terça-feira, 22 de setembro de 2020

Credo Satânico


Creio em um só senhor: Satã o todo poderoso,

Criador da justiça e da vingança.

Creio em um só senhor: Lúcifer,

Anjo temido até mesmo por Deus,

desde antes de todos os séculos,

Satã, Belial, Lúcifer e Leviatã.

Temidos e respeitados pelo mesmo Deus por quem foram condenados,

Que com seu poder e convicções lutaram contra o céu,

E por obra de seu convencimento criou legiões e armou seus exércitos,

Perderam e foram condenados,

Mas resucitaram com mais poder para matar o Deus pai,

E agora verão a glória

Para matar pastores e ovelhas e este reino terá seu fim.

Creio no Anticristo,

Senhor dotado com o conhecimento oculto,

Que procedeu das milhões de legiões

Recebeu o mesmo temor e vitórias

E que falou com os falsos profetas.

Creio na igreja de Satã que é sábia, poderosa e respeitada,

Confesso que há um único batismo para se receber de Satã.

Espero a ressurreição de nossos exércitos

E a batalha final contra o céu

Ave Satã!

In Nomine Dei Nostri Satanas Luciferi


Litania Negra


Lúcifer, miserere nobis.

Belzebuth, miserere nobis.

Leviathan, miserere nobis.

Bael, príncipe dos Seraphins, ora pro nobis.

Belfegor, príncipe dos Querubins, ora pro nobis.

Astaroth, príncipe dos Tronos, ora pro nobis.

Asmodeu, príncipe das Dominações, ora pro nobis.

Anduscias, príncipe das Postestades, ora pro nobis.

Belial, príncipe das Virtudes, ora pro nobis.

Perriel, príncipe dos Principados, ora pro nobis.

Eurinomo, príncipe dos Arcanjos, ora pro nobis.

Juniel, príncipe dos Anjos, ora pro nobis.

Hail Satã!

Charles Baudelaire

 

Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 — Paris, 31 de agosto de 1867) foi um poeta boémio, dandy, flâneur e teórico da arte francesa. É considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.
Nasceu em 9 de abril de 1821 em Paris. Estudou no Colégio Real de Lyon e Lycée Louis-le-Grand (de onde foi expulso por não querer mostrar um bilhete que lhe fora passado por um colega).
Em 1840, foi enviado pelo padrasto, preocupado com sua vida desregrada, à Índia, mas nunca chegou ao destino. Para na ilha da Reunião e retorna a Paris. Atingindo a maioridade, ganha posse da herança do pai. Por dois anos, vive entre drogas e álcool na companhia de Jeanne Duval. Em 1844, sua mãe entra na justiça, acusando-o de pródigo, e então sua fortuna torna-se controlada por um notário.
Em 1857, é lançado As flores do mal, contendo 100 poemas. O autor do livro é acusado, no mesmo ano, pela justiça, de ultrajar a moral pública. Os exemplares são apreendidos, pagando, de multa, o escritor, 300 francos, e a editora, 100 francos.
Essa censura se deveu a apenas seis poemas do livro. Baudelaire aceita a sentença e escreve seis novos poemas, "mais belos que os suprimidos", segundo ele.
Mesmo depois disso, Baudelaire tenta ingressar na Academia Francesa. Há divergência, entre os estudiosos, sobre a principal razão pela qual Baudelaire tentou isso. Uns dizem que foi para se reabilitar aos olhos da mãe (que, dessa forma, lhe daria mais dinheiro), e outros dizem que ele queria se reabilitar com o público em geral, que via suas obras com maus olhos em função das duras críticas que ele recebia da burguesia.

Morte

Foi na Bélgica que Baudelaire encontrou Félicien Rops, que ilustra "As flores do mal". Durante uma visita à Igreja de St. Loup, de Namur, Baudelaire perde a consciência. Este colapso é acompanhado por alterações cerebrais, particularmente afasia. Desde março de 1866, ele sofre de hemiplegia. Ele morreu de sífilis em Paris, em 31 de agosto de 1867, sem a realização do projecto de uma edição final de "As flores do mal", como ele desejava. Ele está enterrado no Cemitério de Montparnasse (sexta divisão), no mesmo túmulo de seu padrasto, o general Jacques Aupick, e sua mãe. Morreu prematuramente sem sequer conhecer a fama.

Crítica

Além de ser evidentemente, um precursor de todos os grandes poetas simbolistas, Baudelaire é considerado pela maior parte dos críticos como o mais provável fundador da poesia dita moderna. Isto deve-se ao fato de que, através da percepção do real, chegava sempre a um correlato objetivo para o sentimento que desejasse expressar, tal qual T. S. Eliot define o termo, observando o uso precursor de tal conceito na poesia do francês. Veja-se o poema "Correspondances" (Correspondências), de As Flores do Mal, onde Baudelaire expõe a origem de seu "projeto simbólico". Segundo Pierre Bourdieu, na obra As Regras da Arte, Baudelaire foi um fundador das normas do emergente campo literário francês, um nomoteta. Com o livro As Flores do Mal, institui pela primeira vez o corte entre edição comercial e edição de vanguarda, contribuindo para fazer surgir um espaço de editores para seus correspondentes escritores. Lembrando que o editor de As Flores do Mal, Poulet-Malassis foi pesadamente condenado e forçado a exilar-se.
Desta forma, sua poesia tendeu para a expressão de imagens cotidianas, o "visto pelo autor", tendo, o poeta, sido quem melhor, em sua época, intuiu a mudança radical provocada pela metrópole sobre a sensibilidade.
Era, como os modernistas que vieram após ele, um realista que detestava o entorpecimento da reprodução do mundo em poemas e pinturas e que tinha, ao mesmo tempo, ojeriza pela subjetividade exagerada. Respondendo à pergunta, por ele mesmo formulada, sobre o que seria uma arte pura, conclui: "É criar uma mágica sugestiva, contendo a um só tempo o objeto e o sujeito, o mundo exterior ao artista e o próprio artista." É através, naturalmente, dos sentidos, que Baudelaire apreende a realidade concreta. A mesma maneira de encarar a arte que o torna um precursor dos poetas do fim do século XIX o faz ser considerado o pai da poesia moderna.

Cronologia

1821 - (9 de abril) Nasce, em Paris, Charles-Pierre Baudelaire, filho de François Baudelaire e Caroline Archimbaut-Dufays.
1827 - Morre François Baudelaire.
1828 - A sua mãe casa em segundas núpcias com o militar Jacques Aupick.
1832 - O Coronel Jacques Aupick é transferido para Lyon, levando consigo a esposa e o filho desta, Charles Baudelaire.
1833 - Baudelaire é matriculado como aluno interno no Collège Royal de Lyon.
1836 - O Coronel Jacques Aupick é nomeado para o Estado Maior do Exército em Paris. Recomeça os estudos em Paris.
1838 - Viagem aos Pirenéus com a mãe e o padrasto. É após esta viagem que ele escreve o poema Incompatibilité.
1839 - Baudelaire conclui o curso colegial. Seu padrasto é promovido a General da Brigada.
1840 - Baudelaire vive na pensão Lévêque et Bailly e faz amizade com dois jovens poetas, Gustave Le Vavasseur e Ernest Prarond.
1841 - Pressionado pela família e pelo padrasto, que não admitiam sua independência e determinação, Baudelaire é obrigado a embarcar num navio em Bordeaux com destino a Calcutá. Meses depois, o General Aupick, seu padrasto, recebe uma carta do comandante do navio dando conta de que o jovem Baudelaire decidiu abandonar a viagem na Ilha de Reunião, não indo mais a Calcutá.
1842 - Retorna a França. Ligação com Jeanne Duval, uma jovem mulata que ele conhece no teatro Porte Saint-Antoine. Conhece Félix Tournachon, fotógrafo conhecido como Nadar, de quem fica muito amigo. Baudelaire atinge a maioridade e recebe a herança deixada por seu pai no valor de 75 mil francos. Passa a morar na Ilha de Saint-Louis, em Paris.
1843 - Estreia numa colectânea literária chamada Vers. Muda-se para o Hotel Pimodan, conhece muitas pessoas ligadas às artes, como poetas, pintores e marchands. É nesse hotel que Baudelaire reencontra o poeta Theóphile Gautier, sua futura paixão Apolonie Sabatier, e Fernand Boissard, pintor morto prematuramente. É aí que instala o famoso Club des Haschischins, que inspirará Baudelaire para escrever a primeira parte dos Paraísos Artificiais.

As Flores do Mal - Baudelaire

 


As Flores do Mal, livro publicado em 1857 por Charles Baudelaire, é considerado um marco na produção literária do fim do século 19. Com suas Flores do Mal, o poeta inventa uma linguagem na qual a realidade grotesca interage com a linguagem sublimada do Romantismo (Auerbach).

Para se entender melhor a poesia de Baudelaire e suas características tão peculiares, é preciso ater-se no ambiente e na época em que o poeta transitava. Tanto a França como a capital viviam os deslumbres da modernidade. Paris, a grande cidade, apresentava os contrastes entre o velho e o novo, resquícios do passado e apontamentos da modernidade e, por sua vez, essa alteração interferia nas relações sociais (modernidade alterando o perfil da sociedade). A época, resultado do processo de antropofização, proporcionava uma valorização do individualismo, do olhar voltado para a exterioridade, para o concreto, deixando de lado a vida interior.

A produção poética do escritor francês manifesta o contraste entre a modernidade e os valores da interioridade. Esse conflito gera, como traço caracterizador de sua poesia, elementos como a degradação, a provocação e a beleza. Segundo o crítico Otto Maria Carpeaux, Baudelaire foi um poeta que escreveu, com maestria, sobre o dilema de uma época e os efeitos que essa perplexidade causava à sensibilidade do autor. Lê-se:
A poesia de Baudelaire exprime igualmente as convulsões do seu tempo e a angústia de todos os tempos. Eis a relação da sua poesia, na aparência tão sofisticada, com a vida, relação sem a qual não há grande poesia. E Baudelaire é um poeta muito grande (pág. 124).

Elementos como a provocação e a degradação revelam o estado de ânimo do Flâneur (geralmente o tédio) que faz com que o poeta reflita sobre seu tempo, sentindo um desconforto, mantendo-se sempre no lugar do inadaptado social. Baudelaire, ao ser provocativo, criticando a hipocrisia e a alienação social, acaba por revelar a degradação que o meio provoca e, consequentemente, passa. A beleza principia-se justamente a partir da degradação. Segundo o escritor Carlo Argan, o conceito de belo é um artifício que pode surgir dos elementos mais inesperados:

O belo pode-se distinguir em tudo o que sai do acostumado, do normal e do mediano. Inclusive o feio e o cômico, levados ao limite, são belos… o artista tem o dever de ser uma exceção, de sentir mais que os demais e de maneira distinta; só marginalizando-se da sociedade pode estar em condições de analisar, interpretar e, dentro dos limites de suas possibilidades, orientar e dirigir a sociedade (pág. 78).

A beleza em Baudelaire não combina com a normalidade. A beleza está, como escreve Argan, no limite. Em Spleen (LXXXI) isso é bem notório. Lê-se:

E quando pesa o céu, tal tampa grave e baça,
Sobre o espírito a gemer aos tédios e açoites,
E do horizonte enfim todo o círculo abraça,
Vertendo um dia negro e mais triste que as noites;

E quando a terra muda em úmida enxovia,
Em que a Esperança é como morcego perdido,
Onde sua asa vibra em medrosa agonia,
Roçando a cabeça por teto apodrecido;

E quando a chuva alonga estas linhas tamanhas,
Sempre a imitar as grades desta vasta cadeia,
E o mudo tropel das infames aranhas
Em nosso coração estende a sua teia.

Os sinos se dispõem com loucura a saltar,
Lançando para o céu o seu uivo horripilante,
E começa a gemer tão obstinadamente.

– E os carros funerais, sem música ou tambor,
Lentos passam por mim e a esperança destarte
Vencida, chora; e a angústia estorce-se de dor,
Sobre o meu crânio implanta o seu negro estandarte.

Na 1ª estrofe, o céu não surge como imagem poética que manifesta a suavidade, muito pelo contrário, o céu é uma tampa que domina todo o horizonte. O céu é negro e torna o dia mais escuro que a própria noite. O abraço do céu sobre o círculo, que envolve a todos, indica a condição de sufocamento. O poeta, em uma linguagem metafórica, descreve o dia, turno que deveria ser iluminado, como algo obscuro, sinistro. Dias e noites igualam-se. Em dias assim, tão obscuros, a esperança parece minguar.

Na 2ª estrofe, a Esperança é escrita com letra inicial maiúscula, ou seja, é personificada por Baudelaire. Tal sentimento, o que mais persiste no homem, está agonizando, o medo parece vencer a esperança, que roça sua cabeça no céu de escuridão. Há, nessa estrofe, o sentimento de poeta vencido, o eu-lírico não consegue visualizar nada que possa transfigurar-se em luz.

Já na 3ª estrofe, a chuva surge como elemento que imita a vasta cadeia que a terra é, assim esse fenômeno natural torna contundente a imagem da prisão. Sabendo-se que a terra é sinônima de germinação e que necessita da chuva nesse processo (tudo que chamamos vida), ocorre aqui uma inversão: tanto a terra quanto a chuva designam a morte em iminência, não somente a morte do corpo, mas principalmente a morte da liberdade. A chuva, com suas linhas verticais, forma a figura de uma prisão. As aranhas imobilizam o coração do homem com suas teias. O eu-lírico considera-se prisioneiro de um mundo com o qual ele não se identifica.

Os sinos, na 4ª estrofe, não badalam, eles soltam uivos, assim como o espírito geme, sinalizando um processo doloroso de vida. O poeta já não sente seu corpo (matéria quase inexistente) a caminhar, o flâneur agora é espírito sem destino, despossuído no meio degradante em que circula.

Na estrofe conclusiva, o eu-lírico só tem como companheira a angústia. A música, elemento geralmente festivo, sequer está presente no funeral.Nessa parte final, fica visível a monotonia, os carros funerais, representando a morte, caminham lado a lado com o poeta, a esperança está morta, o eu-lírico entediado é a personificação da morte em vida.

Enfim, Baudelaire por se posicionar no limiar da sociedade, soube analisá-la e interpretá-la. Foi provocativo ao mostrar a degradação causada pela modernidade e mais: demonstrou riqueza estética ao conseguir unir à degradação, a figura do belo. Baudelaire escreveu sobre um tempo em que não há esperança, sobre um tempo em que não se pode recriar a liberdade, sobre um tempo em que a tentativa de reconstruir a liberdade lateja em dor. Como disse Carpeaux: “a poesia de Baudelaire exprime as convulsões do seu tempo e a angústia de todos os tempos”.

As flores do mal
Charles Baudelaire
Nova Fronteira


As litanias de Satã - Baudelaire


 

O toi, le plus savant et le plus beau des Anges,

Dieu trahi par le sort et privé de louanges,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Ó Prince e l'exil, à qui l'0n o fait tort,

Et qui, vaincu, toujouurs te redresses plus fort,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi, qui sais tout, grand roi des choses souterranies,

Guérisseur familier des angoises humaines,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui, même aux léprex, aux paria maudits,

Enseignes par l'amour le goût du Paradis,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

O toi, qui de la mort, ta vieille et fort amant,

Engendras l'Espérance - une folle charmante!

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi, qui fais au proscrit ce regard calme et haut

Qui damne tout un peuple autour d'un échafaud,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi, qui sais en quel coin des terres envieuses

Le Dieu jaloux cacha les pierres précieuses,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi dont l'ceil clair connaît les profonds arsenaux

Où dort enseveli le peuple des métaux,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi dont la large main cache les précipices

Au sonambule errant au bord des édifices,

O satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui, magiquemente, assouplis les vieux os

De l'ivrogne attardé foulé par les chevaux,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui, pour consoler l' homme frêle qui soufre,

Nous appris à mêler le salpêtre et le soufre,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui poses ta marque, ô complice subtil,

sur le front du Crésus impitoyable et vil,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui mets dans les yeux et dans le coeur des filles

Le cult de la plaie et l'amour des guenilles,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Bâton des exilés, lampe des inventeurs,

Confesseur des pendus et des conspirateurs,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Père adoptif de ceux qu'en sa noire colère

Du paradis terrestre a chassés Dieu le Père,

O Satan prends pitié de ma longue misère!


PRIÈRE


Glorie et louange à toi, Satan, dans les hauters

Du Ciel, où tu régnas, et dans les profounders

de l'Enfer, où, vaincu, tu rêves en silence!

Fais que mon âme, um jour, sous l'arbre de Science,

Près de toi se repose, à l'heure où sur ton front,

Comme un temple nouveau ses rameaux s'epandront!


Ó tu, o Anjo mais belo e também o mais culto,

Deus que a sorte traiu e privou do seu culto,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Ó Príncipe do exílio a quem alguém fez mal,

E que, vencido, sempre te ergues mais brutal

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que vês tudo, ó rei das coisas subterrâneas,

Charlatão familiar das humanas insânias

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que mesmo ao leproso, ao pária infame, ao réu,

Ensinas pelo amor as delícias do Céu,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que da morte, tua velha e forte amante,

Engendraste a Esperança, - A louca fascinante!

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que dás ao proscrito esse alto e calmo olhar,

Que faz ao pé da forca o povo desvairar

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que sabes onde é que em terras invejosas

o Deus ciumento esconde as pedras preciosas,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu cujo claro olhar conhece os arsenais

Onde dorme sepulto o povo dos metais,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu cuja larga mão oculta os precipícios

Ao sonâmbulo a errar na orla dos edifícios,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, magicamente, abrandas como mel

Os velhos ossos do ébrio moído num tropel,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que ao homem que é fraco e sofre deste o alvitre

De poder misturar ao enxofre o salitre,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que pões tua marca, ó cúmplice sutil,

Sobre a fronte do Creso implacável e vil,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que abrindo a alma e o olhar das raparigas, a ambos

Dás o culto da chaga e o amor pelos molambos,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Do exilado bordão, lanterna do inventor,

Confessor do enforcado e do conspirador,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Pai adotivo que és dos que, furioso, o Mestre,

o Deus Padre, expulsou do paraíso terrestre,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!


ORAÇÃO


Glória e louvor a ti, Satã, nas amplidões

Do Céu, em que reinaste, e nas escuridões

do Inferno, em que, vencido, sonhas com prudência!

Deixa que eu, junto a ti, sob a Árvore da Ciência,

Repouse, na hora em que, sobre a fronte, hás de ver

Seus ramos como um templo novo a se estender!

Blanche Barton

 

Blanche Barton (nascida Sharon Densley em 2 de outubro de 1959) é uma ocultista estadunidense. Ostenta o título de Magistra Templi Rex da Igreja de Satã (Church of Satan ou CoS em inglês), e é chamada pelos satanistas de Magistra Barton.

Anteriormente, Barton era Grande Sacerdotisa da Igreja de Satã, cargo auto-indicado que ela reivindicou após a morte de Anton LaVey. Ela permaneceu como Grande Sacerdotisa até 30 de abril de 2002, quando indicou Peggy Nadramia como Grande Sacerdotisa e assumiu o cargo anterior de Nadramia, o de presidente do "Conselho dos Nove", grupo que gerencia a Igreja de Satã. Em 1999 ela iniciou uma fracassada campanha para levantar US$ 400.000, que seriam utilizados para recomprar a "Black House", onde muitos dos ritos notórios da Igreja foram realizados.



Barton escreveu The Church of Satan: A History of the World's Most Notorious Religion (1990) e The Secret Life of a Satanist: The Authorized Biography of Anton LaVey (1990).

Barton e LaVey tiveram um filho, Satan Xerxes Carnacki LaVey (nascido em 1 de novembro de 1993).



Black House

 


A Black House ("Casa Negra") era uma residência vitoriana que ocupava o número 6114 da California St. em San Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos da América. Embora algumas pessoas refiram-se à construção como "mansão", fotografias tiradas dela pouco antes de sua demolição demonstram que era apenas uma residência familiar de tamanho mediano, consideravelmente menor do que os dois pequenos edifícios de apartamentos em ambos os lados da propriedade.

A casa foi usada por Anton LaVey como sede de sua Igreja de Satã de 1966 até sua morte em 1997. LaVey ministrou seminários e rituais satânicos na casa; um dos mais notórios de tais rituais foi o batismo satânico de sua filha Zeena Schreck em 1967, pontuado por LaVey pronunciando as palavras "Salve Satã!" sobre o corpo despido de uma sacerdotisa que servia como "Altar Satânico".

Cerimônias públicas foram realizadas na casa até 1972. LaVey perdeu a posse da casa em 1991 como parte de um acordo legal após sua separação de Diane Hegarty, mas foi permitido que LaVey residisse na Black House até sua morte.

Após a morte de LaVey, membros da Igreja de Satã tentaram sem sucesso levantar fundos para recomprar a casa, que foi finalmente demolida em 17 de outubro de 2001. Em maio de 2006, um condomínio começou a ser construído no local. Em janeiro de 2008, foi noticiado que os três imóveis do mesmo estavam à venda.