terça-feira, 13 de março de 2018

Uma nota sobre Arnold Krumm-Heller por Carlos Raposo


Se os outros não fossem tolos,nós teríamos que ser.
(William Blake, em Provérbios do Inferno)

Em um dos posts por aqui já publicados, avaliei criticamente a “participação” de Rudolf Steiner na Ordo Templi Orientis. Exatamente dentro do mesmo contexto que envolveu o nome do pai da Antroposofia com a O.T.O., qual seja, relacionado aos planos de Reuss para torná-la uma Ordem internacionalmente tanto conhecida quanto admirável, ainda no primeiro decênio do século XX outros nomes de expressivo valor aparecem como seus supostos representantes diretos. Entre eles, encontra-se o bem conhecido nome de Arnold Krumm-Heller (1876-1949), costumeiramente citado como Frater Huiracocha.

A presente nota visa apresentar, en passant, a importância que a Ordo Templi Orientis teve na vida de Krumm-Heller e vice-versa.

Médico militar, funcionário público, Doutor Honoris Causa em arqueologia pela Universidade do México e ministro do governo desse país na Suíça e na Alemanha (Dalmor, 1989: 252), além de ocultista de origem germana-mexicana, Arnold Krumm-Heller foi o principal responsável pelo desenvolvimento daquela que hoje é reconhecida como uma das mais tradicionais, respeitáveis e reservadas linhas rosacrucianas do século XX, a Fraternitas Rosicruciana Antiqua (ou F.R.A.). Diga-se que em uma de suas muitas viagens por países da América do Sul, foi justamente Krumm-Heller que no início da década de 1930 trouxe e fundou a F.R.A. no Brasil.[1] Em suma, a vida de Arnold Krumm-Heller é repleta de situações que certamente despertarão o interesse de todos os que lidam com ocultismo, Ordens esotéricas e Sociedades Secretas, iniciações, etc.

Todavia, naquilo que concerne estritamente a O.T.O., ao que tudo indica infelizmente não há muito a se dizer em relação a Frater Huiracocha. Ocorre que no início de 1908, Theodor Reuss, inebriado com fixa ideia de expandir sua Ordem e levá-la também às terras latinas, viu em Krumm-Heller essa oportunidade e o nomeou Representante Geral da Ordem para o México (Koenig,1994:22). Assim, em 15 de março do mesmo ano, Huiracocha era feito Xº O.T.O. para aquele país (Koenig, 1994:155).[2]

But the song remains the same. Como repetidamente ocorria nas afoitas investidas de Reuss, após um contato inicial deveras promissor, pouco ou nada acontecia. Deste modo, embora com status legal de representante da O.T.O. de Reuss para o México, o fato é que Krumm-Heller simplesmente não chegou a desenvolver qualquer tipo de trabalho ou iniciativa, mínima que seja, relacionada a esta Ordem propriamente dita. Até mesmo pelo contrário, as poucas situações que o ligam ao líder universal da O.T.O. sugerem que ele de certo modo teria preferido, aos poucos, distanciar-se dos propósitos e da ideologia defendidos pela Ordem de Reuss.[3] Nesse sentido, Krumm-Heller fez o mesmo tanto com suas linhas de iniciações gnósticas quanto com sua principal Ordem, a F.R.A., afastando-as quase que completamente de qualquer influência que seu superior direto na O.T.O. pudesse exercer sobre suas atividades iniciáticas.

Entretanto, ressalte-se que a atitude externa de Huiracocha em relação a O.T.O. não era no sentido de rechaçá-la. Quando necessitava buscar referências para si mesmo, Krumm-Heller usava francamente o nome da O.T.O., apresentando-se como um dos altos iniciados desta organização. Por exemplo, no Capítulo “Todo Irradia” de seu notório livro Logos, Mantram, Magia, Huiracocha declara abertamente que: “Yo [...] que soy miembro de más de veinte sociedades secretas, como la O.T.O. y A. A. en los cuales tengo el último grado…”. Evidentemente, Krumm-Heller caprichosamente omite o fato de que toda sua participação na O.T.O. se limitava a uma indicação formal como Xº desta Ordem, e nada mais.

Em outras palavras, temos no caso da relação entre Huiracocha e a O.T.O. uma espécie de curiosa e conveniente situação: ambos mutuamente se usavam para se auto-afirmarem. Ou seja, se por um lado, não importando a completa ausência de qualquer atividade de Krumm-Heller como membro da O.T.O., ele se apresentava como alto iniciado desta; por outro, desconsiderando a completa omissão operacional de Krumm-Heller em relação a O.T.O., a própria Ordem (como hoje ocorre com suas diversas ramificações remanescentes), dada a fama e credibilidade de Huiracocha, o relaciona como um de seus mais proeminentes e ilustres membros.

Certamente esse tipo de relacionamento dará o que pensar. Por um lado, quem sabe, uns dirão que essa relação reflete uma espécie de linda harmonia simbiótica; por outro, todavia, é bem mais provável que se conclua que tudo não passa de pura e frustrante embromação.

Bibliografia
DALMOR, E.R. 1989: Quién fue y Quien és en Ocultismo. Buenos Aires: Kier.
KRUMM-HELLER, 1990. A. Logos, Mantram, Magia. Buenos Aires: Kier.
KOENIG, Peter-Robert. 1994: Das OTO-Phänomen. München: AWR.
CROWLEY, Aleister; MOTTA, Marcelo Ramos. 1981: The Equinox, Vol. V nº4 – Sex and Religion. Nashville: Thelema Publising.

Notas de Rodapé    
Site da F.R.A. no Brasil: http://www.fra.org.br/ 
Uma outra referência que merece ser mencionada, agora vinda de Marcelo Ramos Motta, cita Frater Huiracocha como possuidor apenas do VIIIº O.T.O. (Crowley e Motta, 1981:XVIII). Entretanto, ressalte-se que Motta não menciona quais foram as fontes nas quais se baseou para fazer essa afirmação. Em outras palavras, há dúvidas sobre a veracidade da informação por ele prestada. 
Mais uma vez, pesou sobre isso a pouca credibilidade despertada por Reuss (leia aqui o texto sobre Theodor Reuss). 

A lei do forte: esta é a nossa lei e a alegria do mundo por Aleister Crowley


Existe bastante do ponto de vista Nietzscheniano neste verso. Esta é a visão evolucionária e natural. Qual é a utilidade de perpetuar o tormento da Tuberculose, e doenças similares, como fazemos hoje? O método da Natureza é o de eliminar o fraco. Também esse é o modo mais compassivo. Atualmente todos os fortes estão sendo prejudicados, e o seu progresso está sendo impedido pelo peso morto dos membros fracos, dos membros amputados, dos membros doentes e dos membros atrofiados. Aos Leões os Cristãos!

O nosso humanitarismo, que é a sífilis da mente, age com base na mentira que o Rei deve morrer. O Rei está além da morte; esta é meramente uma piscina onde ele mergulha para se refrescar. Devemos, portanto retornar às ideias Espartanas de educação; e os piores inimigos da humanidade são aqueles que desejam, sob o pretexto de compaixão, continuar com as suas doenças através das gerações. Aos Leões os Cristãos!

Que as produções fracas e deformadas retornem ao cadinho, como é feito com partes defeituosas da fundição de aço. A morte purgará, a reencarnação tornará íntegros, esses erros e abortos. Pode-se confiar à própria Natureza fazer isso, simplesmente se a deixarmos agir por si. Mas e quanto àqueles que, fisicamente aptos para viver, estão contaminados com a podridão da alma, cancerosos devido ao complexo de pecado? Pela terceira vez eu respondo: Aos Leões os Cristãos!

Hadith chama a si mesmo de a Estrela, sendo a Estrela a Unidade do Macrocosmo; e a Serpente, sendo a Serpente o símbolo de Ir ou de Amor, e a Carruagem da Vida. Ele é Harpócrates, a alma Anã, o Espermatozoide de toda a Vida, como se possa expressá-lo. O Sol, etc., são as manifestações externas ou Vestes desta Alma, assim como o Homem é a Roupa de um Espermatozoide real, a Árvore surgindo daquela Semente, com poder para multiplicar e perpetuar aquela Natureza particular, embora sem a consciência necessária sobre o que está acontecendo.

Num sentido mais profundo, a palavra “Morte” é inexpressiva a parte da apresentação do Universo tal como condicionado pelo “Tempo”. Mas qual é o significado de Tempo?

Há uma grande confusão de pensamento no uso da palavra “eterno”, e na frase “para sempre”. As pessoas que querem “felicidade eterna”, ao dizerem isso se referem a um ciclo de eventos variados todos eficazes na estimulação de sensações agradáveis; isto é, elas querem tempo para continuar exatamente tal como ocorre consigo mesmas quando se libertam das contingências de acidentes tais como a pobreza, a doença e a morte. Contudo, um estado eterno é uma experiência possível, caso se interprete o termo sensatamente. Pode-se acender “flamman æternæ caritatis”, por exemplo; pode-se experimentar um amor que seja na verdade eterno. Tal amor não deve ter relação com fenômenos cuja condição seja o tempo. Similarmente, a “alma imortal” de alguém é de um tipo de coisa completamente diferente das suas vestes mortais. Essa Alma é uma Estrela em particular, com suas próprias qualidades peculiares, naturalmente; porém essas qualidades são todas “eternas”, e parte da natureza da Alma. Sendo essa Alma uma consciência monística, ela é incapaz de apreciar a si mesma e as suas qualidades, como explicado numa nota anterior; então ela se percebe através do expediente da dualidade, com as limitações de tempo, espaço e causalidade. A “Felicidade” de Amor Devotado ou de comer Marrom-Glacês é uma expressão concreta externa não eterna da ideia correspondente abstrata interna eterna, exatamente como qualquer triângulo é um retrato parcial e imperfeito da ideia de um triângulo. (Não importa se nós consideramos “Triângulo” como uma coisa irreal inventada para a conveniência de incluir todos os triângulos reais, ou vice versa. Uma vez que tenha surgido a ideia de Triângulo, os triângulos reais estão relacionados ao quanto acima declarado).

Não se quer nem mesmo uma extensão comparativamente breve desses estados “reais”; o Amor, embora reconhecido como tal para uma vida inteira, é geralmente intolerável após um mês; e Marrom-Glacês enjoam após os primeiros cinco ou seis quilogramas terem sido consumidos. Porém a “Felicidade”, eterna e sem forma, não é menos agradável porque estas suas formas cessam de proporcionar prazer. O que ocorre é que a Ideia cessa de encontrar a sua imagem naquelas imagens em particular; ela começa a perceber as limitações, que não são ela mesma e que de fato a negam, assim que a sua alegria original através da realização de ter se tornado consciente de si mesma desaparecer gradualmente. Ela se torna consciente da imperfeição externa dos Marrom-Glacês; eles não mais representam a sua natureza infinitamente variada. Portanto, ela os rejeita, e cria uma nova forma de si mesma, tal como Camisolas com pálidas fitas amarelas ou Cigarros Âmbar.

Da mesma forma um poeta ou pintor, desejando expressar a Beleza, é impelido a escolher uma forma em particular; com sorte, a princípio esta é capaz de recompense-lo naquilo que ele sente; porém mais cedo ou mais tarde ele descobre que falhou ao deixar de incluir certos elementos de si mesmo, e ele precisa incorporar a estes num novo poema ou quadro. Ele pode saber que ele jamais poderá fazer mais do que apresentar uma parte da perfeição possível, e isto em imagens imperfeitas; mas pelo menos ele pode expressar o seu melhor dentro dos limites dos instrumentos mental e sensorial do seu símbolo similarmente inadequado do Absoluto, seu veículo de encarnação humana.

Estas sofrem do mesmo defeito como as outras formas; finalmente, a “Felicidade” se esgota no esforço de inventar novas imagens, e se torna desmotivada e duvidosa de si mesma. Apenas poucas pessoas tem inteligência suficiente para continuar na generalização desde a falha de poucas figuras familiares da mesma, e reconhecer que todas as formas “reais” são imperfeitas; porém tais pessoas estão aptas a se desviar com desgosto pelo procedimento completo, e de ansiar pelo estado “eterno”. Contudo, este estado é incapaz de realização, tal como nós sabemos; e a Alma ao compreender isto, poderá não achar nada bom exceto na “Cessação” de todas as coisas, suas criações são não mais do que suas próprias tendências de criar. Assim, ela suspira pelo Nibbana.

Porém existe outra solução, tal como me esforcei para demonstrar. Podemos aceitar (sendo que por fim é absurdo acusar e se opor) o caráter essencial da existência. Não podemos extirpar ou mesmo alterar no mínimo grau seja a matéria ou o modo de qualquer elemento do Universo, onde aqui cada item é igualmente inerente e importante, cada um equivalente, independente e interdependente.

Podemos então concordar sobre o fato que é evidente além de contradição e implícito no Absoluto, que se apreende através da auto expressão como Positivo e Negativo em primeiro lugar, e combinar estes opostos primários numa infinita variedade de formas finitas.

Então podemos cessar (1) de buscar o Absoluto em quaisquer das suas imagens, sabendo que devemos abstrair todas as suas qualidades de cada uma destas igualmente se as desvelássemos; ou (2) rejeitar todas as imagens do Absoluto, sabendo que a realização através destas seria o sinal para a manifestação daquela parte da sua natureza que necessariamente formula a si mesma em um novo universo de imagens.

Percebendo que esses dois caminhos (o do materialista e o do místico) são igualmente estúpidos, podemos nos ocupar com qualquer um deles ou nos outros dois planos de ação, baseados no assentimento à realidade.

Nós podemos (1) verificar as nossas próprias propriedades particulares enquanto projeções parciais do Absoluto; podemos permitir que toda imagem apresentada a nós seja de entidade igualmente intrínseca e essencial com nós mesmos, e a sua apresentação a nós seja um fenômeno necessário na Natureza; e nós podemos ajustar a nossa apreensão à realidade que todo evento é um item na avaliação que prestamos a nós mesmos sobre o nosso próprio estado. Nós não ousamos desejar omitir qualquer registro em particular, a fim de evitar que o equilíbrio seja afetado. Nós podemos reagir com elasticidade e indiferença quanto a cada ocorrência, com intenção apenas na ideia que o total, inteligentemente apreciado, constitui um conhecimento perfeito não do Absoluto de fato, mas daquela sua parte que é nós mesmos. Portanto, nós ajustamos uma imperfeição precisamente à outra, e ficamos satisfeitos com a apreciação da integridade da relação.

Este caminho, o “Caminho do Tao”, é perfeitamente apropriado para todos os homens. Ele não tenta transcender ou adulterar a Verdade; ele é leal às suas próprias leis e, portanto não menos perfeito do que qualquer outra Verdade. A Equação Cinco Mais Seis é Onze é da mesma ordem de perfeição quanto Dez Milhões vezes Dez, vezes Dez é Um Bilhão. No Universo formulado pelo Absoluto, todo ponto é igualmente o Centro; todo ponto é igualmente o foco das forças do todo. (Em qualquer sistema de três pontos, dois pontos quaisquer podem ser considerados unicamente com referência ao terceiro, de modo que mesmo num universo finito a soma das propriedades de todos os pontos é a mesma, embora não haja duas propriedades que possam ser comuns a dois pontos quaisquer. Então um círculo, BCD, pode ser descrito pela revolução de uma linha AB num plano ao redor do ponto A; mas também a partir do ponto C, ou de fato de qualquer outro ponto, pela aplicação da análise e da construção adequadas. Nós calculamos o movimento do sistema solar em termos heliocêntricos por nenhuma razão a não ser por simplicidade e conveniência; nós poderíamos converter as nossas tabelas numa base geocêntrica através de mera manipulação mecânica sem afetar a sua veracidade, que é apenas a verdade sobre as relações entre um número de corpos. Todos são semelhantes no movimento, porém nós escolhemos arbitrariamente considerar um deles como sendo estacionário, de forma que possamos descrever mais facilmente os movimentos dos outros com relação a este, sem complicar os nossos cálculos pela introdução dos movimentos de todo o sistema como tal. E para este propósito o Sol é um padrão mais conveniente do que a Terra).

Há outro Caminho que podemos tomar, se quisermos; eu digo “outro”, embora isto talvez pareça para alguns não mais do que o desenvolvimento do outro que vem a ser mais apropriado para algumas pessoas.

Mesmo no primeiro Caminho, é de todo modo necessário começar explorando a sua própria Natureza, de modo a descobrir quais são as suas peculiaridades; isso é parcialmente obtido pela introspecção, mas principalmente pela Correta Recordação de toda a fantasmagoria apresentada a esta pela experiência; pois já que todo evento da vida é um símbolo de parte da estrutura da Alma, a totalidade da experiência deve ser considerada através do “Nome” da totalidade daquela parte da Alma que até então tem expressado a si mesma. Agora então, vamos supor que alguma Alma, tendo penetrado assim tão distante, deva descobrir no seu “Nome” que ela é um Filho verdadeiramente gerado pelo Espírito do Ser sobre o Corpo da Forma, e que ela tem o poder de compreender a si mesma e ao seu Pai, juntamente com tudo aquilo que tal herança implica. Além disso, suponha que tendo ela chegado à puberdade, não será ela impelida a se afirmar como filho de seu Pai? Ela não se libertará da Forma que a abrigou, nutria e treinou, e se afastará dos irmãos, irmãs e colegas? Ela não iria se extasiar e agonizar com o impulso de ser ela mesma plenamente, e encontrar uma Forma adequada para impressionar com sua imagem, assim mesmo como fez o seu Pai prematuramente?

Se tal Alma for de fato o filho de seu Pai, não temerá demonstrar falta de reverência filial, ou presunção, se ela esquecer sua família no fervor de encontrar uma que seja a sua própria, de gerar garotos realmente não melhores ou mais valentes do que os seus irmãos, ou garotas, realmente não mais doces ou suaves do que as suas irmãs, mas totalmente seus, com seus próprios defeitos e desejos evocados pelo encantamento do êxtase quando ela morrer para si mesma no útero da bruxa que deseja sua vida, e a comprar com a moeda que traz a sua Imagem e Inscrição.

Tal é o segredo da Alma do Artista. Ele sabe que é um Deus, dos Filhos de Deus; ele não tem medo ou vergonha de mostrar a si mesmo com sendo da semente do seu Pai. Ele se orgulha daquele privilégio mais precioso do seu Pai, e ele o honra não menos do que a si mesmo ao usá-lo. Ele aceita a sua família como sendo do seu próprio tesouro real; todo mundo é tão principesco quanto ele mesmo. Mas ele não seria filho de seu Pai a menos que descobrisse por si mesmo uma Forma adequada para se expressar por múltiplas reproduções da sua Imagem. Ele deve admirar a si mesmo em muitas vestes, cada uma enfática sobre alguma elegância ou excelência eleita em si mesmo que poderia de outra forma frustrar a sua reverência por estar escondida e abafada na harmonia do seu coração. Esta Forma que servirá a ele deve ser por si mesma macia para sua impressão, com elasticidade exata adaptando-se às saliências mais fortes e sutis, e ainda assim como o aço resistir a toda tensão além do sua própria, reter e reproduzir certamente e agudamente a imagem que o seu ácido ataca na sua superfície. Não deve haver falha alguma, nem irregularidade, nem granulação, nem deformação na sua substância; ela deve ser lisa e brilhante, puro metal de verdadeira têmpera.

E ele deverá amar esta Forma escolhida, amá-la com destemido fervor; ela é a face do seu Destino que anseia por seu beijo, e nos seus olhos o Enigma brilha e arde; ela é a sua morte, o corpo dela é o a sua tumba onde ele pode apodrecer e feder, ou se contorcer em sonhos malditos, autossacrificado, ou se erguer imaculado e autorrenovado, imortal e idêntico, realizando-se completamente nela e através dela, salpicando todo o espaço, com estrelas cintilantes seus filhos e filhas, cada estrela uma das suas próprias imagens infinitamente feita manifesta, ânimo após ânimo, por sua magia para moldá-lo quando sua paixão derreter o seu metal.

Portanto, é assim que todo Artista deve trabalhar. Primeiro, ele deve encontrar a si mesmo. A seguir, ele deve encontrar a forma que seja adequada para ele se expressar. Depois, ele deve amar aquela forma, como uma forma, adorando-a, compreendendo-a e dominando-a, com cada mínimo detalhe de atenção, até que ela (como parece) se adapte a ele com ardente elasticidade, e responda precisamente e apropriadamente, com o automatismo inconsciente de um órgão aperfeiçoado pela evolução, à sua sugestão mais sutil, ao seu gesto mais amplo.

A seguir, ele deve se entregar completamente àquela Forma; ele deve aniquilar a si mesmo absolutamente me todo ato de amor, trabalhando dia e noite para se perder no desejo por ela, de modo que ele não deixe sobrar nenhum átomo não consumido na fornalha do seu frenesi, como fez há muito tempo o seu Pai que o gerou. Ele deve realizar-se totalmente na integração do Panteão infinito de imagens; pois se ele falhar em formular uma faceta de si mesmo, por falta desta, ele se conhecerá falsamente.

Naturalmente não existe nenhuma diferença definitiva entre o Artista, tal como aqui delineado e aquele que segue o “Caminho do Tao”, embora o último descubra a perfeição na sua relação existente com o seu ambiente, e o primeiro cria uma perfeição privativa de um caráter peculiar e secundário. Nós poderíamos chamar a um de filho, e ao outro de filha, do Absoluto.

Mas o Artista, através da sua Obra, nas imagens de si mesmo na Forma que ele ama, é menos perfeito do que a Obra do seu Pai, uma vez que ele por expressar nada mais que um ponto de vista particular e que por meio de um tipo de técnica, não deve ser considerado inútil nessa questão, pouco mais que um Atlas é inútil porque ele apresenta por meio de certas convenções imperfeitas uma fração das realidades da geografia.

O Artista desvia a nossa atenção da Natureza, cuja imensidão nos encanta de modo que ela parece incoerente e ininteligível, à sua própria interpretação de si mesma, e as suas relações com vários fenômenos da natureza expressados numa linguagem mais ou menos comum a todos nós.

Quanto menor o Artista, mais estreita é a sua visão, quanto mais vulgar o seu vocabulário, mais familiares são as suas figuras, mais prontamente ele é reconhecido como um guia. Para ser aceito e admirado, ele deve dizer o que todos nós sabemos, mas não contamos um ao outro até que se torne tedioso, e o diz numa linguagem simples e clara, um pouco mais enfaticamente e eloquentemente do que estamos acostumados a ouvir; e ele deve nos agradar e lisonjear ao contar acalmando os nossos medos e estimulando as nossas esperanças e a nossa autoestima.

Quando um Artista – seja na Astronomia, como Copérnico, na Antropologia, como Ibsen ou na Anatomia, como Darwin – seleciona um conjunto muito grande de fatos, muito recôndito ou muito “lamentável” para receber consentimento instantâneo de todos; quando ele apresenta conclusões que entrem em conflito com crenças ou preconceitos populares; quando ele emprega uma linguagem que não é geralmente inteligível a todos; em tais casos ele deve se satisfazer em apelar para os poucos. Ele deve esperar que o mundo desperte para o valor da sua obra.

Quanto maior ele for, mais individual e menos inteligível ele parecerá ser, embora na realidade ele seja mais universal e mais simples do que qualquer um. Ele deve ser indiferente a qualquer coisa exceto sua própria integridade na realização e imaginação de si mesmo.

Notas de Rodapé   
“Nós não temos nada a ver com o proscrito e o incapaz: que eles morram na sua miséria. Pois eles não sentem. Compaixão é o vício dos reis: dominai o miserável e o fraco: esta é a lei do forte: esta é a nossa lei e a alegria do mundo. Não pensai, ó rei, sobre aquela mentira: Que Tu Deves Morrer: verdadeiramente tu não morrerás, mas viverás. Então que isto seja entendido: Se o corpo do Rei se dissolver, ele permanecerá em puro êxtase para sempre. Nuit! Hadit! Ra-Hoor-Khuit! O Sol, Força e Visão, Luz; estes são para os servidores da Estrela e da Cobra.” – AL II:21 

Liber Resh vel Helios por Aleister Crowley


0. Estas são as adorações a serem realizadas pelos aspirantes à A∴A∴.

1. Que ele cumprimente o Sol ao amanhecer, de frente para o Leste, dando o sinal do seu grau. E que ele diga em voz alta:

Eu saúdo a Ti que és Ra na Tua ascensão, e também a Ti que és Ra na Tua força, que viajas por sobre os Céus na Tua barca ao levantar do Sol.
Tahuti permanece na proa em Seu esplendor, e Ra-Hoor sustenta o leme.
Saúdo a Ti das Moradas da Noite!

2. Também, ao Meio-Dia, que ele cumprimente o Sol, de frente para o Sul, dando o sinal do seu grau. E que ele diga em voz alta:

Eu saúdo a Ti que és Ahathoor no Teu triunfar, e também a Ti que és Ahathoor na Tua beleza, que viajas por sobre os Céus na Tua barca ao Curso médio do Sol.
Tahuti permanece na proa em Seu esplendor, e Ra-Hoor sustenta o leme.
Saúdo a Ti das Moradas da Manhã!

3. Também, ao Pôr do Sol, que ele cumprimente o Sol, de frente para o Oeste, dando o sinal do seu grau. E que ele diga em voz alta:

Eu saúdo a Ti que és Tum no Teu descender, e também a Ti que és Tum na Tua alegria, que viajas por sobre os Céus na Tua barca ao Pôr do Sol.
Tahuti permanece na proa em Seu esplendor, e Ra-Hoor sustenta o leme.
Saúdo a Ti das Moradas do Dia!

4. Finalmente, à Meia-Noite, que ele cumprimente o Sol, de frente para o Norte, dando o sinal do seu grau, E que ele diga em voz alta:

Eu saúdo a Ti que és Khephra no Teu ocultar, e também a Ti que és Khephra no Teu silêncio, que viajas por sobre os Céus na Tua barca à Meia-Noite do Sol.
Tahuti permanece na proa em Seu esplendor, e Ra-Hoor sustenta o leme.
Saúdo a Ti das Moradas da Noite.

5. E após cada uma destas invocações tu darás o sinal de silêncio, e em seguida tu realizarás a adoração que te é ensinada pelo Teu Superior. Então, que Te prepares para a santa meditação.

6. Também, é melhor que nestas adorações tu assumas a forma Divina d’Aquele a quem tu adoras, como se tu de fato se unisse a Ele na adoração d’Aquilo que está para além Dele.

7. Portanto tu estarás sempre consciente da Grande Obra que tu assumiste realizar e, portanto tu serás fortalecido para buscá-la na realização da Pedra dos Sábios, o Summum Bonum, Sabedoria Verdadeira e Felicidade Perfeita.[1]

Notas de Rodapé    
O estudante que desejar consultar os horários para a realização do Resh, poderá utilizar a ferramenta Αἰών β, desenvolvida pelo Espaço Novo Æon e dedicada ao cálculo das datas do calendário do Æon de Hórus. Para consultar basta informar o local (através de Geolocalização) e a data e verificar os resultados na aba Hora do Resh. Αἰών β pode ser acessado em www.thelema.com.br/aion. 

Das Consagrações por Aleister Crowley


Das Consagrações: com um Tratado da Natureza e da Criação do Elo Mágico
por Aleister Crowley

Consagração é a dedicação ativa de algo para um propósito único. Um banimento impede o seu uso para qualquer outro propósito, mas permanecerá inerte até ser consagrado. A purificação é feita pela água e o banimento pelo ar cuja arma é a espada. A consagração é feita pelo fogo simbolizado, normalmente, pela lâmpada sagrada.[1]

Na maioria dos rituais as duas operações são realizadas de uma vez, ou (pelo menos) o banimento possui uma importância maior e as maiores dores parecem que são extirpadas com ele; mas à medida que o estudante avança em direção ao Adeptado, os banimentos diminuem em importância, pois passam a ser desnecessários. O Círculo do Magista aperfeiçoa-se por conta do constante trabalho Mágico. No real sentido dessa palavra, ele nunca sairá do Círculo durante toda a sua vida. Mas a consagração, sendo a aplicação de uma força positiva, pode sempre ser trabalhada até se aproximar da perfeição. O sucesso completo em banimento logo é atingido, mas não pode existir perfeição no caminho para a santidade.

O método de consagração é muito simples: pegue o bastão ou o óleo santo e desenhe o símbolo supremo da força a qual você dedicará no objeto a ser consagrado. Confirmando essa dedicação em palavras, invocando o Deus apropriado para habitar o templo puro que você preparou para Ele. Faça isso com fervor e amor como se fosse equilibrar o desprendimento do gelo, sendo a atitude mental apropriada para banir.[2]

As palavras de purificação são: Asperges me, Therion, hyssopo, et mundabor; lavabis me, et super nivem dealbabor.[3]

As da consagração: Accendat in nobis Therion ignem sui amoris et flammam æternæ caritatis.[4]

Como os iniciados do VIIº O.T.O. estão cientes, significa mais do que aparenta.

II
É estranho que nenhum escritor de Magia tenha tratado de um assunto tão importante quanto o Elo Mágico. Poderia até ser chamado de Elo Perdido. Aparentemente foi tido como já conhecido e só escritores leigos em Magia como o Dr. J. G. Frazer perceberam a vital importância do tema.

Vamos considerar a natureza da Magia sob um espírito científico e, se pudermos, desconsiderando as orientações mais antigas sobre ela.

O que é uma Operação Mágica? Ela pode ser definida como qualquer evento na natureza causado pela Vontade. Não devemos excluir o crescimento da batata ou transações bancárias dessa definição.

Um exemplo simples de Ato Mágico: um homem assoar o seu nariz. Quais as condições para o sucesso da Operação? Primeiro: que a Vontade do homem seja de assoar o nariz; segundo, que ele tenha um nariz capaz de ser assoado; terceiro, que ele tenha o domínio de um aparato capaz de expressar a sua Vontade espiritual em termos de força material e aplicar tal força ao objeto que ele quer afetar. A sua Vontade deve ser tão forte e focada quanto a de Júpiter e que o seu nariz seja incapaz de resistir; porém, a menos que elo seja estabelecido via a utilização dos seus nervos e músculos de acordo com as leis psicológicas e físicas, o nariz permanecerá como está por toda a eternidade.

Escritores de Magia tem sido implacáveis em seus esforços para nos ensinar a preparação da Vontade, mas parecem ter considerado que nenhuma precaução adicional fosse necessária. Existe um caso marcante de uma epidemia de tais erros cuja história é familiar a todos. Refiro-me à Ciência Cristã e às doutrinas relacionadas de “curas mentais” e semelhantes. A teoria deles, despojada dos floreios dogmáticos, é boa Magia, do seu tipo característico negroide. A ideia está até correta: a matéria é uma ilusão criada pela Vontade através da mente e, consequentemente, suscetível às ordens do seu criador. Mas a prática é falha. Eles não desenvolveram uma técnica científica para aplicação da Vontade. Seria como esperar que pessoas fossem transportadas pelo vapor caldeira de Watt sem as locomotivas.

Vamos aplicar essas considerações sobre Magia no sentido restrito que sempre foi compreendido até Mestre Therion[5] ampliá-lo para cobrir todas as operações da Natureza.

Qual a teoria implícita em rituais como os da Goetia? O que o Magista faz? Ele invoca um Deus e esse Deus leva à aparição de um espírito cuja função é realizar a Vontade do magista naquele momento. Não existe qualquer sinal do que poderia ser chamado de mecanismo no método. O exorcista dificilmente assume as dores da preparação de uma base material para o espírito encarnar salvo uma conexão de si mesmo com o sigilo. Ele, aparentemente, presumiu que o espírito já possuía os meios de funcionar na matéria. A concepção assemelha-se a de um garoto pedindo ao seu pai para ordenar o mordomo a fazer alguma coisa. Em outras palavras: a teoria é totalmente anímica. As tribos selvagens descritas por Frazer possuem uma abordagem muito mais científica. O mesmo pode ser dito das bruxas que pareciam ser mais sábias do que os taumaturgos que as desprezaram. Elas, pelo menos, fizeram imagens de cera – identificadas pela consagração – das pessoas que desejavam controlar. Elas, ao menos, se valeram das bases apropriadas para manifestações Mágicas tais como sangue e outros veículos de força animal junto com vegetais apropriados tais como ervas. E também foram cuidadosas em colocar seus itens enfeitiçados em contato real – material ou astral – com suas vítimas. Oposto a isso, existem os exorcismos clássicos que, a despeito de tudo o que aprenderam, carecem desse requisito básico. Agem como imbecis que escrevem cartas, mas não as postam.

Nunca é demais dizer que essa falha em compreender as condições de sucesso contribuiu para o descrédito em Magia até Eliphas Levi assumir a tarefa de reabilita-la há duas gerações. Mas até ele (que considerou a Magia como uma fórmula universal expondo luminosamente seus estudos profundos) não deu atenção à questão do Elo Mágico apesar de ter afirmado em vários lugares que ela era essencial ao Trabalho. Ele fugiu da questão fazendo o petitio principio[6] da Luz Astral atribuindo a ela o poder de transmitir todos os tipos de vibrações. Em lugar nenhum ele entra em detalhes de como os efeitos são produzidos. Ele não nos informa das leis qualitativas e quantitativas da sua Luz (o estudante treinado cientificamente perceberá a analogia entre o postulado de Levi e o da ciência comum in re[7] no éter luminífero).

É deplorável que ninguém tenha registrado de forma sistemática os resultados de nossas investigações da Luz Astral. Não temos tratados das propriedades ou das leis nessa esfera; ainda que fossem suficientemente marcantes. Podemos afirmar vagamente que, na Luz Astral, dois ou mais objetos podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo sem interferência entre si e perder suas formas.

Nesta Luz, objetos podem mudar as suas aparências totalmente sem que suas Naturezas sejam afetadas. Uma mesma coisa pode revelar-se em um número infinito de aspectos; de fato, ela se caracteriza por fazer isso, da mesma forma que um escritor ou um pintor mostra-se numa sucessão de novelas ou pinturas, cada uma sendo completa em si mesma, mas sendo ele mesmo em diversas formas, embora cada uma pareça completamente distinta aos seus amigos. Nela pode-se “voar sem asas e ser veloz sem os pés”; pode-se viajar sem movimento e comunicar-se sem utilizar os meios mais comuns de expressão. Tornam-se insensível ao calor, frio, dor e outras formas de percepção, ao menos do jeito que são familiares a nós via o nosso corpo. Os objetos existem, porém são percebidos por nós e nos afetam, mas de maneira diferente. Na Luz Astral estamos presos ao que é, superficialmente, uma série totalmente diferente de leis. Deparamo-nos com obstáculo de um tipo estranho e sutil e podemos supera-los através de uma energia e astúcia muito diferentes das que nos servem na vida terrestre. Na Luz Astral os símbolos não são convenções, mas realidade ainda que os seres que encontramos nela – ao contrário – sejam símbolos das realidades da nossa própria natureza. Nossas operações nessa Luz são, de fato, aventuras de nossos próprios pensamentos personificados. O universo é uma projeção de nós mesmos, uma imagem tão irreal quanto nossos rostos num espelho – a forma necessária de expressão – ainda que o rosto não mude a menos que o façamos.[8] O espelho pode ser distorcido, embaçado, mal feito ou estar rachado sendo assim o nosso reflexo falso para a nossa própria representação simbólica. Nessa Luz, porém, tudo o que fazemos é descobrir a nós mesmos por uma serie de hieróglifos e as mudanças que aparentemente operamos são ilusões num sentido objetivo.

Porém a Luz nos serve dessa maneira, ela nos capacita a nos vermos e nos ajuda mostrando o que estamos fazendo. Da mesma forma que um relojoeiro usa lentes que ampliam e, por consequência, falseiam a imagem dos componentes que ele está consertando. Igual, também, a um escritor que emprega caracteres arbitrários seguindo certas convenções para capacitar o leitor a aproximar-se das suas ideias.

Essas são algumas das principais características da Luz Astral. A suas leis quantitativas diferem pouco daquelas da física material. Magistas tem sido frequentemente tolos em supor que todos os tipos de Operações Mágicas são igualmente fáceis. Eles parecem ter assumido que o “grande poder de Deus” é infinito onde todos os finitos são insignificantes. “Um dia para o Senhor é mil anos” é a primeira de suas leis de Movimento. “A fé move montanhas” eles dizem e desdenhando a medida da fé ou das montanhas. Se você mata uma galinha utilizando Magia, por que não destruir um exército da mesma maneira? “Com Deus todas as coisas são possíveis”.

Este absurdo é um erro do mesmo tipo daquele mencionada anteriormente. Os fatos são completamente opostos. Dois e dois fazem quatro no Astral da mesma forma que em qualquer outro lugar. A distância do alvo Mágico e a precisão do rifle Mágico são fatores no sucesso do tiro Mágico na mesma forma que em Bisley. A lei da gravitação Mágica é tão rígida quanto à de Newton. A lei dos Quadrados Inversos pode não se aplicar, mas alguma lei sim. Isso é para tudo. Você não pode produzir uma tempestade a meemos que o material exista no ar naquele momento e um Magista que pudesse fazer chover em Cumberland falharia lamentavelmente no Saara. Pode-se fazer um talismã para conseguir o amor de uma vendedora e funcionar, mas falhar no caso de uma condessa – ou vice versa. Pode-se impor a Vontade numa fazenda e ser esmagado pela de uma cidade – ou vice versa. O MESTRE THERION, com todo o seu sucesso em todos os tipos de Magia, às vezes mostra-se impotente na realização de façanhas que qualquer amador seria capaz de fazer, porque ele colocou a sua Vontade contra a do mundo tendo realizado a Tarefa de um Magus que é estabelecer a palavra da Sua Lei no todo da humanidade. Ele conseguiu, sem dúvida, mas Ele dificilmente espera ver mais do que um lampejo do Seu produto durante a Sua presente encarnação. Mas Ele se recusa a empregar, por menor que seja, uma fração da Sua força em trabalhos estranhos à sua OBRA, embora possa parecer óbvio ao espectador que a sua Virtude esteja em transformar pedras em pães ou qualquer outra forma de facilitar as coisas para Si.

Estando tais considerações bem compreendidas podemos retornar à questão de estabelecer um Elo Mágico. No caso supracitado, FRATER PERDURABO confeccionou o Seu talismã para invocar o Seu Sagrado Anjo Guardião[9] de acordo com a Magia Sagrada de Abramelim, O Mago. O Anjo escreveu no lâmem a Palavra do Æon. O Livro da Lei[10] é este escrito. A este lâmem o Mestre Therion concedeu vida pela devoção da Sua própria a ele. Sendo assim, podemos considerar esse talismã, a Lei, como o mais poderoso já feito na história, pois aqueles anteriores, do mesmo tipo, tinham o escopo limitado pelas condições da raça e do país. O talismã de Maomé, Allah, foi bom apenas da Pérsia aos Pilares de Hércules. O de Buda, Anatta, operou apenas no Sul e no Leste da Ásia. O novo talismã, Thelema, é o mestre deste planeta.

Veja agora como a questão do Elo Mágico aparece! Não importa quão poderosa seja a verdade de Thelema, ela não pode prevalecer a menos que seja aplicada a qualquer um pela humanidade. Enquanto o Livro da Lei permanecesse um Manuscrito, ele afetaria o pequeno grupo onde circulava. Ele teve que ser colocado em ação pela a Operação Mágica da publicação. Quando foi feito, não aconteceu da forma adequada. Suas determinações de como fazer não foram totalmente seguidas. Houve dúvida e rejeição na mente de FRATER PERDURABO que dificultaram o trabalho. Ele estava indiferente, mas, ainda assim, o poder intrínseco da verdade da Lei e o impacto da publicação foram suficientes para abalar o mundo de tal maneira que uma guerra aconteceu e as mentes dos homens foram mexidas de um jeito misterioso. A segunda onda veio pela republicarão do Livro em Setembro de 1913 e, desta vez, o poder dessa Magia irrompeu e causou uma catástrofe na civilização. Nessa hora o MESTRE THERION estava oculto, reunindo suas forças para a onda final. Quando o Livro da Lei e seus Comentários foram publicados, com as forças de toda a Sua Vontade em perfeita obediência às instruções que foram negligenciadas o resultado foi incomensuravelmente mais efetivo. O evento estabelecerá o reino da Criança Coroada e Conquistadora em todo o planeta e todos os homens curvar-se-ão à Lei, que é “sob vontade”.

Este é um caso extremo, mas existe uma lei apenas para governar tanto o pequeno quanto o grande. As mesmas leis descrevem e medem os movimentos da formiga e das estrelas. A luz delas não mais rápida do que a de uma centelha. Em toda operação de Magia o elo deverá ser estabelecido corretamente. O primeiro requisito é a aquisição da força adequada do tipo necessário ao propósito. Devemos ter eletricidade em certo potencial na quantidade suficiente que desejamos para esquentar comida num forno. Necessitamos de mais energia para abastecer uma cidade do que para ser utilizada num telefone. Nenhum outro tipo de força servirá. Não podemos usar a força do vapor para impulsionar um avião ou nos embebedar. Devemos aplicá-la na intensidade adequada da maneira correta.

Assim é um absurdo invocar o espírito de Vênus para conseguir o amor de uma Imperatriz, a menos que tomemos medidas para transmitir a influência da operação para a tal senhora. Por exemplo, podemos consagrar uma carta expressando a nossa Vontade ou se soubermos como, usar algum objeto relacionado à pessoa que objetivamos controlar, como uma mecha de cabelo ou um lenço estando numa sutil conexão com a aura dela. Mas para fins materiais é melhor possuir meios materiais. Não devemos confiar em linha fina para pescar salmão. A nossa vontade de matar um tigre é mal conduzida por um tiro de calibre pequeno a uns cem metros. O nosso talismã deve ser um objeto adequado para a natureza da nossa Operação e devemos ter meios para aplicar a força de um jeito que naturalmente incutirá obediência na parte da Natureza que estamos tentando mudar. Se alguém deseja a morte de um pecador, não basta odiá-lo, até mesmo se partirmos do princípio que as vibrações do pensamento sejam suficientemente poderosas para modificar a Luz Astral e impregnar a sua intenção de certa maneira, como acontece com os mais sensíveis. É muito mais efetivo usar a mente e músculos, alimentados pelo ódio, e fazer uma adaga e enfia-la no coração do inimigo. Deve-se fornecer ao ódio uma forma física da mesma ordem daquela usada pelo inimigo na sua manifestação. O espírito só pode entrar em contato com o seu próprio através dos meios dessa criação mágica de fantasmas, na mesma maneira, só pode-se comparar a mente de duas pessoas (uma parcela dela) expressando-as em alguma forma como um jogo de xadrez. Não se pode usar peças de xadrez contra uma pessoa a menos que ela concorde em usa-las da mesma forma que o oponente. A mesa e os homens formam o Elo Mágico pelo qual se pode provar a força de um vencendo o outro. O jogo é um dispositivo pelo qual você força uma pessoa a entregar o seu rei, um ato físico que obedece a sua vontade, mesmo que ele seja o dobro do seu tamanho.

Esses princípios gerais deveriam capacitar o estudante a compreender a natureza do trabalho em se estabelecer um Elo Mágico. É impossível dar instruções detalhadas, pois cada caso necessita de considerações distintas. Às vezes é muito difícil conceber um método correto.

Lembre-se que Magia inclui todos os atos, sejam quais forem. Qualquer coisa pode servir como uma arma Mágica. Para impor a Vontade de alguém numa nação, o jornal pode ser o talismã, um triângulo de uma igreja ou um circulo de um Clube. Para conseguir uma mulher, um pantáculo pode ser um colar, para descobrir um tesouro, uma baqueta pode ser a caneta de um escritor ou o encantamento de uma canção popular.

Diversos fins, diversos meios; é importante lembrar a essência da operação, que ela será um sucesso tanto pela pureza da intensidade quanto por encarnar essa vontade num corpo apropriado para expressá-la, um corpo tal que o impacto da vontade na manifestação física da ideia causará a mudança fazendo com que aconteça o desejado. Por exemplo: é de a minha vontade tornar-me um médico famoso? Eu banirei todos os “espíritos hostis” tais como a preguiça, interesses outros e prazeres que atrapalhem o meu “círculo”, o hospital; eu consagro minhas “armas” (minhas habilidades) para estudar medicina, eu invoco os “Deuses” (autoridades médicas) estudando e obedecendo as suas leis contidas em seus livros. Eu incorporo as “Formulæ” (os meios que são causas e efeitos das doenças) num “Ritual” (a minha maneira particular de restringir a doença de acordo com a minha vontade). Eu persisto nessas conjurações ano após ano, fazendo os gestos Mágicos de cura até eu forçar a aparência visível do Espírito do Tempo e fazê-lo reconhecer-me como mestre. Eu me valho dos meios apropriados na medida correta e aplicando da melhor forma aos meus propósitos projetando a minha ideia de ambição num curso de ação tal que induza em outros uma ideia que satisfaça a minha. Eu faço a minha Vontade se manifestar aos sentidos, sentidos estes que abalam as Vontades dos meus próximos; mente trabalhada na mente através da matéria.

Eu não “sentei e fiquei esperando” um título de médico, seja apenas desejando, seja por um “ato de fé” ou pedindo a Deus “para mexer no coração do Faraó” como os nossos falsos milagreiros de cunho místico, medieval ou mental fizeram e ainda fazem, sendo eles confusos e sentimentais o suficientes para nos dizer o que fazer.

Algumas observações gerais no Elo Mágico podem estar corretas na ausência de detalhes; não se pode fazer um Manual de Como Cortejar com um tipo de Abre de Sésamo para cada Caverna de cada Ladrão, não mais do que se pode dar a um bandido uma pasta contendo todas as combinações existentes de todos os cofres do mundo. Mas podem-se apontar as diferentes formas de se fazer: pela lisonja, eloquência, algumas pela aparência ou classe social, também pela saúde, outras pelo ardor e pela via autoritária. Não podemos exaurir as combinações do Xadrez do Amor, mas podemos enumerar as jogadas principais: as flores, os chocolates, um jantar, um talão de cheques, um poema um passeio ao luar, uma certidão de casamento, o chicote e um voo.

O Elo Mágico pode ser classificado em três tipos principais na medida em que envolve: um plano e uma pessoa, a segunda, um plano e duas ou mais pessoas e a terceira, dois planos.

No primeiro tipo o mecanismo da Magia – o instrumento – já existe. Por exemplo: quero curar o meu corpo, aumentar a minha própria energia, desenvolver os meus poderes mentais ou inspirar a minha imaginação. Aqui o Exorcista e o Demônio já estão conectados, consciente e subconscientemente, por um bom sistema simbólico. A Vontade é fornecida pela Natureza com um aparato equipado adequadamente para transmitir e executar suas ordens.

Basta inflamar a Vontade no tom necessário e dar as ordens; elas serão cumpridas imediatamente, a menos que – como em casos de doença – o aparato esteja danificado além de qualquer possibilidade de conserto pela arte da Natureza. Pode ser necessário em casos como esses a ajuda de “espíritos” internos através da “purificação” dos remédios e do “banimento” da dieta ou qualquer outro meio distinto.

Pelo menos não existe a necessidade de qualquer dispositivo especial ad hoc para efetuar o contato entre o Círculo e o Triângulo. Operações desse tipo são, portanto, muito bem sucedidas várias vezes mesmo quando o Magista possui pouco ou nenhum conhecimento técnico de Magia. Qualquer escroque pode “se recompor”, dedicar-se ao estudo, romper hábitos negativos ou vencer a covardia. Este tipo de trabalho, ainda que fácil, é o mais importante, pois envolve a iniciação em si no seu sentido mais elevado. Ela estende-se ao Absoluto em todas as dimensões, ela implica nas análises mais profundas e nas sínteses mais compreensíveis. Em um certo sentido é o único tipo de Magia necessária ou apropriada ao Adepto, pois ela inclui ambos o Conhecimento e a Conversação do Sagrado Anjo Guardião e a Aventura do Abismo.

O segundo tipo contém todas as operações pelas quais o Magista visa impor a sua Vontade em objetos fora do seu controle, mas por dentro dessas outras vontades que são simbolizadas através de um sistema similar ao dele próprio. Isto é, podem ser obrigados a satisfazer a Vontade naturalmente através de uma percepção semelhante a eles.

Assim, uma pessoa pode querer o conhecimento contido neste livro. Sem saber que tal livro exista pode-se induzir alguém que o conheça a dar-lhe um exemplar. A operação consistiria em inflamar a Vontade de possuir o tal conhecimento ao ponto de devotar a vida inteira a isso, expressar essa vontade procurando pessoas que poderiam ajudar e impô-la mostrando o entusiasmo e seriedade necessários para que elas indiquem o livro ideal.

Parece muito simples? Esse lugar comum poderia ser, de fato, a maravilhosa Magia que assusta as pessoas? Sim, mesmo essa trivialidade é um exemplo de como a Magia funciona.

Mas a prática acima pode dar errado. Então se recorre à magia no sentido convencional do termo, através da construção e carregamento de um Pantáculo específico para o que se deseja; esse Pantáculo deve causar uma impressão tal na Luz Astral que as vibrações agiriam em alguma consciência alheia para restaurar o equilíbrio trazendo o livro.

Imaginemos agora algo mais sério: suponha que eu queira conquistar uma mulher que não gosta de mim além de amar outro. Neste caso, não só a Vontade dela, mas também a do parceiro devem curvar-se à minha. Não tenho controle direto sobre nenhum deles. Mas a minha Vontade se conecta com a dela por meio de nossas mentes, basta que eu faça a minha mente dominar a dela através dos meios de comunicação; a mente dela, assim, transmitirá a ideia para a própria Vontade que repetirá a decisão da mente e o seu corpo se renderá a mim.

O Elo Mágico existe, sendo apenas uma instância mais complexa em oposição à simplicidade daquela do Primeiro Tipo.

Essa transmissão da Vontade possui várias formas de dar errado: um mau entendimento do assunto, um estado de espírito negativo, eventos externos que interfiram, o tal amado dela pode ser melhor do que eu em Magia; a Operação em si pode agredir a natureza de muitas maneiras; pode haver uma incompatibilidade inconsciente entre mim e ela, eu me enganar achando que gostasse dela. Tais eventos bastam para estragar a operação, da mesma forma que nenhum esforço de Vontade poderá misturar óleo com água.

Eu posso fazer a coisa normalmente como cortejar, por exemplo, porém, magicamente, posso atacá-la via o astral enfraquecendo a sua aura de modo que ela não se relaciona bem como o namorado. A menos que descubram a causa, pode acontecer uma briga e o Corpo de Luz dela, faminto e confuso, causar algum sofrimento permitindo-o ser dominado pelo Magista.

No tipo dois: eu gostaria de recuperar o meu relógio roubado na multidão.

Aqui eu não tenho como controlar os músculos que poderiam me devolver o relógio ou atuar na mente que os comanda. Não sou capaz nem mesmo de informar a minha mente dessa Vontade, pois eu não sei onde o objeto está. Mas eu sei que a mente do ladrão é basicamente igual à minha e posso tentar estabelecer um Elo Mágico com ela comunicando a perda na esperança de encontrar o relógio, tomando o cuidado de acalmá-lo prometendo imunidade e apelar para o motivo que o fez cometer o ato oferecendo uma recompensa. Também posso usar a fórmula inversa: encontrá-lo enviando “espíritos conhecidos” como a polícia e assim fazer o ladrão obedecer a minha vontade.[11]

Novamente, pode acontecer de um feiticeiro possuir um objeto que pertence magicamente a um milionário, como um contrato, por exemplo, que é tão parte dele quanto o próprio fígado; o feiticeiro pode, então, dominar a vontade do homem através de intimidação. O seu poder de publicar o documento é tão efetivo quanto agredi-lo fisicamente.

Tais causas “naturais” podem ser transpostas em termos mais sutis, por exemplo: pode-se dominar outro homem, até mesmo um estranho, através de pura concentração da vontade, cerimonialmente ou, por outro lado, incrementando até atingir a força necessária. Mas, de um jeito ou de outro, essa vontade irá colidir com a da vítima; via os meios comuns de contato se possível, se não, atacando algum ponto sensível em seu subconsciente. Mas a vara mais moderna não vai pescar um peixe a menos que exista uma linha para uni-los.

O Terceiro Tipo é caracterizado pela ausência de qualquer tipo de elo entre a Vontade do Magista e o controle do objeto a ser afetado (O Segundo Tipo se parece com o Terceiro quando não existi quaisquer possibilidades de abordar a vítima via meios normais, coisa que às vezes acontece).

Este tipo de operação necessita não apenas um imenso conhecimento de técnicas de Magia combinadas como um vigor e habilidade formidáveis, mas também de um grau Místico muito raro que, quando encontrado, geralmente se caracteriza por um desinteresse em assuntos relativos à Magia. Suponha que eu queira fazer uma tempestade. Esse evento está além do meu controle ou de qualquer outro homem, é inútil ocupar a mente com isso. A natureza é indiferente aos assuntos dos homens. Uma tempestade é causada por condições atmosféricas numa escala tão grande que os esforços de todos nós, vermes da Terra, mal dispersariam uma nuvem, mesmo se pudéssemos alcança-la. Como pode então um Magista, ele que, acima de todas as coisas, é um conhecedor da Natureza, promover um absurdo desses, do tipo usar o Martelo de Thor? A menos que seja simplesmente maluco, ele deve ser iniciado numa Verdade que transcende os fatos aparentes. Ele deve estar consciente que a natureza é um continuum, que a sua mente e o seu corpo são consubstanciais com a tempestade, são igualmente expressões da Existência Única, todos sendo da mesma ordem de artifícios onde o Absoluto aprecia-se. Ele deve, também, ter assimilado o fato que a Quantidade é apenas uma forma da Qualidade, que todas as coisas são formas da Substância Única, suas medidas são formas da relação entre elas. Ouro e chumbo não são simples letras, sem qualquer sentido em si mesmas ainda que indicando como escrever o Nome Único; a diferença entre o volume de uma montanha e o de um rato não passa de um método de diferencia-los, da mesma forma que a letra “m” não é maior do que a “i” em qualquer sentido real da palavra.[12]

O nosso Magista, tendo isto em mente, provavelmente deixará as tempestades acumularem eletricidade e, se decidir (depois de tudo) alegrar o dia, ele fará o seguinte: quais elementos são necessários para as suas chuvas? Ele deve conseguir armazenar energia elétrica e o tipo certo de nuvem pode possuir. Ele tem que saber que a energia não virá para a terra de modo suave e silencioso. Ele deve gerar um estresse tão grande a ponto de se tornar intolerável e irromper explosivamente. Então ele, como um homem, não pode orar a Deus para que o faça, pois os Deuses não passam de nomes das forças da Natureza.

Mas, como um Místico, ele sabe que todas as coisas são espectros da Coisa Única e que elas podem ser tiradas de um lugar e colocadas em outro. Sabe também que todas as coisas estão em si mesmo, que ele é Uno com Tudo. Assim, não existe impedimento teórico em converter a ilusão de um céu aberto em um tempestuoso. Por outro lado, ele está consciente, como um Magista, de que as ilusões são geridas pelas suas leis da natureza. Ele sabe que duas vezes dois são quatro, apesar de ambos, “dois” e “quatro”, serem apenas propriedades do Uno. Ele pode usar a identidade Mística em todas as coisas num certo sentido científico. É verdade que a experiência com céus abertos e tempestades prova que a sua natureza contém elementos relacionados com ambos, caso contrário eles não poderiam afetá-lo. Ele é o Microcosmo do seu próprio Macrocosmo, sendo ou não qualquer um ou outro além do conhecimento sobre eles. Ele deve despertar em si as ideias irmanadas à Tempestade, reuni-las em objetos da mesma natureza para uso em talismãs e energizá-los intensamente através de um cerimonial Mágico, isto é, insistindo na divindade deles, para que inflamem interna e externamente, através de suas ideias energizando os talismãs. Surge, assim, uma vibração vívida de alto potencial num certo grupo de substâncias afins, e também as forças, se espalhando como ondas oriundas de uma pedra atirada num lago, subindo e descendo até que a perturbação seja compensada. Da mesma forma que um punhado de fanáticos, imersos na insanidade de uma verdade exagerada pode infectar todo um país durante um certo tempo inflamando os pensamentos de vizinhos, assim o Magista cria uma comoção perturbando o equilibro de poder, ele transmite a sua vibração particular como um radialista faz com a onda de rádio, a relação com o níveis da onda determina a sintonização.

Na prática, o Magista deve “evocar os espíritos da tempestade” identificando-se com as ideias de que os fenômenos atmosféricos são expressões da mesma maneira que a sua humanidade é uma expressão de si; conseguindo isso, ele deve impor a sua Vontade sobre eles pela qualidade da superioridade da sua inteligência e a integração do seu propósito nos impulsos aleatórios e nas interações caóticas.

Toda a Magia demanda extrema precisão na prática. É verdade que os melhores rituais nos dão instruções de como escolher os nossos veículos da força. No 777 encontramos “correspondências” de vários tipos de seres com diversos tipos de operações; assim tomamos ciência das armas, joias, figuras, drogas, perfumes, nomes etc. para utilizar em qualquer trabalho. Mas sempre se presume que a força invocada é inteligente e competente que ela irá dirigir-se como desejado sem delongas através desse método vibrações análogas.

A necessidade de cronometrar a força tem sido ignorada e assim, muitas operações, mesmo quando bem realizadas, tanto quanto as invocações, são tão inofensivas quanto acender pólvora molhada.

Mesmo que se presuma que a Vontade seja suficiente para determinar a direção e que evite a dispersão da força, não podemos estar seguros que ela agirá no objeto a menos que ele seja preparado previamente para recebê-la. O Elo deve ser perfeitamente estabelecido. O objeto deve possuir elementos simpáticos ao trabalho em questão. Não podemos transar com um tijolo ou fazer uma árvore entregar cartas.

Vimos que não podemos afetar nada externo a menos que o objeto esteja em nós de alguma forma. Fazendo em outro eu faço em mim mesmo. Se eu mato um homem eu destruo a minha vida na hora. Este é o significado mágico da chamada “Regra de Ouro” que não deveria estar no imperativo, mas no indicativo. Cada vibração desperta outras do seu campo em particular.

Existe assim alguma justificativa na assertiva dos autores mais antigos de Magia de que o Elo está implícito e não necessita de atenção especial. Na prática não existe nada mais certo do que confirmar a vontade da pessoa em todos os planos possíveis. A cerimônia deve ser confinada na formalidade dos ritos mágicos. Não devemos negligenciar nenhum meio para o nosso fim, nem desprezar o nosso bom senso ou duvidar da nossa sabedoria secreta.

Quando Frater I.A. estava em risco de morte no ano de 1899 e.v., Frater V.N.[13] e FRATER PERDURABO[14] invocaram o espírito Buer para manifestar-se visivelmente e curar o irmão, mas um deles também deu dinheiro para que se mudasse para um clima melhor do que o da Inglaterra. Ele se encontra vivo hoje.[15]

Que o Elo Mágico seja forte! É o “amor sob vontade” que afirma a identidade da Equação da obra, que torna o sucesso Necessidade.

Notas de Rodapé    
A ideia geral é que os três elementos ativos cooperem para afetar a terra; mas a terra em si pode ser utilizada como um instrumento. Sua função é a solidificação. O uso do Pantáculo é muito necessário em alguns tipos de operação, especialmente aquelas cujo objetivo envolve manifestação na matéria e a fixação numa forma (mais ou menos) permanente das forças sutis da Natureza. 
As lendas Hebreias mostram a razão das respectivas virtudes da água e do fogo. O mundo foi purificado pela água no Dilúvio e será consagrada pelo fogo no Juízo final. A “cerimonia real” não pode começar a menos que termine. 
Do latim, Asperge a mim, Therion, com hissopo, e eu serei purificado; lava-me e ficarei em uma brancura maior do que a da luz. 
Do latim, Que Therion ascenda em nós o Fogo de sua paixão e a chama do eterno amor.
Para mais informações sobre o Mestre Therion, acesse: www.ordoaa.com.br/arquivos/ht/bios_therion.htm. – Nota do Revisor. 
“petitio principii” (“petição de princípio”) é uma metáfora para encerrar uma discussão cansativa, como em um diálogo entre um pai e seu filho: “Faça porque sou o teu pai”. – Nota de Frater K∴. 
“in re”- efetivamente, realmente, possui um fundamento. – Nota de Frater K∴. 
Esta passagem não deve ser compreendida como uma asserção de que o Universo é puramente subjetivo. Ao contrário, a Teoria Mágica aceita a realidade absoluta de todas as coisas no sentido mais objetivo. Mas todas as percepções não são nem observador nem observado, elas são representações da relação entre eles. Não podemos inferir qualquer qualidade a um objeto como sendo independente de nossos sentidos ou como sendo em si mesmo o que nos parece. Nem podemos assumir que o que conhecemos seja mais do que um fantasma incompleto da sua causa. Não podemos nem mesmo determinar o significado de ideias como o movimento ou distinguir entre o tempo e o espaço, exceto em relação a um observador em particular. Por exemplo, se eu atiro um canhão duas vezes em um intervalo de 3 horas, um observador no Sol notaria uma diferença de 200.000 milhas no espaço entre os tiros, enquanto eu perceberia no “mesmo local”. Além disso, sou incapaz de perceber qualquer fenômeno exceto por meio dos instrumentos arbitrários dos sentidos, sendo assim é correto afirmar que o Universo como eu conheço é subjetivo sem negar a sua objetividade.  
Para mais informações sobre o Sagrado Anjo Guardião (S.A.G.), acesse: www.ordoaa.com.br/arquivos/amt/sag_admi.htm. – Nota do Revisor. 
O Livro da Lei pode ser acessado em www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon/livros/al-o-livro-da-lei/. – Nota do Revisor. 
O método cerimonial seria transferir ao relógio – naturalmente ligado a mim através da posse e do uso – um pensamento específico para assustar o ladrão e induzi-lo a desistir do objeto. Observando o efeito via clarividência sugerindo o alívio e a recompensa como consequência de devolvê-lo. 
O Professor Rutheford acha que não é teoricamente impossível construir um detonador que destruiria todos os átomos da matéria liberando a energia de um, assim as vibrações excitariam o resto desintegrando de forma explosiva. [Isto (“construir um detonador que destruiria todos os átomos da matéria liberando a energia de um”) foi feito em público pouco mais de 20 anos depois que 666 escreveu este livro, em Nagasaki e Hiroshima. – Nota de Frater K∴.]. 
Para mais detalhes sobre Frater V.N. acesse: www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon/ensaios/george-cecil-jones/. – Nota do Revisor. 
Frater Iehi Aour (Alan Bennett), Frater Volo Noscere (George Cecil Jones) e Frater Perdurabo (Aleister Crowley). 
Ele morreu alguns meses depois que este texto foi escrito, mas foi capaz de viver e trabalhar por proximamente 25 anos mais do que se permanecesse na Inglaterra. Quem se importa se foram os espíritos ou o dinheiro que fez com que o desejo do Mago se concretizasse? 

A palavra de Pecado é Restrição por Aleister Crowley


A interferência na vontade do outro é o grande pecado, pois isto implica na existência do outro. O sofrimento consiste nesta dualidade. Eu acho que possivelmente o significado maior ainda é atribuído à vontade.

O primeiro parágrafo é uma declaração ou definição geral de Pecado ou Erro. Qualquer coisa que seja que restrinja, impeça ou desvie a vontade, é Pecado. Ou seja, Pecado é o surgimento da Díada. Pecado é impureza.

O restante do parágrafo toma um caso particular como exemplo. Não haverá propriedade sobre a carne humana. O instinto sexual é uma das expressões mais profundamente assentadas da vontade; e ela não deve ser restringida, seja negativamente impedindo a sua livre função, ou positivamente insistindo na sua falsa função.

O que é mais brutal, tolher o crescimento natural ou deformá-lo?

O que é mais absurdo do que buscar interpretar este santo instinto como um grosseiro ato animal, separá-lo do entusiasmo espiritual sem o qual ele é tão estúpido quanto até mesmo insatisfatório para as pessoas interessadas?

O ato sexual é um sacramento da Vontade. Profaná-lo é o grande pecado. Toda expressão verdadeira dele é lícita; toda supressão ou distorção é contrária à Lei da Liberdade. Usar coação legal ou financeira para forçar, seja a abstenção ou a submissão, é inteiramente horrível, não natural e absurdo. Constrangimento físico, até certo ponto, não é tão seriamente errado; pois este tem as suas raízes no conflito sexual original que nós observamos nos animais, e tem sido muitas vezes o efeito do Amor excitado na sua forma mais elevada e nobre. Algumas das ligações mais apaixonadas e permanentes começaram com estupro. Realmente Roma foi fundada com base nisso. Similarmente, o assassinato de um cônjuge infiel é eticamente perdoável, num certo sentido; pois podem existir algumas estrelas cuja Natureza é extrema violência. A colisão de galáxias é um espetáculo magnífico, afinal. Porém não há nada de inspirador numa visita ao advogado de alguém. Naturalmente este é meramente o meu ponto de vista pessoal; uma estrela que viesse a ser um advogado poderia ver as coisas por outro ângulo! Ainda assim a indescritível variedade da Natureza, embora esta admita a crueldade e o egoísmo, não nos ofereces nenhum exemplo sobre o puritano e o pretensioso!

Entretanto, para a mente da Lei existe uma Ordem de Ir; e uma máquina é mais bonita, salvo para o Pequeno Garoto, quando funciona do que quando ela quebra. Então, a Máquina de Matéria-Movimento é uma máquina explosiva, com efeitos pirotécnicos; mas estes são apenas casuais.

As Leis contra o adultério estão baseadas na ideia que a mulher é uma propriedade, de modo que fazer amor com uma mulher casada é privar o marido dos seus serviços. Esta é a declaração mais franca e mais estúpida de uma situação de escravidão. Para nós, toda mulher é uma estrela. Portanto, ela tem o direito absoluto de transitar pela sua própria órbita. Não existe motivo pelo qual ela não deva ser uma dona de casa ideal, caso isto venha a ser a sua vontade. Mas a sociedade não tem o direito de insistir naquele padrão. Por razões práticas, foi quase necessário estabelecer tais tabus nas pequenas comunidades, tribos selvagens, onde a esposa nada mais era além de servente geral, onde a segurança das pessoas dependia de uma alta taxa de natalidade. Porém a mulher de hoje é economicamente independente, e se torna mais ainda a cada ano que passa. O resultado é que ela afirma insistentemente o seu direito de ter um número seja maior ou menor de homens ou bebês quanto ela queira ou possa conseguir; e ela desafia o mundo a interferir com ela. Mais poder para ela!

A Guerra testemunhou o florescer desta emancipação em quatro anos. Pessoas primitivas, as tropas australianas, por exemplo, estão dizendo que eles não se casarão com garotas inglesas, porque as garotas inglesas apreciam uma dúzia de homens por semana. Bem, quem quer se casar com elas? A Rússia já revogou formalmente o casamento. A Alemanha e a França tentaram ‘livrar as suas caras’ de uma maneira totalmente chinesa, ‘casando’ solteironas grávidas com soldados mortos!

A Inglaterra tem sido profundamente hipócrita, naturalmente, ao fazer pouco mais do que “abafar as coisas”; e está fingindo que tudo ‘segue dentro dos costumes’, embora cada púlpito é sacudido com o clamor de bispos com olhos de morcego, chiando a respeito da terrível imoralidade de todos exceto deles mesmos e dos seus coristas. As inglesas acima dos 30 anos têm direito de voto; e quando as jovens conseguirem, então adeus ao velho sistema do casamento.

A América transformou o casamento numa farsa pela multiplicação e confusão das Leis de Divórcio. Uma amiga minha que tinha se divorciado do seu marido foi realmente, três anos mais tarde, processada por ele por divórcio!!!

Mas a América nunca espera por leis; seu povo vai em frente. As mulheres americanas emancipadas, que sustentam a si mesmas já agem exatamente como o ‘rapaz solteiro’. Às vezes ela perde a cabeça, e tropeça em um casamento, e machuca o dedo do pé. Logo ela estará farta da insensatez. Ela perceberá o quão imbecil é se frustrar a fim de satisfazer os seus pais, ou para legitimar os seus filhos, ou para calar a boca dos vizinhos.

Ela terá os homens que quiser de forma tão simples quanto comprar um jornal; e se ela não gosta dos Editoriais, ou do Suplemento de Histórias em Quadrinhos, são apenas dois centavos que se foram, e ela pode comprar outro.

Burros cegos! que fingem que as mulheres são naturalmente castas! Os Orientais, que conhecem melhor todas as restrições do harém, da opinião pública, e daí em diante, se baseiam no reconhecimento do fato que a mulher é casta somente quando não há ninguém por perto. Ela arrebatará o bebê do seu berço, ou arrastará o cão para fora do seu canil, para provar o velho ditado: Natura abhorret a vácuo. Pois ela é a Imagem da Alma da Natureza, a Grande Mãe, a Grande Meretriz.

Deve ser bem observado que as Grandes Mulheres da História exerceram uma liberdade ilimitada no Amor. Sappho, Semiramis, Messalina, Cleopatra, Ta Chhi, Pasiphae, Clytaemnaestra, Helena de Tróia e, em tempos mais recentes, Joana d’Arc (segundo o relato de Shakespeare), Catarina II da Rússia, Rainha Elizabeth da Inglaterra, George Sand, “George Eliot”. Em oposição a estas podemos colocar apenas Emily Bronte, cuja repressão sexual era devido ao seu ambiente, e que deste modo explodiu na incrível violência da sua arte, e as místicas religiosas habituais, Santa Catarina, Santa Teresa, e assim por diante, cujos fatos da vida sexual foram cuidadosamente camuflados conforme os interesses dos deuses escravos. Porém, mesmo nestas circunstâncias, a vida sexual era intensa, pois os escritos de tais mulheres estão lotados com expressões sexuais apaixonadas e pervertidas, chegado até mesmo à morbidez e à verdadeira alucinação.

Sexo é a principal expressão da Natureza de uma pessoa; grandes Naturezas são sexualmente fortes; e a saúde de qualquer pessoa dependerá da liberdade daquela função.

(Vide Liber CI, “de Lege Libellum”, Cap. IV, em The Equinox III, I).

A Totalidade da Lei por Aleister Crowley


Naturalmente, existem leis menores do que esta, sendo detalhes, casos particulares, da Lei. Porém, a totalidade da Lei é Faze o que tu queres, e não existe lei além desta. Este assunto é tratado completamente em Liber CXI Aleph, e o estudante deve consultá-lo.

Muito melhor, que ele assuma que esta Lei seja a Chave Universal para todos os problemas da Vida, e que então a utilize para um caso em particular depois de outro. Conforme ele venha gradualmente a compreendê-la, ele ficará surpreso com a simplificação que ela provê para as questões mais obscuras. Então ele assimilará a Lei, e a tornará a norma do seu ser consciente; isto por si mesmo será o suficiente para iniciá-lo, para dissolver os seus complexos, para revelá-lo a si mesmo; e então ele alcançará o Conhecimento e a Conversação do seu Santo Anjo Guardião.

Eu mesmo pratiquei constantemente para provar a Lei através de muitos modos diferentes e em diversas esferas de pensamento, até ela ter se tornado absolutamente fixada em mim, de tal forma que ela pareça uma “equação idêntica”, realmente axiomática, e ainda assim não uma banalidade, porém uma autêntica Espada da Verdade para cortar qualquer nó ao seu toque.

Como prática ética da Lei eu formulei, a partir das palavras de um plano de estudos, a minha declaração dos

DIREITOS DO HOMEM

Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.

Não existe deus além do Homem.

O Homem tem o direito de viver pela sua própria Lei.
O Homem tem o direito de viver do jeito que quiser.
O Homem tem o direito de se vestir como quiser.
O Homem tem o direito de morar onde quiser.
O Homem tem o direito de se mover como quiser sobre a face da Terra.
O Homem tem o direito de comer o que quiser.
O Homem tem o direito de beber o que quiser.
O Homem tem o direito de pensar como quiser.
O Homem tem o direito de falar como quiser.
O Homem tem o direito de escrever como quiser.
O Homem tem o direito de moldar como quiser.
O Homem tem o direito de pintar como quiser.
O Homem tem o direito de esculpir como quiser.
O Homem tem o direito de trabalhar como quiser.
O Homem tem o direito de descansar como quiser.
O Homem tem o direito de amar como quiser, quando, onde e a quem ele quiser.
O Homem tem o direito de morrer quando e como quiser.
O Homem tem o direito de matar aqueles que lhe negarem estes direitos.

Esta declaração não deve ser considerada como individualismo degenerado. Sua harmonia com o estadismo é demonstrada nos Capítulos do Liber Aleph já citado – vide comentário sobre o Capítulo II verso 72.

O pensamento moderno, mesmo aquele mais superficial, é obrigado por Aiwaz a confirmar a Sua Lei, sem se saber sobre o que se trata. Por exemplo: “O sopro de Deus vindo de nenhum lugar que é chamado de Vontade; e é a única desculpa dos homens sobre esta terra”, foi escrito por um Homem Gordo tão trivial quanto Gilbert Keith Chesterton em A Hospedaria Voadora.

COMENTÁRIO: AL II:72
“Strive ever to more! and if thou art truly mine — and doubt it not, an if thou art ever joyous! — death is the crown of all.” – AL II:72

Não existe fim para o Caminho – a morte é a coroação de tudo.

Este esforço deve ser vigoroso. Nós não devemos vender nossas vidas pelo preço de um alfinete. “Soltem-me, cavalheiros! Farei um fantasma daquele que me impedir!”. A Morte é o Fim que coroa a Obra.

A evolução opera através da variação. Quando um animal desenvolve uma parte de si mesmo além dos outros, ele infringe a norma da sua espécie. Primeiramente, esse esforço é feito à custa de outros esforços, e parece como se, tendo sido afetado o equilíbrio geral, a Natureza estivesse em perigo. (Obviamente deve parecer assim aos olhos do observador casual – que provavelmente reprova e persegue o experimentador). Mas quando esta variação tem a finalidade de possibilitar uma mudança nova, ou mesmo prevista, no ambiente, e é recompensada por alguma parte excedente, ou alguma parte agora supérflua, embora uma vez útil para atender uma qualidade do ambiente que não mais ameaça o indivíduo, a adaptação é biologicamente proveitosa.

Obviamente, a ideia total de exercitar, mental ou fisicamente, é para desenvolver os órgãos envolvidos de uma maneira fisiológica e psicologicamente apropriada.

É pernicioso forçar qualquer faculdade para viver conforme uma lei alheia. Quando os pais insistem para que um garoto siga uma profissão que ele detesta, porque eles mesmos a preferem; quando Florence Nightingale lutou para abrir as janelas dos hospitais da Índia à noite; então o Ideal mutila e mata.

Todo órgão tem ‘nenhuma lei além de Faze o que tu queres’. Sua lei é determinada pelo histórico do seu desenvolvimento, e pelas suas atuais relações com os seus concidadãos. Nós não fortalecemos os nossos pulmões e os nossos membros por métodos idênticos, ou buscar os mesmos sinais de sucesso ao treinar a garganta do tenor e os dedos do violinista. Mas nisto todas as leis são iguais: elas concordam que poder e tom resultam de se praticar persistentemente o exercício apropriado sem sobrecarregar. Quando uma faculdade está sua função livremente, ela se desenvolverá; o teste é a sua disposição para ‘lutar sempre por mais’; ela se justifica por ser ‘sempre prazerosa’. Segue-se que a ‘morte é a coroação de tudo’. Pois uma vida que tenha cumprido todas as suas possibilidades cessa de ter um propósito; a morte é o seu diploma, por assim dizer; ela está pronta para se disponibilizar às novas condições de uma vida maior. Da mesma forma um estudante que tenha realizado o seu trabalho, morre para a escola, reencarna em barrete e toga, triunfa nas viagens, morre para os claustros e é renascido para o mundo.

Observe que o Arcano “Morte” no Tarô se refere a Escorpião. Este signo é tríplice: o Escorpião que se mata com seu próprio veneno, quando o seu ambiente (o anel de fogo) se torna intolerável; a Serpente que se renova ao trocar a sua pele, que é coroada e encapuzada, que se move por ondulações como a Luz, e concede Sabedoria ao homem ao preço de Trabalho Pesado e Mortalidade; e a Água que se ergue, com seus olhos sem pálpebras ousadamente curvados para o Sol. A “Morte” é, para o iniciado, como uma hospedaria à margem da estrada; ela marca um estágio cumprido; ela oferece um refresco, repouso e aconselhamento quanto aos seus planos para o amanhã.

Mas neste verso a questão principal é que a morte é a ‘coroa’ de tudo. A coroa é Kether, a Unidade; “Amor sob vontade” tendo sido aplicado a todas as possibilidades-Nuith de todas as energias-Khu de qualquer Estrela-central-Hadit, que a própria Estrela tenha exaurido perfeitamente, completando um estágio do seu curso. Portanto ela é coroada pela morte; e, sendo totalmente ela mesma, vive novamente ao atrair a sua Contraparte igual e oposta, com quem o ‘amor sob vontade’ é a realização da Lei, numa esfera mais sublime.

Porém não existem regras até que se as tenha encontrado: um homem que esteja partindo da Irlanda para o Saara faz bem em descartar coisas ‘indispensáveis’ e ‘apropriadas’ tais como capa impermeável e bengala de passeio por um turbante e uma adaga.

O homem ‘moral’ está vivendo pelas Leis da não-razão, e isto é estúpido e inadequado mesmo quando as Leis ainda são boas; pois ele é um mero mecanismo sem recursos, caso algum perigo que ainda não tenha sido previsto para ele no seu projeto original venha a ocorrer. Respeito pela rotina é a marca do homem de segunda-classe.

O homem ‘imoral’, desafiando as convenções ao falar alto na igreja, pode de fato estar ‘murmurando’; mas igualmente ele pode ser um sensitivo que tenha sentido o primeiro tremor de um terremoto.

Nós de Thelema encorajamos todas as variações possíveis; nós saudamos todo novo ‘esporte’; seu sucesso ou fracasso é o único teste do seu valor. Nós deixamos o filhote de galinha recém-saído do ovo cair na água, e rimos da sua agitação; e nós protegemos o ‘patinho feio’, sabendo que o Tempo nos dirá se ele é um jovem cisne.

Herbert Spencer, condenando inexoravelmente os Incapazes à forca, apenas fez eco ao Sumo Sacerdote que protegeu Paulo dos Fariseus. Biologia saudável e teologia saudável são finalmente reunidas!

A questão sobre os limites da Liberdade individual é totalmente discutida em Liber CXI (Aleph), que recomendamos ao estudante. Os quatro capítulos seguintes darão uma ideia geral sobre os princípios mais importantes.

DE LIBERTATE JUVENUM
Da Liberdade das Crianças

Ó tu, que és a Criança de minhas próprias Entranhas, como te escreverei Eu sobre as Crianças? Pois aí está o Nó Górdio em nossa inteira Corda de Sabedoria e não pode ser cortado com Espada, não, nem mesmo a de um maior que Alexandre-de-Dois-Chifres. E é um Equilíbrio como aquele do Ovo e a violência de um Colombo apenas rachará a Casca tenra que devemos antes de tudo preservar.

Agora, como Sentinela daquela Fortaleza existe certo Paradoxo de Aplicação geral, e desta Maneira genérica Eu o declararei, para que seu Sentido particular possa de agora em diante iluminar-te a Mente. E este é o Paradoxo: que existem Laços que levam à Escravidão e Laços que levam à Liberdade. Todos nós somos amarrados com muitos Laços pelo nosso Ambiente, e em grande Parte, somos nós que devemos decidir se tais Laços nos escravizarão ou nos emanciparão. E Eu te tornarei clara esta Tese por Meio de uma Ilustração.

DE VI PER DISCIPLINAM COLENDA
Sobre o Cultivo da Força via a Disciplina

Refleti sobre a Limitação de Clima frio, como este torna o homem um Escravo; ele deve obter Abrigo e Alimento através de uma Labuta feroz. Ainda assim, ele se torna forte contra os Elementos, e a sua Força moral aumenta, de forma que ele é Mestre dos Homens que vivem em Terras de Sol onde as Necessidades corporais são satisfeitas sem Luta.

Refleti também sobre aquele que deseja exceder em Velocidade ou em Batalha, como ele nega a si mesmo a Comida que ele necessita, e todos os Prazeres naturais para ele, colocando-se sob a Ordem severa de um Treinador. De modo que através desta Limitação ele obtém, por fim, a sua Vontade.

Assim sendo, para um através de um modo natural, e para o outro de modo voluntário, a Restrição trouxe cada um a uma Liberdade maior. Isto é também uma lei geral da Biologia, pois todo Desenvolvimento é Estruturação; isto é, Limitação e Especialização de um Protoplasma originalmente indeterminado, que mais tarde consequentemente poderá ser chamado de livre, na definição de um Apêndice.

DE ORDINE RERUM
Da Ordem das Coisas

No Corpo, toda Célula está subordinada ao Controle fisiológico geral, e nós que queremos aquele Controle não perguntamos se cada Unidade individual daquela Estrutura é conscientemente feliz. Porém realmente cuidamos para que cada uma cumpra a sua Função, e que o Fracasso de mesmo umas poucas Células, ou sua Revolta, possa envolver a Morte de todo o Organismo. Ainda assim mesmo aqui as Queixas de umas poucas, o que chamamos de dor, é um Aviso de Perigo geral. Muitas Células cumprem seu Destino através de Morte rápida, e sendo esta a sua Função, de modo algum elas se ressentem disso. Caso a Hemoglobina resista ao Ataque de Oxigênio, o Corpo pereceria, e a HEMOGLOBINA não salvaria nem a si mesma. Então, ó meu Filho, refleti então profundamente sobre estas Coisas na sua Ordenação do Mundo sob a Lei de Thelema. Pois cada Indivíduo no Estado deve ser perfeito na sua própria Função, com Satisfação, respeitando sua própria Tarefa como sendo necessária e santa, não sendo invejoso daquela dos outros. Pois somente assim tu poderás construir um estado livre, cuja Vontade dirigente será unicamente direcionada ao Bem-estar de todos.

DE FUNDAMENTIS CIVITATIS
Dos Fundamentos do Estado

NÃO digas, ó meu Filho, que neste Argumento Eu estabeleci limites à Liberdade individual. Pois cada Homem neste Estado que Eu proponho estará satisfazendo sua própria Verdadeira Vontade por sua pronta Aquiescência na Ordem necessária ao Bem-Estar de todos e, portanto, também dele mesmo. Mas vê bem que estabeleças um elevado Padrão de Satisfação e que a cada um sobre após seu Trabalho, Lazer e Energia, de forma que, sua Vontade de Autopreservação estando satisfeita por sua Execução de sua Função no Estado, ele possa devotar o Restante de seus Poderes à Satisfação das outras Partes de sua Vontade. E como o Povo é frequentemente ignorante, e não compreende o Prazer, faz com que seja instruído na Arte da Vida: como preparar Comida agradável e sadia, cada qual a seu Gosto; como fazer Roupas cada qual de acordo com sua Fantasia, com Variedade de Individualidade e como praticar as múltiplas técnicas do Amor. Estas Coisas, sendo antes de tudo asseguradas, depois tu poderá guiá-los aos Céus da Poesia e do Conto, da Música, da Pintura e da Escultura e ao Estudo da Mente mesma com sua insaciável Alegria de todo Conhecimento. Daí deixa que eles levantem voo!

Nós de Thelema achamos vitalmente correto permitir a um homem tomar ópio[13]. Ele pode destruir o seu veículo físico dessa forma, mas ele poderá produzir outro Kubla Khan. É da sua própria responsabilidade. Também sabemos muito bem que “se ele for um Rei” isto não irá feri-lo–por fim. Nós confiamos que a Natureza protege seus filhos, e sua Sabedoria será justificada. É superficial contestar que se deveria evitar que um homem arruíne e mate a si mesmo, por causa dele mesmo ou “daqueles dependentes dele”. Alguém que é incapaz de sobreviver deveria ser deixado para morrer. Nós queremos apenas aqueles que podem conquistar a si mesmos e ao seu ambiente. Quanto “àqueles dependentes dele”, um dos nossos principais objetivos é abolir a própria ideia de dependência dos outros. Mulheres com filhos, e crianças pequenas, não são exceções, como possa parecer. Eles estão fazendo sua vontade, uma classe para reproduzir, a outra para viver; o estado deve considerar o seu bem estar como seu primeiro dever; pois se no momento estes são dependentes dele, ele também é dependente deles. Um homem poderia muito bem arrancar o seu coração se o mesmo estivesse fraco, e necessitado de tratamento cauteloso. Porém ele seria não menos estúpido se tentasse evitar que os elementos desgastados se eliminassem a si mesmos do seu corpo. Nós respeitamos a Vontade-de-Viver; nós devemos respeitar a Vontade-de-Morrer. A raça é autointoxicada ao suprimir os processos de excreção da Natureza.

Cada caso dever naturalmente ser julgado pelos seus méritos. Seus próximos fazem bem em prestar assistência àquele que está fraco por causa de acidente ou desgraça, se ele desejar se recuperar. Porém é um crime contra o estado e contra os indivíduos em questão impedir que o viciado em jogo, o alcoólatra, o libertino, o defeituoso congênito, de se dirigir rumo à morte, a menos que estes provem por sua própria determinação obstinada que podem controlar as circunstâncias, que estão aptos a colocar o seu peso na Arca de Noé da humanidade.