíada. Hayyan apoiava os abássidas, inimigos dos governantes, e foi enviado por eles à província de Coração para conseguir apoio para causa. Ele foi capturado pelos omíadas e executado. A sua família fugiu de volta para o Iêmen, onde Geber cresceu e estudou o Alcorão, matemática e outros assuntos com um mestre chamado Harbi al-Himyari. Assim que os abássidas tomaram o poder, Geber voltou para Kufa onde passou a maior parte de sua carreira.

A profissão do pai teve grande influência no interesse de Geber pela química. Em Kufa, ele se tornou um discípulo do imam Ja’far al-Sadiq, célebre professor islâmico. Acredita-se que ele também estudou com o príncipe omíada Khalid Ibn Yazid. Começou a praticar medicina com o apoio do vizir barmecida califa Harun al-Rashid. Em 776, ele passou a se dedicar à alquimia em Kufa.

Seu contato com os barmecidas antecipou a queda destes. Quando eles caíram, Geber foi posto em prisão domiciliar, onde permaneceu até a morte. Especula-se que teria morrido em 808 ou 815.


Influência

Geber é reconhecido por suas importantes contribuições para a química. Enfatizando a experimentação sistemática, fez muito para separar a alquimia da superstição e transformá-la numa ciência. A ele é creditada a invenção vários equipamentos tidos como básicos nos laboratórios de química modernos, assim como a descoberta e descrição de muitas substâncias químicas agora comuns. Geber abriu caminho para a maioria dos alquimistas islâmicos posteriores como Al-Razi, Tughrai e Al-Iraqi, que viveram nos séculos IX, XI e XIII, respectivamente. Os seus livros também influenciaram os alquimistas europeus medievais, que os usaram como base para a busca da "pedra filosofal".

Apesar de suas tendências ao misticismo – ele era sufi – e à superstição, ele reconheceu a importância da experimentação. "O Primordial na Química", declarou: "é a experimentação. Aquele que não pratica a experimentação nunca dominará a química." Entre os vários instrumentos dos laboratórios de química modernos atribuídos a Geber, podemos citar o alambique, que executa uma destilação fácil, segura e eficiente. Ele também descobriu o ácido clorídrico e o ácido nítrico.

Combinando estes dois ácidos Geber inventou a água régia, uma das poucas substâncias que podem dissolver os metais nobres, como o ouro. Além de sua óbvia aplicação para a extração do ouro e sua purificação, esta descoberta também abasteceria os sonhos e o desespero do alquimistas por mais de um milênio. Foi creditada a ele a descoberta do ácido cítrico (o componente ácido de limões e outras frutas cítricas), o ácido acético (do vinagre) e o ácido tartárico (das uvas e do mosto da preparação de vinhos).

Geber aplicou seu conhecimento químico à melhoria de vários processos industriais como a fundição de aço e outros metais, a prevenção da ferrugem, a gravação em ouro, o tingimento e impermeabilização de tecidos, o curtimento do couro, e a análise química de outras substâncias, como os pigmentos. Ele notou que vinho em ebulição libera um vapor inflamável e desenvolveu um método para que Al-Razi descobrisse o etanol posteriormente.

Obras

Durante a Idade Média foram traduzidos os tratados de Geber sobre química para o latim e eles se tornaram textos de referência para os alquimistas europeus. Entre as obras estão "Kitab al-Kimya" ("Livro da Composição de Alquimia" na Europa), traduzido por Robert de Chester (1144); e o "Kitab al-Sab’een" por Gerardo de Cremona (antes das 1187). Marcellin Berthelot traduziu os seguintes livros: "Livro do Reino", "Livro dos Equilíbrios" e o "Livro do Mercúrio Oriental". Vários termos técnicos introduzidos por Geber, como "alcali", foram adotados pelos idiomas europeus e se tornaram parte de vocabulário científico.

Biografia Robert Boyle


Robert Boyle (Lismore, 25 de janeiro de 1627 — Londres, 31 de dezembro de 1691) foi um filósofo natural, químico e físico irlandês que se destacou pelos seus trabalhos no âmbito da física e da química.
Filho mais velho de Richard Boyle, primeiro Conde de Cork, um dos homens mais ricos e influentes da Grã-Bretanha. Sua formação foi tradicional: em parte em casa, em parte no Eton College, complementado por viagens a França, Itália e Suíça. É durante esta estadia no continente que se converteu religiosamente, o que ele comentou muito na sua autobiografia. Voltou à Inglaterra em 1644 e começou uma carreira de escritor no campo da moral e da filosofia e da religião. Em 1649-50, as suas preocupações mudam. Ele constrói um laboratório na sua casa em Sailbridge e se descobre um entusiasta da experimentação, o que mudará sua carreira.

Intelectualmente, é influenciado por autores do século XVI e início do século XVII, como Paracelso, Bernardino Telesio, Francis Bacon, Tommaso Campanella e Jan Baptista van Helmont. Ele também é atraído pela química, notadamente no seu tratado "Of the Atomicall Philosophy" onde aparecem ideias atomísticas. Emite também críticas ao "Químico Vulgar", aquele que não tem um método filosófico para estudar a natureza. Neste período, é muito próximo do reformador social Samuel Hartlib. O comprometimento de Boyle com a experimentação aumenta, e sua visão filosófica se atualiza na ocasião da mudança para Oxford em 1655-56 para se juntar a um grupo de filósofos naturais dirigido por John Wilkins. Este grupo foi considerado como a prefiguração da Royal Society e influenciou muito Boyle.

Nas reuniões, ele estudou os filósofos naturais continentais como Pierre Gassendi e Descartes. Ele declara que a figura que mais lhe fez entender a filosofia de Descartes foi Robert Hooke, que o apoiou nas principais experiências. É com este último que montou os seus principais equipamentos e que estudou a natureza do ar: a câmara de vácuo e a bomba de ar. Durante esta estadia em Oxford, antes de sua ida para Londres em 1668, sua atividade literária foi intensa. A lista das publicações é grande e elas foram feitas pela recente criada Royal Society nas "Philosoficals Transactions" cujo primeiro secretário, Henry Oldenburg, iniciou em 1665. Suas obras foram também publicadas em latim, que era a língua científica da época. Boyle multiplicou as obras experimentais durante a vida inteira. Sua obra a mais notável é "Experiments, Notes, &c., about the Mechanical Origin or Production of Divers Particular Qualities (1675)". Publicou também obras de Medicina como "Memoirs for the Natural History of Human Blood (1684)". Nas duas últimas décadas de sua vida publicou trabalhos de Teologia como "Excellency of Theology, Compared with Natural Philosophy(1674) ".

Dentre as descobertas científicas de Boyle podemos citar:

A lei dos gases que tem seu nome.
um indicador colorido para os ácidos (xarope de violeta)
O enxofre
Um melhoramento da máquina de Otto von Guericke, a "Bomba de Ar" ou "Bomba de Vácuo"
Um melhoramento do termômetro de Galileu
O abaixamento do ponto de ebulição dos líquidos no vácuo
Uma explicação do paradoxo hidrostático
Uma refutação das teorias de Aristóteles sobre os quatro elementos
A acetona
O isolamento do hidrogênio
A prova que o ar é uma mistura
O primeira aparecimento da noção de elemento químico
A fosfina
O sulfato de mercúrio
O álcool metílico
A descoberta da sublimação da água

Biografia Bernardo de Treviso


Bernardo de Treviso, ou Bernhardus Trevisanus, Bernhardus von Trèves, Bernardo, o Trevisano, Bernardo de Tréves, como também conde Bernard de Tresne e Naygen, Bernadus Comes ( 1406 em Pádua , 1490 ), foi um nobre, conde de La Marche Treviso (um pequeno povoado nos Estados venezianos), que tornou-se um renomado alquimista italiano do século XV. Foi autor de algumas obras de cunho hermético e iniciático, dentre as quais o Responsio Thomam de Bolonia (Resposta a Tomás de Bolonha). Seu nome e sua pessoa é, às vezes confundido com outros dois quase homônimos: Bernardo Trevisano (1652-1720), linguista, filósofo, pintor e matemático de origem veneziana e Bernardinus Trivisanus (1506-1583), que estudou medicina e artes na Universidade de Pádua e, posteriormente, tornou-se professor de lógica e teoria médica.

Bernardo nasceu em Pádua em 1406 em uma nobre e rica família de Pádua. Seu pai era doutor em medicina, e foi quem, provavelmente, ministrou as primeiras noções de ciência ao filho. Já a partir dos 14 anos, em 1420, ele incia seus estudos na arte da alquimia. Estuda as obras de Gerber e Rhazes, filósofos orientais, e complementa os estudos com a leitura de Sacrobosco e Rupecissa.

Embora tenha começado muito precocemente a sua carreira como alquimista (com a idade de quatorze anos),ele tinha o apoio da família, posto que também desejavam aumentar sua riqueza. Ele trabalhou pela primeira vez com um monge de Cister chamado Gotfridus Leurier. Eles tentaram por oito anos criar a pedra filosofal a partir do ovo purificado ou ovo filosofal. Acredita-se que ele pode ter influenciado no trabalho de Gilles de Rais em 1430.

Ele passou a trabalhar então com os minerais e sais naturais utilizando o processo de destilação e cristalização, os quais aprendeu nas leituras de Geber e Rhazes. Em seguida fez experimentações com os vegetais e compostos animais. Ele gradualmente dilapidou sua riqueza em busca dos segredos para a confecção da pedra filosofal. Em algumas destas vezes a busca resultou em um fracasso, como no caso histórico do padre alemão de nome Henrique, que autovangloriava-se de ter conseguido fabricar a pedra filosofal, o ouro potável e, por conta disto foi que Bernardo viajou à Alamanha para avistar-se com o referido que prometia à troca de certa quantia, revelar o segredo e fornecer as ferramentas e materiais necessários. Deu-se que tudo deu em nada e fora somente um engano.

A partir desta busca infrutífera, deste logro, foi que Bernardo decidiu-se a empreender uma viagem (que duraria 58 anos) por quase todo o mundo conhecido, incluindo os países bálticos, Alemanha, Espanha, Grã-Bretanha, Holanda, França, Viena, tentando em cada um destes países encontrar pistas deixadas pelos alquimistas do passado sobre como criar a pedra filosofal. Posteriormente ele viajou para o Egito, Palestina, Pérsia, Turquia, Chipre e, finalmente chegou à Grécia, em 1481, já com a saúde um tanto deteriorada, foi que, estando naquele momento na Ilha de Rhodes, ele afirma ter encontrado a pedra filosofal com a ajuda de um sacerdote.

Seu nome figura ao lado de outros ínsignes mestres na arte alquímica. Mestres como Arnaldo de Vilanova; Pedro de Abano; Nicolas Flamel; John Dastin; Thomas Norton; Cristóvão de Paris; Paulo de Taranto; o Pseudo-Geber; Gilles de Rais; George Ripley; Hortulano; Basilio Valentim; Miguel Scot; Roger Bacon; Alberto Magno; Denis Zachaire; Augurelli; Jean d'Espagnet; Pico della Mirandola; G. Bracesco; Dom Pernéty; João de Rupescissa (Jean de Roquetaillade); Élio de Cortona; Gerardo de Cremona; Heinrich Khunrath; Oswaldo Croll; Michael Maier; Alexander Seton; Michel Sendivogius; George Starkey (Eyrénée Filaleto); Eugênio Canseliet, etc.

"Há trindade numa unidade e unidade numa trindade, e aí estão Corpo, Espírito e Alma. E aí também Mercúrio e Arsénico"

Nesta ilha ele permaneceu até sua morte em 1490.

Ele foi responsável, ao menos parcialmente, lá pelo ano de 1643, por um excelente manuscrito acerca da pedra filosofal, que circulou livremente, antes de sua publicação, com o nome de Le Bernard d'Alchmague, cum Bernard Treveso e assinado como Sir Bernard Trevisan conto da Marcha.A ele também se credita um outro trabalho, cujo título é La Philosophie Naturelle des METAUX. Nesta última obra ele expõe a necessidade da meditação pelo alquimista na criação da pedra filosofal.

No século XVI, algumas obras literárias de conteúdo alquimista foram atribuídas a Bernardo, por exemplo, Trevisanus de Chymico miraculo, quod lapidem philosophiae recorrente foi editado em 1583 por Gerard Dorn. A resposta de Bernardus Trevisanus, a Epístola de Thomas de Bonônia,e A Epístola Prévia de Bernard Conde de Tresne, em Inglês, apareceu no 1680 Aurifontina Chymica.

Bernardo de Trèves, Responsio ad Thomam de Bolonia (1385). Pode ser encontrado no manuscrito de 1533 Responsio MS. 2018 Biblioteca Nacional Francesa, por responsabilidade de Traict Ung; enviado ao mestre Tomás de Bolonha, médico do rei França, o mui virtuoso rei Filipe e Conde Palatino, por Bernardo de Tràves, no ano de 1385.
Bernardo de Trèves, os ramos, anagrama revisto 2, 1973. 62 pp, P. 30/05, o galho, o texto alquímico do século XIV atribuído a Bernardo de Trier, editado e traduzido por Dominique Maxime Préaud Lesourd, de acordo com o manuscrito da Biblioteca de Arsenal."

Publicações

Bernardo, o Trevisano, Opúculo da excelência da verdadeira filosofia natural do metais, in Claude d'Ygé, Nouvelle assemblée des philosophes chymiques, Dervy-Livres, 1954.
Bernardo, o Trevisano, A linguagem negligenciada, por Bernardo, conde de la Marche Trévisanne. Três tratados de filosofia natural (Verum dimissum). Contendo a "Alegoria da Fonte".
Bernardo, o Trevisano, O Sonho Verde
Bernardo, o Trevisano, Tratado da natureza do ovo dos filósofos, composto por Bernardo, conde de Trèves, Alemanha
Obras químicas de Bernardo, o Trevisano. O livro da filosofia natural dos metais. - A linguagem negligenciada. - O sonho verde. - Tratado da natureza do ovo dos filósofos, Guy Trédaniel, 1976, 166 p.
Peri chemeias, et opus Historicum dogmaticum - Gratarolus publicações
Da Philosophia hermética, - sobre a Pedra Sagrada, os filósofos pré-eminentes e Mr. hocherfahrnen Bernhardi, von der Marck Graven, e Tervis ... ", editado por Toxites, Strasbourg 1574, 1586
Bernhardus innovatus publicado por Caspar Horn, 1643
Bernhardi, von der Marck Graven, e Tervis (quem é Bernhardus Trevisanus) - Escritos químicas de Filosofia hermética em quatro partes, Leipzig, 1605 Publicado Tanck
Escritos Químicos da Pedra Sagrada. Do latim para o alemão, ingleichen com o J. Tancke * Anmerkunden por Caspar Horn, incluindo Bernhardus Trevisanus - Nuremberg. Tauber. 1717 ASIN B002R19N4Y

Estudos complementares

Jacques Sadoul, O tesouro dos alquimistas, J'ai lu, coll. "A aventura misteriosa", 1970, p. 113-123.
Didier Kahn, "Pesquisa sobre o Livro atribuido ao chamado Bernardo, o Trevisano (final do séc XV), na A alquimia e medicina medivais Micrologus Library IX, Ed. del Galluzzo (2003)


Biografia Vlad Tsepesh


Na Transilvânia, a uma altitude vertiginosa acima de uma paisagem selvagem, toda florestas e ribeiros, eleva-se uma cidadela inacessível onde, enclausurado voluntariamente, vivia noutros tempos um príncipe.

Este solitário não tinha senão um único fim: transpor os limites da morte e entrar vivo na eternidade. Drácula, eis o nome deste amante das ciências malditas. Nosferatu, isto é: o «não morto», aquele que não morre nunca.

Como ele, outros senhores poderosos transformaram os seus castelos romenos em ninhos de águias, ficando discípulos do Anjo Negro. Esses sim, praticam o verdadeiro vampirismo, alquimia do sangue e da morte.

Nosferatu pode escrever-se só no plural porque não há só um nosferatu. Se Drácula, o príncipe Vlad Drakul, cuja história romena recorda, é considerado como o soberano dos adeptos da noite, ele não é único «não morto». Outros pertenceram ou ainda pertencem a essa cadeia onde os segredos do sangue se transmitem do mestre para o discípulo.

Os vampiristas conhecem o ritual de chamamento à vida, o ritual do despertar que se pode encontrar no Livre Sacré d’ Abramelin le Mage. Foi a partir deste manuscrito que formou a primeira cadeia dos «não mortos» que se espalharia pela Europa inteira.

No âmbito da magia e terror tal como se passa com os elfos, os papões, as fadas, o lobisomem etc., nós vimos o vampiro aparecer com rara constância nas lendas e tradições populares. No entanto, a lenda não é somente uma «crença popular», uma vaga superstição de que nos lembramos. Ela pertence sempre a uma realidade esquecida, temerosa.

A história revela-nos que o conde Drácula não era conde mas príncipe e que reinou em Valáquia, província dos Cárpatos,de 1456 a 1462. É também conhecido pelo nome de Vlad Tepes, o que quer dizer vlad o empalador. O historiador Florescu descreve-o como especialista em empalamento e tortura, homem sanguinário e destemido guerreiro.

«Ele empregava», escreve ele, «estacas e lanças que precisavam ser afiadas, para que as perfurações não provocassem imediata agonia e antes intensificassem o sofrimento dado o tipo de chaga alargada que daí resultava.»

A Romênia – especialmente a Transilvânia de século XV tem a marca do vampiro. Tudo, desde a busca mágica do príncipe Drácula, a criação da Ordem do Dragão por Segismundo I da Hungria que se tornou ponta de lança da cavalaria das trevas, uma ordem vampírica a que toda a aristocracia da Transilvânia aderiu, os Drácula, os Garai, Cillei e outros, tudo ali existe.

A crueldade de vlad ficou na lenda.

«Ele foi vlad Tepes, o tirano. Nada o satisfazia tanto como ver os seus inimigos no estertor e sofrer quando empalados. Conta-se que no meio dos moribundos suspensos de estacas ele se fazia servir das mais lautas refeições, para mostrar que o espetáculo cruel e a forma de matar os inimigos não lhe roubava o apetite.» (F. R. Dumas.)

Em Târgoviste ele empalou, na Páscoa de 1459, quinhentos Boyards. A 24 de Agosto de 1460, os anais da Romênia precisam que ele matou – após torturas e suplícios – 30 000 prisioneiros em Anilas:

«Assassinou alguns fazendo passar por cima deles os rodados de carros. A outros, despojando-os das suas roupagens, arrancou a pele até às entranhas. Assou alguns sobre brasas, atravessados por espetos e a tantos perfurava-lhes as nádegas com estacas que saíam pela boca... e parra que nada fosse esquecido, quanto a atrocidades possíveis, espetou, a uma mãe, os dois seios colocando-lhe por cima o filho ainda bebê.»

Enfim, matou de muitas e diversas maneiras, torturando com a ajuda de utensílios, fazendo atrocidades que só o mais tirano dos tiranos poderia conceber.

O papa Pio li ficou horrorizado. O bispo d’ Erlau, em 1475, secundou a acusação de que o número de vítimas do príncipe Drácula se elevava a mais de cem mil pessoas.

Sendo ele cristão ortodoxo, a sua excomunhão tê-lo-ia atirado para os infernos! E não foi citado que, após ter conquistado Kroonstadt, fez dos seus habitantes prisioneiros levando-os para a capela de S. Jacques, para a Igreja de S. Bartolomeu e para o mosteiro de Holtznetya onde, depois de roubar os paramentos e os cálices, deitou fogo aos edifícios com as pessoas lá dentro, matando todos os que ali se encontravam.

Com a aparição de um tal Eleazar, chegado do Egito, detentor do famoso Manuscrito de Abremelin, é que tudo afinal começou...

Uma seita do Egito revelou-lhe os mistérios da morte e as técnicas que permitiriam obter-se um aspecto de imortalidade. Chegado a Veneza, transmitiu para a escrita tudo o que ouvira da boca de Abramelin, no Egito. É em Veneza que põe em prática a sua ciência sobre os mortos... de um modo eficaz e terrífico. Alguns jovens mais ousados agruparam-se à sua volta e formaram o primeiro elo desta cadeia européia. Este saber vinha das práticas de Osíris, o deus dos mortos-vivos do Egito, aquele que foi desmembrado antes de se tomar imortal.

Nas primeiras páginas do manuscrito maldito, Abramelin revela através da escrita de Eleazar: «Imagina a que ponto a nossa seita se tornou maldita que ultrapassa o gênero humano... de tal modo que em ti , não se manterá para além de uns setenta e dois anos... e outra virá continuar-lhe caminho.»

O discípulo de Abremelin deixou Veneza, onde ficou um grande número de partidários que se instalou na ilha de Lagune, ilha essa onde noutros tempos se orara ao dragão das águas, o que prova que nada se escolhe por acaso...

Eleazar chegou à Hungria, onde se tornou conselheiro, em matéria de ocultismo, do imperador Segismundo, iniciando-o nas práticas de Abremelin.

O imperador da Hungria acabava assim de descobrir uma resposta para as suas angústias, um remédio para o seu temor à morte. Aconselhado por Eleazar fundou a Ordem do Dragão na mitologia do sangue.

Vlad o Diabo, príncipe da Valáquia e pai de Drácula, pertencera a esta Ordem, onde foi iniciado nos mistérios do sangue segundo os ritos de Abremelin.

A seguir à morte de Vlad, Drácula subiu ao trono de Valáquia. Segismundo da Hungria doou-lhe as terras, feudos de Almas e Fagaras situados na outra vertente dos Cárpatos e é sob a bandeira do Dragão que ele combate os turcos, depois de prestar vassalagem ao grão-mestre da Ordem.

Na Ordem do Dragão vamos encontrar os grandes adeptos vampiros da Romênia, homens de armas e ao mesmo tempo praticantes da velha magia. As famílias Garai e Cillei, são conhecidas pela sua crueldade e despotismo, autênticas «eminências pardas» do imperador Segismundo. Hermann de Cillei foi o exemplo vivo desta aristocracia infernal!

As relações pervertidas que mantinha com a irmã bárbara tornaram-se do domínio público mas Hermann de Cillei gozava com o escândalo para o qual ele e sua irmã viviam.

Foi nessa altura que Segismundo I tentou a grande experiência do livro de Abramelin. Ele estava apaixonado por bárbara de Cillei que, ainda nova, cansada pelos seus excessos debochados, acabava de se envenenar.

bárbara de Cillei fora por muito tempo das cúpulas da ordem. Segismundo serviu-se do ritual próprio para ressuscitar esta jovem, segundo nos conta Eleazar através dos seus documentos.

O castelo de Drácula
Bárbara foi enterrada em Gráz, na alta Síria. Algum tempo depois, os seus despojos foram transportados para o castelo de Varazdin. Foi ela a inspiradora da obra prima da literatura vampiresca do século XIX: Carmila, de Shéridan Le Fanu.

Bárbara Cillei, a quem chamavam «a Messalina alemã», perturbou durante muito tempo a sua região, a acreditar-se nas crônicas da época.

O seu duplo ter-se-ia manifestado em 1936, em Varazdin, na atual Jugoslávia, e causou a morte a seis pessoas muito novas da aldeia. Na Transilvânia, a natureza oferece à vista profusão desordenada de montanhas que protegem estreitos vales, tornando assim o acesso muito difícil. Os cumes desnudados ergem-se sobre as aldeias, como que para lembrar as glórias antigas na época em que os enormes penedos suportavam verdadeiras fortalezas de muralhas sombrias, de maciças torres.

Foi aí que, fechado no seu ninho de águia, Hermann de Cillei escreveu a sua Pratique de Vampirisme, deixando às gerações futuras um verdadeiro manual de técnica (o segredo da «horrível transformação» transmitia-se entre as famílias da nobreza da Transilvânia, os Garaï, e os Dráculas, todos nobres da Ordem do Dragão).

«O vosso corpo imortal já existe», escreve Hermann Cillei. «Fazei crescer esta outra realidade em vós, tornai-vos confiante, deixai-vos possuir pelo Real. Sede aquele que nunca dorme, não sucumbe aos automatismos, nunca se esquece de si próprio nem um segundo, um ser que vence o coma e a morte. O vosso corpo prosseguirá. Como poderia ele resignar-se à lei da decomposição? O vosso espírito despertado retém as moléculas da carne. A partir de então o corpo não soçobrará, pois é a falta de vitalidade, de força anímica, que fazem o corpo tornar-se em pó. E o mesmo que tirar as pedras de cunha a uma casa.

»Em primeiro lugar é preciso agir sobre o nosso duplo astral, torná-lo autônomo, forçá-lo a sair do corpo, ensiná-lo a errar no plano astral, ensiná-lo a viver sem depender do corpo e dos seus hábitos. Logo que o duplo se souber governar perfeitamente, pode então a consciência abandonar o corpo e vir habitar o duplo. Depois da morte continuará a errar. Deveis pois alimentá-lo com a vitalidade que o vosso sangue contém.»

Pode imaginar-se facilmente Hermann Cillei metido numa das torres do seu castelo, fixando a chama hipnótica da vela, escrevendo o manual de vampirismo, já entre este mundo e o outro. Ouve vozes confusas vindas do passado, vê cenas terríveis de que as montanhas foram testemunhas... O vale está povoado por seres fantásticos, sombras que deslizam ao cair da noite... olhos que espreitam entre a escuridão...

A maldição plana como um abutre sobre os castelos da Transilvânia. Bárbara de Cillei morreu envenenada. A mulher de Drácula atirou-se do alto da torre do castelo, em 1462. Drácula voltou a casar-se – sem a bênção da igreja – e vive então na fortaleza de Sibiu. O filho, Mihnea, é tão mau como o pai. Alcunharam-no de Mihnea, o Mau. Também ele pratica decapitações, carnificinas, cortes de orelhas, empalamentos e estuda as «ciências» malditas para fugir à morte.

O príncipe Drácula – vlad Drakul – foi morto pelos turcos numa emboscada perto de Bucareste. Tinha 45 anos, e «foi enterrado subrepticiamente no mosteiro de Snagov sob uma laje sem inscrição. Quando em 1931 foi aberta a sepultura constatou-se que os seus despojos tinham desaparecido».

Que é que se passou? pergunta Ribadeau-Dumas: «Os monges do mosteiro de Snagov, na floresta de VIasie, no meio de um grande lago, como existe um em Bucareste, mergulharam o caixão nessas águas ao ver chegar os turcos vitoriosos. Depois de afundado nunca mais se encontrou o caixão. Conta-se que no momento em que o mergulharam na água, teria surgido uma tempestade violenta, deitando árvores abaixo, rebentando os diques do lago, incendiando o mosteiro que desabou em seguida. Aos camponeses pareceu-lhes ouvir durante muito tempo tocar os sinos da igreja, igualmente arrasada nesta onda de destruição. Aquele lago ficou amaldiçoado!

»No século XX reconstruíram a igreja do convento, mas a nave abateu aquando de um tremor de terra em 1940. Hoje, apenas um monge ora nesta ilha, pelo repouso da alma do príncipe Drácula.»

Para se chegar ao castelo de Drácula, na Transilvânia, é preciso transpor o vale de Ollul, trepar o desfiladeiro da «Torre Vermelha», onde ainda existem ruínas de uma fortaleza militar. Estas ruínas levantam-se sobre a margem direita de uma ribeira, no alto de uma enorme falésia perpendicular à estrada. Encontramo-nos nas nascentes do Arges, por cima das quais brilha a neve dos montes Fagaras.

As aldeias são pobres, as casas modestas, os habitantes mais duros e menos sociáveis e hospitaleiros que os de outras províncias da romênia. A uns trinta quilômetros a jusante encontra-se a aldeia de Arefu onde lá em cima se ergue o ninho de águia de Drácula.

Numerosas lendas relatam a construção do castelo do terror. As crônicas da época dizem que Vlad Draklul reuniu trezentos nobres romenos na sala grande do seu palácio de Târgoviste, oferecendo-lhes um banquete suntuoso. Durante a festa, colocara à volta da sala os seus arqueiros que, a uma ordem sua, aprisionariam os convidados. E, como um rebanho, fez seguir os seus convidados até Arefu, onde chegaram dois longos dias depois.

Numerosas mulheres e crianças, diz a crônica, não agüentando a caminhada, pereceram a meio. Os que sobreviveram, logo se agarraram ao trabalho sob as ordens do príncipe Drácula. E assim construíram a fortaleza de Curtes de Arges, que seria mais tarde o ninho de águia do príncipe.

«A história não esclarece quanto tempo levou esta construção. Escravizados, acabaram por ver suas roupas cair, continuando a trabalhar nus; prosseguiram até tombar mortos pela fome, fadiga, frio e esgotamento...»

Foi assim com sangue que se construiu a fortaleza. Como se o suor, o sangue, a carne dos cadáveres tivessem servido de argamassa a esses pedregulhos.

O caminho que vai de Arefu ao castelo é duro. Uma hora a andar, antes de se atingir algumas pedras daquilo que foi uma das mais poderosas fortalezas de Valáquia. A vista é vertiginosa, distinguindo-se a mancha vermelha das aldeias espalhadas pelos contrafortes alpinos. Lá longe, para norte, luzem os picos de neve dos montes Fagaras.

No pátio do castelo o visitante apercebe-se dos vestígios de uma abóbada, toda coberta de vegetação. Muito perto, vê-se a parte de cima de um poço, cheio de pedras, como se as muralhas do antigo castelo tivessem sido aspiradas pelo abismo, obstruindo para sempre a entrada do mundo subterrâneo.

Ao lado do poço há uma escada enterrada no solo, sem dúvida uma passagem secreta, de que muitos relatos falam, com acesso a uma gruta que os camponeses de Arefu chamam Privnit (A cave), situada na margem de uma torrente. Passados alguns metros de escuridão surge um montão de pedras que barram o subterrâneo.

Os camponeses da região comentam muitas vezes sobre o castelo maldito mas hesitam em ir até lá, pois que o sombrio herói de Bram Stoker assombraria para sempre aqueles lugares.

Para Radu Florescu – o histonador romeno –. «Além da águia e do morcego, as ruínas são frequentadas pelas raposas que procuram os ratos e alguma ovelha ou carneiro que, extraviados do rebanho, caíram num buraco e, prisioneiros no matagal, ali venham a morrer.

»O regougar que os cães selvagens soltam à Lua, sobretudo quando respondem aos uivos, resulta num concerto noturno que não se ouve sem um calafrio. De vez em quando também um urso ou um lince descem os montes Fagaras até aí; mas os visitantes verdadeiramente perigosos são os lobos. Se Bram Stoker escoltasse a parelha de Drácula com as matilhas uivantes para os lados de Borgo, aqui, no alto vale de Argens, as pessoas seriam com certeza atacadas, pois a desolação de Inverno torna esses animais raivosos. Compreende-se assim que pernoitar no castelo de Drácula seja considerado um desafio à morte e mesmo os mais ousados raramente o fazem».

Diz-se que em Arefu os raros aldeões que de noite vão ao castelo, só se aventuram levando consigo um velho missal que, afirmam eles, afasta «os espíritos do mal que rondam pelas alturas».

 

O vale dos imortais
 No seu romance Drácula, Bram Stoker garante ter encontrado, em 1880, um professor Arminius, da universidade de Bucareste que lhe entregou um dossier «respeitante a V1ad V, filho de V1ad, o Diabo» atestando que depois da morte brutal, da sua inumação na ilha de Snagov, seguido do famoso cataclismo que arrasou a ilha, Drácula reapareceu como «vampiro».

«Pedi ao meu amigo que pusesse em ordem o seu dossier. Todas as fontes de informação levam a pensar que Drácula foi um voïvode que ganhou o seu apelido ao combater os turcos no grande rio, sobre a fronteira da terra turca. Sendo assim, não se trata de um homem vulgar, porque no tempo dele e nos séculos seguintes foi considerado o mais inteligente, o mais ardiloso e valente entre todos os que existiam para além das florestas (Transilvânia), Levou para o túmulo esse poderoso cérebro e um caráter de ferro que ‘utiliza agora contra nós’. Os Drácula, diz-nos Arminius, foram uma grande e nobre raça, ainda que certos descendentes seus (segundo os contemporâneos) tivessem pacto com o diabo. Aprenderam o segredo de Satanás no Scholmance, entre montanhas, sobre o lago Hermanstadt, onde o demônio se reclama, por direito, o décimo erudito.

»No manuscrito encontram-se palavras como estrgoica (feiticeira), Ordog (Satanás), polok (inferno), e ainda se diz neste momento que Drácula, era wampir».

Nos contrafortes dos Cárpatos, nos vales da Transilvânia, as aldeias fazem a época histórica dos Drácula. De longe em longe destinguem-se granjas de madeira, para onde o camponês conduz o seu atrelado. O caminho é escarpado, todo exposto ao sol ao longo das encostas íngremes que levam a cumes solitários. Umas vezes aparece uma cabana de caçadores, um cal vário... meio engolido pela vegetação. Outras vezes surge alguma ruína imponente coroando a colina, os muros de uma antiga fortaleza colocada de sentinela à entrada de uma garganta profunda, ao fundo da qual brilham como um espelho as águas de uma ribeira.

E fácil compreender por que este território inacessível foi noutros tempos a pátria dos Dácios, «o vale dos imortais», que os antigos gregos veneraram.

Num livro misterioso, chamado L’ lcosameron Giacomo Casanova – gentil-homem veneziano, libertino, filósofo e mágico – conta-nos de um povo que vivia no subsolo da Transilvânia, os Mégamicres, bebendo sangue para se tornarem imortais:

«Que belo alimento era o leite dos Mégamicres!... Pensamos que nada de fabuloso nos ensinara a mitologia, que estávamos no verdadeiro domicílio dos imortais e que o leite sugado por nós representava o néctar, a ambrósia, que iria sem dúvida dar-nos a imortalidade de que todos deviam desfrutar... Esta refeição durou uma hora e penso que teríamos ainda continuado não fora verificarmos com pavor algumas gotas que caíram dos seus mamilos para o nosso peito. Pela cor percebemos que era sangue.

»Intermináveis corredores ligam o mundo subterrâneo dos Mégamicres à região do lago Zirchnitz, na Transilvânia, que Casanova descreve como um ‘reino de grutas e de trevas’.»

Quais são os deuses venerados pelos Mégamicres, em Icosameron? Lendo a descrição que Giacomo Casanova nos faz, pensamos nos vampiros que povoam a tradição de Europa central:

«...Os deuses dos Mégamicres são répteis. Têm a cabeça muito parecida com a nossa, mas SEM CABELO. Nada é tão doce e sedutor como o seu olhar, quando se fixa. De dentes são brancos e bicudos, mas nunca se vêem por eles terem sempre os beiços fechados. A voz é apenas um horrível silvo que faz ranger os dentes e gelar o coração. O povo dos Mégamicres dedicam-lhe 1m culto religioso.

»A vida e a morte de Casanova continuam misteriosas. Foi preso em Veneza, pela Inquisição, acusado de magia e fechado nos esgotos do Palácio ducal, donde conseguiu fugir e correr a Europa. Manuzzi – espião dos inquiridores de Veneza, conseguiu apoderar-se de livros e documentos manuscritos em sua casa, tais como as Clavicules de Salomon, as obras de d’Agripa, e o Livre d’Abramelin le mage (publicado em Veneza).

No seu L’ Icosameron, Casanova revela que os Mégamicres são os inimigos do envelhecimento, e que nunca envelhecem:

«O sono profundo», escreve ele, «uma tão perigosa languidez, que é visível que nos faz envelhecer e acelera o ritmo das nossas vidas...»

Sabe-se que Drácula foi enterrado na ilha de Snagov, à entrada da igreja do mosteiro, e procedeu-se as várias buscas em vão. O túmulo está vazio, acontecendo o mesmo com o de Giacomo Casanova, enterrado no parque do castelo de Dux, na Boêmia, sob uma pedra tumular rodeada por um gradeamento. Depois foi transladado para poucos metros de distância, perto da entrada da pequena igreja de Santo Eustáquio, na margem de um pequeno lago...

Hoje não existem nem as lages sepulcrais nem gradeamento! Que coincidência tão estranha até à morte... Drácula e Casanova!... Coincidências ou conjugações de forças secretas para lá da nossa compreensão?... Os imortais bebedores de sangue de Giacomo Casanova viveram em tempos longínquos na Transilvânia, perto do lago Zirchnitz, numa região de «grutas e trevas».

A Transilvânia foi a pátria dos dácios muito antes da era cristã. Os gregos acreditavam que este enclave de montanhas era o «Vale dos imortais».

A antiga terra dos dácios era pagã. «Aí existiam, governados pela misteriosa deusa Mielliki, as forças dos bosques, enquanto a oeste a montanha de Nadas tinha o vento como único habitante. Havia um deus único, mas nos Cárpatos supersticiosos havia sobretudo o diabo Ordog, servido por feiticeiras que, por sua vez, tinham ao seu serviço cães e gatos pretos. E tudo vinha dos elementos da natureza e de suas fadas... No meio das árvores sagradas, de carvalhos, de nogueiras fecundas, celebravam-se secretamente os cultos do Sol e da Lua, da aurora e do cavalo preto da noite.»

Testemunhas da Grécia antiga recordam ter visto legiões de dácios em pé de guerra, armados de escudos, trazendo a efígie do dragão nas armas de guerra.

Para os raros viajantes da Antiguidade, este povo selvagem corresponderia aos Hiperboreanos da mitologia, os homens-deuses que venceram a morte e reinaram na ilha de Thulé (Os filósofos gregos e pessoas que em viagem citam a Dácia hiperboreana).

Os dácios consideravam-se imortais. Tinham – acreditavam eles – o dom de se transformar em lobo ou em morcego, de voar, de dialogar com os deuses no alto das montanhas. Os lugares escolhidos para os rituais eram sobre os picos rochosos, no interior de grutas inacessíveis. E sobre estes cumes que os grandes senhores – Drácula, Garal, Cillei – construíam seus ninhos de águias.

A suprema autoridade religiosa dos dácios, aquele que detinha os segredos da vida e da morte, viveu, ma das florestas da Transilvânia, no cimo de uma montanha agreste na qual construíram um templo. Supõe-se hoje que tivesse sido o monte Cugu, que se eleva a três mil metros de altitude nos confins de Banat e da Transilvânia.

Para os «padres» dácios, a divindade suprema chama-se Zalmonix. E ela que preside à iniciação.

Entre Zalmonix e os sacerdotes de Transilvânia existem outros seres que servem de intermediários entre os homens e a divindade suprema. Estes seres seriam eventualmente os vampiros ou mortos-vivos, isto é, aqueles que venceram a morte e que têm o poder de voltar ao meio dos homens, segundo a sua vontade.

O príncipe romeno Bursan-Ghica, exilado em Paris desde os anos 50, recorda ainda as velhas lendas da Transilvânia:

«Para comunicar com Zalmonix, os dácios têm de recorrer a mensageiros. Escolhem por isso os irmãos mais avançados em magia, aqueles que ultrapassaram o limiar da iniciação. Estes eleitos são os sacrificados. Os dácios trespassam-nos com as pontas das suas lanças. Mas sete dias depois, os corpos trespassados saem do túmulo e juntam-se aos outros. Tornaram-se imortais e farão de elo entre os Dácios e Zalmonix. Naturalmente que as lanças foram substituídas por agudas estacas que se plantavam na terra. Compreendem agora a realidade secreta da estaca dentro do vampirismo, e a razão por que o Drácula foi alcunhado de vlad, o empalador?...

Para certos ocultistas, fanáticos do vampirismo, o príncipe Drácula não seria um guerreiro sanguinário ao empalar as suas vítimas para seu prazer... antes cumpria as práticas da magia antiga e dos Dácios, seus antepassados, os imortais da Transilvânia.

Em 1462, Vlad Drakul foi preso na Hungria, na torre de Salomão, palácio de Visegrad. Segundo Kurytsint um diplomata russo, Drácula mantinha excelentes relações com os guardas. Fez-lhes um pedido que não deixa de ser curioso! Desejava que lhe arranjassem ratazanas, ratinhos, pássaros e outros animais pequenos.

Que razões secretas o levariam a tal? Kurytsint que estudou Drácula narra que ele empalava estes animalejos e os dispunha em redondo ou em cepa, espetados em raminhos afiados sobre o chão da sua cela. Os cronistas referem as distrações atrozes, de um sadismo monstruoso. As obras recentes acerca do personagem histórico Vlad Drakul (entre eles o livro do historiador Romeno Florescu) são bem o testemunho da opinião do autor quanto a tratar-se de perversões psicopatológicas. Apenas os ocultistas e os adeptos do vampirismo viram nelas o ressurgimento da antiga magia Dácia oferenda oculta único vínculo possível com Zalmonix deus dos vivos e dos mortos nas antigas crenças da Transilvânia

Texto de Jean Paul Bourre

Biografia Voltaire, François Marie Arouet

Voltaire nasceu em Paris. Seu nome verdadeiro era François Marie Arouet. Seu pai era tabelião e possuía pequena fortuna. Sua mãe tinha origem aristocrática. Ela morreu depois do parto. François foi franzino durante a infância e teve saúde fraca durante toda a vida. Tinha um irmão mais velho, Arnaud, que entrou para um culto herético jansenista. François revelou talento literário e sensibilidade poética logo na infância. Ele comprou livros com a herança de uma senhora que havia visto nele futuro cultural. Com esses livros, e com a tutela de um abade, começou sua educação. O abade lhe mostrou o ceticismo e as orações religiosas. O pai de François queria um futuro prático para o filho. Achava que a literatura não rendia dinheiro nem prestígio. Com o intuito de tornar o filho advogado do rei, coloca-o num colégio jesuíta. Os jesuítas eram padres com formação militar, que usavam para difundir o evangelho no mundo todo. Eram membros da Companhia de Jesus, que havia sido fundada por Inácio de Loyola. Os jesuítas ensinaram a Voltaire a dialética, arte de dialogar progressivamente, para provar as coisas. Ele discutia teologia com os professores, que reconheciam Voltaire como um “rapaz de talento mas patife notável”.

Seu padrinho o introduziu numa vida desregrada. Conheceu escritores, poetas e cortesãos. Ficava na rua até tarde, divertindo-se com fanfarrões epicuristas e voluptuosos. Seu pai, homem sério, não viu com bons olhos as atividades do filho. Manda-o para a casa de um parente, para mantê-lo quase preso. Mas o parente, quando o conhece, gosta tanto dele que lhe dá liberdade.

Quando François termina o colégio, seu pai arranja para que se torne pajém do marquês de Châteauneut. Parte em missão diplomática com esse embaixador para Haya, Holanda. Logo que chega lá encontra uma moça: Olympe Runoyer, a Pimpette. François teve encontros amorosos com a moça e queria que ela fosse morar com ele na França. O caso foi descoberto. François escrevia cartas apaixonadas, dizendo:”não há dúvida de que irei amá-la para sempre.” Mandam-o de volta para a casa de seu pai.

Compõe uma ode a Luís XIII, com a qual participa de um concurso, que não vence. Luís XIV morre, e seu filho é muito jovem para ser rei. O poder ficou com um regente. Sem um governador legítimo,a vida em Paris corria sem controle e François corria com ela.

François começa a ficar conhecido por ser brilhante, imprudente e turbulento. É malicioso e tem os olhos vivos e perpicazes. Vira amante de Susanne de Livry, faz versos galantes e poemas cômicos. Ele aspira ser o grande trágico da época, e não são poucas as suas tragédias. Suas obras somadas dão noventa e nove volumes. É um espírito versátil, dono de uma cultura notável, que o ajudava a ser fecundo. Em 1715 escreve a peça Édipo e o poema Henríada, um épico sobre Henrique IV. Sua fama aumenta e todas as coisas espirituosas e maliciosas são atribuídas a ele, inclusive algumas anedotas, contra o regente que governava, duque de Órleans. As anedotas falavam que o regente conspirava para usurpar o trono. Em 1717, o regente manda-o para a Bastilha, a prisão parisiense. Na Bastilha adota o nome de Voltaire. Depois de quase um ano de prisão, o regente o soltou. A tragédia que escrevera, Édipo, é produzida em 1718, e fica em cartaz quarenta e cinco noites seguidas, um recorde para a época. Se enconta com Fontenelle. Com um lucro de 4000 francos da peça, Voltaire faz investimentos financeiros, empresta dinheiro, e financia o tráfico de escravos, que era um negócio rentável. Assim , fez render seu dinheiro e pode viver com folga.

Então, uma briga com o duque de Sully, cavaleiro de Rohden, o obriga a ir para o exílio. O nobre não aceita seu desafio para um duelo, e dispõe de meios para prendê-lo de novo. O cavaleiro mandou seus homens baterem nele, depois que Voltaire o respondeu. Preso por um curto período, preferiu o exílio na Inglaterra. Depois de ter ficado e alcançado o sucesso com Édipo e a Henríada, ele passa (de início a contragosto) três anos na Inglaterra.

Aprendeu o inglês. Em Londres, conseguiu desenvolver sua intelectualidade. Se relaciona com os poetas Young e Pope; com o escritor Swift e o filósofo empirista Berkeley. Admira-se com a liberdade de expressão dos ingleses, que escrevem o que querem. A filosofia inglesa, que vinha desde o início da modernidade, com Bacon, Hobbes e Locke e os deístas, o agradou. Estuda a fundo a obra de Newton, e mais tarde propaga suas idéias na França, com as Cartas filosóficas, de 1734.

Voltaire absorve rapidamente a cultura e a ciência inglesa. Gosta da tolerância religiosa. Começa a amar a marquesa de Châtelet, Emile de Bretiul. A marquesa é culta, traduzira Newton e apresentou Leibniz a Voltaire. Ela lhe dá proteção no seu castelo de Cyrei. Acha Voltaire interessante, o mais belo ornamento da França. Ela tinha vinte e oito anos, e ele quarenta. Graças a ela e às grandes damas, acredita na igualdade mental inata entre os sexos. No castelo de Cyrei, passavam o dia estudando, pesquisando e fazendo experimentos no laboratório. Voltaire, com sua amante, aprofundou-se em física, metafísica e história. O castelo tornou-se um centro cultural. Voltaire aprefeiçoa seu estilo ionico e frívolo. Escreve Alzire, Mérope, O filho pródigo, Maomé, O mundano, O ingênuo e Cândido.São romances com bom humor. Will Durant diz que os heróis desses romances são idéias, os vilões são superstições e os acontecimentos são pensamentos.

Em O ingênuo, um princípe huroniano chega na França e submete-se aos costumes franceses, tornando-se católico. Para isso um abade lhe deu um exemplar do Novo Testamento. Se apaixona pela madrinha de seu batismo. O romance mostra as diferenças entre o cristianismo primitovo e eclesiástico.

No romance Micrômegas, Voltaire narra a visita de um enorme habitante de Sirius a Terra. Com oito léguas de altura, e mil sentidos, essa raça costuma viver mais de dez mil anos. Sob essa perspectiva vem a tona a finitude e a pequenez da Terra e seus habitantes. O ET diz que é na Terra que a felicidade mora, se dirigindo aos humanos, átomos inteligentes e imateriais. Um filósofo humano expõem ao visitante a brutalidade da existência carniceira na Terra, provocando ira e decepção no alienígena. O filósofo o dissuade de seu impulso de matar a todos com suas passadas.

Em Zadig, Voltaire conta a história de um sábio babilônio. Ao defender a sua amada, Zadig é ferido no olho. Perde a visão desse olho. A amante, Samira, comprometre-se com outro homem. Zadig casa-se com uma camponesa. Testa a fidelidade da camponesa com um amigo, fingindo-se de morto. Traído, foge para o bosque. Adquirindo sapiência, torna-se amigo e ministro do rei. A rainha se apaixona por Zadig. O rei planeja matá-los e Zadig foge. Num transe vislumbra a ordem imutável do universo. A trajetória de Zadig prossegue. Ele é feito escravo, mas depois torna-se assessor de seu senhor.

A correspondência de Voltaire é numerosa. Não só as cartas sobre os ingleses, mas também com inúmeras personalidades da época, como Frederico, o Grande, da Prússia, de quem foi amigo.

Aos poucos, Voltaire volta a ter contato com Paris. Graças à proteção de madame Poiapadeur, vira historiógrafo real. Em 1745, Voltaire e a marquesa vão para Paris. Ele se torna candidato à Academia Francesa. Em 1746, é eleito e faz um belo discurso de posse. Em Paris escreve muitos dramas. Inicialmente fracassa, mas depois alcança sucesso com Zaire, Nahomet, Mírope, Semiramas.

Depois de quinze anos, sua relação com a marquesa torna-se difícil. Em 1748, a marquesa começa um caso com Saint Lambert. Em 1749, a marquesa morre.

Frederico II, da Prússia, o convida para fazer parte da corte, em Postdam. Ele é convidado a ser professor de francês do monarca, que manda dinheiro para a transferência. O convite se deve ao fato de ser Voltaire querido por todos, e admirado por sua inteligência e seus escritos. A estada lhe agrada, mas não de todo. Foge das cerimônias oficiais. Frederico lhe é gentil e amável e juntos mantiveram altas conversas. Voltaire tinha a sua disposíção uma boa suíte. Frederico e Voltaire se tornam muito amigos, e Voltaire não poupa elogios ao monarca falando para terceiros.

Por causa de uma interpretação de um ponto da teoria newtoniana, Voltaire polemiza com um protegido do rei, Malpertuis, presidente da academia de Berlim. Voltaire dirige seu ataque a Malpertuis num panfleto, Diatribe do dr. Akakia, em 1752. Quando o panfleto foi publicado, Frederico, o grande, manda queimá-lo (o panfleto) e Voltaire deixa a Prússia, escapando da raiva real. Em Frankfurt foi preso pelos agentes do rei. Fica preso durante semanas. Quando vai para a França, descobre que está proibido de entrar em Paris. Vai para Genebra, onde adquire uma propriedade chamada “As delícias”. Ali ele termina suas maiores obras históricas: Um ensaio sobre o costume e o espírito das nações e sobre os principais fatos da história, de Carlos magno a Luís XIII. Ele começou essa obra em Cyrei. E A era de Luís XIV.

Nas suas obras históricas, Voltaire não dedicou um enorme espaço à Judéia e ao cristianismo, e relatou com imparcialidade a gigantesca cultura oriental. O Oriente tinha mais tradição que o Ocidente. Sob nova perspectiva, descobriu-se nesse mundo, e os dogmas europeus puderam ser questionados.

Nas Delícias, tem boas relações com os evangélicos. Os enciclopedistas do Iluminismo Francês, encabeçados por Diderot, pedem sua contribuição. Escreve alguns artigos para a Enciclopédia. Ocorre então uma ruptura entre Voltaire e Diderot, por desavença de opiniões. Voltaire ironiza a defesa do estado de natureza de Rousseau (o famoso bom selvagem) dizendo que o que difere o homem dos animais é a educação e a cultura.

Voltaire sai de Genebra e vai para Ferney, onde permanece quase que o resto da vida. Cuidava de sua propriedade rural e escrevia muito. Plantou milhares de árvores. O lugar rapidamente se tornou um centro cultural, a exemplo do que acontecera com o castelo da marquesa. Alguns Iluministas iam para lá. como Helvetius e d’Alembert. Voltaire mantém em Ferney vasta correspondência, com gente de todos os tipos, incluindo muitos governantes.

Em 1755 soube do terremoto em Lisboa, onde morreram umas trinta mil pessoas. Ficou revoltado ao saber que os franceses consideravam aquilo castigo divino. Lamentou a desgraça do destino dos vivos em um poema. Voltaire sempre lutou contra o preconceito e as superstições , preferindo em lugar delas a razão e a cultura elucidativa.

A adoração a um Ente Supremo e a submissão às suas leis eternas, sem conhecê-las por completo, resulta em rituais que não fazem sentido, não tem eficácia. Os preconceitos , para Voltaire podem ser maus, medíocres, ou ter um fim útil, como amar o pai e a mãe. Preconceito é uma opinião desprovida de julgamento. Podem ser:

a) dos sentidos- como por exemplo: o sol é pequeno, pois vejo-o assim.
b) físicos – “a Terra está imóvel”.
c) históricos – por exemplo a lenda da fundação de Roma, por Remo e Rômulo.
d) religiosos – por exemplo: Maomé viajou nos céus.

Voltaire tem um tratamento racional para desvendar os mistérios da consciência humana . Dá a entender que Descartes estava errado com seu inatismo, e prefere a teoria de Locke, de que tudo deriva das sensações. A sensação é tão importante quanto o pensamento, e o mundo é uma sensação contínua. Ele faz paralelos com a cultura grega e romana, nos verbetes do Dicionário Filosófico.

As crenças tem um lado subjetivo muito forte. Nos esforçando para ver a crença, ela acabará por existir, para nós.

Os sonhos são um mistério, portanto fonte de superstições, como os que sonham com acontecimentos futuros e pensam ser Deus o responsável. O fato de não podermos usar a razão enquanto vivemos um sonho, e de ele ser um estado alternativo, de percepção etérea, é o que faz suscitar dúvidas de interpretação. Os sonhos não tem valor objetivo, para Voltaire. A moral vem de Deus, como a luz. As superstições são trevas.

O dicionário filosófico foi publicado em 1764 . Foi o primeiro livro de bolso da história e alcançou muito sucesso. As idéias nele contidas são revolucionárias, pois criticam o Estado e a religião. Voltaire faz muitas citações de grandes autores, e o livro tem uma parte histórica grande. Voltaire faz parte desse movimento de renovação da cultura e crítica da política absolutista chamada Iluminismo. Suas idéias foram propagadas na Revolução Francesa e refletiam os ideais dessa revolução, durante a qual foi muito lembrado. Voltaire não despreza a cultura pagã e oriental, como fazem outros autores.

Cândido, sua obra principal, foi escrito em três dias. Conta com otimismo pessimista a história de um simples rapaz, filho de um barão. Seu mestre, Pangloss, inverte a lei da causalidade, ao afirmar que as pedras foram feitas para construir castelos e o nariz para suportar óculos. No entanto, se acha muito culto.

O exército búlgaro invade o castelo onde Cândido mora e o transforma em soldado. Entre morrer e ser açoitado, Cândido prefere o açoite. Aguenta as chibatadas de todo o regimento durante um tempo. Os pais de Cândido são assassinados, e o castelo é destruído. O rapaz consegue fugir para Lisboa, e no barco que o leva até lá, encontra Pangloss. Em Lisboa ocorre o terremoto. A Inquisição durou mais tempo em Portugal, que se manteve católico e não aderiu ao protestantismo. Cândido, fugindo dela, vai para o Paraguai, país onde há muita diferença social.

Cândido acha ouro no interior virgem do Paraguai, mas é enganado e fica sem quase nada. Vai para Bordeaux com o que sobrou. E Cândido prossegue, sofrendo males a aventuras. Vai para a Turquia. No livro, Voltaire critica a teologia medieval e o otimismo de Leibniz, que diz ser esse o melhor dos mundos possíveis. Certa feita, um jovem defendeu Leibniz, criticando Voltaire, que replicou: “Se esse é o melhor dos mundos possíveis, por que existem tantos males e injurias?” Apesar disso, o mal, para Voltaire, não é metafísico, mas sim social. Deve-se superá-lo com trabalho e com a razão. O homem deve estar sempre ocupado, para não ficar doente e morrer. Voltaire era muito ativo e combateu o ócio. Rousseau via críticas pessoais no trabalho de Voltaire.

Para Voltaire a metafísica é uma quimera. Pode-se escrever mil tratados de sábios e não desvendar o segredo do universo, ou questões como: O que é a matéria? Porque as sementes germinam na terra?

Voltaire difundiu o conhecimento e filosofia. Suas obras foram muito lidas. Ele comenta outros autores e dá sua opinião. Torna claro os complexos sistemas filosóficos, pois é inteligente e escreve bem. O ceticismo de Voltaire é uma atitude espiritual, contra a metafísica. Voltaire fala que o Ser Supremo, cuja crença veio depois do politeísmo, é válido. Disso resulta num paradoxo, pois Deus existe e não podemos conhecer os mistérios do universo. Voltaire aceita os argumentos para a existência de Deus de São Tomás de Aquino. É a causa primeira de tudo, Inteligência suprema.

Contrariarmente ao Deus judaico-cristão, O Deus de Voltaire fez o mundo em tempos remotos e depois abandonou-o ao próprio destino. Por isso Voltaire é deísta.

Para os Iluministas, Deus não existe e é o mal da humanidade. A ignorância e o medo criaram os Deuses, e a fraqueza os preserva. É um empecilho para a civilização. O materialismo é preferencial à teologia. Essas idéias foram defendidas na Enciclopédia, cujo principal autor é Diderot. Os enciclopedistas chamavam Voltaire de fanático, por esse acreditar em Deus. Lembre-se que Voltaire participou da Enciclopédia. Voltaire via Deus na harmonia inteligente entre as coisas. Mas negava o livre arbítrio e a providência. Respondeu ao Barão d’Holbach, notório ateu, que o título de seu livro O sistema da natureza, demonstra a inteligência superior.

Voltaire foi um defensor da justiça. Defendeu muitos que estvam em desgraça e lutou contra a tirania. Não se entusiasmava com as formas de governo. Achava os legisladores reducionistas. Como viajou muito, não era patriótico. Não confiava no povo e não gostava da ignorância, que estava muito difundida. Levantava dúvidas, muitas de suas obras são repletas de perguntas. Numa carta a Rousseau, no qual comenta o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, disse que o livro de Rousseau fazia surtir o desejo de voltar a ser animal, e andar de quatro patas, mas ele já havia abandonado esse hábito há sessenta anos.

Aos oitenta e três anos, viajou para Paris, para rever a cidade-luz, depois de tanto tempo. Teve calorosa recepção. Assistiu uma peça sua encenada. Foi até a Academia de Letras de Paris, recebendo uma homenagem. Morreu não muito depois e toda a população parisiense saiu na rua, para participar do cortejo fúnebre.

Biografia Sir Francis Dashwood


O infame Hell Fire Club de West Wicombe,organizou missas negras celebradas sobre os corpos desnudos de garotas recrutadas entre os locais camponeses.Era costumeiro aos que participavam de tais ritos,sorverem um pouco de vinho consagrado do umbigo destas garotas.A decoração interna do clube era alguma cousa incrível até mesmo para esta era degenerada;por exemplo,uma lanterna padrão consistia de um enorme morcego artificial completado com um pênis erecto.Essencialmente,as cerimônias eram criadas para servirem de paródia ao ritual orthodoxo da Igreja Católica Apostólica-Romana,mas aqui os participantes variavam suas atividades entre a luxúria e a cantoria de um lascívio hino.Lindas mulheres,totalmente nuas abaixo de robes de freiras,submetiam-se jubilosamente aos cuidados da gangue selvagem, que também tinha o incesto como uma de suas práticas correntes.É pouca surpresa que muitos dos participantes homens já eram impotentes quando atingiam trinta anos de idade.

Este vívido relato das horas de lazer de Sir Francis Dashwood e seus amigos pode ser achado no 'O Mundo Negro das Bruxas',publicado em 1962,por Eric Maple.Isto não é de maneira alguma atípico dos elevados vôos de fantasia no quais os escritores que tratam de Dashwood indulgem à si mesmos.

Samuel Johnson,que viveu na mesma época que Sir Francis Dashwood,deu à sua opinião naquilo que poderia ser o trabalho mais instrutivo a ser escrito no que deveria ser a história da Magia.Claramente ele não era familiar com 'A System of Magick,or a Theory of the Black Arts',publicado por Edmund Curll em 1726 e supostamente escrito por Andrew Morton,na verdade um pseudônimo de Daniel DeFoe.Em sua própria época,muitas histórias de bruxaria,magia,feitiçaria e satanismo foram escritas por este Dr.Johnson que dificilmente saberíamos por onde começar.Em muitos de seus livros,Dashwood é representado como um excepcional exemplo de depravação humana.

A primeira ambiciosa biografia de Dashwood foi 'Hell-Fire Francis' de Ronald Fuller em 1939.As seguintes palavras,demonstram o tom do livro*:

'Eu tenho tentado reunir ao longo das seguintes páginas tudo que se é conhecido ou adivinhado sobre as atividades do grupo de excêntricos,conhecidos entre nós como os 'Frades de St.Francis de Wycombe',e para o externo e menos elegante mundo como o 'HellFire Club'.Um espetáculo de uma turba de exibicionistas e pervertidos construindo altares para as suas próprias obsessões não é algo moralmente edificante,nem é provável que somos nós curados de nossas próprias tolices pela cópula com as tolices de nossos ancestrais...Ainda assim é a função do historiador explorar não somente as iluminadas avenidas,mas também as ruelas e as ruas de cortiço**.Por mais repelentes e depravados que eles possam ter sido,as atividades dos Frades de Medmenham ocupam um obscuro nicho em nossa história.'

Fuller tinha o benefício do 'Lives of the Rakes' do chanceller E.Beresford,publicado em 1924,e a desvantagem de não conceber que o chanceller não fez distinção entre fato,fofoca e ficção.O ano de 1939 foi dificilmente um tempo favorável para o livro de Fuller ser publicado,e, no período de carnificina civil e militar que se seguiu,a atenção pública estava cativada pelos mais imediatos problemas do que a um recital da depravação do século dezoito.Em 1958 Donald McCormick julgou que tal interesse tinha suficientemente revivido,e os modos mudaram,para publicar 'The Hellfire Club'.Embora ele apresentou o seu trabalho como uma séria investigação dos membros e das perversidades dos 'Frades de St.Francis',McCormick não possuiu escrúpulos ao entreter seus leitores com uma totalmente imaginária conversação de sua própria forja entre o poeta Paul Whitehead e uma jovem virgem nomeada Agnes,na taverna 'George and Vulture' em Londres.Para esticar a credulidade ainda mais para longe,ele também construiu uma ainda menos convincente entrevista entre outro poeta,o Rev. Charles Churchill,e uma jovem mulher que era evidentemente nenhuma virgem,sendo emprestada de uma sociedade meretrícia do senhor Hayes para o entretenimento dos Frades.

Como bases para o seu livro,McCormick aceitou que Dashwood reunia-se em intervalos regulares com uma dúzia ou mais de seus amigos para embebedar-se por toda uma noite em culminâncias na Abadia de Medmenham,perto de Marlow.Após a ceia mulheres passavam envolta da mesa com vinho do porto.As culminâncias foram transferidas,para as cavernas de Dashwood no condado de West Wycombe após 1763,quando elas tornaram-se mais sinistras.A autoridade para esta afirmativa foi o Dr G.B. Gardner,proprietário em 1950 da 'Witches’ Mill and Teahouse' em Castletown na Ilha do Homem.Este era Gerald Gardner (1884-1964),um homem de Merseyside que trabalhou por muitos anos no Extremo Oriente como dirigente de plantação e retirou-se novamente para a Bretanha em 1937.Em seus tardios anos,ele procurou reviver o que entendia serem os rituais de bruxaria medieval***.Este desfrutou de enorme popularidade na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos,sendo,geralmente, pensado que o título de Doutor foi garantido a Gardner como uma cortesia feita por seus seguidores.O rito principal gardneriano consistia de jovens homens e mulheres nus chicoteando uns aos outros suavemente dentro de um círculo desenhado com giz,um entretenimento do qual o Dr.Gardner derivou muitas horas de deleite inofensivo.

Deixando de lado a veracidade de suas autoridades em bruxaria e outras formas de associação satânica,McCormick apresentou Dashwood como um genial bêbado com um escárnio latino**** em seus lábios e com suas mãos ocupadas com as saias da mais próxima mulher amável.Este autor está tão longe da verdade quanto Fuller esteve em 1939 com os ditados de moralidade:

'Afirmar que o Império Britânico foi inspirado e criado através da influênca de tais homens como os libertinos de Medmenham é tão ultrajante quanto entitulá-los de satanistas e decadentes. Todavia,pode ele ter sido criado por caprichosos,voluntariosos,libertinos e enlouquecidos como os Mendemenhamitas,os quais são nenhuma cousa a mais do que uma escusa para a ânsia nostálgica por dias mais espaçosos.Existem certos fatos sobre o declínio e queda da libertinagem dos quais explicam em parte,ao menos os políticos e sociais,pecados de omissão pelos quais tem suplicado a vida Britânica por mais de um século.'

Por mais dedicado que um homem possa ser ao sorver vinho de umbigos de garotas,é óbvio que ele ainda deverá ter muitas horas para outras menos lascivas transações.Com isto em mente,Dr.Betty Kemp,um professor universitário de St.Hugh,Oxford,publicou em 1967 'Sir Francis Dashwood,an Eighteenth-Century Independent',um livro que descreve em detalhes sua carreira política.Sua visão do escopo era favorável ao extremo:

'Na vida privada,Dashwood era um homem de inteligência,discrição e alguma originalidade. Honesto, corajoso, indômito, sensato, são frases usadas pelos contemporâneos para descrever sua conduta política;frases similares - desatentas à popularidade,sagacidade e generosidade,prontos patronos de novas idéias – são comentários atuais de seu caráter.'

Dr.Kemp atribiuiu a uma maledicente fofoca tudo que foi escrito sobre as reuniões em Medmenham,sua agradável teoria era que a Abadia fora usada como base para piqueniques e festas de canoagem.Seu retrato de Dashwood era de de um valioso e franco,talvez levemente sombrio,reformista.

Tamanho grande desvio da tradição de maldade não poderia ser permitida perdurar.Em 1970 um escritor americano,Daniel Mannix,reestabeleceu o equilíbrio com a publicação de 'The Hellfire Club',o mesmo título usado por McCormick somente dez anos antes.Mannix foi capaz de colocar orgias em seu progresso,mas achou à si mesmo de alguma forma perdido de como empreender alegações sobre satanismo.Resolveu esta problemática questão,decidindo que Dashwood e seus amigos eram mentalmente perturbados:

'A capela era enroupada em negro e haviam missais em exibição contendo paródias obscenas das escrituras.De resto,a cerimônia provavelmente seguia as linhas gerais da tradicional Missa Negra ocasionalmente praticada hoje em dia por grupos mentalmente erráticos.A Missa era celebrada no corpo desnudo de uma mulher deitada no altar e a congregação bebia o vinho sacrificial de seu umbigo.O crucifixo era invertido e velas negras acesas.'

Talvez Mannix tenha sido inspirado pelas novelas de Dennis Wheatley,pois não existe nenhuma fonte para qualquer cousa disto.Mannix achou um lugar em seu livro para o imoral morcego com pênis erecto,do qual ele pegou emprestado de Mapple,o qual pegou emprestado de McCormick,aquele que parece ter sido o criador desta desagradável invenção.

Culpado mas não insano,foi o veredito aceitável para Geoffry Ashe em sua publicação de 1974 'Do What You Will'.O subtítulo de seu trabalho é ‘A História da Anti-Moralidade’,o que afirma o seu tema com exatidão.Ashe idealiza a tradição de viciosidade esboçada desde François Rabelais,derrotado monge transformado médico e escritor,através de Philip - Duque de Wharton,playboy,bêbado e maçom,passando pelo Marques de Sade,novelista e sodomita, Algernon Swinburne,masoquista e poeta,Aleister Crowley,magista negro e insano,para Charles Manson,falido cantor pop e genocida.Dentro desta perniciosa-doentia linha de sucessão,Ashe engenhosamente adequou Dashwood.É evidente que no tempo em que escrevia,Ashe foi consternado pela imoralidade de seu próprio tempo mas,diferente de Fuller em 1939,sentiu que talvez pudéssemos ser curados de nossas tolices com o choque das tolices dos nossos ancestrais.

Mesmo no tempo de Dashwood foi sugerido que os Franciscanos de Medmenham eram,atrás da fachada de bebedeiras e abuso de jovens camponesas,uma conspiração política secreta que tencionava destruir toda a liberdade civil.A sugestão ocorreu em 'The Fruit-Shop',uma publicação anônima,levemente pornográfica e dedicada a um aberto sarcasmo para com o Rev.Laurence Sterne,autor de 'Tristam Shand':

'...um certo clube que se reune em uma casa não muito longe de Thames e que adquiriu para si uma notoriedade universal(nós deixamos para nossos leitores estabelecer em que sentido) por alguns de seus últimos procedimentos,nos quais eles deixam vazar seus entendimentos,para serem os abastardados e prostituídos instrumentos das maquinações ambiciosas de um único homem.'

É improvável que mesmo os originais leitores de 'Fruit-Shop' entenderam quem era o vilão citado.Ainda nesta obscura sentença,Ashe propôs que este era o ministro do Hell-Fire,pelo qual ele quis dizer do governo do qual Lord Bute foi por um curto período de tempo o líder e Dashwood chanceller do Ministério da Fazenda.Dentro desta superexcitada forma, Mannix pegou a mesma pista e pintou o quadro dos Franciscanos conspirando tenebrosamente contra a liberdade dos coloniais norte-americanos,sem dúvida nos períodos de descanso entre as Missas Negras.

Quando veio a tratar dos eventos na Abadia de Medmenham,Ashe procedeu mais cuidadosamente:

'Wilkes eventualmente afirmava – não com conhecimento de primeira-mão,ele nunca foi do círculo interno – que os ritos ocorridos dentro da Abadia eram ‘Mistérios Saxônicos de Elêusis’ e libações eram feitas para ‘Bona Dea’ ou a Mãe Divina.Hoje em dia isto poderia ser saboreado como neo-bruxaria,Deusa,cultos de fertilidade e Robert Graves.Então deveria ser o número de membros internos treze,um 'coven'.Na Inglaterra de George III a teoria antropológica estava ausente.Mas qualquer bom estudante clássico(e a ordem poderia adquirir um),deveria ter ao menos alguma vaga idéia da Grande Mãe com suas múltiplas formas e aspectos,e sagradas orgias e rituais de semeadura-e-colheita.As principais cerimônias de Elêusis eram empreendidas no meio-setembro,um tempo muitíssimo bem concordante com muitas indicações de importantes reuniões...'

O que foi proposto aqui é um ressurgimento de uma antiga religião de mistério como uma alternativa para o completo satanismo,pensa-se evidentemente que Ashe não aprovava ambas.

Outros incluíram Dashwood num compreensivo esquema de suas próprias fabulações.Um relato do desenvolvimento de uma Missa Negra foi publicado por H.T.F. Rhodes em 1954 como 'The Satanic Mass',um trabalho do qual o Dr.Johnson talvez tivesse considerado como útil,aquém do seu óbvio apelo para teólogos,exorcistas e estudantes das Artes Negras.Entre a seção dos serviços de aborto providos por Madame La Voisin para as senhoras de Paris no tempo do Rei Luis XIV,e a estória de fundacão de uma seita apocalíptica em 1840 por um gerente de fábrica de caixas de papelão,Rhodes trata com os eventos na Abadia de Medmenham.Lamentavelmente,muito do que ele tinha para dizer era meramente um longo parafrasear de Chrysal,novela de 1765 a qual retorna como um refrão na maioria dos relatos dos Franciscanos.É instrutivo examinar o pedigree deste muitíssimo parafraseado trabalho.Seu título completo é 'Chrysal;ou as aventuras de um porco' e era tencionado a ser uma novela satírica.Esta é construída de laboriosos escritos e não-conectadas séries de episódios escandalosos.O narrador é um porco dourado,do qual,conforme passa de mão em mão dentro do curso de transações ordinárias de pecúnia,observa as travessuras de seus variados donos.O recurso não foi um original e muito do conteúdo de Chrysal foi roubado de escritores anteriores.

Este curioso,sempre reimpresso,e muito citado trabalho foi escrito por Charles Johnstone,um advogado descendente de escoceses mas nascido na Irlanda e educado na Universidade de Dublin. Surdez progressiva tornou-lhe impossível a prática da lei,assim virou-se para a escrita como forma de viver.O primeiro volume de 'Chrysal' teve gênese em 1760 e vendeu bem o suficiente para encorajar o autor a continuar,pelos seguintes cinco anos,com os volumes dois,três e quatro.A descrição no frontispício ajuda muito para explicar o seu sucesso:

'Aqui dentro são exibidas Visões de muitas Cenas impactantes,com Curiosas e interessantes Anedotas,das mais Notáveis Pessoas em cada 'Rank' da Vida na América,Inglaterra,Holanda,Alemanha e Portugal.'

Isto deve-se admitir:Johnstone insinuou abertamente que seus personagens eram bem-conhecidos membros da Sociedade e que seus leitores estavam sendo inseridos dentro da estória,um plano usado com grande sucesso comercial em seu próprio tempo.'Chrysal' foi publicado de forma anônima,o que pareceu ser um indicativo de que Johnstone estava apreensivo do que as ofendidas 'Notáveis Pessoas' pudessem fazer em retaliação.Na ocasião,ninguém pensou que valesse à pena tomar qualquer sorte de ação.O volume que apareceu em 1765,continha uma longa seção sobre o grupo de 'Notáveis Pessoas' que se encontravam numa ilha em Thames em uma construção erigida por ‘uma pessoa de flutuante imaginação no modo dos monastérios que ele tem visto em outros países' para o propósito de indulgência em inomináveis viciosidades e venerações ao diabo.Johnstone incluiu estes capítulos porque John Wilkes,um agitador popular,foi expulso da baixa Casa do Parlamento Britânico no ano anterior por publicar um sensacionalista jornal.Ao mesmo tempo,Lord Sandwich feriu a moral de Wilkes postando-se lendo para a alta Casa do Parlamento Britânico um imoral poema,o célebre 'Essay on Woman',composição da qual Wilkes entusiasticamente contribuiu.Qualquer conto que ligasse Wilkes e Sandwich de uma maneira vergonhosa era certo que venderia bem.

A passagem no 'Chrysal' na qual acusações de Satanismo em Medmenham tem sido baseadas desde então,narra uma invocação do Diabo pelo grupo de 'Notáveis Pessoas' em sua privativa capela.Um dos presentes,mais cético que o resto,escondeu um babuíno no peito 'vestido em uma fantástica vestimenta na qual infantes imaginações vestem demônios' e,no clímax da funesta cerimônia,libertou-o.Tão assustadoramente sem raciocínio,uma das outras 'Notáveis Pessoas' gritou:'Poupa-me,gracioso Diabo,Eu não sou nada mais que um meio Pecador.Eu não tenho sido tão malévolo quanto tencionava!'

Johnstone deixou subentendido que Wilkes era o praticante da piada e que Sandwich era o tolo aterrorizado.Neste conto pode ser detectado um eco distante de uma travessura feita pelo próprio Dashwood muitos anos antes na Capela Cestina em Roma,a qual será recontada no seu devido lugar,e que pôde ter atraído a atenção de Johnstone na forjação da humorística fofoca.Mais provavelmente, Johnstone usurpou o incidente de Ned Ward,do qual o livro 'The Secret History of Clubs' foi publicado em 1709 quando Dashwood não possuia mais do que um ano de idade e nem Sandwich ou Wilkes eram nascidos.Neste trabalho de duvidosa autenticidade,Ward afirmou que um dos muitos clubes em Londres naquele tempo era o 'Atheistical Club',composto por libertinos que escarneciam a Cristandade, blasfemavam incrivelmente e 'faziam valer a causa do Diabo'.Eles foram guiados por um piadista que se vestia de Diabo e surgia em sua convocação vindo de uma alcova secreta.

Johnstone nunca foi convidado para Medmenham,e tem sido dito que ele foi ajudado em suas invencionices pelo rev.Charles Churchill,o qual morreu de bebedeira alguns meses antes deste volume de 'Chrysal' ter sido publicado.Churchill foi a pelo menos um jantar em Medmenham como convidado de Wilkes,embora não tenha dado um passo dentro do trancado aposento da capela.Rhodes,em 'Satanic Mass',aceitou tal como:'(...)não existe nenhuma informação detalhada concernente aos ritos e cerimônias feitas por Sir Francis Dashwood e seus monges na Abadia de Medmenham,onde eles veneravam o Demônio...'. No entanto,Rhodes insiste que 'Chrysal' foi fundamentado em fatos largamente considerados como certos.Para o seu crédito,recusou aquiescer com a teoria proposta por Mannix aonde os Franciscanos eram mentalmente perturbados,e,em seu lugar,deu gênese à sua própria teoria alternativa:

'Enterrado abaixo de muitas camadas de sexual e dionisíaca asneira,estava o deus-duas-faces com especial ênfase sobre o Satânico.Parece que duma confusa e enlameada forma Sir Francis tenha sido o iniciador das idéias,desenvolvendo depois este mal como um processo,não uma substância.Assim para chegar-se ao bem,o mal deve ser experimentado primeiramente.Não articulado o suficiente para formular esta teoria,alguma cousa deste tipo foi refletida em seu inconsistente comportamente ético e na de seus imitadores.'

Rhodes,aqui,parece estar apresentando Dashwood como um Existencialista nascido antes de seu tempo,um precursor de Jean-Paul Sartre e seus depressivos seguidores do pessimismo,porém saído do do século dezoito.

Talvez,pensando bem,escrever uma 'History of Orgies' deveria ser também uma difícil empreitada,pois este ramo de entretenimento ordinário assume lugar no ambiente privado e raramente,se alguma vez,por participantes poucos.Ainda em 1966,Burgo Partridge publica tal livro.O título é enganador,pois pouco é dito sobre orgias.Partridge começa com alguns menos-conhecidos episódios na História da antiga Grécia e Roma,pincelando algo sobre a rainha irlandesa do século dezessete de quem por capricho expôs a menor metade de sua persona em público,e notou alguns desagradáveis incidentes na vida do papa João XXII e o Lord Castlehaven,que foi decapitado em 1631 após ter sido declarado culpado por sodomia e por ter dado suporte no estupro de sua mulher e filhas.Em esperado curso,Dashwood faz uma aparição:

'Era ele que fazia a função de sacerdote no sinistro preparatório para as cerimônias dentro da capela,aquele que administrava o pervertido sacramento para o babuíno de Medmenham,aquele que iniciava novos irmãos dentro da ordem,aquele que oferecia libações para o Demônio.’

Este novo ítem de informação,que Dashwood administrava o sagrado sacramento da Igreja Cristã para um macaco,foi roubado por Partridge de 'Memoirs' de Sir Nathaniel Wraxall,um colecionador de fofocas do início do século dezenove,e que talvez tenha sua origem no bem conhecido incidente mencionado por Horace Walpole:Marinheiros britânicos sob o comando do Almirante Vernon,desembarcaram em uma das ilhas italianas e,achando os nativos na igreja,pegaram o crucifixo do padre e penduraram-no em volta do pescoço de um macaco de estimação que pertencia a um dos bucaneiros a fim de zombar do Catolicismo.Na versão de Partridge das orgias satânicas,não existia menção ao gigantesco morcego com o pênis erecto de Maple.De fato,Maple per se,desenvolveu algumas dúvidas quanto a autenticidade do seu ofensivo 'object d'art',pois em sua publicação de 1973,'Witchcraft',ela tinha desaparecido.Existem outras notáveis mudanças em relação ao seu anterior livro,citado no início de seu capítulo:

'Durante o século dezoito,elevou-se entre certos aristocratas ingleses uma mórbida obsessão pela veneração do Diabo e sacrifício humano.Dentro de apenas uma década da abolição da lei contra bruxaria,já estavam virando suas atenções para a direção da Missa Negra.Em 1745,um grupo destes cavalheiros estabelece o Hell Fire Club nas ruínas da Abadia Cistina de Medemenham em Thames, próximo a Marlow;posteriorente,o Club foi transferido para High Wycombe.Entre os membros, incluiam-se alguns dos maiores nobres em terra e o seu mestre de cerimônias era Sir Francis Dashwood,um culto libertino.A decoração do clube demonstrava belíssimas estátuas de sátiros e ninfas em posturas sugestivas,e havia em adição à capela um local onde novos membros eram solenemente dedicados a Lúcifer.Ávidas garotas eram recrutadas de bordéis de Londres para tomar parte das orgias,que eram tão intensas ao indivíduo que muitos dos jovens cavalheiros eram reduzidos à impotência antes de terem atingido a idade dos trinta.'

Numa matura reflexão,Maple aqui substituiu sacrifício humano para o menos espetacular crime de incesto,enquanto profissionais de Londres tiveram de substituir a totalidade de garotas camponesas. O sinistro morcego deu lugar a estátuas de sátiros e ninfas.Todavia,Maple continuou a insistir que a impotênca na idade dos trinta foi o principal destino destes degenerados.A fonte para esta interessante,mas caluniosa afirmação,foi certamente a bem conhecida novela erótica do século dezoito,'Fanny Hill':

'Aos escarços trinta ele já tinha reduzido a sua força de apetite para uma amaldiçoada dependência de forçados provocativos,encontrava-se deformado pelo poder natural de um corpo exaurido e demolido a sedimentos pelos constantemente repetidos excessos de prazer no qual foi feito o trabalho de sessenta invernos em apenas algumas primaveras de vida...'

É uma fortuna que o Marques de Sade,um contemporâneo de Dashwood,nunca tenha visitado a Inglaterra,pois alguns dos mais impalatáveis episódios de suas novelas poderiam agora serem considerados como relatos de testemunhas oculares dos procedimetos dos Franciscanos.

Em sua 'History of Witchcraft,Sorcerers,Heretics and Pagans',publicado na Inglaterra em 1980,o professor Jeffery Russell da Universidade da Califórnia aproximou-se da lenda dos Franciscanos com algum ceticismo:

'Sir Francis Dashwood presidiu o 'Hellfire Club',o qual pôde jactar-se de conter un número não inexpressivo de distintos e liberados espíritos,incluindo Benjamin Franklin.O clube,reunia-se nas cavernas naturais de Buckinghamshire para usufruir de comida,bebida,jogos e sexo.Como na velha tradição,secretamente encontravam-se à noite no subterrâneo praticando alguma cousa análoga a orgias.Porém,fizeram isto em ridente paródia.Aproveitaram-se de suas reputações de dissolutos,mas nenhum deles acreditava no inferno ou no Diabo - suas saudações para Satã eram inteiramente jocosas...'

O professor Russell,foi induzido ao erro por sua distância histórica e infeliz escolha de guias bibliográficos.Em sua "Bibliografia",viam-se listados os trabalhos de H.T.F. Rhodes,Eric Maple e o de Gerald Gardner donde McCormick retirou grande suprimento.

Nenhum relato de lendas populares sobre os Franciscanos poderia ser completo sem a opinião do experimentado rev.Montague Summers,autor da definitiva versão inglesa do "Malleus Maleficarium" - um guia para queimadores-de-bruxas,uma vez em grande demanda.Em "Witchcraft and Black Magic",primeiramente publicado em 1926,ele escreveu:

'Para um satanista como Sir Francis Dashwood,a fundação de uma demoníaca fraternidade e a celebração do seu ritual goécio no atual santuário onde uma vez o Santo Sacrifício tinha sido oferecido dia após dia e togados monges ajoelhado-se em penitência e oração,deu alguma cousa de um extra e refinado tirilintamento de maldade que ele duramente esperou para indulgir e deleitar...Os visitantes de Medmenham eram lascivos dissolutos que se encontravam para as práticas de desenfreada obscenidade e, obviamente,um fato além de questão,faz-se que é certo que entre os vis estavam os mais vis ainda,os eleitos,ou,em claras palavras,os satanistas,os devotados à veneração do demônio.'

As rolantes cadências da prosa de Summers,resumem uma certeza moral que oculta somente por um momento que as afirmações não são fundadas no fato,pois ele imediatamente faz citações do "Chrysal" e falha ao mencionar que este era uma novela satírica,não um relato de uma testemunha ocular.

Quiçá seria tedioso refutar,ponto a ponto,os erros de fato,desconhecidos surrupios e vôos de imaginação com os quais os relatos populares sobre os Franciscanos são adivinhados.Em sumário,Dashwood pousa acusado de uma impressionante quantia de crimes envolvendo conduta anti-social,assassinato,incesto e blasfêmia.Isto sem mencionar os menores e menos deploráveis crimes de viciosidade e libertinagem com garotas camponesas,além de comprazer-se com conhecidas prostitutas.Tudo isto,é útil ,- se insatisfatório - de relembrar,é no fundo baseado numa novela cômica propondo-se a revelar os mistérios de uma trancada capela em Medmenham.Os muito poucos que tiveram acesso a esta capela,deixaram nenhum relato para quais propósitos fôra usada.

Com exceção do dr.Kemp,historiadores profissionais relegam Dashwood a uma desconsiderada nota-de-rodapé em uma análise da curta vida administrativa de Lord Bute. Fazendo isto,reforçam a impressão dada por mais estéreis escritores de que ele era um obscuro degenerado,puxado da rudeza rural para preencher um importante posto no governo de uma nação em algo muito similar ao imperador Calígula do qual é dito ter apontado seu favorito cavalo como cônsul.A origem de tal desgosto e recriminação nasceu em Dezembro de 1708,como o mais velho filho de um rico homem de negócios que adquiriu o baronato.Como um mancebo, viajou largamente,interessando-se em política até depois de eleito na baixa Casa do Parlamento Britânico por vinte anos e na Alta Casa do Parlamento Britânico por outros quase vinte,servindo como Chanceller do Ministério da Fazenda em 1762/3.No curso de uma longa,ocupada,e deleitante vida,exerceu a função de liderança na fundação de uma esclarecidade sociedade e construiu uma "casa-país" itálica em West Wycombe.No meio de seus quarenta anos,esrabeleceu banquetes de verão em Medmenham,os quais tem sido fonte de selvática especulação por mais de duzentos anos.

O curso da vida de Dashwood é mais divertido e instrutivo do que imaginários contos de veneração do Diabo e arrebatação de virgens.As razões destes contos,e de seus ficcionais autores,serão examinadas em seu apropriado lugar.O propósito deste livro é expulsar as acumuladas camadas de ficção que,como papel-de-parede de mau gosto,são colocadas sobre um mural original.Em suma,mostra-se o gosto do colocador do papel-de-parede enquanto esconde alguma cousa muito mais interessante e de mérito.


Notas do Tradutor:

O seguinte parágrafo estava,no escrito original saxônico,excertado no parágrafo precedente da tradução.Contudo por questões cognitivas,decidi transformar os pregressos períodos,contidos no parágrafo anterior,em um novo parágrafo independente.

A expressão "ruas de cortiço" foram uma tentativa de traduzir a palavra inglesa "slum",a qual não possui paralelo imediato no Português.Tal palavra,significa algo como:"Ruas sórdidas e altamente superpopulosas pela freqüência por pessoas de baixa renda".Assim,achei a expressão(por mim forjada) "ruas de cortiço" como perfeitamente articulada com o significado do supracitado verbete.

O autor,aqui,parece desprezar totalmente a obra de Gerald Gardner(a despeito do que se segue em sua narrativa e este dá a entender ao longo do livro).Na realidade,Gardner tentou ressuscitar/recriar as religioes pagãs e a bruxaria anteriores à formação do Cristianismo, portanto pertinentes a uma época anterior a Idade Média,intertextualizando-as para uma ótica condizente com a postura do Homem pós-moderno.Assim,Gardner tornou-se um dos criadores o que viria a ser conhecido como Wicca:Uma sorte de neo-paganismo que funde a concepção pagã clássica às concepções culturais pós-modernas e religiosas thelêmicas(recorde-se que Gerald,viu-se mui influenciado em suas percepções pela figura de Crowley e por seus anos de "estadia" na O.T.O).

Tradução:R.C.Zarco, Extraído de:Eric Towers,"Dashwood: o homem e o mito",Somerset:Crucible Publishers,1987

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...