sexta-feira, 14 de abril de 2017

Uma Introdução às Obras de Kenneth Grant


Kenneth Grant foi um dos ocultistas mais influentes do século XX. Ele deixa para trás um substancial e formidável corpo de obras que irá ser explorado e desenvolvido ao longo dos próximos anos. O que se segue aqui é um estudo introdutório de sua obra – uma base para uma consideração mais profunda, mais substancial de seu trabalho no futuro.

Nascido em Essex em 1924, Kenneth Grant desenvolveu um intenso interesse pelo ocultismo desde tenra idade, bem como ao longo da vida uma devoção ao Budismo e a outras religiões orientais. Ele comentou em algum lugar em seus escritos que o Misticismo Or

ental foi seu primeiro amor – não apenas uma indicação de quão bem instruído ele foi, mas talvez mais importante que isso, de seu exacerbado senso de imanência. Grant relata em Outside the Circles of Time como ele se deparou com uma cópia de Magick in Theory and Practice - em Zwemmers, na Charing Cross Road – no final da década de 1930 ou início da de 1940. Neste período, ele também havia descoberto The Book of Pleasure de Austin Osman Spare na Livraria Atlantis de Michael Houghton na Museum Street.Posteriormente mergulhando nas obras de Crowley, ele finalmente conseguiu fazer contato com ele em 1944, escrevendo para o endereço fornecido em The Book of Thoth que acabara de s r publicado.Visitando-o várias vezes, Grant posteriormente ficou com ele em ‘Netherwood’ em Hastings em 1945, imerso em Magick. Muitos anos depois, Grant escreveu um livro de memórias deste período de sua vida, Remembering Aleister Crowley. É evidente a partir de observações em seus diários e em outros lugares, que Crowley desenvolveu uma alta estima por Grant, vendo nele o potencial para tornar-se um futuro líder da O.T.O.

Foi nessa época que Grant se deparou pela primeira vez com o desenho de Lam de Crowley, ou “O Lama”, como Crowley se referia a ele. Tendo oferecido a Grant um documento de sua escolha, inicialmente ele foi hesitante quando Grant escolheu o desenho – ou, como Kenneth coloca, Lam o escolheu. Eventualmente, ele passou o desenho para Grant após um ataque de asma extremamente grave que Grant ajudou a aliviar apressando o médico de Crowley para lhe dar heroína. Crowley se refere a este incidente em seu diário em 08 de maio de 1945: “Aussik ajudou bastante; dei-lhe ‘O Lama’…” O desenho foi posteriormente reproduzido no The Magical Revival e Outside the Circles of Time, e passou a ocupar cada vez mais um papel proeminente no desenvolvimento do corpo da obra de Grant.

Após a morte de Crowley, em dezembro de 1947, Kenneth e Steffi Grant estiveram entre os presentes no funeral de Crowley, e foram posteriormente membros do pequeno círculo que se esforçou para manter a memória de Crowley e seu trabalho vivo. Crowley nomeou Karl Germer – vivendo então nos EUA – como seu sucessor, e sua Vontade estipulou que seus papéis fossem enviados a Germer. Preocupado que devesse haver cópias dos documentos mais importantes em caso de alguma coisa acontecesse a eles enquanto em trânsito, Grant e, posteriormente, Gerald Yorke começaram a fazer cópias datilografadas daqueles que consideraram de importância particular. Assim eles fizeram, depois disso a coleção de documentos de Germer foi roubada de sua viúva Sascha em 1967 por membros da Solar Lodge e, posteriormente, destruídos em um incêndio. As cópias datilografadas feitas por Grant, Yorke e outros formaram a base do arquivo que Yorke mais tarde passou para o Instituto Warburg da Universidade de Londres, e que continua acessível a pesquisadores.

Durante o fim dos anos de 1940 e início dos anos de 1950, um pequeno círculo de ocultistas acumulou-se em torno de Grant, desenvolvendo-se como o núcleo de um grupo de operações. Germer tinha patenteado Grant em 1951 para formar um ‘Capítulo’ da O.T.O.. À parte disso desenvolveu a New Isis Lodge como uma célula dependente da O.T.O., com uma estrutura de qualidade e programa de operações que foram influenciados pela Astrum Argenteum de Crowley, bem como pela O.T.O. como era nos dias de Crowley. A relação com David Curwen foi o que contribuiu para Grant obter uma cópia de um comentário de um adepto de Kaula sobre um texto tântrico, o Anandalahari.Este comentário deu importantes insights sobre a magia sexual tântrica, aproximando a magia sexual de uma direção muito diferente daquela de Crowley. A abordagem de Crowley é basicamente solar-fálica, para não dizer falo-cêntrica, há grande ênfase na importância das energias sexuais masculinas, mas muito pouco sobre as energias femininas. Muitas vezes, a parceira é considerada como pouco mais do que um copo em que o magista masculino verte seu bindu.O texto Kaula aborda o assunto de uma perspectiva diferente, acentuando o papel dos kalas e como eles variam ao longo do ciclo menstrual.

No lançamento formal da Loja, em 1955, Grant emitiu um Manifesto da New Isis Lodge no qual falou da descoberta de um planeta além de Plutão, o Isis transplutoniana, e o que ele pode significar para a evolução da consciência neste planeta:

    A nova e atraente influência está envolvendo a Terra e ainda há poucos indivíduos que estão abertos ao influxo das vibrações sutis dessa influência.

    Seus raios procedem de uma fonte ainda inexplorada por aqueles que não estão unos com eles em sua essência e em espírito, e que encontra seu foco atual no universo exterior no transplutoniano planeta Isis.

    No íntimo do homem, igualmente, esta influência tem um centro que irá lentamente começar a se agitar na humanidade como um todo, a influência se fortalece e floresce. Como ela está no início de seu curso em relação ao homem, porém, muitos séculos passarão antes que ela possa valer-se totalmente dos grandes poderes e energias das quais essa influência está silenciosa e continuamente concedendo em todos os que sabem identificar o núcleo interior de seu ser com o seu profundo e inescrutável coração.

Certamente é óbvio que Grant não estava falando sobre a descoberta de um planeta físico, tal descoberta poderia ter sido mais relevante para uma revista astronômica. Se tivermos em mente que a primeira sephira, Kether, é atribuída a Plutão, então um planeta transplutoniano seria ‘Um além do Dez “, o Grande Exterior. Grant expressou isso portanto alguns anos mais tarde, em Aleister Crowley and the Hidden God:

    No Livro da Lei, a deusa Nuit exclama: “Meu número é onze, como todos os números aqueles que são de nós “, que é uma alusão direta à A ∴ A ∴, ou Ordem da Estrela de Prata, e seu sistema de Níveis. Nuit é o Grande Exterior, representada fisicamente como o “Espaço Infinito e as Infinitas Estrelas” — isto é, Isis.

    Nuit e Isis são identificadas em O Livro da Lei. Isis é o espaço terrestre, iluminado pelas estrelas. Nuit é o exterior, ou espaço infinito, a escuridão imortal que é a secreta fonte de Luz, ela é também, em um sentido místico, o Espaço Interno e o Grande Interior.

Germer certa vez, assim como Crowley, considerou Grant como um futuro líder da O.T.O. em potencial (ver, neste contexto, os resumos de suas cartas à Grant, publicadas no artigo ‘It’s an Ill Wind That Bloweth’ na Starfire Volume I n º 5, Londres, 1994).No entanto, ele foi essencialmente infeliz como alguém que se desviou da linha que, após a morte de Crowley, a única coisa a fazer era simplesmente preservar e promover o trabalho de Crowley. Além disso, ele também não ficou satisfeito quando Grant se recusou a recolher o dinheiro dos membros de sua Loja. Ele, aliás, se irritou ao saber que Grant tinha formado conexões com Eugen Grosche, um antigo adversário de Germer da Alemanha na década de 1920. Ele exigiu que Grant retratasse seu Manifesto, quando ele se recusou, Germer emitiu um aviso de expulsão. Grant simplesmente ignorou a expulsão e continuou com a New Isis Lodge como uma loja dependente da O.T.O., confiante de que seu trabalho mágico lhe permitiria fazer a conexão direta com a corrente mágica no núcleo da O.T.O., assim, substituindo a autoridade de Germer e tornando a expulsão irrelevante. Esta confiança em sua posição como sucessor de Crowley reforçada ao longo dos anos subseqüentes com desenvolvida sua obra mágica e mística.

A New Isis Lodge tinha um programa de operações que começou em 1955 e foi concluído em 1962, embora a Loja tenha continado a operar até meados dos anos de 1960. Desenvolvendo algumas técnicas mágicas inovadoras e interessantes, um relato de alguns de seus trabalhos é dado em Hecate’s Fountain, escrito no início da década de 1980, mas não publicado até dez anos mais tarde. As experiências de Grant na New Isis Lodge foram a base para suas obras posteriores, talvez mais aparente nos volumes posteriores das Trilogias com a publicação de duas das transmissões reificadas durante o curso de Operações da Loja. Uma dessas transmissões foi a requintada e delicada, Wisdom of S’lba a qual foi incorporada no sétimo volume das Trilogias, Outer Gateways, publicado em 1994.O outro foi The Book of the Spider, em torno do qual Grant teceu seu volume final das Trilogias, The Ninth Arch (2002).

A New Isis Lodge não é muito mencionada nos primeiros livros de Grant. Tenho a impressão de que, embora o trabalho realizado na Loja tenha sido formativo para Grant – a fundação de seu corpo de obras posteriores – pela mesma razão foram os cumulativos insight’s destilados ao longo dos anos seguintes, o que permitiu a Grant entender plenamente as realizações dos anos anteriores, e a levar o trabalho a outro nível. O potencial desses anos vieram a serem concretizados muitos anos após a Loja ter cessado suas operações. Lembro-me dele comentando para mim no início de 1990 que ele tinha recentemente topado com o arquivo de materiais que havia sido guardado por muitos anos, e que ao passar por isso novamente uma revigorante corrente de iníciação havia sido deflagrada.

Ao longo dos anos de 1959 a 1963, Grant produziu uma série de monografias, as Carfax Monographs, cada uma sobre um assunto diferente.Anos mais tarde, em 1989, elas foram reeditadas num só volume como Hidden Lore.Mais recentemente, elas foram republicadas, desta vez com material adicional, como Hidden Lore, Hermetic Glyphs (Fulgur, 2006).

Uma das influências mais importantes sobre Kenneth Grant foi Spare. Em 1949 ele e sua esposa Steffi conheceram o artista e escritor ocultista. Eles continuaram amigos até a morte de Spare em 1956, apoiando-o com alguns elementos essenciais à vida, bem como materiais para seu trabalho artístico, e este contato provocou um renascimento eno trabalho de Spare. Grant durante algum tempo adquiriu um grande interesse pela magia e misticismo de Spare, assim como por sua arte, e em particular pelos sistemas de sigilos que Spare havia apresentado em The Book of Pleasure, publicado pela primeira vez em 1913.Contudo, exceto por notáveis exceções como o desenho “Teurgia” de 1928, os sigilos geralmente se tornaram ausente do trabalho de Spare depois da Primeira Guerra Mundial, e ele confessou a Grant que, ao longo dos anos, ele havia esquecido os princípios subjacentes ao sistema. Estimulada pelo interesse e entusiasmo de Grant, Spare aplicou-se à recuperação desses princípios, e sigilos ressurgiram em muitos de seus desenhos e pinturas no final dos anos 1940 e no anos de 1950. O rendimento dos últimos anos de sua vida foi uma espécie de renascimento para Spare, um florescimento tardio.

Este renascimento incluiu obras escritas, que Grant digitou para ele, no processo de fornecer críticas e comentários, e pressionar por elucidação onde parecia benéfico.Muito deste trabalho tardio foi posteriormente publicado por Grant em Zos Speaks! (Fulgur, 1998), junto com cartas e trechos de diários que documentam seu período com Spare, bem como reproduções das obras de arte de Spare. Em sua morte, Spare legou a Kenneth seus manuscritos, textos datilografados, e livros. Incansável na promulgação das obras de Spare ao longo dos anos subseqüentes, em 1975 Grant publicou o belo Images & Oracles of Austin Osman Spare (Muller, 1975; Fulgur, 2003), introduzindo sua obra – escrita e artística – a um novo público.O renascimento do interesse em Spare nos últimos anos se deve muito a seus esforços.

Assim como Spare, do começo ao fim de sua obra Grant enfatizou o primado da imaginação. Longe de ser mero capricho ou fantasia, este é de fato o principal meio para encontrar e explorar o universo e nossa relação com ela. O trabalho de Grant é essencialmente dirigido à imaginação, soando ecos na consciência do leitor de sua obra. Como já vimos, Grant descreveu o Misticismo Oriental como seu primeiro amor, e durante os anos de 1950, ele mergulhou no Advaita Vedanta – a percepção de que a consciência é indivisível – escrevendo uma série de artigos para revistas asiáticas, posteriormente reunidos e publicados muitos anos depois como At the Feet of the Guru (Starfire Publishing, 2006).Embora muitas vezes entendida como um culto que glorifica a individualidade, Thelema está de facto enraizada neste solo, tendo muito em comum com o taoísmo.

Com John Symonds, o executor literário de Crowley, Grant editou autobiografia extensa e turbulenta autobiografia de Crowley, The Confessions (Cape, 1969). Esta desempenhou um importante papel em trazer o trabalho de Crowley à atenção popular. Symonds e Grant edificaram-se nisso, continuando a editar e publicar outras obras de Crowley ao longo dos anos de 1970, especialmente o The Magical Record of the Beast 666 (Duckworth, 1972) – uma seleção de diários de Crowley - e Comentários mágica e filosófica sobre o Livro do Direito (93 Publishing, 1974).

Ao longo dos anos, Kenneth Grant criou seu próprio corpo de obras, e em as obras sobre o trabalho de Crowley – “Amor sob Vontade”, publicado no Internacionais Times durante 1969 – ele se referiu a um estudo das mesmas que estava aguardando publicação, intitulado ‘Aleister Crowley and the Hidden God’. Sua editora, Muller, posteriormente pediu-lhe para dividir o trabalho em dois volumes, o primeiro dos quais foi publicado em 1972 como The Magical Revival. O segundo, emitido sob o título original Aleister Crowley and the Hidden God, publicado em 1973.Este foi o início das Trilogia Typhoniana, dos quais o nono e último volume, The Ninth Arch, foi publicado em 2002 pela Starfire Publishing.Esses volumes compreendem um corpo substancial de obras que, embora ecléticas e que abrangem vastas áreas da magia e do misticismo, estão firmemente enraizadas em Thelema. No decorrer destas obras, Grant levou Thelema à áreas além do que muitas vezes é considerado como sendo os limites das obras de Crowley, destacando no processo a universalidade de Thelema e suas afinidades com uma ampla gama de tradições e disciplinas. O que se segue é um breve resumo de cada um dos volumes das Trilogias, pelo caminho, alguns temas serão destacados.

The Magical Revival (Muller, 1972; Starfire Publishing, 2009) foi um estudo e análise de uma variedade de tradições ocultistas que sobreviveram durante milhares de anos, e que estão agora revivendo em novas formas e com um vigor renovado.Em particular, foi traçada a gênese e o desenvolvimento do Culto Draconiano ao longo das dinastias egípcias, e diante deste pano de fundo mais antigo foram examinadas as mais modernas manifestações, como Blavatsky, Crowley, a Golden Dawn, Dion Fortune, e Spare. Foi demonstrado que, embora essas manifestações sejam recentes, estão enraizadas na considerada mais antiga corrente mágica, que tem nutrido e sustentado todas as eflorações subseqüentes. Foi incluída como uma ilustração no livro uma reprodução do desenho de Lam de Crowley, a primeira vez que foi publicada desde a sua aparição original em The Blue Equinox em 1919.

No capítulo ‘Barbarous Names of Evocation’, Grant desenvolve a ideia da similaridade entre os elementos do Mito de Cthulhu como elaborado na ficção de Lovecraft, e aspectos da obra de Crowley. Isto veio a sugerir que eles se basearam em arquétipos semelhantes do inconsciente coletivo. Em seu trabalho posterior, Grant ocasionalmente brinca com o panteão de divindades, mas isso nunca veio a sugerir que as divindades eram reais, ou que deveriam ser adoradoas.

Este foi sucedido pelo segundo volume, Aleister Crowley and the Hidden God (Muller, 1973).Este foi um estudo mais especifico acerca do sistema de magia sexual de Crowley, amplificado por uma reflexão sobre o comentário Kaula acima referido. Grant resumiu o livro da seguinte forma:

    Este livro contém um estudo crítico do sistema de magia sexual de Crowley e suas afinidades com os antigos ritos tântricos de Kali, a deusa negra do sangue e da dissolução representada no Culto de Crowley como a Mulher Escarlate. É uma tentativa de fornecer uma chave ao trabalho de um Adepto cujo vasto conhecimento de ocultismo foi insuperável por qualquer autoridade ocidental anterior. Tenho enfatizado a semelhança entre o Culto de Thelema de Crowley e o Tantra, porque a atual onda de interesse no Sistema Tâmtrico torna provável que os leitores estejam aptos a avaliar melhor a importância da contribuição de Crowley ao ocultismo em geral e ao Caminho Mágico em particular.

Houve também um capítulo sobre ‘Nu-Isis and the Radiance Beyond Space’, em que Grant cita a New Isis Lodge e seu programa de operações.

O terceiro volume, Cults of the Shadow (Muller, 1975), explorou os obscuros aspectos do ocultismo que freqüentemente são vistos negativamente como “magia negra”, o “caminho da mão esquerda”, etc. A ideia deste livro é apresentada no parágrafo de abertura da Introdução:

    Este livro explica os aspectos do ocultismo que muitas vezes são confundidos com ‘magia negra’. Seu objetivo é restaurar o Caminho da Mão Esquerda e re-interpretar seus fenômenos à luz de algumas de suas manifestações mais recentes. Isto não pode ser conseguido sem uma pesquisa de cultos primitivos e de fórmulas simbólicas que neles residem. Não existe campo mais rico para uma pesquisa dessa natureza e esqueleto não mais perfeito onde acha-la do que os sistemas de Fetiches da África Ocidental e sua eflorescência em cultos Egípcios pré-monumentais. Tal pesquisa é apresentada nos três primeiros capítulos, após o quais os símbolos emergem à luz dos períodos históricos e aparecem sob a forma da Corrente Tântrico explicada nos Capítulos Quatro e Cinco.

    Esta Corrente parece se dividir em duas correntes principais que refletem infinitamente a fenda original entre os devotos dos princípios criativos feminino e masculino conhecidos tecnicamente no Tantra como Caminho da Mão Esquerda e Direita. Eles são os princípios da Lua e do Sol, e sua confluência desperta o fogo da serpente (Kundalini), o Grande Poder Magicko que ilumina o caminho escondido entre eles – o Caminho do Meio – o caminho da Iluminação Suprema.

    É a falha quase universal em compreender o adequado funcionamento do Caminho da Mão Esquerda que levou à sua depreciação — principalmente por causa de suas práticas não convencionais — e a uma realização imperfeita dos últimos Mistérios por parte daqueles que são incapazes de sintetizar os dois.

Destaca-se um capítulo sobre o trabalho de Frater Achad (Charles Stansfield Jones) e o Aeon de Maat, em que Grant tinha uma visão um pouco cética em relação às reivindicações de Frater Achad do alvorecer do Aeon de Maat. Posteriormente, como veremos, Grant veio a rever suas opiniões. O livro também contém capítulos sobre a obra de Michael Bertiaux, introduzindo Bertiaux a um público novo e levando a um aumento do interesse em sua obra.

A segunda trilogia abriu com Nightside of Eden (Muller, 1977).No centro deste é uma exploração dos Túneis de Set, que subjazem os caminhos da Árvore da Vida. O trabalho de Grant foi inicialmente baseado em um breve e obscuro trabalho de Crowley, Liber 231, publicado pela primeira vez no The Equinox. Este Liber é composto de sigilos dos gênios dos 22 escamas da Serpente, aquelas dos 22 cárceres das Qliphoth, e alguns oráculos obscuros;ele evidentemente, fascinou Grant, e a exploração dessas cárceres das Qliphoth formaram um elemento importante nas operações da New Isis Lodge. Grant foi criticada em algumas lugares por trabalhar com o que alguns consideram como o mal e aspectos adversos da magia. Contudo, os aspectos mais escuros da experiência são tão necessário de serem compreendidos quanto os aspectos mais luminosos; uma compreensão de ambos é necessária. A seguinte passagem da Introdução do Nightside of Eden aborda este assunto:

    Isso me leva ao ponto final: A menos que o ocultismo se torne criativo, no sentido da abrir-se à novas abordagens, modificando e desenvolvendo conceitos tradicionais e de forma geral revelando um pouco mais daquela Deusa Suprema, cuja identidade está escondida atrás do véu de Ísis, Kali, Nuit, ou Sothis, haverá estagnação no pântano de crenças tornados inertes pela recente rápida aceleração da consciência da humanidade, o que é quase um milagre. Se a ciência do não-manifesta não permanecer aterrada a um estágio pré-púbere, enquanto as ciências manifestas voam para o espaço, o ocultista amadurecido deve pôr de lado os brinquedos da superstição e enfrentar sem medo as Árvores da Eternidade, cujos troncos e ramos brilham com o fogo solar, mas cujas raízes são alimentadas na escuridão.

Embora esta passagem se refira especificamente ao Nightside of Eden, o caso aqui articulado pela inovação e criatividade se aplica ao trabalho de Grant como um todo.

Ao longo do livro, há várias referências ao Aeon de Maat, e é claro que Grant teve até agora revisto sua opinião, visão um tanto cética em relação a este aspecto da obra de Achad. Na verdade, ele tinha nesta época recebido um material de Margaret Ingalls (Soror Andahadna), que o levou a reavaliar a obra de Achad acercada chegada em 1948 de outro Aeon que segue ao lado do Aeon de Horus, os dois aeons constituindo uma dupla corrente.

Em 1980 Grant publicou Outside the Circles of Time (Muller, 1980; Starfire Publishing, 2008), um trabalho que abrange uma área extremamente vasta e expõe, para citar a sinopse da contracapa: “uma rede mais complexa do que se imaginava: uma rede não muito diferente da sombria visão de H.P. Lovecraft de forças sinistras que espreitam na borda do universo “.Há muitos fios em um tecido rico e deslumbrante, uma vertente principal sendo a não-dualidade:

    O mundo fenomenal não tem existência real para além de sua fonte noumenal. O mundo não está procurando por ninguém, o mundo não sabe nada de ninguém, mas as pessoas estão procurando o mundo e não conseguem encontrá-lo, porque eles são o mundo e elas estão realmente é procurando por si mesmas. Mas por elas não serem refinadas, não serem sutis, não serem silenciosas; por elas serem grosseisas e barulhentas, o mundo também lhes aparece como grosseiro e barulhento. Eles são identificados com estas qualidades, elas são suas, e, portanto, não podem controlá-las.

    Somente através do refinar do grosseiro no sutil, o mundo do objeto no mundo do sujeito, o mundo-desperto no mundo dos sonhos, só assim pode ser encontrada a chave para o poder “oculto”. Ele só pode ser encontrado em total silêncio, quando mente cessou os pensamentos, quando a boca cessou a fala, quando o olho cessou a projeção de imagens. Só então a fórmula do controle-onírico levará ao total despertar da ilusão da vida.

    É, portanto, necessário se habituar à ideia, a viver perpetuamente com a idéia, que toda a vida de um indivíduo – tudo o que pode ser lembrei dela – foi composta pelo indivíduo como uma peça de teatro é composta por um dramaturgo. É uma invenção, uma lîla, uma máscara ou dança em qual o indivíduo é o único ator, e mesmo este ator é apenas uma figura na peça. Ele não é real; nenhum objeto pode ser real, pois não há absolutamente coisa alguma.

    Nada é Nuit, e ela não é uma coisa precisamente neste sentido particular de um jogo de poder (shakti) evoluindo um drama sem fim de luz e sombra que surge à existencia como sujeito e objeto. Mas a objetividade é um sonho, pois não há sujeito, não ha sonhador, ha apenas um sonho.É apenas quando esta verdade é profundamente percebida que o sonho é decifrado em sua origem, que é o bindu conhecido como Hadit, no coração de Nuit…

    Hadit se dissolve em Nuit, algo em nada, objeto em sujeito, e sujeito – finalmente! – naquela subjetividade absoluta que, sendo livre tanto de objetividade e subjetividade, permanece indescritível.

O livro é o mais famoso, talvez, por apresentar a obra de Soror Andahadna, uma contemporânea sacerdotisa de Maat, cujo trabalho tinha paralelos com a obra de Frater Achad várias décadas atrás. Muitos Thelemitas têm problemas com o Aeon de Maat. Estão tão distantes quanto preocupados, cada Aeon dura 2.000 anos, estamos no início do Aeon de Horus, então até o de Maat ainda ha um longo caminho. Eles irão ecoar a famosa réplica de Crowley ao jovem Grant: “Maat pode esperar!”. No entanto, a seguinte passagem de Outside the Circles of Time coloca a questão de forma muito mais interessante:

    Mitos e lendas são do passado, mas Maat não deve ser pensada em termos de eras passadas ou futuras. Maat está presente agora para aqueles que, conhecendo os ‘alinhamentos sagrados’ e os ‘Portais da Intertemporalidade’, experimentam a Palavra sempre vinda, sempre expressa, da Boca, nas sempre novas e sempre presente formas que estão continuamente a serem geradas a partir do Atu místico ou Casa de Maat, o Ma-atu…

Mas o livro é sobre muito mais que isso. É um potente ondular, em uma série de linhas aparentemente diversas em uma única corrente, larga e potente. Apesar dos livros de Grant serem cada um diferentes de seus antecessores, Outside the Circles of Time parecia anunciar um salto para uma dimensão diferente.

Outside the Circles of Time foi o ultimo livro de Grant publicado pela Muller, e houve uma pausa de 12 anos até 1992, quando a Skoob Publishing lançou o Hecate’s Fountain. Grant tinha originalmente concebido este como um relato dos rituais da New Isis Lodge.No entanto, como é frequentemente o caso, o trabalho tomou uma dinâmica própria e fez brotar uma  flor muito diferente.O livro foi ainda tecido em torno dos trabalhos da Loja. No entanto, este trabalho foi ilustrado como relatos anedóticos de trabalhos específicos, demonstrando em particular o que Grant designa por ‘tantra tangencial’, onde um trabalho mágico tem curiosos e às vezes alarmantes efeitos colaterais em desacordo com o seu propósito aparente. Grant rastreou estas anomalias para uma interface catalítica que ele chamou de ‘the Mauve Zone’, existente entre os reinos do sonho e sono sem sonhos. Há movimentos, impressões e redemoinhos na Zona Malva que dão origem a espectros frágeis, sonhos, imagens que entram na consciência e são vestidas pela imaginação.

A terceira Trilogia abre com Outer Gateways, publicado pela Skoob, em 1994.Este livro continuou e ampliou alguns dos temas do Hecate’s Fountain. Contendo um longo relato das diversas variáveis e de O Livro da Lei, explorou o trabalho de Crowley em relação ao Sunyavada, e teve algumas coisas notáveis a dizer sobre o potencial criativo da gematria:

    A percepção, um conceito, ou um número – qualquer objeto de fato – não tem relação real com qualquer outra percepção, conceito ou número. A relação só existe na consciência do observador, a consciência que é o fundo sobre o qual todos os objetos aparecem como imagens em uma tela. Não pode haver associação de idéias, nenhum tipo de correspondências de qualquer natureza, entre os números ou as idéias que representam, salvo na consciência do seu observador, porque nenhuma coisa existe como um objeto em si.

    As implicações dessas considerações não são geralmente apreciadas, embora sejam de grande importância. Os números podem significar para o cabalista precisamente o que ele deseja que eles significam no âmbito de seu universo mágico. Eles têm uma existência relativa, mas nenhuma realidade objetiva.

    Os números podem, portanto, ser utilizados como um meio mágico de invocar energias específicas latentes na consciência do mago. Em outras palavras, números podem ser vistos como entidades que são identidades objectivas aparentes, ou personalidades, pois eles são um com o poder objetivo do mago.

    O poder de números não reside nos números de si, mas sempre e apenas no mago. Se a mente dele está bem guarnecida com números mágicos (ou seja, números significativos para ele) não há limite, quantitativamente falando, para os mundos que ele pode construir a partir de suas energias (shaktis).Esta é a base da ciência dos números e o fundamento da numerologia como uma arte criativa distinta de um indicador meramente interpretativo das probabilidades fenomenais.

    O magista não almeja ao prever o futuro – o que implicaria que ele já existiu – quando de acordo com as leis de seu universo mágico está criando o futuro.

    Gematria criativa é, portanto, a ciência e a arte de projetar outros mundos ou ordens de seres, em harmonia com as vibrações simbolizados pelos números, que tornam as vibrações receptíveis diretamente.

Gematria é usada ao longo trabalho de Grant para sustentar uma visão que já existe, em vez de deduzir uma visão a partir de uma relação gemátrica.

No entanto, o núcleo do livro foi, sem dúvida, The Wisdom of S’lba e os vários capítulos de análise, que foram anexados.S’lba é uma bonita, altamente carregada e rica transmissão recebida durante muitos anos por Kenneth Grant desde final dos anos de 1930, a maior parte do que reificadas durante os anos da New Isis Lodge.

Há uma boa dose de incompreensão sobre a natureza das transmissões. Não é o caso de simplesmente tomar ditado de uma entidade desencarnada.Contato com o que é referido como nos planos internos é muito mais complexo e mais sutil do que isso. Tomemos por exemplo a seguinte nota introdutória por Grant:

    A série de versos intitulado coletivamente a Sabedoria de S’lba … não foram escrito em qualquer tempo ou lugar em particular, embora o estado de consciência em que foram recebidos tenha sido invariavelmente o mesmo. O processo foi iniciado já no ano de 1939 quando a visão de Aossic primeiro manifestou na maneira descrita em Outside the Circles of Time (capítulo 8).

    A visão se desdobrou esporadicamente durante o tempo de associação com Aleister Crowley e Austin Osman Spare. Mas o aspecto dinâmico do trabalho, que é dizer a integração da visão em um todo, ocorreu durante o período de existência da New Isis Lodge.

Em uma entrevista à Skoob publicada pouco antes de Outer Gateways ser lançado liberado, respondendo a uma pergunta sobre S’lba, Grant disse: “foi ‘destilado ‘, por um processo prolongado que se estendeu por muitos anos, desde os intensivos rituais realizados na New Isis Lodge entre 1955-1962 “.

Como mencionado acima, Grant estabeleceu pela primeira vez em The Magical Revival sua tese de que houve analogias sugestivas entre os elementos do panteão de Lovecraft e aspectos da obra de Crowley. Há uma passagem em Outer Gateways que joga a função destes e outros dos deuses “em uma luz muito diferente:

    … Como outro relato de fases inclassificáveis da história da Terra, o Culto de Cthulhu simboliza o subconsciente e as forças externas a consciência terrestre. Pode-se dizer de partida que a verdadeira criatividade só pode ocorrer quando essas forças são invocados para inundar com sua luz a rede magica da mente. Para fins de explicação a mente pode ser encarada como sendo dividida em três áreas, o edifício que as contém sendo o único principio real ou permanente. Estas áreas são:

    1) Subconsciente, o estado de sonho;

    2) Consciência mundana, o estado de vigília;

    3) Consciência transcendental, velado no não-iniciado pelo estado de sono;

    Os compartimentos são ainda concebido como estando ligado com a casa que os contém, por uma série de condutores ou túneis. A casa representa a consciência trans-terrena. As forças invocadas – Cthulhu, Yog-Sothoth, Azathoth, etc – são assim entendidas, não como malignas ou entidades destrutivas, mas como as energias dinâmicas da consciência, as funções que servem para destruir a ilusão da existência separada (os quartos em nossa ilustração).

O próximo volume, Beyond the Mauve Zone foi lançado pela Starfire Publishing em 1999.É, como o próprio nome sugere, uma consideração mais profunda da região entre o sono sem sonhos e sonhos que fecundam a imaginação, e em particular uma consideração de vários métodos de acesso à Zona de Malva. Há três capítulos sobre o Rito Kaula da Serpente de Fogo, dando muito mais material do comentário Kaula iniciado obtido a partir de David Curwen.Há também uma análise prolongada de Liber Pennae Praenumbra recebido por Soror Andahadna, e uma consideração do trabalho do autor sérvio Mihajlovic Zivorad Slavinski.

O volume final das Trilogias, The Nine Arch, foi lançado pela Starfire Publishing em 2002.Consiste de um comentário versículo por versículo em uma transmissão recebida no decorrer do funcionamento da New Isis Lodge, Liber OKBISh, ’The Book of the Spider’.Esta transmissão começou durante um trabalho mágico de Qulielfi, o túnel de 29 de Set, por volta de 1952 O meio principal para as transmissões era uma sacerdotisa conhecida como Soror Arim. Ela aparece no romance de Grant Against the Light como Margaret Leesing.Ela não era o único meio para as transmissões, mas ela teve o papel mais importante e coordenou o trabalho de várias sacerdotisas da Loja.

The Book of the Spider é essencialmente uma coleção de oráculos enigmáticos que foram recebidos ao longo de vários anos, e estavam organizados retrospectivamente em 29 capítulos, cada um dos 29 versos, alguns dos versos não foram ouvidos, ou foram perdidos, mas este é o padrão básico.Alguns anos depois que a transmissão inicial foi recebida, a Corrente mais uma vez se tornou ativa. Esta transmissão subsequente proporcionou um menor número de versos, e foi arranjado em 3 capítulos adicionais, novamente de 29 versos cada.

Transmissões não são uma questão de estabelecer algum tipo de contato de rádio com uma entidade desencarnada e transcrever o que ele tem a dizer Uma transmissão pode ser através de qualquer dos sentidos Muitas vezes será intuída ou sutilmente apreendida, com a imaginação como catalisador. A imaginação não é mero capricho ou fantasia, mas esta é a bagagem que a palavra tem acumulado nos tempos modernos. É cósmica, embora existam áreas individuais de consciência da imaginação, e é nessas áreas em torno do indivíduo de que ele ou ela está mais diretamente consciente que nós consideramos como ‘nossa’ imaginação. A verdade é, porém, que não é nossa, mas uma área comum ou cósmica – um continuum, o alcance local em que somos mais imediatamente conscientes.

Transmissão assume muitas formas. É um fluxo de inspiração para as áreas mais pessoais da imaginação e muitas vezes se vestem em formas extraídas do subconsciente pessoal.Vemos isso na obra de Lovecraft por exemplo, muito da inspiração ocorrendo através de sonho e expressa através de imagens tiradas a partir da leitura extensiva e fantasias da infância de Lovecraft. Como a luz é refractada por da sua passagem através de um prisma ou um pedaço de vidro colorido, ou como o sol poente através da matéria atmosférica produz um concurso de cores gloriosas e vivas, assim a transmissão de uma Corrente será colorida pelas áreas pessoais da imaginação através que ele passa. O vento, por exemplo, só se torna evidente na agitação que causa nas folhas da árvore por onde ele se move, os perfumes que agita, a pele contra a qual se escova, dando forma de redemunhos as areias do deserto.

Na época dos trabalhos da New Isis Lodge que atraiu e em seguida incubou esta Corrente em formação, a sacerdotisa principal, Margaret Leesing, e outros foram apanhados na ficção oculta e em dois livros em particular – Dope por Sax Rohmer e O Besouro por Richard Marsh.Neste momento a New Isis Lodge tinha desenvolvido uma técnica mágico ritual que envolveu a dramatização da ficção. Como Kenneth Grant descreve em The Ninth Arch:

    Como já mencionado na introdução geral a este livro, os ritualistas da New Isis Lodge utilizaram certos romances e histórias como outros magistas podem usar pinturas ou composições musicais para simular circularidade e encontros astrais. Eles entraram em um conto como eles poderiam ter entrado em uma imagem, cena, deserto, uma lotada sala de estar, ou outro local. Aplicado ao romance, o processo se desenvolve de forma dramática como uma experiência vividamente cinética que se torna assustadoramente oracular. Utilizamos, principalmente, o romance de Richard Marsh The Beetle, e “A Tale of Chinatown” ou Dope de Sax Rohmer, por nenhuma outra razão além do fato do Vidente principal recentemente ter lido esses escritos, e por outros membros da Loja também terem se familiarizado com eles. O conto de Marsh, em particular, foi escolhido porque continha o único relato publicado conhecido pelo presente autor do Children of Isis e portanto parecia em harmonia com o Wisdom of S’lba e com os oráculos de OKBISh.

Estas são as circunstâncias, o prisma, o vidro colorido, através dos quais os versículos do The book of the Spider são expressos.Existem referências, por exemplo, a personagens como Shoa, a Mulher Má; Sin Sin Wa, o vilão e sábio chines; Tling-a-Ling, seu corvo de estimação e familiar; Tûk Sam, seu antepassado venerado; todos esses personagens são extraídos do Dope de Sax Rohmer. Há referências a Limehouse, a Ho-Nan, a Chandu, ao Rio Amarelo, as trilhas de papoula, que são locais retirados também de Dope.Há o langor do sonho, do devaneio, as imagens parecem flutuar, a mudar, a se fundir – a emergir, a tremer, a cair. Há também referências a personagens extraídos de outras histórias, como Helen Vaughan e Sra. Beaumont da história de Arthur Machen, The Great God Pan.Essas são mascaras, cobertas, e não tem a intenção de apontar a profundidade de significado inerente a essas historias de onde esses personagens foram tirados. Há referências a cenas de novelas, como The Brood of the Witch Queen de Sax Rohmer, ou personagens de histórias de Lovecraft, como Joseph Curwen em O Caso de Charles Dexter Ward.

Há muito nos versos de The Book of the Spider que tem bastante importância na vida de Kenneth Grant, e parecem, por vezes, como se a reveladora Corrente fosse direcionada principalmente a ele.Estamos todos nós expressando uma reveladora Corrente de energia mágica. Nenhum de nós pode expressar uma verdade absoluta, apenas transmitir a verdade como a vemos. O trabalho de um adepto é sempre em um sentido intrínseco a ele ou a ela. A luz é uma, mas as lâmpadas são muitos, e cada lâmpada transmite aquela luz de sua própria maneira.

Personagens não-fictícios também são tecidos nesta Teia de Aranha. No decorrer de The Book of the Spider, nos tornamos conscientes de uma doutrina de avatares, em que várias pessoas que vivem ao mesmo tempo, podem cada uma serem personificações de uma entidade.Como qualquer um que tenha lido Against the Light irá saber, se trata de uma bruxa chamada Awryd, uma ancestral de Grant, que foi executada por bruxaria no século XVI.Awryd retorna, sob o disfarce de Margaret Leesing, Soror Arim, a vidente principal, e antes dela, Yelda Paterson, a bruxa-mentora de Spare. No entanto, a situação se torna mais complexa quando várias pessoas que vivem ao mesmo tempo, são cada uma avatares de Awryd – por exemplo, Margaret Leesing e Clanda Fane, ambas contemporâneas de Grant na New Isis Lodge.Alguns dos avatares são personagens tirados da ficção, como Helen Vaughan de The Great God Pan de Marchen, ou Loriel Besza do romance The Stellar Lode de Grant.Há referências a David Curwen, um contemporâneo de Grant na New Isis Lodge que tinha um forte interesse em alquimia, na Teia da Aranha ele é lançado como um avatar de Joseph Curwen, o alquimista cuja presença sombria paira sobre uma das melhores histórias de Lovecraft , The Case of Charles Dexter Ward.

Seguindo esta breve consideração das Trilogias Tifonianas, no que é que constitui a Tradição Tifoniana que é fundamental para a obra de Grant? ‘Typhoniana’ não é uma indicação precisa, como perceptível nas considerações das entradas de glossário para Typhon, Draco, Ta-Urt e tópicos relacionados através das Trilogias Tifonianas, há uma grande diversidade. Embora durante o período de trinta anos entre as publicações do primeira e do último volume a ênfase tenha mudado, nenhuma dessas entradas por si só são definições da Tradição Tifoniana. Em vez disso, cada uma articula uma faceta dela, não importando o quão importante essas facetas individuais possam parecer à primeira vista. É mais proveitoso, portanto, não pprocurar uma definição firmemente estabelecida, mas permitir à intuição detectar uma coerência subjacente e uma continuidade recorrente ao longo destas passagens.

Se há uma coisa que poderia ser dita para caracterizar a Tradição Tifoniana então é que ela comunga com o que alguns têm chamado de ‘Outside’, quer seja considerado como os confins do espaço além do terrestre, ou as extensões da consciência além da humana. Neste contexto, ‘Outside’ sempre só poderá ser um termo relativo, uma vez que a partir da perspectiva do continuum da consciência não existe dentro ou fora.

Em Beyond the Mauve Zone Grant analisa o transmitido texto Maatiano Liber Pennae Praenumbra a partir de uma perspectiva Tifoniana, e faz a seguinte observação:

    É neste ponto que a curge aparece entre o Caminho de Aiwass-Lam e aquele de N’Aton que prefigura uma futura encarnação da consciência humana – em outras palavras, como nós mesmos iremos aparecer em alguma época futura. Como deve ser evidente a esta altura, refutamos este postulado em favor da noção de que a consciência em sua fase humana é um fenômeno completamente transitório, um mero flash na imensidão do Tempo-Espaço (Nu-Isis). Transmissões tais como as Stanzas of Dzyan, Liber AL, o Necronomicon, e continuando, o próprio Liber Pennae Praenumbra, não apoiam a noção de que uma máscara humana identificável com a consciência perpetue-se indefinidamente. Mas tudo cuja vontade seja dar – como a frase de Nema – “o salto mutacional em ser uma nova espécie” deve está preparado para abandonar o conceito de consciência ‘humana’ com todo seu dualismo implícito.

Estes abismos da consciência são muito mais profundos e mais amplos do que a consciência humana, que, como indicado na citação acima, é transitória e relativamente superficial. A Gnosis Tifoniana está preocupada em encontrar e explorar esses abismos. Como Crowley comentou em um posfácio ao capítulo 30 de Magick without Tears:

    Eu pensei em um bom plano para colocar minha posição fundamental por si só em um posfácio, para concebê-la. Minha observação do Universo me convence de que há de uma qualidade muito maior do que qualquer coisa que possamos conceber como humano; que eles não necessariamente se baseiam nas estruturas nervosas e cerebrais que conhecemos, e que a única chance que a humanidade tem de avançar como um todo é a de que indivíduos façam contato com tais seres.

Era a convicção de Crowley de que a operação do Cairo de 1904, que levou ao contato com Aiwaz e à recepção d’O Livro da Lei, foi a primeiro de uma série de comunicações.Depois de afirmar sua crença em The Confessions de que não havia mais nenhuma razão a priori para duvidar da existência de inteligência desencarnada, ele afirma:

    O caminho é, portanto, claro para eu vir adiante e afirmar positivamente que eu abri comunicação com uma tal inteligência, ou melhor, que eu fui escolhido por ele para receber a primeira mensagem de uma nova ordem de seres.

De facto tem havido mais mensagens ou transmições. A Operação do Cairo de 1904 foi seguida sete anos mais tarde pela Operação de Abuldiz, e sete anos depois que pela Operação de Amalantrah. Todos as três operações foram caracterizados pelo contacto com inteligências praeter-humanas que transmitiram informação. Hauveram também uma série de textos transmitidos conhecidos como The Holy Books, como por exemplo os sigilos e expressões sentenciosas que constituem o Liber 231.

Tais contatos não se restringiram a Crowley. Eles continuaram depois da sua morte com Liber OKBISh e The Wisdom of S’lba, ambos reificados – como delineado acima – durante o período de atividade da New Isis Lodge.Sem dúvida, houveram outras transmissões, e haverá mais no futuro. Estas são irrupções das camadas mais profundos da consciência à consciência desperta.

Assim como suas Trilogias, Grant também publicou vários volumes de poesia e uma série de contos e novelas. Em 1963 viu a publicação de seu primeiro volume de poesia, Black to Black and other poems.Uma intensa e comovente coleção de poemas, foram seguidas em 1970 por The Gull’s Beak and other poems.Um terceiro volume foi lançado pela Editora Starfire em 2005, Convolvulus and other poems, que incluía os dois volumes anteriores e acrescentava um terceiro, coleção inédita anteriormente, Convolvulus: Poems of Love and the Other Darkness.Esta coletânea incluiu rascunhos de Austin Osman Spare, alguns dos quais haviam sido especialmente desenhados para Grant por Spare.

Grant começou a escrever contos em uma idade jovem, e escreveu seu primeiro romance no início de 1950, Grist to Whose Mill? (que em breve será publicado pela primeira vez). Outros se seguiram, e foram publicados a partir de 1996. A maioria desses romances foram escritos durante o período da New Isis Lodge, e revisados antes da publicação. Eles exibiram personagens, muitos dos quais foram baseados em maior ou menor grau nos membros da Loja. Grant deu um insight sobre isso em sua resenha na contracapa do segundo volume da série, Snakewand & the Darker Strain:

    Essas histórias, e outros contos nesta série, foram escritos no despertar de rituais realizados durante um período de sete anos na New Isis Lodge. Muitos foram os magistas e médiuns que passaram pela Loja, e alguns deles foram exibidos na série de romances. Suas personalidades mundanas não poderiam ter parecido incomuns para a observação casual, mas quando extendida e percebida pelas perspectivas únicas que seus papéis mágicos criaram para elas, atingiram uma apoteose, uma epifania. Este fenômeno extraordinário demonstrou as alturas e as profundidades que a natureza humana é capaz de escalar e atingir, no frenesi delirante inspirado por sua arte. Estes contos são do mesmo modo orientados para o outro lado de uma realidade raramente vislumbrada fora de um Círculo carregado magicamente.

Apesar de manter uma devoção a Crowley, Spare, e muitos outros místicos e ocultistas, cujo trabalho influenciou toda a sua vida, Grant nunca foi um seguidor, mas, pelo contrário, criou o seu próprio caminho a partir de uma série de influências, transformado através do crisol de sua experiência mística e mágica. Ele tinha uma profunda consciência do princípio de parampara ou linhagem espiritual, segundo o qual é da responsabilidade de um iniciado desenvolver o trabalho de seu antecessor, o antecessor, neste caso, sendo CrowleyNo curso de tal desenvolvimento, novas vias de abordagem são abertas, enquanto conclui-se que outras agora talvez sejam redundantes. Desta forma, um corpo de obras é uma coisa viva, desenvolvida por sucessivas gerações de iniciados.

A obra de Kenneth Grant foi rica, diversificada e eclética, tecida a partir de muitas vertentes e destilada a partir de muitas fontes. No entanto, sua principal influência foi Crowley, e Thelema é o cerne de sua obra. No velar de sua morte, a tarefa imediata é garantir que toda sua obra publicada esteja mais uma vez em versão impressa e prontamente disponível, e continuar a explicação dos princípios que subjazem a essas obras. Além disso, no entanto, o corpo de obras que ele desenvolveu irá, por sua vez, ser continuado, trabalhado e reconstruído por aqueles que vieram depois dele.Este é o maior testamento de que qualquer um de nós pode esperar.

Eu gostaria de encerrar este exame preliminar com uma passagem da Introdução de Outside the Circles of Time. Aqui, Grant deu uma visão sobre os objetivos de sua obra, a passagem em questão é sucinta e belamente expressa:

    Um último ponto é relevante aqui, e digo isso sem apologias. Não é meu objetivo tentar provar nada, meu objetivo é construir um espelho mágico capaz de expressar algumas das imagens menos evasivas vistas como sombras de um futuro aeon. Faço isto por meio da sugestão, evocação, e por aqueles oblíquos e ‘intertemporais conceitos’ que Austin Spare definiu como ‘Nem uma coisa-Nem outra’. Quando isto é compreendido, a mente do leitor torna-se receptiva ao influxo de certos conceitos que podem, se recebidos sem distorções, fertilizarem as desconhecidas dimensões de sua consciência. A fim de atingir este objectivo uma nova forma de comunicação tem de ser desenvolvido; a própria linguagem tem que renascer, revivida, e dada a um novo rumo e um novo momento. A verdadeiramente imagem criativo nasce da imaginação criativa, e isto é — finalmente — um processo irracional que transcende a compreensão da lógica humana.

    É bem conhecido que os cientistas e matemáticos desenvolveram uma linguagem secreta, uma linguagem tão esquiva, tão fugaz, e ainda assim essencialmente cósmica que forma um modo quase cabalístico de comunicação, muitas vezes mal interpretada por seus próprios iniciados! Nossa posição não é tão desesperadora, pois estamos lidando primariamente com o complexo corpo-mente em sua relação com o universo, e o aspecto corporal está profundamente enraizado no solo da sensibilidade.

    Nossas mentes não podem compreender, mas nas camadas mais profundas do subconsciente onde a humanidade compartilha uma base em comum, há um reconhecimento imediato. Da mesma forma, um magista elabora sua cerimônia em harmonia comas forças que ele deseja invocar, do mesmo modo que um autor deve prestar considerável atenção para a criação de uma atmosfera que é adequada às suas operações. Palavras e suas vibrações não devem produzir um ruído meramente arbitrária, mas uma elaborada sinfonia de reverberações tonais que desencadeiam uma série de ecos cada vez mais profundos na consciência de seus leitores. Não se pode sobre-enfatizar ou superestimar a importância desta forma sutil de alquimia, pois é nas nuances, e não necessariamente nos significados racionais das palavras e números empregues, que a magicka reside. Além disso, é muito frequente e na sugestão de certas palavras não utilizadas, porém indicadas ou empregadas por outras palavras, não tendo direta relação com eles, produzirem as definições mais precisas. O edifício de uma realidade construída, às vezes podem ser criados apenas por uma arquitetura de inexistência, através do qual o edifício real é revelado e ao mesmo tempo oculto por uma estrutura alienígena assombrado por probabilidades. Estas são a legião, e é a faculdade criadora do leitor — desperto e ativo — que podem povoar a casa com almas. portanto, este livro pode significar muitas coisas para muitos leitores, e coisas diferentes a todos eles, mas a nenhum deles pode significar nada em absoluto, pois a casa é construída de tal maneira que nenhum eco pode ser perdido.


por Michael Staley

ENTREVISTA DE KENNETH GRANT



Fornecida em 1990 para editora Skoob que publicava os seus livros.

P. Qual é o propósito dos seus livros?

 KG. O objetivo principal é preparar as pessoas para encontros com estados de consciência desconhecidos.

P: Será que estes incluem encontros extraterrestres?

KG. Sim. Encontros, extra, sub, e ultraterrestre.

P. Você acha que esses eventos são iminentes?

KG. Eles são suscetíveis a qualquer momento, mas seja agora ou em algum período futuro, a sua ocorrência é certa e é necessário estar preparado para esses eventos.

P. Se essas formas de consciência são outras que não terrestres, o que são exatamente?

KG. Tudo o que posso dizer é que haverá contatos extraterrestres, porque de fato já tem ocorrido contatos extraterrestres, mas também haverá outras formas de contato. Mas, embora o homem possa aprender a assimilar contatos extraterrestres, ele pode achar que é impossível lidar com aqueles do Outro Lado.

P. É isso que você quer dizer quando se refere, em seus livros, a parte de trás da "Árvore da Vida"? É isso o Outro Lado?

KG. A 'Árvore' serve como um vasto modelo. O universo conhecido é representado pelo lado de cá da ‘Árvore’, o desconhecido pelo outro lado.

P. E os seus livros oferecem mapas, por assim dizer, do outro lado?

KG. Eles procuram indicar alguns 'portais' através dos quais formas alienígenas de consciência podem se manifestar ao homem, e através dos quais o homem pode ir ao encontro delas.

P. O livro que você está escrevendo agora é intitulado Outer Gateways. Você julga que esses encontros são iminentes porque há um desejo desesperado e mundial que algo, alguém, algures nos ajudará a sair da confusão que fazemos das coisas?

KG. O Homem tem evocado certas energias, e, portanto, certas entidades, a natureza das quais ele é ignorante, e para o confronto com o qual ele é quase totalmente despreparado.

P. Ele os chamou à vida por sua própria loucura?

KG. A ignorância é a culpada principal, mas existem outros. Há uma determinação deliberada e perversa por parte do homem de hoje para acumular bens materiais. Completa materialização é desejada e, portanto, um estado de total materialismo domina e condiciona suas atividades. Com motivações exclusivamente materialistas o homem pode destruir a si mesmo, mas porque eles admitem nada além de si mesmo.

P. E ele não está preparado para enfrentar as consequências?

KG. Decididamente não. Sua atitude fechou a própria mente para o conhecimento real e destituído do poder de reconhecê-la quando ela se apresenta, como acontece hoje numerosamente, mas de formas estranhas. Se o homem puder sobreviver, ele terá de se preparar para um encontro total consigo mesmo. Mesmo assim, pode ser tarde demais.

P. Quanto tempo é necessário?

KG. Isso depende inteiramente das circunstâncias individuais. O Tempo de Fora não é como o daqui, na verdade, não há tempo lá, onde tudo é eternamente presente. O homem poderia perceber instantaneamente este presente, e esta presença, se ele não fôsse ignorante.

P. Então segue-se que certos indivíduos, talvez aqueles capazes de perceber essa Presença, ficariam imunes à explosão de novas formas ou consciências?

KG. Em certo sentido, isso é verdade.

P. Em um sentido físico?

KG. Nenhuma sobrevivência é possível em um sentido físico. Aqueles que imaginam que há estão se iludindo.

P. Mas algumas pessoas poderiam sobreviver em algum estado ou outro?

KG. Nos estados em que você alude não há questão de sobrevivência. Vamos dizer que haverá uma transformação. Se o homem é capaz de integrar essas novas experiências em sua psique, ele deve começar AGORA a pensar em termos, pelo menos, da tentativa de um encontro extraterrestre. Se ele faz isso, o resto pode se suceder.

P. Tudo isso sugere OVNIs e outros fenômenos semelhantes. Certamente, se tais graves perigos são iminentes aqueles que têm autoridade tomarão providências para ver que precauções serão tomadas?

KG. Como eles podem? Além disso, é sabido que alguns governos são considerados responsáveis por subterfúgios e distorções de informações sobre OVNIs. Mas os OVNIs são apenas projeções dentro da esfera terrestre, ocasionalmente registrados pela vigília e o sonho dos seres humanos, e telas de radar, de algo além deles, e aqueles que ‘tem autoridade' nada sabem sobre esse ‘algo’.

P. Seus livros não tratam especificamente de Ufologia.

KG. Outros estão cuidando desse aspecto da questão, existem literalmente centenas de livros sobre o assunto.

P. Mas eles são confiáveis?

KG. Seus detalhes são controversos e que são essencialmente especulativos, mas o fato de sua existência em abundância sugere que um número crescente de pessoas estão experimentando formas desconhecidas de consciência, ou que estão se tornando conscientes da existência dessas formas.

P. Que nos traz de volta à minha pergunta inicial: O objetivo dos seus livros?

KG. Fornecer conceitos que são essencialmente estranhos de modo que a faculdade da visão intuitiva possa ser despertada e alinhada com tais conceitos estranhos.

P. Será essa a razão para a inclusão em seus livros de sigilos estranhos, símbolos e outré arte?

KG. Neste estágio primitivo da evolução do homem o sentido visual é de extrema importância.

P: Com certeza o som é igualmente importante, ainda que você não palestre.

KG. O som é importante, mas na forma que você mencionou pode ser um obstáculo positivo. Todos os tipos de vibrações conflitantes atingem ao ouvinte se comparados com o silêncio e quietude que atende ao leitor. E o leitor pode voltar a mergulhar à vontade no presente, se necessário.

P. Então a sua atitude negativa para palestras é uma afirmação positiva do poder do silêncio?

KG. A palavra silente ou impressa é mais potente que sua versão falada, exceto em casos muito excepcionais, e atinge aqueles a quem se destina. As pessoas assistem a palestras, por diferentes razões, mas poucos freqüentam para ganhar conhecimento. Elas vão para conhecer pessoas, para passar o tempo, mas raramente são profundamente afetados pela palavra falada, que é rapidamente esquecida. Livros por outro lado tem sido conhecidos por mudar vidas. A minha própria foi modificada pelo Magick de Crowley.

P. Por que abriu uma porta para você?

KG. Precisamente.

P. Mas a Bíblia ou o Corão podem fazer isso.

KG. Certamente, eles podem, eu menciono Crowley porque seu trabalho é mais especialmente relevante para nossa presente discussão.

P. Outros ocultistas tocaram nestas questões?

KG. O trabalho de Blavatsky está repleto com "insights" que sugerem que ela estava em contato com alguma fonte de conhecimento ultraterrestre. O Livro de Dzyan, que "A Doutrina Secreta" é um comentário, contém elementos de contato com Inteligência Exterior.

P. A Bíblia, Blavatsky, Crowley ... Há algum escritor que hoje aborde o assunto de seu ângulo particular?

KG. Não muitos.

P. Por que isso acontece se o assunto é de tanta urgência?

KG. Existem várias razões. O místico, que é provavelmente o mais qualificado, está preocupado essencialmente com a consciência libertadora da ilusão da existência encarnada. O magista, por outro lado, raramente se preocupa com o estado de consciência que não promova seus objetivos pessoais. O místico é pouco preocupado com o ego, o magista é tão inflado que vê pouca coisa! O cientista baseia sua ciência sobre o pressuposto de que o mundo tem uma realidade independente da consciência. Ele, portanto, acha difícil entender o místico ou o magista, que não fazem isto.

P. Portanto, não há um que você possa nomear que escreva inteligentemente sobre o assunto?

KG. Surpreendentemente alguns escritores sobre Ufologia, alguns deles 'contatados', têm fornecido informações valiosas. Aliás, o próprio Crowley poderia ser classificado como um contatado.

P. Ele teve contato com uma Inteligência extraterrestre, daí a Mensagem e a Missão?

KG. Não necessariamente extraterrestre, mas certamente ultraterrestre. Crowley descreveu como ‘praeter-humana’. A história d'O Livro da Lei, tal como consta em seu Confessions revela-o como um dos contatados mais importante de nossa época. Alguns diriam que o mais importante.

P. Mas contatados são considerados de má reputação por causa de suas mensagens conflitantes e declarações bizarras.

KG. É verdade, mas o desvio global das mensagens é similar na maioria dos casos. Eles tem de permitir o tipo de mentalidade através da qual são canalizadas e pela qual são interpretadas. Muito poucos contatados são versados ​​em magia, misticismo, metafísica e ciência. Uma distinção deve ser feita entre as comunicações de natureza ética geral e os da categoria de Dzyan e O Livro da Lei, ambos os quais contêm informação especializadas e fórmulas.

P. Qual é a mensagem para o não especialista?

KG. Que é necessária cautela na utilização das tecnologias que o homem está em processo de desenvolvimento. Devido ao crescimento distorcido, o homem da massa sofre graves deficiências morais. É o elemento com defeito moral que ameaça a humanidade com uma catástrofe.

P. O que exatamente é o elemento moral, a que você se refere?

KG. A Vontade. O desenvolvimento da vontade do homem é superior a suas outras faculdades morais. Ele é forte em vontade, mas fraco em espírito.

P. Quer dizer que ele quer coisas e fará de tudo para adquiri-las?

KG. Precisamente. Hitler foi um exemplo extremo, sua vontade era uma força vampírica que cresceu monstruosamente à custa de outras faculdades e estava inflamado ao ponto da loucura por um desejo de poder. Por outro lado, a sua mensagem, sua doutrina, o veículo de sua vontade, era pueril ao ponto da idiotice. O mesmo se aplica a muitos outros assim chamados líderes dos homens.

P. Crowley não estava nessa classe?

KG. A mente de Crowley era lúcida e altamente desenvolvida. Teve a sua vontade equivalente à esta, a doutrina que ele recebeu pode ter ido muito em direção à preparação do homem para lidar com as novas formas de consciência que estão agora começando a se manifestar. Há poucas evidências de que os contatados nos últimos anos tenham qualquer compreensão adequada das mensagens que recebem. O que não está em dúvida é que ninguém tem ainda vontade suficiente e efetivamente para transmiti-las. Crowley , no mínimo, tem proporcionado um sistema coerente.

P. Qual é então a solução?

KG. Não há nenhuma. Agora pode ser tarde demais para pensar em termos de doutrinas. Elas levam tempo para serem absorvidas. Tal como acontece com todas as preocupações de valor ultimal isso cabe ao indivíduo.

P. Uma espécie de "Operação Arca de Noé"?

KG. Não exatamente. Noé foi capaz de levar muita coisa com ele.

P. Não é bom se você não pode levá-lo com você!

KG. Essa é uma observação profunda. Se as pessoas entendessem isso e agissem de acordo não haveria os problemas que surgem sempre, mesmo aqueles que estamos discutindo.

P. Existe um documento, como o Livro de Dzyan, o Necronomicon, o Livro da Lei, etc, que contém referências mais específicas para os termos que têm vindo a associar-se aos seus próprios livros e da gnose Tifoniana que eles expressam?

KG. A Sabedoria de S'lba é um desses documentos. É apresentada no Outer Gateways, juntamente com uma análise preliminar por meio de um comentário experimental.

P. Como foi obtido a Sabedoria de S'lba, e quando?

KG. Foi ‘destilado’, por um processo prolongado que se estendeu por anos, desde os intensivos Rituais realizados na New Isis Lodge entre 1955-1962. Alguns dados sobre a natureza desses rituais podem ser recolhidos a partir do meu livro, Hecate’s Fountain.

P. ‘S'lba’ contém as chaves que foram em outra parte discutidas em Outer Gateways ?

KG. Sim. É o propósito de Outer Gateways fornecer essas chaves, mas a ‘Sabedoria’ deve ser vivida, e não apenas discutida e, de preferência, não discutida em tudo.

Fonte: Sociedade Lamatronika - ©Tradução de Cláudio César de Carvalho - 2011


Kenneth Grant


" Apreço por Grant : se eu morrer ou viajar para os E.U.A., um homem deverá ser treinado para cuidar da Ordo Templi Orientis inglesa ".
Aleister Crowley,
Diário pessoal, datado de Março de 1946


O controverso escritor inglês, Kenneth Grant (Aossic Aiwas 718), destaca-se no meio ocultista por sua convivência com Aleister Crowley nos últimos dias de vida da Besta. Aos 20 anos, em 1944, Grant torna-se secretário de Crowley (30 em de Dezembro de1944) ficando, após sua morte, com vários documentos e correspondências de 666. A sua adolescência foi marcada por uma grande curiosidade sobre misticismo oriental, tanto que alistou-se no exército para viajar à Índia e lá encontrar um guru. Acabou encontrando um bem mais perto do que esperava: no próprio país.

Dono de um sistema muito pessoal de magia, teve como base os trabalhos de Crowley, porém, transformou os conceitos em algo bem diferente daquilo proposto por Mestre Therion. Em 1948, Grant conhece Austin Osman Spare, sendo muito influenciado por ele. Em 1952, fundam o Culto Zos Kia, para em 1954, fundarem a Loja Nova Ísis, na Inglaterra.

Grant também envolveu-se na confusão sobre a legitimidade do nome O.TO.: em 1952 recebe de Karl Germer, herdeiro de Crowley na O.T.O, a seguinte carta: " Se nós quisermos que a O.T.O prospere novamente, precisaremos de um líder competente, não somente para a Inglaterra mas para todo o mundo. Deve ser alguém que conheça os meandros do assunto... e estou cogitando você para essa posição."

Nos anos 50, Grant estabeleceu relações com a Fraternitas Saturni, um grupo de magistas alemães, que usava pouco do sistema thelêmico em seus trabalhos e com Hermann Metzger, líder da O.T.O Suíça. Após isso, em 1955, fez o seu manifesto sobre a descoberta da Corrente Sirius / Set, promovendo associação com o líder da Fraternitas Saturni, Eugen Grosche, inimigo de Germer. Irado com a atitude de Grant, Germer o expulsa da O.T.O e proíbe Grosche de publicar qualquer material de Crowley. N

Simplesmente ignorando a expulsão feita por Germer, Grant assume como Cabeça Externa da ordo templi orientis ( Aossic Aiwas 718 Xº ordo templi orientis ) desenvolvendo a O.T.O Typhoniana.
A obra de Grant é polêmica e prolixa: uma mistura de Thelema, Vodu, Spare, Achad, Fraternitas Saturni e Caos Magick, chegando a sobrecarregar o leitor com informações técnicas, históricas e conclusões cabalísticas pessoais, as vezes forçadas.

A polêmica começa pelo mote, dado por Crowley. Em magia um mote deve ser dado pelo próprio indivíduo, pois só ele sabe o que deseja e o que pretende consigo mesmo. Grant fala de seu mote no livro Outside the Circles of Time, deixando no ar a idéia de ser a Criança Mágica de Crowley:

" O nome Aossic foi recebido durante um encontro do presente autor com Crowley; esse é o nome daquele Mais Antigo Ser e foi originariamente lido como 300, que unido ao nome Aiwass ( 418) resulta em 718, sendo o número da Estela da Revelação e do nome mágico do autor - Aossic- Aiwass - como Cabeça da Ordo Templi Orientis (O.TO.). Além disso , a palavra ' child' ( criança, menino) na gematria inglesa corresponde a 52 que somada a 666, resulta em 718. Assim a identidade da Criança Mágica foi ocultao e esboçada, há muito, em 1939, no nome Aossic que Crowley interpretou como 400, o Signo da Cruz de Set e o símbolo da Manifestação."

Seus críticos julgam seu trabalho um reflexo de alguém que falhara ao pular o abismo de Daäth que se caracteriza apenas por conhecimento técnico e confusão, ignorando o fator espiritual. O que não deixa de fazer sentido se lendo suas obras, porém, quem deve julgar isso, é o leitor por si só.

A ordo templi orientis Typhoniana não trabalha com lojas, mas com Zonas de Poder , pois seu membros, segundo ele, não estão no plano terrestre e sim no espaço sideral e nos altos níveis de consciência humana. Segundo Grant, a ordo templi orientis (a sua versão) é a Máquina e a A.·. A.·. (da qual nunca foi membro) o Operador.

Na década de 70, começou a publicar seus livros, e manter contato com Maggie Cook
(Soror Andahadna, Nema ). Uma de suas alunas desenvolveu um tarô com base nas projeções dos Tuneis de Seth nas Qliphoth, chamado Tarô das Sombras.

Grant faleceu em 2011 mas a sua obra se mantém através de Michael Stanley e sua revista STARFIRE. Teve um livro publicado no Brasil em 1999, Renascer da Magia ,junto com o de sua orientada, Soror Nema, A Magia Thelêmica de Maat, Amor sob Vontade. Ambos da editora Madras.


CONCEITOS TYFONIANOS

TUNEIS DE SET

 

Segundo Grant: "uma rede de células oníricas no subconsciente humano".

Os Túneis de Set são os equivalentes qliphoticos dos 22 caminhos da Árvore da Vida. Na segunda parte do seu livro Nightside of Eden, Grant descreve uma forma de projeção do "Psiconauta" nesses caminhos relacionando com conceitos próprios como os Kalas e também Liber CCXXXI.

A numeração dos túneis é feita somando 11 a carta do tarô correspondente. Aqui seguem-se essas descrições:

11º Caminho - Amprodias.

" O décimo primeiro caminho ou kala é atribuido ao elemento Ar e seu aspecto negativo é o demônio ou sombra chamado Amprodias. ... Essa sombra deve ser invocada vibrando o nome Amprodias na chave do ´ E ` ( Nota 1: deverá ser pronunciado de forma semelhante a um susurrar pronunciado via um tubo estreito, tipo apito)... O sigilo de Amprodias mostra uma boca aberta típica do útero que profere a Palavra".

12º Caminho - Baratchial.

" O décimo segundo caminho ou kala é atribuído ao palneta Mercúrio e sua sombra aglutina-se na forma de Baratchial. O nome Baratchial deverá ser vibrado na chave de ´E ´, acompanhando uma ´tagarelada ´ ou ´risada ´ de características inconstantes. Esse é o kala dos Feiticeiros.. que transmitem a luz oriunda diretamente do além Kether para Saturno via a fórmula da dualidade... o poder mágico....os segredos dos kalas do vazio, e dessa Corrente de Kalinian que é obitida no mundo da anti-luz... ".

13º Caminho - Gargophias.

" O décimo terceiro caminho é obtido com o kala lunar. O nome dessa sombra-guardiã é Gargophias que deverá ser vibrado ou ´uivado ´em repetições regulares na chave do ´G ´ agudo. ( Nota 1: A natureza líquida dessa entidade sugere que a evocação seja acompanhada por algum instrumento de fio como videira, a citara ou arpa) O sigilo de Gargophias mostra uma espada em pé com um olho em cada lado da lâmina em cima de um ovo e uam lua crecente. A espada é tipíco da Mulher como o primeiro que corta em dois.. Os dois olhos representam a lunação dual, com ênfase no período do eclípse. "

14º Caminho - Dagdagiel.

" O décimo quarto caminho é relacionado com o kala de Vêus.. O nome da sentinela é Dagdagiel. Ela deve ser evocada vibrando seu nome na chave do ´F ´ agudo acompanhado por um susurrar ou um som pululante... O sigilo de Dagdagiel mostra uma letra Daleth inversa e na forma de uma forca com um triângulo invertido pendurado acima das letras A VD.. o triângulo é a pirâmide invertida posta no Abismo com o seu cume no vazio (ain), pois seu túnel equivalente está refletido nos golfos além de Kether. "

15º Caminho - Hemethterith.

" O décimo quinto túnel é iluminado pelo kala da Estrela... o Guardião deste Pilão é Hemethterith que pode ser evocado vibrando o seu nome na chave do ´A ´agudo, de forma quase inaudível... o sigilo Dela... sugere uma face acima de três cruzes igualmente armadas dispostas na forma de um triângulo descendente com duas formas serpentinas separando-as "

16º Caminho - Uriens.

" O décimo sexto caminho transmite a influência do Hierofante e seu túnel é vigiado pelo demônio Uriens que é evocado pela vibração de seu nome na chave do ´C ´agudo. O nome deverá ser rugido ou berrado. seu sigilo.. mostra uma figura com sete armas.. um glifo da Àrvore da Vida. Possui relevância aos mundos abaixo do abismo. O ADMIRON ( O Sangrento) são as QLIPHOTH atribuidas ao túnel de Uriens... (Eles) aglomeram-se através dos desolados locais do vazio deixando o ´rico suco marrom ´ da aniquilação em seus rastros."

17º Caminho - Zamradiel.

" O décimo sétimo caminho transmite a influência dos Amantes. É um túnel vigiado por Zamradiel que é evocado pela vibração de seu nome ma chave do `D ´. O som deverá ser rouco.. O sigilo de Zamradiel é composto por uma lua crescente transpassada por uma flecha atirada de um arco, ambos terminando numa letra G... o veículo pelo qual a travessia é alcançada.. a letra da Alta Sacerdotisa... O décimo sétimo kala é carregado fortemente com a atmosfera de Daath... "

18º Caminho - Characith.

" O décimo oitavo caminho está sobre regêcia de Câncer. Esse túnel é vigiado por Characith.. o sigilo de Characith... mostra uma múmia deitada coberta por um ser de cabeça-de-camelo saindo de seus pés. O nome de Characith deverá ser vibrado na chave do ´D ´agudo acompanhado pelo som peculiar de que das de fonets mágicas ou cachoeiras. "

19º Caminho - Temphioth.

" O décimo nono túnel é vigiado pelo demônio Temphioth cujo número é 610. A influência predominante é do leão-serpente, teth, um glifo do espermatozóide que é mostrado no sigilo na forma de quatro vésicas pendendo de uma forma serpentina ligada a uma cabeça e besta.. O nome de Temphioth deverá ser vibrado na chave do ´E ´com um rugido, força explosiva soprada atrás. Essa é a raiz vibracional ( bija mantra) da fêmea..."

20º Caminho - Yamatu.

" O vigésimo Túnel está sob a égide de Yamatu cujo nome deverá ser pronunciado usando a chave do ´F `, em nível mais baixo e com suspirar ou subtons murmurantes ... O sigilo de Yamatu é um segredo cifrado de Set. Ele mostra uma cruz invertida que significa o passagem subterrânea ou travessia em Amenta... "

21º Caminho - Kurgasiax.

" O vigésimo primeiro kala é dominado por Júpter e é vigiado por um guardião do Túnel chamado Kurgasiax cujo nome deverá possuir uma pronúncia imperativa na chave do ´A ´ agudo... o sigilo de Kurgasiax mostra uma esfera com chifres ( ou lua crescente) e inscrito uma cruz perfeita no topo de uma linha terminada em três apêndices. A cruz com o círculo e a Marca de Set que denota um local de travessia indicado pelo norte polar ou eixo, i.e. Daath, o Portal do Abismo... O Senhor das Forças da Vida,... transforma-se na Senhora das Forças da Morte... "

22º Caminho - Lafcursiax

" O vigésimo segundo Raio aparece atrás da Árvore no túnel guardado por Lafcursiax... Ela atende a prolongada vibração de seu nome no ´F ´ agudo (registro superior)... o sigilo... um glifo do Desequilíbrio.... mostra um par de pratos de balança erguidas por um demônio trapaceiro com um semblante inane. A maão esquerda do demônio está na forma de um yod fechado em um círculo da onde cai obliquamente uma espada... Os pratos simbolizam a constelação de Libra que governa o Caminho 22..."

23º Caminho - Malkunofat.

" O vigésimo terceiro kala está sob o domínio de Malkunofat que habita as profundezas do abismo aquático. Ele pode ser despertado por um estridente chamado de seu nome na chave do ´G ´agudo (registro superior)... A chave para este glifo está no número 61... o número de Kali, Deusa do Tempo e Dissolução... este é o domicílio dos Profundos... o dragão das trevas cujo número é 5, sendo a fórmula da fêmea em sua forma lunar e noturna... "

24º Caminho - Niantiel.

" O vigésimo quarto Túnel está sob a influência de Escorpião e vigiado por Niantiel cuja numeração é 160. O nome desta Qlipha deverá ser pronunciada no ´G ´( menor registro) de modo a sugerir um caldeirão borbulhante de lava fundida, pois Marte é o poder planetário predominante. .. a despeitodo sigilo de Niantiel, é uma imagem da Morte com uma coroa de cinco raios suportando uma cruz controlada pela foice ao lado da Coroa de Set "

25º Caminho - Saksaksalim

" O vigésimo quinto raio ilumina o Túnel de Saksaksalim cujo número é 300 a cujo não-ser pode ser induzido a assumir uma forma pela vibração de um som alto de creptação elétrica na chave do ´G ´agudo... o simbolismo do grau 5=6 da Golden Dawn deverá ser estudado em conexão com o simbolismo deste túnel. "

26º Caminho - A'ano'nin

" O vigésimo sexto Túnel está sob o controle de A'ano'nin cujo número é 237. seu nome deverá ser proferido num tom rouco na chave do ´A`.. O sigilo de A'ano'nin mostra o Ur-heka sobrepujado pela cabeça de um sacerdote cercado pelas letras BKRN, que somadas resutam em 272."

27º Caminho - Parfaxitas

" O vigésimo sétimo Túnel está sob o controle de Parfaxitas cujo número é 450. Seu nome deverá ser vibrado numa nota de comando profunda e imperativa na chave do ´C ´( registro menor) e o som deverá lembrar um trovão.... A fórmula de Parfaxitas é aquela do VIIIº + ordo templi orientis , que comporta a assunção de formas astrais de animais para a retificação de energias atávicas...O sigilo de Parfaxitas descreve uma fortaleza com uma porta e duas janelas (olhos) suportados pelas letras SUE, cuja numeração é 71, o mesmo de LAM... "

28º Caminho - Tzuflifu

" O vigésimo oitavo túnel é guardado por Tzuflifu, cujo número é 302 e deve ser cantado na chave do ´A ´agudo.... O sigilo mostra um Padre ou Rei usando uma coroa fálica com o 'olho' protraindo....significando o surgir ou abertura do poder do phallus... "

29º Caminho - Qulielfi

" O vigésimo nono está sob a influência da lua e o lar da bruxa representado por Hekt, a deusa com cabeça de sapo e Senhora da Transformação. Qulielfi é a sentinela; seu número é 266 a seu nome deverá ser pronunciado na chave do 'B '... "

30º Caminho - Raflifu

" O trigésimo tunel está sob a égide de Raflifu cujo nome deverá ser vibrado melifluamente na chave do ´D ´... O sigilo de Raflifu mostra o tridente de chifres de Typhon ( ou Choronzon) flanqueado por machados ou signo de NETER e sobrepujado por um sol negro nos braçcos de uma lua crescente... "

31º Caminho - Shalicu

" O trigésimo primeiro túnel está sob o domínio de Shalicu cujo nome deverá ser vibrado na chave do ´C´ em um sibilante e sinistro susurro.. O sigilo de Shalicu mostra... a placa que anuncia o fato de morte, julgamento e ressurreição. Isto inclui a tripla fórmula da Travessia do Abismo... "

32º Caminho - Thantifaxath

" O trigésimo segundo túnel está sob a égide de Thantifaxath ... cujo nome pode ser reverbado na chave do ´B ´ agudo como se estivesse nos buracos das profundezas chthnianas... O sigilo inclue a geomântica figura de Acquisitio que é atribuida ao número nove formado pelo ígneo sagitário - por isso da natureza elétrica de Thantifaxath e suas ocultas e subterrâneas células chthnianas..."
 

ÁRVORE DA NOITE

Desenvolvido por Linda Falorio, Fred Fowler e Mishlen Linden.

KETHER - SAHASRARA - COROA

A Imagem: A Visão da Estrela-Esponja - Os Kalas das Estrelas caindo das dimensões transplutonianas. Visão dos Grandes Antigos - " o povo que veio do outro lado do mar" do espaço interestrelar - o Mu, o Moa.

Poder: Viagem no tempo trans-dimensional/interestelar

BINAH/CHOKMAH - AJNA - SOBRANCELHA

A Imagem: O Olho-que-Vê-Internamente - " Com Teu olho direito cria um Universo". Visão da reflecção Lunar sobre a água negra; arco-íris de ólheo sobre a água.

Poder: Entrar no Tempo Onírico, para deixar o corpo a sua vontade.

DAATH - VISHUDA- NÓ DE SHIVA - DECUSSATION DAS PIRÂMIDES.

A Imagem: A Serpente Alada como o Andrógino-Gyander . Visão do Labirinto, a entrada do Universo B via Túneis de Set.

Poder: O do shaman, metamorfo, da transutação cósmica da célula primal; conhecimento do passado-presente-futuro como existentes no Agora.

TIPHARETH- ANAHATA- CORAÇÃO.

A Imagem: a Cobra Negra devorando o Sol eclipsado; a encruzilhada. Visão do sem-Ego Vazio entre os Mundos - "pois não há deus onde eu estou".

Poder: Invisibilidade; da entrada em outro corpo.

VÉU DE PAROKETH- NÓ DE VINSHU - DIAFRAGMA - MANIPURA.

A Imagem: o Buraco Negro, matério em colapso sobre si mesma - " por minha mão esquerda destruiu o universo e nada restou"; uma nuvem de chuva negra . Visão do " Uivador no desolado".

Poder: Falar em silêncio; raiva; mortalha.

YESOD - SVADISTHANA - UMBILICAL

A Imagem: A Sopa Primal como se movesse em espumas. Visão do pântano, águas da ilusão; a água do cabaço, a taça preenchida com vinho .

Poder: Fascinação e encantamento - imaghinação acesa pelo desejo; criação do próprio universo.

NÓ DE BRAHMA - CENTRO - CH' I

A Imagem: A Teia, tentáculos. Visão dos nodos interconecyados de luz infinitamente corroida.

Poder: O tambor, como mantenedor e criador do tempo

MALKUTH- MULADHARA - QUE

A Imagem: Nuit, o Raio Prateado, os kalas sexuais como vertendo do corpo da Suvasini. Visão da Dança do sexo-nascimento-morte-felicidade; o bastão com um crânio no topo - a mente vazia.

Poder: Troca da energia Tântrica, destilando o elixir transformado; elevação da kundalini na espinha para a Chuva de Estrelas.

sexta-feira, 10 de março de 2017

A História da O.T.O. (Especial)


Fundada em 1904 na Alemanha com o objetivo de atuar como uma Academia para maçons de altos graus, a Ordo Templi Orientis foi a primeira a aceitar como base filosófica e mística a Lei de Thelema, tal como fora recebida por Crowley em 1904 e proclamada no Livro da Lei (Liber AL vel Legis). Disso resultou uma completa reestruturação organizacional, iniciática e filosófica, que terminou por colocar a O.T.O. em uma estrada totalmente nova e desvinculada de todos os grupos de caráter maçônico, rosacruz ou semelhantes; uma estrada norteada pela Lei do "Faze o que tu queres".

Esta Lei, ainda que utilizada por muitos como uma mera desculpa para licenciosidade e irresponsabilidade, é justamente o oposto de tal comportamento. A Lei de Thelema é o supremo chamado para que cada ser humano assuma para si a plena responsabilidade por sua vida, por cada uma de suas decisões e as consequências delas, e ainda a responsabilidade por seu próprio autoconhecimento, rumo à descoberta do objetivo central de sua existência: a sua Verdadeira Vontade e a realização deste objetivo. Esse é, para o thelemita (seguidor da Lei de Thelema), o verdadeiro significado de Liberdade.



A Ordo Templi Orientis busca congregar em seu meio homens e mulheres que compartilhem tais objetivos, cada um com seu próprio método e visão de caminho, buscando estabelecer núcleos sociais livres fundamentados na filosofia thelêmica, através do fornecimento de auxílio mútuo como informação, aconselhamento, auxílio ritualístico e iniciático, companheirismo e irmandade. Com isso, a O.T.O. estabelece como um de seus principais objetivos a luta pela Liberdade do Ser Humano, de modo que cada um possa atingir a plena realização de seu máximo potencial.

Esta união de pessoas se dá através de grupos chamados Corpos Locais, espalhados por várias cidades ao redor do mundo. Há três tipos deles, por ordem de complexidade administrativa e responsabilidades: Acampamentos, Oásis e Lojas. A maioria dos membros da Ordem participa diretamente de um ou mais Corpos Locais. A maior parte deles oferece instruções, práticas ritualísticas coletivas e atividades culturais, artísticas e sociais. Os membros são estimulados a manter estudos e práticas em temas tão variados como Magick, Cabala, Tarô ou outros temas que lhes sejam interessantes individualmente ou em grupo. Muitos Corpos Locais também mantêm atividades virtuais como sites, blogs, listas de e–mail ou comunidades em sites de relacionamento. É também comum que publiquem jornais ou revistas com artigos próprios, traduções ou notícias.

Membros que residam em localidades que não disponham de um Corpo Local são aconselhados a manter frequente contato com seus irmãos e irmãs por meios eletrônicos ou tradicionais para atualização de seus estudos, troca de informações sobre práticas etc., bem como a estarem presentes sempre que possível aos principais ritos do Corpo Local mais próximo.

A Ordo Templi Orientis é uma organização independente, sem vínculos com qualquer outro grupo de caráter religioso, político, inciático, místico ou de quaisquer outras orientações. Não reconhecemos equivalência de Graus Iniciáticos com nenhuma organização ou prestamos obediência a qualquer outro grupo. A política operacional da O.T.O. é a de respeito ao trabalho de qualquer outra organização e não intromissão em seus assuntos, postura da qual se espera reciprocidade.

Mesmo que oficialmente fundada no princípio do Séc. XX e.v., a O.T.O. representa a exteriorização e confluência de divergentes correntes de sabedoria e conhecimento esotérico, que eram originalmente divididas e guiadas à contra cultura pela intolerância política e religiosa durante as idades negras.

Ela remete às tradições dos movimentos Maçônico, Rosacruciano e Iluminista dos Sécs. XVIII e XIX, às cruzadas dos Cavaleiros Templários da Idade Média, ao recente Gnosticismo Cristão e às Escolas Pagãs de Mistérios. Seu simbolismo contém uma reunificação das tradições ocultas do Ocidente e do Oriente, e a resolução destas tradições permitiu–a reconhecer o verdadeiro valor da revelação do Livro da Lei de Aleister Crowley.

O Pai Espiritual da O.T.O.

O Pai Espiritual da Ordo Templi Orientis foi Carl Kellner (Renatus, 01/09/1851 — 07/06/1905), um rico industrial austríaco da química do papel. Kellner foi um estudante da Maçonaria, do Rosacrucianismo e do Misticismo Oriental, e viajou extensamente pela Europa, América e Ásia Menor. Durante suas viagens, ele alegou ter entrado em contato com três Adeptos (um Sufi, Soliman ben Aifa, e dois Tantristas hindus, Bhima Sena Pratapa de Lahore e Sri Mahatma Agamya Paramahamsa), e uma organização chamada A Irmandade Hermética da Luz.

Em 1885, Kellner encontrou o Dr. Franz Hartmann (1838 — 1912), estudioso Teosófico e Rosacruciano. Mais tarde, ele e Hartmann colaboraram no desenvolvimento da terapia pela inalação de "ligno–sulfito", para o tratamento da tuberculose, a qual formou a base do tratamento do sanatório de Hartmann nas proximidades de Saltzburg. Durante o decorrer de seus estudos, Kellner acreditou ter descoberto uma "Chave" que oferecia uma clara explicação de todo o complexo simbolismo maçônico e que, acreditava Kellner, abriria os mistérios da Natureza. Kellner desenvolveu o desejo de formar uma Academia Maçônica que permitiria habilitar todos os maçons a tornarem–se familiarizados com todos os existentes graus e sistemas maçônicos.

Em 1895 Kellner começou a discutir sua ideia de fundar uma Academia Maçônica com seu sócio, Theodor Reuss (Merlin ou Peregrinus, 28/06/1855 — 28/10/1923). Durante estas conversas, Kellner decidiu que a Academia Maçônica deveria chamar–se "Ordem dos Templários Orientais". O oculto círculo interno desta Ordem (a O.T.O. propriamente dita) deveria organizar–se em paralelo aos mais altos graus dos Ritos maçônicos de Memphis e Mizraim, e deveria ensinar as doutrinas esotéricas Rosacrucianas da Irmandade Hermética da Luz e a "Chave" de Kellner para o simbolismo maçônico. Tanto homens quanto mulheres seriam admitidos a todos os níveis desta Ordem, mas a posse de vários graus da Arte e Altos Graus maçons deveriam ser pré–requisitos para a admissão no Círculo Interno da O.T.O.

Infelizmente, graças aos regulamentos das Grandes Lojas estabelecidas que governavam a Maçonaria Regular, mulheres não podiam ser iniciadas como maçons e assim seriam excluídas por definição da admissão à Ordem dos Templários Orientais. Esta deve ter sido uma das razões pelas quais Kellner e seus associados resolveram obter controle sobre um dos muitos ritos, ou sistemas, da Maçonaria; para reformar o sistema para a admissão de mulheres.

As discussões entre Reuss e Kellner não levaram a quaisquer resultados na ocasião, pois Reuss estava muito ocupado com o renascimento da Ordem dos Illuminati, juntamente com seu associado Leopold Engel (1858 — 1931), de Dresden. Kellner não aprovava a recriação da Ordem dos Illuminati ou Engel. De acordo com Reuss, até sua separação final de Engel, em junho de 1902, Kellner contatou–o e ambos concordaram a proceder com o estabelecimento da Ordem dos Templários Orientais, buscando autorizações para atuar nos vários ritos dos altos–graus da Maçonaria.

Theodor Reuss, além de ser o líder da revivida Ordem Bávara dos Illuminati, era também Grande Mestre do Rito de Swedenborg da Maçonaria na Alemanha (patente datada de 26 de julho de 1901, por W. Wynn Westcott), Inspetor Especial da Ordem Martinista na Alemanha (patente datada de 24de junho de 1901, por Gérard Encausse) e Magus do Alto Conselho alemão da Societas Rosicruciana em Anglia (carta de autorização datada de 24 de fevereiro de 1902, por W. Wynn Westcott). Com auxílio de Kellner, Reuss contatou o estudioso maçônico John Yarker (1833 — 1913), para adquirir patentes para operar três sistemas dos altos–graus da Maçonaria conhecidos como o Antigo e Primitivo Rito de Memphis, de 97°, o Antigo Rito Oriental de Mizraim, de 90°, e o Antigo e Aceito Rito Escocês, de 33° (Conselho de Cernau, Nova York, 1807).

Reuss recebeu cartas–patente de Grande Inspetor Soberano 33° do Rito Escocês de Cernau de Yarker, datando de 24 de setembro de 1902. De acordo com uma cópia publicada, Yarker emitiu na mesma data uma permissão para Reuss, Franz Hartmann e Henry Klein operarem um Soberano Santuário 33° — 95° dos Ritos Escoceses, de Memphis e Mizraim. Yarker emitiu uma segunda patente confirmando a autoridade de Reuss para operar nos ditos Ritos em 01 de julho de 1904; e Reuss publicou uma cópia de uma patente de confirmação datada de 24 de junho de 1905. Reuss iniciou a publicação de um periódico maçônico, "The Oriflamme", em 1902.

Estes Ritos, em conjunto com o de Swedenborg, foram adotados como elementos integrais dentro do esquema geral da Ordem. O Rito de Swedenborg, que incluía uma versão dos graus de Arte, em conjunto e o Rito Escocês de Cernau e os Ritos de Memphis Mizraim proveram uma seleção de "altos graus" trabalháveis tão completos como jamais existiu. Juntos, eles proveram um completo sistema de iniciações maçônicas à disposição da Ordem. Com a incorporação destes Ritos, a Ordem estava pronta a operar como um sistema maçônico completamente independente. Reuss e Kellner prepararam juntos um breve manifesto para sua Ordem em 1903, o qual foi publicado no ano seguinte em "The Oriflamme". Kellner morreu em sete de junho de 1905 e Reuss assumiu pleno controle da Ordem. Com auxílio dos co–fundadores Franz Hartmann e Heinrich Klein, Reuss preparou uma Constituição para a Ordem em 1906.

 Os Primeiros Tempos

Rudolph Steiner (1861 — 1925), que nesta época era o Secretário Geral do ramo alemão da Sociedade Teosófica, foi patenteado em 1906 como Grande Mestre Delegado de um capítulo subordinado à O.T.O/Memphis/Mizraim e do Grande Conselho chamado Mystica Aeterna em Berlim. Steiner deu fundação à Sociedade Antroposófica em 1912 e encerrou sua associação com Reuss em 1914.

Em 24 de junho de 1908, o Dr. Gérard Encausse (Papus, 1865 — 1916) organizou uma "Conferência Maçônica e Espiritualista Internacional" em Paris, à qual Reuss compareceu. Nesta conferência, Encausse recebeu, sem pagamento, uma patente de Reuss para estabelecer um "Supremo Grande Conselho Geral dos Ritos Unidos da Antiga e Primitiva Maçonaria para o Grande Oriente da França e suas Dependências em Paris". No ano anterior Encausse, juntamente com Jean Bricaud (1881 — 1934) e Luis–Sophrone Fugairon (n. 1846), havia organizado a Églaise Catholique Gnostique, a Igreja Gnóstica Católica, como um cisma da Église Gnostique, uma igreja neo–Albingense fundada em Paris em 1890 por Jules Dionel (1842 — 1903). Acredita–se que Reuss recebeu consagração episcopal e autoridade primal na Églaise Catholique Gnostique de Encausse e Bricaud nesta conferência. O envolvimento de Encausse com a O.T.O., per se, é incerto.

Ainda nesta conferência o Dr. Arnold Krumm–Heller (Huiracocha, 1879 — 1949) recebeu uma patente de Reuss como representante oficial para a América Latina. Krumm–Heller desenvolveu sua própria ordem, chamada Fraternitas Rosacruciana Antiqua (F.R.A.). De acordo com seu filho, Parsival, ele nunca fundou Lojas da O.T.O. ou indicou qualquer oficial da O.T.O.

Como um jornalista, Reuss viajava freqüentemente à Inglaterra. Em uma destas viagens ele conheceu Aleister Crowley (Baphomet, 12/10/1875 — 01/12/1947), o qual foi admitido aos três primeiros graus da O.T.O. em 1910. Em 21 de abril de 1912 Reuss deu a Crowley uma patente, gratuitamente, indicando–o como Grande Mestre Nacional Geral X° da O.T.O. para a Grã–Bretanha e Irlanda. A indicação de Crowley incluía autoridade sobre os Ritos de língua Inglesa nos graus inferiores (maçônicos) da O.T.O., aos quais foi dado o nome de Mysteria Mystica Maxima, ou M.·.M.·.M.·..

Em primeiro de junho de 1912, uma Grande Loja Nacional para os países eslavos foi estabelecida por Czeslaw Czynski. Franz Hartman morreu em sete de agosto de 1912. Em setembro de 1912 Reuss publicou a "Edição de Jubileu" do "The Oriflamme", que foi a primeira edição a mencionar a O.T.O. em qualquer detalhe, e foi quase inteiramente devotada a assuntos da O.T.O. Kellner, Reuss e Crowley eram listados como membros de grau X° da O.T.O. Também em 1912 Crowley publicou o "Manifesto da M.·.M.·.M.·." no qual a M.·.M.·.M.·. foi identificada como a seção britânica da O.T.O., a qual "incluía todos os países onde o Inglês fosse largamente falado". A O.T.O. é descrita neste documento como
"...um corpo de iniciados em cujas mãos está concentrada a sabedoria e o conhecimento dos corpos seguintes:
A Igreja Gnóstica Católica.
A Ordem dos Cavaleiros do Espírito Santo.
A Ordem dos Illuminati.
A Ordem do Templo (Cavaleiros Templários).Graal
A Ordem dos Cavaleiros de São João.
A Ordem dos Cavaleiros de Malta.
A Ordem dos Cavaleiros do Santo Sepulcro.
A Igreja Oculta do Santo Graal.
A Ordem Rosacruz
A Fraternidade Hermética da Luz.
A Sagrada Ordem da Rosa Cruz de Heredom.
A Ordem do Sagrado Arco Real de Enoch.
O Antigo e Primitivo Rito da Maçonaria (33 graus).
O Rito de Memphis (97 graus).
O Rito de Mizraim (90 graus).
O Antigo e Aceito Rito Escocês da Maçonaria (33 graus).
O Rito de Swedenborg da Maçonaria.
A Ordem dos Martinistas.
A Ordem de Sat Bhai,
A Ordem Hermética da Golden Down
e muitas outras ordens de mérito igual, se de menos fama."

O Manifesto da M.·.M.·.M.·. também deu o seguinte esquema de organização da Ordem:

O° MINERVAL
I° M.
II° M.
III° M.
PI
IV°, Companheiro do Santo Arco Real de Enoch.
Príncipe de Jerusalém.
Cavaleiro do Leste e do Oeste.
V°, Príncipe Soberano da Rosa Cruz. (Cavaleiro do Pelicano e águia.)
Sócio do Senado de Cavaleiros Filósofos Herméticos, Cavaleiros da águia Vermelha.
VI°, Ilustre Cavaleiro (Templário) da Ordem de Kadosch, e Companheiro do Santo Graal.
Chefe Inquisidor principal, Sócio do Tribunal Principal.
Príncipe do Segredo Real.
VII°, Inspetor General Principal Soberano Muito Ilustre.
Sócio do Conselho Principal Supremo.
VIII°, Pontífice Perfeito dos Illuminati.
IX°, Iniciado do Santuário do Gnosis.
X°, Rex Summus Sanctissimus (o Rei Supremo e mais Santo).

A edição de setembro de 1912 do "The Oriflame" incluiu uma listagem similar de um sistema de dez graus:

I - Prüfling [Probacionista]
II - Minerval
III - Johannis-(Craft-) Freimauer [Artesão maçon]
IV - Schottischer-(Andreas-) Mauer [Maçon escocês]
V - Rose Croix-Mauer
VI - Templer-Rosenkreuzer
VII - Mystischer Templer
VIII - Orientalisher Templer
IX - Vollkommener Illuminat [Perfeito Iluminado]
X - Supremus Rex

Desta forma, em 1912, Crowley e Reuss haviam condensado o sistema da Arte e dos altos–graus maçons em um sistema viável de dez graus numerados que incorporava os ensinamentos e simbolismo de um certo número de sociedades ocultistas e místicas. Os três graus da Academia Maçônica de Kellner formavam os graus VII°, VIII° e IX° deste sistema. O décimo grau (X°), "Rex Summus Sanctissimus", ou "Supremus Rex", designava o Grão Mestre Geral Nacional da O.T.O para um determinado país, região ou grupo lingüístico. A suprema autoridade da Ordem, internacionalmente, era chamada de "Frater Superior" ou Cabeça Externa da Ordem ("Outer Head of the Order" — O.H.O.).

Os Grãos Mestres Gerais Nacionais tinham a autoridade para indicar seus próprios representantes, chamados "Vice–Reis", em outros países de mesmo idioma dominante. Vice–Reis podiam ainda serem levados ao X° pelo O.H.O. Dos Grãos Mestres Gerais Nacionais esperava–se que conduzissem os negócios da O.T.O. de acordo com a Constituição da O.T.O., mas em grande escala fora da supervisão diária do quartel–general internacional ou "Escritório Central".

O Manifesto da M.·.M.·.M.·. incluía fotografias da mansão de Crowley na Escócia, chamada de Boleskine, a qual servia como "Casa de Ofícios" da Ordem. Incluía também uma lista de taxas e mensalidades para cada grau, bem como uma lista de "taxas de afiliação", onde maçons poderiam afiliar–se diretamente no nível correspondente ao seu próprio grau na Maçonaria. Estas listas foram reimpressas na edição de 1914 de "The Oriflamme", junto com os títulos de graus do Manifesto de Crowley traduzidos para o Alemão.

Em 1912, o sistema da O.T.O., apesar de suas várias influências, permanecia principalmente maçônico. Na Edição de Jubileu de "The Oriflamme" Reuss definiu a O.T.O. como "uma ordem não pura e simplesmente maçônica, mas cada membro de nossa Ordem, homem ou mulher... deve proceder através dos graus de artesão da Maçonaria, mesmo aqueles dos mais altos–graus da Maçonaria, antes de serem iluminados e iniciados membros de nossa Ordem." Contudo, a Grande Loja Unida da Inglaterra, a quem Crowley tecnicamente devia aliança, objetou a aceitação de Graus de Artesão na Inglaterra fora de sua jurisdição e objetou a admissão de mulheres na Maçonaria. Ainda assim, Crowley incluiu o seguinte texto em seu Manifesto da M.·.M.·.M.·.:

"A O.T.O., ainda que uma Academia Maçônica, não é um Corpo Maçônico posto conceder os graus de artesão no sentido no qual esta expressão é normalmente entendida na Inglaterra; e assim não há conflitos com ou infração aos justos privilégios da Grande Loja Unida da Inglaterra"

Em 15 de fevereiro de 1913 Crowley adotou uma Constituição para a M.·.M.·.M.·., submetida à Constituição Geral da O.T.O. Em 19 de março de 1913, Crowley e Reuss unidos deram patente a James Thomas Windram(Mercurius, 1877 — 1939) como representante oficial da O.T.O. na África do Sul. Posteriormente, em 1913, visitando Moscou, Crowley compôs a Missa Gnóstica, a qual ele "preparou para o uso da O.T.O. a cerimônia central de sua celebração pública e particular, correspondendo à Missa da Igreja Católica Romana."

 A I Guerra Mundial estourou em 28 de julho de 1914. Crowley mudou–se para Nova York em outubro deste mesmo ano; passando o ano seguinte trabalhando como escritor para os periódicos de George Sylvester Viereck, "The Fatherland" e "The International", e como editor–chefe posteriormente. Em dezembro de 1914, Crowley indicou Charles Stansfeld Jones (Parzival, 1886 — 1950) como Grão Inspetor Geral Soberano VII° e seu representante pessoal na cidade de Vancouver. Em março de 1915 Windram indicou Ernest W. T. Dunn VII°(Maximus) como Vice–Rei atuante para a Australásia.

Apesar de seu anterior anúncio sobre os Graus de Artesão, no Manifesto da M.·.M.·.M.·., Crowley permanecia inconfortável em relação às características maçônicas da O.T.O., por um adicional número de razões:

Em contraste com Reuss, Crowley acreditava que mulheres não poderiam ser iniciadas como maçons, apesar de pensar que deveriam ser aptas a se iniciar na O.T.O.
Estava frustrado com as elaboradas preparações requeridas para a execução das iniciações maçônicas e com o tamanho dos rituais maçônicos e seu excessivo palavrório. Crowley via estes fatores como impedimentos no sucesso da implantação de um trabalho entre pessoas modernas. Ele acreditava que os conteúdos simbólicos dos rituais maçônicos estava amortecido a ponto de serem inúteis. Desejava utilizar o sistema da O.T.O. para ajudar na divulgação dos ensinamentos de Thelema.

Por estas razões Crowley começou a preparar rituais revisados que poderiam propagar a significância da Arte e os altos–graus conscientemente e de forma dramática, que seriam próprios para a iniciação tanto de homens quanto de mulheres, que não infringiriam os privilégios da Grande Loja Unida da Inglaterra e que divulgariam os ensinamentos básicos de Thelema. Crowley assim o fez por volta de 1925 e adotou os rituais revisados para uso em sua própria seção da O.T.O., a M.·.M.·.M.·..

Crowley escreveu sobre estes rituais revisados a Arnold Krumm–Heller em 22 de junho de 1930:
"Reuss tinha o hábito de iniciar pessoas com meros esqueletos de rituais tomados daqueles da Maçonaria continental. Não havia, para deixar claro, nenhuma ordem ou decência neste procedimento. Ele percebia isto perfeitamente bem e era uma das razões pelas quais pedia–me para reconstruir o sistema de iniciação.
Eu fiz um estudo comparativo de numerosos rituais aos quais eu tive acesso, e produzi uma série que foi aperfeiçoada para, e incluindo o 6º grau (equivalente ao Kadosh) e estes foram trabalhados em Londres com o maior sucesso.
Devo fazer aqui uma pausa para apontar uma mudança essencial e fundamental que é necessária em qualquer ritual com o qual eu tenha algo a fazer que é a completa renúncia ao culto dos Deuses–Escravagistas. É impossível para um homem livre conhecer qualquer sistema que está ligado aos fetiches de selvagens cujo único motivo para ação é o medo nascido de sua própria ignorância."

Em 1915 ou 1916 Aleister Crowley escreveu "Uma Intimação a Respeito da Constituição da Ordem" (Liber CXCIV), que desenvolvia suas ideias sobre a Constituição da O.T.O. escritas por Reuss em 1906, a Constituição da M.·.M.·.M.·. de Crowley, de 1913, e seu Manifesto. Gérard Encausse morreu em 25 de outubro de 1916. Charles Détré (Téder, 1855–1918) sucedeu Encausse e aparentemente também recebeu o grau X° da O.T.O. para a França, mas faleceu apenas dois meses depois.

Em 1916 Reuss mudou–se para a Basiléia, na Suíça. Enquanto estava lá, ele estabeleceu uma "Grande Loja e Templo Místico Anacional" da O.T.O. e a Irmandade Hermética da Luz em Monte Verità. Monte Verità era uma comunidade utópica perto de Ascona, fundada em 1900 por Henri Oedenkoven e Ida Hofmann, que funcionava como um centro para o qual o historiador James Webb chamaria mais tarde a "Contra Cultura Progressista".

Em 22 de janeiro de 1917 Reuss publicou um manifesto para sua Grande Loja Anacional, a qual foi chamada Verità Mystica. Na mesma data, publicou uma versão revisada de sua Constituição da O.T.O. de 1906, com uma "Sinopse dos Graus" e um resumo "Mensagem de Mestre Therion" em anexo. Nesta constituição revisada Reuss incluiu muitos dos tópicos da Constituição da M.·.M.·.M.·. de Crowley, de 1913. Contudo, neste documento, como em muitos dos documentos de Reuss sobre a O.T.O., ele enfatizava o caráter maçônico da Ordem.

Em maio de 1917, a Loja de Crowley na Inglaterra foi invadida e fechada pela polícia, sob a alegação de mandado contra "leitura da sorte" contra um de seus membros. Entretanto, o trabalho de Crowley para a publicação anti–britânica de Viereck "The Fatherland" pode ter levado as autoridades a suspeitarem de atividades anti–patrióticas na Loja de Crowley. Todos os arquivos da Loja foram apreendidos. Crowley foi forçado a temporariamente abdicar do cargo de Grão Mestre em favor de C. S. Jones para facilitar a situação dos membros remanescentes. A Loja nunca foi completamente restaurada.

Em Ascona, Reuss organizou um "Congresso Anacional pela Organização da Reconstrução da Sociedade em Práticas Linhas Cooperativas ", em Monte Verità, de 15 a 25 de agosto de 1917. Este Congresso incluiu leituras das poesias de Crowley (em 22 de agosto) e a récita da Missa Gnóstica de Crowley (em 24 de agosto — apenas para membros da O.T.O.). O anúncio do Congresso declarava: "Há dois centros da O.T.O., ambos em países neutros, onde pesquisadores podem ser encontrados por aqueles interessados nos objetivos deste congresso. Um é em Nova York (Estados Unidos da América), o outro é em Ascona (Suíça Italiana)." Crowley estava vivendo em Nova York nesta época; assim, evidentemente, ele e Reuss eram os únicos Cabeças Nacionais ativos da O.T.O. em 1917.

Reuss pediu que sua secretária, "J. Adderley" (Isabel Adderley Oedenkoven), enviasse uma cópia do anúncio, juntamente com uma cópia do Manifesto da M.·.M.·.M.·. de Crowley à Grande Loja Unida da Inglaterra, na esperança de que a Grande Loja enviasse representantes. Isto não ocorreu, mas Willian Hammond, o Bibliotecário da Grande Loja, escreveu a Reuss após o congresso e pediu mais informações. Durante a correspondência de Reuss com Hammond, Reuss lembrou–o que haviam se encontrado 1913/14, e Reuss havia dado a ele cópias de "The Oriflamme" e do "Equinox" de Crowley, o qual, havia dito, "dava detalhes sobre a O.T.O.".

Reuss estava claramente impressionado com Thelema. A Missa Gnóstica de Crowley, a qual Reuss traduzira para o alemão e fora recitada em seu Congresso Anacional em Monte Verità, é um ritual explicitamente telêmico. Em uma carta sem data para Crowley (recebida em 1917), Reuss fala excitadamente que havia lido "A Mensagem de Mestre Therion" para seu grupo em Monte Verità e que estava traduzindo o Livro da Lei para o Alemão. E ainda, "deixe esta notícia encorajá–lo! Estamos vivenciando seu Trabalho!!!"

Em 24 de outubro de 1917, Reuss entregou uma patente a Rudolf Laban de Laban–Varalya (1879 — 1958) e Hans Rudolf Hilfiker–Dunn (1882 — 1955) para operar uma Loja de Grau III° da O.T.O. em Zurique, chamada Libertas et Fraternitas. Em três de novembro de 1917, de Laban tornou–se Grande Mestre da Grande Loja Anacional Verità Mystica. Mais tarde, naquele mês, ele fechou a Verità Mystica e transferiu seu centro de operações para Zurique. Em março de 1918 Crowley publicou a Missa Gnóstica no "The International". Reuss publicou sua tradução para o Alemão da Missa Gnóstica no mesmo ano.

Em uma nota no fim de sua tradução da Missa Gnóstica, Reuss referia–se a si próprio, simultaneamente, como Soberano Patriarca e Primaz da Igreja Católica Gnóstica, e Legado Gnóstico na Suíça para a Église Gnostique Universelle, dando a conhecer Jean Bricaud (1881 — 1934) como Soberano Patriarca daquela igreja. A publicação deste documento pode ser vista como o nascimento da E.G.C. como uma organização independente, sob a tutela da O.T.O., com Reuss como seu primeiro Patriarca.

A I Guerra Mundial terminou em 11 de novembro de 1918. De Laban deixou a Suíça em novembro. Em fevereiro de 1919 a Loja Libertas et Fraternitas rompeu sua ligação com a O.T.O. e tornou–se estritamente uma Loja Maçônica. Posteriormente regularizou–se sob a Grande Loja Suíça Alpina. Embora nenhum corpo da O.T.O. tenha restado na Suíça, Reuss continuou a conferir graus da O.T.O. a indivíduos. Enquanto Reuss persistia em afirmar a autoridade maçônica da O.T.O., Crowley continuava a afastar a M.·.M.·.M.·. da Maçonaria. Em outubro de 1918, Crowley preparou outra substancial revisão dos rituais internos da Ordem, desta vez abandonando o termo "Maçonaria" e os característicos emblemas, signos, identificadores etc., dos graus da Arte. Ele apresentou seus rituais revisados a Reuss para a adoção pela Ordem como um todo. Em março de 1919 Crowley publicou seu "The Equinox, Volume III, No. I" (o "Equinox Azul"), o qual continha uma série de importantes documentos da O.T.O., incluindo:

Liber LII: O Manifesto da O.T.O.
Liber CXCIV: Uma Intimação a Respeito da Constituição da Ordem
Liber CI: Uma Carta Aberta a Todos os Que Desejarem Unir-se à Ordem
Liber CLXI: Sobre a Lei de Thelema
Uma versão revisada do Liber XV: A Missa Gnóstica

O Liber LII: O Manifesto da O.T.O. de Crowley foi baseado quase que palavra por palavra no Manifesto da M.·.M.·.M.·. de 1913. Saudações telêmicas foram adicionadas, referências aos oficiais foram atualizadas, referências aos "guinéus" foram convertidas a seus equivalentes em dólares, os nomes de duas organizações contribuintes foram apagados (a Ordem Rosacruciana e a Ordem Hermética da Golden Dawn); a tabela de taxas e as fotografias de Boleskine foram retiradas e a frase "Ela [a O.T.O.] de forma alguma infringe os justos privilégios de qualquer Corpo Maçônico autorizado" foi adicionada após a listagem de organizações contribuintes, e o anúncio maçônico acima citado foi mudado para:
"A O.T.O., embora uma Academia Maçônica, não é um Corpo maçônico posto não serem os 'segredos' entendidos da mesma forma na qual aquela expressão é normalmente compreendida; e então de nenhuma maneira conflitos com, ou infração dos privilégios justos da Grande Loja Unida da Inglaterra, ou qualquer Grande Loja na América ou de outra parte que seja reconhecida por ela [a G. L. U. da Inglaterra]."

Em 10 de maio de 1919, Reuss outorgou uma Patente a Hans Rudolph Hilfiker, Dr. E. Pargaetzi, R. Merlitscheke M. Bergmaier para formarem um Supremo Conselho do Rito Escocês de Cernau na Suíça, em Zurique. Na mesma data Reuss concedeu um documento chamado "Medida de Amizade" a Matthew McBlain Thomson, fundador da aziaga "Federação Maçônica Americana". O documento reconheceu Thomson como Membro de Grau IX° da O.T.O. Em 18 de setembro de 1919, Reuss foi reconsagrado por Bricaud pelo recebimento da "Sucessão da Antióquia" e re–apontado como "Legado Gnóstico" na Suíça para a Église Gnostique Universelle de Bricaud.

Crowley retornou à Inglaterra em dezembro de 1919. Em 1920, Reuss publicou seu "Programa de Construção e Princípios–Guia para os Gnósticos Neo–Cristãos: O.T.O.". Neste documento Reuss apresenta suas ideias para uma (altamente regulamentada) sociedade utópica. Os princípios desta sociedade eram para serem baseados nas ideias de Thelema (o Livro da Lei e aforismos de Mestre Therion eram citados e explicados); juntamente com ideias mais tradicionais do Rosacrucianismo, Gnosticismo e Yoga; e as ideias sócio–políticas "progressistas" prevalecentes em Monte Verità.

Em 17 de julho de 1920, Reuss participou do Congresso da "Federação Mundial da Maçonaria Universal", ocorrido na Loja Libertas et Fraternitas, em Zurique. Esta conferência foi realizada para complementar a "Conferência Internacional Maçônica e Espiritualista" de Papus em Paris, de 1908. Reuss, com autorização de Bricaud, advogou pela adoção da religião da Missa Gnóstica de Crowley como a "religião oficial de todos os membros da Federação Mundial da Maçonaria Universal possuidores do 18° do Rito Escocês". Os esforços de Reuss neste sentido falharam, e ele discutiu com Matthew McBlain Thomson (que fora eleito Presidente Honorário da Federação Maçônica Internacional) acerca de assuntos de jurisdição. Reuss abandonou o congresso após o primeiro dia.

C. S. Jones havia abdicado da O.T.O. em 1919, mas continuou a corresponder–se com Reuss e, em 10 de maio de 1921 Reuss designou Jones como X° para os Estados Unidos da América do Norte. Na mesma data designou Heinrich Tränker (Recnartus, 1880 — 1956), que liderava várias organizações esotéricas dentro de um movimento chamado "Pansophia", como X° para a Alemanha.

Em 30 de julho de 1921 Reuss emitiu outro "Gauge of Amity", desta vez para H. Spencer Lewis, o fundador da A.M.O.R.C., a organização Rosacruciana baseada em San Jose (Califórnia / EUA). Este documento também reconhecia Lewis como um membro Grau VII° da O.T.O. Crowley havia conhecido Lewis antes, em 1918, na cidade de Nova York, e não ficou impressionado com ele. Reuss retornou à Alemanha em setembro de 1921, estabelecendo–se em Munique. Em 3 de setembro de 1921 Reuss patenteou Carl William Hansen (Kadosh, 1872 — 1936) como X° para a Dinamarca. Em outubro de 1921, dada a abdicação de Dunn, Crowley apontou Frank Bennett (Dionysus, 1868 — 1930) como Vice–Rei da Austrália.

Há algumas razões para acreditar que Reuss sofreu um ataque na primavera de 1920, mas isto não está inteiramente certo. Crowley escreveu a W. T. Smith em março de 1943:
"o antigo O.H.O., após este primeiro ataque de paralisia, entrou em pânico pelo trabalho a ser realizado... Ele rapidamente emitiu diplomas honorários do Sétimo Grau a várias pessoas, algumas das quais não tinham direito a nada e alguns deles eram apenas recursos baratos."
Logo após apontá-lo como seu Vice-Rei para a Austrália, Crowley parece haver correspondido-se com Frank Bennett e discutido com ele suas dúvidas acerca da habilidade de Reuss em, efetivamente, continuar a governar a Ordem. Parece que Reuss descobriu esta correspondência; ele escreveu para Crowley uma furiosa resposta defensiva em 9 de novembro de 1921, na qual ele parecia distanciar-se e à O.T.O. de Thelema, a qual ele havia, como visto acima, abraçado. Crowley respondeu à carta de Reuss em 23 de novembro de 1921 e afirmou em sua carta: "É de minha vontade ser o O.H.O. e Frater Superior da Ordem e espero a sua renúncia - para proclamar-me como tal." Ele assinou a carta como "Baphomet O.H.O.". No registro de seu diário de 27 de novembro de 1921 Crowley escreveu: "Eu proclamei a mim mesmo como Frater Superior O.H.O. da Ordem dos Templários Orientais." Reuss morreu em 28 de outubro de 1923 e.v..

Em suas "Confissões" Crowley diz que Reuss "abdicou do título [de O.H.O.] em 1922 em meu favor." Em uma carta a Heinrich Tränker, datada de 14 de fevereiro de 1925, Crowley escreveu o seguinte:
"Reuss era de temperamento incerto, e de muitas formas intratável. Em seus últimos anos ele parece ter perdido completamente seu juízo, chegando a acusar o Livro da Lei de ter tendências comunistas, ideia que não poderia ser mais absurda. Ainda assim parece ter tomado algumas decisões acertadas, como ter apontado a você e a Frater Achad, e designado a mim, em sua última carta, como seu sucessor."

Em uma carta a Charles Stansfeld Jones, datada Sol in Capricornius, Anno XX (12/1924 — 01/1925), Crowley disse: "na última carta do O.H.O. para mim ele convidou–me a ser seu sucessor como O.H.O. e Frater Superior." A carta de Reuss designando Crowley como seu sucessor como O.H.O. jamais foi encontrada, mas nenhum documento crível surgiu indicando que Reuss havia designado qualquer sucessor alternativo.

Uma Nova Era

Aleister Crowley atuou como Cabeça Externa da Ordem de 1922 até sua morte em dezembro de 1947. O primeiro ato de Crowley como O.H.O. foi reconfirmar as patentes de Jones e Tränker como Grandes Mestres para a América do Norte e Alemanha, respectivamente. Tränker, por recomendação de Jones, convidou Crowley a formalmente assumir a liderança da O.T.O., bem como de várias outras organizações, incluindo o movimento Pansophico, em uma conferência que ocorreria em Hohenleuben, perto de Weida, no verão de 1925. Os outros participantes da conferência eram: Heinrich e Helene Tränker, Karl Germer (Saturnus, 22/01/1885 — 25/10/1962) — nesta época secretário e editor de Tränker –, Albin Grau, Eugen Grosche, Martha Künzel, Henri Birven, um cavalheiro chamado Hopfer, Crowley e seus associados Dorothy Olsen, Leah Hirsig, Norman Mudd, e outros.

Os resultados desta conferência foram vários. Os participantes ficaram divididos sobre os ensinamentos de Crowley e o Livro da Lei, o qual era largamente desconhecido (apenas recentemente fora traduzido para o Alemão). Ocorreram conflitos pessoais também. Fraulein Künzel e Herr Germer postaram–se ao lado de Crowley. Herrn Tränker, Grau, Hopfer e Birven decidiram manter a Loja Pansophica independente de Mestre Therion. Herr Grosche, originalmente ladeou–se a Crowley, mas ele e Germer brigaram, e Grosche decidiu permanecer independente. Após o fechamento da Loja Pansophica, em 1926, Grosche reagrupou alguns ex–Pansophistas para fundar a Fraternitas Saturni. A Fraternitas Saturni reconheceu o status de Crowley como um profeta e aceitou a Lei de Thelema de uma forma modificada, mas Grosche insistiu em manter–se independente da O.T.O. e sob sua própria autoridade, e não de Crowley. A Fraternitas Saturni ainda atua na Alemanha, Canadá e outros países e não se apresenta como sendo a O.T.O.

Tränker aparentemente tentou obter para si o título de O.H.O. da O.T.O. em 1925, mas parece não ter sido largamente reconhecido como tal e cessou seus esforços neste sentido em 1930, quando ele e H. Spencer Lewis começaram juntos a trabalhar diretamente (mas sem sucesso) para o estabelecimento de um ramo alemão da A.M.O.R.C.

 A Loja Agapé N° 1 foi fundada em 1915, em Vancouver (Colúmbia Britânica/Canadá), sob a autoridade de Jones e Crowley. Nos anos 30, Wilfred Talbot Smith (1885 — 1957), um membro patenteado da Loja Agapé N° 1 mudou–se de Vancouver com instruções de Crowley para trabalhar com Jane Wolfe (1975 — 1958), que havia sido uma estudante de Crowley em Cefalú, de modo a estabelecer a Loja Agapé N° 2 em Los Angeles (Califórnia/EUA). Smith e Wolfe uniram um grupo em Hollywood, Califórnia, e, juntamente com Regina Kahl (1891 — 1945), começaram a celebrar a Missa Gnóstica semanalmente em um domingo, 19 de março de 1933. A Loja Agapé N° 2 teve seu primeiro encontro em 1935. A Loja Agapé contribuiu grandemente com os esforços de Crowley para suas publicações e Crowley apontou Smith (Ramaka) como X° para os E.U.A. Posteriormente a Loja Agapé N° 2 mudou–se para Pasadena, Califórnia, e foi liderada por John W. "Jack" Parsons (Belarion, 1914 — 1952), um respeitado engenheiro químico e pioneiro aeroespacial. Parsons foi um dos fundadores tanto do California Institute of Technology's Jet Propulsion Laboratory (Laboratório de Propulsão a Jato do Instituto de Tecnologia da Califórnia) quanto do Aerojet General (Laboratóro Aerojato Geral, do Instituto de Tecnologia da Califórnia).
Karl Germer[Topo]

Quando a II Guerra Mundial estourou em 1939, as comunicações internacionais foram cada vez mais interrompidas e as viagens de civis eram limitadas. Crowley ficou muito dependente de seus representantes estrangeiros, estando impossibilitado de viajar ele mesmo. Karl Germer, o representante alemão de Crowley, foi preso pela Gestapo e confinado em um campo de concentração nazista por "buscar discípulos para o residente estrangeiro, maçon de alto grau, Crowley". Solto logo graças aos esforços do cônsul norte–americano, Germer viajou para os Estados Unidos onde, como Grande Tesoureiro Geral e segundo em comando além de Crowley, conduziu vários negócios da O.T.O. Em 14 de março de 1942 Crowley escreveu a Germer: "Devo indicá–lo como meu sucessor como O.H.O. [...] Uma completa mudança na estrutura da Ordem e seus métodos é necessária. O segredo é a base, e você deve selecionar cuidadosamente as pessoas." Os outros ramos europeus da O.T.O. foram grandemente destruídos ou mantidos na contra cultura durante a Guerra. Os ramos latino–americanos da F.R.A. de Krumm–Heller mantiveram um discreto contato com Germer até o princípio da década de '60.

Ao final da II Guerra Mundial, em 1945, apenas a Loja Agapé em Pasadena, Califórnia, ainda funcionava. Haviam iniciações isoladas da O.T.O. em várias partes do mundo. Apesar de Crowley receber visitas de membros da O.T.O. na Inglaterra nenhum trabalho foi conduzido desde o ataque policial em 1917. As iniciações foram muito raras fora da Califórnia. Krumm–Heller, no México, conduzia iniciações da O.T.O. mas enviou um candidato, Dr.Gabriel Montenegro (Frater Zopiron ou Theophilos) à Califórnia para iniciar–se.

Durante a II Guerra Mundial, dois membros da O.T.O. Californiana, Grady Loius McMurtry (18/10/1918 — 12/07/1985) e Frederick Mellinger (Merlinus, 1890 — 1970) — originalmente um refugiado da Alemanha nazista — viajaram à Europa em tarefas militares. McMurtry já havia estado lá e visitado Crowley em várias ocasiões. Mellinger visitou Crowley após McMurtry haver retornado aos Estados Unidos.

Houve um bom entendimento entre Crowley e McMurtry, e Crowley respeitou a experiência militar de McMurtry. Em 1943 Crowley pessoalmente conferiu o IX° da O.T.O. à McMurtry e fez dele Grande Inspetor Geral Soberano da Ordem, dando–lhe o nome mágico que usaria a partir de então: Hymenaeus Alfa 777.

Em 1944, Crowley começou a discutir com McMurtry a possibilidade de ele assumir o "Califado". Crowley escreveu a McMurtry em 28 de setembro de 1944: "Espero que você prefira meu plano para sua carreira como meu Fides Achates, alter ego, Califa & assim por diante." Em 21 de novembro de 1944 ele escreveu novamente a McMurtry:
"'O Califado'. Você deve perceber que não importa o quão intimamente observemos olho–a–olho em qualquer assunto objetivo, eu devo pensar em premissas totalmente diferentes daquelas concernentes à Ordem. Uma das (surpreendentemente poucas) ordens que me foram dadas foi 'não confie em um estranho: não falhe com um herdeiro'. Isto tem sido muito maligno para mim. Fr.·. [Saturnus] é, claro, o Califa natural; mas há muitos detalhes acerca da real política ou trabalho que escapam a ele. Em todo caso, ele pode apenas ser um substituto, por causa da sua idade; tenho que procurar seu sucessor. Isto tem sido um Inferno; tantos têm vindo com promessas maravilhosas, apenas para cair nas pedras. [...] Mas — e aqui é que você tem perdido meu ponto de todo — eu não penso em você deitado em uma encosta verdejante com adoráveis carneiros, tocando uma flauta! Ao contrário. Sua vida verdadeira, ou 'sangramento', é o tipo de iniciação que busco como base primordial para o Califa. — Para — digamos 20 anos — por isso o Cabeça Externo da Ordem deve, entre outras coisas, ter tido a experiência da guerra como ela realmente é de fato presentemente."

O título "Califa", ainda que referindo–se de alguma forma ao senso de humor de ambos os homens como uma trocadilho com uma abreviação para "Califórnia" (local de residência de McMurtry e localização da Loja Agapé), provém da palavra árabe Khalifa, significando "delegado". Foi historicamente utilizada no antigo Islã para designar o sucessor do Profeta, o comandante mundial da Fé Islâmica. O uso por Crowley do termo, aplicado a Germer e McMurtry, era paralelo para a O.T.O.

Em 1946, Crowley incumbiu McMurtry com documentos de autorização emergencial para tomar o controle de todo o trabalho da Ordem na Califórnia, o que incluía o único Corpo funcional da O.T.O. naquela época. Crowley também apontou McMurtry como seu representante pessoal nos E.U.A., cuja autoridade deveria ser considerada como a do próprio Crowley. Estas duas patentes, datadas respectivamente de 22 de março de 1946 e 11 de abril de 1946, necessitavam apenas da aprovação, veto ou revisão de Karl Germer. Germer foi muito bem informado das patentes de McMurtry por Crowley, posto haver comparecido ao encontro da Loja Agapé no qual McMurtry foi–lhe apresentado. Além disto, em uma carta a Germer datada de 19 de junho de 1946, Crowley informava a Germer que "a única limitação de seu [McMurtry] poder na Califórnia é que qualquer decisão que tome está sujeita à sua revisão ou veto" o que removia a necessidade de uma prévia autorização por Germer.

Em seis de junho de 1947 Crowley escreveu a Germer:
"Você parece em dúvida quanto à sucessão. Nunca houve quaisquer questão a este respeito. Desde sua reaparição você é o único sucessor em que tenho pensado até este momento. Tenho, de qualquer forma, tido a ideia de que, tendo–se em vista a dispersão de tantos membros, você deveria achar útil apontar um triunvirato para trabalhar sob seu comando. Minha ideia é Mellinger, McMurtry e, eu suponho, Roy [Leffingwell], apesar de eu ter estado um pouco duvidoso em relação à lealdade deste último."

Em 17 de junho de 1947, seis meses antes de sua morte, Crowley escreveu a McMurtry e informou–o de que apesar de Germer ser seu sucessor como Cabeça da O.T.O., McMurtry deveria preparar–se para suceder Germer.

Crowley, apesar de confiar na habilidade de Karl Germer em governar a Ordem como seu sucessor, evidentemente não confiava em sua habilidade de encontrar e designar um sucessor apropriado para si mesmo. No que parece ter sido uma medida de contingência adicional para a possibilidade de McMurtry morrer ou ficar incapacitado, Crowley também avisou a Mellinger para que se mantivesse pronto como um possível sucessor de Germer, em uma carta datada de 15 de julho de 1947. De qualquer forma, Mellinger nunca recebeu os avisos dados a McMurtry e Crowley nunca usou o termo "Califa" em relação a Mellinger.

A O.T.O. Dirigida por Germer

Crowley morreu em 1° de dezembro de 1947 e, de acordo com sua vontade, Karl Germer tornou–se O.H.O. da O.T.O., atuando do final de 1947 até sua morte em 1962. A Loja Agapé continuou no sul da Califórnia até 1949, após o que a Loja cessou seus encontros regulares. Os registros da Loja Agapé, consistindo nas atas das reuniões, cópias da anotações de rituais, listas de membros iniciados em vários graus na O.T.O., correspondência e registros financeiros, foram conservados por Jane Wolfe e vários membros da Loja.

Seguindo–se à morte de Crowley, seu testamento foi executado e os executores começaram a enviar o espólio a Germer. Germer recebeu a maior parte do material do espólio de Crowley e, eventualmente, levou–o consigo para sua residência final em Westpoint (Califórnia/USA).

Germer era um homem quieto e recluso, acima de tudo interessado na publicação dos escritos de Crowley. Vários membros da O.T.O. ajudaram–no neste sentido, mas, ainda que tendo havido a promoção dos já iniciados, nenhuma nova iniciação se deu. Germer notificou McMurtry e outros que a O.T.O. seria incorporada e governada por um triunvirato de oficiais, mas esta incorporação jamais foi efetivada sob a liderança de Germer na O.T.O. Germer patenteou um Acampamento inglês da O.T.O. sob a direção de Kenneth Grant (nas. 1924), um membro de grau III°, mas fechou o Acampamento e expulsou Grant da O.T.O. em 20 de julho de 1955, quando descobriu que Grant havia associado–se à Fraternitas Saturni de Grosche, havia circulado um manifesto para uma nova loja da O.T.O. sob a reunida autoridade de Germer e Grosche, e havia começado a modificar os rituais da O.T.O. sem dar notícia a Germer.

Germer também tomou interesse pelos esforços de Hermann Metzger (Paragranus, 1919 — 1990) na Suíça. Metzger era um estudante de um dos membros sobreviventes da seção suíça de Reuss da O.T.O., chamado Felix Lazerus Pinkus (1881 — 1947), mas sem ligações com a O.T.O. de Crowley. Germer pediu a Mellinger que supervisionasse a regularização de Metzger dentro da O.T.O. de Crowley, mas Germer e Metzger caíram em discórdia ao final da vida de Germer. Frederic Mellinger escreveu, após a morte de Germer, que Metzger havia falhado em seguir o programa de instruções estabelecido para ele por Germer sob a tutela de Mellinger. De acordo com uma fonte, Metzger alegava ter patenteado Gabriel Montenegro como X° para os Estados Unidos. De qualquer forma, Montenegro nunca alegou tal autoridade e jamais mencionou quaisquer nomeação de Metzger para seus colegas da O.T.O. nos E.U.A.

Os membros da O.T.O. na Califórnia buscaram ativamente influenciar Germer para que este reabrisse o acesso das pessoas à O.T.O. Foi expressado em correspondências a preocupação de que a não iniciação de novos membros da O.T.O. resultaria na completa dissolução da Ordem. Em 1959, McMurtry foi chamado a uma reunião em Los Angeles, à qual os membros da Loja Agapé e outros foram convidados, com o propósito de tentar criar uma frente unificada para pressionar Karl Germer em retomar iniciações da O.T.O. McMurtry estava pronto a invocar as autorizações dadas a ele por Crowley para dar suporte à sua ideia. Dr. Montenegro opôs–se à ideia e os outros não lhe deram nenhum suporte; a ideia foi abandonada. Montenegro escreveu a McMurtry em 21 de novembro de 1960 para documentar sua oposição à ideia.

Germer autorizou McMurtry a formar um núcleo de um novo acesso público à O.T.O., mas Germer e McMurtry discordaram acerca de um empréstimo pessoal e outros assuntos. Quaisquer diferenças que tivessem, jamais houve a mínima sugestão de que Germer tenha considerado vetar ou revisar as patentes dadas a McMurtry por Crowley. McMurtry perdeu seu emprego na Califórnia devido a problemas de saúde e mudou–se para Washington (E.U.A., capital) em março de 1961. Lá ele lecionou Ciências Políticas na George Washington University (Universidade George Washington) enquanto trabalhava como analista para o governo norte–americano. Também dirigiu a Washington Shakespeare Society (Sociedade Shakespeare de Washington).

 Dificuldades

Germer morreu em 25 de outubro de 1962 sem designar um sucessor. O testamento de Germer nomeava sua esposa, Sascha, e Frederick Mellinger como os executores de seu espólio, na forma de propriedade mantida para a O.T.O. Sascha era uma senhora de idade avançada com a mente já comprometida, afastada dos membros remanescentes da O.T.O. na Califórnia. O espólio de Germer nunca foi avaliado. Alguns membros graduados, incluindo Grady McMurtry, não foram notificados da morte de Germer por vários anos, causando um grande atraso antes que a questão da sucessão na liderança da O.T.O. fosse resolvida apropriadamente.

Metzger, na Suíça, publicou uma alegação de ser o Cabeça Externa da Ordem, baseada em uma eleição particular que teria se dado no dia seis de janeiro de 1963, na própria Suíça. Membros graduados da O.T.O. de fora da Suíça, inclusive Frederick Mellinger, que havia sido indicado por Germer como mentor de Metzger, não haviam sido informados da suposta eleição de Metzger até esta alegação. Uma cópia do manifesto de Metzger foi enviada a Wilfred Smith, que estava morto desde 1957. Metzger não foi aceito amplamente como Cabeça da Ordem fora de seu próprio grupo. Sascha fez uma tentativa de enviar o material de Germer da O.T.O. para Metzger mas foi impedida por uma carta de Mellinger datada de 25 de setembro de 1963, que denunciava Metzger como uma fraude. Metzger, posteriormente, incorporou seu sistema de O.T.O. como parte de uma nova organização de sua própria formação, a Ordo Illuminatorum, a qual pretendia ser um reviver da ordem dos Illuminati. Metzger morreu em 1990.

Kenneth Grant (n. 1924) também tentou alegar ser o Cabeça Externa da Ordem; mas ele havia sido anteriormente expulso por Germer. Grant colocou em disputa sua expulsão, alegando que jamais havia reconhecido Karl Germer como Cabeça da O.T.O. Mesmo assim, os próprios escritos de Grant nos anos 50, em particular o manifesto da Loja Nova Ísis, referem–se a Frater S (Saturnus, i. e. Karl Germer) como cabeça internacional da O.T.O. A organização de Grant diz que a O.T.O. cessou de ser uma organização de membros no sentido tradicional de ter Lojas e conferir graus cerimonialmente. A organização de Grant também ignora a Missa Gnóstica, que é, de acordo com Crowley, "a cerimônia central das celebrações públicas e particulares [da O.T.O.]."

Tempo de Expansão

Quando McMurtry apercebeu-se da condição crítica na qual havia caído a Ordem após a morte de Germer, ele foi impelido a utilizar seus documentos de emergência dados por Crowley e assumir o título de "Califa da O.T.O.", tal como especificado nas cartas de Crowley para ele na década de 40. Para as duas testemunhas que ele acreditava necessárias para tal ato, escolheu o Dr. Israel Regardie (1907 - 1985) e Gerald Yorke (1901 - 1983). McMurttry referiu-se a estes dois como os "Olhos de Hórus", como os dois mais proeminentes estudantes de Crowley sobreviventes. Ele avisou-os de seus planos de reconstruir a O.T.O. usando as cartas-patentes de Crowley e requisitou sua ajuda, a qual foi oferecida. McMurtry completou a ativação de seu Califado em junho de 1969, com um carta ao suíço Hermann Metzger.

Após a ativação do Califado, os restantes membros da O.T.O. dos anos de Crowley e Germer foram convidados a unir–se a McMurtry de modo a continuar as operações regulares da O.T.O. Nesta época havia menos que uma dúzia de membros sobreviventes da antiga O.T.O. nos Estados Unidos. Soror Meral, Soror Grimaud, Mildred Burlingame e Gabriel Montenegro colocaram seu desejo de ver a O.T.O. aberta ao público em geral. Ray Burlingame havia morrido alguns anos atrás e o Dr. Montenegro morreu em 14 de julho de 1969, antes que um encontro organizacional pudesse ser consumado. Frederick Mellinger havia restabelecido contatos com a Sociedade Teosófica e estava, essencialmente, inativo na O.T.O. desde, aproximadamente, 1956, exceto por sua carta bloqueando o envio dos bens de Germer a Metzger em 1963. Mellinger morreu em 29 de agosto de 1970. Em 1969 e 1970 McMurtry, Burlingame e as Sorores Meral e Grimaud começaram a efetuar iniciações. Em 28 de dezembro de 1971 a Ordo Templi Orientis Association (Associação Ordo Templi Orientis) estava registrada no Estado da California como uma entidade legal.

Sacha Germer morreu em abril de 1975 e em 1976, quando sua morte tornou–se conhecida, a O.T.O. Association obteve uma ordem judicial para que lhe fossem entregues os arquivos da O.T.O. remanescentes que estavam ainda sob sua custódia. Esta ordem foi executada, reconhecendo–se Grady McMurtry como representante autorizado da O.T.O., pela Corte Suprema do Condado de Calaveras, estado da Califórnia (E.U.A.), datada de 27 de julho de 1976.

Dirigida por McMurtry, como Califa ou Cabeça atuante da O.T.O., várias tentativas foram feitas para se atraírem novos membros para a O.T.O. e para tornar a Ordem conhecida pelo público. Em 1970, a O.T.O. publicou as cartas do Tarot de Thoth, ilustradas por Lady Frieda Harris, pelo endereço de Dublin (Califórnia/E.U.A.) A resposta foi lenta, mas alguns poucos novos membros foram iniciados através dos esforços centrados em Dublin, no Colégio deThelema, e em São Francisco (Califórnia/ E.U.A.), na Kaaba Clerk House. A atividade em São Francisco colapsou e um dos novos membros abdicou. A atividade continuou por dois anos em Dublin e então foi transferida pra Berkeley (Califórnia/E.U.A.).

Em 1977, McMurtry manteve iniciações da O.T.O. em sua casa, em Berkeley e começou um grupo lá. A O.T.O. foi colocada sob as leis do Estado da Califórnia em 26 de março de 1970 e.v.. Aqueles que alegavam ser membros ou eram conhecidos como membros antigos foram comunicados da formação desta nova corporação e foi–lhes dado um período para requererem a permanência como membros, de acordo com o precedente anterior estabelecido por Karl Germer. A corporação foi colocada sob as leis de taxação norte–americanas como entidade religiosa em 1982.

 Um esforço considerável por Marcelo Ramos Motta (1931 - 1987) foi feito para assumir o controle da O.T.O. com o nome de Sociedade Ordo Templi Orientis. Motta havia sido um discípulo pessoal de Karl Germer na A.·.A.·. por alguns anos, mas jamais obteve formalmente uma patente para iniciar ou abrir uma Loja. De fato, ele jamais foi formalmente iniciado na O.T.O. Após a morte de Germer, Motta proclamou-se como sucessor de Germer e formou um grupo thelêmico em seu país natal, o Brasil. Motta havia primeiro reconhecido Kenneth Grant como cabeça da O.T.O., mas rescindiu este reconhecimento ao saber que Grant havia sido expulso por Germer. Motta terminou indo aos Estados Unidos para reclamar os direitos autorais sobre as obras de Crowley. Ele primeiro processou a Samuel Weiser, Inc., editora de muitos dos trabalhos de Crowley por quebra de direitos autorais, alegando ser ele o único representante da O.T.O. de Crowley. Este caso foi decidido em favor da Samuel Weiser, Inc. pela Corte do Distrito do Maine (E.U.A.). O juiz deu o parecer de que não haviam provas legais das representações de Motta concernentes à O.T.O. A O.T.O., enquanto dirigida por McMurtry, não era parte deste caso e não foi um fator neste julgamento.

Durante os processos em Maine, a O.T.O. emprestou a Motta um terno para ser utilizado na Corte do 9a Corte Distrital Federal de São Francisco. O caso de São Francisco foi concluído em 1985 com Motta perdendo novamente. A O.T.O. dirigida por McMurtry foi reconhecida pela Corte como sendo a continuação da O.T.O. de Aleister Crowley e detentora exclusiva dos nomes, marcas, direitos autorais e outros direitos da O.T.O. McMurtry foi reconhecido como o líder legítimo da O.T.O. dentro dos Estados unidos. A decisão da 9ª Corte também reconhecia legalmente a O.T.O. dirigida por McMurtry como uma entidade com membros. Esta decisão foi apelada e levada à frente. Grady McMurtry morreu em 12 de julho de 1985, seguindo a decisão original da 9a Corte, mas o processo de apelação estabeleceu que a O.T.O. continuaria como uma corporação.

Atualidade

Mais do que designar um sucessor, McMurtry desejava que seu sucessor fosse designado pelo Soberano Santuário da O.T.O. após sua morte. A eleição deu–se em 21 de setembro de 1985, com a participação dos dois membros restantes da Loja Agapé, e Frater Hymenaeus Beta foi eleito para sucessor de Frater Hymenaeus Alpha como Califa e O.H.O. atuante da O.T.O. Hymenaeus Beta continua em seu cargo até hoje.

No princípio de 1996, uma nova corporação foi fundada para tratar dos trabalhos da Grande Loja da O.T.O. nos Estados Unidos, enquanto a corporação já existente foi reorganizada como International Headquarters (Quartel–General Internacional) da O.T.O. Em 30 de março de 1996, Sabazius X° foi indicado como Grande Mestre Geral Nacional para a Grande Loja norte–americana.

 Agradecimentos

Além do material de arquivo da O.T.O., o material publicado pelos seguintes protagonista e pesquisadores Históricos foi consultado enquanto se preparava este ensaio: Calvin C. Burt, W.B. Crow, Isaac Blair Evans, Antoine Faivre, S.E. Flowers, René Le Forestier, Joscelyn Godwin, Dr. J.A. Gottlieb, Ellic Howe, Francis King, Peter–Robert König, Helmut Möller, William G. Peacher, M.D., Martin P. Starr, John Symonds, M. McBlain Thomson, A.E. Waite, James Webb, e John Yarker.

Os seguintes indivíduos providenciaram substancial assistência na forma de informações Históricas e/ou críticas: William Breeze, Martin P. Starr, Parsival Krumm–Heller, Soror Meral, Soror Grimaud, Lon Milo DuQuette, James T. Graeb, Bjarne Salling Pedersen, e P.–R. König.

Notas

A Irmandade Hermética da Luz era uma sociedade mística que alegava descender dos corpos maçônicos/rosacruzes austríacos conhecidos como Fratis Lucis. A Fratis Lucis, também conhecido como a Irmandade Asiática ou a Irmandade Iniciada das Sete Cidades da ásia era derivada da antiga Ordem da Cruz Dourada e Rósea alemã. A Irmandade Hermética da Luz também parece ter possuído conexões com a Irmandade Hermética de Luxor, que era uma sociedade mística que alcançou algum conhecimento público na Inglaterra, em 1884 sob os auspícios de Max Theron (também conhecido comoLouis-Maximilian Bimstein, 1850 - 1927). As origens da I.H.L. não são claras mas há alguma evidência conectando-a à Irmandade de Luxor, que esteve envolvida com a fundação da Sociedade Teosófica bem como da supramencionada Fratris Lucis e com o espiritualismo inglês do Séc. XIX.
Nascido na Polônia, Theon viajou largamente em sua juventude. No Cairo tornou-se discípulo de um mago copta chamado Paulos Metamon. Theon foi para a Inglaterra em 1870, onde foi recrutado pelo lutierPeter Davidson (1842 - 1916) para estabelecer um "círculo externo" da I.H.L.. Eles uniram-se em 1883 por conta de Thomas H. Burgoyne (também conhecido como Thomas Dalton, 1855 - 1895), que posteriormente escreveu um livro resumindo os ensinamentos básicos da I.H.L., chamado "A Luz do Egito". A função deste "círculo externo" da I.H.L. era oferecer um curso por correspondência de ocultismo prático; o que seria mantido fora da Sociedade teosófica. Seu currículo incluía algumas seleções dos escritos de Hargrave Jennings e de Paschal Beverly Randolph.
P.B. Randolph (08/10/1825 - 29/06/1875) foi um conhecido médium, curandeiro e escritor, contando entre seus amigos pessoais Abraham Lincoln, Hargrave Jennings, Kenneth McKenzie, Eliphas Levi, Napoleão III, Edward Bulwer-Lytton e o general Ethan A. Hitchcock. A Ordem de Randolph alegava descender da Ordem Rosacruciana (por patente da "Suprema Grande Loja da França") e ensinava curas espirituais, ocultismo oriental e princípios da regeneração da raça através da espiritualização do sexo.
Yarker foi eleito Grande Mestre Soberano Absoluto para o Rito Oriental de Mizrain em 1871. Ele foi feito Grande Mestre 96° do Soberano Santuário do Antigo e Primitivo Rito de Menphis para a Inglaterra porHarold J. Seymour em oito de outubro de 1872. Seymour recebeu suas cartas-patentes de Jacques Etienne Marconis de Negre em 21 de junho de 1862. Yarker recebeu cartas-patentes do Antigo e Aceito Rito Escocês de Cernau de Theo. H. Tebbs, do Supremo Grande Conselho Combinado do Canadá deste Rito em 12 de janeiro de 1884. Yarker foi eleito Grande Hierofante Imperial 97° do Rito de Menphis em 11 de novembro de 1902.
Os que participaram do congresso foram: Theodor Reuss (representando o Soberando Santuário dos Ritos de Memphis e de Mizraim na Alemanha, o Grande Oriente do Rito Escocês na Alemanha e a Grande Loja Nacional os Ritos Unidos Escocês, de Memphis e de Mizraim para a Grã-Bretanha e Irlanda), H.R. Hilfiker, R. Merlitschek, e M. Bergmaier (representando Grande Oriente do Rito Escocês na Suíça [basedo em uma patente de Reuss Charter datada de 10 de maio de 1919]), Dr. E. Pargaetzi (representando o Soberano Santuário dos Ritos Unidos Escocês, de Memphis e de Mizraim para a França); A. Spilmer (representando a Grande Loja da Colômbia), H. Schütz (representando o Príncipe Alexander da Grécia, Grande Protetor da Maçonaria Grega); John Anderson (representando a Grande Loja Nacional da Escócia); e Matthew McBlain Thomson (representando a Federação Maçônica Americana, a Grande Loja de Washingon e a Grande Oriente de Cuba).
Este texto é uma tradução do original de Frater Sabazius X°, que se encontra no site da Grande Loja dos EEUU.

Símbolo utilizado pela E.G.C. utilizado na Europa.


A Ecclesia Gnostica Cathólica (E.G.C.), ou Igreja Católica Gnóstica, é responsável pelo aspecto eclesiástico da Ordo Templi Orientis. A atividade central da Igreja é a celebração da Missa Gnóstica, Liber XV, composta por Aleister Crowley em 1913.

A Loja Quetzalcoatl celebra a Missa Gnóstica regularmente, possuindo sacerdotes e diáconos devidamente consagrados. Realizamos, além da Missa, batismos, casamentos e demais ritos sacramentais.  Oferecemos também treinamento para os membros que se interessem por seguir uma carreira eclesiástica dentro da O.T.O.

A Loja Quetzalcoatl oferece Missas abertas para que pessoas de fora da Ordem possam assistí-la mediante convite. Mantenha-se em contato para saber quando poderia assistir a uma.

A E.G.C. traça suas origens históricas ao renascimento do Gnosticismo cristão francês no início do Séc. XX, porém desde sua aceitação da Lei de Thelema, se tornou independente de qualquer outra igreja ou movimento religioso, não sendo mais considerada uma igreja cristã. Seus poderes eclesiásticos baseiam-se na sucessão de Crowley e da O.T.O. e não na sucessão apostólica tradicional.

Símbolo da EGC utilizado pela Grande Loja dos EUA e pelo Brasil