segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Mitologia Egípcia Aton


Saciados os céus no faustoso festival de luz que exaltava o excelso palácio do dia, o Sol abdica do seu eterno trono de turquesas e, velando a sua mística silhueta d’ ouro com as exóticas sedas do poente, estira-se languidamente no lendário tálamo do horizonte, preludiando a noite que já brotava no Infinito. À semelhança de tantas outras civilizações da Antiguidade, os egípcios veneravam o Sol como a mais importante deidade da sua inebriante religião, prestando-lhe um culto sincero e apaixonado enquanto deus primordial, ourives da criação que nos primórdios da existência talhara a jóia do universo, fonte da vida e alimento perpétuo.

No panteão egípcio, inúmeras são as deidades que incarnam o sublime regente dos céus, e, em particular, o seu rutilante ceptro de luz ou a força criadora que em seu extasiante esplendor se renovava, como é o caso de Horakhti, “o Hórus do Horizonte”, identificável como um homem de cabeça de falcão, sobre a qual repousa um disco solar; ou Ámon- Rá, deidade venerada em Tebas, cujo fastígio de luz, cálice solar derramado ao florir da aurora, sublimava o firmamento e conduzia a humanidade até à apoteose divina. Todavia, o desejo de se designar o astro- rei em si ou de evocar o disco solar somente era satisfeito através do pronunciar de uma única palavra: Áton. Enquanto variante aperfeiçoada de Ré- Horakthi, Áton era já alvo de um culto modesto mesmo antes da radical subversão de Akhenaton. Na realidade, as primeiras menções ao seu nome, enquanto designação do globo luminoso, datam do Antigo Império, podendo ser encontradas nos “Textos das Pirâmides”. Porém, é somente na 18ª dinastia, mais exactamente no reinado de Amenófis III, que Áton torna-se no centro de um desafio a toda a realidade conhecida, ao satisfazer o desejo deste faraó e, de seguida, do seu filho Amenófis IV, de centrar a religião egípcia num único deus. Mas que caminhos trilhou Áton até alcançar o estatuto supremo, ou seja, o de divindade dinástica? Ao longo de dezassete anos, a alma do Egipto ardeu no cálido e conturbado vórtice de uma revolução, fruto de paixões férvidas e imensuráveis, concebidas por um coração eivado de poesia e espiritualidade: o de Akhenaton, “O Herético”, faraó cujo reinado se encontra envolto num obscuro véu de densos enigmas, propiciados pela escassez de materiais históricos concretos.

Fruto da união entre o faraó Amenófis III e a rainha Teie, Amenófis IV galgou as veredas da infância e os labirintos da adolescência entre o fastígio do imponente palácio tebano de Malgatta, onde se submeteu a uma educação rigorosa, que visava despertar e esculpir, diligentemente, não somente as suas faculdades intelectuais, como as suas capacidades físicas. O seu mentor, Amenotep, filho de Hapu, inculcou no espírito algo sonhador do jovem príncipe o respeito pela Luz Criadora, cujo fulgor animava igualmente os deveres sagrados inerentes ao trono, que Amenófis IV ocupou em 1364 a . C., quando detinha apenas quinze anos. A seu lado, resplandecia uma jovem de beleza esplendorosa, Nefertiti, a quem, todavia, se havia unido por imposição de dirigentes egípcios, que ignoravam a devastadora paixão que entrelaçaria, posteriormente, as almas dos dois soberanos. Esta jovem rainha, Nefertiti, cujo nome significa “a bela veio”, pertencia, segundo a opinião de diversos historiadores, a uma famigerada família de um poderoso elemento da corte, versão contestada por alguns que afirmam que a soberana era na realidade filha de Amenófis III.

Inúmeras dúvidas adornam o exórdio do reinado de Amenófis IV, uma vez que se coloca a hipótese deste haver governado em simultâneo com seu pai, probabilidade contestada por uma fracção da comunidade egiptóloga. Desta forma, segundo a hipótese escolhida, observa-se uma variação de dados e datas. No quinto ano do seu reinado, o jovem soberano, agora com vinte anos, entrega a sua alma ao deus solar Áton, considerado a fonte de toda a vida, chegando mesmo a renegar o seu nome, com o fito de tomar a designação de Akhenaton, ou seja, “espírito eficaz para Áton” ou “aquele que agrada a Áton”, numa clara homenagem a esta deidade criadora. O seu fulgor fendeu o fausto ostentado pelas demais divindades egípcias, cujos cultos seculares Akhenaton desejou dilacerar, prostrando-os diante da luz que o enfeitiçava. Na realidade, semelhante politeísmo havia sido gerado no exórdio dos tempos pré-históricos, quando o Egipto se compunha de inúmeros reinos exíguos, cada um dos quais protegido por um deus próprio e distinto, geralmente, representado sob a forma de um animal. Todavia, muito cedo os Egípcios principiaram a venerar o Sol como uma deidade, à qual concederam a denominação de deus- sol Rá, uma soberano supremo com o qual gradualmente os deuses locais foram-se identificando e fundindo. Desta forma, o lógico ultimar de tão prolixa evolução deveria ter sido a assimilação dos díspares deuses locais numa só divindade. Porém, tal conclusão mostrar-se-ia deveras inconveniente para os diversos sacerdotes, sustentados pelas oferendas realizadas em honra das inúmeras divindades egípcias, cujo culto se realizava igualmente nos luxuosos templos, que os albergavam.

Ao tomarem Tebas como sua capital, os faraós tornaram Ámon no mais prestigiado dos deuses egípcios, concedendo aos sacerdotes que lhe prestavam culto um poder imensurável, que atingiu o seu apogeu, quando esta divindade se fundiu com o deus- solar Ra. Na verdade, não era contra Ámon, em concreto, que Akhenaton se batia, mas sim, contra a poderosa hierarquia religiosa tebana , que principiava a desafiar, embora subtilmente, a autoridade real. Desta forma, Akhenaton adopta o título de sumo- sacerdote de Heliópolis, denominando-se assim de “o maior dos videntes”, num acto que o prendeu à mais antiga expressão religiosa, considerada mais pura do que a religião tebana. Porém, é em Carnaque, templo dedicado a Ámon, que Akhenaton esculpe a sua visão, ordenando aos escultores que concebessem um ser singular, delineado num vórtice de características masculinas e femininas, que se reflectem, entre outros, num rosto deformado e num ventre saliente evocando uma fecundidade, que pretendia ilustrar que o faraó é mãe e pai de todos os seres.Após ter defrontado uma vez mais os sacerdotes tebanos ao retirar-lhes a gestão de intrínsecos bens temporais, inerentes ao trono do Egipto, Akhenaton reserva-lhes , no sexto ano do seu reinado, um novo sobressalto, ao tomar a decisão de criar uma nova cidade, desenhada na luz sublime de Áton, abandonando, deste modo, Tebas. O local eleito, “revelado pelo próprio Áton”, repousa na orla direita do rio Nilo, entre Mênfis e a antiga capital dos faraós, sendo actualmente conhecido pelo nome de Tell El- Amarna.

Nesta cidade, construída com uma rapidez surpreendente, Akhenaton manda erigir um palácio que o acolha e um tempo onde lhe seja possível prestar culto à luz que o inunda. O esplendor quase celestial de ambas as construções desvaneceu-se no compasso do tempo, restando agora apenas uma ideia prófuga a seu respeito. O faraó concedeu à sua cidade o epíteto de “Cidade do Sol”, jurando jamais abandoná-la, promessa que cumprir até ao eclipsar da sua existência. Diversos funcionários administrativos, escribas, sacerdotes, militares, artífices e camponeses desprenderam-se da sua antiga cidade para seguirem, obedientemente, o faraó. A cidade torna-se acolhedora, detendo largas avenidas, zonas verdejantes, parques sublimes e mansões nobiliárias, que abraçam a divina luz solar. Por seu turno, o referido templo erguido em honra de Áton revela-se díspar dos demais santuários construídos ao longo da décima oitava dinastia, devido à ausência de salas veladas pela escuridão, onde os cultos eram celebrados, quase secretamente. Em contraste, possuía inúmeros pátios brindados pela luz, que conduziam ao altar do deus solar, onde eram depositadas dádivas sumptuosas. Áton, deus de amor e luz, era geralmente representado sob a forma de um disco solar, ornamentado na maioria das vezes com um uraeus, símbolo de soberania, e cujos raios resplandecentes terminavam em mãos que agraciavam a humanidade com carícias celestiais.

Teoricamente, o culto dedicado àquele que se convertera “no pai dos pais e na mãe das mães”, facultava a todos o acesso ao Divino, já que para adorar Áton, bastaria dirigir-se ao magnificente soberano da luz. Contudo, tal ideologia sagrou-se numa utopia impressiva, terrivelmente aparada da realidade, uma vez que a essência de Áton persistia num paraíso proibido aos simples mortais, aos quais era oferecida a presença efectiva do deus no céu, mas não a compreensão do mesmo. Como tal, tornou-se vital a existência de um intermediário, que simultaneamente incarnasse as luzentes manifestações do deus único e permitisse ao mais comum dos mortais com ele comungar. Ocupando este intrínseco papel de mediador, Akhenaton converte-se então no único profeta do seu deus e seu representante junto dos crentes. Estes, por seu turno, prestavam culto a Áton através de uma oblação algo inusitada, que se concretizava numa oração pronunciada em casa, diante da estátua do rei. Na realidade, não se contentando em reformular a religião egípcia, Akhenaton introduziu no panteão artístico, além das insólitas silhuetas andróginas e de ventres salientes que traiam um estado de gravidez perpétuo, crânios alongados e rostos deformados, que se distanciavam deveras dos ideais cultivados anteriormente.

Nefertiti permanece imutavelmente ao lado do seu esposo, a quem dedica um amor imensurável, apenas comparável à devoção que a leva a prostrar-se diante da magnificência de Áton, a cujo culto se entrega, literalmente. Tornada num fascinante símbolo de beleza, a rainha exerce uma vital função religiosa, sendo “aquela que faz repousar Áton com a sua bela voz e as suas belas mãos, que seguram sistros”. Esta soberana, cujas responsabilidades políticas são inegáveis, oferece porém o seu coração ao amor que nutre pela sua família, que, no espírito de Akhenaton, é um estigma da vida divina., cujo esplendor merece ser imortalizado por artistas. Desta forma, os regentes concedem-nos, em diversas representações, a prerrogativa de perscrutarmos o seu lar, onde o enlace entre um homem e uma mulher é contemplado como um enlevo sagrado. Num baixo- relevo, repleno de ternura, Nefertiti, sentada nos joelhos do rei, segura uma das suas seis filhas; noutro, é esculpida a dor ímpar que devastou o casal régio, prostrado diante do féretro da sua segunda filha, perecida em consequência de uma prolongada enfermidade. Sacerdote e profeta de uma deidade nimbada por um halo de energia que concebe a vida, Akhenaton inicia determinados dignitários nos sacros mistérios de Áton, entregando-se, literalmente, a esse papel de mestre espiritual. Concomitantemente, emprega cada lampejo das sua forças à concepção de um sublime hino, que muitos consideram, flagrantemente, semelhante aos Salmos de David, nomeadamente, ao salmo 104.

Hino ao Sol

Bela é a tua alvorada, oh Áton vivo, Senhor da eternidade!
Tu és brilhante, tu és belo, tu és forte!
Grande e profundo é o teu amor; os teus raios cintilam nos olhos de todas as criaturas; a tua pele espalha a luz que faz os nossos corações viver.
Tu encheste as Duas Terras [nota: Akhenaton refere-se ao Egipto] com o teu amor, oh belo Senhor, que a ti mesmo te criaste, que criaste a Terra inteira e tudo o que nela se encontra: os homens, os animais, as árvores que crescem no chão.
Levanta-te para lhes dar vida, pois tu és a mãe e o pai de todas as criaturas. Os seus olhos voltam-se para ti, quando ascendes no firmamento. Os teus raios iluminam toda a Terra; o coração de cada um enche-se de entusiasmo, quando te vê, quando tu lhe apareces como seu Senhor. Quando te pões no horizonte ocidental do céu, as tuas criaturas adormecem como mortos; obscurecem-lhes os cérebros, tapam-se-lhes as narinas, até que de manhã se renova o teu brilho no horizonte oriental do céu.
Então, os seus braços imploram o teu Ka, a tua beleza acorda a vida e renasce-se! Tu ofereces-nos os teus raios e toda a Terra está em festa; canta-se, toca-se música, soltam-se gritos de alegria no pátio do castelo do Obelisco , o teu templo de Akhenaton, a grande praça que tanto de agrada, onde te oferecem alimentos como homenagem...
Tu és Áton, tu és eterno... Tu criaste o longínquo céu para aí te elevares e veres as coisas que criaste. Tu és único e, no entanto, dás vida a milhões de seres, é de ti que as narinas recebem o sopro da vida. Quando vêem os teus raios, todas as flores vivem, essas mesmas que crescem no chão e se abrem quando tu apareces. Com a tua luz se embriagam. Todos os animais se levantam de um salto, os pássaros que estavam nos seus ninhos abrem as suas asas, para fazerem preces a Áton, fonte da vida.

Convidemos, por instantes, este cântico devoto a adornar a nossa imaginação, permitindo-nos pressentir a fé ardente com que era entoado, entre o vibrar das cordas de uma harpa, que brindava cada alvorada e cada crepúsculo com a sua alma melódica. No exórdio das drásticas alterações religiosas, Áton ocupava um lugar de supremacia diante dos outros deuses, com quem, porém, coexistia. Somente após longos confrontos com os sacerdotes, Akhenaton ordenou enfim a supressão de todas as divindades egípcias, à excepção do seu deus- solar, ordenando que os seus nomes fossem apagados dos templos, num linchamento espiritual que principiou com Ámon. As razões e modo de aplicação desta estratégia religiosa encontram-se todavia sepultados sobre os escombros da obscuridade. Apesar da persistência febril do soberano, as divindades que ele tentara aniquilar permaneceram vivas no interior das casas de inúmeros egípcias, que continuaram a prestar-lhes culto, secretamente. De súbito, a alma egípcia colheu do reinado de Akhenaton uma rosa perlada pelo sacrilégio, que havia florescido de um gesto talhado num atroz equívoco: a supressão de Osíris, cujo culto era nimbado pela irresistível fragrância da imortalidade, quimera que escravizava o coração dos Egípcios. Desafiando a reconfortante noite de uma tradição secular com a rutilante aurora de uma herética subversão, Akhenaton concede ao seu deus a prerrogativa de usurpar os atributos e incumbências do venerado Osíris. Por conseguinte, em todas as representações funerárias datadas deste período de tempo, o personagem principal não é senão Akhenaton, mensageiro do deus único tanto na terra como no Além. 

Porém, a récita de indignação que rasgava o peito Egípcio esbateu-se em cânticos de submissão, elevados mesmo no instante em que o soberano proibiu o pronunciamento da palavra “deuses”. Eclipsada pela celestial visão da “Cidade do Sol” e pelo divino alento de enaltecer o esplendor de Áton, a liderança do Egipto tombou, negligentemente, numa remota e obscura lacuna da alma do regente, de cujas mãos sonhadoras resvalaram um imensurável rol de erros. Abominando conflitos ou guerras, Akhenaton adopta uma política de passividade, crendo que o prestígio do Egipto bastará para preservar o equilíbrio no Próximo Oriente. Desta forma, desvanece o halo de protecção que o faraó deve manter em torno dos seus aliados, permitindo que gradualmente o império formado por Tutmósis III se desintegre nas mãos do poderoso povo hitita. Embora tenha já perdido a maioria dos seus vassalos, corrompidos ou ameaçados, Akhenaton continua a ignorar os desesperados pedidos de auxílio provindos daqueles que ainda lhe são fiéis. A morte de Ribaldi, príncipe da Síria, que pagara com a sua vida semelhante fidelidade não rasgam tão denso véu de passividade. Esta ausência de qualquer reacção por parte do faraó fá-lo perder os portos fenícios, acentuar a revolta da Palestina, permitir a atroz chacina que levou ao desaparecimento de Mitanni, aliado do Egipto. O mutismo de Akhenaton talha o brilho feroz das armas dos hititas e assírios, tingidas do sangue de aliados egípcios. Como não conceder à atitude do regente o epíteto de deplorável? Como não condenar o seu reinado, conspurcado pelo travo do sangue? Porém, é possível argumentar a seu favor: talvez os relatórios que repousavam nas mãos fossem incompletos, adulterados ou mesmo falsos. Ter-se-ia ele, de facto, apercebido, da aterradora gravidade da situação? A luz de Áton tornou-se, para os egípcios, num fragmento das trevas, que invadiam, gradualmente, o seu pais, já fustigado por graves perturbações económicas, florescidas da ausência de tributos pagos por aliados. Os inimigos de Akhenaton fizeram ressoar a sua cólera nos murmúrios do rio Nilo, bordando-a, de seguida, num apelido significativo: “O Herético”. Na realidade, somente Akhenaton e um exíguo grupo de fiéis entregavam a sua alma à luz de Áton, deidade incapaz de silenciar os clamores tentadores de Osíris, de cujos braços o povo egípcio não se ousava desprender. 

O Sol do seu reinado extinguiu-se num céu de enigmas. Que sucedeu a Nefertiti após o ano 15 do reinado de Akhenaton? Ter-se-á oposto, igualmente, à conduta de seu esposo ou terá entoado cânticos dedicados a Áton até ao seu derradeiro suspiro? Crê-se que talvez a rainha tenha perecido no ano 13 ou 14 do reinado de Akhenaton, dilacerando o sopro de vida que ainda brincava no semblante do soberano. A sua morte perde-se na fragrância do desconhecido, suspeitando-se apenas que não tenha sido sepultado no túmulo familiar que mandara escavar em Amarna e onde já jazia o corpo da sua segunda filha. A “Cidade do Sol”, sublime oferenda a Áton, foi abandonada à aridez do deserto, sendo considerada como o fruto da heresia.


Detalhes e vocabulário egípcio:

Amarna, cidade localizada na margem direita do Nilo, mais exactamente a cerca de 280 km do Cairo, conquistou o tempo, tornando-o escravo dos seus caprichos, a fim de legar à eternidade algumas das mais magníficas obras de arte egípcia, como é o caso do famigerado busto de Nefertiti, encontrado numa oficina de escultura, e que hoje deslumbra visitantes de todo o mundo, no Museu Egípcio de Berlim. De resto, a luzente “Cidade do Sol” foi igualmente testemunha da subversiva arquitectura dos sumptuosos templos erigidos em honra de Áton. Com efeito, estes extasiantes edifícios a céu aberto contrastam terrivelmente com a arquitectura tradicional característica dos templos dedicados a Ámon. 

Mitologia Egípcia Amon


Entre os cerúleos pilares de lápis- lazuli do enleante templo dos céus, o Sol, sedutor feiticeiro do Infinito, transfigurava, através da mística alquimia da luz, a noite da inexistência, perpétuo algoz da alma humana, no resplandecente dia da vida eterna. E seus lábios luzentes, pétalas de luz da fragrante rosa de fogo que a aurora desfolhava sobre o leito do horizonte, na ânsia de perfumar as núpcias do céu e da terra, albergavam o berço da humanidade e a matriz da perfeição universal. No Antigo Egipto, Ámon- Ré, imanente incarnação do astro- rei, era soberano do sublime éden de fruição espiritual, de cujo seio de apoteoses divinas brotava o fruto da harmonia cósmica que deuses e homens cobiçavam. Ávidos de saciar a sua sede no néctar de paz intemporal dele resvalado, estes coroavam os céus com arco –íris talhados em hinos esplendorosos que exaltavam a magnificência do excelso regente dos deuses: “Único é o oculto que permanece velado para os deuses, sem que a sua verdadeira forma seja conhecida. Nenhum deles conhece a sua verdadeira natureza que não é revelada em nenhum escrito. Ninguém o pode descrever, é demasiado vasto para ser apreendido, demasiado misterioso para ser conhecido. Quem pronunciasse o seu nome secreto seria fulminado.” (Hino a Ámon).

Todavia, oráculo algum preconizara que tal deidade, quase escrava do anonimato total no Antigo Império, viria a coroar-se “rei dos deuses” (nesu- netjeru) e incontestável soberano do vasto reino dos céus. Com efeito, é apenas no decorrer do Médio Império, que Ámon, efígie do Sol criador, após haver vagueado, enquanto peregrino de luz, pelos ignotos céus do desconhecimento, alcança por fim o santuário de magia imarcescível, erguido no horizonte da fé em honra do panteão egípcio, onde, volvida uma viagem mágica, que lhe permitiu a absorção de diversas outras deidades, o deus solar renasce, cantando a Aurora do seu poder como divindade nacional, dinástica, universal e criadora. Os jardins onde a mitologia egípcia semeou as origens de Ámon constituem ainda um paraíso proibido, cujos encantos florescentes se oferecem somente à nossa Imaginação nómada. Porém, alguns egiptólogos crêem que originalmente Ámon não era senão uma deidade do ar, que no Infinito nas crenças egípcias, partilhava as características de Chu, estatuto do qual não jamais viu-se privado, mesmo após a sua meteórica ascensão até ao trono celeste. É, de facto, como rosa de vento, orvalhada de doces brisas, que Ámon desabrocha para a Primavera da popularidade na região tebana de Ermant. Esta teoria é, contudo, contestada por uma fracção oponente, a qual defende que Ámon, na realidade, floresceu na mitologia egípcia enquanto um dos membros da Ogdóade de Hermopólis, formando assim com Amonet, sua parceira feminina, um dos quatros casais que a constituíam. Nesta representação, Ámon e a sua esposa incarnam os princípios primordiais, suspensos nos braços da escuridão, que se transfiguravam num hipotético dinamismo criador. A introdução de Ámon na região tebana ofereceu-lhe uma inaudita ascensão no seio da Ogdoáde, ao indigitá-lo líder dos deuses que a formavam. 

Independentemente das dúvidas que, quais planetas perdidos no Universo da História, orbitam em torno da fulgurante estrela que exaltara o nascimento de Ámon, é certo que este deus manteve-se cativo do cárcere do anonimato até ao Império Médio. Com efeito, a partir da XII dinastia, o seu culto desenvolve-se de forma surpreendentemente célere, permitindo a Ámon ser consagrado soberano incontestável do panteão egípcio. Despindo a mortalha de nuvens que obliterava o seu rutilante corpo de Sol, Ámon inundou de luz as almas dos monarcas egípcios que, em retribuição, permitiram que o sublime pulsar do coração da eternidade entoasse até ao seu atroz eclipsar, a maviosa sinfonia composta pelo doce epíteto do deus criador. Assim, em Karnak foram edificados templos, cujo esplendor conquistou o tempo e desafiou a morte. Concomitantemente, o faraó torna-se filho carnal de Ámon, proclamando-se assim emissário dos deuses entre os homens e vice- versa. Em Tebas, cidade cuja cosmogonia combina elementos oriundos de Hermopólis, Heliópolis e Mênfis, Ámon tange no doce harpa do coração da doce deusa Mut a harmoniosa melodia do amor. Com ela e com Khonsu, fruto dos seus esponsais, formará uma poderosa tríade. Na qualidade de deus patrono da capital egípcia (Tebas), Ámon é coroado regente dos deuses. 
Contemplando a surpreendente ascensão ao trono dos céus do agora prestigiado deus criador, o clero abraça a resolução de talhar na sua coroa de luz a jóia rara de uma teologia apta a exaltar o fastígio da sua soberania, facto facilmente constatável através da leitura e análise do seguinte mito. Canta a lenda que a serpente Kematef, ou seja, “a que cumpre o seu tempo”, emergiu de Nun, o excelso oceano de energia primordial, no local exacto da cidade de Tebas, brindando os céus com o nascimento de Irta, isto é, “aquele que fez a terra”, para de seguida desbravar o paraíso indómito dos sonhos. 

Por seu turno, Irta, sublime ourives da Criação, converteu as trevas do nada no sumptuoso tesouro do Universo, principiando por esculpir a terra, eterna barca de rubis navegando nos mares de pérolas negras do Infinito e, acto contínuo, os já citados oito deuses primordiais que se dirigiram a Hermopólis, a Mênfis e a Heliópolis para sonharem o esplendor da luz divina que do áureo corpo do Sol se desprendia (Ptah e Atum). Traídos pela sua obra colossal, que no decorrer da sua concepção todas as suas forças havia furtado, as oito deidades retornaram a Tebas, onde, à semelhança de Kematef e Irta, saborearam as nascentes de fruição espiritual que brotavam do éden das quimeras. No cosmos deste mito, a constelação de Ámon brilhou enquanto ba (poder criador) de Kematef, o que cimentou a sua posição fautor das maravilhas da Criação. Gradualmente, Ámon fundiu a sua identidade com a de Ré, senhor de Heliópolis, concebendo assim a deidade Ámon- Ré, suprema incarnação do astro- rei. Esta conotação solar do deus tebano é enfatizada pelos seus adoradores: “Tu és Ámon, tu és Atum, tu és Khepri”, numa clara oblação às inúmeras metamorfoses vividas pelo deidade solar, principiando pelo seu derradeiro mergulho no oceano do horizonte, enquanto Sol poente (Atum), até à sua ressurreição sob a forma de Sol nascente (khepri).

Conquistando igualmente aparência e funções de Min, deus da fertilidade, Ámon, agora, Ámon- Min, incarna os elementos primordiais da Criação. De facto, algumas das primeiras representações de Ámon em Karnak, datadas do início da XII dinastia, representam o deus tebano, enquanto fruto da sua fusão com Min. Através da associação ecléctica às mais proeminentes deidades do panteão egípcio (Ré, Ptah e Min), Ámon conquista a dádiva do poder, inevitavelmente depositada no sumptuoso altar de sua alma iluminada, bordando nas sedas consteladas que velam a etérea silhueta do Universo a poesia da sua sublimação, enquanto divindade nacional, primordial e demiúrgica. Durante o reinado de Akhenaton, em meados do séc. XIV, o deus tebano é alvo da perseguição do regente, quiçá numa represália contra o intimidatório poder do clero amoniano, que aumentara proporcionalmente ao prestígio da deidade em questão. Após uma noite de cerca de quinze anos, uma aurora adornada de paradoxos e controvérsias canta a ressurreição do Sol, que uma vez mais se apodera do trono dos céus, sob a forma de Ámon. Este converter das trevas na luz deve-se à alquimia secreta de um único faraó: Tutankhámon (reinado: 1337- 1348 a . C.).

Um orvalho cristalino, eivado de mil enigmas, perla a rosa da fortuna, em cujas pétalas repousa o simulacro incerto do príncipe Tutankháton, espírito isento de origens concretas. Teria o futuro faraó despontado dos braços de Akhenaton ou do seio de uma família nobre? Um vórtice de conjecturas enlaça igualmente o significado do seu nome, sendo “ imagem viva de Áton” ou “poderosa é a vida de Áton” as traduções mais credíveis. Após a extinção de Akhenaton, o trono do Egipto oferece-se ao olhar hesitante de Tutankháton, uma criança de apenas nove anos, que, contudo, havia já desposado a terceira filha do faraó falecido. Inebriado pelo fausto de jogos e festas, enclausurado num débil esboço de uma personalidade esbatida, Tutankháton prostra-se diante dos conselhos de um preceptor, possivelmente, o alto- dignitário Ay, ignorando as ferozes querelas entre os partidários de Ámon e de Áton, cujo fulgor torna-se num sorriso da heresia. Gradualmente, a influência do clero enleia, irreversivelmente, o ingénuo jovem, depositando na sua alma ainda perfumada pela infância, o desejo de retornar ao seio da primordial religião, tecida em torno de Ámon. Por conseguinte, o jovem altera o seu nome para Tutankhámon, entregando cada suspiro do seu império aos lábios de nácar do politeísmo. Desta forma, no regaço de seu reinado o compasso do tempo esculpiu o sepulcro da excelsa “Cidade do Sol”, cujo fulgor foi extinto com o fito de restituir a soberania à olvidada cidade de Tebas, no seio da qual o faraó se reinstalou, concedendo, uma vez mais, imensuráveis poderes aos sacerdotes que se prostravam diante do divino simulacro de Ámon. Submissamente, todos aqueles que haviam ornado de vida a quimérica cidade de Akhenaton seguiram a família real, entregando Armana aos nefastos braços da decadência. As carícias letais do vento árido arrebatou o fastígio dos templos e palácios, resumindo-os a lúgubres escombros, no coração da areia enclausurados. Somente após 3000 anos, a alma desta cidade foi enfim libertado do seu lúrido cárcere.

Intoxicado pelo incenso celestial queimado sobre a cidade de Tebas, Tutankhámon não empreendeu qualquer campanha militar, impedindo assim uma ascensão do Egipto no plano internacional. Privado do seu antigo poder, o exército egípcio entrega-se aos braços da decadência. Na realidade, somente a contínua vigília de Horemheb, a quem Tutankhámon havia entregue plenos poderes, impediu toda e qualquer invasão do território egípcio. Este general encontrava-se deveras distante da imagem de soldado grosseiro e rude que inúmeras vezes lhe é atribuída na actualidade. Trata-se, na verdade, de um escriba, um letrado, cuja alma se encontra escravizada pelo amor ao direito e à justiça. Ao completar quinze anos, no ano 6 do seu reinado, a consciência dos seus deveres fende as pálpebras outrora cerradas de Tutankhámon, Desprendendo-se do torpor da infância, o jovem faraó principia a mergulhar nos seus ofícios de soberano, recorrendo ao pronto auxílio de seus mentores Ay e Horemheb, detentores de um poder imensurável, concedido pelo próprio regente. Surpreendentemente, Tutankhámon lida, habilmente, com a política externa, solucionando diversas questões pendentes. Simultaneamente, almeja restituir ao Egipto o seu esplendor estonteante, pelo que ordena a restauração e construção de monumentos e o levantamento de ruínas. De seu espírito resvalaram rasgos de luz, orvalhados pelo gotejar da independência, que fenderam enfim a sufocante influência que Ay e Horemheb possuíam sobre o faraó e sobre o destino do Egipto. Porém, quando Tutankhámon completou dezoito anos, a auspiciosa melodia entoada pela sua fortuna extinguiu-se nas trevas de uma sinfonia de silêncio, concebida pelas lúgubres carícias da morte... 

Intrigados com tão suspicaz falecimento, os egiptólogos lançaram-se numa desesperada procura pela verdade, já sepultada entre as valsas do tempo. Por fim, após um inexaurível rol de pesquisas e investigações, uma autópsia realizada à múmia do faraó concedeu-lhes o fulgor da solução que tanto haviam cobiçado: uma fractura na base do crânio de Tutankhámon comprovava que este havia sido, brutalmente, assassinado. Porém, que mãos cruéis e isentas de compaixão haviam desferido o golpe fatal que oferecera aos lábios sequiosos da morte o travo da vida de Tutankhámon? Os sacerdotes tebanos, movidos pelo temor de que o regente, agora livre igualmente da sua influência, abraçasse os devaneios de Akhenaton? Ou aquele que queimara o incenso da sua vontade sobre o débil altar da alma de Tutankhámon, submetendo-a aos seus caprichos e alentos: o divino- sacerdote Ay, tornado mais tarde em sucessor do faraó falecido? A verdade oferece-se ao olhar daqueles que pressentem os silvos das conjecturas, em cujo regaço quase sentimos o toque do sangue do jovem faraó tingir as mãos do ambicioso Ay. Na realidade, sobre a imagem de Tutankhámon baila um inexorável paradoxo, delineado pela imensurável fama que este insigificante faraó alcançou na actualidade. Indemne à acção dos inúmeros saqueadores, o seu túmulo, descoberto em 1822 por Howard Carter, derramou sobre a alma perplexa da humanidade a fragrância do fausto e fastígio do Antigo Egipto. Jamais houve uma descoberta mais preciosa do que a do túmulo de Tutankhámon. A grácil beleza dos móveis e as suas obras de arte ultrapassaram tudo o que até então fora encontrado no Egipto. Graças ao túmulo do jovem faraó, o único encontrado intacto, a cultura egípcia atraiu muitos mais admiradores do que no passado; admitiu-se que esta cultura havia exercido sobre os povos vizinhos uma influência muito mais profunda do que então se cogitara. Ao contemplarem-se as excelsas riquezas que um faraó considerado verdadeiramente irrelevante, cujo reinado prolongou-se por um escasso período de tempo, levava para a sua derradeira morada, calcula-se o esplendor que brincaria nos túmulos de poderosos faraós como Tutmés III, Amenófis II, Seti I e Ramsés II.

No paraíso de seu reinado, brotou a cobiçada fonte da ressurreição, onde Ámon, outrora cativo do sepulcro do esquecimento, saciou a sua sede de vida. Durante cerca de meio século, mais precisamente de 1000 a.C. até 525 a.C., data da invasão persa, a soberania da sumptuosa cidade de Tebas não foi senão dança ritmada da melodia de luz reflectida pelos cristais de Sol, que no olhar de uma magnificente dinastia de mulheres haviam esculpidos pela benção do astro- rei. A estas mulheres, intituladas “Adoradoras Divinas” ou, em egípcio, duat- netjer, o faraó havia concedido, sem hesitar, um poder espiritual e régio sobre a principal cidade santa do Alto Egipto. 
Sacerdotisas iniciadas nos mistérios de Ámon, a quem se uniam em esponsais divinos, com o fito de lhes prestarem um culto ornado de um certo erotismo, as Adoradoras Divinas eram regra geral provenientes de famílias nobres. Em diversas representações, contemplamos o rito que permitia à dama despertar na carne e espírito do deus tebano os ardores da paixão. Sob a liderança desta casta de mulheres viviam sacerdotisas, contempladas como o “harém de Ámon”, a quem era também confiada a incumbência de semear o desejo no peito do rei dos deuses e preservar a harmonia entre os céus e a terra. Enquanto esposas de Ámon, as Adoradoras divinas, não obstante não serem coagidas a celebrar votos de castidade, eram privadas não de vincular um casamento humano, mas também de ter filhos. 

De facto, a herdeira do seu cargo era a sua filha espiritual, elevada a este estatuto através da adopção.
Consagrando-se exclusivamente ao culto da deidade, as Adoradoras Divinas, excelsas instrumentistas que na harpa do cosmos fazem vibrar a energia celestial, garante da vida terrena, embora não fossem reclusas, usufruíam da maior parte do seu tempo no interior do templo de Ámon em Karnak, onde todos os dias persuadiam o deus a exprimir de forma benéfica o seu poder criador. 
Personalidades proeminentes no seio da cidade tebana, as Adoradoras Divinas eram incontestáveis proprietárias de casas, terrenos, servidores e diversos outros bens que contribuíam para a sua comodidade e autonomia.


Detalhes e vocabulário egípcio:

Amonet- Deusa constituinte da Ognóade de Hermopólis. É frequente depararmo-nos em Tebas com efígies suas, enquanto versão feminina do deus Ámon, papel geralmente concedido a Mut. Diversos textos da dinastia ptolomaica apresentam-nos Amonet ou Amaunet como incarnação do vento do Norte, a mãe primordial que “é pai”, isto é, aquele que sem intervenção masculina se encontra apta a conceber os seus filhos. Algumas fontes revelam que Amonet deu à luz Ré, ou, segundo outras vozes, Ámon, enquanto personificação de Ré. É exequível aventurar que o culto dedicado à deusa ultrapassa o da sua versão masculina em antiguidade. 

Identificamos Ámon nas diversas representações que o honram, como um homem ostentando sobre a sua cabeça uma coroa com duas plumas (kachuti) e em suas mãos (consoante as circunstâncias em que é invocado) o signo da vida (ankh), uma cimitarra (khopech) ou o ceptro uase, entre outros. O seu trono assenta sobre uma esteira que, por seu turno, se encontra sobre um pedestal dotado dos símbolos da deusa Maet. 

Ámon, “aquele cuja natureza escapa ao entendimento”, é representado por um carneiro de chifres curvos ou, pontualmente por um ganso. Com frequência, as díspares formas de animais adoptadas por um deus confere-lhe o poder para se tornar irreconhecível ou apto a ser confundido com outra deidade. A imagem do carneiro simboliza o conjunto das forças criadoras, quer aquelas incarnadas pelo Sol, quer aquelas que permitam garantir a reprodução dos seres vivos. 

“Tu és o deus oculto (Ámon), Senhor do silencioso, que acorre ao apelo do humilde, tu que dás alento a quem dele é privado” (Estela de Berlim). 

Mitologia Egípcia Neftis


Qual peregrino de luz, o magnificente Sol da alma humana vagueia, cativo de um rumo fadado pela harmonia cósmica, pela excelsa abóbada celeste da vida, até alcançar, no apogeu da teosofia de seu esplendor, o etéreo santuário da paz eterna, edificado pela imortalidade do espírito sobre as nuvens elísias da sus extinção terrena. Franquear as portas do Ocidente, eterna pátria de luz, onde os justos, despojados da sua mortalidade, celebravam o rito da felicidade intemporal, constituía, no Antigo Egipto, o expoente máximo da terrena peregrinação pela beatífica vereda da rectidão espiritual.

Saciados os céus da alma humana na tempestade do viver, eterno festival de paixões em chama, onde, entre a sumptuosidade de um banquete de relâmpagos se brindava à luz da verdade, o corpo, lavado do seu sentir pela chuva da morte, era então convertido em múmia, para que, no fausto de um funeral destinado a contar a natureza eternal do espírito, este vosso sepultado de forma honrosa. Um surpreendente halo de festividade nimbava os funerais, quão clímax da existência, em torno do qual o pensamento dos Egípcios orbitava, entre um rol imensurável de preparativos e economias. Inebriados com promessas de imortalidade, apressavam-se a erguer e ornamentar túmulos, a adquirir os vitais caixões, seguidos de sumptuosas imitações de componentes do seu quotidiano, que o defunto desejava que o acompanhassem na sua derradeira viagem. Na realidade, esta ideologia era alimentada por uma fracção do produto nacional bruto, que, num ápice, desvanecia-se, entre as mãos de um conjunto económico, encarregue de ocupar-se da fabricação de determinados arranjos funerários. A oeste das cidades egípcias, palco da extinção do fulgor solar, estende-se a imensidão da orla do deserto, sobre a qual foram, imponentemente, erigidas as sagradas necrópoles, sublimes complexos funerários. Desta forma, perto de Mênfis, saúdam-nos Saqqara, Guiza, Abusir, entre inúmeros outros.

Por seu turno, Tebas entregou a sua necrópole à margem ocidental do Nilo, eterna residência de Meretseger, deusa do Ocidente, cujo nome significa “Aquela que ama o silêncio” e que, na realidade, se tornou na perpétua vigilante do deus- chacal Anúbis. Ultimados setenta dias nas moradias dos embalsamadores, o corpo já mumificado é enfim depositado num caixão aberto, faustosamente recamado, que se coloca, de seguida, sobre um carro de arrasto, puxado por uma junta de bois ao longo de todo o soberbo cortejo fúnebre. Precedendo-o, eleva-se a fragrância dos incenso espalhados pelos sacerdotes e os lamentos lancinantes das carpideiras ( elementos vitais num funeral, mas, que, dado o seu elevado custo, eram apenas acessíveis aos mais abastados), que caminham com os cabelos despenteados e os bustos nus; fulguram as jóias, móveis, vestes, cofres e cosméticos, transportados por escravos até à derradeira morada do morto; e escutam-se os passos lentos da família e dos amigos. Uma tempestade de lamentos sacia, num banquete de relâmpagos de dor e trovões de gritados pelo sofrimento, a sacra Natureza espiritual do defunto. Num eterno brinde à saudade, realizado que as lágrimas vertidas pelos céus de seus olhares, as carpideiras recitam fórmulas harmoniosas, que, quais estrelas guias, conduziriam a alma dos entes queridos até ao fecundo paraíso do Além. De facto, estas mulheres, cantoras da deusa Háthor, desfrutavam de um diversificado leque de textos e cânticos, nos quais era evocado o deserto de intempéries que o espírito nómada do defunto teria de atravessar, para alcançar o sublime oásis da regeneração, onde a sua sede de vida seria por fim saciada. 

Às duas carpideiras primordiais, concede-se o epíteto de “djeryt”, isto é, “milhafres fêmea”, incarnando assim as aves de rapina que velavam pelo sarcófago. As suas etéreas silhuetas inebriam, adornam e purificam igualmente a barca sagrada que permite ao ataúde alcançar as acolhedoras margens do éden dos juntos. Estas duas aves não são senão poema de luz inspirado por Ísis, “a grande carpideira” e Néftis, “a pequena carpideira”. Qual jardim de constelações, semeado no cosmos da sublimidade, Néftis não desabrochava para o conhecimento, quando privada da Primavera de luz, incarnada por sua irmã. Juntas, inebriavam o Infinito com o perfume de harmonia fraternal que se desprendia das rosas de estrelas florescidas da sua união. Pertencente à última geração celestial da famigerada enéade de Heliópolis, Néftis é fruto colhido do paraíso de amor sonhado pela fusão do céu, Nut, e da terra, Geb. Embora o sagrado ourives do matrimónio tenha entretecido o seu destino ao de Seth, seu irmão, foi Osíris, divino esposo de Ísis, quem a convidou a saciar a sua sede no cálice de uma outra vida, ao oferecer-lhe um filho: o deus chacal Anúbis. Numa complementaridade cobiçada pela terra e pelo céu, Ísis é mãe de Hórus, enquanto que Néftis se revela sua ama, tal como sugere o seguinte texto: “Ele é Hórus. Sua mãe, Ísis deu-o à luz, ao passo que Néftis embalou-o”. Personificando o eterno jogo de luzes e sombras perpetrado pelo dia e pela noite, Ísis incarna o nascimento e a luz, enquanto que, num contraste alucinante, Néftis estigmatiza o exício e a penumbra, materializando nesta excelsa fusão toda a magia dispersa pelo Universo.

Por oposição a sua irmã, cujo culto era celebrado em diversos templos, disseminados um pouco por todo o país, Néftis não era venerada de forma isolada, privando-se assim de uma existência autónoma, facto que justificava a sua constante aparição ao lado de Ísis. A sua associação ao culto dos mortos aflorou do mito osírico, no decorrer do qual a sua presença é incontornável. Este, tal como referido anteriormente, relata que, após o assassinato e desmembramento de Osíris, as duas irmãs unem-se para recolher todos os pedaços do corpo do defunto, num ritual álgido, ritmado por lamentações vestidas de lágrimas, saudade e dor. Coroada de sucesso a diligência a que se haviam proposto, Ísis e Néftis entrelaçam os acordes de sua voz numa melopeia plangente, ornada de comoção: “Graças a nós olvidaste a mágoa. Nós reunimos teus membros e velámos por teu corpo. Vem ao nosso encontro para que o teu inimigo seja esquecido. Regressa sob a forma que detinhas na terra. Exonera a tua ira e concede-nos a tua clemência, Senhor. Retoma a herança do País Duplo (Egipto), tu, o deus único, cujos desígnios revelam-se benéficos para as divindades. Retorna, pois, sem receios, à tua morada!” A iluminada semente de luz depositada pelo amor de Ísis e pela compaixão de Néftis, no éden do horizonte, desponta por fim sob a forma da flor da aurora, cuja beleza orvalhada de feitiços de paixão anuncia ao céu a ressurreição de Osíris, restituindo o seu trono de turquesas ao Sol da vida eterna. Numa flagrante analogia deste magnificente episódio da mitologia egípcia, Néftis e sua irmã são incumbidas de velar pelo morto, no insondável enigma do Além. Por conseguinte, esta primeira era representada na cabeceira dos sarcófagos reais do Império Novo, enquanto que, por seu turno, Ísis surgia aos pés do mesmo, da mesma forma que não raras vezes eram evocadas em cenas do julgamento dos mortos. É função das duas deusas serem efígie do barco que transportará o defunto na sua derradeira viagem até ao país da luz. De igual modo, e juntamente com Selkis e Neit, oferecem a sua protecção aos vasos canópicos, onde as vísceras do falecido eram conservadas.

Néftis, ou em egípcio Nebhwt, ou seja, “A Senhora da Casa”, era retractada como uma mulher, cuja cabeça se encontrava adornada com um toucado formado por dois símbolos hieroglíficos, destinados a representar o seu nome, isto é, “neb”, o cesto, e “hwt”, a planta da casa. Esta deusa foi igualmente associada ao deus babuíno Hapi e, na Época Baixa, à deusa Anuket, tendo com ela sido adorada em Kom Mer, no Alto Egipto. Egípcias como Ny-Anq-Háthor isto é, “Aquela que pertence à vida, Háthor” abraçavam a prerrogativa de incarnarem as duas deusas irmãs, recitavam as lamentações proferidas por Ísis e Néftis num ritual que restituíra a vida a Osíris. Na festa das carpideiras, cânticos e músicas inebriavam os sentidos, preludiando o renascer do deus assassinado. Convertida a essência humana em essência divina, pela transfiguração de todos os defuntos em Osíris, as carpideiras suplicavam a ressurreição espiritual do morto, ao longo de todo o cortejo fúnebre. As cenas representativas dos mesmos são uma constante nas paredes dos túmulos de personagens tão proeminentes, como é o caso de Ramsés, que legou à eternidade os lamentos embebidos em lágrimas e impregnados de um desespero ensaiado, que as carpideiras proferiam, entusiasticamente. 

Quando por fim se achava diante do túmulo, a múmia é então retirada do seu caixão e suspensa nos braços de um sacerdote embalsamador, cujo semblante mantém-se oculto por uma máscara de Anúbis. O incenso queimado por um outro sacerdote, em geral no limiar da sua carreira e, geralmente, filho do morto, entrelaça-se com as fórmulas mágicas proferidas, solenemente, por um seu homólogo. Seguidamente, dá-se a cerimónia da “Abertura da Boca”, realizada com o fim de conceder, uma vez mais, àquele que faleceu o dom do Verbo, da visão, da audição e do olfacto, de forma a permitir-lhe saborear as dádivas alimentares, deixadas no túmulo. Findo este ritual, o morto acha-se reanimado, num processo que pode, muitas vezes, prolongar-se por vários dias. Entre despedidas, o corpo do morto é, uma vez mais, restituído ao repouso do seu caixão, sendo rodeado por tudo o que podesse vir a ser-lhe necessário no Além. Deste modo, com o fito de impedir que os egípcios abastados necessitassem de entregar-se a qualquer tarefa laboral (nomeadamente, lavrar, ceifar ou bater trigo, entre outros árduos trabalhos), colocavam-se no seu túmulo pequenas figuras de madeira representando os servidores de diversos corpos de ofício e os animais domésticos, além de réplicas em miniatura de casas e barcos. Por seu turno, os príncipes ou outras distintas personagens eram enaltecidas com um inexaurível exército de pequenas estatuetas de madeira, concebendo-se assim algo similar a um mundo artificial. Porém, em meados do segundo milénio antes de Cristo, este hábito de dispor no túmulo figurinhas representando servidores foi substituído pelo costume de colocar na derradeira morada do defunto uma sósia em miniatura deste, representada, habitualmente, em forma de múmia e colocada sobre uma caixa de menores proporções. Esta sósia esculpida, geralmente, em argila, madeira ou metal, achava-se incumbida da tarefa de efectuar, no reino dos mortos, o trabalho correspondente ao defunto. 

Na sua derradeira viagem, as crianças faziam-se acompanhar de seus brinquedos, geralmente, piões, bonecas articuladas, animais de brinquedo, entre outros. Porém, também os momentos mais sóbrios e conscenciosos eram recordados ao serem também depositados nos túmulos os seus cadernos em papiro ou ardósia, contendo exercícios de caligrafia, aritmética, etc.. As disparidades sociais e económicas estavam latentes na forma como os Antigos Egípcios eram sepultados, uma vez que em contraste com as prerrogativas concedidas aos mais abastados, que detinham a possibilidade de desfrutarem do seu último sono num túmulo ao abrigo dos chacais e outras feras do deserto, os mais humildes não possuíam recursos económicos que lhes permitissem mandar embalsamar o seu corpo. Consequentemente, os seus restos mortais jazem, isentos de um sarcófago, sob um metro de areia, onde acabam por ser dilacerados pelo tempo, que não lhe concederia o direito à imortalidade. Temendo a hedionda perspectiva de uma morte definitiva, os menos afortunados empregavam todas as suas forças no sentido de reunir uma determinada quantia que lhes permitisse realizar um funeral decente ou, pelo menos, para reservar um lugar nos inúmeros túmulos colectivos, que se encontravam escavados na rocha. 

A tão desejada “Casa da Eternidade”, consistia numa tumba escavada na falésia, e que veio substituir as imponentes pirâmides e mastaba, onde o corpo permanecia oculto num poço funerário subterrâneo ou num local secreto, precedido por uma parte aberta, que permitia um acesso ao exterior: a capela, dotada de uma tela na qual se encontra inculcado o nome do defunto ou, eventualmente, a sua efígie e onde se ergue a mesa das oferendas. Paralelamente, é erigida uma porta fictícia (ponto de ligação entre o mundo dos mortos e o dos vivos), a qual o morto transpõe sempre que deseja usufruir das oferendas que lhe são levadas: pão, legumes, aves de capoeira e carne vermelha nos dias de festa. Concomitantemente, a sua alma desfruta do incenso que invade de prazer o seu olfacto e a sua sede é saciada pela salubridade da cerveja ou água fresca, que lhe deixam, regularmente, visto ele habitar na orla do deserto. Contudo, os longos períodos de caos ensinaram aos egípcios que até mesmo as dádivas “eternas” tornam-se efémeras, pelo que foram concebidas fórmulas, inscritas, mais tarde nas paredes, que permitiam ao morto desfrutar das oferendas, sempre que as pronunciasse. Assim, sobre inúmeras peças comemorativas, surge diversas vezes a seguinte prece: “Vós que viveis na terra e passais diante desta estela, indo e vindo, se ameis a vida e detestais a morte, dizei que há mil pães e mil potes de cerveja”.


Detalhes e vocabulário egípcio:

Keres- caixão, ataúde. 

Geb, deus da terra, era, habitualmente, venerado pelos demais como um deus benevolente, dado haver brotado do seu corpo a vegetação e a água. Porém, a morte tornava-o cruel e malévolo, por tomar no interior do seu corpo os cadáveres dos mais humildes. 

Carpideira- mulher paga para chorar nos funerais. 

Protecção dos vasos canópicos do defunto - Os quatros filhos de Hórus detém o título de “Senhores dos Pontos Cardeais, função que preservam enquanto protectores dos vasos canópicos, que permitem que cada víscera seja correctamente velada pela deusa tutelar, ou seja:

Sul: Deusa Ísis- mulher coroada com o símbolo usado na escrita de seu nome (trono de espaldar alto).Amset- génio com cabeça de homem. Incumbência- protecção do fígado. 

Norte: Deusa Néftis- mulher coroada com os signos empregues na escrita de seu nome, isto é, cesto e planta da casa.Hapi- génio com cabeça de babuíno. Incumbência- protecção dos pulmões. 

Este: Deusa Neit- mulher coroada com um emblema representativo de dois arcos juntos, no seu estojo. Duamutef- génio com cabeça de chacal. Incumbência- protecção do estômago. 

Oeste: Deusa Selkis- mulher coroada com a efígie de um escorpião ou, eventualmente, de uma larva encéfala.Khebeh- Senuf- génio com cabeça de falcão. Incumbência- protecção dos intestinos. 

Mitologia Egípcia Thoth


Excelso lótus de névoas diamantinas, irresistivelmente perfumado pelo mais místico delirar da poesia, que um ósculo da Via Láctea, lascivamente eivado de feitiçaria pagã, semeara nos lábios constelados do Infinito, a Lua saciava a sede de Tot com o orvalho de magia cósmica que as pétalas de seu corpo astral rociava, docemente. Seu refulgente olhar de feitiços de prata, supremo vidente dos enigmáticos oráculos do Universo, convidava-o a colher o fruto de imortalidade que abençoava o seu paraíso de luz imaculada, etereamente recamado de nascentes de sapiência ancestral, que se ofereciam, na magnificência de seu esplendor secular, a todos aqueles que se proponham a errar pela noite da vida, guiados pela estrela peregrina do conhecimento, eterna pedra filosofal, esculpida por Tot no apogeu da Criação, que convertia as trevas plúmbeas da ignorância, qual abismo onde somente o caos se manifestava, na luz transcendental, inebriante brisa de ouro, que acariciava o nascimento do jardim da humanidade, a fim de nele depositar a semente da sabedoria divina. Com efeito, Tot era proclamado, pelos fervorosos teólogos de Hermopólis, eterno imo do seu culto, como o lídimo Ourives da Criação, que, qual demiurgo universal incarnara uma íbis, a fim de chocar o ovo do mundo, tingindo de seguida na tela do universo vítreo, a excelso pintura da vida, numa obra de arte ímpar apenas concebida pela magnificência do som de sua voz. 

Esta cosmogonia esculpe no ouro da sua identidade a personificação da inteligência divina, imprescindível naquele que não era senão uma deidade criadora e auto- criada, indigitando-o assim líder da Ogdóade de Hermopólis, um grupo de oito deuses, mais exactamente de quatro casais, sendo os homens facilmente reconhecidos através das suas cabeças de rã, em contraste com as suas esposas que ostentavam cabeças de serpente. Este grupo divino incarnava os pilares que haviam sustido a fundação do Universo: o casal original, isto é, aquele que Nun, personificação do oceano primordial, e Nunet, espaço celeste suspenso sob o abismo, constituíam; o casal Hehu e Hehet, ou seja, os espaços imensuráveis e impossíveis de destinguir subjacentes ao caos; o casal Keku e Keket, fruto das trevas e obscuridade; e por fim Ámon e Amaunet, símbolos do desconhecido, ou seja, dos enigmas que haviam nimbado o caos. A cidade edificada em honra destes oito deuses, actualmente denominada de El- Achmunein, era conhecida primitivamente por Khemenu, ou, na realidade, “A cidade dos oito deuses”. Todavia, a identificação vinculada entre Tot e Hermes, permitiu aos gregos apelidarem-na de Hermopólis, epíteto que se difundiu e estabeleceu através do tempo e das civilizações. Não obstante a noite pejada de obscuridade que vela o seu nascimento (determinadas fontes afirmam que Tot nasceu do crânio de Set, enquanto outras proclamam que o deus- íbis floresceu do coração do criador num momento de melancolia), indubitável é a sublimidade da chama de sabedoria divina, ateada pela suas invejáveis sagacidade e perícia, que dança na alma do arguto deus- íbis. Como soberano do fecundo reino do conhecimento, Tot sentiu ser vital a difusão dos insignes tesouros que este em sua imensidão guardava, pelo que abraçou a resolução de inventar um instrumento apto a garantir a transmissão perpétua das ciências por ele cultivadas: a escrita. Qual primeiro raio de luz bailando nos jardins dos céus, a escrita fende o luto da noite, a fim de passear pelas fragrantes rosas dos hieróglifos, de brincar na árvore da comunicação, que o Verbo e a Palavra, doce frutos dos deuses, coroavam num halo de fastígio. 

A poesia, primeira manhã do mundo das almas, é cálice de Sol vertido pela taça de sua sapiência. Os livros, alimento do intelecto, seu testemunho. Em harmonia com esta ideologia, os Egípcios aludiam aos seus hieróglifos como medu- netjer, ou seja, “palavras do deus”, numa flagrante oblação ao deus- íbis. Enquanto fautor da escrita, perpétua arauta do pensamento, Tot conquistou o epíteto de neb medu- netjer, em português “O Soberano das Palavras Mágicas”. Ao integrar a elite do panteão egípcio, Tot converte-se em depositário das confidências do excelso soberano dos deuses, equivalente ao faraó na terra, garantindo assim a denominação de “Ré disse; Tot escreveu”. Não constitui, deste modo, qualquer surpresa constatar que, num ápice, Tot alcançou a preeminente posição de guardião dos arquivos divinos, emissário e escriba dos deuses. No seio da comunidade celestial, é o deus- íbis quem abraça a incumbência de permitir que a praia de luz, formada pelos cristais de luz das etéreas almas dos deuses egípcios, seja docemente banhada pelo mar da harmonia cósmica. Por conseguinte, era ele que, através da análise das inúmeras regras ditadas pelo criador na fundação do Universo, procura solucionar todas as querelas e desaires semeados na sociedade dos céus. Desta forma, buscando a aplicação das leis estabelecidas aquando da excelsa matriz da vida, os deuses reuniam-se em assembleias, marcando o início de morosos julgamentos que, com frequência, se prolongavam durante alguns anos. Escutadas e interpretadas todas as vozes envolvidas nos debates e recontros, Tot evoca a sua sapiência e sela o julgamento com uma decisão apta a implantar a paz, onde outrora o caos reinara. Resolução alguma deverá sem perpetrada sem o consentimento do escriba divino.

A polivalência intelectual de Tot faculta-lhe a prerrogativa de invadir e conquistar todo o reino das ciências, pelo que ele é igualmente o deus das matemáticas, o calculador primordial e imbatível. Dominando a criatividade e a razão, o deus- íbis ousou estipular sozinho os limites dos nomos e as fronteiras das terras, concebendo assim “o ordenamento do País Duplo (Egipto) e a organização das províncias; e não hesitou em erguer todos os santuários dos deuses, dado possuir o monopólio do traçado e das plantas. Além de oferecer-lhe o título de “Arquitecto Divino”, esta liberdade tornou-o também patrono dos escribas, dos médicos, dos mágicos e dos arquitectos. Vestido pelo sumptuoso cetim de prata que o luar tece na magia do Infinito, Tot preside igualmente ao festim de feitiços e sonhos, oferecido pela noite no seu excelso palácio de abismos constelados. Incarnação da Lua, eterna maga de fantasias pagãs, Tot fendia a mortalha de trevas e pez que sufocava a essência da noite com a luz imaculada de sua adaga de feitiçaria divina. No cosmos do tempo, a intemporal estrela de um mito imortaliza com seu fulgir ofuscante o incidente que inspirou ao deus- íbis a poesia da Lua. Segundo este, Ré, cujo coração exânime, dilacerado pelos infindáveis conflitos da humanidade, naufragava nos mares da exaustão do sentir e do querer, cede à tentação de abdicar parcialmente da sua existência na terra, em prole de uma vida serena nas alturas celestes. O seu auto- exílio lança o tempo no abismo do caos, visto que doravante o astro- rei somente abençoaria a os seus súbditos terrenos durante o dia, abandonando-os, por conseguinte, às trevas e ao caos, no decorrer da sua viagem pelo mundo subterrâneo. Receando pela sorte da alma humana, Ré evoca então Tot, a fim de o indigitar seu substituto. O poderoso regente dos céus proclamou então: “ Farei com que rodeies os dois céus com tua beleza e claridade. E assim nascerá a Lua”. O seu passeio compassado pelos vales dos céus privilegiou-o com outro dos céus díspares epítetos: “Touro entre as estrelas”. Esta vertente de substituto do Sol durante a noite justificou igualmente que, durante a Época Baixa, o apelidassem de “Áton de prata”. 

Tornado Senhor do Tempo e das Estrelas, Tot ou “Governante dos anos” sonhara igualmente o calendário, permitindo uma distinção entre os dias, os meses, as estações e os anos. De facto, o deus íbis cometeu a audácia de reinventar o conceito de tempo, a fim de prestar auxílio à deusa Nut, incarnação do céu, que, seu o consentimento de Ré se havia unido a Geb, personificação da terra, em lustrais núpcias divinas, fomentando assim a ira do regente supremo dos deuses, que, irado, coagiu Chu a apartar os dois amantes clandestinos, num ímpio desaire: Nut, grávida de cinco meses, jamais poderia dar à luz no espaço de tempo compreendido pelo calendário oficial. Por conseguinte, Tot, saboreando o néctar de criatividade que resvalava do fruto de sua extasiante inteligência, propôs-se a jogar aos dados com a lua, na ânsia de obter cinco dias suplementares, isto é, a septuagésima segunda parte da sua luz, que acolhessem o nascimento dos cinco filhos de Nut (Osíris, Set, Ísis, Néftis, e Horús, o Antigo). Outra flor de míticos encantamentos, vogando sem rumo na corrente do translúcido Nilo da mitologia egípcia, insinua-se em nossos sentidos, através do seu perfume de quimeras ancestrais, convidando-nos a presenciar um dos mais ferozes recontros que opôs Hórus a seu tio Set e que culminou com o dilacerar do olho esquerdo do deus falcão (personificação da Lua, em contraste com o olho direito que simbolizava o Sol). Prontamente, Tot ofereceu-lhe os seus préstimos, restaurando a visão a Hórus, ao substituir o olho dilacerado pelo amuleto uadjet, o que restituiu a harmonia ao cosmos e a magia ao deus- falcão. 

Coroado pela sua beatífica sabedoria regente do generoso éden do conhecimento, Tot esculpira o seu trono na prata da Lua e o seu ceptro na jóia rara da magia suprema. Efectivamente, encontramos em Hermopólis, sua morada eterna, um tempo luxuriante, cujas criptas acolhiam papiros místicos, redigidos por aquele que constituíra o primeiro dos mágicos, venerado e imitado por todos os seus devotos discípulos. Estes, na ânsia de desbravarem a floresta proibida do conhecimento, em cujo coração pulsava a essência da magia, elevavam preces a Ré, crentes de que este conduziria Tot até eles: “Ó velho que rejuvenesceu no seu tempo, velho que se tornou criança, possas tu fazer com que Tot venha até mim, respondendo ao meu chamado”. A mitologia egípcia atribui-lhe a autoria das díspares fórmulas mágicas e textos simbólicos que o morto, ou melhor, o maé- kheru (justificado) ou maet- kheru (justificada) pronunciavam ao franquear as portas do Além e, mais exactamente, no decorrer do julgamento celestial, presidido por Osíris. Suspiros do passado confiam-nos que Tot legou também à eternidade um livro de magia e quarenta e dois volumes, que testemunhavam, sustinham e renovavam toda a magia do cosmos. Por conseguinte, prestar culto ao deus- íbis revelava-se incontornável e, na realidade, capital, para qualquer sábio. De facto, todos os escribas que ornavam de sabedoria a alma do Egipto, desde os mais humildes aprendizes, ou em egípcio, sebati, ao mais proeminente mestre (sebá) ritualizavam a sua devoção, derramando algumas gotas de tinta numa notória oblação a Tot. 

Por último, Tot tece, juntamente com inúmeras outras deidades, o destino dos inumados no Além, exercendo a função de escriba divino e arauto dos deuses fúnebres. Desta forma, é ele quem introduz o defunto no recinto celestial onde será julgado, para, após a pesagem do coração deste, registar, nas tabuinhas sagradas, o veredicto proferido por Maet. Os sonhos de amor que a existência semeava no coração de Tot eram cultivados e ditados pela noite da geografia e pelas veleidades e metamorfoses da alma humana, pois em Hermopólis, o deus- íbis era proclamado esposo da sagaz Sechat, deusa dos anais e da história, que lhe ofereceu um filho de nome Hornub, enquanto que em Heliópolis Nehemetauai, isto é, “aquela que erradica o mal” era tomada por sua mulher, concebendo com ele Hornefer. Alguns devaneios da mitologia revelam que Tot desposou igualmente Maet, a etérea filha de Ré, versão suplantada por aquela que consignava a união de Tot e Tefnut, resultante da fuga do Olho de Ré para a Núbia, sob a forma da graciosa deusa. Incumbido de a restituir ao seu legítimo proprietário, o deus– íbis não terá resistido aos seus encantos, desposando-a no seu retorno ao Egipto. Porém, enquanto entidade intelectualmente superior, abençoada pela consciência da incomensurabilidade da sua sagacidade, Tot bebe da fonte da pretensão, tornando-se terrivelmente enfadonho, displicente e com uma hedionda propensão a exibir a sua inteligência através de uma retórica prolixa, escrava de uma abominável e excessiva facúndia, tal como sugere um determinado episódio do mito osírico: Na ânsia de escapar à pravidade do deus Seth, Ísis, sustendo nos braços seu filho Hórus, toma os pântanos de Chemnis, como seu refúgio de eleição. Coagida pela escassez de alimentos, a deusa abandona todas as manhãs o seu filho, a fim de assegurar a subsistência de ambos. Contudo, uma noite, ao retornar de mais uma extenuante peregrinação em busca de géneros alimentares, Ísis deparou-se com Hórus inconsciente e, desesperada, evocou Rá, que, por seu turno, não hesitou em solicitar a Tot que restituísse a saúde à criança. Após examinar cuidadosamente o enfermo, o eloquente deus- íbis lançou-se em abstractas cogitações, extravasadas sob a forma de praguejos pontuais e monólogos facundos e muito pouco apropriados. Exasperada com a sua inércia, Ísis arrebata Tot aos seus devaneios, admoestando-o severamente por “sábio ser o seu coração, mas terrivelmente demoradas as suas resoluções”.

Detalhes e vocabulário egípcio:

Tot era designado, em egípcio, por Djehuti, numa hipotética alusão a Djehut, a décima quinta província do Baixo Egipto, cuja denominação evocava o íbis, um dos seus animais sagrados. 

Tal como já referido, o insigne mestre do Verbo era representado como um homem com cabeça de íbis, ornada pelo disco da Lua ou por uma coroa atef com o disco, uraeus e chifres. Em suas mãos, Tot sustém um cálamo e uma paleta de escriba. É sob esta forma que o deus- íbis regista os nomes dos faraós nas folhas da divina árvore persea, aquando da sua ascensão ao imponente trono do Egipto. Todavia, Tot surge-nos igualmente enquanto íbis ou, eventualmente, sob a forma de um babuíno. 

Emissária das leis cósmicas, a magia, ciência divina personificada por Tot, é soberana do universo egípcio, instituindo um reinado de coesão espiritual que encontra na “mulher sábia” uma das suas maiores depositárias,. Tal como nos sugerem os arquivos de Set Maet, “Lugar de Verdade”, povoação alguma, independentemente do seu tamanho, se privava da protecção destas grandes magas. Habilitada a instaurar a harmonia onde o caos reinava, a exonerar as forças malignas e a preconizar o futuro, esta vidente surge-nos com frequência ajoelhada defronte de Tot, que sem hesitar a convidava a franquear a sua morada de sabedoria. 

Sechat- Deusa da escrita e da medição, usualmente retractada como uma mulher envergando um vestido de pele de pantera. Em sua cabeça, insinuava-se um toucado com uma estrela de sete pontas e um arco. Juntamente com Tot, a sua versão masculina, inscrevia o nome dos faraós indigitados na sagrada árvore persea. A II Dinastia concedeu-lhe o privilégio de assistir o regente terreno no ritual de fundação de “esticar a corda”. A partir do Médio Império, a sua efígie é uma constante nos cenas dos templos dedicadas às campanhas militares, sendo representada a registar o número de cativos e despojos de guerra conquistados pelo Egipto. O Império Novo associou-a também ao festival jubilar Seb. A deusa Sechat consagrou-se igualmente regente da Casa da Vida, onde se compunham os rituais vitais para a conservação da harmonia cósmica e onde os faraós eram iniciados nos enigmas da sua função. Patrona das bibliotecas e protectora dos textos fundamentais, Sechat regista a oratória da vida com seu pincel divino, ditando nos contornos de suas palavras o destino dos faraós, tal como é demonstrado no templo de Séti I em Abidos: “A minha mão escreve o seu longo tempo de vida, a saber: do que sai da boca da Luz Divina (Ré), o meu pincel traça a eternidade; a minha tinta, o tempo; o meu tinteiro, as inúmeras festas de regeneração.” 

Biografia Drunvalo Melchizedek



Drunvalo Melchizedek é cientista, físico, matemático, inventor e pesquisador. Estudou física e letras na University of California, em Berkeley, mas pessoalmente julga que a sua instrução mais importante aconteceu depois da faculdade. 
Nos últimos 25 anos, ele estudou com mais de setenta professores de todas as crenças e sistemas religiosos, o que lhe proporcionou uma ampla gama de conhecimentos, altruísmo e aceitação. Atualmente ele vive em Sedona, Arizona, com sua esposa Claudette. Ele tem seis netos.

Trabalhou junto ao governo egipicio no estudo das piramides de Gizé e lidera a comunicação entre muitas tribos pelo mundo e o mundo civilizado, incluindo os Maias.

Atualmente trabalha dando workshops sobre técnicas espirituais nos USA e em mais de 33 países. Foi a primeira pessoa no mundo de nossa era a desvendar matematicamente e geometricamente o corpo de luz conhecido em tempos antigos como Merkaba, uma de suas técnicas principais ensinadas em seus workshops. Autor de 4 livros sobre conhecimento místico e espiritualidade. 
Não só a mente de Drunvalo é excepcional, mas também a sua afetividade, a sua personalidade marcante, o seu amor por toda forma de vida são imediatamente compreendidos e sentidos por todos aqueles que o conhecem. 


Há algum tempo, ele vem aplicando a sua vasta visão do mundo no curso Flor da Vida e na meditação Mer-Ka-Ba. Esses ensinamentos abrangem todos os campos do conhecimento humano, investigam o desenvolvimento da humanidade desde as civilizações antigas até o momento atual e aumentam a percepção do estado de consciência mundial. 
Dá conferências e ministra cursos em todo o mundo. Contribui incansavelmente com projetos de consciência e preservação do meio-ambiente. É um ser de imenso coração cujo principal propósito na Terra é auxiliar a humanidade a viver em alegria e a re-lembrar seu propósito na Terra. 
Nesse sentido, seu trabalho mais importante tem sido o de compilar e de tornar acessíveis os ensinamentos de Geometria Sagrada, da Flor da Vida (o padrão de criação de tudo o que existe) e da Mer-ka-ba.

"Todas as religiões do mundo estão falando da mesma Realidade. Elas usam palavras diferentes, conceitos e idéias diferentes, mas há somente uma única Realidade, e há somente um Espírito se movendo através de toda a vida. Podem haver diferentes técnicas para chegar lá, mas há somente uma que é real, e quando você está lá, você vai saber. Qualquer que seja o nome que você dê a ela - você pode chamá-la de diferentes nomes - é tudo uma coisa só." Drunvalo Melchizedek

Há anos este homem abandonou o curso normal de sua vida para buscar o verdadeiro sentido da mesma e a verdadeira ciência. De forma resumida é um cientista que estudou os conhecimentos perdidos da antiguidade e explorou temas incríveis como a geometria sagrada e a flor da vida. Nas suas pesquisas descobriu uma ligação entre o que é científico e o que é espiritual. Está espalhando seu conhecimento pelo mundo em seus cursos, palestras e livros. 
“Estava estudando para obter minha especialização em Física e minha segunda graduação em Matemática na Universidade da Califórnia, em Berkeley, prestes a receber meu diploma. 
Só faltava mais 1/4 para minha graduação. Aí decidi que não queria mais a graduação porque havia descoberto algo sobre os próprios físicos que me desanimou da ideia de me envolver numa ciência que eu havia percebido que não era ciência de forma alguma. 
Então me voltei para o outro lado do meu cérebro e comecei a me graduar em Belas Artes. Meus tutores pensavam que eu estava louco: “Você vai desistir de um diploma de Física?” me perguntavam. Mas eu não precisava daquilo, não queria aquilo. Então para me graduar em Artes, precisei frequentar a faculdade por mais dois anos. Finalmente, estava no último semestre para me graduar em artes, e pensava: “Eu não sei se consigo fazer isso. Estou tão cansado. Quase não aguento mais.”

Aí ocorreu “Kent State”. Todo o sistema de educação escolar dos Estados Unidos fechou, e foram expedidas notas B para todos os alunos, e os deixaram passar. Assim, obtive minha graduação em Belas Artes sem ter que terminar o último semestre que faltava. 
Minhas mudanças de especialização fazem sentido agora, porque quando você estuda as escrituras antigas, você descobre que as pessoas daqueles tempos consideravam a arte, a ciência e a religião como sendo entrelaçadas, interligadas. Assim, a programação que executei foi condizente com o que estou fazendo agora.


MUDANDO-ME PARA O CANADÁ 


Graduei-me em 1970. Depois, após ter estado no Vietnã e vendo o que ocorria no nosso país naquela época, eu disse finalmente: “Já chega! É isso! Não sei como vou viver ou o que vai acontecer, mas vou é ser feliz e fazer o que sempre desejei fazer”. Decidí abandonar tudo e fui viver nas montanhas como sempre havia desejado. 
Assim, deixei os Estados Unidos e fui para o Canadá, sem saber que um ano depois seria seguido por dez mil pessoas que protestavam contra a guerra do Vietnã. Casei-me com uma mulher chamada Renee e fomos os dois para o meio do nada, e encontramos uma casa num lago chamado Kootenay. Estávamos longe de tudo. Era preciso andar por quatro milhas a partir da estrada mais próxima para chegar à nossa casa. Estávamos completamente isolados. E comecei a viver a minha vida exatamente como sempre havia desejado. 
Sempre desejei saber se poderia viver do nada; então resolvi tentar. Fiquei com um pouco de medo no começo, mas com o tempo, ficou mais fácil, e logo tornei-me um adepto da vida natural. Eu vivia uma vida linda e plena, com basicamente nenhum dinheiro. 
Depois de um tempo percebi, “hey, isto é muito mais fácil do que manter um emprego na cidade!” Eu só tinha que trabalhar duro por três ou quatro horas por dia, depois disso eu tinha o resto do dia livre. Era o máximo. Eu podia tocar música e passear por lá e aproveitava um bocado. E foi exatamente o que eu fiz. Eu me divertia. Tocava música umas dez horas por dia, com muitos amigos que vinham de longe. Nosso local pegou uma boa fama naquela época. Aparecia uma média de 11 pessoas por dia para tocar música e se divertir – e nós apenas nos divertíamos. 
E assim, o que é muito importante para a minha compreensão hoje, eu descobri algo sobre mim mesmo. Era desse – retorno à minha criança interior, que é como eu me refiro àqueles dias – que eu libertei minha criança interior, e com essa libertação, algo me aconteceu, que foi o catalisador que me trouxe à minha vida como ela é hoje.

ENCONTRANDO COM OS ANJOS 

Estando em Vancouver, minha esposa e eu decidimos que queríamos conhecer meditação, então iniciamos nossos estudos com um professor hindu que morava na região. Queríamos seriamente compreender o que era meditação. Tínhamos muitas túnicas de seda brancas com capuzes e estávamos seriamente nos empenhando nessa busca que havíamos iniciado. 
Aí um dia, após praticarmos a meditação por mais ou menos quatro ou cinco meses, dois anjos altos de mais ou menos 3,5m apareceram em nossa sala! 
Um era verde e o outro era lilás. Podía-se ver através de seus corpos transparentes, mas eles estavam realmente ali. Não esperávamos por essa aparição. Estávamos apenas seguindo as instruções que o nosso professor hindu havia nos dado. Não acredito que ele tenha compreendido plenamente pois continuou nos fazendo perguntas e parecia não entender também. Daquele momento em diante, de longe, minha vida nunca mais foi a mesma.

As primeiras palavras que os anjos me disseram foram: “Nós somos você.” Eu não tinha idéia do que eles queriam dizer com isso. Falei: “Vocês são eu?” E assim, eles começaram a me ensinar lentamente várias coisas sobre mim mesmo e o mundo, e sobre a natureza da consciência… até que finalmente meu coração simplesmente se abriu completamente para eles. Eu sentia um amor tremendo por parte deles, o que mudou totalmente a minha vida. 
Por um período de vários anos, eles me conduziram por vários professores. Eles diziam até o endereço e o telefone ou qual professor eu deveria contactar. Eles me diziam até se eu deveria telefonar primeiro ou apenas me dirigir diretamente às casas deles ou delas. Então eu fiz isso – e era sempre a pessoa certa! Aí eu era instruído a ficar com aquela pessoa por um certo período de tempo. 
Algumas vezes, bem no meio de um ensinamento específico, os anjos diziam: “Tudo bem, acabou. Vá embora.” Lembro-me de quando eles me enviaram a Ram Dass. Eu fiquei “morando” em sua casa por uns três dias me perguntando que raios eu estava fazendo lá. Daí, um dia eu pus as mãos em seus ombros para dizer algo e senti um tranco que praticamente me jogou no chão. E foi assim – os anjos disseram: “É isto. Você pode ir embora agora”. E eu falei: “tudo bem”. Ram Dass e eu nos tornamos amigos, mas o que quer que eu fosse aprender com ele havia terminado naquele mesmo segundo.

Os ensinamentos de Neem Karoli Baba, professor de Ram Dass, são muito importantes para mim. Ele acreditava que “a melhor forma de ver Deus é em toda forma”. Também estive exposto ao trabalho de Yogananda e tenho carinho por quem ele foi. E mais tarde estarei falando sobre Sri Yukteswar e um pouco do seu trabalho. 
Estive intensamente envolvido com a maioria das principais religiões. Só não com os Sikhs, pois não acredito que seja necessária preparação militar, mas estudei e pratiquei quase todas as outras, Muçulmana, Judaica, Cristã, Hindu, Budista, Tibetana. Estudei profundamente o Taoísmo e o Sufismo – passei onze anos no Sufismo. De todos estes, os professores mais poderosos para mim, no entanto, foram os índios norte-americanos. Foram os nativos que abriram a porta para que ocorresse todo o meu crescimento interior. Eles têm tido uma influência poderosa na minha vida."

Obras

O ANTIGO SEGREDO DA FLOR DA VIDA (vol.1 e vol.2)
SERPENTE DE LUZ
VIVENDO NO CORAÇÃO 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

La Esfinge Por Papus

A propósito de la constitución humana, debo ante todo hacer la tradición, ya que esta cuestión interesó a todos los hombres de los siglos pasados. Veamos pues cómo los Antiguos lo habían resuelto. ¡ Pues bien! Habían expresado muy simplemente la solución por un símbolo que ustedes todos conoce de nombre: ¡ la ESFINGE!
La esfinge era la síntesis antigua más nítida por la cual se puede representar las adaptaciones diversas del ser humano en todos los planos. En efecto, el hombre nos presenta fuerzas físicas simbolizadas por el buey; fuerzas morales - El coraje, la virtud, virtus en latino-, simbolizadas por el león; fuerzas intelectuales simbolizadas por el águila; por fin, una fuerza de esencia divina - el ángel, la cabeza humana - Que, concentrando las tres fuerzas animales precedentes, de hecho una unidad.
Los Antiguos habían concebido así tres tipos de hombres: el hombre de trabajo, el hombre completamente físico, el hombre buey; el hombre de coraje, el hombre que se pelea o que lucha, el hombre-león; el hombre que jamás es sobre tierra, que sueña o se pasea en las nubes, el que es la desesperación de notables comerciantes que se ocupan de tienda de ultramarinos - cuando tienen por él hijo -el poeta, el hombre-intelectual simbolizado por el águila.
Pero estas tres naturalezas - naturaleza linfática del buey; naturaleza sanguínea del león; naturaleza nerviosa del águila - absolutamente son sólo unos seres animales en nosotros, y si la voluntad no venía dirigirlas y dominarlas, el hombre realmente no existiría y verdaderamente no sería selección-unidad, es decir al dominar una unidad una trinidad.
Lo que quiero hacerle ver, en primer lugar, en este admirable hace la síntesis antigua que era la esfinge, es que hay tres inconscientes dominados por una conciente. Veremos cuánto nuestros sabios son felices de haber descubierto un inconsciente en el ser humano. ¡ Lo que sería si sabían que existieran de allí tres!... ¡ Pues bien! Los viejos egipcios habían representado la síntesis humana mucho mejor que lo hicieron los filósofos o los contemporáneos sabios y, esto,mostrándonos tres inconscientes que constituían el hombre y eran regidos por una conciencia total que lo sintetiza.
Si Œdipo había respondido a la esfinge que le interrogaba: « ¡ eres el hombre!
» Sin dar otros detalles, no habría mostrado las adaptaciones maravillosas de este símbolo.
La esfinge representa no sólo al hombre en sus cuatro acepciones, sino que además las cuatro edades del hombre: la infancia, la juventud, la edad madura y la vejez; representa las cuatro fuerzas morales que el hombre puede tener a su disposición y que son sintetizadas en estos cuatro términos: saber, atreverse,querer y callarse; representa por fin los cuatro puntos cardinales que rigen al hombre astral, que determinaron la marcha de la estrella de los Magos y que se hicieron la llave de todas las tradiciones.
Cuando se nos dice que la esfinge es un símbolo muy viejo que no presenta ningún interés para nosotros otros modernos, no olvidemos que la tradición es sagrada y, lo mismo que pueblo orgulloso de su independencia es feliz de relacionarse por su origen con pueblo anterior, también, toda tradición está orgullosa de relacionarse por un medio invisible con otra tradición anterior.
Recuerde esta fábula encantadora que representa a la Virgen María y su marido que huye en el desierto con Niño Jesús y bastidor entre las patas de la esfinge.
 Esto distintamente le muestra al que el antiguo tradición egipcia acabó en la religión del Cristo. También se representó a cada uno de cuatro evangelistas por un animal de la esfinge: Mateo, por el buey; Marco, por el león; Lucas, por el hombre; y Juan, por el águila.
Cada Evangelio es adaptado así a cada uno de cuatro temperamentos humanos y manifiesta una de las fuerzas lo que el hombre puede desarrollar. Tal es esta síntesis maravillosa que dirigía la constitución de la ideología antigua.

Referencia:
Papus, Tratado elemental de ocultismo - Iniciación al estudio del esoterismo hermético, pp.
27-32

La Esfinge Por Eliphas Levi

El septenario es el número sagrado en toda la teogonía y en todos símbolos,porque es constado por el ternario y por el cuaternario.
El número siete representa el poder mágico en toda su fuerza; es el espíritu prestado asistencia por todas las fuerzas elementales; es el alma servida por la naturaleza, es el sanctum regnum el que es hablado en las Clavículas de Salomón, y el que es representado en el Naipe por un guerrero coronado que se apoya un triángulo en su coraza, y de pie en un cubo, a los cuales son uncidos dos esfinges, una blanca y la otra negra, que tiran en dirección contraria y vuelven la cabeza mirándose Este guerrero es armado con una espada resplandeciente, y tiene de la otra mano un cetro rematado por un triángulo y por una bola.
El cubo, es la piedra filosofal, las esfinges son ambas fuerzas del gran agente,los corresponsales en Jakin y en Boas, que es ambas columnas del templo; la coraza, es la ciencia de las cosas divinas que devuelve al sabio invulnerable a los atentados humanos; el cetro, es la varilla mágica; la espada resplandeciente, es el signo de la victoria sobre los vicios, que son en total de siete, como las virtudes;las ideas de estas virtudes y de estos vicios fueron figuradas por los antiguos bajo los símbolos de los siete planetas conocidos entonces.
Así, la fe, esta aspiración al infinito, esta confianza noble en sí misma,sostenida por la creencia en todas las virtudes, la fe, que en las naturalezas débiles puede degenerar en orgullo, fue representada por el Sol; la esperanza, la enemiga de la avaricia, por la Luna; la caridad, opuesta a la lujuria, por Vénus, la estrella brillante de mañana y de tarde; la fuerza, superior a la cólera, por Marte; la prudencia, opuesta a la pereza, por Mercurio; la templanza, opuesta a la golosina,por Saturno, a la que se da una piedra a comer en el sitio de sus hijos; y la justicia,por fin, opuesta a la envidia, por Júpiter, vencedor de los Titanes. Tales son los símbolos que la astrología toma del culto helénico. En la cábala de los Hebreos, el Sol representa al ángel de luz; la Luna, el ángel de las aspiraciones y de los sueños; el marzo, el ángel exterminador; Vénus, el ángel de los amores; Mercurio,el ángel civilizador; Júpiter, el ángel de potencia; Saturno, el ángel de las soledades. Los nombramos también Michaël, Gabriel, Samael, Anael, Rafael,Zachariel y Orifiel.
Estas energías dominadoras de las almas se reparten la vida humana por períodos, que los astrólogos medían sobre las revoluciones de los planetas correspondientes.
Pero no hay que confundir la astrología cabalística con la astrología judicial.Explicaremos esta distinción. La infancia es consagrada al Sol, la adolescencia a la Luna, la juventud a Marte y Vénus, la virilidad a Mercurio, la edad madura a Júpiter, y la vejez en Saturno. Oro, la humanidad muy entera vive bajo leyes de desarrollo análogas a las de la vida individual. Es sobre la base que Trithème establece su clavícula profética de los siete espíritus de la que hablaremos en otro lugar, y por medio de la que se puede, siguiendo las proporciones analógicas de los acontecimientos sucesivos, predecir con certeza los grandes acontecimientos futuros, y fijar por anticipado, de período a período, los destinos de los pueblos y de la gente.
San Juan, depositario de la doctrina secreta del Cristo, depositó esta doctrina en el libro cabalístico del Apocalipsis, que representa cerrado por siete sellos.
Reencontramos allí los siete genios de las mitologías antiguas; con las copas y las espadas del Tarot. El dogma escondido bajo estos emblemas es la cábala pura,ya perdida por Fariseos en la época de la llegada del Salvador; los cuadros que se suceden en esta epopeya maravillosa y profética son tanto de pentacles, entre los que el ternario, el cuaternario, el septenario y el duodenario son las llaves. Las figuras jeroglíficas son análogas de allí a las del libro de Hermès o del Génesis de Hénoch, para servirnos del título arriesgado que expresa solamente la opinión personal del sabio Guillermo Postel.
El chérub o el toro simbólico al que Moisés coloca en la puerta de la gente edénica, y que aprecia la mano una espada resplandeciente, es un esfinge que tiene un cuerpo de toro y una cabeza humana: es el antiguo esfinge asirio, entre los que el combate y la victoria de Mithra eran el análisis jeroglífico. Este esfinge armado representa la ley del misterio que vela por la puerta de la iniciación para apartar de eso a los profanos. Voltaire, que no sabía nada de todo eso, se rió mucho de ver un buey tener una espada. ¿ Que habría dicho si había visitado las ruinas de Memphis y de Tebas, y que habría tenido que responder a sus pequeños sarcasmos, tan probados en Francia, este eco de los siglos pasados que duerme en los sepulcros de Psamétique y de Ramsès?

Referencia:
Eliphas Lévi, Dogma y Ritual de la Alta Magia - Dogma - Capitulo VII: La Espada


LA ESFINGE

En este poema en alejandrino, muy bien escritos y bien equilibrado, Eliphas Lévi le ofrece al lector, a través de la Esfinge, un resumen simbólico de lo que son la Vida y la Iniciación. Afirma allí nuestra responsabilidad completa frente a nuestros actos y frente a sus consecuencias, y evoca esta Verdad a menudo desconocida que no es Dios quien nos "castiga", pero completamente yo mismo (no se trata, de hecho, de castigos, sino de reequilibrados de las energías mal utilizadas, bajo la influencia de las Leyes Universales).
Que aspirará todo a la Sabiduría eterna meditará con fruto sobre este poema iniciático y muy bello.

La Ciencia Fatal

La Esfinge esta sentada en su roca solitaria, Proponiendo un enigma en toda frente prosternada, Y si el rey futuro cedía al misterio, El monstruo decía: ¡ muere, no adivinaste en absoluto!
Sí, para el hombre aquí abajo, la vida es un problema, Que resuelve el trabajo bajo guadaña de la Muerte. Del futuro para nosotros la fuente está en nosotros mismos, Y el cetro del mundo pertenece a más mucho.
¡ Sufrir es trabajar, es acabar su tarea!
¡ Desgracia al perezoso qué duerme sobre el camino!
El dolor, como un perro, muerde los talones del cobarde Que de un solo día perdido sobrecarga el día siguiente.
Vacilar, es morir; equivocarse, es un crimen Previsto por la naturaleza y por anticipado expiado.
El ángel mal liberado recae sobre el abismo,¡ Reino y desesperación de Satanás fulminado! Dios jamás tiene lastima ni de clamores ni lágrimas,¿ Para consolarnos totalmente no tiene el futuro?Es a nosotros quienes de la desgracia forjamos las armas,¡Es a nosotros a quienes encargó del cuidado de castigarnos!
Para dominar a la muerte, hay que vencer la vida,Hay que saber morir para revivir inmortal;Hay que pisotear la naturaleza esclavizada ¡Para convertir al hombre en sabio y la tumba en altar!De la Esfinge, la última palabra es la hoguera de Alcide, Es el rayo de Edipo y la cruz del Salvador.
Para engañar los esfuerzos de la serpiente deicida,¡ Hace falta al santo amor consagrar el dolor!La frente de hombre de la Esfinge habla de inteligencia, Sus ubres de amor, sus garras de combates;Sus alas son la fe, el sueño y la esperanza,¡Y sus costados de toro el trabajo aquí abajo!
Si sabes trabajar, creer, gustar, defenderte,Si por necesidades viles no eres encadenado,Si tu corazón sabe querer y tu espíritu comprender,¡ Rey de Tebas, adiós! ¡ Tú he aquí coronado!
Eliphas LÉVI