terça-feira, 29 de outubro de 2019

Tradições de Sacerdotisas


Sacerdotisas é uma palavra derivada do latim Sacerdos – sagrado; e otis – representante, portando “representante sagrada”. São autoridades de alto nível hierárquico que ministram ritos espirituais ou religiosos. São capacitadas, através de intensivo treinamento, a dirigir ou representar divindades ou poderes supremos em rituais sagrados de uma religião em particular. No passado desta mesma era, elas podiam administrar rituais religiosos, em especial, os ritos de sacrifício e expiação de uma divindade ou divindades. Na atualidade, os rituais são realizados para invocação de divindades, poderes ou consciências superiores para devoção, despertar e curas.

As Sacerdotisas existem desde o início das sociedades mais ancestrais. Elas existem em todos ou alguns ramos do  xintoísmo, hinduísmo, xamanismo como xamãs e muitas outras religiões, como também, são geralmente considerados como tendo um bom contato com a divindade ou divindades da religião e muitas vezes os outros crentes pedem conselhos sobre questões espirituais a eles.

Em muitas religiões, o ofício de sacerdote ou sacerdotisa é um trabalho de tempo integral, exigindo total dedicação. Em algumas religiões, tornar-se um sacerdote ou uma sacerdotisa é feito por eleição; enquanto em outras, o sacerdócio é herdado em linhas familiares, como um casta, como na Índia e Egito.

Religiões politeístas

Na história do politeísmo, um sacerdote administra o sacrifício a um deus, muitas vezes em um ritual altamente elaborado. Sacerdotisas na Antiguidade, muitas vezes exerciam a prostituição sagrada, e na Grécia Antiga, alguns sacerdotisas como a Pitonisa, sacerdotisa de Apolo em Delfos, atuava como oráculos.

Sacerdotisas antigas

Na civilização suméria e acádia , as Entu eram um escalão de sacerdotisas superiores que eram distinguidas com trajes cerimoniais especiais e o estatuto de igualdade com sacerdotes do sexo masculino. Eram donas de propriedade, realizavam transações econômicas, e realizavam cerimônias com os sacerdotes e reis.[1]
As Nadītu serviram como sacerdotisas nos templos de Inanna, na antiga cidade de Uruk. Elas foram recrutados no maior famílias na terra e que deviam permanecer sem propriedade, sem filhos ou negócios. Também nos textos épicos sumérios como “Enmerkar” e o “Senhor de Arata”, Nu-Gig eram sacerdotisas em templos dedicados a Inanna.[2]
A Puabi era um sacerdotisa e rainha semita acádia.
Na Bíblia hebraica (קדשה) Qedesha ou Kedeshah , derivado da raiz Q-D-Š[3][4] eram prostitutas de templo geralmente associadas com a deusa Asherah.
Quadishtu serviam nos templos da deusa suméria Qetesh.
Ishtaritu eram especializadas nas artes, música, dança e canto e serviam nos templos de Ishtar.[5]

Tradições de Sacerdotisas:

As Pitonisas:

Os gregos davam o nome de Pitonisas a todas as mulheres que tinham a profissão de adivinhas, porque o deus da adivinhação, Apolo, era cognominado de Pítio, quer por haver matado a serpente-dragão Píton, quer por ter estabelecido o seu oráculo em Delfos, cidade primitivamente chamada Pito.
A Pitonisa era a sacerdotisa do oráculo de Delfos. Sentada sobre o trípode ou cadeira alta com três pés, acima do abismo hiante de onde brotavam as exalações proféticas; ela divulgava seus oráculos uma vez por ano, no começo da primavera. Mas antes de se sentar na trípode, a Pitonisa se banhava na fonte de Castália, jejuava três dias, mascava folha de loureiro, e com religioso recolhimento, cumpria várias cerimônias. Terminados esses preâmbulos, Apolo prevenia a sua chegada ao Templo que tremia até os alicerces. Então a Pítia era pelos sacerdotes conduzida à trípode. Era sempre em transportes frenéticos que ela desempenhava sua função: dava gritos, uivos e parecia possuída pelo deus. Assim que desvendava o oráculo caía em uma espécie de transe, que algumas vezes durava muitos dias. A princípio existiu uma única Pitonisa, mas com o tempo, o grande número de consultas que eram regularmente feitas, exigiu que se criassem ou que se recrutassem novas Pitonisas. Para atingir a grande honra de ser sacerdotisa, isto é, Pitonisa, era necessário satisfazer algumas condições consideradas essenciais, como ser pura, haver recebido uma educação simples e jamais haver conhecido o luxo, vestindo-se com recato. De preferência as Pitonisas eram recrutadas entre as famílias pobres, porque, acreditavam os gregos que a riqueza era incompatível com a elevada missão da Pitonisa.

Pítia

Sacerdotisa de Delfos (1891), de John Collier; a pítia se inspirava através do pneuma, os vapores que sobem na parte inferior da tela.

A pítia (em grego: Πυθία, transl. Pythía) ou pitonisa era a sacerdotisa do templo de Apolo, em Delfos, Antiga Grécia, situado nas encostas do monte Parnasso. A pítia era amplamente renomada por suas profecias, inspiradas por Apolo, que lhe davam uma importância pouco comum para uma mulher no mundo dominado pelos homens da Grécia Antiga. O oráculo délfico foi fundado no século VIII a.C.,[1] e sua última resposta registrada ocorreu em 393 d.C., quando o imperador romano Teodósio I ordenou que os templos pagãos encerrassem suas operações. Até então o oráculo de Delfos era tido um dos mais prestigiosos e fiáveis oráculos do mundo grego.

O oráculo é uma das instituições religiosas mais bem documentadas do mundo clássico grego. Entre os escritores que o mencionaram estão Heródoto, Tucídides, Eurípides, Sófocles, Platão, Aristóteles, Píndaro, Ésquilo, Xenofonte, Diodoro, Estrabão, Pausânia, Plutarco, Lívio, Justino, Ovídio, Lucano, Juliano, o Apóstata e Clemente de Alexandria.

O nome ‘Pítia’ vem de Pytho, o nome original de Delfos na mitologia. Os gregos derivaram este topônimo do verbo pythein (πύθειν, “apodrecer”), utilizado a respeito da decomposição do corpo da monstruosa serpente chamada Píton, depois que ela foi morta por Apolo.[2]

A mitologia grega também apresenta Apolo matando Píton, e dividindo seu corpo em dois, como uma ação necessária para se tornar dono do oráculo de Delfos[3]. Na mitologia babilônica a morte de Tiamat pelo deus Marduk, que divide seu corpo em dois, é considerada um grande exemplo de como correu a mudança de poder do matriarcado ao patriarcado: “Tiamat, a Deusa Dragão do Caos e das Trevas, é combatida por Marduk, deus da Justiça e da Luz. Isto indica a mudança do matriarcado para o patriarcado que obviamente ocorreu”[4].

Um ponto de vista comum a seu respeito afirmava que a pítia apresentava seus oráculos durante um estado de frenesi causado por vapores que subiam de uma fenda no rochedo sobre o qual o templo havia sido construído, e que ela falava coisas sem sentido que eram transformadas pelos sacerdotes do templo em enigmáticas profecias, preservadas na literatura grega.[5]

As Pítias:

A Pítia era a sacerdotisa de Delfos e como tal, tinha contacto directo com o Deus Apolo e agia como sua intermediária.  Os gregos recorriam muitas vezes a ela com intuito de pedirem -lhe que colocasse questões ao Deus e que lhes transmitisse a sua resposta. Sabe-se que na história de Delfos foi sempre uma sacerdotisa a intermediária entre o deus Apolo e os homens, talvez devido à emocionalidade que geralmente é mais atribuída ás mulheres. A Pítia sentava-se num tripé e entrava em estado de transe, no fim comunicava à pessoa a resposta que o Deus lhe havia fornecido em relação à sua pergunta.

Foi a Pítia de Delfos que disse a Sócrates ser o homem mais sábio de todos os homens de Atenas.

A Pítia, era amplamente conhecida pelas suas profecias inspiradas por Apolo. Ela proferia seus oráculos sentada num tripé que ficava sobre uma fenda de onde emanavam vapores. Ao inalar esses vapores entrava em estado extático e assim profetizava.

Durante a possessão, a sacerdotisa mastigava folhas de louro, cuja árvore era sagrada para Apolo, e usava também uma taça com água.

De acordo com historiadores, esses eflúvios, vapores exalados do templo, eram bastante perigosos e só a profetisa é quem podia respirá-lo. Pastores e simples mortais poderiam chegar a cometer o suicídio caso o respirassem por acaso antes de Pítia. Mas era preciso que esta fosse pura, virgem e mantivesse uma vida sadia pois só assim seria possível receber a inspiração divina sem sofrer consequencias. O espírito da Pítia deveria estar disponível, calmo e sereno para que a possessão pelo Deus não fosse rejeitada. Se isso acontecesse, estaria ela sob risco de morte.

O oráculo délfico foi fundado no século VIII a.C. e a última resposta registrada aconteceu em 393 d.C., quando o imperador romando Teodósio I ordenou que os templos pagãos encerrassem suas operações. Esse oráculo era uma dos mais pretigiosos e confiáveis do mundo grego.

Pítia é aquela que fala em lugar do deus. Também chamada de Sibila ou Pitonisa, era uma espécie de médium e frequentemente as mensagem píticas eram ambíguas, precisando serem interpretadas por um sacerdote.

Máximas e preceitos dos 7 Sábios da Grécia escritos nas paredes do templo de Apolo em Delfos:

1- A ignorância é intolerável (Tales de Mileto)
2- Moderação na prosperidade (Periandro de Corinto)
3- Saiba aproveitar a oportunidade (Pítaco de Mitilene)
4- Aprenda a saber ouvir (Bias de Priene)
5- Nada em excesso (Sólon de Atenas)
6- Tenha uma língua bendizente (Cleóbulo de Lindos)
7- Conhece-te a ti mesmo (Quílon de Lacedemônia)

Oráculo de Delfos

Era o mais importante centro religioso da Grécia antiga. Entre os séculos 8 a.C. e 2 a.C., ele foi muito procurado por pessoas que supostamente recebiam previsões sobre o futuro, conselhos e orientações. A cidade de Delfos era a sede do principal templo grego, dedicado ao deus Apolo, e em cujos subterrâneos funcionava o famoso oráculo. Na mitologia, o local pertencia originariamente a Gaia (divindade que representa a Terra) e era guardado por sua filha, a serpente Píton. O deus Apolo, associado ao dom da profecia, teria assumido o controle do lugar após matar a serpente, que caiu numa fenda do solo e teria entrado em decomposição, passando a emitir vapores intoxicantes. Os gregos acreditavam que quando uma sacerdotisa – uma mulher de vida irrepreensível escolhida entre as camponesas – inalava tais gases, ela tinha seu espírito possuído por Apolo, que fazia as profecias por meio dela. “A forma mais conhecida de consulta consistia em fazer uma pergunta à sacerdotisa, conhecida como pítia.

Numa espécie de transe mediúnico, ela pronunciava as respostas em versos semelhantes aos usados nos poemas Ilíada e Odisséia, de Homero”, diz Fernando Brandão dos Santos, professor de literatura grega da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara (SP). O centro religioso era consultado por cidadãos comuns e também por líderes políticos, que usavam as profecias para orientar seus governos. Após o Império Romano tomar Delfos, no século 2 a.C., o local sofreu diversas pilhagens e a posterior expansão do cristianismo também contribuiu para a sua decadência. O templo pagão foi fechado definitivamente por um decreto do imperador Teodósio no final do século 4. Algumas questões sobre Delfos, porém, intrigariam cientistas muitos séculos depois. Na década passada, geólogos, químicos e arqueólogos trabalharam na região e concluíram que realmente gases estranhos podiam emanar do Templo de Apolo.

Embaladas por gases alucinógenos, sacerdotisas adivinhavam o futuro dos gregos antigos1. Ao chegar à cidade grega de Delfos, o visitante se registrava e pagava uma taxa. Quando se aproximava o momento da sua consulta, ele se purificava numa fonte de água e seguia pelo caminho sagrado. Este o levava até o Templo de Apolo, onde ficava o famoso oráculo. Ali uma sacerdotisa fazia previsões auxiliada por vários sacerdotes

2. Ao longo do caminho sagrado, que seguia por um terreno acidentado e íngreme, havia estátuas, relicários com tesouros sagrados e outros edifícios dedicados a Apolo. Tais monumentos eram construídos por cidades-estado, como Tebas e Atenas, ou por cidadãos ricos, como agradecimento às previsões e conselhos do oráculo

3. Antes de entrar no Templo de Apolo, os peregrinos sacrificavam uma ovelha ou uma cabra, que tinha suas entranhas examinadas por sacerdotes à procura de sinais proféticos. Em seguida, os visitantes entravam um de cada vez no templo — que era rodeado por colunas e hoje está em ruínas. Lá, apresentavam as consultas à sacerdotisa

4. Antes de cada sessão, a profetisa descia até uma câmara subterrânea sob o templo, onde inalava vapores “sagrados”, que induziam suas profecias. Alguns historiadores acreditam que as respostas eram interpretadas e passadas aos peregrinos pelos sacerdotes. Outros dizem que a própria profetisa falava com o visitante, usando palavras enigmáticas

5. Duas falhas geológicas atravessam Delfos. Estudos feitos em 1996 mostraram que o subsolo do local é formado por pedra calcárea betuminosa, que pode emitir etileno, um gás capaz de produzir alucinações. Isso explicaria os “vapores sagrados”, que subiriam por fendas no terreno, pois as falhas geológicas se cruzam bem abaixo do Templo de Apolo

6. Uma das falhas geológicas está alinhada com uma série de fontes de água , algumas hoje secas, sendo que uma das nascentes fica diretamente abaixo do templo. Quando a água quente, vinda das profundezas da Terra, passava pela camada de pedra calcárea betuminosa, criava condições para a liberação dos vapores de etileno

7. Ao lado do Templo de Apolo havia um teatro, construído no século 4 a.C., que podia acomodar cerca de 5 mil pessoas. Ali eram apresentados espetáculos musicais, peças e sessões de leitura de poesia durante os festivais religiosos realizados em Delfos. O teatro oferecia aos espectadores uma vista majestosa do Templo de Apolo.


Em Roma, Héstia foi venerada como a Deusa Vesta. Lá o fogo sagrado de Vesta uniu todos os cidadãos de Roma em uma família. A Deusa romana Vesta (Héstia) era uma Virgem Eterna conhecida como “aquela de luz”.

Suas sacerdotisas eram as Virgens Vestais que mantinham o fogo sagrado sempre aceso, representavam a alma verdadeira de Roma. Se o fogo se extinguia, as Vestais deveriam reavivá-lo friccionando uma madeira ou estaca.

Seis Vestais de boa origem familiar, iniciando seu ofício entre os sete e os dez anos. Elas eram selecionadas obedecendo determinados critérios que incluiam estarem livres de qualquer tipo de imperfeição física ou mental e possuírem pais livres e vivos. Depois de passarem por uma rigorosa seleção, eram eleitas pelo alto sacerdote para assumirem um compromisso de trinta anos, dos quais, os primeiros dez anos seriam dedicados para estudos (Discípula em Latin) e treinamentos. Os dez anos seguintes, tornavam-se serviçais da Deusa (cuidavam do fogo, da limpeza do templo e participavam de cerimoniais) e os últimos dez, deveriam treinar as novatas Vestais.
As Vestais tinham a cabeça circundada por frisos de lã branca que lhes caíam graciosamente sobre as espáduas e de cada lado do peito. As suas vestes eram muito simples, mas elegantes. Por cima de um vestido branco usavam uma espécie de roquete da mesma cor. O manto, que era de púrpura. No princípio cortavam os cabelos, entretanto, mais tarde, exibiam longa cabeleira.

Eram sempre deixadas à distância das outras pessoas, honradas, e esperava-se que vivessem como Vesta, com terríveis conseqüências se não permanecessem virgens.

Qualquer virgem Vestal que mantivessem relações sexuais com um homem, profanaria a Deusa. Como punição deveria ser enterrada viva, sepultada em uma área pequena e sem ar no subsolo, com luz, óleo, alimento e um lugar para dormir. A terra acima dela seria então nivelada, como se nada estivesse embaixo. Portanto, a vida de uma virgem vestal como personificação da chama sagrada de Héstia era extinta quando ela parava de personificar a Deusa. Era coberta com terra como o carvão que se extingue em uma lareira.

Em compensação, apesar de todos esses rigores, as Vestais gozavam do maior respeito e eram tão sagradas que se passassem ao lado de um homem condenado, esse era perdoado. Eram também, muitas vezes, chamadas para apaziguar as dissensões nas famílias e muitos segredos lhes eram confiados, até os do Estado. Foi entre suas mãos que o imperador Augusto depôs o seu testamento. Depois de sua morte elas o levaram ao Senado Romano.

Quando o luxo se espalhou em Roma, as Vestais passeavam em suntuosa liteira, mesmo em carro magnífico, com um numeroso séquito de mulheres e de escravos.

Há uma lenda que conta que as primeiras Vestais foram eleitas pelo herói troiano Eneas, o primeiro ancestral de todas as coisas romanas.

O imperador Graciano (governante desde 367 até 378 d. C), que era hostil as religiões pagãs, deixou de pagar os salários das Vestais, desviando o dinheiro para pagar o serviços postal imperial. A adoração dos Deuses pagãos foi oficialmente proibida pelo imperador Teodósio (governante desde 379 até 395 d. C) no ano de 394 d. C, e o fogo de Vesta se extinguiu para sempre.

A última Vestal conhecida em Roma foi Coelia Concórdia.

Vestal
As Vestais (em latim virgo vestalis), na Roma Antiga, eram designadas como as sacerdotisas que cultuavam a deusa romana Vesta. Era um sacerdócio exclusivamente feminino, restrito a seis mulheres que seriam escolhidas entre a idade de 6 a 10 anos, servindo durante trinta anos [1]. Durante esse período, as virgens vestais eram obrigadas a preservar sua virgindade e castidade, pois qualquer atentado a esses símbolos de pureza significariam um sacrilégio aos deuses romanos e, portanto, também à sociedade romana.

Origem

Existem várias versões sobre a origem das virgens vestais.
Tito Lívio e o prefácio de “Ab urbe condita”

O historiador Tito Lívio, em seu livro Ab urbe condita, apresenta-nos a sua versão para o surgimento das sacerdotisas vestais em Roma. Segundo ele, o rei sabino Numa Pompílio foi o responsável pela instituição do Colégio dos Pontífices, portanto o criador de alguns sacerdócios, entre eles o das virgens vestais; como se compreende na seguinte passagem:

Além disso, escolheu virgens para o culto de Vesta, sacerdócio oriundo de Alba, que era conhecido pela família do fundador de Roma; para que as sacerdotisas pudessem dispensar cuidados frequentes ao templo, estabeleceu-lhes uma remuneração fornecida pelo estado, e tornou-as, com voto de castidade e com outras cerimônias veneráveis e sagradas.[2]

Porém, Plutarco tem uma versão diferente para o surgimento das virgens vestais, como se pode ver a seguir:

Diz-se ainda que Rômulo instituiu, pela primeira vez, o culto ao fogo, designando virgens sagradas, conhecidas por Vestais. Outros, porém, atribuem a medida a Numa, embora admitam que Rômulo fosse, de outras formas, uma pessoa extremamente religiosa […] [3] e a Numa é atribuída a consagração das Virgens Vestais, e a atribuição da adoração e do cuidado do fogo perpetuo, que lhes é encarregado. [4]

Seleção

O critério da seleção das vestais era feito seguindo algumas exigências, sendo as duas principais: que não tivesse nenhum defeito físico ou mental, como exemplificado na descrição de Aulo Gélio, citando Antístio Labeo; que era um sacrilégio tornar vestal uma menina que “fosse gaga, meio surda ou com alguma deficiência física”[5] e que a vestal estava obrigada a permanecer virgem enquanto durasse o período de seu sacerdócio. Outras exigências para ser uma virgem vestal também eram não ser filha de um flâmine, um áugure, um dos encarregados dos Livros Sibilinos ou um dos sacerdotes de Marte. Eram também impedidas de ser uma sacerdotisa vestal as garotas que estavam noivas de um pontifex maximus e isentas aquelas que já tinham irmãs eleitas para o sacerdócio.[6].

Inicialmente, todas as sacerdotisas vestais escolhidas tinham que ser obrigatoriamente de origem patrícia. Contudo, com a implantação da Lex Papia, em 65 a.C, no período deAugusto, houve uma mudança no recrutamento das vestais, que a partir desse momento também seriam escolhidas de famílias de origem na plebe.[7]

As meninas selecionadas para serem futuras virgens vestais passavam por um ritual nomeado captio, o qual tem semelhança com o rito de cum manum, o casamento romano. Esse rito irá retirar a futura vestal do culto familiar de seu pai para a presença do pontifex maximus, o qual pronuncia as seguintes palavras:

Eu te recebo, Amata, para ser uma sacerdotisa Vestal, que irá realizar os ritos sagrados que é a lei de uma sacerdotisa Vestal e para executar em nome do povo romano, nas mesmas condições, como aquela que era uma Vestal nas melhores condições.[8]

A nova virgem vestal era então conduzida até o atrium vestae e confiada ao Colégio Pontífice (Collegium Pontificum).

Serviço

O serviço das virgens vestais tinha a duração de trinta anos. Nos primeiros dez anos a sacerdotisa iria aprender as obrigações ligadas ao culto de Vesta, nos outros dez anos ela iria exercer suas funções como sacerdotisa vestal e nos últimos dez anos a vestal iria ensinar às novas virgens vestais as suas funções; completados esses trinta anos, a vestal era livre para se casar, recebendo um dote para esse fim[9]. A maioria das virgens vestais escolhia continuar a exercer o sacerdócio.


Vista da Casa das Vestais depois do Palatino. Dentro se vê as ruínas das estátuas das virgens vestais. No alto à esquerda nota-se o que sobrou do Templo Circular de Vesta

A principal atividade das virgens vestais era manter sempre aceso o fogo sagrado no aedes vestae, localizado ao lado da Casa das vestais e ao sudoeste do Fórum Romano. Essa função era necessária, pois, como coloca Robin Wildfang, “o fogo (…) é o fundamento da existência da cidade, a pax deorum“. A existência e continuidade do fogo sagrado indicam a permanência de Roma e do modo de vida romano; deixar o fogo se apagar equivale a deixar o Império romano sofrer a ira dos deuses romanos que iriam aparecer em forma de presságios, como omostrum eprodigium.

Uma das atividades das virgens vestais, além de manter o fogo sagrado de Roma aceso, é a preparação da mola salsa e do muries, ambos agentes purificadores dos ritos religiosos romanos. Amola salsa era preparada com farinha e sal, e o muries feito de sal impuro batido num pilão e cozido. Em ambos os preparos, o fogo sagrado era utilizado[10]. Contudo, a mola salsa era feita apenas três vezes ao ano: no festival da Lupercalia, no festival da Vestalia e em 13 de Setembro.[11].

Devido a inviolabilidade do Templo de Vesta e das próprias sacerdotisas, as mesmas também guardavam os objetos sagrados, tratados solenes e testamentos de várias pessoas, entre elas como dos próprios Imperadores romanos: Augusto, Tibério, entre outros; como cita Suetónio em seu livro Vidas dos Doze Césares.

Vestuário

O vestuário e o penteado das virgens vestais mostram a importância da castidade (castitas) e da pureza das vestais em seu culto. Também demonstram o seu status social especial dentro da sociedade romana, como membros cidadãs de Roma e como não membros da estrutura familiar que rege essa sociedade.

As vestais utilizavam um penteado chamado sex crines, também feito pelas noivas como vemos no fragmento a seguir:

“Noivas são adornadas com seis tranças, porque esse é o mais antigo estilo para isso. O que certamente as virgens vestais também usam, cuja castidade para seus próprios homens – / – noivas de outros” [12]

O vestuário das sacerdotisas era composto pela estola (stola) e o vittae, que são faixas de tecido utilizados pelas vestais para prender o cabelo; usados regularmente. Nos rituais de sacrifício, vestiam a ínfula (infula) e o suffibulum, que era um pano branco colocado em suas cabeças.

A historiadora Mary Beard demonstra a utilização da estola e do vittae como elementos indicativos da associação das vestais com a matrona romana, devido a serem os dois únicos grupos femininos que é permitido o uso da estola na Roma Antiga.

Status e Privilégios

As sacerdotisas vestais possuíam um status jurídico muito particular dentro da sociedade romana. Por serem elas as guardiãs do fogo sagrado, as virgens vestais foram obtendo com o passar dos séculos uma crescente série de privilégios exercidos dentro do direito romano. Essas leis eram direcionadas somente as sacerdotisas de Vesta, não tendo as mulheres romanas nenhuma ligação com essa jurisdição. Alguns dos privilégios são:

– As virgens vestais estão livres da autoridade paterna (Pater familias) e da tutela de seus familiares, citado na Lei das Doze Tábuas;

– Estão livres a fazerem seus próprios testamentos;

– Saírem à rua precedidas de lictores, como faz o magistrado. Os cônsules e pretores ao se encontrarem com as virgens vestais cediam espaço e mandavam abaixar seus fasces diante delas, em sinal de respeito; [13]

– Podem ser enterradas no Pomerium;

– As virgens vestais podem servir de testemunhas para um processo;

O crimem incesti das vestais

A virgindade e a castidade (castitas) são consideradas essenciais para as mulheres romanas e particularmente para as virgens vestais, pois esse binômio têm estreita ligação com a fecundidade e o bem estar da comunidade, representado pelo fogo sagrado, a marca da manutenção da pax deorum. Assim, o fogo sagrado é reproduzido em cada lar romano (domus) através dolararium, simbolizando e perpetuando a pureza da deusa Vesta.

A virgindade das sacerdotisas vestais pode ser comparado, para alguns historiadores, àpudicitia exigida à matrona romana, sendo compreendida por Pierre Grimal[14] e Candida López como simplicidade ao se vestir, austeridade no comportamento social, além de permitir uma percepção de que a virgindade não significa uma esterilidade, mas ao contrário, uma maternidade e/ou fecundidade em potencial. Daí vem a importância da virgem vestal manter a sua castidade e pureza, como entende-se na seguinte passagem de Santiago Montero:

“o bem-estar da sociedade e o futuro da República dependiam em boa parte da presença ou ausência dos prodígios que eram transmitidos pela mulher (…) Mas de igual maneira, a sorte do Estado era considerada também ligada à virgindade dessas sacerdotisas.”[15]

Portanto quando uma sacerdotisa vestal cometia o crimem incesti, a infração a seu voto de castidade era julgada com a pena máxima: a morte. Entretanto havia duas formas de aplicação, a decapitação e a Tapocrifação, no qual a sacerdotisa vestal era enterrada viva, com um pedaço de alimento e um pouco de água para beber. Suetônio nos descreve um desses acontecimentos:

“De diversas maneiras, mas sempre severas, refreou os incestos das virgens vestais, pelos quais nem o pai nem o irmão se interessaram… Primeiro, puniu-os com a decapitação; mais tarde, com o antigo costume. Dessa forma, permitiu às irmãs Ocelata e a Vamila que escolhessem o gênero de morte que fossem mais de seu agrado, desterrando-lhes os sedutores. Enquanto isso, Cornélia, a Virgem Máxima, outrora absolvida, mas algum tempo depois acusada de novo, e de forma documentada, era enterrada viva.” [16]

Alguns historiadores como T. Cornell [17] e Candida López, observaram uma relação na ocorrência dos crimem incesti no mesmo momento que as crises políticas e militares se acentuavam em diferentes períodos do Império Romano. Entretanto, há uma maior tendência de processos contra as virgens vestais durante a época da República Romana, no qual ocorreu um maior número de conflitos internos, como se pode ver pela lista a seguir, feita por Candida Lopez[7]:


Estátua Romana – Vestindo roupas de Virgem Máxima virgo vestalis maxima

– Vestal Pinária – reinado de Tarquínio Prisco

– Vestal Oppia – 483 a.C.

– Vestal Orbinia – 472 a.C.

– Vestal Minucia – 997 a.C.

– Vestal Sextilia – 275 a.C.

– Vestal Capparonia – 266 a.C.

– Vestal Tuccia – 228 a.C.

– Vestal Opimia – 216 a.C.

– Vestal Floro – 216 a.C.

– Vestal Aemilia – 114 a.C.

– Vestal Licinia – 114 a.C.

– Vestal Marcia – 114 a.C.

– Vestal Fabia – 73 a.C.

Na mitologia Sibilas são um grupo de personagens da mitologia greco-romana. São descritas como sendo mulheres que possuem poderes proféticos sob inspiração de Apolo.  São Sacerdotisas com dom profético, eram mortais ou filhas de um mortal com uma ninfa, e eram em geral bastante longevas. Duas das Sibilas mais famosas são a da Eritreia, consagrada a Apolo pelos pais, cujo tempo de vida foi igual ao de nove homens; e a de Cumas, na Itália, cuja velhice foi longa e agonizante após Apolo tê-la amaldiçoado. (1)

Do dicionário, a definição para sibila é bruxa, mulher sábia e sacerdotisa. Embora as mais famosas fossem as que prestavam culto ao deus Apolo, existiram sibilas também em outras civilizações. como as persa, libanesa, hebraica, délfica, etrusca, etc.
As Sibilas na história:
Na Pérsia existiu uma profetisa chamada Sibilina Babilónica, e ela profetizou os feitos de Alexandre O Grande. Na Líbia, havia uma Sibila de Amon, que num templo de Amon, ( Zeus), que aconselhou Alexandre O Grande aquando da sua conquista do Egito. No templo de Apolo, em Delfos, também existia uma Sibila de grande poder, procurada por pessoas de todo o mundo.
Em Roma, existiu também uma Sibila Etrusca, que foi consultada por César. Existiu também um Livro Sibilino, um conjunto de oráculos provindos da Sibila de Cumas, compilado pelo Rei Tarquinio 534 a.C. – 509 a.C..
A sibila de Cumas era natural da jónia, ( Turquia), e o seu dom profético revelou-se desde o seu nascimento. A sibila de Cumas profetizava as suas revelações em versos.
A ela estão ligadas profecias de inestimável valor e surpreendente veracidade, sobre a grande mudança que sofreu o império romano, assim como sobre o nascimento de Jesus e o Cristianismo.
As sibilas praticavam as artes da adivinhação através do contacto com espíritos, fazendo-a através de diversos métodos. Alguns deles ainda hoje são conhecidos: piromancia, necromancia, leituras de pêndulos e varas, incorporação, etc
Na antiguidade, o dom da adivinhação era visto como uma capacidade divina, que alguns possuíam. Essas pessoas que tinham o dom de contactar com os espíritos, usavam diversos rituais como forma de invocar as divindades e também de receber delas as respostas ás suas questões. A mancia, é o termo Grego que exprime a capacidade de prever o futuro com recurso á comunicação com o mundo espiritual.
As Sibilas , ( também conhecidas por Pitias ou Pitonisas), consultavam Apolo usando métodos de incorporação, e o seu templo principal situava-se em Delfos,; Afrodite era consultada pelas suas profetizas na ilha de Chipre, onde se situava o templo de Pafos, através de meios necromânticos, usando as entranhas e os fígados de vitimas sacrificiais; A Deusa Atena era consultada atraves de um oráculo de ossos e conchas; O deus Asclépio, ( responsável por lendárias curas inexplicáveis milagres no campo da saúde), possuía o seu Templo em Tebas, e era consultado por incubação, ou seja, atraves dos sonhos.


As sacerdotisas de Ísis

Há 3 templos feitos para a adoração de isis. Nos antigos rituais egípcios as  sacerdotisas eram curadoras e tinham outros poderes especiais, como a interpretação dos sonhos, controle do clima, utilizando tranças ou penteados estranhos dos cabelos, pois acreditavam que os nós tinham poderes mágicos.

As sacerdotisas de Ísis, postas em estado de transe, manifestavam ao Faraó fatos distantes ou fatos ainda a ocorrer, isso era semelhantemente, os oráculos e as sibilas articulavam suas profecias sob o efeito de uma espécie de transe auto-hipnótico.


SACERDOTISAS SUMÉRIAS 

O sacerdócio feminino na Suméria teve início com Sargão de Akkad. Estas tinham importância nos ritos de adoração a Deusa da Fertilidade e era reconhecido seu valor social, como também lhes eram conferidos direitos legais. Demonstra a importância que a mulher tinha neste período e a participação relativamente ampla que exercia, observando que nem sempre esta foi relegada à margem da sociedade como impura e pecadora.
Palavras-Chave: Sumérios, Gênero, Sacerdotisas Sumérias, Sociedade Matrilinear, Mitos.
Introdução
O sacerdócio feminino na Suméria teve início com Sargão de Akkad e sua filha Enheduana como a primeira sacerdotisa, estando ligado à antiga adoração da Deusa-Mãe ou Deusa da Fertilidade como também era conhecida.  Na Suméria esta deusa era conhecida pelos nomes de Inana e Ishtar.
A abordagem deste estudo relativo às sacerdotisas sumerianas chega num contexto onde é possível compreender qual o papel destas nos templos sumérios e qual sua importância como mulheres atuantes na sociedade. Suas atuações nos ritos em adoração às deusas e a manutenção da fertilidade legaram a estas mulheres também a denominação
de “prostitutas sagradas” em ritos conhecidos como  o “casamento sagrado”. Na época, estes ritos estavam baseados na compreensão dos mitos que explicavam a vida e a natureza. Eram de suma importância para o povo, pois estavam sempre em contato com os deuses. Estas mulheres eram intermediárias entre o  povo, os governantes e os deuses,
sendo suas atuações nos ritos diferenciadas da atuação dos sacerdotes masculinos.
Através de ritos onde o meio natural era considerado sagrado, as sacerdotisas mantinham as boas colheitas e a fertilidade de homens e mulheres, como também aplacavam a ira dos deuses mantendo um Estado de calma, harmonia e de paz na Suméria.
Asseguravam a simpatia dos deuses pelos governantes locais e suas vitórias em possíveis confrontos inimigos.
O estudo das sacerdotisas sumerianas nos revela que o gênero feminino estava intimamente ligado com o aspecto mental do povo sumeriano relacionado à paz e à fertilidade. Em uma sociedade tipicamente dominada  pelos homens, as sacerdotisas eram respeitadas justamente por usar das características femininas para garantir a simpatia dos
deuses, a fartura de colheitas e a fertilidade do povo.
Estas mulheres puderam se sobressair  numa sociedade onde a atuação masculina era reconhecida pela força e ação sobre o meio, garantindo a guarnição e prosperidade ao povo, mas que acima de tudo respeitava a consangüinidade materna apresentando características de uma sociedade matrilinear.  Características estas, que eram
asseguradas pelas tabuas de leis sumerianas, o Código de Hamurabi, que já para aquele período elucidava perfeitamente os direitos e deveres das mulheres, bem como das sacerdotisas como cidadãs reconhecidas em sua sociedade. O estudo dos mitos traz a compreensão e o entendimento do povo sumeriano sobre sua relação com os deuses, às lendas e os ritos. Através deste entendimento mitológico também é levado em consideração não somente os aspectos históricos, mas as mentalidades envolvidas por traz da atuação das sacerdotisas nos templos sumérios e como com o passar do tempo esta leitura cultural transformou-se na depreciação feminina dos últimos séculos.
A Suméria como referência de uma Civilização Antiga apresentava características bastante evoluídas tecnologicamente o que nos permite observar a atuação das mulheres no papel de sacerdotisas de forma a reconhecê-las como sujeito histórico.
Para um povo onde tudo provinha dos deuses e era sagrado, as sacerdotisas representavam a Deusa na Terra e traziam através do ritos a segurança social que era almejada pelos governantes e pelo  povo e que somente os mitos explicavam de forma aceitável dentro de um contexto e vivência históricos.

As Sacerdotisas Sumérias

A Suméria é uma redescoberta recente realizada pelos historiados e arqueólogos. E através desta redescoberta, várias hipóteses têm sido formuladas no que se refere às Antigas Civilizações do Próximo Oriente. Dentre estas o destaque feminino do papel das sacerdotisas nos templos sumérios, onde inicialmente ouvia-se apenas sobre a importância
masculina na figura dos sacerdotes responsáveis pelos cultos aos deuses e funerais. De posse a esta versão basicamente masculina da história, vários pesquisadores vêem dando um novo olhar aos chamados “excluídos da história”, e neste contexto uma maior relevância a participação e atuação feminina.
A Suméria, como várias outras civilizações do Antigo Oriente Próximo incorporou o culto a Deus-Mãe que já vinha ocorrendo desde o Paleolítico. A Deusa-Mãe era uma entidade espiritual de poder e força, semelhantes às conhecidas do Deus-Javé, cultuado pelo povo hebreu. Esta estava associada às forças da natureza e as mulheres, dando uma
conotação feminina ao aspecto Divino. Ela seria aquela conhecida por muitos nomes e
muitas faces correspondendo simultaneamente à virgem, mãe e amante (ou noiva). Na mitologia suméria, Ninhursaga, “a mãe da terra”, chamou-se Ninsikilla, “a pura (virgem) senhora”, até que ligada a Enki, o deus da água da sabedoria,
e deu a luz sem dor, numerosas divindades, depois de nove dias de gravidez. Então transformou-se em Nintu-ama-Kalamma, “ a senhora que dá a Luz”, “a mãe da terra”, e como esposa foi Dam-gal-nunna, “a grande esposa do príncipe”. Sendo concebida como o fértil solo e dado nascimento à vegetação, foi conhecida por Nin-hur-sag-ga, “a senhora da montanha”, onde a natureza manifestava os seus poderes de fecundidade na Primavera, na luxuriante vegetação das suas verdejantes encostas.
(JAMES, 1960, p.82)
Esta conotação divina relacionada à Deusa fazia parte não só da compreensão dos sumerianos, mas também de outras civilizações da antiguidade e de algumas civilizações futuras, antes da opressão masculina sobrepor-se a divinização das mulheres.
Esta divinização estava relacionada aos nascimentos dos bebês que eram considerados obras do sagrado, enfim da Deusa-Mãe,  pois as relações sexuais não eram associadas ao ato de conceber. Aos olhos humanos este fato levava a mulher a uma condição de escolhida e protegida da Deusa o que fez com que seu próprio ciclo menstrual representasse uma incógnita. A mulher mensalmente sangrava de acordo com o ciclo lunar, transformando este mistério incurável, porém não fatal, em mais uma obra do divino. E é justamente neste contexto envolto no mito que liga a mulher ao sagrado e a Deusa, dando origem ao sacerdócio. Para o povo sumério, assim como outros, a mulher era a
representante da Deusa na terra, fortalecia e atraia a fertilidade sendo associada inevitavelmente as colheitas e aos habitantes, gerando através do sacerdócio feminino um culto intimamente ligado a Deusa.
O início do sacerdócio feminino é instituído como prática habitual por volta do ano 2334 a.c com Sargão de Akkad quando se dá a formação do primeiro império sumeriano.
Esta prática vem a se manter por meio século sendo  posteriormente conhecida como a Tradição. Conta um mito sumeriano que Sargão teve um sonho onde é favorecido pela deusa Inana , tornando-se o governante e a partir deste momento passa a prestar culto a ela, através de Enheduana sua filha. A sacerdotisa passa a ser a representante de Inana na terra.
Enheduana além de princesa e sacerdotisa foi poetisa e a primeira mulher da história a ter em suas mãos o poder da escrita. Escreveu vários hinos e poemas a Inana e Ishtar abordando o culto, anseios, desejos e revoltas pessoais junto às deusas. Como ministra era a conselheira junto do governante e demais nobres de sua época, orientando e
aconselhando de acordo com a vontade dos deuses. Vivenciou poder temporal e espiritual, além de ter considerável erudição, representando um testemunho precioso de uma mulher de seu tempo com tamanha responsabilidade.
O poema a seguir assemelha-se a uma redação de diário e descreve a imagem que Enheduana tem da deusa Inana:

Senhora de todas as essências, cheia de luz,
boa mulher, vestida de esplendor,
que possui o amor do céu e da terra,
amiga de templo de An,
tu usas adornos maravilhosos,
tu desejas a tiara da alta sacerdotisa
cujas mãos seguram as sete essências. (QUALLS-CORBETT, 1990, p.33)

Sargão ao unificar a parte sul da Mesopotâmia a região de Acádia (futura Babilônia) passa a reconhecer Inana também por Ishtar, nome que a deusa assume na Babilônia.
Inana ou  Ishtar é considerada por alguns pesquisadores como a deusa do amor e da fertilidade. No entanto para Cardoso ela também passa a assumir um caráter militar, o que pode justificar mitologicamente a conquista territorial de Sargão pelas armas. (Cardoso,  1997, p. 30). Esta íntima relação de Sargão com Inana é que o faz instituir o sacerdócio pela primeira vez na Suméria com sua filha Enheduana.
Enheduana como primeira alta sacerdotisa da Suméria cultua a deusa Inana e também o deus Nanna ou Sin que é um deus lunar. Nanna está diretamente associado à lua, que para os sumérios recebia mais importância que o sol, ao contrário do Egito. A lua está também ligada ao ciclo menstrual feminino o que pode ser a hipótese provável da importância da mulher sumeriana nos ritos de adoração, pois o deus Nanna era regente do tempo, das estações, da fertilidade e do sangue sagrado de todas as mulheres.
As sacerdotisas como seguidoras da Deusa a cultuavam em ritos de adoração que simbolizavam a fertilidade tanto do solo como da população. Os ritos eram realizados em templos altos conhecidos como  zigurats, que eram construções suntuosas que se assemelhavam a montanhas. As montanhas tinham grande importância entre os sumérios, pois representava um ponto de passagem ou transição de um mundo para o outro. (CARDOSO, 1999, p.93)
Nestes templos os ritos de culto aos deuses mais realizados entre as sacerdotisas era o hieros gamos,  conhecido também como o “casamento sagrado”, onde uma sacerdotisa iniciada nas sabedorias ocultas exercia o papel da  deusa deitando-se junto ao herói ou governante da Cidade-Estado, oficializando-o como figura hierarquicamente escolhida pelos deuses, assim como para fortalecer a fertilidade da população, colheitas, riquezas e assegurar as conquistas aspiradas pelo deus na terra, o governante. Este rito era realizado anualmente e desta forma, mantida a força e a regência do governante, garantindo a prosperidade do império. Os ritos são ilustrados com o mito de  Dumuzi e Inana  (JAMES, 13), que também traz a representação das estações do ano onde anualmente o deus é resgatado e fortificado no ritual de Ano Novo desempenhado pelas sacerdotisas.
As sacerdotisas são descritas por alguns pesquisadores como as “prostitutas sagradas”, hieródulas ou entu em acádio, pois muitas delas sequer conheciam os homens com quem teriam as relações sexuais. Foram descritas por Heródoto tardiamente pela seguinte compreensão:
O pior dos Hábitos é aquele que obriga toda a mulher do país a sentar-se no Templo do Amor uma vez na vida e ter relações com um desconhecido.
Os homens passam e fazem sua escolha, e as mulheres não recusam nunca, pois isso seria pecado. Depois desse ato tornou-se santa aos olhos da deusa, e volta para casa. (MILES, 1988, p.58)
A prostituição sagrada, no entanto não era imposta. As sacerdotisas que se dedicavam ao sacerdócio normalmente o faziam de livre e espontânea vontade, pois o faziam pela deusa e assim também caíam em suas graças. Para os sumérios servir aos deuses era uma honra. Não é a toa que nas civilizações vindouras, estas mesmas serviçais iriam ser reconhecidas como Graças.
As sacerdotisas não eram ridicularizadas e menosprezadas. Seu papel tinha suma importância entre os sumérios, pois através destas  a simpatia dos deuses era garantida.
Eram respeitadas e valorizadas, pois representavam  a encarnação da própria Deusa nos ritos realizados sendo destinados a elas direitos legais no Código de Hamurabi.
Esta prática que sempre que ocorre por todo Oriente Próximo ou Médio, é chamada “prostituição ritual”. Nada poderia degradar mais completamente a verdadeira função das gadishtu, as mulheres sagradas da deusa. […] eram
reverenciadas como a reencarnação da própria Deusa, celebrando seu dom do sexo que era poderoso, santo e precioso, que gratidão eterna lhe era devida dentro do seu templo. Ter relações com um desconhecido era a mais
pura expressão da vontade da Deusa, e não acarretava qualquer estigma.
[…] pelo contrário, as mulheres santas eram sempre conhecidas como “as sagradas”, “as incorruptas” ou, como em Urek na Suméria, nu-gig, “as puras ou sem mácula”. (MILES, 1988, p.58)
Na antiguidade a prostituição não tinha uma conotação pejorativa como o é hoje. A cultura judaico-cristã contribuiu para que houvesse um erro de interpretação às expressões virgo e  parthenoi relacionadas à castidade, dificultando seu entendimento ainda hoje. A primeira significa mulher intacta, não casada, celibatária, já que a sacerdotisa normalmente era virgem e só a partir do ritual era iniciada na arte do amor. A segunda expressão significa “ nascidos de uma virgem”, pois os filhos nascidos de uma sacerdotisa eram considerados filhos diretos da deusa, portanto eram denominados  como heróis ou semi-deuses. Virgem era a mulher não casada, portanto sem ligação com pureza, inocência ou castidade.
Os deuses eram alimentados, vestido e presenteados. As oferendas incluíam alimentos que também eram consumidos pelos homens e usados para libações. Sendo queimados diante às estatuas incensos e madeiras aromáticas. 14
O momento do ritual era totalmente preparado no zigurats. Antes de adentrar nos espaços sagrados do templo era preciso purificar-se. A purificação implicava em se lavar, e o próprio santuário era varrido e espargido água. Incenso e outros elementos aromáticos eram também usados na purificação. (CARDOSO, 1999, p.97)
O ritual de Ano Novo era uma celebração banhada com cerveja e os músicos do templo tocavam músicas que intensificavam a dança e atração sexual. Eram também feitos sacrifícios no templo com o oferecimento dos primeiros grãos, os primeiros rebentos de gado e às vezes até a primeira criança. Sendo o sangue considerado sagrado e portador de fertilidade os ritos tinham o intuito de aumentar o poder de vida a terra. Durante os preparativos da sacerdotisa o regozijo e a alegria  eram extasiantes e eróticos. Após o festejo o casal nupcial, a sacerdotisa e o governante, uniam-se no aposento sagrado do zigurats representando a deusa e o jovem viril deus da vegetação.

O rei dirige-se com a cabeça erguida ao colo santo,
Ele se dirige com a cabeça erguida ao colo santo de Inana,
O rei vindo com a cabeça erguida,
Vindo à minha rainha com a cabeça erguida…
Abraça a Hieródula… (QUALLS-CORBETT, 1990, p.32)

O papel social da sacerdotisa era valorizado, sendo assegurado pelo Código de Hamurabi. Assim como os hinos de Enheduana que abordam poeticamente as atuações de uma sacerdotisa.

As Sacerdotisas e a Sociedade Sumeriana

Na sociedade Suméria a classe das sacerdotisas por  ser reconhecida e respeitada, normalmente era um lugar destinado às mulheres de classe privilegiada, sendo as rainhas e princesas. No entanto outras moças também podiam exercer a função desde que o pai as entregasse a deusa.
A primeira sacerdotisa da história era princesa e filha de Sargão de Akkad. Assim foi determinado pelo fato da deusa  Inana ter assegurado a conquista do território a Sargão, tornando-o o governante. Determinação esta que prevaleceu por meio século e teve aceitação por outros povos.
A sociedade assumia características matrilineares deixando clara a consangüinidade da mãe, estando este fator também ligado a adoração da Deusa-Mãe.
Havia vários tipos de sacerdotisas. Entu era a sacerdotisa principal, naditu e ugbabtu eram de uma classe que vivia reclusa e eram bem consideradas, já as gadishtu e sugitu eram sacerdotisas dedicadas a prostituição sagrada  e podiam também procriar.
(CARDOSO, 1999, 91-95).
[…] as sacerdotisas serviam as deusas e os sacerdotes, deuses: mas havia a importante exceção da sacerdotisa virgem, quase sempre de origem real, chamada entu, que dirigia o culto lunar de Nanna-Suen em Ur. […] Outras sacerdotisas (naditu, ugbabtu) viviam recluídas em  residências parecidas a conventos, havia as que se casavam […] e outras (gadishtu ou kulmashitu) dedicadas ao que parece à prostituição sagrada. (CARDOSO, 1999, p. 95)
Todas as sacerdotisas eram asseguradas por lei e tinham direitos e deveres descritos no Código de Hamurabi.
O Código de Hamurabi traz varias leis locais que descrevem os direitos e deveres das sacerdotisas atestando o respeito e a consideração  que recebiam. Numa sociedade que tinha características matrilineares estas leis garantiam a execução das mesmas assim como amparava as sacerdotisas amplamente.
Estas podiam ter posse de bens e negociá-los:
Uma naditum, um mercador ou um “ilkum ahûm” poderá vender seu campo, seu pomar, ou sua casa.
O comprador deverá assumir o (serviço) ilkum do campo, do pomar ou da casa que comprou. (BOUZON, 2001, p.78)
Devido ao seu nível sagrado não podia entrar ou abrir uma taberna:
Se uma (sacerdotisa) naditum ou ugbabtum, que não mora em um convento, abriu uma taberna ou entrou na taberna para (beber) cerveja, queimarão esta mulher. (BOUZON, 2001, p. 126)
O falso testemunho era punido fisicamente:
Se um awilum apontou o dedo contra uma (sacerdotisa) ugbabtum ou contra a esposa de um awilum e não comprovou, baterão nesse homem diante dos juízes e rasparão a metade (de sua cabeça). (BOUZON, 2001, p. 138)
Há ainda outras leis no Código de Hamurabi permitindo o casamento, filhos e direitos de esposa, bem como posse de herança paterna como o direito de negociá-la, ou seja, não somente o fato de ser sacerdotisa permitia esta amplitude de leis, mas o fato de ser a consangüinidade feminina que assegurava mulher.
Durante meio século o sacerdócio foi mantido na Suméria através do rito do “casamento sagrado”, sendo estendido pelo Antigo Oriente Próximo assim como por civilizações vindouras. Com o advento do cristianismo as interpretações hebraicas e dos novos-cristãos foram descaracterizando as sacerdotisas e a própria Deusa-Mãe reduzindo a mulher à condição de submissão o que culminaria futuramente com a Santa Inquisição deixando claro onde era o lugar das mulheres perante o mundo criado pela igreja.  Miles diz que quando a Mãe-Deusa perdeu seu status de sagrada e o poder que era dado a ela, iniciou uma violenta desvalorização das rainhas, sacerdotisa e mulheres comuns, em todos
os estágios da vida, do nascimento a morte culminando com a perda do “direito materno”.
(MILES, 1988, p.85) Neste sentido rever o papel da sacerdotisa e do feminino ao longo da história é entregar novamente o cetro de poder as mulheres, reconhecendo sua posição ao lado dos homens.

Conclusão

A análise do sacerdócio feminino na Suméria permite concluir que a importância da mulher no passado era muito maior do que se imaginava, ou seja, a interpretação baseada na versão judaico-cristã passada historicamente subentendia a mulher como um ser impuro, cheia de pecados e inferior ao homem, sem significado perante a humanidade trazendo o estigma de traidora e portadora do mal.
A história escrita pelo “homem” e posteriormente dominada e influenciada pela igreja deu a entender que a mulher tinha todas as características necessárias para representar o “mal” sobre a terra. Portanto o resgate histórico da mulher ocupando setores socialmente considerados dentro da sociedade nos faz refletir que uma possível dominação masculina e da igreja possam ter criado este conceito para garantir interesses de poder e ganância impedindo a perpetuação da atuação feminina como vinha acontecendo na antiguidade sumeriana. A força e a presença da mulher nas sociedades matrilineares eram sedimentadas na consangüinidade dos laços maternos  envolvendo inclusive o contexto religioso destinando a estas mulheres um lugar de respeito em seu meio social.
Nos relatos advindos da reconstrução histórica da antiguidade sumeriana permite perceber que a valorização não era conjugada a uma dominação feminina sobre o homem, pelo contrário, havia uma ação inter-relacionada onde ambos, homem e mulher, mesmo que fosse para agradar aos deuses atuavam conjuntamente por um mesmo objetivo. No rito do “casamento sagrado” a sacerdotisa e o governante garantiam a simpatia dos deuses e conseqüentemente a prosperidade e a fertilidade do  solo e de homens e mulheres, assim como o lugar de seu governante no poder. A força da natureza permitia àqueles povos uma explicação mítica que garantisse a estes o entendimento e um suposto domínio sobre ela, já que não a compreendiam perfeitamente.
Historiadores e arqueólogos já sem os tradicionais preconceitos arraigados passam a desvendar uma atuação feminina que confere a esta não somente cargos respeitados, mas também o reconhecimento de sujeito atuante na sociedade. Desvendando tabuas cuneiformes, poemas, textos perdidos e iconografias trazem as mais prováveis hipóteses de
uma mulher que tal como hoje depois de percalços e  perseguições consegue passar por uma Santa Inquisição e assumir-se completamente como mulher, dizendo: “sim tenho conhecimento, inteligência e sabedoria”, “sim sou santa e sacerdotisa”, “sim sou mulher, sou meretriz e mãe”.
As sacerdotisas traziam estes valores profundos do  “ser mulher” em uma sociedade que as reconhecia e exaltava. Hoje mais uma vez a mulher consegue se fazer valer, sendo respeitada e valorizada, longe de preconceitos e falsas interpretações. Sendo inclusive estimulada a resgatar este lugar na sociedade desfazendo o tradicional papel de que
“mulher é dona de casa, mãe e esposa”. Vencendo as  barreiras e assumindo-se sim com seus tradicionais rótulos, mas acima de tudo como profissional, mulher, menina, amante…”um ser pensante e atuante”.

Referências
BARROS, Maria de Nazareth Alvim de. As Deusas, as Bruxas e a Igreja: Séculos de
Perseguição. Rio de Janeiro, Editora Rosa dos Tempos, 2001.
BOUZON, Emanuel. O Código de Hamurabi. Petrópolis, Editora Vozes, 2001.
CAMPBELL, Joseph. Todos os Nomes da Deusa. Rio de Janeiro, Editora dos Tempos, 1997.
CAMPBELL, Joseph. O Herói de mil faces. São Paulo, Círculo do Livro, 1949.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Antiguidade Oriental: política e religião. São Paulo, Editora Contexto, 1997.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Deuses, Múmias e Zigurats. Porto Alegre, Edipurs, 1999.
JAMES, E. O. Os Deuses Antigos. São paulo, Editora Arcádia Limitada, 1960.
KRAMER, Samuel Noah. Os Sumérios. Rio de Janeiro, Livraria Bertrand, 1977.
MILES, Rosalind. A História do Mundo pela Mulher. Rio de Janeiro, Editorial Casa Maria, 1988.
QUALLS-CORBETT, Nancy. A Prostituta Sagrada: a face eterna do feminino. São Paulo, Edições Paulinas, 1990.
SACERDOTISAS SUMÉRIAS Regina Schüssler

Resumo O sacerdócio feminino na Suméria teve início com Sargão de Akkad. Estas tinham importância nos ritos de adoração a Deusa da Fertilidade e era reconhecido seu valor social, como também lhes eram conferidos direitos legais. Tenho o objetivo de abordar o relativo papel que estas desempenhavam na Suméria e sua importância como cidadãs no contexto em que estavam inseridas. Para tal foi feita uma análise de fontes bibliográficas já escritas sobre o tema. Com isso pretendo demonstrar a importância que a mulher tinha neste período e a participação relativamente ampla que exercia, observando que nem sempre esta foi relegada à margem da sociedade como impura e pecadora.Palavras-Chave: Sumérios, Gênero, Sacerdotisas Sumérias, Sociedade Matrilinear, Mitos. Introdução O sacerdócio feminino na Suméria teve início com Sargão de Akkad e sua filha Enheduana como a primeira sacerdotisa, estando ligado à antiga adoração da Deusa-Mãe ou Deusa da Fertilidade como também era conhecida.  Na Suméria esta deusa era conhecida pelos nomes de Inana e Ishtar.  A abordagem deste estudo relativo às sacerdotisas sumerianas chega num contexto onde é possível compreender qual o papel destas nos templos sumérios e qual sua importância como mulheres atuantes na sociedade. Suas atuações nos ritos em adoração às deusas e a manutenção da fertilidade legaram a estas mulheres também a denominação de “prostitutas sagradas” em ritos conhecidos como  o “casamento sagrado”. Na época, estes ritos estavam baseados na compreensão dos mitos que explicavam a vida e a natureza. Eram de suma importância para o povo, pois estavam sempre em contato com os deuses. Estas mulheres eram intermediárias entre o  povo, os governantes e os deuses, sendo suas atuações nos ritos diferenciadas da atuação dos sacerdotes masculinos. Através de ritos onde o meio natural era considerado sagrado, as sacerdotisas mantinham as boas colheitas e a fertilidade de homens e mulheres, como também aplacavam a ira dos deuses mantendo um Estado de calma, harmonia e de paz na Suméria. Asseguravam a simpatia dos deuses pelos governantes locais e suas vitórias em possíveis confrontos inimigos.                                                  1 Graduanda em História pela Faculdade Porto-Alegrense (FAPA), 8º semestre. 10 Revista Historiador Especial Número 01. Ano 03. Julho de 2010  Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriadorO estudo das sacerdotisas sumerianas nos revela que o gênero feminino estava intimamente ligado com o aspecto mental do povo sumeriano relacionado à paz e à fertilidade. Em uma sociedade tipicamente dominada  pelos homens, as sacerdotisas eram respeitadas justamente por usar das características femininas para garantir a simpatia dos deuses, a fartura de colheitas e a fertilidade do povo. Neste artigo pretendo mostrar através de uma analise de bibliografias pertinentes ao assunto, como estas mulheres puderam se sobressair  numa sociedade onde a atuação masculina era reconhecida pela força e ação sobre o meio, garantindo a guarnição e prosperidade ao povo, mas que acima de tudo respeitava a consangüinidade materna apresentando características de uma sociedade matrilinear.  Características estas, que eram asseguradas pelas tabuas de leis sumerianas, o Código de Hamurabi, que já para aquele período elucidava perfeitamente os direitos e deveres das mulheres, bem como das sacerdotisas como cidadãs reconhecidas em sua sociedade. O estudo dos mitos traz a compreensão e o entendimento do povo sumeriano sobre sua relação com os deuses, às lendas e os ritos. Através deste entendimento mitológico também é levado em consideração não somente os aspectos históricos, mas as mentalidades envolvidas por traz da atuação das sacerdotisas nos templos sumérios e como com o passar do tempo esta leitura cultural transformou-se na depreciação feminina dos últimos séculos.  A Suméria como referência de uma Civilização Antiga apresentava características bastante evoluídas tecnologicamente o que nos permite observar a atuação das mulheres no papel de sacerdotisas de forma a reconhecê-las como sujeito histórico. Para um povo onde tudo provinha dos deuses e era sagrado, as sacerdotisas representavam a Deusa na Terra e traziam através do ritos a segurança social que era almejada pelos governantes e pelo  povo e que somente os mitos explicavam de forma aceitável dentro de um contexto e vivência históricos. As Sacerdotisas Sumérias A Suméria é uma redescoberta recente realizada pelos historiados e arqueólogos. E através desta redescoberta, várias hipóteses têm sido formuladas no que se refere às Antigas Civilizações do Próximo Oriente. Dentre estas o destaque feminino do papel das sacerdotisas nos templos sumérios, onde inicialmente ouvia-se apenas sobre a importância masculina na figura dos sacerdotes responsáveis pelos cultos aos deuses e funerais. De posse a esta versão basicamente masculina da história, vários pesquisadores vêem dando um novo olhar aos chamados “excluídos da história”, e neste contexto uma maior relevância a participação e atuação feminina. A Suméria, como várias outras civilizações do Antigo Oriente Próximo incorporou o culto a Deus-Mãe que já vinha ocorrendo desde o Paleolítico. A Deusa-Mãe era uma 11 Revista Historiador Especial Número 01. Ano 03. Julho de 2010  Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriadorentidade espiritual de poder e força, semelhantes às conhecidas do Deus-Javé, cultuado pelo povo hebreu. Esta estava associada às forças da natureza e as mulheres, dando uma conotação feminina ao aspecto Divino. Ela seria aquela conhecida por muitos nomes e muitas faces correspondendo simultaneamente à virgem, mãe e amante (ou noiva). Na mitologia suméria, Ninhursaga, “a mãe da terra”, chamou-se Ninsikilla, “a pura (virgem) senhora”, até que ligada a Enki, o deus da água da sabedoria, e deu a luz sem dor, numerosas divindades, depois de nove dias de gravidez. Então transformou-se em Nintu-ama-Kalamma, “ a senhora que dá a Luz”, “a mãe da terra”, e como esposa foi Dam-gal-nunna, “a grande esposa do príncipe”. Sendo concebida como o fértil solo e dado nascimento à vegetação, foi conhecida por Nin-hur-sag-ga, “a senhora da montanha”, onde a natureza manifestava os seus poderes de fecundidade na Primavera, na luxuriante vegetação das suas verdejantes encostas. (JAMES, 1960, p.82) Esta conotação divina relacionada à Deusa fazia parte não só da compreensão dos sumerianos, mas também de outras civilizações da antiguidade e de algumas civilizações futuras, antes da opressão masculina sobrepor-se a divinização das mulheres. Esta divinização estava relacionada aos nascimentos dos bebês que eram considerados obras do sagrado, enfim da Deusa-Mãe,  pois as relações sexuais não eram associadas ao ato de conceber. Aos olhos humanos este fato levava a mulher a uma condição de escolhida e protegida da Deusa o que fez com que seu próprio ciclo menstrual representasse uma incógnita. A mulher mensalmente sangrava de acordo com o ciclo lunar, transformando este mistério incurável, porém não fatal, em mais uma obra do divino. E é justamente neste contexto envolto no mito que liga a mulher ao sagrado e a Deusa, dando origem ao sacerdócio. Para o povo sumério, assim como outros, a mulher era a representante da Deusa na terra, fortalecia e atraia a fertilidade sendo associada inevitavelmente as colheitas e aos habitantes, gerando através do sacerdócio feminino um culto intimamente ligado a Deusa. O início do sacerdócio feminino é instituído como prática habitual por volta do ano 2334 a.c com Sargão de Akkad quando se dá a formação do primeiro império sumeriano. Esta prática vem a se manter por meio século sendo  posteriormente conhecida como a Tradição. Conta um mito sumeriano que Sargão teve um sonho onde é favorecido pela deusa Inana , tornando-se o governante e a partir deste momento passa a prestar culto a ela, através de Enheduana sua filha. A sacerdotisa passa a ser a representante de Inana na terra. Enheduana além de princesa e sacerdotisa foi poetisa e a primeira mulher da história a ter em suas mãos o poder da escrita. Escreveu vários hinos e poemas a Inana e Ishtarabordando o culto, anseios, desejos e revoltas pessoais junto às deusas. Como ministra era a conselheira junto do governante e demais nobres de sua época, orientando e aconselhando de acordo com a vontade dos deuses. Vivenciou poder temporal e espiritual, 12 Revista Historiador Especial Número 01. Ano 03. Julho de 2010  Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriadoralém de ter considerável erudição, representando um testemunho precioso de uma mulher de seu tempo com tamanha responsabilidade. O poema a seguir assemelha-se a uma redação de diário e descreve a imagem que Enheduana tem da deusa Inana: Senhora de todas as essências, cheia de luz, boa mulher, vestida de esplendor, que possui o amor do céu e da terra, amiga de templo de An, tu usas adornos maravilhosos, tu desejas a tiara da alta sacerdotisa cujas mãos seguram as sete essências. (QUALLS-CORBETT, 1990, p.33) Sargão ao unificar a parte sul da Mesopotâmia a região de Acádia (futura Babilônia) passa a reconhecer Inana também por Ishtar, nome que a deusa assume na Babilônia. Inana ou  Ishtar é considerada por alguns pesquisadores como a deusa do amor e da fertilidade. No entanto para Cardoso ela também passa a assumir um caráter militar, o que pode justificar mitologicamente a conquista territorial de Sargão pelas armas. (Cardoso, 1997, p. 30). Esta íntima relação de Sargão com Inana é que o faz instituir o sacerdócio pela primeira vez na Suméria com sua filha Enheduana. Enheduana como primeira alta sacerdotisa da Suméria cultua a deusa Inana e também o deus Nanna ou Sin que é um deus lunar. Nanna está diretamente associado à lua, que para os sumérios recebia mais importância que o sol, ao contrário do Egito. A lua está também ligada ao ciclo menstrual feminino o que pode ser a hipótese provável da importância da mulher sumeriana nos ritos de adoração, pois o deus Nanna era regente do tempo, das estações, da fertilidade e do sangue sagrado de todas as mulheres. As sacerdotisas como seguidoras da Deusa a cultuavam em ritos de adoração que simbolizavam a fertilidade tanto do solo como da população. Os ritos eram realizados em templos altos conhecidos como  zigurats, que eram construções suntuosas que se assemelhavam a montanhas. As montanhas tinham grande importância entre os sumérios, pois representava um ponto de passagem ou transição de um mundo para o outro. (CARDOSO, 1999, p.93)  Nestes templos os ritos de culto aos deuses mais realizados entre as sacerdotisas era o  hieros gamos,  conhecido também como o “casamento sagrado”, onde uma sacerdotisa iniciada nas sabedorias ocultas exercia o papel da  deusa deitando-se junto ao herói ou governante da Cidade-Estado, oficializando-o como figura hierarquicamente escolhida pelos deuses, assim como para fortalecer a fertilidade da população, colheitas, riquezas e assegurar as conquistas aspiradas pelo deus na terra, o governante. Este rito era realizado anualmente e desta forma, mantida a força e a regência do governante, garantindo a prosperidade do império. Os ritos são ilustrados com o mito de  Dumuzi e Inana  (JAMES, 13 Revista Historiador Especial Número 01. Ano 03. Julho de 2010  Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriador1960, p.82-83), que também traz a representação das estações do ano onde anualmente odeus é resgatado e fortificado no ritual de Ano Novo desempenhado pelas sacerdotisas. As sacerdotisas são descritas por alguns pesquisadores como as “prostitutas sagradas”, hieródulas ou entu em acádio, pois muitas delas sequer conheciam os homens com quem teriam as relações sexuais. Foram descritas por Heródoto tardiamente pela seguinte compreensão:  O pior dos Hábitos é aquele que obriga toda a mulher do país a sentar-se no Templo do Amor uma vez na vida e ter relações com um desconhecido. Os homens passam e fazem sua escolha, e as mulheres não recusam nunca, pois isso seria pecado. Depois desse ato tornou-se santa aos olhos da deusa, e volta para casa. (MILES, 1988, p.58) A prostituição sagrada, no entanto não era imposta. As sacerdotisas que se dedicavam ao sacerdócio normalmente o faziam de livre e espontânea vontade, pois o faziam pela deusa e assim também caíam em suas graças. Para os sumérios servir aos deuses era uma honra. Não é a toa que nas civilizações vindouras, estas mesmas serviçais iriam ser reconhecidas como Graças. As sacerdotisas não eram ridicularizadas e menosprezadas. Seu papel tinha suma importância entre os sumérios, pois através destas  a simpatia dos deuses era garantida. Eram respeitadas e valorizadas, pois representavam  a encarnação da própria Deusa nos ritos realizados sendo destinados a elas direitos legais no Código de Hamurabi. Esta prática que sempre que ocorre por todo Oriente Próximo ou Médio, é chamada “prostituição ritual”. Nada poderia degradar mais completamente a verdadeira função das gadishtu, as mulheres sagradas da deusa. […] eram reverenciadas como a reencarnação da própria Deusa, celebrando seu dom do sexo que era poderoso, santo e precioso, que gratidão eterna lhe era devida dentro do seu templo. Ter relações com um desconhecido era a mais pura expressão da vontade da Deusa, e não acarretava qualquer estigma. […] pelo contrário, as mulheres santas eram sempre conhecidas como “as sagradas”, “as incorruptas” ou, como em Urek na Suméria, nu-gig, “as puras ou sem mácula”. (MILES, 1988, p.58) Na antiguidade a prostituição não tinha uma conotação pejorativa como o é hoje. A cultura judaico-cristã contribuiu para que houvesse um erro de interpretação às expressões virgo e  parthenoi relacionadas à castidade, dificultando seu entendimento ainda hoje. A primeira significa mulher intacta, não casada, celibatária, já que a sacerdotisa normalmente era virgem e só a partir do ritual era iniciada na arte do amor. A segunda expressão significa  “ nascidos de uma virgem”, pois os filhos nascidos de uma sacerdotisa eram considerados filhos diretos da deusa, portanto eram denominados  como heróis ou semi-deuses. Virgem era a mulher não casada, portanto sem ligação com pureza, inocência ou castidade.  Os deuses eram alimentados, vestido e presenteados. As oferendas incluíam alimentos que também eram consumidos pelos homens e usados para libações. Sendo queimados diante às estatuas incensos e madeiras aromáticas. 14 Revista Historiador Especial Número 01. Ano 03. Julho de 2010  Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriadorO momento do ritual era totalmente preparado no zigurats. Antes de adentrar nos espaços sagrados do templo era preciso purificar-se. A purificação implicava em se lavar, e o próprio santuário era varrido e espargido água. Incenso e outros elementos aromáticos eram também usados na purificação. (CARDOSO, 1999, p.97) O ritual de Ano Novo era uma celebração banhada com cerveja e os músicos do templo tocavam músicas que intensificavam a dança e atração sexual. Eram também feitos sacrifícios no templo com o oferecimento dos primeiros grãos, os primeiros rebentos de gado e às vezes até a primeira criança. Sendo o sangue considerado sagrado e portador de fertilidade os ritos tinham o intuito de aumentar o poder de vida a terra. Durante os preparativos da sacerdotisa o regozijo e a alegria  eram extasiantes e eróticos. Após o festejo o casal nupcial, a sacerdotisa e o governante, uniam-se no aposento sagrado do zigurats representando a deusa e o jovem viril deus da vegetação. O rei dirige-se com a cabeça erguida ao colo santo,Ele se dirige com a cabeça erguida ao colo santo de Inana, O rei vindo com a cabeça erguida, Vindo à minha rainha com a cabeça erguida… Abraça a Hieródula… (QUALLS-CORBETT, 1990, p.32) O papel social da sacerdotisa era valorizado, sendo assegurado pelo Código de Hamurabi. Assim como os hinos de Enheduana que abordam poeticamente as atuações de uma sacerdotisa. As Sacerdotisas e a Sociedade Sumeriana Na sociedade Suméria a classe das sacerdotisas por  ser reconhecida e respeitada, normalmente era um lugar destinado às mulheres de classe privilegiada, sendo as rainhas e princesas. No entanto outras moças também podiam exercer a função desde que o pai as entregasse a deusa. A primeira sacerdotisa da história era princesa e filha de Sargão de Akkad. Assim foi determinado pelo fato da deusa  Inana ter assegurado a conquista do território a Sargão,tornando-o o governante. Determinação esta que prevaleceu por meio século e teve aceitação por outros povos. A sociedade assumia características matrilineares deixando clara a consangüinidade da mãe, estando este fator também ligado a adoração da Deusa-Mãe.  Havia vários tipos de sacerdotisas. Entu era a sacerdotisa principal, naditu e ugbabtu eram de uma classe que vivia reclusa e eram bem consideradas, já as gadishtu e sugitu eram sacerdotisas dedicadas a prostituição sagrada  e podiam também procriar. (CARDOSO, 1999, 91-95). […] as sacerdotisas serviam as deusas e os sacerdotes, deuses: mas havia a importante exceção da sacerdotisa virgem, quase sempre de origem real, chamada entu, que dirigia o culto lunar de Nanna-Suen em Ur. […] Outras sacerdotisas (naditu, ugbabtu) viviam recluídas em  residências parecidas a 15 Revista Historiador Especial Número 01. Ano 03. Julho de 2010  Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriadorconventos, havia as que se casavam […] e outras (gadishtu ou kulmashitu) dedicadas ao que parece à prostituição sagrada. (CARDOSO, 1999, p. 95) Todas as sacerdotisas eram asseguradas por lei e tinham direitos e deveres descritos no Código de Hamurabi. O Código de Hamurabi traz varias leis locais que descrevem os direitos e deveres das sacerdotisas atestando o respeito e a consideração  que recebiam. Numa sociedade que tinha características matrilineares estas leis garantiam a execução das mesmas assim como amparava as sacerdotisas amplamente. Estas podiam ter posse de bens e negociá-los: § 40 Uma naditum, um mercador ou um “ilkum ahûm” poderá vender seu campo, seu pomar, ou sua casa. O comprador deverá assumir o (serviço) ilkum do campo, do pomar ou da casa que comprou. (BOUZON, 2001, p.78) Devido ao seu nível sagrado não podia entrar ou abrir uma taberna: § 110 Se uma (sacerdotisa) naditum ou ugbabtum, que não mora em um convento, abriu uma taberna ou entrou na taberna para (beber) cerveja, queimarão esta mulher. (BOUZON, 2001, p. 126) O falso testemunho era punido fisicamente: § 127 Se um awilum apontou o dedo contra uma (sacerdotisa) ugbabtum ou contra a esposa de um awilum e não comprovou, baterão nesse homem diante dos juízes e rasparão a metade (de sua cabeça). (BOUZON, 2001, p. 138) Há ainda outras leis no Código de Hamurabi permitindo o casamento, filhos e direitos de esposa, bem como posse de herança paterna como o direito de negociá-la, ou seja, não somente o fato de ser sacerdotisa permitia esta amplitude de leis, mas o fato de ser a consangüinidade feminina que assegurava mulher.  Durante meio século o sacerdócio foi mantido na Suméria através do rito do “casamento sagrado”, sendo estendido pelo Antigo Oriente Próximo assim como por civilizações vindouras. Com o advento do cristianismo as interpretações hebraicas e dos novos-cristãos foram descaracterizando as sacerdotisas e a própria Deusa-Mãe reduzindo a mulher à condição de submissão o que culminaria futuramente com a Santa Inquisição deixando claro onde era o lugar das mulheres perante o mundo criado pela igreja.  Miles diz que quando a Mãe-Deusa perdeu seu status de sagrada e o poder que era dado a ela, iniciou uma violenta desvalorização das rainhas, sacerdotisa e mulheres comuns, em todos os estágios da vida, do nascimento a morte culminando com a perda do “direito materno”. (MILES, 1988, p.85) Neste sentido rever o papel da sacerdotisa e do feminino ao longo da 16 Revista Historiador Especial Número 01. Ano 03. Julho de 2010  Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriadorhistória é entregar novamente o cetro de poder as mulheres, reconhecendo sua posição ao lado dos homens. Conclusão A análise do sacerdócio feminino na Suméria permite concluir que a importância da mulher no passado era muito maior do que se imaginava, ou seja, a interpretação baseada na versão judaico-cristã passada historicamente subentendia a mulher como um ser impuro, cheia de pecados e inferior ao homem, sem significado perante a humanidade trazendo o estigma de traidora e portadora do mal.  A história escrita pelo “homem” e posteriormente dominada e influenciada pela igreja deu a entender que a mulher tinha todas as características necessárias para representar o “mal” sobre a terra. Portanto o resgate histórico da mulher ocupando setores socialmente considerados dentro da sociedade nos faz refletir que uma possível dominação masculina e da igreja possam ter criado este conceito para garantir interesses de poder e ganância impedindo a perpetuação da atuação feminina como vinha acontecendo na antiguidade sumeriana. A força e a presença da mulher nas sociedades matrilineares eram sedimentadas na consangüinidade dos laços maternos  envolvendo inclusive o contexto religioso destinando a estas mulheres um lugar de respeito em seu meio social. Nos relatos advindos da reconstrução histórica da antiguidade sumeriana permite perceber que a valorização não era conjugada a uma dominação feminina sobre o homem, pelo contrário, havia uma ação inter-relacionada onde ambos, homem e mulher, mesmo que fosse para agradar aos deuses atuavam conjuntamente por um mesmo objetivo. No rito do “casamento sagrado” a sacerdotisa e o governante garantiam a simpatia dos deuses e conseqüentemente a prosperidade e a fertilidade do  solo e de homens e mulheres, assim como o lugar de seu governante no poder. A força da natureza permitia àqueles povos uma explicação mítica que garantisse a estes o entendimento e um suposto domínio sobre ela, já que não a compreendiam perfeitamente. Historiadores e arqueólogos já sem os tradicionais preconceitos arraigados passam a desvendar uma atuação feminina que confere a esta não somente cargos respeitados, mas também o reconhecimento de sujeito atuante na sociedade. Desvendando tabuas cuneiformes, poemas, textos perdidos e iconografias trazem as mais prováveis hipóteses de uma mulher que tal como hoje depois de percalços e  perseguições consegue passar por uma Santa Inquisição e assumir-se completamente como mulher, dizendo: “sim tenho conhecimento, inteligência e sabedoria”, “sim sou santa e sacerdotisa”, “sim sou mulher, sou meretriz e mãe”. As sacerdotisas traziam estes valores profundos do  “ser mulher” em uma sociedade que as reconhecia e exaltava. Hoje mais uma vez a mulher consegue se fazer valer, sendo 17 Revista Historiador Especial Número 01. Ano 03. Julho de 2010

sábado, 24 de agosto de 2019

Manuscritos Pnakóticos


Los Manuscritos Pnakóticos, también llamados Fragmentos Pnakóticos, son un grimorio ficticio creado por el escritor estadounidense H.P. Lovecraft e incorporado al corpus de los Mitos de Cthulhu.

Son mencionados por primera vez en el cuento Polaris (1918), y se destacan por ser el primero de su larga serie de libros arcanos ficticios.

Historia ficticia

Los manuscritos son anteriores a la aparición del propio Hombre en la Tierra. Fueron creados por la Gran Raza de Yith, y su nombre procede de la ciudad-biblioteca de Pnakotus. Contienen una historia de esta raza, así como otras muchas materias, incluyendo descripciones de Chaugnar Faugn y Yibb-Tstll, la localización de Xiurhn, los rituales de Rhan-Tegoth, etc.

Los primeros hombres que los estudiaron fueron los habitantes de Lomar; de allí pasaron a Hiperbórea, donde fueron traducidos. En época histórica fueron celosamente guardados por la Hermandad Pnakótica, que produjo una traducción al griego, la Pnakotica. Hay rumores de una traducción inglesa del siglo XV.

El Necronomicón (en griego Nεκρονομικόv) es un grimorio (libro mágico) ficticio ideado por el escritor estadounidense H. P. Lovecraft (1890-1937), uno de los maestros de la literatura de terror y ciencia ficción. Es mencionado por primera vez en The nameless city (La ciudad sin nombre, 1921). Su presunto autor fue el «árabe loco» Abdul Alhazred (este nombre, al igual que "sumo sacerdote Ech-Pi-El" [transcripción fonética inglesa de sus iniciales H.P.L], o Luveh-Kerapf eran usados por Lovecraft como seudónimos y para firmar las cartas que intercambiaba con sus lectores), cuyo nombre también figura en The nameless city (La ciudad sin nombre, 1921).

El libro es, asimismo, mencionado por otros autores del círculo lovecraftiano, como August Derleth o Clark Ashton Smith. Desde entonces, el libro ficticio ha inspirado la publicación de diversas obras de igual título.

Etimología

La etimología de Necronomicón es más transparente de lo que suele creerse. Aunque la forma no está testimoniada en griego antiguo, se trata de una construcción análoga a adjetivos comunes como ἀστρονομικός (astronómico), o οἰκονομικός (económico). Estos adjetivos están formados por tres elementos: Un lexema (ἀστρο-, οἰκο-, νεκρο-) + el lexema νόμος ('ley, administración') + el sufijo -ικος, sin significado, que sirve para formar adjetivos. Así pues, astronómico significa etimológicamente «relativo a la ley u ordenación de los astros»; el neologismo necronómico sería «relativo a la ley (o las leyes) de los muertos».

Cuando estos adjetivos se ponen en neutro singular (ἀστρονομικόν) o plural (ἀστρονομικά), adquieren un valor genérico: en el ejemplo, «lo relativo a los astros», «las cosas relativas a la ordenación de los astros». Necronomicón, neutro singular, es por tanto «(el libro que contiene) lo relativo a la(s) ley(es) de los muertos», del mismo modo que el Astronomicon del poeta latino Marco Manilio (s. I d. C.) es un tratado sobre los astros.

En una carta de 1937 dirigida a Harry O. Fischer, Lovecraft revela que el título del libro se le ocurrió durante un sueño.1​ Una vez despierto, hizo su propia interpretación de la etimología: a su juicio, significaba «Imagen de la Ley de los Muertos», pues en el último elemento (-icon) quiso ver la palabra griega εἰκών (latín icon), «imagen».​

Descripción

Según H.P. Lovecraft, el Necronomicón es un libro de saberes arcanos y magia ritual cuya lectura provoca la locura y la muerte. Pueden hallarse en él fórmulas olvidadas que permiten contactar con unas entidades sobrenaturales de un inmenso poder, los Antiguos, y despertarlas de su letargo para que se apoderen del mundo, que ya una vez fue suyo.

Orígenes

En 1927, Lovecraft escribió una breve nota sobre la autoría del Necronomicón y la historia de sus traducciones, que fue publicada en 1938, tras su muerte, como Una historia del Necronomicón.​

Según esta obra, el libro fue escrito con el título de Kitab Al-Azif (en árabe: «El rumor de los insectos por la noche», rumor que en el folclore arábigo se atribuye a demonios como los djins y gules) alrededor del año 730 d.C. por el poeta árabe Abdul Al-Hazred (cuyo nombre original podría haber sido Abdala Zahr-ad-Din, o Siervo-de-Dios-Flor-de-la-Fe), de Saná (Yemen). Se dice que Alhazred murió a plena luz del día devorado por una bestia invisible delante de numerosos testigos, o que fue arrastrado por un remolino hacia el cielo.

Lovecraft abunda en datos para hacer verosímil la existencia del libro. Por ejemplo, cita como uno de sus compiladores a Ibn Khallikan, erudito iraní o árabe que existió realmente.

También cuenta que hacia el año 950 fue traducido al griego por Theodorus Philetas y adoptó el título actual griego, Necronomicón. Tuvo una rápida difusión entre los filósofos y hombres de ciencia de la Baja Edad Media. Sin embargo, los horrendos sucesos que se producían en torno al libro hicieron que la Iglesia católica lo condenara en el año 1050. En el año 1228 Olaus Wormius tradujo el libro al latín, en la que es la versión más famosa, pues (siempre según la ficción lovecraftiana) aún quedan algunos ejemplares de ella, mientras que los originales árabe y griego se creen perdidos.​

A pesar de la persecución, según Lovecraft se realizaron distintas impresiones en España y Alemania durante el siglo XVII. Supuestamente, se conservarían cuatro copias completas: una en la biblioteca Widener de la Universidad de Harvard, dentro de una caja fuerte; una copia del siglo XV, en la Biblioteca Nacional de París; otra en la Universidad de Miskatonic en Arkham (EE.UU.) y otra en la Universidad de Buenos Aires (Argentina).

Ficción verosímil

Sobre el carácter ficticio del libro, Lovecraft escribió lo siguiente:

Ahora bien, sobre «los libros terribles y prohibidos», me fuerzan a decir que la mayoría de ellos son puramente imaginarios. Nunca existió ningún Abdul Alhazred o el Necronomicón, porque inventé estos nombres yo mismo. Luwdig Prinn fue ideado por Robert Bloch y su De Vermis Mysteriis, mientras que el Libro de Eibon es una invención de Clark Ashton Smith. Robert E. Howard debe responder de Friedrich von Junzt y su Unaussprechlichen Kulten.... En cuanto a libros escritos en serio sobre temas oscuros, ocultos, y sobrenaturales, en realidad no son muchos. Esto se debe a que es más divertido inventar trabajos míticos como el Necronomicón y el Libro de Eibon.​

De hecho, el famoso árabe loco Abdul Alhazred no es más que un apodo que él mismo se puso en la infancia, inspirado en la reciente lectura de Las mil y una noches (Alhazred = all has read, el que lo ha leído todo).

Lovecraft logró hacer un excelente engaño al aportar datos respecto al Necronomicón. Por ejemplo, señalaba que quedaban muy pocos ejemplares de tal libro "prohibido" y "peligroso". En el cuento El horror de Dunwich se ubican ejemplares en la Universidad de Buenos Aires, en la Biblioteca de Widener de Harvard, la Biblioteca Nacional de París, en el Museo Británico y en la inexistente Universidad de Miskatonic en la ciudad de Arkham (que aparece repetidamente en los cuentos de Lovecraft). Tanto es así que muchos creen efectivamente en la existencia de tal libro y se han dado casos de sujetos estafados al comprar los supuestos "originales" del Necronomicón.

Sin lugar a dudas, este libro tiene la fama de dar pie a las más grandes confusiones. Se pueden encontrar páginas en internet que pretenden develar sus misterios y hasta lugares donde se ofrece a la venta. Es frecuente que se cometan estafas, ofreciendo "ejemplares del Necronomicón" y réplicas de grimorios medievales.

August Derleth cuenta en su artículo «The Making of a Hoax» cómo en la publicación Antiquarian Bookman aparece un anuncio, en 1962, que dice:

Alhazred, Abdul. Necronomicón, España 1647. Encuadernado en piel algo arañada descolorida, por lo demás buen estado. Numerosísimos grabaditos madera signos y símbolos místicos. Parece tratado (en latín) de Magia Ceremonial. Ex libris. Sello en guardas indica procede de Biblioteca Universidad Miskatonic. Mejor postor.

En el mismo artículo se cuenta que una vez un estudiante gastó la broma de incluir su ficha en el registro de la Biblioteca General de la Universidad de California, en la sección BL 430, dedicada a las religiones primitivas.​ Así, el Necronomicón fue pedido insistentemente, incluso por profesores. Se dice que Jorge Luis Borges creó una ficha sobre el mismo en la Biblioteca Nacional de Argentina​, así como que en el catálogo de la Biblioteca de Santander (España) aparecía también una versión latina del libro.

Numerosos escritores y artistas han intentado hacer realidad esta ficción, con lo que se han publicado muchos libros con este título. Normalmente se procura mantener el misterio y en el mismo libro no se incluyen aclaraciones explicando que es falso. Algunos de estos necronomicones son simples listados de los primigenios más conocidos, junto a símbolos y oraciones sin significado imitando burdamente el estilo de Lovecraft, pero existen también algunos muy cuidados, valiosos y dignos de colección. Por problemas de derechos de autor, algunos de ellos no contienen las frases que Lovecraft inventó como citas del Necronomicón en sus relatos.

El extraordinario dibujante H. R. Giger publicó una recopilación de sus dibujos bajo el título Giger's Necronomicon, en dos volúmenes, en una edición muy cuidada pensada para coleccionistas (encuadernados en piel negra, 666 ejemplares, con un holograma escondido). La editorial española La factoría de ideas ha publicado también con este título un libro de relatos escritos por seguidores de Lovecraft. Cabe destacar el Necronomicón de Donald Tyson, publicado en 2004 por Edaf, escrito como la biografía en primera persona de Abdul Alhazred, siguiendo el estilo literario de los escritores árabes, y que recoge y explica todos los mitos y ciudades que aparecen en los relatos de Lovecraft, incluyendo la explicación del origen del mundo con el estilo trágico de Lovecraft.

Ubicación

Según Lovecraft "Historia del Necronomicon", las copias del Necronomicon original fueron sostenidas por solamente cinco instituciones por todo el mundo:

Museo Británico
La Biblioteca Nacional de Francia
Biblioteca de Widener de la Universidad de Harvard en Cambridge, Massachusetts
La biblioteca de la Universidad de Buenos Aires
La biblioteca de la ficticia Universidad de Miskatonic en el también ficticio Arkham, Massachusetts
La Universidad Miskatónica también tiene la traducción latina de Olaus Wormius, impresa en España en el siglo XVII. La Universidad Nacional Mayor de San Marcos posee una copia en griego según el relato de Lovecraft y Derleth El que acecha en el umbral.

Otras copias, escribió Lovecraft, fueron mantenidas por particulares. Joseph Curwen, como se señaló, tenía una copia en El caso de Charles Dexter Ward (1941). Una versión se lleva a cabo en Kingsport en El festival (1925). Se desconoce la procedencia de la copia leída por el narrador de The Nameless City, y una versión es leída por el protagonista del relato The Hound (1924).

En las montañas de la locura H. P. Lovecraft


En las montañas de la locura (en inglés, At the Mountains of Madness) es una novela del escritor estadounidense H. P. Lovecraft, escrita en 1931 y rechazada ese año por la revista Weird Tales debido a su extensión, finalmente fue publicada por primera vez en 1936 en tres números de la revista Astounding Stories. La novela detalla los eventos de una desastrosa expedición a la Antártida en septiembre de 1930, y lo que encontró un grupo de exploradores liderados por el geólogo y narrador de la historia el doctor William Dyer. Durante la historia Dyer detalla una serie de eventos ocultados anteriormente con el objetivo de disuadir a cualquier otro grupo de exploradores que busquen volver al continente.

Es también un claro homenaje a quien, probablemente, fue su mayor influencia, Edgar Allan Poe. Las montañas de la locura sería un homenaje a la novela inconclusa La narración de Arthur Gordon Pym.

Reseña

Es la historia en primera persona de William Dyer, geólogo y profesor de la Universidad de Miskatonic de Arkham, el cual realiza una expedición al continente antártico junto a un equipo de especialistas. El superviviente narra cómo se inició el proyecto, como partieron junto a un gran equipo de aeroplanos, trineos y en principio todo lo indispensable para que el proyecto llegara a buen puerto; una vez instalada la base antártica todo se torna en desgracia tras un vuelo de reconocimiento donde se topan con una impresionante cordillera oscura llena de maldad. El primer grupo que decide explorarla desaparece en extrañas circunstancias y tras varios intentos de localización, la expedición al completo decide desplazarse allí e investigar qué ha ocurrido en ese tétrico lugar.

Capítulo 1

Se explica como el protagonista, un geólogo, es guía de una expedición de la Universidad de Miskatonic hacia la Antártida con el objetivo de obtener muestras de rocas y tierra de niveles profundos, con la ayuda de una perforadora diseñada por el profesor Frank H. Pabodie de la misma universidad. El grupo lo formaban cuatro profesores de la Universidad: Pabodie; Lake de la Facultad de Biología, Atwood de la de Física y también meteorólogo, y el geólogo y jefe nominal de la expedición, además de dieciséis auxiliares: siete estudiantes graduados de la Universidad de Miskatonic (entre ellos Danfort y Gedney) y nueve mecánicos especializados. Partieron en dos barcos desde Boston, Massachusetts el 2 de septiembre de 1930. Ya en la Antártida, en la bahía de McMurdo el 6 de enero de 1931, Lake insistió en hacer un viaje al noroeste ya que le había llamado la atención una marca triangular de 30 cms en unas rocas obtenidas durante una exploración en profundidad y que vio no correspondían a esa época.

Capítulo 2

Lake partió con 11 personas más, en total 12 hombres, al noroeste el 11 de enero, el protagonista no lo acompañó, pero si fue con el estudiante Gedney. Lake enviaba mensajes por radio. Encontró esqueletos fosilizados con marcas de desgarro o mordeduras. Formaciones rocosas o estructuras ajenas a todo lo conocido. Encontró un fósil o cuerpo con forma de barril y aspecto vegetal, con alas plegadas de 8 pies (2.5 mt) con forma de estrella en ambos extremos. Lake deduce que fue quien dejó aquella marca triangular en la roca. También había rocas talladas con forma de estrella de 5 puntas. Luego encuentran 13 cuerpos no fosilizados sino únicamente congelados, 8 de ellos en perfecto estado y 4 solo partes. Los perros no soportan el olor de esos especímenes. Lake informa que enviará un avión a buscar al protagonista y a Pabodie.

Capítulo 3

Lake dejó de responder a las llamadas por radio, así que fueron a investigar a su campamento. El 25 enero partieron el protagonista más 10 hombres, 7 perros y un trineo. Entre los diez, iba el estudiante Danfort. El reporte oficial que el protagonista dio al mundo fue que encontró en el campamento 11 muertos por el frío viento y Gedney desaparecido, el resto fue censurado al mundo exterior. No se encontró ningún espécimen biológico para transporte entero solo restos, esteatitas verdes de 5 puntas, huesos fósiles de los seres dichos por Lake, ningún perro sobrevivió, el campamento estaba destrozado, los trineos desaparecidos, y la perforadora destruida, había 2 aeroplanos averiados que se dejaron allí. Faltaban libros e instrumentos científicos.

La verdad que no fue comentada al mundo fue que sí había restos de cuerpos enteros: de los 14 cuerpos mencionados por Lake, había 6 enterrados en posición vertical bajo montículos de estrellas de 5 puntas. Creen que el grupo de Lake lo hizo. Los 8 cuerpos restantes habían desaparecido, quizá arrastrados por el viento. Sí es verdad que fueron encontrados 11 muertos, incluido Lake, y que Gedney estaba desaparecido.

Al día siguiente hacen un vuelo de investigación solos el protagonista y Danfort, y encuentran más allá del lugar, en las laderas de las altas montañas estructuras y ruinas no humanas que asemejan cuadros de Nikolái Roerich. En el campamento de Lake, otros miembros arreglaron los otros 2 aeroplanos. El protagonista ocultó todo lo posible lo sucedido y visto al resto del mundo para que nadie volviera allí. El 28 de enero regresaron a la base pero más al norte. Danfort está nervioso, ya que vio algo que no lo deja dormir.

El informe de Lake abrió el apetito de paleontólogos y naturalistas y dicen que harán una nueva expedición, llamada Starkweather-Moore. El protagonista se empeñará en disuadirlos de que no vayan allí.

Capítulo 4

El protagonista recuerda que cuando encontraron los cuerpos, faltaba un perro, solo Danfort y él lo saben. También recuerda que los 11 cuerpos y los perros estaba desgarrados como por bestias o en una lucha encarnizada. El protagonista no cree que Gedney tuviera que ver en el asesinato de los hombres y los perros. Encontraron huellas de algo no humano cerca del campamento. En la mesa donde Lake estaba estudiando el cuerpo encontrado, ahora estaban los restos de uno de los 11 hombres y un perro.

Se lleva a cabo una nueva expedición pero más a fondo, el protagonista y Danfort en un aeroplano y tomando alguna fotografía irán al sur a buscar a Gedney. El viaje duró 16 horas y ocultó muchas cosas que dirá ahora. En el vuelo se encuentran con bocas de cuevas, estructuras cuadradas. A una altura de 7 mil metros ya no había nieve, solo estructuras rocosas. Llegaron por aire a una montaña que Lake pensaba era un volcán, pero era una niebla espesa sobre la punta de ella.

Capítulo 5

Desde el aire vieron estructuras que jamás un hombre había visto, con geometrías extrañas. Aterrizan y hacen una exploración a pie. Se metieron en cuevas y laberintos, dejando papeles como rastro para así no perderse. No había viento. Entran por casas, estructuras, maderas petrificadas, creen que fue un lugar habitado hace millones de años pero fue dejado ahí de un momento a otro y fue clausurada. Quizá por la venida del frío emigrando sus habitantes a otras tierras.

Capítulo 6

Encuentran dibujos geométricos. Se notaba que eran de muy avanzada ciencia. Hasta ahora creían que las formas de estrellas de 5 puntas era por algo de religión, pues se dan cuenta de que quienes las tallaron son seres no humanos. El geólogo como leyó el Necronomicón, los identifica como la raza de los Primordiales (o también conocida como Los Antiguos), supuesta raza que bajó de las estrellas y creó la vida cuando el Planeta Tierra era joven. Eran como barriles, de 2 metros, con cabezas en forma de estrella de mar de 5 puntas.

Capítulo 7

El protagonista y Danfort leen en las pinturas o dibujos la historia de la raza de los Primordiales, de cómo llegaron del espacio hace millones de años y sus luchas posteriores con otros entes también venidos a la tierra. Vivieron en una ciudad sobre tierra y otra bajo el mar. Podían crear masas gelatinosas llamadas «Shoggoth» o «shogoth» que, según el Necronomicón, eran los esclavos empleados para los trabajos pesados.

Los shogoth se creaban con hipnosis y adoptaban formas y conciencia de sus creadores, además eran como esclavos ya que gracias a ellos hicieron ciudades y los laberintos. Los Primordiales gracias a sus alas podían volar a otros planetas, también tenían una especie de raza para divertirse, como un mono o simio, que además les servía de alimento. Era un gobierno de tipo socialista y se reproducían por esporas. Los Primordiales que vivían en tierra tuvieron una guerra con las semillas estelares de Cthulhu, seres con forma de pulpo engendrados por Cthulhu, por lo que se tuvieron que refugiar en el mar. Más tarde, hicieron la paz y les cedieron las tierras de la superficie a las semillas. Con la deriva continental y los cambios climáticos se hundieron tierras y mueren las semillas de Cthulhu y el mundo quedó de nuevo solo para los Primordiales. Los shogoth se podían crear en la tierra y en el agua, pero en el agua eran un problema debido a que obtenían una mayor inteligencia. Los shogoth eran como burbujas aglutinadas de hasta 4.2 metros de alto y a veces tenían forma esférica. Los shogoth con el tiempo se rebelaron y entraron en guerra con los Primordiales del mar, en los dibujos se veía como los shogoth decapitaban a sus víctimas. Al final los Primordiales ganaron y domaron a los shogoth como bestias. Los shogoth de tierra no eran una amenaza aunque no había indicio que hubieran desaparecido. Luego sufrieron otra nueva invasión de una raza extraterrestre, los llamados Mi-go según el Necronomicon, los Primordiales trataron de escapar al espacio pero no pudieron, ya que habían perdido la capacidad de volar. Los Mi-go acabaron con todos los Primordiales que vivían en Tierra, y tan solo quedaron los del mar y los que alcanzaron sus refugios en el norte. El protagonista cree que probablemente estas historias son sólo el folclore de los Primordiales. El lugar donde estaba con Danfort era el refugio principal, la ciudad donde terminó la raza escondida al final de los tiempos.

Capítulo 8

El protagonista (Dyer) cree que el lugar donde está con Danfort es la maldita «Meseta de Leng» nombrada en el Necronomicón. Cuenta que en los mapas dibujados, se veían dos túneles que conducían desde la metrópolis donde se hallaban hasta un abismo que a su vez llevaba a la ciudad que estaba bajo el mar, donde había otra metrópolis. En aquella zona ya no había aves, ya que habían volado a otras zonas miles de años atrás por el frío, solo enormes pingüinos.

Capítulo 9

El protagonista y Danfort con su afán curioso querían explorar más en los túneles que llevaban al abismo. Usan una linterna, y no las dos para ahorrar. Encuentran olores nauseabundos, luego olor a gasolina natural. Encuentran un lugar con las cosas perdidas del campamento de Lake. Había un mapa con un trayecto por los túneles, el protagonista cree que fue cosa de Gedney aunque tiene la duda ya que se ve que fue alguien que conocía el lugar. Tenían curiosidad y no se fueron ya que sabían que si en la remota posibilidad que algún Primordial estuviera vivo lo más seguro arrancaría hacia el abismo, o saldría al norte en busca de luz ya que la necesitaban. Más abajo en otro lugar encontraron los tres trineos del campamento de Lake. Luego en otro cuarto encontraron los cuerpos sin vida de Gedney y el perro que faltaba, ambos estaban muy cuidados, con heridas en el cuello pero con cintas adhesivas para curarlas. Alguien se preocupó por ellos.

Capítulo 10

Escucharon el sonido ronco de un pingüino, luego vieron uno de 1.8 metros, eran gigantes, pero no peligrosos. Luego encuentran un grupo, todos ciegos por estar tanto tiempo en la oscuridad. El protagonista cree que eran descendientes de los que convivieron con los últimos Primordiales. Luego encuentran la entrada al gran abismo. Más tarde encuentran decapitados los 4 cuerpos indicados por Lake, esos con forma de estrella de cinco puntas (Primordiales) pero no con corte, sino por succión de algo. Danfort gritó de horror muy fuerte. Quizá los pingüinos los atacaron en masa con el pico. Pero el protagonista recuerda que según la historia que leyó en las paredes, los shogoths eliminaban así a sus rivales. El protagonista entiende al final que los Primordiales eran buenos, y un ser mucho peor que ellos los eliminó. Vieron la viscosidad negra que salía de las cabezas cortadas y en la pared, estaba como recién escrita con ella en su escritura de puntos cósmicos. Empezó a salir mucha neblina del ambiente luego del grito de Danfort y escucharon un silbido o nota musical a lo lejos que sonaba como «¡Tekeli-li!». Huyen hacia la superficie ya que escuchan algo. En los túneles lograron engañarlo y salieron, no sin antes ver con la linterna a aquello que se conoce como «lo que no debe ser», un «conjunto informe de protoplasma burbujeante»: era un shogoth. Lograron escapar y se fueron. Según el protagonista, Danfort sufrió graves secuelas psicológicas que han perdurado hasta el día de hoy.

Personajes

Frank H. Pabodie: miembro del departamento de ingenieros de la Universidad de Miskatonic, creador de la barrena que se usó en la expedición y miembro de la misma.
Lake: profesor de la Facultad de Biología. Es el más osado del grupo y quien descubre las montañas, además de los antiguos especímenes extraterrestres a los que apoda como Antiguos debido a la semejanza de estos con monstruos descritos en el Necronomicón.
Atwood: profesor de la Facultad de Física, meteorólogo y miembro de la subexpedición.
Dyer (Narrador): profesor emérito de geología en la Universidad de Miskatonic y jefe nominal de la expedición.
Danforth: estudiante graduado en la Universidad de Miskatonic y descrito como un gran lector de material bizarro, haciendo así frecuentes referencias a Edgar Allan Poe, también se dice que es una de las pocas personas que ha leído la edición completa del Necronomicón. Al final de la historia cuando escapa en un avión junto a Dyer mira hacia atrás y ve algo que le hace perder totalmente la cordura, se especula que lo que Danforth ve es al Mal en sí mismo.

Los sueños en la casa de la bruja H. P Lovecraft


Los sueños en la casa de la bruja es un cuento del escritor estadounidense Howard Phillips Lovecraft que forma parte del ciclo de los Mitos de Cthulhu. Pertenece al género de horror cósmico y ciencia ficción, y fue publicado por primera vez en la revista Weird Tales de 1933.

En la An H. P. Lovecraft Encyclopedia se señala que este cuento estuvo fuertemente influenciado por la novela inconclusa de Nathaniel Hawthorne, Septimius Felton.

Narrador

El narrador del relato es omnisciente. Es común que su voz se mezcle con la de sus personajes (por ejemplo, con la de Gilman o la de Elwood),​ por lo que podemos deducir que su discurso posee un punto de vista monológico, es decir, el narrador es una especie de dios que dirige las palabras y las acciones de sus personajes.

El estilo de Lovecraft es claro y preciso. No es común en este escritor la abundancia de palabras complicadas y preciosismos lingüísticos; al contrario, se privilegia el uso simple de la lengua en favor del desarrollo de la historia.

Argumento

Walter Gilman es un estudiante de matemáticas de la Universidad de Miskatonic, empapado en conocimientos acerca de las diversas leyendas populares y mitos paganos de la ciudad de Arkham. Llevado por su curiosidad científica mezclada con el saber de los mitos urbanos, decide alquilar una habitación en la casa de la bruja, lugar en el que vivió Keziah Mason, una vieja hechicera que escapó de los tribunales de Salem en el año 1692 gracias a su habilidad para traspasar dimensiones mediante el trazado de complicadas líneas y curvas en las paredes.

Enormemente cautivado por la misteriosa habilidad de la bruja, Gilman decide profundizar sus investigaciones matemáticas en la habitación de Keziah, sin imaginar que será presa de los más terribles sueños mezclados con realidad, que lo llevarán, a la postre, a un destino horrible e inimaginable.​

Personajes

Walter Gilman

Walter Gilman era originario de Haverhill (Massachusetts), pero decidió estudiar matemáticas en la Universidad de Miskatonic, en Arkham. En el cuento se nos presenta como un tipo sedentario, retraído, tremendamente interesado en la ciencia y los mitos populares. Es justamente esta mezcla de saberes la que lo motiva a alquilar la habitación donde la bruja Keziah Mason realizaba sus prácticas de traspaso dimensional. A medida que avanza sus investigaciones, Gilman sufre de fiebre y es protagonista de terroríficos sueños, en los que es acompañado por el fantasma de la vieja Keziah y un animalejo peludo llamado Brown Jenkin. Más adelante, cuando sus sueños son más reales —en la realidad, los sueños ocurrían— Gilman se encuentra con el Hombre Negro, en el trono de Azathoth, en el centro del caos.

Casi al final del relato, durante una de sus travesías onírico-reales, Gilman «asesina» al fantasma de Keziah y logra acabar con la fiebre y los terroríficos sueños. No obstante, luego de esto queda totalmente sordo. Un día después de este acontecimiento, Gilman es asesinado por el animal Brown Jenkin —que sí existía y no era una simple leyenda—, que le roe los órganos internos.

Frank Elwood

Elwood es el mejor amigo de Gilman. Es su compañero en la universidad y lo ayuda a investigar los misterios de los sueños y la fiebre de Gilman en la casa de la bruja. Al final, después de la muerte de Gilman, Elwood se va de Arkham tras graduarse en la Universidad de Miskatonic.​

Keziah Mason

El personaje que da pie al relato es, en definitiva, la bruja Keziah Mason. En los folios de la biblioteca de la universidad, Gilman descubre que esta hechicera, en 1692, logró escapar del tribunal de Salem gracias al trazado de unas complejas líneas y curvas, con las que, aparentemente, lograba traspasar de una dimensión a otra. Gilman, tras mucho investigar, es víctima de sueños en los que se le aparecen Keziah y el Brown Jenkin y lo obligan a firmar un libro en el trono de Azathoth, en presencia del Hombre Negro. En una de las travesías de Gilman por estos sueños confundidos con realidad, nuestro protagonista logra acabar con el espíritu de la bruja. No se oyeron hablar de nuevas apariciones de Keziah Mason y Brown Jenkin desde que la casa de la bruja fue demolida.

Brown Jenkin

Este personaje es descrito como una especie de rata peluda con rostro barbado de ser humano y una inconfundible risita burlona. El Brown Jenkin es reconocido como una leyenda popular de Arkham; no obstante, conforme avanza el relato, nos enteramos de que en realidad existe. Este extraño ser es el familiar de Keziah, y por ello la acompaña a todos lados.

Al final del relato, el narrador nos cuenta que nos encontramos en el año 1931, fecha en que la Casa de Bruja es demolida. Se nos refiere que en el interior del edificio embrujado se encontraron multitud de restos óseos de niños y, en el ático, el esqueleto de un ser parecido a una rata humanoide.

El Hombre Negro

Este misterioso personaje aparece cuando los sueños de Gilman son más terribles. Se nos refiere en el relato que el Hombre Negro está sentado en el trono de Azathoth, en el caos primigenio. Gilman es obligado a firmar en el libro del dios con su sangre, pero se niega.

Los pensionistas de la casa de la bruja

Gilman y Elwood no son los únicos que viven en la vieja mansión de Keziah Mason. Allí también viven personajes supersticiosos y pintorescos como los caseros Drombowski y el mecánico de telares Mazurewicz. Todos ellos creen ciegamente en las leyendas populares de Arkham y a lo largo del cuento le advierten a Walter Gilman que lo que él cree que son simples sueños terroríficos, se cumplen en la vigilia.

Crítica

El tema principal de este relato es uno al que Lovecraft recurrió constantemente a lo largo de toda su creación literaria: el hombre es un ser indefenso frente a lo desconocido. En efecto, Lovecraft es el gran creador de los seres que poblaron el mundo mucho antes que los hombres, y que pugnan por regresar desde el exterior. En este relato, la presencia del dios Azathoth es más que elocuente.

Al igual que en El color que cayó del cielo, tenemos dos grupos humanos bien definidos: los hombres de ciencia y los hombres de leyendas, o sea, el saber científico diferenciado del saber popular. Sin embargo, en Los sueños de la casa de la bruja nos encontramos que estos dos saberes están mezclados en un solo hombre: Walter Gilman.

A nivel de estructuras más profundas, podemos decir que ni el saber popular mezclado con el saber científico (es decir, la humanidad entera) es capaz de hacer frente a lo desconocido, al terror primigenio, y es por ello que al final el protagonista (el símbolo de unión de estas dos grandes vertientes de conocimientos) muere. El mensaje es que los hombres, ni unidos ni separados, pueden luchar contra seres más poderosos que ellos, y que, al final, lograrán reconquistar su territorio perdido.

Es interesante analizar los elementos populares y científicos de este relato.​ En cuanto a lo primero, tenemos referencias directas a las quemas de brujas de Salem —en especial los folios del juez Cotton Mather— y a la noche de Walpurgis. En lo que respecta al segundo grupo, tenemos un esbozo de las teorías físicas de la dimensionalidad espacial, así como una muestra de la enorme pasión de Lovecraft por la ciencia y sus conocimientos con respecto a ella.

La temática de Lovecraft es bastante uniforme: mezcla lo popular con lo científico, lo terrorífico con la ciencia ficción y logra crear relatos que transmiten una visión del mundo clara y cautivante. Asimismo, el escritor estadounidense es reconocido por crear el maravilloso universo del horror cósmico, poblado de seres inefables y horribles, que hasta nuestros días tiene fieles lectores de las más diversas edades. Los sueños en la casa de la bruja es un claro ejemplo de ello.

En la noche de los tiempos H. P. Lovecraft


En la noche de los tiempos o La sombra fuera del tiempo (The Shadow out of Time en inglés) es un relato corto de horror cósmico y ciencia fantástica escrito por H. P. Lovecraft entre finales de 1934 y principios de 1935, y publicado por primera vez en la revista literaria Astounding Stories en junio de 1936, el año anterior a la muerte del escritor.

Es considerado uno de los ocho relatos fundamentales dentro de los llamados Mitos de Cthulhu. En él se mezcla paradójicamente el deseo y el terror, y ejemplifica perfectamente la tesis de Sigmund Freud respecto a que lo siniestro es aquello que alguna vez fue conocido y ahora yace reprimido.

El relato narra en primera persona la historia de Nathaniel Wingate Peaslee, un profesor de Economía de la Universidad de Miskatonic que entre 1908 y 1913 sufre una inexplicable amnesia y trastorno de la personalidad cuyo trasfondo tratará de descubrir a pesar de las cosas terribles que pueda averiguar. Las personas más allegadas a él le abandonan debido al extraño comportamiento que desarrolló durante los cinco años de amnesia, excepto su hijo, Wingate Peaslee, a quien más tarde confiará a través de una carta todos los detalles de la historia que va desenterrando acerca de lo sucedido. Luego de haberse recuperado, extraños sueños lo acosan noche tras noche y que cada vez le atormentan más.

Los sueños se vuelven cada vez más nítidos y aterradores y descubre la razón de sus gritos al despertar: la existencia en el pasado de una raza de extraños alienígenas, la Gran Raza, que desaparecieron de la Tierra hace eones debido a la venganza de una raza antigua que los Yith habían encerrado bajo la superficie de su avanzada civilización. Algunos miembros de la Gran Raza tenían la capacidad de mover su mente por el tiempo y el espacio. Consiguieron de esta forma recopilar el conocimiento de cuantas civilizaciones habían existido y existirían en el universo conocido, incluida la humana. De igual forma, el viaje astral les permitiría vivir eternamente en cualquier lugar del Universo. Nathaniel se siente sobrecogido por la posibilidad de que su mente hubiera sido trasladada al pasado de la Gran Raza mientras una mente Yith ocupaba su cuerpo para aprender de su sociedad. Estos pensamientos se van aclarando conforme sus sueños se van haciendo más claros y es capaz de ver la enorme biblioteca y archivo de la civilización Yith, sin embargo no cree en ellos más que como ilusiones.

Nathaniel concuerda con la opinión de los psicólogos, que creen que sufrió un trastorno mental y que sus visiones son pseudorrecuerdos, engañosos productos de su mente que llena el vacío provocado por esos años en blanco. Los sueños cada vez son más reales y en un intento de tranquilizar su mente investiga sobre lo sucedido, sin embargo sus descubrimientos lo aterran aún más: diversos casos semejantes al suyo han ocurrido repetidamente a lo largo de la historia, a veces una sola vez en un siglo, a veces dos, a veces ninguno. Empieza a pensar con horror que sus sueños no pueden ser fruto de su imaginación errática, pues los casos documentados coinciden en diversos detalles y en sustancia con los suyos.

Para aclarar el asunto sigue los pasos y realiza los extraños viajes que realizó aquella personalidad patológica. En recónditas bibliotecas y tras consultar al personal descubre que leyó antiguos libros oscuros relacionados a antiguos mitos sobre monstruosos seres primigenios y cultos esotéricos. Esto lo tranquiliza, pues a pesar del horror de sus sueños, existe una explicación razonable para todo: sus extrañas lecturas fueron la fuente de inspiración de sus sueños y, puesto que en el pasado los Mitos eran muy comunes, también lo fue de los otros enfermos.

Años después de haber sobrellevado sus temores y haber enterrado sus sueños, recibe una carta desde Australia, donde al parecer se han encontrado misteriosos restos con grabados curvilíneos como los que describió periódicamente en una revista de psicología. El arqueólogo le propone realizar la empresa de excavar las arenas si dispone de recursos y obreros para realizarlos, pues los indígenas de la zona temen supersticiones relacionadas a funestas ventiscas húmedas que surgen de supuestas cuevas subterráneas. El profesor Peaslee, acompañado de su hijo, viaja hasta el país oceánico para descubrir de una vez por todas el origen de los Mitos y qué hay detrás de toda esta locura que le acosa sin tregua.