Em meados de 1988, o mundo ficou sabendo que Nancy, a esposa do presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, de vez em quando fazia com que fossem introduzidas mudanças na agenda oficial do marido em função das previsões de um astrólogo. Além disso, foi revelado que, antes de uma conferência de cúpula, o astrólogo da senhora Reagan traçara – a pedido da primeira-dama – um horóscopo de Mikhail Gorbachov, supostamente para ajudar o presidente americano a preparar-se para as negociações com o líder soviético.
Tais notícias, amplamente divulgadas, suscitaram manifestações de consternação e zombaria em editoriais e em declarações de figuras públicas; em plena era nuclear, como podia o homem mais poderoso do mundo permitir que seu comportamento fosse influenciado, ainda que em grau reduzido, por uma pseudociência que já era desacreditada e rejeitada séculos antes pelos pensadores racionais? O que as pessoas pensariam a respeito de ocupantes da Casa Branca que se deixassem levar por essas crendices místicas acerca de planetas, estrelas e signos do zodíaco?
Na verdade, muitos americanos nada viam de estranho no interesse de Reagan pela astrologia. Para essas pessoas, o estudo das relações entre os céus e os assuntos humanos não é crendice, nem “pseudo” nada, mas um esquema válido e funcional para se ver a vida e, às vezes, discernir o que se pode esperar do futuro. Existe um número suficiente de pessoas que acreditam nisso para fazer com que a recusa do presidente Reagan em proclamar publicamente sua descrença na astrologia – alegando não ter informação suficiente para julgar o assunto – tenha sido uma atitude sagaz, do ponto de vista político.
A popularidade da astrologia é particularmente evidente no Oriente, onde a antiga arte jamais adquiriu a má reputação que foi sua sina, por tanto tempo, no Ocidente. Em muitas sociedades asiáticas, até mesmo as famílias mais cultas sempre consultam um astrólogo antes de fixar a data para um matrimônio ou para a compra de uma propriedade. Um evento de suma importância como a concessão da independência da Índia foi antecipado – do dia 15 de agosto de 1947 para a meia-noite de 14 de agosto – porque a data original foi declarada desfavorável.
Em Bangkok, os executivos consultam autoridades astrais entes de decisões cruciais. Quando a Coca-Cola abriu sua primeira engarrafadora na Tailândia, os diretores esperaram os astros darem um sinal de aquiescência. “Caso nos recusemos a aceitar o conselho do astrólogo”, declarou um alto funcionário, “os sacerdotes budistas irão negar-se a abençoar o maquinário na cerimônia de abertura. E então, ninguém na Tailândia beberá Coca-Cola.” No reino de Siquim, o matrimônio do príncipe herdeiro com a jovem Hope Cooke, de Nova York, foi adiado por um não, até 1963, a pedido dos astrólogos da corte.
No Ocidente, o Iluminismo eclipsou a astrologia a partir do século XVIII, juntamente com a magia, a bruxaria e outras incursões no reino do ocultismo. No entanto, para o pesar de muitos cientistas e outros devotos da racionalidade, a astrologia voltou a surgir no século XX. Mais de 10 mil astrólogos profissionais praticam sua arte atualmente apenas nos Estados Unidos e contam com cerca de 50 milhões de adeptos. E esses números parecem estar subindo: uma pesquisa de 1987 do Instituto Gallup indica que mais da metade dos americanos de 13 a 18 anos acredita na astrologia. Em 1988, 92% dos jornais diários do país publicavam horóscopos, contra apenas 78% nove anos antes. Os horóscopos costumam estar entre as colunas mais lidas dos jornais, apesar de serem condenados por muitos astrólogos sérios.
Segundo estimativas, uma em 10 mil pessoas do mundo ocidental está envolvida com a astrologia, como estudiosa ou profissional – a mesma proporção dos que estudam ou praticam a psicologia. Já foram impressos, nas línguas ocidentais, cerca de mil livros que abordam a astrologia a sério – quase a mesma quantidade de livros sobre astronomia.
Tais cifras apenas enfatizam o fato de que, nos anos recentes, a astrologia se tornou um fator poderoso nas vidas de muitos americanos e europeus, muito além dos horóscopos lidos avidamente nos jornais em busca de promessas de amor, dinheiro e prestígio. Ao contrário dos astrólogos orientais, que se dedicam quase inteiramente à predição do futuro, a maioria dos profissionais do Ocidente enfatiza o aconselhamento psicológico, baseando-se no que as estrelas e planetas dizem acerca do caráter e da personalidade do cliente. A sina, porém, não deixa de ser levada em conta. Qualquer leitor de revistas populares sabe que muitos astros de cinema consultam astrólogos tanto para assuntos de negócios quanto para os do coração.
Menor publicidade é dada aos especuladores das altas finanças, que telefonam para seus conselheiros astrológicos com tanta frequência quanto para os analistas de mercado. “Os milionários não usam astrólogos”, declarou o magnata J.P. Morgan, “mas os bilionários usam.”
As previsões de astrólogos financeiros importantes como Arch Crawford atraem atenção de Wall Street e podem render aos prognosticadores rendas anuais de milhões. Os consultores astrológicos prosperam até mesmo em campos limitados como o dos negócios imobiliários. “Se vender quando Mercúrio estiver retrógrado”, avisou um consultor de Los Angeles a uma cliente no início de 1986, “vai haver um problema com o contrato, ou a venda não se realizará.” A proprietária, Susan Wallerstein, esperou um mês, até o planeta retomar sua marcha para frente, antes de pôr a placa de “Vende-se” diante da casa. Um comprador apareceu antes do pôr-do-sol do primeiro dia em que a casa esteve à venda, pagando 5 mil dólares mais do que ela esperava.
Desse modo a astrologia – que já foi descrita como uma arte, uma ciência, uma linguagem, um sistema, uma filosofia e uma vigarice – é empregada em atividades tão puramente modernas, como a corretagem de valores, o aconselhamento psicológico, a preparação da agenda presidencial e a sondagem dos mistérios do mercado imobiliário. No entanto, trata-se de uma velha criação, de uma ferramenta extremamente antiga, cuja influência já era sentida na conduta dos negócios humanos há milhares de anos. O grau dessa antiguidade só foi desvendado em meados do século XIX, pela obra de um jovem arqueólogo iraquiano educado em Oxford, Hormuzd_Rassam, o qual, pelo que se sabe, não tinha qualquer interesse particular pela astrologia.
Em 1853, Rassam começou a cavoucar em umas antigas ruínas que havia perto de sua casa, às margens do rio Tigre. Ele e seus homens trabalhavam à luz das estrelas, o mais discretamente possível, pois uma equipe francesa rival detinha os direitos sobre o local. Rassam correu o risco de expor-se à ira de seus colegas arqueólogos por ter a certeza de que ali estava sua melhor chance de descobrir os segredos do grande império assírio que, no passado, dominara a região. Ficou, portanto, muito exaltado quando, no final de dezembro, seus homens lhe comunicaram a descoberta de vestígios de um edifício. Ele abriu caminho e ingressou em uma grande galeria, cujas paredes estavam decoradas com magníficos baixos-relevos de uma caçada de leões feita pela comitiva real. Sob montes de detritos e de areia, ele encontrou milhares de tabuletas de argila, cobertas de inscrições cuneiformes.
Rassam acabara de encontrar os restos do palácio da biblioteca de Nínive, a antiga capital assíria, construído em alguma época entre 668 e 627 a.C., pelo rei Assurbanipal, o mais poderoso dos soberanos da Assíria. Ali estava a mais rica concentração de sabedoria de todo o antigo Oriente Médio. Quando os estudiosos começaram a decifrar os textos, inscritos na língua acadiana da antiga Babilônia e Assíria em mais de 25 mil tabuletas, evidenciou-se a importância da descoberta de Rassam. Naquele inesperado tesouro histórico desencavado na Mesopotâmia havia o registro de histórias oficiais, documentos religiosos, decretos reais e correspondência da corte, obras literárias, textos médicos, dicionários e gramáticas. Alguns documentos datavam de mais de mil anos antes de Assurbanipal; entre os mais antigos e intrigantes estava um conjunto de tabelas astronômicas, acompanhado de diversas profecias.
“No 15ª dia de Shebat”, dizia uma “Vênus desapareceu no oeste por três dias. Então, no 18ª dia, Vênus tornou-se visível no leste. As fontes fluirão. Adad trará sua chuva e Ea suas inundações. Reis mandarão mensagens de reconciliação para reis.”
É claro que os antigos assírios não se referiam ao planeta pelo nome atual, Vênus: chamavam-no de Ishtar. Porém, analisando as referências dentro de seu contexto, os intérpretes puderam traduzir os nomes dos corpos celestes, que apareciam em dezenas de inscrições: “Quando Júpiter ficar na frente de Marte (…) um grande exército será destruído”; “Quando a Lua andar em uma charrete, o jugo do rei da Acádia prosperará”, “Quando Leão estiver escuro, o coração da terra não será feliz”; “Quando Vênus estiver no alto, haverá prazer na cópula.” E assim por diante em setenta tabuletas, batizadas de Enuma Anu Enlil, em virtude do primeiro verso da primeira delas: “Quando os deuses Anu e Enlil (…)”. A humanidade já perscrutava seu destino nos céus, prática que mais tarde seria conhecida como astrologia, partir da palavras gregas para “fala das estrelas”.
O desejo de conhecer o futuro é sem dúvida tão antigo quanto a própria consciência. Os sábios de tribos imemoriais buscavam, nas singularidades da natureza, o prognóstico dos acontecimentos. Pesquisavam o voo dos pássaros, o comportamento das serpentes, as cores do pôr-do-sol e até mesmo as entranhas fumegantes de animais mortos. Em nenhuma outra parte, porém, o homem encontrou, na natureza, uma relação tão vívida com a própria existência quanto na marcha regular e previsível dos astros. O sol nasce na hora certa; as constelações desfilam, anunciando as estações e proporcionando a contagem dos dias passados e por vir. E, mais concretamente, um dos artefatos mais velhos do mundo é uma placa de osso entalhada há 34 mil anos por um Cro-Mgnon observador, com riscos que, aparentemente, marcavam as fases da lua – talvez fosse um calendário para acompanhar as migrações dos animais que ele caçava para sua alimentação.
Quando a caça cedeu lugar à agricultura, os primitivos lavradores foram aprendendo a distinguir os movimentos planetários e a acompanhar o progresso anual do sol, deslocando-se do sul para o norte e de volta para o sul. Plantavam de acordo com isso, pois viram que esses movimentos celestiais pressagiavam mudanças no clima e a chegada das inundações anuais, que traziam água e nutrientes para seus campos. Parecia existir uma relação de causa e efeito entre as mudanças no céu e na terra. Como saber o que mais os astros poderiam anunciar ou influenciar?
Desde o começo do mundo há manifestações visíveis das forças cósmicas. Em uma noite de céu limpo, em um amplo horizonte, cerca de 2 mil estrelas podem ser observadas a olho nu, formando padrões que são um convite à imaginação especulativa. Para os antigos egípcios, as mais brilhantes eram as almas dos faraós desaparecidos, que navegavam em barcos espirituais pela Via Láctea, está sua morada final. Os antigos gregos construíram nas constelações toda uma mitologia repleta de histórias dramáticas que falavam de rixas entre as famílias dos deuses e dos feitos dos heróis ancestrais. Para os chineses, seus primeiros imperadores eram filhos de meteoros que caíram dos céus e engravidaram as mulheres. E diz-se que a primeira dinastia da China, a dos Chia, desmoronou em virtude de perturbações públicas causadas por um eclipse do sol.
Do outro lado do mundo, na antiga América, os maias do México e da Guatemala eram obcecados pelo planeta Vênus, que comparavam à serpente divina, Cuculcán. Eles conceberam um calendário para os movimentos desse planeta para um período de 384 anos. Contudo, nenhum povo da antiguidade estudou mais intensamente o céu, nem levou mais a sério seus presságios do que os habitantes da Mesopotâmia – a fértil terra entre os rios Tigre e Eufrates. Muito antes de os escribas assírios copiarem as tabuletas da biblioteca de Assurbanipal, seus antepassados já registravam os movimentos dos planetas e das estrelas.
Assim começou a astronomia, a ciência de observar os céus, e dela nasceu a astrologia, a prática de ler o destino, ou descobrir significados religiosos, nos movimentos dos corpos celestes.
A observação sistemática dos astros começou com os sumérios, que chegaram à Mesopotâmia por volta de 5000 a.C. para cultivar a terra, e criaram a primeira civilização do mundo. Suas habitações de tijolos de barro, construídas ao longo dos rios, cresceram e transformaram-se em cidades, com deslumbrantes palácios, templos e outros edifícios públicos. O comércio desenvolveu-se, e com ele veio a necessidade de fazer registros. Os sumérios aprenderam a multiplicar, dividir, extrair raízes quadradas e cúbicas e usar números recíprocos. Também inventaram a primeira escrita conhecida: a cuneiforme, que gravavam em tabuletas de argila.
Os Sumérios eram profundamente religiosos e seus deuses, ao que parece, eram na verdade os pontos de luz que viam brilhar no céu noturno. À medida que os deuses circulavam pelos céus, era razoável supor que isso tivesse um profundo efeito sobre os assuntos humanos. Um conjunção de dois planetas, por exemplo, significava a competição de duas divindades pelo mesmo espaço no céu. Com certeza, um conflito similar iria ocorrer na terra.
Pela mesma lógica, acreditavam que os deuses comunicavam seus desejos por meio de augúrios nos céus, tais como formações particulares das nuvens ou estrelas cadentes. Muito esforço era dedicado à satisfação dos desejos divinos. Os sacerdotes traçaram um calendário de festas religiosas, baseado principalmente nas fases da Lua, mas também em outros sinais celestes. Uma sequência comemorava o encontro amoroso anual entre Ishtar – o planeta Vênus – e o belo pastor Tammuz, representado pela constelação que mais tarde ficou conhecida como Órion. Tammuz brilhava com intensidade no céu de inverno, mas no verão ele sumia, retirando-se para o mundo subterrâneo quando o Sol esquentava. Finalmente, Ishtar descia para buscá-lo e os sacerdotes cantavam hinos e acendiam tochas para iluminar seu caminho.
Qualquer perturbação do giro celestial trazia medo e confusão, pois a segurança de deuses e de homens enchia-se de incertezas. Os eclipses eram considerados particularmente perigosos. Durante um eclipse lunar parecia que o deus da lua, Sin, estava engolindo por demônios e sofrendo grandes dores. Quando a sombra começava avançar, os sacerdotes acendiam suas tochas e cantavam hinos, as pessoas comuns cobriam a cabeça com suas capas e gritavam a plenos pulmões. O método funcionava, pois o barulho parecia espantar os demônios. A sombra passava, e a lua ressurgia, ilesa.
Os sumérios prosperaram por muitos séculos, até serem postos de lado por sucessivas levas de recém-chegados: semitas da Arábia, por volta de 2350 a.C. uniram a Mesopotâmia com o reino da Acádia, formando o primeiro império regional; outro povo semítico, o amorita, fez de sua capital, Babilônia, um lugar de esplendor legendário no século XVIII a. C.; depois chegaram os hititas, os cassitas e finalmente os assírios, cujas conquistas engolfaram todos os reinos anteriores. À medida que cada nova potência ia acrescentando novos costumes e crenças, a cultura da região foi se tornando mais sutil e complexa. A astrologia não foi uma exceção.
As mais antigas profecias cósmicas, inclusive as tabuletas babilônicas encontradas na biblioteca de Assurbanipal, costumavam juntar genericamente astrologia, astronomia, práticas religiosas, previsão do tempo e praticamente tudo mais de que os escribas se lembrassem. “Se o céu estiver brilhante quando a nova lua aparecer, e for saudada com gritos de alegria, o ano será bom”, lia-se em uma previsão. “Caso haja trovões no mês de Shebat, haverá uma praga de gafanhotos”, asseverava outra, sem dúvida baseada em uma longa experiência com gafanhotos e trovões.
Praticamente todas as primeiras previsões relacionavam-se de algum modo com o bem-estar do estado; a ideia de um horóscopo individual, baseado na data de nascimento de uma pessoa, levaria séculos para surgir. O rei era o único cliente do astrólogo, cuja principal tarefa era discernir a vontade dos deuses, para orientar as decisões do governo. E que monarca poderia resistir ao contentamento de ouvir que “se o sol ficar no lugar da lua, o rei estará seguro em seu trono”? Ou: “Se Júpiter parecer entrar na Lua, os preços serão baixos”?
Com o futuro de suas nações sobre os ombros, os adivinhos reais da Babilônia e da Assíria usavam todos os meios possíveis para ler o futuro. Além de estudar as estrelas, eles analisavam o padrão do voo dos pássaros, interpretavam os sonhos do soberano, ou decifravam as figuras desenhadas por uma gota de óleo ao cair em um copo de água. Partos estranhos exigiam uma explicação imediata: “Se uma mulher der à luz um porco, uma mulher tomará o trono; se uma mulher der à luz um elefante, a terra será devastada.” É difícil imaginar que circunstâncias provocaram a criação de tais máximas.
A arte de ler entranhas de animais ganhou importância especial, pois achava-se que a faca do sacerdote, ao entrar no cordeiro ou bode sacrificial, congelava um momento do tempo cósmico que refletia a condição de todo o universo. O fígado, por ser o maior órgão, recebia uma atenção particular. Alguns videntes dedicavam-se inteiramente à hepatologia, a arte de analisá-lo, que se tornou muito difundida.
Mas as luzes no céu continuavam a ser a conexão mais direta e poderosa dos mesopotâmicos com seus deuses. Como parte dos esforços para observar e agradar as divindades, os senhores da Babilônia e de Nínive construíram templos no alto de íngremes pirâmides, chamados zigurates – a Torre de Babel, mencionada no Antigo Testamento, talvez seja o mais famoso deles. No início de cada ano, segundo o mito babilônico, os deuses reuniam-se no alto dos zigurates para decidir os destinos do império. Durante o resto do tempo, os sacerdotes usavam as torres como observatórios estelares. E quanto mais aprendiam, maior era sua dificuldade em acompanhar e interpretar os movimentos dos corpos celestes.
A complexa geometria dos céus sempre foi uma fonte de fascínio e frustração. Do alto de um zigurate, as estrelas pareciam girar em uma sequência imutável, do leste para o oeste, tal viandantes familiares. O astrólogo divisava desenhos – um grupo de estrelas parecido com um tufo de cabelos, outro com um escorpião, outro ainda com um leão agachado. Os passos da sequência mudavam de estação para estação, mas isso também era previsível. Na primavera, no tempo dos babilônios, a constelação que chamamos de Touro aparecia no horizonte ao alvorecer; um mês depois, a constelação da aurora seria a de gêmeos.
Porém, alguns astros não se enquadravam nesse padrão regular. A exceção mais óbvia era o sol. Até um observador casual sabia que no verão ele nascia mais cedo, ficava mais tempo no céu e trilhava um caminho mais alto do que no inverno. O ponto em que ele surgia no horizonte a cada manhã avançava pouco a pouco para o norte. Então, em pleno verão, ele invertia a marcha a voltava a caminhar para o sul, seguindo um caminho mais baixo no céu. Era visível que, embora os movimentos do sol estivessem de algum modo relacionados com o grande arco descrito no firmamento pelos demais corpos celestes, não dependiam deles. Os observadores do céu também detinham a chave de uma previsão quase infalível. Contando os dias depois de o sol começar a caminhar para o norte, podiam calcular quando começariam as cheias da primavera e qual seria a melhor época para que os lavradores começassem a plantar suas sementes.
Outra brilhante exceção à conformidade celeste generalizada era a lua. Ela não apenas nascia e se punha a qualquer hora do dia ou da noite, como também mudava constantemente de forma. Resplandecente quando cheia, a lua diminuía, até chegar ao mais diminuto crescente e sumir – para então ressurgir com renovado esplendor. O ciclo levava cerca de 29 dias e meio e proporcionava uma forma prática de medir o tempo. Cada ciclo tornou-se um mês, e doze meses completavam mais ou menos um ano. Mas havia um problema ainda maior: os ciclos da lua não coincidiam com o ritmo anual do sol. Em consequência disso, as estações se atrasavam no calendário, e de vez em quando os videntes acrescentavam um mês adicional, para endireitar as estações.
Certos dias do mês eram reservados para observâncias rituais e, em outros, toda e qualquer atividade deveria ser evitada. Os últimos dias antes da lua nova, quando a velha lua “atravessava o rio da morte”, eram considerados especialmente azarados. No 29º dia do mês de Tebit o rei não saía do palácio, para “não encontrar bruxarias no vento da rua”. Qualquer homem que se aventurasse a sair de casa no 29ª dia de Nisan morreria com certeza – era o que diziam os videntes. De fato, desde a época do rei Hamurabi, no século XVIII a.C., toda atividade era tabu no primeiro dia de cada uma das fases da lua. Essa observância periódica de um dia de descanso passou para outras culturas: situa-se aí a origem do sabá judaico e, mais tarde, do domingo cristão.
Tanto o sol quanto a lua eram divindades importantes no panteão dos deuses mesopotâmicos; mas também se destacavam outros corpos, cujos movimentos pareciam ser ainda mais aleatórios. Estes eram os planetas, dos quais o vidente podia enxergar cinco, do alto do zigurate. O mais brilhante era Vênus (Ishtar, para os babilônios), estrela matutina e vespertina que, às vezes, brilhava mesmo quando o sol estava no alto. Como seu brilho variava de maneira provocante, essa estrela era considerada a deusa da juventude, da beleza e do amor apaixonado. Mas Ishtar, também conhecida como a Senhora das Batalhas, era representada montada em um leão, com uma arma na mão.
Júpiter era outro planeta de brilho intenso, cuja luz esplendorosa e constante o vidente associava a Marduk, o rei dos deuses. Marduk podia desencadear tempestades e cataclismas, mas em geral era benigno e pressagiava fama e poder mundanos. Marte, por outro lado, com sua luz vermelha e maligna, era conhecido como o deus da guerra Nergal, arauto de morte e destruição. O remoto Saturno – Ninurta, movendo-se lentamente, reinava como pálida e tremeluzente divindade do tempo, da idade avançada e da busca de erudição. Com um ciclo através do céu que durava quase trinta anos, Ninurta tinha uma perspectiva pausada das coisas. Seu oposto, em personalidade e efeito, era Mercúrio, ou Nebu, rápido como um azougue, cujo passo veloz granjeou-lhe a fama de ter a malícia de uma raposa.
Acompanhar o curso dos planetas levou os videntes a estonteantes especulações. Os planetas pareciam vagar à vontade pelos céus, sem qualquer relação lógica uns com os outros, ou com qualquer outra coisa. Mercúrio dançava para frente e para trás, próximo ao sol. Saturno podia encostar-se a uma constelação durante anos, como se estivesse acorrentado. Às vezes um planeta parecia andar para a frente como deve ser, para depois parar no céu, ou até mesmo inverter a marcha e voltar. Os videntes referiam-se a esses astros caprichosos como bibbus, ou bodes selvagens – termo estranhamente irreverente para os deuses do destino humano. Mas seus movimentos eram anotados cuidadosamente, com especial atenção para o momento em que emergiam no horizonte, no crepúsculo.
Enquanto os bodes selvagens vagabundeavam pelo céu, as chamadas constelações fixas forneciam pontos adequados de referência para a observação de seus movimentos. Os videntes dividiram o céu em três avenidas, que arrastavam as estrelas como correias transportadoras. A mais setentrional parecia girar em torno da estrela do Norte, quando vista do hemisfério norte, e suas constelações nunca sumiam no horizonte. Segundo alguns estudiosos, esse cinturão pertencia a Anu, a divindade reinante no céu. Enlil, deus da chuva e do vento, controlava o cinturão central, cujas estrelas nasciam e se punham com o movimento diário da Terra. O cinturão meridional, com estrelas que desapareciam por meses durante o inverno, quando o hemisfério norte ficava afastado delas e do sol, era o domínio do deus da água, Ea, que emergia periodicamente para salvar a humanidade em tempos de crise, e depois sumia de novo em seu oceano nativo. Visto como um velho homem sábio vestido com uma capa em forma de peixe, Ea, deu ao mundo a ciência, a arte e a escrita, bem como todo o conhecimento da magia.
No decorrer do século VII a.C. o Oriente Médio, um cantinho de culturas e exércitos em luta, entrou em um período particularmente tumultuado, que transformou o ambiente intelectual. O império assírio atingiu o auge de seu poder e então, subitamente, desmoronou. Novas influências culturais vieram da Pérsia, no leste, e dos ocidentais de língua grega que viviam às margens do mar Egeu.
A antiga cidade da Babilônia, que entrara em decadência sob o domínio assírio, ganhou novo brilho no reinado do enérgico rei caldeu Nabucodonosor. Através dos cronistas judeus, a posteridade teria de Nabucodonosor uma opinião desfavorável, pois ele saqueou Jerusalém e levou os judeus para o exílio na Babilônia; o livro de Daniel afirma que ele ficou louco e começou a comer grama. Mas durante seu reinado, de 605 a 562 a.C., ele reconstruiu a Babilônia, transformando-a em um lugar de esplendor incomparável, com seus Jardins Suspensos que sobressairiam entre as maiores maravilhas do mundo e um esplêndido zigurate de sete níveis para investigar os mistérios celestiais.
Inspirados talvez por esse cenário majestoso, os videntes da Babilônia prosseguiram com redobrado vigor a compilação de suas tabelas astronômicas. Requintaram o calendário, concebendo um método para ajustar os meses lunares ao ano solar de maneira mais ordenada. Passaram a recorrer à matemática em suas observações dos corpos celestes, que assim ficaram mais precisas. Um escriba podia relatar que “no 18º dia do mês, a deusa Ishtar estava 2 graus e 55 minutos acima do Rei” – o Rei era Regulus, a estrela mais brilhante de Leão. Relógios de sol e de água ajudavam a controlar o ritmo dos eventos celestes.
Para obter maior precisão, os pesquisadores babilônicos dividiram o dia e a noite em períodos padronizados: doze horas de um meio-dia a outro, com cada hora dividida em sessenta minutos e cada minuto em sessenta segundos. Até os dias de hoje, o mostrador de qualquer relógio comum reflete a obra dos astrólogos babilônicos, embora as unidades de tempo deles fossem exatamente o dobro das nossas.
Também estudaram as principais constelações. É certo que um número razoável delas fora identificado em épocas anteriores, mas os videntes babilônicos preocupavam-se antes de mais nada com as que giravam nas regiões centrais do céu, ao longo do Caminho de Enlil, pois elas estavam na estrada trilhada pelo sol, pela lua e pelos planetas. Distinguiram um total de dezoito figuras, inclusive todos os signos do moderno zodíaco, exceto Áries, o Carneiro. Cada constelação assumiu um caráter astrológico, com base em sua forma física e também em seu papel na mitologia. A constelação que mais tarde foi chamada de Libra, a Balança, representava o equilíbrio e o julgamento. Virgem, vista originalmente como um sulco em um campo de trigo, representava a fertilidade. Escorpião, signo do outono, picava o sol com seu ferrão envenenado, deixando-o fraco e moribundo.
Com o tempo, os videntes dividiram o Caminho de Enlil em doze segmentos de espaçamento regular, com um mês de duração, e deram a cada um o nome do grupo estelar correspondente. Não importava que houvessem mais constelações do que segmentos, ou que algumas delas ocupassem um espaço maior do que as demais. Algumas foram abandonadas, e as diferenças de tamanho das demais foram ignoradas. E, antes do final do século V a.C., o zodíaco assumiu sua forma quase idêntica à atual, com os doze signos dividindo o céu em segmentos iguais, de trinta graus cada. E tornou-se o instrumento central da astrologia.
A essa altura, o impulso de examinar o céu noturno de maneira organizada já se difundira para além dos reinos da Mesopotâmia. Entre os mais ardentes vigilantes do céu estavam os filósofos da Grécia. Desde os tempos de Homero, os marinheiros gregos haviam dirigido suas proas guiando-se pelos sinais celestes, e os lavradores colhiam suas uvas quando Órion estava em seu ponto mais alto. Mas os filósofos, muitos dos quais viviam em colônias gregas na Jônia, na costa ocidental da moderna Turquia, não tinham em vista qualquer finalidade prática. Os deuses do céu não tinham domínio sobre eles. Tampouco procuravam adivinhar o futuro, pois para isso contavam com o oráculo existente em Delfos. Os filósofos eram movidos pela simples curiosidade, pelo puro deleite de decifrar charadas. Como resultado, construíram uma estrutura teórica para o universo que observavam.
Um dos primeiros pensadores jônicos, nascido por volta de 630 a.C., foi Tales, da cidade de Mileto. Versado em matemática oriental (diz-se que ele trouxe a geometria para a Grécia), Tales concebeu uma nova abordagem do estudo cósmico. Ele procurou limpar do céu as antigas mitologias e trocá-las por leis físicas. O mundo não podia ter sido formado, como achavam os babilônicos, quando Marduk matou o dragão Tiamat e moldou o cosmo com seus pedaços. Tales afirmava que o mundo evoluíra através de causas naturais, a partir de um elemento físico – que ele supunha ser a água. Aplicando suas leis físicas, Tales tornou-se um adepto da análise e previsão dos movimentos dos corpos celestes.
Vários pupilos de Tales prosseguiram sua obra, empenhando-se em decifrar o grande plano do cosmo. Anaximandro propôs uma imagem geométrica do céu, na qual o universo estaria dentro de uma grande roda de fogo, na qual haveria orifícios pelos quais escapava a luz das estrelas. Anaxímenes, outro de seus discípulos, sugeriu que as estrelas e planetas eram cabeças brilhantes de pregos espetados em esferas de uma substância transparente e cristalina; ele considerava o ar como elemento primordial e não a água, ou o fogo. Mas esses dois estudiosos procuravam uma explicação racional para eventos naturais e, apesar das suas elevadas especulações, eram absolutamente realistas. Anaximandro, por exemplo, dedicou parte de seu tempo a traçar um mapa incrivelmente exato do mundo então conhecido.
Enquanto ideias como essas instigavam os debates intelectuais dos filósofos, outros esquemas de pensamento desenvolviam-se para competir com elas. O mais influente, de longe, originou-se com outro jônico – Pitágoras, conhecido de todo estudante moderno pelo famoso teorema da geometria do triângulo, que leva seu nome. Pitágoras foi um gigante em seu próprio tempo, um homem de grande inteligência, estudioso incansável e conhecedor de terras distantes. Viajou para o Egito, depois para a Babilônia e voltou para casa imerso em saber astral. O cosmo, decidiu ele, fora criado por uma única entidade, que se manifestava através dos números. Todas as partes do universo se encaixavam em um sistema matematicamente perfeito, tão seguro quanto a tabuada e tão estrito quanto as notas da escala musical. O resultado era uma harmonia numérica, um zumbido cósmico, que ressoava das estrelas, no alto, para a Terra, abaixo. Cada planeta, girando no espaço, produzia uma nota musical, e juntas as notas vibravam em um único acorde perfeito: a música das esferas. O indivíduo sábio, declarou Pitágoras, deveria buscar a perfeição afinando a si mesmo por essa sinfonia predominante.
Tal como a maioria de seus contemporâneos, Pitágoras achava que a Terra era redonda e, também como eles, acreditava que ela era um corpo estacionário no centro de um cosmo em órbita. No entanto, havia uma forte contradição nessa imagem harmônica: as estranhas piruetas para trás dos planetas. Pitágoras não conseguiu explicá-las. Seu discípulo Filolau ofereceu uma solução que, com o tempo, se revelaria literalmente revolucionária. A Terra não era estacionária, disse ele; também ela se movia em uma órbita. Séculos se passariam antes que essa estranha ideia chegasse a vingar.
Outros pensadores astrais apegaram-se mais ao saber dominante na época. Um certo Empédocles de Cós, em suas cogitações acerca dos elementos básicos, decidiu que havia quatro: terra, ar, fogo e água. Mais tarde, cada signo do zodíaco seria associado a um desses elementos. Vizinho dele em Cós vivia o médico Hipócrates, – posteriormente honrado como o pai da medicina – , para quem a saúde dependia do equilíbrio adequado entre os quatro fluidos corpóreos, ou humores, que correspondiam aos quatro elementos. Nenhum médico, sustentava Hipócrates, podia exercer eficazmente seu ofício sem o pleno conhecimento das influências celestiais.
Um universo geocêntrico governado por uma inteligência divina, que impunha leis matemáticas à natureza. Assim era o cosmo clássico. E ninguém fez mais para perpetuar essa imagem do que o filósofo Platão, talvez o maior dos pensadores gregos. Platão elevou todo o conhecimento astral da época aos mais altos níveis de abstração mística. Para ele, havia apenas uma realidade – um reino ideal, divino e imutável, que lançava sua luz sobre toda a criação. O mundo físico percebido pelos sentidos – árvores, mesas, flores, montanhas e até o próprio céu – era mera ilusão. Não dava a menor importância às exceções a esse ideal cósmico, tal como os planetas retrógrados. A perfeição era tudo, o habitat natural da beleza e da verdade. Cada alma humana era parte do espírito divino e cada uma tinha sua própria estrela particular, à qual um dia voltaria.
O esquema de Platão afetaria profundamente as doutrinas das religiões futuras, inclusive o cristianismo, bem como os usos místicos da astrologia. A filosofia grega inspirava-se, em parte, nas correntes intelectuais provenientes da Babilônia, mas uma mescla mais completa estava prestes a ocorrer. Tal como muitos outros matrimônios culturais daquela época conturbada, este também aconteceu por intermédio da conquista militar.
Em 334 a.C. um exército formado por 35 mil gregos e macedônios – uma força pequena para a tarefa pretendida – marchou a partir da Europa, penetrando na Ásia. Seu chefe era um belo jovem loiro de 22 anos, ousado e movido por um sonho quase místico de glória. Se algum homem foi filho do destino, este foi Alexandre, o Grande. O pai dele, murmurava o povo, era o próprio Zeus, ou talvez o deus egípcio Amon. E dizia-se que sua mãe planejara precisamente o momento de colocá-lo no mundo, retardando o parto, no signo de Leão, até os aspectos planetários ficarem perfeitamente adequados.
Alexandre lançou-se pelo mundo conhecido como um meteoro, em uma trajetória flamejante que passou pelo delta do Nilo, sobrevoou os desertos da Líbia, transitou sobre a Palestina e a Turquia, pela Babilônia até as terras desoladas da Pérsia e do Afeganistão, até aterrissar finalmente nas selvas da Índia ocidental. Mas a passagem foi breve. Em uma década ele se apagaria, morrendo de febre na Babilônia, conforme haviam previsto os videntes locais. Mas seu legado resistiu por mais de cinco séculos, em uma cultura mundial unificada – chamada de helenismo – que combinou as tradições gregas com as das terras conquistadas pelos macedônios no Oriente. A corte de Alexandre na Babilônia “enxameava de astrólogos, adivinhos e prognosticadores”, contou um cronista. E sob seus sucessores o estudo da astrologia floresceu como nunca ocorrera até então.
A união da teoria grega com o saber astral da Babilônia produziu uma grande mudança em ambos. Enquanto as tabuletas cuneiformes registravam séculos de movimentos estelares os modelos cósmicos gregos ofereciam a lógica para organizar essa informação. O que antigamente era encarado como uma arte, capaz de ler no céu as mensagens dos deuses, tomava agora as vestes de um estudo científico, regido por leis naturais.
Os planetas e constelações receberam nomes gregos, as deidades babilônicas foram equiparadas a suas equivalentes gregas. Cada parte do corpo humano, declaravam os gregos, era governada por algum signo. Virgem comandava a barriga, por exemplo, e Áries a cabeça e o rosto. Uma visão mais fresca e democrática varreu os corredores poeirentos do estudo astrológico. Este deixou de ser um monopólio de adivinhos reais que liam os augúrios para o rei, abrindo-se a todo aquele com capacidade de entendê-lo. Um novo conceito entrou em cena: o horóscopo individual, que avaliava as perspectivas do indivíduo a partir da posição dos astros no momento do nascimento.
Até então, as tentativas feitas nessa direção para os filhos dos monarcas haviam sido, na melhor das hipóteses, hesitantes. Um horóscopo do filho de um príncipe babilônio em 410 a.C. dizia que a Lua estava perto de Escorpião, Júpiter estava em Peixes, Vênus em Touro, Saturno em Câncer e Marte em Gêmeos, mas segundo registros, os prognósticos resumiam-se a um genérico “as coisas serão boas para ele”.
Agora, pessoas de todos os níveis queriam saber o que lhes reservava o futuro, mostrando-se dispostas até mesmo a receber as notícias mais sombrias. Um infeliz rapaz nascido em 263 a.C., ficou sabendo que sua vida, apesar de longa, ficaria cada vez mais difícil. “Ele não terá dinheiro”, lia-se na previsão, e “a comida dele não será suficiente para matar-lhe a fome. As riquezas que conheceu na juventude se esgotarão.”
Em resposta à procura popular, numerosas escolas surgiram para difundir a nova disciplina. A maioria não distinguia entre a previsão astrológica e a astronomia pura. Uma das primeiras foi fundada na Babilônia por volta de 315 a.C., por um nativo de língua grega chamado Kidinnu. Mestre tanto em adivinhação como em matemática, Kidinnu calculou a duração exata do mês lunar, fixando-o em 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3,3 segundos. (Quando os astrônomos modernos fizeram seus cálculos da duração do mês, descobriram que ele errara por apenas 0,6 segundos.) Várias décadas depois um sacerdote babilônio, Berosus, abriu uma escola – a primeira na Europa – na ilha de Cós. Berosus fez horóscopos, divulgou traduções gregas das tabuletas babilônicas e ofereceu uma explicação para as fases da lua. Alcançou tal fama que o povo de Atenas ergueu uma estátua em sua homenagem.
Nos poucos séculos que se seguiram, a astrologia difundiu-se até os confins do mundo helenístico. Estabeleceu-se com firmeza na Índia, onde já havia uma tradição nativa de especulação astral. Antigos ritos hindus eram programados para coincidir com os equinócios da primavera e do outono e todos achavam que os primeiros sábios hindus moravam nas sete estrelas da Ursa Maior. Refletindo a antiquíssima propensão indiana de pensar em termos majestosos de tempo cósmico, foi dito que o mais famoso texto astrológico da região, o Surya Siddhanta, foi escrito em 2.163.102 a.C. (Na verdade, é provável que o Surya Siddhanta só tenha sido escrito muito depois do período helenista – talvez no quinto ou sexto século da era cristã.)
Nesse ambiente fértil, a nova astrologia floresceu em toda sua plenitude. Os indianos adotaram o zodíaco de doze partes e muitos termos técnicos gregos. Até os deuses aprenderam a dar atenção aos signos astrais. Conta-se que o poderoso Vishnu, assustado com a influência perniciosa de Saturno, abandonou seu trono celestial e vagou durante dezenove anos pela floresta, disfarçado de elefante. Depois, reassumindo seu antigo posto, vangloriou-se da astúcia com que evitara o infortúnio cósmico. Mas Saturno, que passava por perto, recordou-lhe: “Senhor, por dezenove anos não comestes nada além de grama e levastes na verdade uma vida das mais miseráveis, atormentado por moscas e mosquitos.” O destino astral das pessoas era inelutável.
No antigo Extremo Oriente eram outras as tradições de estudo astrológico. Na China, o “Reino Celestial”, o imperador era há muito equiparado à Estrela do Norte, em volta da qual se supunha girar todo o universo. É provável que os sacerdotes astrólogos chineses tivessem começado a compilar registros acerca da observação dos astros há mais tempo que seus colegas babilônios, possivelmente desde 2800 a.C. Aos chineses se credita o mais antigo registro de um eclipse observável, em 1361 a.C. Considerava-se que as conjunções celestes tinham profundos efeitos sobre os assuntos humanos, inclusive na ascensão e queda das dinastias. Tal como declarou o sábio chinês Confúcio, por volta de 500 a.C.: “O céu envia seus sinais bons ou ruins e os homens sábios agem de acordo com eles.”
Embora os exércitos gregos não tenham chegado até lá, provavelmente houve um intercâmbio de ideias, de uma região para outra, pelas rotas de comércio que atravessavam a Ásia Central. Os chineses usavam um zodíaco de doze partes – embora os signos não dividissem o céu, mas marcassem setores do equador – e, tal como os babilônios, dividiam o dia em doze horas duplas. O imperador Wu, do século II a.C., mandou construir uma torre de observação que pode ter se inspirado em um zigurate da Babilônia. Um conjunto de predições dessa mesma época lembrava muito o grande texto profético mesopotâmico, o Enuma Anu Enlil.
Os horóscopos individuais também podem ter sido importados do Ocidente. Os chineses começaram a fazê-los algum tempo depois dos videntes gregos e babilônios, embora para os astrólogos chineses o momento decisivo não fosse o do nascimento, mas o da concepção. Mesmo assim, considerando o profundo isolamento da China em relação ao resto do mundo, era natural que houvessem enormes diferenças.
Os chineses viam o cosmo como uma caixa mecânica de muitos compartimentos, construída elaboradamente em torno do número cinco. Ao lado dos cinco planetas havia cinco elementos (madeira, terra, água, fogo e metal), cinco áreas geográficas (as quatro direções do compasso e um ponto central), cinco cores primárias, cinco sabores, cinco notas musicais básicas. Além desses quintetos, as duas forças primordiais, Yin e Yang – uma feminina e passiva, a outra masculina e ativa – governavam cada aspecto da vida. Todos os astrólogos estavam a serviço do imperador, em uma burocracia rigorosamente controlada. O cargo, de grande prestígio, envolvia riscos. Quando, em 2136 a.C., o sol entrou em um eclipse que não havia sido previsto, o astrólogo chefe e seus assistentes foram decapitados, por não terem prevenido o imperador.
Contrastando com esse ambiente tradicional e rigoroso, no século III a.C. houve no Egito um surto de investigação livre. O centro da cultura ocidental era Alexandria, fundada no delta do Nilo pelo próprio conquistador e transformada na grande metrópole da época. Seus grandes edifícios cívicos incluíam a maior biblioteca do mundo, onde os estudiosos tinham à disposição cerca de 700 mil manuscritos. O geômetra Euclides estudou nela, bem como Erastóstenes, que calculou a circunferência da Terra com um erro de apenas 15 por cento. Como era de se esperar, a astrologia merecia muitas atenções. Antes da chegada dos gregos, pouca coisa fora feita na área, a despeito de os egípcios afirmarem que seus ancestrais vinham estudando o céu há mais de 500 mil anos. É certo que os sacerdotes egípcios identificavam seus deuses com vários corpos celestes. A lua era Osíris, deidade benevolente que era encoberta nos eclipses por seu malvado irmão, Set. O deus do Sol, Ra, velejava pelo céu em sua barca celeste e de noite combatia as forças subterrâneas das trevas. Sua encarnação terrena era o faraó. Os três descendiam de Nut, a mãe primordial, que compreendia toda a abóbada do céu noturno. No entanto, para avaliar o futuro os egípcios apoiavam-se principalmente nas mensagens dos sonhos. A ninguém ocorria a ideia de buscar prognósticos no céu visível.
Houve uma exceção. A principal fonte de prosperidade do Egito era o Nilo, cujas cheias anuais traziam umidade e fertilidade ao solo do deserto. Saber com precisão quando viriam as cheias era de vital interesse para todos. E para isso a melhor pista estava nas estrelas. Cerca de uma semana antes a chamada Estrela do Cão, Sirius, aparecia no horizonte a leste, no alvorecer. Todos os anos acontecia a mesma coisa, tão regular quanto um relógio. A cada período de 365 dias, mais algumas horas adicionais, a Estrela do Cão erguia-se com o sol. Logo em seguida, o rio Nilo também começava a subir. Isso possibilitou aos egípcios um dos maiores avanços da ciência, que foi a criação do ano padrão, enquanto os gregos e babilônios continuavam às voltas com cálculos para fazer o ano lunar coincidir com o ano solar. Cada cidade grega tinha um calendário diferente. E durante todo esse tempo os egípcios tinham uma solução, utilizando um calendário solar de 365 dias, que era algumas horas mais curto, mas funcionava muito bem.
Nem é preciso dizer que a disponibilidade de um calendário adequado contribuiu muito para o avanço da astrologia e da astronomia. Os egípcios dividiram seu calendário em doze meses de trinta dias cada, em um total de 360 dias. Os outros cinco dias , considerados fora do tempo normal, eram dedicados a atividades religiosas.
Alexandria iria impor-se, por muitos séculos, como um próspero centro de estudos astrológicos, onde os estudiosos produziam longos tratados sobre os aspectos mais arcanos dessa arte. Com isso, os horóscopos forma ficando cada vez mais sofisticados. Os sacerdotes adornavam seus templos e os aristocratas suas tumbas, com gravações dos signos zodiacais. E as obras dos investigadores estrangeiros invariavelmente chegavam às prateleiras da vasta biblioteca da cidade.
Um sábio estrangeiro destacado foi Aristarco de Samos, que adotou a ideia ousada de que a Terra fira em torno do sol. Sugeriu também que ela gira sobre um eixo, causando o dia e a noite – mas ninguém lhe deu muita atenção. Maior interesse despertavam os trabalhos de Hiparco de Nicéia, que era de fato um cientista astral de considerável competência. Hiparco catalogou mais de mil estrelas, e concebeu o sistema de latitude e longitude para determinar a posição geográfica.
No entanto, os astrólogos da época estavam mais interessados nos estudos de Hiparco sobre o zodíaco. Hiparco descobriu que, a cada ano, o zodíaco atrasava-se ligeiramente em relação às estações. (Kidinnu também havia descoberto isso, mas a informação não chagara a Hiparco). Dois mil anos antes, no tempo dos sumérios, o nascer da constelação de Touro, na aurora, anunciava o equinócio da primavera. No tempo de Hiparco, o arauto do equinócio passara a ser Áries, o Carneiro. Hoje sabemos que esse atraso, conhecido como precessão dos equinócios, ocorre devido a uma lenta, mas constante, oscilação do eixo da Terra. Mas Hiparco não sabia disso.
O que se tornou imediatamente claro é que o zodíaco das constelações, pedra fundamental do prognóstico astrológico, não é fixo e eterno. O deslocamento é contínuo, de tal maneira que, ao longo dos milênios, os signos mudam em relação à época do ano. Um grego alexandrino nascido a 21 de março, dia do equinócio da primavera, estaria regido pelo signo de Áries. Se os astrólogos do século XX fixassem o signo do nascimento tal como na era alexandrina, de acordo com a constelação que nasce na aurora, uma criança nascida a 21 de março deste século seria de Peixes. Em vez disso, por menos lógico que possa ser, os astrólogos ocidentais modernos utilizam os signos de maneira em que eles foram fixados pelos alexandrinos, na época em que o zodíaco foi padronizado. Já os astrólogos indianos levam em conta a precessão dos equinócios e determinam o signo do nascimento pela constelação que surge ao alvorecer.
Enquanto os gregos e os egípcios estavam refinando a arte da astrologia, o centro do poder mundial começava a deslocar-se para o ambiente jovem e agressivo da Roma Imperial. Contudo, os primeiros romanos tinham pouca sofisticação cultural própria, e assumiram com sofreguidão a sabedoria antiga dos povos que conquistaram.
Os romanos entraram em contato com a astrologia graças a Posidônio, filósofo grego da escola estoica que chegou a Roma em meados do século I a.C.. Os estoicos seguiam um código de austera autossuficiência, com uma ênfase moral que atraiu fortemente a classe alta romana. Tratava-se de ajustar ao máximo a própria conduta aos preceitos da lei cósmica, “para viver em coerência com a natureza”, como se costuma dizer. Em outras palavras, as pessoas sábias submetiam-se a seu destino. E que maneira melhor de descobrir o destino do que o mapa das estrelas? Posidônio ampliou essa teoria e acrescentou a ideia de uma força mística vital que emanava do sol e unia o mundo em uma harmonia universal. Mas essa força também estimulava as pessoas a descobrirem seu destino astrológico.
Entre os intelectuais de Roma que se amontoavam para ouvir Posidônio estava o grande orador Cícero, talvez a voz mais persuasiva do senado romano. Cícero era inimigo acérrimo da astrologia, mas converteu-se imediatamente ao ouvir Posidônio. Qualquer pessoa de juízo, declarou, podia ver que as estrelas “têm inteligência e poder divinos”.
Com o passar do tempo, porém, a confiança de Cícero começou a vacilar. Para começar, os astrólogos tomaram o partido da falcão que acabaria sendo o perdedor durante uma guerra civil que dividiu os romanos em meados do século I a.C. Cometeram também outros enganos sérios, tendo assegurado, por exemplo, que Júlio César viveria até a velhice. Cícero acabou denunciando essa arte, como “uma inacreditável tolice louca, diariamente refutada pela experiência”. Um recém-nascido, argumentou, provavelmente seria mais influenciado pelo clima, que podia sentir, do que pelos distantes signos do zodíaco.
Muitos outros romanos proeminentes eram igualmente céticos. Consta que Júlio César era desfavorável a todo tipo de adivinhação – no entanto, se houvesse seguido os conselhos de um adivinho, teria evitado ir ao senado nos idos de março e talvez pudesse mesmo escapar do assassinato. Mas a maioria dos cidadãos acreditava nos astros. Quando um cometa cruzou os céus logo após a morte de César, o povo disse que era a alma dele subindo ao céu.
Os sucessores de César tendiam a considerar a astrologia como um assunto sério. O imperador Augusto mandou cunhar uma moeda com Capricórnio em uma das faces, por ser esse o signo em que a lua aparecera no momento de seu nascimento. No final da vida ele ficou aterrorizado com a possibilidade de algum inimigo divulgar um falso horóscopo prevendo sua morte, e provocar um levante popular. Por isso, no ano 11 da era cristã, ele publicou sua própria versão e proibiu qualquer previsão de morte.
O próximo a subir ao trono foi Tibério, que se interessou tanto pela astrologia que aprendeu a calcular seu próprio horóscopo e fazia questão da melhor assistência profissional possível. A certa altura, retirou-se para uma casa de campo em Capri, talvez para escapar aos desígnios de um planeta malévolo, e lá continuou a entrevistar candidatos, para selecionar o astrólogo da corte. Para testar os poderes do vidente, ele perguntava: “E o teu horóscopo?” Se a resposta não fosse de seu agrado, mandava atirar o infeliz pretendente do alto de um penhasco vizinho. A pergunta não deixava muitas saídas ao perguntado. Mas um certo Trasilus achou a resposta perfeita: estudou o próprio mapa, começou a tremer e finalmente anunciou: “Neste exato momento estou me expondo a um perigo imediato!” A resposta agradou a Tibério, que fez de Trasilus seu principal conselheiro astral.
Começou assim um breve monopólio familiar em um dos cargos mais poderosos de Roma. O filho de Trasilus, Balbilus, serviu a três imperadores – Cláudio, Nero e Vespasiano. Ao contrário do pai, porém, que se empenhara em conter os impulsos mais violentos de Tibério, Balbilus parecia disposto a estimular os banhos de sangue. Os cometas, supostamente, anunciavam a morte de algum líder; quando apareceu um, no reinado de Nero, Balbilus sugeriu que o imperador desviasse a ira dos céus para outras cabeças. O resultado foi a chacina de muitos importantes cidadãos de Roma.
Tito e seu irmão, Domiciano, que reinaram no final do século I da era cristã, eram astrólogos de si mesmos e seguiram o exemplo de Nero, usando as estrelas para justificar seus atos violentos. Domiciano era particularmente temeroso e desconfiado; fazia horóscopos dos possíveis rivais e ordenava a morte de qualquer um que as estrelas indicassem como candidato ao sucesso ou poder.
Por mais tenebroso que fosse o uso dado pelo estado à astrologia, os eruditos do império continuavam a sofisticar a teoria e a prática da observação das estrelas. Por volta do ano 14 da era cristã – o primeiro do reinado de Tibério – Manilius, um seguidor de Posidônio, publicou um alentado sumário, o Astronômica, em hexâmetros rimados. O poema, que se tornou uma referência básica, listava a magnitude das estrelas mais brilhantes, ensinava a traçar um mapa natal e dava mais ênfase aos signos do zodíaco do que aos planetas como árbitros do caráter e do destino. No século seguinte surgiu uma obra ainda mais importante, compilada por Cláudio Ptolomeu, de Alexandria.
Pouco se sabe de Ptolomeu como homem, além de sua enorme erudição; aparentemente, era sóbrio e vestia-se com esmero. Gostava de cavalgar e, segundo alguns relatos, teria mal hálito. Além disso, temos apenas o testemunho de suas extraordinárias realizações – descobertas pioneiras na matemática, os mais precisos mapas do mundo antigo que chegaram até nós e dois volumes fundamentais sobre as estrelas. O primeiro o Almagesto, continha tudo que se sabia sobre os movimentos puramente físicos dos corpos celestes. O segundo, Tetrabiblos, tratava das múltiplas influências das estrelas e dos planetas sobre as vidas dos homens.
Ptolomeu defendia a crença de que a Terra estava solidamente fixa no centro de um cosmo em movimento. Tratava-se de um esquema muito razoável, observou ele, pois se a Terra girasse “os pássaros teriam seus poleiros arrancados de sob seus pés”. Mesmo assim, declarou, as estrelas e os demais planetas giravam em torno do sol em órbitas imutáveis e matematicamente perfeitas, tal como sugerira Pitágoras vários séculos antes; em seu percurso, eles projetavam seus poderes de um modo que podia ser avaliado por meio da observação racional. Forças naturais, e não a intervenção divina, controlavam os destinos humanos. E, se de vez em quando os astrólogos erravam suas previsões, isso ocorria unicamente por falha deles. “Não se desacredita a arte do navegador por seus muitos erros”, argumentava.
Grande parte do Tetrabiblos procurava forjar conexões lógicas entre diversos grupos estelares e outras categorias naturais. Tal como outros antes dele, Ptolomeu associou cada signo do zodíaco a um dos quatro elementos. Virgem, por exemplo, era considerado um signo de terra, enquanto Gêmeos seria um signo de ar. Além disso, relacionou-os também com as áreas geográficas. Os europeus residiam no domínio do fogo e de seus signos – Áries, Leão e Sagitário. Também eram fortemente influenciados por Júpiter e Marte. Em consequência disso, tenderiam a ser independentes, industriosos, guerreiros, sobranceiros e magnânimos – embora, segundo Ptolomeu, fossem “sem paixão pelas mulheres”. Os africanos, controlados pelos signos de água (Câncer, Escorpião e Peixes) e pelo planeta Vênus, seriam amantes ardentes, mas menos estáveis em caráter. Gostavam de adornar o corpo com “enfeites femininos”.
Após estabelecer esses critérios gerais, Ptolomeu forneceu instruções detalhadas para o cálculo de horóscopos pessoais. O mais importante, é claro, era o signo solar – a posição do sol na eclíptica durante o mês de nascimento do indivíduo. Porém, o signo que está ascendendo no horizonte no momento exato do nascimento – o signo ascendente, como ficou conhecido – também era de importância vital.
As relações entre os planetas também deveriam ser levadas em conta, segundo Ptolomeu. Onde estavam Júpiter, por exemplo, e qual era sua relação geométrica com, digamos, Saturno, ao traçar o mapa? Se dois planetas estivessem em lados opostos do mapa, a 180 graus de distância entre si, estariam em oposição, e isso teria um significado totalmente diferente da separação por um aspecto de apenas 60 graus. Se estes e outros fatores fossem anotados com atenção e avaliados com habilidade, afirmava Ptolomeu, o profissional poderia não só decifrar o caráter da pessoa, como também determinar as perspectivas do indivíduo na vida conjugal, no sucesso mundano, e em outros assuntos.
Assim foram assentados os principais marcos da astrologia moderna. Outras autoridades, nas gerações futuras, acrescentariam alguns requintes. No século III, por exemplo, um romano chamado Porfírio concebeu um sistema de doze “casas” astrológicas pelas quais se movem os signos do zodíaco; cada casa era relacionada a uma aspecto particular da vida humana. Mas o Tetrabiblos de Ptolomeu ficou sendo praticamente a bíblia da astrologia.
À medida que as décadas iam passando, a arte da predição conquistava uma audiência cada vez maior. Imperadores e estadistas continuavam consultando seus mapas. Cidadãos de todos os estratos sociais também se engajavam, inspirados pelas doutrinas ocultas que começavam a infiltrar-se em Roma, vindas dos confins do império.
Entre os séculos I e IV da era cristã entrou na moda a adoração de Mitra, um velho deus do sol persa; seus seguidores amontoavam-se em templos escuros salpicados de símbolos estelares. É claro que houve obstáculos. A ascensão do cristianismo foi um duro golpe para os astrólogos, pois, a despeito da aparente tolerância nos textos bíblicos – inclusive uma estrela anunciou o nascimento de Cristo – a igreja condenava todo tipo de adivinhação. Mas a astrologia subsistiu, embora passasse para a clandestinidade. E logo uma nova geração de sábios astrais, dos antigos desertos da África e do Oriente Médio, elevaria a arte de ler as estrelas a novos níveis de intrincado requinte.